sábado, 31 de julho de 2021

31 DE JULHO - SANTO INÁCIO DE LOYOLA

 


Ad Maiorem Dei Gloriam 

Para a Maior Glória de Deus

O fundador da Companhia de Jesus e autor dos 'Exercícios Espirituais' buscou a via da santidade pelo completo despojamento de si, pelo abandono completo de sua vontade aos desígnios da Divina Providência, abstraindo-se de todo comodismo humano na sua caminhada espiritual para Deus. Eis aí a santidade das atitudes extremas, das decisões moldadas por uma fé intrépida, pela ação de um 'sim' sem rodeios ou incertezas. Uma vida de conversão e de entrega generosa a Deus, testemunho eloquente da fé cristã coerente e tenaz, levada às últimas consequências. 

Inácio Lopez nasceu na localidade de Loyola, atual município de Azpeitia, no País Basco/Espanha, em 31 de maio de 1491. De família rica, levou vida mundana até ser ferido gravemente numa perna na batalha de Pamplona. Na longa convalescença e pela leitura da vida de grandes santos, decidiu abandonar os bens terrenos e viver para a glória de Deus, quando tinha então 26 anos. Entre 1522 e 1523, escreveu os chamados 'Exercícios Espirituais', uma síntese de sua própria conversão e método de evangelização para uma vida espiritual em plenitude. Em 1528, ingressou na Universidade de Paris e a 15 de agosto de 1534, com mais seis companheiros, entre eles São Francisco Xavier, fundou a Companhia de Jesus, tornando-se sacerdote e assumindo o cargo de superior-geral da ordem jesuítica em 1540, com a aprovação do Papa Paulo III. Santo Inácio morreu em Roma, em 31 de julho de 1556, aos 65 anos de idade. Foi canonizado em 12 de março de 1622 pelo Papa Gregório XV. Em 1922, o Papa Pio XI declarou Santo Inácio padroeiro dos Retiros Espirituais.

ORAÇÃO DE SANTO INÁCIO DE LOYOLA

Tomai Senhor, e recebei
Toda minha liberdade,
A minha memória também.
O meu entendimento
E toda minha vontade.
Tudo que tenho e possuo,
Vós me destes com amor.
Todos os dons que me destes,
Com gratidão vos devolvo:
Disponde deles, Senhor,
Segundo vossa vontade.
Dai-me somente 
O vosso amor, vossa graça.
Isto me basta,
Nada mais quero pedir.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

A VIDA OCULTA EM DEUS: O DESEJO TORTURANTE DE DEUS


No início da vida interior, o desejo da alma por Deus ainda é tênue. É um desejo um tanto débil, quase imperceptível. A alma se sente com um desconforto misterioso e suave que não consegue especificar. Ela se sente afetada no seu íntimo e se questiona, pois não compreende claramente. O amor de Deus está trabalhando em seu coração, mas como um fogo que arde sob as cinzas. De vez em quando, uma faísca irrompe e um impulso eleva a alma até Deus. Então tudo se acalma. As sombras envolvem mais uma vez as nervuras da alma, mas sem interromper o fogo que continua latente, devagar, mas ardente. O desejo de Deus aumenta e, aos poucos, vai invadindo toda a alma. E não tarda em se manifestar novamente.

Enquanto isso, esse desejo de Deus não fica inativo. Se pudéssemos penetrar nesta alma, veríamos que este desejo é quem inspira, dirige e vivifica tudo nela. A alma se volta para Deus sem descanso. Ela sempre procura por isso, com uma fome dolorosa, com uma sede excruciante. Como se isso fosse uma doença misteriosa que se alastra sem controle e sem cura, em todos os momentos e que não permite repouso nem de dia e nem de noite. Mesmo quando a alma parece distraída de sua dor por ocupações externas, ela a sente latente no mais íntimo de si mesma.

A ferida é profunda, a ferida está sempre exposta. Como sofremos quando te amamos, ó meu Deus! Mas também quão felizes somos nessa dor! E, por fim, chega um momento em que esse sofrimento torna-se intolerável e acaba explodindo. A alma geme, chora, grita de dor. Transparece, então, que, ao abrir assim o coração, uma lufada de ar fresco viria de fora para abrandar o fogo do seu amor. Mas todos esses esforços apenas aumentam e agravam o seu pesar. 

Ela, enfim, compreende claramente que somente Aquele que causou a ferida também poderá ser capaz de curá-la, pois a alma está faminta e somente Ele é o seu alimento. Ela está sedenta e somente Ele é a sua bebida refrescante. Ela é pobre e somente Ele é a sua riqueza. Ela está triste e somente Ele é o seu conforto e alegria. Ela está morrendo e somente Ele é o seu amor e a sua vida: 'Quando verei a face de Deus?' [Sl 42,3]. 'Eu morro porque não morro' [Santa Teresa de Ávila].

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte II -  A Ação de Deus; tradução do autor do blog)

quinta-feira, 29 de julho de 2021

... E TRÊS PRÁTICAS PARA UMA VIDA CRISTÃ PERFEITA


Primeiro ...

... Exerce-te numa perfeita modéstia para que, segundo a doutrina do Apóstolo, 'a tua modéstia seja conhecida por todos os homens' (Fl 4, 5). Depois, exerce-te na modéstia da disciplina, com moderação no silêncio e no falar, na tristeza e na alegria, na clemência e no rigor, conforme as circunstâncias o exigem e a sã razão o prescreve. Finalmente, exerce-te na modéstia da civilidade, regulando, ordenando e compondo as ações, os movimentos, os gestos, as vestes, os membros e os sentidos, conforme o requer a educação moral e o costume na ordem, para que merecidamente pertenças ao número daqueles aos quais o Apóstolo diz: 'Faça-se tudo com dignidade e ordem' (I Cor 14, 40).

Segundo ...

... Exerce-te também na justiça para que te sejam aplicáveis as palavras do Profeta: 'Reina por meio da mansidão e da justiça' (Sl  44, 5). Na justiça, afirmo, íntegra pelo zelo da honra divina, pela observância da lei de Deus e pelo desejo da salvação do próximo. Na justiça regulada pela obediência aos superiores, pela sociabilidade aos iguais, pela punição das faltas dos inferiores. Na justiça perfeita, de forma que aproves toda a verdade, favoreças a bondade, resistas à maldade tanto no Espírito, como nas palavras e obras, não fazendo a ninguém o que não queres que te façam, não negando a ninguém o que dos outros desejas, para que imites com perfeição aqueles a quem foi dito: 'Se a vossa justiça não for maior do que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus' (Mt 5, 20).

Terceiro ...

... Finalmente, exerce-te na piedade, porque, como diz o Apóstolo, 'a piedade é útil para tudo, porque tem a promessa da vida presente e futura' (I Tm 4, 8). Exerce-te na piedade do culto divino, recitando as horas canônicas atenta, devota e reverentemente, acusando e chorando as faltas cotidianas, recebendo a seu tempo o Santíssimo Sacramento e ouvindo todos os dias a Santa Missa. Na piedade, por meio da salvação das almas, auxiliando ora por frequentes orações, ora por instrutivas palavras, ora pelo estímulo do exemplo, para que quem ouve diga: Vem! (Ap 22, 17). Isto, porém, cumpre fazer com tanta prudência, que a própria alma não sofra prejuízo. Na piedade, por meio do alívio das necessidades corporais, suportando com paciência, consolando amigavelmente, ajudando com humildade, alegria e misericórdia, para desta forma cumprires o mandamento divino enunciado pelo Apóstolo: 'Carregai os fardos uns dos outros, e desta maneira cumprireis a lei de Cristo' (Gl 6, 2). Para praticares tudo isto, o meio melhor, eu o creio, é a lembrança do Crucificado, a fim de que o teu Dileto, como um ramalhete de mirra (Ct 1, 12), descanse sempre junto ao teu coração. Isto te queira prestar Aquele que é bendito por todos os séculos dos séculos. Amém.

(Excertos da obra 'A Direção da Alma e a Vida Perfeita', de São Boaventura)

quarta-feira, 28 de julho de 2021

TRÊS CONSELHOS SOBRE A PRÁTICA DAS MORTIFICAÇÕES ...


Recomendações feitas por Santo Inácio de Loyola em carta escrita a São Francisco de Borja, a propósito de práticas de mortificação muito austeras que este então estava a fazer:

Primeiro de tudo ...

... quanto ao tempo dedicado aos exercícios exteriores, eu cortá-los-ia pela metade… Pelo que sei de vossa Senhoria, penso que seria melhor dedicar a outra metade ao estudo, ao governo das vossas terras e a conversas espirituais, sempre procurando manter a vossa alma calma, em paz, e disposta para o que quer que Nosso Senhor desejar trazer para ela. É, sem dúvida nenhuma, uma virtude e graça maior ser capaz de deleitar-se do Vosso Senhor em várias ocupações e lugares do que em apenas um.

Segundo ...

... no que se refere ao jejum e abstinência, aconselhar-lhe-ia, por amor de Deus, a cuidar e a fortificar o vosso estômago e os outros órgãos naturais, em vez de os enfraquecer. Quando um homem está de tal forma disposto que escolheria morrer do que cometer sequer a menor ofensa contra a Divina Majestade e quando, mais ainda, não está perturbado por nenhum ataque especial do demônio, do mundo ou da carne, como eu julgo ser o caso de vossa Senhoria, então, e este é um ponto que eu gostaria particularmente de lhe passar, visto que tanto o corpo e a alma pertencem ao seu Criador e Senhor, que vai exigir contas deles, não podeis deixar os vossos poderes naturais enfraquecerem-se. Se o corpo estiver doente, a alma não consegue funcionar como devia. Devemos amar e defender o corpo ao ponto dele ser obediente e cooperador da alma, porque, com tal obediência e ajuda, a alma consegue dispor-se melhor para servir e louvar o nosso Criador e Senhor.

Terceiro ...

... em relação ao castigo do corpo, eu evitaria de uma só vez qualquer forma de castigo que causasse o aparecimento de uma única gota de sangue. Em vez de procurar derramar o nosso sangue, é muito melhor procurar diretamente o Senhor de todos nós e os seus santos dons, tais como as lágrimas pelos nossos pecados, uma intensificação da nossa fé, esperança e caridade, a alegria em Deus e a paz espiritual, tudo com humildade e reverência à nossa santa Mãe, a Igreja, e aos seus líderes escolhidos. Cada um destes santos dons deveria ser muito preferido a todas as ações corporais, que são boas só quando tendem a obter esses dons para nós. Não estou a dizer que eles deveriam ser procurados pelo contentamento que nos trazem. Mas, visto que sabemos que sem eles todos os nossos pensamentos, palavras e obras são confusos, frios e incômodos, desejamo-los para que essas coisas se tornem ardentes, lúcidas e retas para o maior serviço de Deus.

segunda-feira, 26 de julho de 2021

26 DE JULHO - SÃO JOAQUIM E SANTA ANA

Sagrada Família com São Joaquim e Santa Ana (Nicolás Juarez, 1699)

De acordo com a Tradição Católica e documentos apócrifos antigos, os pais de Maria foram São Joaquim e Santa Ana. Ana, em hebraico Hannah, significa 'Graça' e Joaquim equivale a 'Javé prepara ou fortalece'. Ambos os nomes indicam, portanto, a  missão divina de realização das promessas messiânicas, com o nascimento da Mãe do Salvador. Segundo a mesma Tradição, os pais de Maria teriam nascido na Galileia, transferindo-se depois para jerusalém, onde Maria nasceu e onde ambos morreram e foram enterrados.

O culto aos pais de Maria Santíssima é antiquíssimo na Igreja Oriental (como revelados nos escritos de São Gregório de Nissa e Santo Epifânio, em hinos gregos e em homilias dos Santos Padres). Os túmulos de São Joaquim e Santa Ana em Jerusalém foram honrados até o final do Século IX, numa igreja construída no local onde viveram. No Ocidente, o culto de Santa Ana é muito mais recente, com sua festa litúrgica tendo início na Idade Média, sendo formalizada no Missal Romano apenas em 1584, no tempo de Gregório XIII. A devoção a São Joaquim foi ainda mais tardia no Ocidente.

Como pais de Nossa Senhora, São Joaquim e Santa Ana são nossos avós espirituais e o calendário litúrgico instituiu a festa conjunta destes dois santos em 26 de julho, que ficou também conhecida como 'dia dos avós'. Eles são também os santos protetores da Ordem dos Carmelos Descalços (fundada no Século XVI por Santa Teresa de Ávila). No dia dos avós, o blog presenteia os nossos irmãos mais velhos com estas duas orações.

Oração a Santa Ana

Santa Ana, mãe da Santíssima Virgem, pela intercessão da Vossa Filha e do Meu Salvador, dai-me obter a graça que Vos peço, o perdão dos meus pecados, a força para cumprir fielmente os meus deveres de cristão e a perseverança eterna no amor de Jesus e de Maria. Amém.

Oração a São Joaquim

Senhor! Pela intercessão de São Joaquim, pai da Santíssima Virgem, velai pelos Vossos filhos idosos, especialmente... (nomes) que, tendo cumprido na Terra uma vida longa, possa(m) merecer de Vós a Vida Eterna no Céu. Senhor, dai-lhes o conforto de uma idade avançada, saúde do corpo e da alma, a sabedoria de envelhecer e um coração inquieto enquanto não repousar em Vós. Amém.  

domingo, 25 de julho de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Saciai os vossos filhos, ó Senhor!' (Sl 144)

 25/07/2021 - Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum

35. CINCO PÃES E DOIS PEIXES 



Depois da morte do Precursor João Batista, 'Jesus subiu ao monte e sentou-se aí, com os seus discípulos' (Jo 6, 3) para um momento de recolhimento e oração. Mas eis que uma grande multidão, uma esplêndida multidão, saiu das cidades e veio ao seu encontro. Tomado de amor e compaixão, Jesus abandona o seu intento inicial e passa a atender com zelo extremado aquela gente durante todo o dia. E, ao final do dia, famintos de Deus, a multidão agora está faminta de pão.

Jesus pergunta, então, a Filipe: 'Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?' (Jo 6, 5). Sabendo em princípio que tal resposta era insondável, o Mestre coloca o seu discípulo à prova. No meio de um campo aberto e relvado, afastado das cidades, uma enorme multidão, cansada e faminta, veio ficar perto de Deus. Não havia condições de alimentação ali e nem perto dali, porque eram centenas de centenas e 'nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um' (Jo 6, 7). Mas para Deus não existe nada que seja impossível. Movido pela compaixão, Jesus vai realizar ali, diante de todos, um dos seus mais portentosos milagres. E o Cordeiro de Deus há de saciar a todos com o pão da existência e prepará-los também para lhes dar alimento de vida eterna, na Santa Eucaristia.

Pois Deus não nos abandona nunca; não nos cria perspectivas de vida eterna pela insensibilidade de nossas necessidades humanas. Jesus vai dizer em outro momento que 'nem só de pão vive o homem'. Não só de pão, mas também de pão. E, para a incredulidade dos seus discípulos, ordena então: 'Fazei sentar as pessoas' (Jo 6, 10). E, como em tudo o mais, Deus faz uso da graça como fruto da contrapartida humana; Jesus toma o que os homens têm ali a oferecer: cinco pães e dois peixes. Diante de oferta tão singela, vai realizar a partilha do pouco (que é tudo em Deus) entre muitos (que é nada sem Deus), configurando, assim, o prenúncio da partilha do seu Corpo e Sangue na Sagrada Eucaristia.

'Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes (Jo 6, 11). E os poucos pães e os poucos peixes se multiplicaram em muitos pães e em muitos peixes, que alimentaram com fartura a multidão, a ponto de serem recolhidos ainda doze cestos cheios (símbolo da partilha universal da graça divina) no final, pois Deus usa sempre da superabundância da graça para pagar o tributo da oferta sincera do homem. Este prodígio extraordinário é o prenúncio de outro milagre ainda maior que subsiste pelos tempos, a cada Santa Missa: na multiplicação das hóstias, o mesmo Deus é entregue aos homens na plenitude da graça, hoje, ontem e até a consumação dos séculos.

sábado, 24 de julho de 2021

A CRUZ QUE SE LEVA É LENHO DE SANTIDADE (III)

 

ORAÇÃO: O TRIUNFO DA CRUZ

(São Luís Maria Grignion de Montfort)

Ó Santa Cruz, nossa proteção, nossa segurança, nossa perfeição e nossa única esperança!

Sois tão preciosa, que uma alma que já está no céu voltaria alegremente à terra para vos abraçar! É por vós, ó Santa Cruz, que se dá a bênção, é por vós que Deus perdoa e concede a remissão! Ele quer que todas as coisas tragam esse vosso selo, sem o qual nada lhe parece belo.

Colocada a cruz em algum lugar, torna-se sagrado o profano e desaparecem as manchas, porque Deus delas se apodera. Ele quer a Cruz em nossa fronte e em nosso coração, antes de todos os atos, para que sejamos vencedores.

sexta-feira, 23 de julho de 2021

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XII)


Capítulo XII

Dores do Purgatório - Santa Cristina, a Admirável

O erudito e piedoso cardeal [Cardeal Belarmino, citado no capítulo anterior] passa então a relatar a história de Santa Cristina, a Admirável, que viveu na Bélgica no final do século XII e cujo corpo se conserva hoje em Sint-Truiden, na igreja dos Padres Redentoristas. A vida desta ilustre virgem foi, diz ele, escrita por Thomas de Cantimpré, religioso da Ordem de São Domingos, autor digno de crédito e contemporâneo da santa. O cardeal James de Vitry, no prefácio da Vida de Maria d'Ognies, fala de um grande número de mulheres santas e virgens ilustres; mas quem ele admira acima de todas as demais é Santa Cristina, de quem relata os feitos mais maravilhosos.

Esta serva de Deus, tendo passado os primeiros anos de sua vida em humildade e paciência, morreu com a idade de trinta e dois anos. Quando estava para ser enterrada, e o corpo já se encontrava na igreja repousando em caixão aberto, segundo o costume da época, ela se levantou cheia de vigor, deixando estupefata toda a cidade de Sint-Truiden, que tinha testemunhado essa maravilha. O espanto aumentou quando souberam, pela sua própria boca, o que lhe acontecera depois de sua morte. Vamos ouvir o seu próprio relato disso.

'Assim que a minha alma foi separada do meu corpo, ela foi recebida pelos anjos, que a conduziram a um lugar muito sombrio, inteiramente cheio de almas. Os tormentos que elas suportavam pareceram-me tão excessivos, que me é impossível dar qualquer ideia do seu rigor. Vi entre elas muitos de meus conhecidos e, profundamente tocada pela sua triste condição, perguntei que lugar era aquele, pois acreditava que fosse o Inferno. Meu guia me respondeu que era o Purgatório, onde eram punidos os pecadores que, antes da morte, se arrependeram de suas faltas, mas não haviam dado satisfação digna a Deus. Dali eu fui conduzida ao Inferno e lá também reconheci, entre os réprobos, alguns que eu havia conhecido anteriormente.

Os anjos então me transportaram para o Céu, até o trono da Divina Majestade. O Senhor me olhou com bons olhos e eu experimentei uma alegria extrema, porque pensei em obter a graça de morar eternamente com Ele. Mas meu Pai Celestial, vendo o que se passava em meu coração, disse-me estas palavras: 'Certamente, minha querida filha, um dia você estará comigo. Agora, porém, permito que você escolha, ou permanecer comigo daqui em diante ou retornar à Terra para cumprir uma missão de caridade e sofrimento. De modo a libertar das chamas do Purgatório aquelas almas que inspiraram tanto a sua compaixão, você deve sofrer por elas na terra; você deverá suportar grandes tormentos sem, no entanto, morrer pelos seus efeitos. E você não só aliviará os que partiram, mas o exemplo que dará aos vivos, e sua vida de sofrimento contínuo, levará pecadores a se converterem e a expiarem os seus crimes. Depois de ter terminado esta nova vida, você deverá retornar a mim sobrecarregada de méritos'. 

A estas palavras, vendo as grandes vantagens que me eram oferecidas pelas almas, respondi, sem hesitar, que voltaria à vida, e levantei-me no mesmo instante. É com este único objetivo, o alívio dos que partiram e a conversão dos pecadores, que voltei a este mundo. Portanto, não se espantem com as penitências que praticarei, nem com a vida que levarei daqui em diante, pois será tão extraordinária que nada parecido jamais foi visto'. 

Tudo isso foi relatado pela própria santa; vejamos agora o que o biógrafo acrescenta nos diversos capítulos de sua vida. 'Cristina começou imediatamente a obra para a qual fôra enviada por Deus. Renunciando a todos os confortos da vida, e reduzida à miséria extrema, viveu sem casa nem fogo, mais miserável que as aves do céu, que têm um ninho para as abrigar. Não satisfeita com essas privações, ela buscou avidamente tudo o que poderia causar sofrimento. Ela se jogou em fornos em chamas, e ali, sofrendo tão grande tortura que não pôde mais suportar, soltou os gritos mais terríveis. Ela permaneceu por um longo tempo no fogo, e ainda assim, ao sair, nenhum sinal de queimaduras foi encontrado em seu corpo. No inverno, quando o Meuse [rio que nasce na França e atravessa a Bélgica e a Holanda] estava congelado, ela mergulhava nele, permanecendo naquele rio congelado não apenas por horas e dias, mas por semanas inteiras, o tempo todo orando a Deus e implorando a sua misericórdia. Às vezes, enquanto rezava nas águas geladas, ela se deixava levar pela corrente até um moinho, cuja roda girava de uma maneira terrível de se ver, mas sem quebrar ou deslocar nenhum dos seus ossos. Em outras ocasiões, seguida por cães, que mordiam e rasgavam a sua carne, ela corria, atraindo-os para as moitas e entre os espinhos, até ficar coberta de sangue; no entanto, ao retornar, nenhuma ferida ou cicatriz era vista. 

Tais são as obras de admirável penitência descritas pelo autor da Vida de Santa Cristina. Este escritor era um bispo subordinado ao arcebispo de Cambray. 'E nós temos', diz Belarmino, 'motivos para crer em seu testemunho, pois ele tem por garantia outro grande autor, Tiago de Vitry, bispo e cardeal, e porque relata o que aconteceu em seu próprio tempo, e mesmo na província onde viveu. Além disso, os sofrimentos desta admirável virgem não foram ocultados. Todos puderam ver que ela estava no meio das chamas sem ser consumida e coberta de feridas, todas as quais desapareceram apenas momentos depois. Mas, mais do que isso, foi a vida maravilhosa que ela levou por quarenta e dois anos, depois que ela foi ressuscitada dos mortos, com Deus mostrando claramente que as maravilhas operadas nela foram pelas virtudes do Alto.

'Assim', argumenta Belarmino, 'Deus quis silenciar aqueles libertinos que fazem profissão aberta de não acreditar em nada, e que têm a audácia de perguntar com desprezo: 'Quem voltou do outro mundo? Quem já viu os tormentos do Inferno ou do Purgatório?' Eis aqui duas testemunhas confiáveis [Santa Cristina e Drithelm - ver capítulo anterior], que nos asseguram tê-los visto e que são terríveis. O que se segue, então, senão que os incrédulos são indesculpáveis, mas que aqueles que acreditam e, no entanto, negligenciam fazer penitência, não merecem ainda mais ser condenados?'

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

quinta-feira, 22 de julho de 2021

22 DE JULHO - SANTA MARIA MADALENA

 

Maria Madalena. Para se fazer distinção do nome Maria tão comum entre os habitantes de Israel (esse era o nome, por exemplo, da irmã de Moisés), os textos bíblicos nomeavam as diferentes Marias por um acréscimo singular do personagem - assim, Maria Madalena é a Maria de Magdala, povoado situado às margens do Lago da Galileia e próximo à cidade de Tiberíades. Eis as pouquíssimas referências a ela nas Sagradas Escrituras:

[Lc 8, 2-3]: 'Os Doze estavam com ele, como também algumas mulheres que tinham sido livradas de espíritos malignos e curadas de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes; Susana e muitas outras, que o assistiram com as suas posses'.

[Jo 19, 25]: 'Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena'.

[Mc 15,40-41; 47]: 'Achavam-se ali também umas mulheres, observando de longe, entre as quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e Salomé, que o tinham seguido e o haviam assistido, quando ele estava na Galileia; e muitas outras que haviam subido juntamente com ele a Jerusalém... Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o depositavam'.

[Mc 16, 1; 5-6; 9-10]: 'Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ungir Jesus... Entrando no sepulcro, viram, sentado do lado direito, um jovem, vestido de roupas brancas, e assustaram-se. Ele lhes falou: Não tenhais medo. Buscais Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Ele ressuscitou, já não está aqui. Eis o lugar onde o depositaram... Tendo Jesus ressuscitado de manhã, no primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria de Magdala, de quem tinha expulsado sete demônios. Foi ela noticiá-lo aos que estiveram com ele, os quais estavam aflitos e chorosos'.

[Jo 20, 1-2; 18]: 'No primeiro dia que se seguia ao sábado, Maria Madalena foi ao sepulcro, de manhã cedo, quando ainda estava escuro. Viu a pedra removida do sepulcro. Correu e foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava: Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram! ... Maria Madalena correu para anunciar aos discípulos que ela tinha visto o Senhor e contou o que ele lhe tinha falado'.

Ela é a figura bíblica 'Maria de Magdala', da qual Jesus havia expulsado sete demônios. Esta acepção não implica a interpretação direta de 'uma grande pecadora'. O fato de ter-se livrado de 'sete demônios' (sete é o número da perfeição, da plenitude) implica que ela foi curada de todos os seus males tanto físicos (enfermidades) como espirituais (pecados, estes de naturezas quaisquer). É absolutamente forçada e despropositada a conjectura de que Maria Madalena pudesse ter sido uma 'prostituta' na sua condição pregressa antes do seu encontro com Jesus. Desta interpretação espúria, nasceram inúmeras outras lendas e desdobramentos fantasiosos da participação e do envolvimento desta mulher singular na vida pública de Jesus e dos seus apóstolos. 

quarta-feira, 21 de julho de 2021

terça-feira, 20 de julho de 2021

DUAS IGREJAS E DUAS LÚCIAS DE FÁTIMA?

Dentre os extraordinários fatos e revelações que caracterizam as mensagens de Nossa Senhora em Fátima, um dos mais perturbadores e absurdos é a personagem da Irmã Lúcia após 1957 - 1960. São duas Lúcias tão diversas quanto a realidade e a versão divulgada do Terceiro Segredo. Na história dos primeiros 40 anos dos eventos (1917 - 1957) - um período aproximado - temos conhecimento de uma Lúcia tipificada pela introversão e penitência de claustro, sob confinamento forçado ou não, mas fazendo, com as profundas limitações de suas próprias forças e condições, o que Nossa Senhora lhe dera por missão, na sua Segunda Aparição - a difusão no mundo da devoção ao Imaculado Coração de Maria:

– Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu.
– Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração.
– Fico cá sozinha? – perguntei, com pena.
– Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.

Essa Lúcia - a Lúcia das aparições - tinha antecipado o seu 'sim' aos desígnios da graça já na Primeira Aparição:

- Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores?
Sim, queremos.
Ide, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.

Assim, a missão de Lúcia foi estabelecida pela via do ostracismo e do sofrimento, longe da realidade do mundo: – 'Ide, pois, ter muito que sofrer'. Lúcia não ganharia o Céu de imediato e nem teria mais o mundo. Neste escondimento e anonimato, entretanto, nunca esteve realmente sozinha, pois Nossa Senhora sempre a amparou – O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus. Com uma vida inteiramente dedicada à oração, penitências e sacrifícios, Lúcia cumpriu a sua missão, não como fonte irradiadora da luz divina, mas como espelho débil e generoso de que se valeu Nossa Senhora para nele refletir os portentosos desígnios da Providência divina.

A Irmã Lúcia revelou expressamente que o Terceiro Segredo de Fátima deveria ser revelado em 1960 ou até um pouco antes, em caso da sua morte. E por que 1960? Porque este ano representa uma data referencial para o cerne da revelação mariana: uma crise de fé universal, tão crítica e tão tremenda que seria capaz de abalar os fundamentos da Igreja - uma aurora de uma apostasia universal e a destruição quase completa dos fundamentos da Santa Igreja Católica. Assim, o ano de 1960 era de especial e fundamental relevância para o bem da Igreja e do mundo no sentido de uma plena compreensão (e consequente tomada de posição) contra fatos, circunstâncias ou eventos que tenderiam a ser particularmente graves e deletérios para a Santa Igreja e para toda a humanidade nas décadas seguintes. 

Esta revelação, entretanto, poderia também ocorrer um pouco antes de 1960, em caso da morte da vidente, como ela própria havia assinalado. A Irmã Lúcia, amparada por Nossa Senhora durante toda a sua missão na terra, teria ciência clara de que cumprira a missão a ela destinada e esta, uma vez concluída (Fátima já seria uma realidade para o mundo inteiro nesta época), 'o algum tempo' que lhe restava nesta vida estaria prestes a se concluir também. Neste sentido, 1960 era o tempo do Terceiro Segredo e um limite de tempo prescrito pelos Céus para a missão da Irmã Lúcia e, por essa razão, é bastante razoável admitir que a verdadeira Irmã Lúcia tenha falecido alguns meses ou anos um pouco antes de 1960. 

Desta forma, o domínio do tempo das revelações de Nossa Senhora em Fátima estaria circunscrito aproximadamente ao ano de 1960, com duas determinações precisas e enfáticas de Nossa Senhora: a primeira - dirigida e cumprida por Lúcia - consistia na sua missão de divulgar ao mundo a devoção ao seu Imaculado Coração e a segunda - dirigida e não cumprida pelos papas da Igreja - consistia na devoção explícita da Rússia ao Imaculado Coração de Maria e o anúncio do Terceiro Segredo ao mundo católico e à toda a humanidade. De alguma forma, naquele período singular da história da humanidade e por razões diversas, Lúcia e o papado - na concepção plena dos papas como sucessores de Pedro e irmanados na observância rigorosa da doutrina católica fundamentada pelos Evangelhos e pela tradição bimilenar da Igreja, morreram juntos.  

E, ressurgiram também juntos, com uma nova Lúcia e um novo papado - e, consequentemente, uma nova Igreja - pelo Concílio Vaticano II, concílio ecumênico convocado pelo Papa João XXIII em 25 de dezembro de 1961, inaugurado em 11 de outubro de 1962 e concluído pelo seu sucessor, o Papa Paulo VI, em 8 de dezembro de 1965. Um concílio que não teve como objeto estabelecer nenhum dogma, denunciar quaisquer erros doutrinários ou condenar quaisquer heresias, mas que simplesmente formalizou um novo rito litúrgico da chamada Missa Nova e promoveu uma verdadeira revolução nos pilares da fé autêntica da Igreja de Cristo. 

A distinção é óbvia nos tempos da Igreja pré e pós-conciliar. Os maus frutos desta árvore má são abundantes e estão espalhados por todos os lados nestes tristes tempos de apostasia universal. Mas muitos - uma maioria moldada pela tibieza, pelo indiferentismo e pelo ecumenismo mais diabólico - simplesmente não vê o que não quer ver. Mas o que o espírito humano se apraz em legitimar como unidade das duas Igrejas, a tecnologia avançada não deixa dúvidas entre uma Lúcia verdadeira e uma Lúcia falsa, utilizando simplesmente a técnica do envelhecimento (ou rejuvenescimento) de rostos ou das suas mudanças físicas em termos da adição, remoção ou alteração de formatos ou de elementos fisionômicos (comumente na forma de mudanças em termos de cortes de cabelo ou inclusão/exclusão de barba, óculos, próteses dentárias, etc). 

A sequência de fotografias abaixo apresenta comparações entre a Lúcia Jovem (pré-1960), a Lúcia Jovem artificialmente envelhecida e a Lúcia Idosa (pós-1960), utilizando as técnicas citadas. A sequência seguinte apresenta os rostos das duas Lúcias num sorriso mais aberto. Mas a distinção maior entre essas duas personagens está no 'état d'esprit' (sequência inferior das fotos): a Lúcia mais jovem é contida, recatada, quase solene; enquanto a Lúcia mais idosa é afável, cordial, quase relaxada. Surpreendentemente duas Lúcias, que se assemelham talvez pelos hábitos religiosos que vestem.




Duas Lúcias é uma teoria da conspiração? Ou o resultado de uma conspiração monstruosa e de consequências avassaladoras para a Igreja? Se a primeira serviu-se do escondimento e da pequenez, a segunda serviu de suporte muito adequado para encontros e eventos públicos da Igreja pós-conciliar. A hipótese de duas Lúcias tem outros elementos de abordagem, mas nos basta aqui fazê-la por apenas mais um viés complementar.

Durante uma entrevista com a Irmã Lúcia entre 17 e 18 de outubro de 1946, o Cônego Barthas perguntou à vidente: 'Quando nos será revelada a terceira parte do segredo?' A resposta foi incisiva: 'Em 1960'. Na sequência, o cônego escreveu: 'E quando levei a minha audácia tão longe ao ponto de perguntar sobre o porquê de ser necessário esperar até lá, a única resposta que recebi foi: 'Porque a Santíssima Virgem deseja que assim o seja' (Barthas, Fátima, Merveille du XXe siecle, pág. 83, Fatima-editions, 1952). Essa acepção foi explicitamente exposta, em termos diretos pela própria caligrafia da Irmã Lúcia, na forma de um encaminhamento postado sobre um envelope pardo que conteria o texto original da revelação, como apresentado pelo Cardeal Bertone em vídeo público, quando do anúncio do terceiro segredo de Fátima pelo Vaticano, no ano de 2000: 'Por ordem expressa de Nossa Senhora, este envelope só pode ser aberto em 1960...'

Nos termos mais completos do Segredo revelado publicamente ('A Mensagem de Fátima', texto disponível no site do Vaticano), consta um interrogatório realizado com a vidente pelo próprio Cardeal Bertone, que incluiu a sequinte questão: 'Por que o limite de 1960? Foi Nossa Senhora que indicou aquela data?', cuja resposta da vidente de Fátima foi perturbadoramente estranha: 'Não foi Nossa Senhora; fui eu mesma que meti essa data porque, segundo intuição minha, antes de 1960 não se perceberia, compreender-se-ia somente depois. Agora pode-se compreender melhor. Eu escrevi o que vi, não compete a mim a interpretação, mas ao papa'.

A resposta dessa 'Lúcia' contradiz frontalmente a afirmação de Lúcia. Além de confrontar o que se afirmara antes, a resposta dada é totalmente estranha e descabida. A data de 1960 - um elemento de singularidade histórica para a vida da Igreja e para a civilização cristã - teria sido fruto da intuição da vidente e não de uma mensagem profética de Nossa Senhora? Baseado em quais fatos e evidências? A vidente tornava-se então, mais que meramente intuitiva, uma profetisa dos Céus? Não tem sentido algum. Para, logo em seguida, afirmar que não competia a ela, mas ao papa, a interpretação dos fatos! Como se intuir não fosse uma interpretação além dos fatos... Definitivamente, há algo errado com essa Lúcia de Fátima! Definitivamente, estamos diante de Lúcias que são diferentes, que agem de maneiras diferentes, que falam coisas diferentes...

segunda-feira, 19 de julho de 2021

A CRUZ QUE SE LEVA É LENHO DE SANTIDADE (II)

 

Não está de acordo com a natureza do homem levar a cruz, amar a cruz, castigar o corpo e reduzi-lo à escravidão, fugir das honras e sofrer, de bom grado, as injúrias, desprezar-se a si mesmo e desejar ser desprezado, suportar as coisas mais adversas e danosas e não desejar nenhuma prosperidade neste mundo.

Se olhas para ti vês logo que só com as tuas forças não serás capaz de nenhuma destas coisas; mas, se confiares em Deus, receberás do Céu a força necessária, e o mundo e a carne ficarão sujeitos ao teu domínio. Mais ainda, não temerás sequer o inimigo infernal, se estiveres armado com o escudo da fé e marcado com o sinal da Cruz de Cristo.

Resolve-te, pois, como bom e fiel servo de Cristo, a levar, virilmente, a Cruz do teu Senhor, que se deixou crucificar por teu amor. Prepara-te para enfrentar nesta miserável vida muitas adversidades e muitas angústias; eis o que te espera por onde quer que fores, eis o que encontrarás em qualquer lugar onde te encontrares.

... E, na verdade, se houvesse um método melhor e mais útil para a salvação dos homens que o sofrimento, certamente Cristo no-lo teria ensinado pela palavra e pelo exemplo. Pois, manifestamente, exorta os seus discípulos e todos os que o querem seguir a que levem a sua cruz, dizendo: 'Se alguém me quer seguir, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me' (Mt 16,24). Portanto, consideradas e examinadas todas as coisas, devemos concluir: 'Importa passar por muitas tribulações para entrar no reino de Deus' (At 14,21).

(Da Imitação de Cristo)

domingo, 18 de julho de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'O Senhor é o pastor que me conduz; felicidade e todo bem hão de seguir-me!' (Sl 22)

 18/07/2021 - Décimo Sexto Domingo do Tempo Comum

34. A DUALIDADE DA GRAÇA 

O Evangelho deste domingo reflete as dimensões opostas da vida cristã em comunidade e em isolamento, feitas das santas alegrias do convívio social ou moldadas pelas graças do recolhimento absoluto, tangidas pelo frenesi de multidões em marcha ou pelo silêncio contemplativo dos claustros mais inacessíveis. Como nos são diversos os desígnios do Senhor! Quão diversos são os caminhos e os meios que imprimem a santidade no coração e na alma daqueles que buscam sinceramente a Deus!

Os Apóstolos haviam sido enviados por Jesus em missão, 'dois a dois' (Mc 6,7), com a recomendação expressa de levarem muito pouca coisa: 'nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura' e nem 'duas túnicas' (Mc 6,8 - 9) e providos pela graça do dom da cura e do 'poder sobre os espíritos impuros' (Mc 6,7). E estes homens, pescadores sem erudição, sem alforge e sem preparos retóricos, cumpriram com coragem heróica e humildade santa os ditames proclamados pelo Mestre: levar a Boa Nova a todos os povos e a todas as nações! E, na santa alegria da primeira missão apostólica cumprida, retornam agora ao convívio do Senhor e, cheios de júbilo, 'contaram tudo o que haviam feito e ensinado' (Mc 6,30).

No convívio do Senhor! Na santa alegria do convívio do Senhor e dos demais Apóstolos, as primícias da Igreja são matizadas naqueles tempos pioneiros da evangelização universal. Uma comunidade viva, moldada pelos princípios das sólidas virtudes da humildade, do despojamento, da fraternidade e da partilha. Uma comunidade que crescia, que exigia novas pregações, que demandava zelo e tempo... Jesus, então, chama os seus discípulos: 'Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco' (Mc 6, 31). No meio da multidão, Jesus os exorta a viver a outra dimensão da realidade cristã, moldada pelo anonimato, pelo silêncio e pela solidão com Deus.

Nesse encontro pessoal com Deus, Jesus nos ensina a buscar a barca, os montes ou o deserto. Sim, na busca de uma maior intimidade com as coisas sobrenaturais, impõe-se afastar do burburinho e da agitação do mundo, para se mergulhar a alma no repouso físico e na contemplação do espírito. Eis, assim, a síntese da perfeição cristã, que associa ação e contemplação, convívio fraterno e recolhimento interior! E, como um círculo de perfeição, refaz-se em seguida a dualidade da graça: as multidões acercam-se uma vez mais do Mestre e este, movido pela compaixão, cerne da verdadeira devoção cristã, recomeça a sua pregação divina 'porque eram como ovelhas sem pastor' (Mc 30, 34).

sábado, 17 de julho de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (85/87)


85. A VIDA LENDÁRIA DE SÃO DIMAS

Contam antigas lendas que a Sagrada Família, ao fugir para o Egito, quis refugiar-se, para passar a noite, numa cova que, por desgraça, era uma guarida de ladrões. O capitão dos bandidos sentiu-se comovido ao ver a venerável bondade de São José, a pureza e formosura da Santíssima Virgem e o olhar todo celeste do Menino Jesus. Acolheu-os, deu-lhes de comer e, na manhã seguinte, ofereceu-lhes pão para a viagem e, a Maria, uma bacia de água para banhar o Menino. 

O capitão tinha um filhinho, aproximadamente da idade de Jesus, que se achava coberto de lepra. Nossa Senhora, correspondendo às finezas daquele homem rude e duro, mas que algo de bom tinha no coração, aconselhou-o a lavar o filhinho na água em que banhara o Menino Jesus. Assim o fez o bandoleiro e, no mesmo instante, seu filhinho ficou curado da lepra. O capitão lembrou muitas vezes ao filho a quem devia a saúde e a vida, dizendo: 'Foi o milagre de um Menino de tua idade, que seria, quem sabe, o Messias anunciado pelos profetas'.

Crescendo, seguiu aquele menino o exemplo do pai, tornando-se ladrão. Preso e condenado à morte, ao subir ao Calvário, ia pensando em Jesus, seu companheiro de suplício, que era tão santo e paciente, que, sem dúvida, havia de ser o Messias, aquele mesmo menino que o livrara da lepra. As lendas dizem que o bom ladrão se chamava Dimas e o mau, Gestas. Ambos foram condenados a morrer junto com Jesus e no mesmo suplício.

Atrás de Jesus subiram ao Calvário, levando suas cruzes. Junto com Ele, foram levantados nas respectivas cruzes. Viram como os soldados repartiam entre si as vestes do Salvador; mas, como a túnica era de uma só peça, tiraram a sorte a ver quem a levaria. Ouviram as palavras de Cristo: 'Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem'. Jesus era objeto de todos os insultos. A multidão, curiosa e soez, passava por diante dEle, e, movendo a cabeça em sinal de desprezo, diziam: 'Vamos! Tu que destróis o templo de Deus e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo. Se és o Filho de Deus, desce da cruz...'

Todos blasfemavam e insultavam a Jesus. Mas a graça operou um milagre: um dos ladrões, Dimas, considerando as virtudes sobre-humanas de Jesus, acreditou ser Ele o Messias prometido e amou de todo o coração a Bondade infinita. Dirigindo-se a Gestas, o outro crucificado, repreendeu-o, dizendo: 'Como não temes a Deus, estando como estás no mesmo suplício? É justo, na verdade, que soframos por nossos crimes, mas Jesus, que mal Ele fez?'

E, cheio de esperança e com grande arrependimento, disse a Jesus: 'Senhor, quando chegares ao teu reino, lembra-te de mim'. Jesus, olhando Dimas com infinita misericórdia, respondeu: 'Em verdade te digo que hoje mesmo estarás comigo no paraíso'. Naquela mesma noite, a alma de Jesus visitou o limbo dos justos e concedeu ao Bom Ladrão a vista de Deus e a felicidade eterna. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 25 de março.

86. UM PREGADOR QUE SACUDIA O AUDITÓRIO

Nascido em meados do século XIV, na formosa Valença, São Vicente Ferrer, já na infância, deu claros indícios de extraordinária missão que Deus lhe reservara. Gostava de ouvir sermões, para, depois, reunidos com os seus colegas, repetir-lhes com grande ardor os trechos mais impressionantes.

Apareceram, no pescoço de um seu amiguinho de cinco anos, umas chagas malignas. Vicente foi visitá-lo e, para mortificar-se e aliviar o doente, lambeu-lhe as chagas, que, imediatamente, desapareceram. Este foi o primeiro milagre que operou. Aos dezoito anos, entrou para a Ordem Dominicana, tornando-se professor famoso em várias universidades. Mas o fruto obtido por seus sermões fê-lo abandonar a cátedra e dedicar-se exclusivamente à pregação.

Percorreu, como pregador, grande parte da Europa, não faltando em nenhuma de suas missões o famoso sermão sobre o fim do mundo e o Juízo universal. Certa vez, ao pregá-lo numa praça diante de milhares de ouvintes, quando pronunciou com voz terrível aquelas palavras dos anjos: 'Levantai-vos, ó mortos, vinde ao Juízo!', todo auditório caiu por terra, como morto; e, todos, ao se erguerem, estavam pálidos e a tremer, como se surgissem dos sepulcros.

Outra vez, pregando o mesmo sermão, disse ser ele o anjo, do qual São João diz, no Apocalipse, que cruzará pelos ares, clamando: 'Temei a Deus e honrai-o, porque está chegando a hora do Juízo'. Escandalizaram-se alguns, ao ouvirem tais palavras; mas o santo, para provar-lhes que tinha razão, mandou que trouxessem uma defunta que era levada ao cemitério. Vários homens saíram e, realmente, encontraram o cortejo fúnebre e trouxeram à praça o caixão. Puseram-no, por ordem do santo, no meio do povo. O pregador mandou que a defunta se levantasse e convidou-a a reconhecer que era ele o anjo do Apocalipse, enviado por Deus para lembrar aos homens o fim do mundo. Ela confirmou a palavra do santo, diante daquela imensa multidão admirada.

Dirigindo-se à ressuscitada, perguntou São Vicente: 'Queres viver ou morrer de novo?' - 'Quero viver para fazer mais pelo céu'. E aquela mulher foi, por muitos anos, um atestado vivo do poder de São Vicente. Seus sermões convertiam cidades inteiras e enchiam os seminários e os conventos. Seguiam-no milhares de penitentes, indo os homens à direita, as mulheres à esquerda e, no meio, os sacerdotes, rezando todos o rosário e cantando hinos religiosos. Era de ver o fervor com que todos faziam penitência, disciplinando-se e implorando o perdão de seus pecados. São Vicente morreu como santo em 1419 e sua festa litúrgica é celebrada no dia 5 de abril.

87. SANTA CASSILDA

Era princesa moura, filha do rei Toledo, e nasceu em fins do século décimo. Seu boníssimo coração estremecia diante das misérias e sofrimentos que suportavam os escravos cristãos, aprisionados pelo rei em suas campanhas guerreiras. A princesa visitava as masmorras e socorria os prisioneiros com dádivas e palavras consoladoras. Eles, em troca, instruíam-na pouco a pouco na doutrina cristã.

Atraída pela beleza de nossa religião, tão heroica e ao mesmo tempo tão misericordiosa, Cassilda pedia a Nossa Senhora, da qual lhe haviam falado os cativos, que se compadecesse dela e lhe mostrasse o caminho para receber o batismo e viver seguindo a fé cristã. A Virgem atendeu às suas súplicas. Cassilda começou a sentir-se doente de mal estranho que lhe consumia os ossos, e contra o qual se mostravam impotentes os melhores médicos.

Um cativo cristão contou-lhe que, perto de Burgos, havia uma fonte, chamada de São Vicente, cujas águas curariam a sua doença. A princesa referiu ao pai o que ouvira do cativo e pediu-lhe licença para experimentar aquele remédio. Seu pai opôs-se, a princípio, por achar-se a fonte em terra de cristãos; mas, diante dos progressos da enfermidade, terminou por aceder. Acompanhada de um séquito deslumbrante, chegou Cassilda a Burgos, onde foi cortesmente recebida pelo rei Fernando I da Castela e hospedada com todas as honras. Dirigiu-se logo à prodigiosa fonte e, quando se banhou em suas águas, recobrou a saúde corporal. Atribuindo-a à intercessão de Nossa Senhora, acabou de instruir-se na doutrina cristã e, pouco depois, as águas do batismo deram-lhe a saúde da alma.

O rei, seu pai, alarmado com a demora e com as notícias que recebia, enviou-lhe mensageiros com a ordem de regressar imediatamente. Santa Cassilda mandou dizer-lhe que já era princesa do céu e que, por seu reino temporal, não queria perder o reino eterno. Mandou construir uma humilde cela perto da fonte milagrosa e da igreja, onde recebera o batismo, e ali passou a vida, dando exemplo de todas as virtudes, especialmente de caridade e penitência. Sua festa é celebrada no dia 9 de abril e suas preciosas relíquias são veneradas, atualmente, parte na catedral de Burgos e parte na catedral de Toledo.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

ver PÁGINA: TESOURO DE EXEMPLOS

sexta-feira, 16 de julho de 2021

GLÓRIAS DE MARIA: MÃE E FORMOSURA DO CARMELO

 


No dia 16 de julho de 1251, São Simão Stock suplicava a intercessão de Nossa Senhora para resolver problemas da Ordem Carmelita quando teve uma visão da Virgem que, trazendo o Escapulário nas mãos, lhe disse as seguintes palavras:

"Filho diletíssimo, recebe o Escapulário da tua Ordem, sinal especial de minha amizade fraterna, privilégio para ti e todos os carmelitas. Aqueles que morrerem com este Escapulário não padecerão o fogo do Inferno. É sinal de salvação, amparo e proteção nos perigos, e aliança de paz para sempre". 


Imposição e Uso do Escapulário

- Qualquer padre pode fazer a bênção e imposição do Escapulário à pessoa.

2 - A bênção e a imposição valem para toda a vida e, portanto, basta receber o Escapulário uma única vez.

- Quando o Escapulário se desgastar, basta substituí-lo por um novo.

- Mesmo quando alguém tiver a infelicidade de deixar de usá-lo durante algum tempo, pode simplesmente retomar o seu uso, não sendo necessária outra bênção.

5 - Uma vez recebido, o Escapulário deve ser usado em todas as ocasiões (inclusive ao dormir), preferencialmente no pescoço.

6 - Em casos de necessidade de retirada do Escapulário, como no caso de doenças e/ou internações em hospitais, a promessa de Nossa Senhora se mantém, como se a pessoa o estivesse usando.

7 - Mesmo um leigo pode fazer a imposição do Escapulário a uma pessoa em risco de morte, bastando recitar uma oração a Nossa Senhora e colocar na pessoa um escapulário já bento por algum sacerdote.

8 - O Escapulário pode ser substituído por uma medalha que tenha, de um lado, o Sagrado Coração de Jesus e, do outro, uma imagem de Nossa Senhora (por autorização do Papa São Pio X).
Oração a Nossa Senhora do Carmo
     Ó Virgem do Carmo e mãe amorosa de todos os fiéis, mas especialmente dos que vestem vosso sagrado Escapulário, em cujo número tenho a dita de ser incluído, intercedei por mim ante o trono do Altíssimo. 

          Obtende-me que, depois de uma vida verdadeiramente cristã, expire revestido deste santo hábito e, livrando-me do fogo do inferno, conforme prometestes, mereça sair quanto antes, por vossa intercessão poderosa, das chamas do Purgatório.

        Ó Virgem dulcíssima, dissestes que o Escapulário é a defesa nos perigos, sinal do vosso entranhado amor e laço de aliança sempiterna entre Vós e os vossos filhos. Fazei, pois, Mãe amorosíssima, que ele me una perpetuamente a Vós e livre para sempre minha alma do pecado. 

       Em prova do meu reconhecimento e fidelidade, ofereço-me todo a Vós, consagrando-Vos neste dia os meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração e todo o meu ser. E porque Vos pertenço inteiramente, guardai-me e defendei-me como filho e servidor vosso. Amém.

PARA VIVER A DIVINA MISERICÓRDIA UM DIA POR SEMANA¹⁰

  

Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós,
eu confio em Vós!

'Fala ao mundo da Minha Misericórdia, que toda a humanidade conheça a Minha insondável misericórdia. Este é o sinal para os últimos tempos; depois dele virá o dia da justiça. Enquanto é tempo, recorram à fonte da Minha Misericórdia'

Intenção do Dia - Décima Semana

rezar pelas almas do Purgatório

Que as benditas almas do Purgatório / encontrem refrigério e graça / no Sangue e Água derramados / do Coração da infinita misericórdia de Jesus

quinta-feira, 15 de julho de 2021

A MEDIDA DO RIGOR DA JUSTIÇA DIVINA


Inocêncio III foi o papa da Igreja no período de 1198 até 1216, quando faleceu repentinamente. Eleito pontífice aos 37 anos, desenvolveu um dos mais longos pontificados (18 anos) e, entre as suas muitas e decisivas contribuições à Igreja, destacam-se a iniciativa de convocação do IV Concílio de Latrão, no qual foi definida dogmaticamente a doutrina da transubstanciação e o firme combate às heresias e às tentativas de invasão das hordas muçulmanas na Europa. São Francisco de Assis recebeu diretamente deste papa a permissão para fundar a sua Ordem dos Frades Menores.

Logo após a sua morte, este papa apresentou-se diante de Santa Lutgarda de Aywieres, uma das grandes místicas do século XIII, reconhecida pelas suas visões, profecias e diversos milagres, que incluíram até a levitação. A ela, o papa Inocêncio III revelou estar no Purgatório, ao qual descreveu como 'terrível', para a purgação de três pecados específicos cometidos em sua vida. Revelou ainda que que tal aparição consistia em um favor especial de Nossa Senhora, que o permitiu pedir, à mística belga, orações em sua intenção para a abreviação da sua pena e dos seus sofrimentos que, segundo ele, poderiam demandar um tempo 'equivalente a séculos'.

Assim, um papa, renomado e aclamado como um dos grandes pontífices da Igreja, revelou ser refém do Purgatório após a sua morte e que poderia padecer daqueles tormentos terríveis por um tempo da ordem de séculos, para expiação de três faltas específicas cometidas em vida. Desse fato - e quantos não o corroboram da mesma forma - resultam duas grandes lições:

(i) as almas do Purgatório não possuem méritos próprios para abreviar ou livrar-se das penas da purificação e, assim, dependem, em escala absoluta, da nossa intercessão neste mundo, para oferecer orações e penitências em suas intenções. 

(ii) os tempos de purgação são regulados pela justiça divina e não pelas interpretações humanas; quem morre, mesmo que seja uma pessoa reconhecidamente de grande bem e notória santidade, precisa de muitas orações e penitências de nossa parte. Não sabemos se qualquer pessoa falecida já está em Deus ou 'foi descansar' depois de um longo sofrimento nesta vida: em quaisquer circunstâncias, as almas dos falecidos precisam de nossas orações, orações e orações, não apenas nos dias seguintes à sua morte, mas todos os dias, ao longo de semanas, anos e mais anos, porque, definitivamente, não conhecemos com exatidão a magnitude da justiça divina.

A medida do rigor da justiça divina pode ser apreendida ao se relembrar um fato específico e quase casual das mensagens de Nossa Senhora em Fátima. Este fato ocorreu já na primeira aparição e a sua revelação deveu-se a uma resposta de Nossa Senhora a uma pergunta de Lúcia. Recapitulemos o diálogo entre a Mãe de Deus e a pastorinha de Fátima:

  - A Maria das Neves já está no céu?

   - Sim, está.

   - E a Amélia?

   - Estará no Purgatório até o fim do mundo.