quinta-feira, 30 de setembro de 2021

UM SANTO EM ESTADO BRUTO


Um santo ou uma santa constituem sempre uma expressão de uma das dimensões do Nosso Senhor Jesus Cristo. Um expressa o seu recolhimento, outro a sua docilidade, outro ainda o amor extremado pelos pobres ou pelos humildes e simples de coração. Uma forma de santidade é sempre a consequência de viver, com extremado cuidado, um reflexo da vida do próprio Senhor.

São Jerônimo, nascido na Dalmácia no ano de 340, é um dos grandes santos e doutores da Igreja, reconhecido como o grande tradutor das Sagradas Escrituras para o latim e ainda como um grande filósofo, teólogo, tradutor, exegeta e historiador. Nele, a doutrina de Cristo é vívida e vivida em toda a sua dimensão: como monge, fundou mosteiros e ordens religiosas; como teólogo, investiu contra as heresias; como penitente ardoroso, tornou-se eremita e foi viver recluso em uma caverna de Belém.

Mas São Jerônimo é o 'santo em estado bruto'. Na sua época, o Cristianismo havia se tornado a religião oficial do Império Romano e os primeiros tempos de austeridade e de perseguição da Igreja haviam cessado e o inimigo agora era as tentações do mundanismo. Estêvão é o grande santo da tolerância zero, do nada de meias verdades, do nada de palavras sociais ou do respeito humano, do nada de adulação, dos eufemismos ou da retórica adocicada. Martelo da hipocrisia e das firulas sociais e do politicamente correto, sua linguagem áspera e suas atitudes rígidas e intempestivas são as marcas registradas do amor incondicional à Verdade, sem concessão alguma. O santo mais em falta nesta geração atual de homens e mulheres que padecem de uma síndrome crônica de frouxidão e covardia.

São Jerônimo rabugento, cáustico, impulsivo? Sim, em se tratando das almas mornas e tíbias, dos tolos de plantão, do indiferentismo religioso, dos inertes e dos omissos na arte de viver a plenitude da fé cristã. Para o santo das palavras duras e atitudes severas, o amor a Deus supera e vence montanhas, é movido pelo fogo da verdade, é incensado pela força das atitudes e dos propósitos firmados num simples sim ou não diante das vicissitudes humanas. São Jerônimo é o santo de hoje, ontem e sempre para os homens moldados pela graça em estado bruto. E nem um pouco dos refinados e lapidados homens de fé comum.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XVI)

Capítulo XVI

Dores do Purgatório - Santo Antonino e os religiosos enfermos - Um quarto de hora no Purgatório - Irmão Angelicus

O que nos mostra ainda mais o rigor do Purgatório é que o período de tempo mais curto ali parece ser de duração muito longa. Todos sabem que os dias de gozo passam rapidamente e parecem curtos, ao passo que o tempo que se passou no sofrimento nos parece muito longo. Ó como passam lentamente as horas da noite para os pobres enfermos, que as passam em meio à insônia e à dor. Podemos dizer que quanto mais intensa é a dor, um tempo de curta duração parece muito mais tempo. Essa regra nos fornece uma nova medida para se avaliar os sofrimentos do Purgatório.

Encontramos nos Anais dos Frades Menores, do ano de 1285, um fato que também é relatado por Santo Antonino em sua Summa (Parte 4, §4). Um homem religioso que sofreu, por muito tempo, uma doença dolorosa, permitiu-se ser vencido pelo desânimo e rogou a Deus que o permitisse morrer, para que pudesse ser libertado de suas dores. Ele não pensou que o prolongamento de sua doença fosse uma misericórdia de Deus, que desejava assim poupá-lo de sofrimentos mais severos. 

Em resposta à sua oração, Deus encarregou o seu anjo da guarda de oferecer a ele uma escolha entre morrer imediatamente e se submeter às dores do purgatório por três dias ou suportar a sua doença por mais um ano e então ir diretamente para o Céu. O enfermo, tendo a opção de escolher entre três dias no Purgatório e um ano de sofrimento na terra, não hesitou em escolher os três dias no Purgatório. Após um lapso de uma hora, o seu anjo foi visitá-lo em seus sofrimentos. Ao vê-lo, o pobre paciente queixou-se por estar ainda tanto tempo naqueles tormentos e acrescentou: 'a promessa é que eu ficaria aqui por apenas três dias'. 'Há quanto tempo' - perguntou o anjo - 'você acha que está aqui?' . 'No mínimo vários anos, quando deveriam ser apenas três dias'. 'Pois saiba' - disse o anjo - 'que você está aqui há apenas uma hora. A intensidade da dor faz você se enganar quanto ao tempo: um instante parece um dia e uma hora parece vários anos'. 'Ai de mim então' - disse ele com um suspiro - 'fui muito cego e imprudente na escolha que fiz. Reze a Deus, meu bom anjo, que me perdoe e que me permita voltar à terra. Estou pronto para sofrer as doenças mais dolorosas, não apenas por dois anos, mas o tempo que aprouver a Deus. E ainda que fossem muito mais anos de doenças terríveis, eu os prefiro a uma única hora neste lugar de sofrimentos inexprimíveis'.

O fato seguinte foi transcrito da obra de um piedoso autor citado pelo Padre Rossignoli (Merv 17). Dois religiosos, de virtudes muito elevadas, competiam entre si para levar uma vida santa. Um deles adoeceu e teve uma visão de que morreria em breve, que seria salvo e que permaneceria no purgatório apenas o tempo decorrido até se celebrar a primeira missa em intenção do repouso de sua alma. Cheio de alegria por estas revelações, apressou-se a comunicá-las ao bom amigo e rogou-lhe que não se atrasasse na celebração da missa que lhe abriria o Céu.

Ele morreu na manhã seguinte e seu companheiro não perdeu tempo em celebrar o Santo Sacrifício por intenção de sua alma. Depois da missa, enquanto fazia a sua ação de graças e continuava a rezar pelo amigo falecido, este lhe apareceu radiante de glória mas, em tom de queixa levemente complacente,  perguntou por que demorara tanto para celebrar a missa de que tanto precisava. 'Meu caríssimo irmão' -  respondeu o religioso, 'como assim, demorei? Não entendo o que você está me dizendo'. 'Como assim? Você me deixou sofrer no Purgatório, por mais de um ano, antes de oferecer a missa pelo repouso da minha alma...'.  'Não, meu querido irmão, celebrei a missa quase que imediatamente após a sua morte e certamente esse tempo não passou de um quarto de hora'. Olhando para ele com emoção, a alma abençoada então respondeu: 'Quão terríveis são essas dores expiatórias, pois me fizeram trocar alguns minutos como se fossem um ano... Sirva a Deus, meu querido irmão, com extrema fidelidade, para que possas evitar esses castigos. Até breve. Vou para o Céu, onde estaremos juntos um dia!'

Esta severidade da Justiça Divina, em relação às almas mais fervorosas, explica-se pela infinita santidade de Deus, que descobre manchas naquilo que nos parece mais puro. Os Anais da Ordem de São Francisco falam de um religioso cuja santidade eminente o levara a receber o sobrenome Angelicus (Chronique des Freres Min., P. 2, 1, 4. c. 8; cf. Rossign.). Morreu em odor de santidade no mosteiro dos Frades Menores de Paris, e um de seus irmãos religiosos, doutor em teologia, convenceu-se de que, depois de uma vida tão perfeita, havia ido direto para o céu e que não havia, portanto, necessidade de orações, sendo omitida desta forma a celebração das três missas de obrigação que, segundo o costume do mosteiro, deveriam ser oferecidas na intenção da alma de cada membro falecido.

Após alguns dias, enquanto caminhava e meditava em recolhimento, apareceu-lhe o falecido envolto em chamas e disse-lhe, com voz pungente: 'Querido amigo, imploro que tenha piedade de mim!'. 'Como? Irmão Angelicus, você precisa da minha ajuda?' 'Sim, estou retido na prisão de fogo do Purgatório, à espera dos frutos do Santo Sacrifício que devias ter oferecido três vezes por minha intenção'. "Amado irmão, pensei que você já estava na glória eterna; depois de uma vida tão fervorosa e exemplar como a sua, eu não poderia imaginar que restasse ainda alguma dívida a ser paga'. 'Ai de mim!' - respondeu o falecido: 'ninguém pode conceber com que severidade Deus julga e pune as suas criaturas. A sua infinita santidade descobre objeções em nossas melhores atitudes, e até as mínimas  imperfeições que o desagradam. E Ele exige que prestemos contas de tudo até o último centavo - Usque ad novissimium quadrantem'.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

terça-feira, 28 de setembro de 2021

SOBRE O PROPÓSITO DE NÃO PECAR

Muitos já se manifestaram - com absoluto rigor teológico - de que não devemos temer o demônio, mas sim o pecado, que nos deixa à mercê da ação de todos os demônios. Como cristãos no mundo, estamos sujeitos a todas as tentações e, infelizmente, a pecar contra Deus, num mundo em que a única evolução palpável é a de que o pecado não existe, o demônio não existe, o inferno não existe. 

E o mal existe; e para se manifestar e se manter presente, precisa desesperadamente do conluio dos homens, por meio de uma única via dolorosa: o pecado. Com o pecado, o homem coopera com a ação diabólica no propósito de aniquilar a obra divina da salvação. E como o pecado tornou-se artigo de uso imediato e contínuo, a humanidade hoje se vê como um todo emaranhada num redemoinho de fatos e situações que nos fazem crer que o homem desaprendeu de vez a sua condição de criatura de Deus. 

A simples percepção dessa crença já é um propósito de vida cristã. Mas é preciso mais, muito mais: e o melhor começo - ou recomeço - é o firme propósito da não submissão ao pecado, sem quaisquer concessões ou desculpas, pelo simples motivo de que buscar desculpas para o pecado cometido é um grande pecado. Somos filhos e filhas de Deus e Deus abomina o pecado. Como filhos e filhas de Deus, devemos abominar o pecado e nos livrar deles a qualquer custo, sob quaisquer contextos ou tentações. Se fosse fácil, o caminho para o Céu seria uma rodovia pavimentada de oito pistas; não é nada fácil e, por isso, é que a porta é estreita e para poucos.

O livre arbítrio nos concede a condição ímpar de viver por instintos e é isso exatamente o que faz um animal qualquer viver. Mas o livre arbítrio não nos foi concedido para sermos animais quaisquer, mas para manifestar, nas nossas ações e decisões cotidianas, a graça de sermos filhos e filhas de Deus. O livre arbítrio nos propõe uma clara distinção do bem e do mal, da ação e do indiferentismo, do poder das escolhas, de submeter ou não às tentações, de pecar ou não pecar. Como filhos e filhas de Deus, somos criaturas destinadas a cumprir nesta vida em tudo, com todos, o tempo todo, a Santa Vontade de Deus. Estamos realmente vivendo assim?

E precisamos viver assim, para nos afastarmos do pecado para nós e para os outros. Esse é o caminho da Cruz, esse é o caminho do Céu. Não cairmos diante as tentações, não submetermos o livre arbítrio aos caprichos do pecado. E, caso aconteça - e com que causalidade isso nos afronta! - fiquemos rapidamente de pé (eu diria, de joelhos) e, mediante uma firme contrição e uma boa confissão, retomemos a estrada segura do Senhor. 

Que nesse propósito, sejamos mais que ousados, sejamos visceralmente ambiciosos no sentido de sermos instrumentos da salvação para muitos - para todos! O aguilhão do pecado vai nos machucar e nos tornar propensos a cair, arrastar, respirar ofegantes, perder tempo, lamentar e... levantar! Por mim mesmo e pelos que Deus colocou em meu caminho, para sermos todos  redimidos pelo Sangue de Jesus no Calvário. Por isso, a estrada é tão estreita, sinuosa e difícil, e o esforço tem que ser enorme para manter juntos tanta gente, o tempo todo. Mas, no fim do caminho, iremos todos habitar nas moradas eternas do Pai. E que neste propósito, ó meu Deus, eu não seja jamais pedra de tropeço para ninguém, e não me atreva nunca a sucumbir ao pecado que, me afastando de Vós e me colocando à mercê de todo o mal, possa vir a me tornar criatura de mim mesmo e senhor do meu próprio - e tenebroso - destino. 

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

ESCRITOS DOS PAIS DA IGREJA




Alexandre de Alexandria (Santo)
- Epístolas sobre a Heresia Ariana e a Deposição de Ário

Alexandre de Licópolis
- Dos Maniqueus

Ambrósio (340-397) (Santo e Doutor)
- Sobre a fé cristã (De fide)
- Sobre o Espírito Santo
- Sobre os mistérios
- Sobre o arrependimento
- Sobre os deveres do clero
- sobre as virgens
- sobre as viúvas
- sobre a morte de Satyrus
- Memorial de Symmachus
- Sermão contra Auxentius
- Cartas

Afraate (280-367)
- Demonstrações

Arquelau
- Atos de Disputa com o Heresiarca Manes

Aristides, o Filósofo
- A apologia

Arnóbio
- Contra os pagãos

Atanásio (Santo e Doutor)
- Contra os pagãos
- Sobre a Encarnação do Verbo
- Deposição de Ário
- Declaração de Fé
- Sobre Lucas 10:22 (Mateus 11:27)
- Carta Circular
- Apologia Contra Arianos
- De Decretis
- De Sententia Dionysii
- Vita S. Antoni (Vida de Santo Antônio)
- Ad Episcopus Aegypti et Libyae
- Apologia ad Constantium
- Apologia de Fuga
- Historia Arianorum
- Quatro discursos contra os arianos
- De Synodis
- Tomus ad Antiochenos
- Ad Afros Epistola Synodica
- Historia Acephala
- Cartas

Atenágoras
- Um apelo aos cristãos
- A ressurreição dos mortos

Agostinho de Hipona (Santo e Doutor)
- Confissões
- Cartas
- Cidade de Deus
- Doutrina Cristã
- Sobre a Santíssima Trindade
- O Enchiridion
- Sobre a catequização dos não instruídos
- Sobre a fé e o credo
- Sobre a fé das coisas não vistas
- Sobre O Lucro de Acreditar
- Sobre o Credo: Um Sermão aos Catecúmenos
- Sobre a Continência
- Sobre o Bem do Casamento
- Sobre a Santíssima Virgindade
- Sobre o Bem da Viúva
- Sobre a Mentira
- Para Consentius: Contra a Mentira
- Sobre o Trabalho dos Monges
- Sobre a Paciência
- Sobre o Cuidado a Ter pelos Mortos
- Sobre a Moral da Igreja Católica
- Sobre a Moral dos Maniqueus
- Sobre Duas Almas, Contra os Maniqueus
- Atos ou Disputa contra Fortunatus, o Maniqueu
- Contra a Epístola de Maniqueu Chamada Fundamental
- Resposta a Fausto, o Maniqueu
- Sobre a Natureza do Bem, Contra os Maniqueus
- Sobre o Batismo, Contra os Donatistas
- Resposta às Cartas de Petiliano, Bispo de Cirta
- Méritos e Remissão do Pecado, e Batismo Infantil
- Sobre o Espírito e a Letra
- Sobre a Natureza e a Graça
- Sobre a Perfeição do Homem na Justiça
- Sobre os Procedimentos de Pelágio
- Sobre a Graça de Cristo, e sobre o Pecado Original
- Sobre Casamento e Concupiscência
- Sobre a Alma e sua Origem
- Contra Duas Letras dos Pelagianos
- Sobre Graça e Livre Arbítrio
- Sobre Repreensão e Graça
- A Predestinação dos Santos / Dom da Perseverança
- O Sermão da Montanha de Nosso Senhor
- A Harmonia dos Evangelhos
- Sermões sobre lições selecionadas do Novo Testamento
- Tratados sobre o Evangelho de João
- Homilias sobre a Primeira Epístola de João
- Solilóquios
- As descrições ou exposições sobre os Salmos

Bardesanes (154-222)
- O Livro das Leis de Vários Países

Barnabé (Santo)
- Epístola de Barnabé

Basílio, o Grande (Santo e Doutor)
- De Spiritu Sancto
- Nove Homilias do Hexaemeron
- Cartas

Caio
- Fragmentos

Clemente de Alexandria (Santo)
- Quem é o homem rico que deve ser salvo?
- Exortação ao pagão
- O instrutor
- O Stromata, ou Miscelânea
- Fragmentos

Clemente de Roma (Santo)
- Primeira Epístola
- Segunda Epístola
- Duas Epístolas Sobre a Virgindade
- Reconhecimentos
- Homilias Clementinas

Comodiano
- Escritos

Cipriano de Cartago (Santo)
- A Vida e Paixão de Cipriano por Pôncio, o Diácono
- As Epístolas de Cipriano
- Os Tratados de Cipriano
- O Sétimo Concílio de Cartago

Cirilo de Jerusalém (Santo e Doutor)
- Palestras Catequéticas

Dionísio de Roma (Santo)
- Contra os Sabelianos

Dionísio, o Grande
- Epístolas e fragmentos epistolares
- Fragmentos exegéticos
- Fragmentos diversos

Efrém, o Sírio (306-373) (Santo e Doutor)
- Hinos de Nisibene - Hinos
Diversos - Sobre a Natividade de Cristo na Carne , Para a Festa da Epifania e Sobre a Fé (“A Pérola”)
- Homilias - Sobre Nosso Senhor , Sobre a Admoestação e Arrependimento e Sobre a Mulher Pecadora

Eusébio de Cesaréia (c. 265-c. 340)
- História da Igreja
- Vida de Constantino
- Oração de Constantino à Assembleia dos Santos
- Oração em Louvor de Constantino
- Carta sobre o Concílio de Nicéia

Genádio de Marselha
- Homens Ilustres (Suplemento de Jerônimo)

Gregório Magno, Papa (c. 540-604) (Santo e Doutor)
- Regra Pastoral
- Registro de Cartas

Gregório Nazianzeno (Santo e Doutor)
- Orações
- Cartas

Gregório de Nissa (Santo)
- Contra Eunômio
- Resposta ao Segundo Livro de Eunômio
- Sobre o Espírito Santo (Contra os Seguidores de Macedônio)
- Sobre a Santíssima Trindade, e da Divindade do Espírito Santo (Para Eustátio)
- Sobre “Não Três Deuses ”(Para Ablabius)
- Sobre a Fé (Para Simplicius)
- Sobre a virgindade
- Sobre as mortes prematuras de crianças
- Sobre as peregrinações
- Sobre a formação do homem
- Sobre a alma e a ressurreição
- O Grande Catecismo
- Oração fúnebre em Meletius
- Sobre o Batismo de Cristo (Sermão para o Dia das Luzes)
- Cartas

Gregório Thaumaturgo (Santo)
- Uma Declaração de Fé
- Uma Metáfrase do Livro de Eclesiastes
- Epístola Canônica
- A Oração e o Panegírico Dirigido a Orígenes
- Uma Confissão de Fé Seccional
- Sobre a Trindade
- Doze Tópicos sobre a Fé
- Sobre o Assunto de a Alma
- Quatro Homilias
- Sobre Todos os Santos
- Sobre Mateus 6: 22-23

Hermas
- O Pastor 

Hilário de Poitiers (Santo e Doutor)
- Sobre os Conselhos, ou a Fé dos Orientais
- Sobre a Trindade
- Homilias sobre os Salmos

Hipólito (Santo)
- A Refutação de Todas as Heresias
- Alguns Fragmentos Exegéticos de Hipólito
- Tratado Expositivo Contra os Judeus
- Contra Platão, Sobre a Causa do Universo
- Contra a Heresia de Noeto
- Discurso sobre a Santa Teofania
- O Anticristo
- O Fim do mundo (pseudônimo)
- Os apóstolos e os discípulos (pseudônimo)

Inácio de Antioquia (Santo)
- Epístola aos Efésios
- Epístola aos Magnesianos
- Epístola aos Tralianos
- Epístola aos Romanos
- Epístola aos Filadélfia
- Epístola aos Esmirna
- Epístola a Policarpo
- O Martírio de Inácio
- As Epístolas Espúrias

Irineu de Lyon (Santo)
- Adversus haereses
- Fragmentos dos Escritos Perdidos de Irineu

Jerônimo (Santo e Doutor)
- Cartas
- A virgindade perpétua de Maria Santíssima
- A Pamáquio contra João de Jerusalém
- O diálogo contra os luciferianos
- A vida de Malco, o monge cativo
- A vida de S. Hilarion
- A vida de Paulo o Primeiro Eremita
- Contra Joviniano
- Contra Vigilâncio
- Contra os Pelagianos
- Prefácios
- De Viris Illustribus (Homens Ilustres)
- Desculpas para si mesmo contra os Livros de Rufino

João Damasceno (Santo e Doutor)
- Exposição da Fé

João Cassiano (c. 360-c. 435)
- Institutos
- Conferências
- Sobre a Encarnação do Senhor (Contra Nestório)

João Crisóstomo (Santo e Doutor)
- Homilias sobre o Evangelho de São Mateus
- Homilias sobre Atos
- Homilias sobre Romanos
- Homilias sobre o Primeiro Coríntios
- Homilias sobre o Segundo Coríntios
- Homilias sobre Efésios
- Homilias sobre Filipenses
- Homilias sobre Colossenses
- Homilias sobre Primeira Tessalonicenses
- Homilias em Segunda Tessalonicenses
- Homilias em Primeira Timóteo
- Homilias em Segunda Timóteo
- Homilias em Tito
- Homilias em Filemom
- Comentário sobre Gálatas
- Homilias sobre o Evangelho de João
- Homilias sobre a Epístola aos Hebreus
- Homilias sobre as estátuas
- Ninguém pode prejudicar o homem que não se machuca
- Duas cartas a Teodoro após sua queda
- Carta a uma jovem viúva
- Homilia sobre Santo Inácio
- Homilia sobre Santa Babilônia
- Homilia sobre a 'Humildade da Mente'
- Instruções aos Catecúmenos
- Três Homilias sobre o Poder de Satanás
- Homilia sobre a Passagem 'Pai, se for possível...'
- Homilia sobre o paralítico abaixado pelo telhado
- Homilia sobre a passagem 'Se o seu inimigo tem fome, dê-lhe de comer'
- Homilia contra a publicação dos erros dos irmãos
- Primeira homilia sobre Eutrópio
- Segunda homilia sobre Eutrópio (após cativeiro)
- Quatro cartas a Olímpia
- Carta a alguns padres de Antioquia
- Correspondência com o Papa Inocêncio I
- Sobre o sacerdócio

Julius Africanus
- Escritos Existentes

Justino Mártir (Santo)
- Primeiro pedido de desculpas
- Segundo pedido de desculpas
- Diálogo com Trifo
- Discurso Hortatório aos Gregos
- Sobre o Único Governo de Deus
- Fragmentos da Obra Perdida na Ressurreição
- Vários Fragmentos de Escritos Perdidos
- Martírio de Justino, Caritão, e outros mártires romanos
- Discurso aos gregos

Lactâncio
- Os Institutos Divinos
- O Epítome dos Institutos Divinos
- Sobre a Ira de Deus
- Sobre a Obra de Deus
- Da Maneira em que Morreram os Perseguidores
- Fragmentos de Lactantius
- A Fênix
- Um Poema sobre a Paixão do Senhor

Leão Magno - papa (c. 395-461) (Santo e Doutor)
- Sermões
- Cartas

Malquião
- Epístola

Mar Jacob (452-521)
- Cântico sobre Edessa
- Homilia sobre Habib, o Mártir
- Homilia sobre Guria e Shamuna

Matetes
- Epístola a Diogneto

Metódio
- O Banquete das Dez Virgens
- Sobre o Livre Arbítrio
- Do Discurso da Ressurreição
- Fragmentos
- Oração Sobre Simeão e Ana
- Oração sobre os Salmos
- Três Fragmentos da Homilia na Cruz e Paixão de Cristo

Minúcio Felix
- Octavius

Moisés de Chorene (c. 400-c. 490)
- História da Armênia

Novaciano
- Tratado sobre a Trindade
- Sobre as carnes judaicas

Orígenes
- De Principiis
- Africanus a Orígenes
- Orígenes a Africanus
- Orígenes a Gregório
- Contra Celsus
- Carta de Orígenes a Gregório
- Comentário sobre o Evangelho de João
- Comentário sobre o Evangelho de Mateus

Panfílio (Santo)
- Exposição sobre os Atos dos Apóstolos

Papias (Santo)
- Fragmentos

Pedro de Alexandria (Santo)
- Os Atos Genuínos
- A Epístola Canônica
- Fragmentos

Policarpo (Santo)
- Epístola aos Filipenses
- O Martírio de Policarpo

Rufino
- Apologia
- Comentário sobre o Credo dos Apóstolos
- Prefácios e Outras Obras

Sócrates Escolástico (c. 379-c. 450)
- História Eclesiástica

Sozomen (c. 375-c. 447)
- História eclesiástica

Súlpito Severo (c. 363-c. 420)
- Sobre a vida de São Martinho
- Cartas - Genuínas e duvidosas
- Diálogos
- História sagrada

Taciano
- Discurso aos Gregos
- Fragmentos
- O Diatessaron

Tertuliano
- As desculpas
- Sobre a idolatria
- De Spectaculis (Os shows)
- De Corona (O chapelim)
- A escápula
- Ad Nationes
- Uma resposta aos judeus
- O testemunho da alma
- Um tratado sobre a alma
- A prescrição contra os hereges
- Contra Marcion
- Contra Hermógenes
- Contra os Valentinianos
- Sobre a Carne de Cristo
- Sobre a Ressurreição da Carne
- Contra Práxeas
- Escorpião
- Apêndice (Contra todas as heresias)
- Sobre o arrependimento
- Sobre o batismo
- Sobre a oração
- Ad Martyras
- O martírio da Perpétua e da Felicidade (às vezes atribuído a Tertuliano)
- Da paciência
- Sobre o Pálio
- Sobre o vestuário feminino
- Sobre o véu de virgens
- Para Sua Esposa
- Sobre a Exortação à Castidade
- Sobre Monogamia
- Sobre Modéstia
- Sobre Jejum
- De Fuga em Perseguição

Teodoreto
- Contra-declarações aos 12 anátemas de Cirilo contra Nestório
- História Eclesiástica
- Diálogos (“Eranistes” ou “Polimorfo”)
- Demonstrações por Silogismo
- Cartas

Teódoto
- Excertos

Teófilo
- Theophilus para Autolycus

Venâncio
- Poema na Páscoa

Vitorino (Santo)
- Na Criação do Mundo
- Comentário sobre o Apocalipse do Bem-aventurado João

Vicente de Lérins (Santo)
- Comonitório: Regras para Conhecer a Fé Verdadeira

domingo, 26 de setembro de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'A lei do Senhor Deus é perfeita, alegria ao coração' (Sl 18)

 26/09/2021 - Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum

44. A SANTIFICAÇÃO EXIGE O ÓDIO AO PECADO 


Naqueles dias, nos caminhos da Galileia, os discípulos de Jesus ainda se tomavam como os únicos arautos da Verdade e discutiam à qual deles esta primazia haveria de se elevar mais alto, pois viviam ainda reféns de uma perspectiva puramente humana do reino prometido por Jesus. Atento às murmurações deles, o Senhor vai condenar o pecado do orgulho ao lhes assegurar que o maior de todos é o que serve a todos (Mc 9, 35) para, em seguida, os exortar que, no caminho da santificação, o amor a Deus implica um ódio extremado ao pecado, a todo tipo de pecado.

Esta firme exortação tem origem na pergunta de João: 'Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue' (Mc 9, 38), cuja ação é imediatamente contestada por Jesus, pois não havia sido movida pela caridade, mas por meros ciúmes da concessão de dons sobrenaturais a quem não era do restrito círculo fechado dos discípulos do Senhor: 'Quem não é contra nós é a nosso favor' (Mc 9, 40). Não deve haver limites ou impedimentos para os mistérios da Graça, quando o bem é feito compartilhado com o autor da Vida: 'quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa' (Mc 9, 41).

E, de forma oposta, Jesus condena aquele que, por malícia, se conspurca na obstinação do pecado, consumindo a graça na lama do escândalo, expondo-se e expondo a muitos no caminho da ruína espiritual de suas almas, no caminho do inferno. Quanto a este, a admoestação de Jesus é severa: 'melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço' (Mc 9, 42). A gravidade do pecado do escândalo - por ações, por exemplos, por palavras - está em que, muito além de provocar a perda da inocência alheia ou propagar blasfêmias, é que, ao conduzir à perda das almas, é um pecado que simula, em sua essência, a ação do próprio demônio.

Jesus exorta, então, se cumprir, em tudo e para todos, a santificação em plenitude, traduzida na observância radical aos seus Mandamentos. Isso implica não ceder ao pecado sob concessão alguma e não afrontar a graça divina por nenhum propósito humano. A verdadeira santificação exige, portanto, vigilância extrema, oração constante e fuga da ocasião de pecado por todos os meios disponíveis, pelos mais extremos possíveis: 'Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga' (Mc 9, 43.45.47-48).

sábado, 25 de setembro de 2021

A MISSA É O SOL DA IGREJA

A Missa é o sol da Igreja. Se na Missa, você experimentar algum atribuição inespecífica dos sentidos, tem algo muito errado. Você vai a Missa não para usufruir de experiências humanas, mas para compartilhar o que é absolutamente divino... tudo deve inclinar na Missa a alma para o sobrenatural, para o invisível... Silêncio, silêncio absoluto, recolhimento interior, orações de joelhos... 

Tudo deve refletir a presença de Deus no seu íntimo, no seu coração, na sua alma... quem está presente, o enlevo de músicas de refrão adocicado, as imagens do templo, tudo é inócuo diante o Calvário exposto... nem mesmo o sacerdote é importante, o importante é ele estar por inteiro in Persona Christi... a Missa é a mais bela oração que a criatura pode oferecer a Deus e uma fonte inesgotável de graças para a salvação das almas...

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

NOVENA PELAS ALMAS DO PURGATÓRIO

Novena pelas Almas do Purgatório, escrita por Santo Afonso Maria de Ligório, que deve ser rezada em nove dias consecutivos, na seguinte sequência:

1. Ato de Contrição 

2. Oração Inicial

3. Orações do Dia (oração específica para cada dia da Novena)

4. Orações Finais

5. Oração da Bem Aventurança (a ser rezada no final da Novena)


1. Ato de Contrição

Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, Criador e Redentor meu, em quem firmemente creio e espero e a Quem amo mais que a mim mesmo, mais do que todas as coisas, pesa-me, Senhor, de todo o meu coração por vos ter ofendido, por serdes Vós quem sois, tão bom, santo, amável e adorável; pesa-me também, porque com os meus pecados tenho merecido as penas do Purgatório e, quem sabe, se não também os tormentos eternos do Inferno. Proponho, ajudado pela Vossa graça, nunca mais pecar, fugir de todas as ocasiões de ofender-Vos, confessar-me, corrigir e emendar os meus erros e perseverar até à morte na Vossa amizade. Peço-vos, meu Deus, esta graça, pelo amor que tendes às benditas almas do Purgatório, pelos méritos da Vossa paixão e pelas dores da Vossa aflitíssima Mãe. Amém.

2. Oração Inicial

Ó Pai Eterno, amoroso e misericordioso, que impelido pela Vossa infinita misericórdia, tanto amastes o mundo, a ponto de lhe dardes o vosso Filho Unigênito, para que aqueles que nEle crerem não pereçam, mas vivam eternamente, permitireis acaso, ó Senhor, que sofram ainda por muito tempo no Purgatório essas almas queridas, filhas Vossas e esposas de Jesus Cristo, que as comprou com o preço infinito do Seu Sangue? 

Tende piedade dessas aflitas prisioneiras e livrai-as das suas penas e tormentos. Tende também compaixão da minha pobre alma, livrando-a do abismo do pecado. E se a Vossa justiça, não satisfeita ainda, exige maior reparação pelas faltas que cometeram, ofereço-vos os atos de virtudes que praticar durante esta novena. Nada, ou muito pouco, valem todos eles, é verdade; mas eu vo-los ofereço unidos aos merecimentos de Jesus Cristo, às dores de Sua Mãe Santíssima e às virtudes heroicas de todas as almas justas que até hoje têm vivido no mundo. Compadecei-vos dos vivos e dos defuntos e concedei-nos a todos a graça de cantarmos um dia no Céu os triunfos da Vossa misericórdia. Amém.

3. Orações do Dia da Novena

Primeiro Dia

São muitas as penas que sofrem as benditas almas do Purgatório; mas a maior de todas é o pensamento de que foram elas próprias a causa dos seus sofrimentos pelos pecados que cometeram em vida. Ó Jesus, Salvador meu! Eu, que tantas vezes tenho merecido o Inferno, que pena não experimentaria agora, se me visse condenado, ao pensar que eu próprio fora a causa da minha condenação? Dou-Vos infinitas graças pela paciência que tendes tido em me suportar. 

Amo-vos, meu Deus, sobre todas as coisas, porque sois a Bondade Infinita; arrependo-me de todo o meu coração de vos ter ofendido e antes quero morrer, do que tornar a ofender-vos. Concedei-me a graça da perseverança; tende piedade de mim e das benditas almas que sofrem no ardente fogo do Purgatório. E Vós, Maria, Mãe de Deus, socorrei-as com as vossas poderosas súplicas. Amém.

Rezar 5 Pai-Nossos e 5 Ave-Marias pelas almas que mais sofrem

Propósito: Tomar a generosa resolução de rezar todos os dias da novena em sufrágio das benditas almas do Purgatório.

Segundo Dia

A pena que em segundo lugar atormenta excessivamente as benditas almas é a recordação do tempo que perderam durante a sua vida, durante o qual teriam podido adquirir maiores méritos para o Céu; e a lembrança de que esta perda é para sempre irreparável pois que com a vida termina o tempo de merecer. 

Infeliz de mim, Senhor! Que, por espaço de tantos anos, tenho vivido sobre a terra, durante os quais só tenho merecido os castigos do Inferno. Dou-vos infinitas graças por me concederdes ainda tempo para remediar o mal que tenho feito. Arrependo-me, ó meu Deus, de vos ter ofendido, a Vós que sois infinitamente bom. Auxiliai-me para que, daqui até o fim da minha vida, empregue todos os momentos unicamente em servir-vos e amar-vos. Tende piedade de mim e dessas almas benditas que sofrem no Purgatório. E Vós, Maria, Mãe de Deus, socorrei-as com as vossas poderosas súplicas. Amém.

Rezar 5 Pai-Nossos e 5 Ave-Marias pelas almas que mais sofrem

Propósito: Assistir pela manhã, e sempre que se possa, ao Santo Sacrifício da Missa, em sufrágio das almas do Purgatório.

Terceiro Dia

Outra pena das maiores que afligem as benditas almas do Purgatório é a consideração dos pecados que estão expiados. Na vida presente não se conhece bem a fealdade dos pecados, mas compreende-se claramente na outra, e esta é uma das mais vivas dores que sofrem as almas no Purgatório.

Ó meu Deus! Amo-vos sobre todas as coisas porque sois a Bondade Infinita; pesa-me de todo o meu coração de vos ter ofendido; antes quero morrer que tornar a ofender-vos; concedei-me a graça da santa perseverança; tende piedade de mim e das almas santas que estão ainda a purificar-se naquele fogo abrasador. E Vós, Maria, Mãe de Deus, socorrei-as com vossas poderosas súplicas, e rogai também por nós, que estamos ainda em perigo de nos condenarmos. Amém.

Rezar 5 Pai-Nossos e 5 Ave-Marias pelas almas que mais sofrem

Propósito: Pela manhã procuraremos sofrer com paciência os trabalhos que Deus nos enviar e as ofensas do nosso próximo, em sufrágio das benditas almas.

Quarto Dia

Uma outra pena que muito aflige as almas do Purgatório, esposas de Jesus Cristo, é o pensamento de que, durante a vida, desgostaram com suas culpas aquele Deus a quem tanto amam. Têm-se visto penitentes morrer de dor, ao meditar que ofenderam um Deus tão bom. Muito melhor que nós, conhecem as almas do Purgatório quão amável é Deus e, por conseguinte, amam-No com todas as forças do seu coração e, ao meditar que o desgostaram nesta vida, experimentam uma dor superior a qualquer outra.

Ó meu Deus! Porque sois a infinita bondade, arrependo-me de todo o meu coração de vos ter ofendido, antes quero morrer do que tornar a ofender-vos. Concedei-me a graça da santa perseverança; tende piedade de mim e daquelas santas almas que sofrem ainda no fogo do Purgatório e que vos amam de todo o seu coração. E Vós, Maria, Mãe de Deus, socorrei-as com vossas poderosas súplicas. Amém.

Rezar 5 Pai-Nossos e 5 Ave-Marias pelas almas que mais sofrem

Propósito: Formemos o propósito de beijar pela manhã três vezes a terra, em sufrágio das benditas almas e em satisfação das palavras altivas que dissermos; e, se quisermos humilhar-nos mais, poderemos fazer com a língua uma pequena cruz no chão.

Quinto Dia

Outra pena que tortura horrivelmente as benditas almas do Purgatório é o terem de sofrer os ardores de um fogo abrasador sem saber quando terão fim os seus tormentos. É verdade que têm certeza de ver-se um dia livres deles; mas é um tormento gravíssimo para elas a incerteza do tempo em que hão de acabar.

Ó Senhor! Que grande desgraça seria a minha, se me tivésseis precipitado no Inferno, nesse lugar de tormentos de onde com certeza nunca mais tornaria a sair! Amo-vos sobre todas as coisas, Bondade Infinita, e arrependo-me de vos ter ofendido; antes quero morrer que tornar a ofender-vos. Concedei-me a graça por intermédio das santas almas que estão ainda a acabar de purificar-se no fogo do Purgatório. E Vós, Maria, Mãe de Deus, socorrei-as com vossas poderosas súplicas. Amém.

Rezar 5 Pai-Nossos e 5 Ave-Marias pelas almas que mais sofrem

Propósito: Não comer nada fora das horas costumeiras ou fazer alguma mortificação corporal em sufrágio das almas do Purgatório.

Sexto Dia

Quanto maior é a consolação que as benditas almas do Purgatório sentem, proporcionada pela recordação da Paixão de Jesus Cristo, por cujos méritos se salvaram, e do Santíssimo Sacramento do Altar, que tantas graças lhes dispensou e dispensa ainda, por meio de missas e comunhões por elas aplicadas, tanto mais as atormenta o pensamento de não terem correspondido durante a vida a estes dois grandes benefícios do amor de Jesus Cristo.

Ó meu Senhor Jesus Cristo! Vós morrestes também por mim e tendes vos dado muitas vezes a mim na Sagrada Comunhão; e eu sempre vos tenho correspondido com negra ingratidão; mas agora amo-vos sobre todas as coisas, meu sumo Bem. Arrependo-me de todo o coração de vos ter ofendido e prefiro antes a morte que tornar a ofender-vos. Concedei-me a graça da santa perseverança e tende piedade de mim e das almas que ainda sofrem no Purgatório. E Vós, Maria, Mãe de Deus, socorrei-as com vossas poderosas súplicas. Amém.

Rezar 5 Pai-Nossos e 5 Ave-Marias pelas almas que mais sofrem

Propósito: Aplicar em sufrágio das almas do Purgatório uma indulgência parcial que se pode lucrar por cada vez que se disser devotamente: 'Jesus, Maria e José, eu vos dou meu coração e minha alma'.

Sétimo Dia

Aumenta também o sofrimento das benditas almas do Purgatório a lembrança dos benefícios particulares que receberam de Deus, como o ter nascido em país católico, ter recebido o batismo e haver Deus esperado que fizessem penitência de seus pecados para conseguirem o perdão dos mesmos; porque todos estes favores lhes fazem conhecer agora melhor a ingratidão com que corresponderam a Deus.

Ó meu Deus! Quem tem sido, mais ingrato do que eu? Vós tendes me esperado com tanta paciência, tendes-me tantas vezes e com tanto amor perdoado os meus crimes, e eu, depois de tantas promessas, tenho voltado a ofender-vos novamente. Oh! Não me precipiteis no Inferno. Ó Bondade Infinita! Arrependo-me sinceramente de vos ter ofendido e antes quero morrer, do que tornar a ofender-vos. Concedei-me a graça da santa perseverança e compadecei-vos de mim e das almas que gemem ainda no fogo do Purgatório. E Vós, Maria, Mãe de Deus, socorrei-as com vossas poderosas súplicas. Amém.

Rezar 5 Pai-Nossos e 5 Ave-Marias pelas almas que mais sofrem

Propósito: Dar uma esmola em sufrágio das almas do Purgatório.

Oitavo Dia

Outra pena que muito tortura as benditas almas do Purgatório é o pensamento de que, durante a sua vida, Deus usou para com elas de muitas misericórdias especiais que não dispensou a muitas outras; e a lembrança também de que com os seus pecados o obrigaram muitas vezes a retirar-lhes a sua amizade e a condená-las ao Inferno, ainda que depois lhes tenha concedido o perdão e a graça da salvação.

Senhor, eu sou um desses ingratos que, depois de ter recebido de Vós tantas graças, tenho desprezado o vosso amor e vos obriguei a condenar-me ao Inferno. Mas agora, ó Bondade Infinita, prometo que vos amarei sempre sobre todas as coisas; arrependo-me, de toda a minha alma, de vos ter ofendido e antes quero morrer, que tornar a ofender-vos. Concedei-me a graça da santa perseverança, e tende piedade de mim e das almas do Purgatório. E Vós, Maria, Mãe de Deus, socorrei-as com vossas poderosas súplicas. Amém.

Rezar 5 Pai-Nossos e 5 Ave-Marias pelas almas que mais sofrem

Propósito: O maior sufrágio que de nós reclama as benditas almas, e o mais importante para nós e agradável a Deus, é fazermos por elas uma boa confissão, não calando pecado algum, e com verdadeira dor e arrependimento.

Nono Dia

São grandes todas as penas que sofrem as almas no Purgatório; o fogo, o tédio, a escuridão, a incerteza do tempo em que hão de ver-se livres de todos estes tormentos; mas a maior de todas é o verem-se separadas do seu divino Esposo e privadas dos prazeres da sua companhia.

Ó meu Deus! Como tenho eu podido viver tantos anos longe de Vós e privado de vossa graça? Ó Bondade Infinita, amo-vos sobre todas as coisas; arrependo-me, de todo o meu coração, de vos ter ofendido e antes quero morrer do que tornar a ofender-vos. Concedei-me a graça da santa perseverança, e não permitais que torne a cair outra vez no vosso desagrado. Peço-vos que tenhais compaixão das santas almas do Purgatório, as alivieis nos seus tormentos e abrevieis o tempo do seu desterro, admitindo-as o mais depressa possível à graça de vos amarem para sempre no Céu. E Vós, Maria, Mãe de Deus, socorrei-as com vossas poderosas súplicas, e rogai também por nós, que estamos ainda em perigo de nos condenarmos. Amém.

Rezar 5 Pai-Nossos e 5 Ave-Marias pelas almas que mais sofrem

Propósito: Tomemos a firme resolução de oferecer todas as nossas obras satisfatórias em sufrágio das  almas mais necessitadas do Purgatório.

4. Orações Finais

Recomendamos agora a Jesus Cristo e à sua Santíssima Mãe todas as almas do Purgatório e, em especial, as dos nossos parentes, benfeitores, amigos e inimigos e, sobretudo, as daqueles por quem temos obrigação de pedir.

Súplicas a Nosso Senhor Jesus Cristo para que, pelas dores da sua Paixão, se compadeça das almas do Purgatório:

Ó dulcíssimo Jesus, pelo suor de sangue que derramastes no Horto do Getsêmani, tende piedade das almas do Purgatório.
Ó dulcíssimo Jesus, pelas dores da Vossa crudelíssima flagelação, tende piedade das almas do Purgatório.
Ó dulcíssimo Jesus, pelas dores da Vossa coroação de espinhos, tende piedade das almas do Purgatório.
Ó dulcíssimo Jesus, pelas dores que sofrestes levando a Cruz, tende piedade das almas do Purgatório.
Ó dulcíssimo Jesus, pela imensa dor que sofrestes ao separar-se a Vossa alma do Vosso sacratíssimo Corpo, tende piedade das almas do Purgatório.

Recomendemo-nos a todas as almas do Purgatório, dizendo:

Ó almas benditas, já que pedimos a Deus por vós, que tão amadas sois do Senhor, e tendes a certeza de nunca mais o perder, pedi-lhe por nós também, que estamos ainda em perigo de condenar-nos e perder a Deus para sempre. Amém.

V. Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno.
R. E a luz perpétua os ilumine.
V. Descansem em paz.
R. Amém.
V. Senhor, ouvi a minha súplica.
R. E eleve-se até Vós o meu clamor.

Ó Deus, Criador e Redentor de todos os homens, concedei às almas de vossos servos e servas (e, em especial, à alma de…) a remissão de todos os seus pecados, a fim de que, por nossas humildes súplicas, obtenham da Vossa misericórdia o perdão que sempre desejaram. Vós, que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém.

5. Oração da Bem Aventurança

(oração pelas benditas almas, livres do Purgatório pelos nossos sufrágios, a ser rezada no último dia da novena)

Ó felizes e bem-aventuradas almas, que tivestes a graça de entrar na pátria celestial! Felicitamo-vos com toda a efusão do nosso coração e em nome de toda a Igreja vos damos mil felicitações. Alegramo-nos convosco; unimos nossa alegria à dos santos e bem-aventurados; juntamos nossos louvores aos que vós rendeis ao Criador por tão imenso favor. Sim, almas ditosas, regozijai-vos.

Já não há para vós tristezas nem angústias; acabaram-se já os perigos e as tentações. Agora tendes a paz, a felicidade, a alegria, o gozo, a consolação e o eterno descanso dos bem-aventurados. Que glória para vós se com os nossos sufrágios antecipamos a vossa eterna felicidade! Triunfai, pois, reinai e deletai-vos do Céu, mas não vos esqueçais de nós, que ainda combatemos sobre a terra; olhai-nos com compaixão, porque estamos rodeados de numerosos e terríveis inimigos. Já que sois tão poderosas perante Deus, rogai pelos vossos devotos, para que sejamos fiéis e constantes no serviço de Deus e possamos também louvá-lo e bendizê-lo um dia convosco eternamente na glória celeste. Amém.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

SOBRE O TEMOR DE DEUS

'Feliz és tu se temes o Senhor e trilhas os seus caminhos' (Sl 127,1). Todas as vezes que na Escritura se fala do temor do Senhor, nunca se fala isoladamente, como se bastasse para a perfeição da nossa fé; mas vem sempre acompanhado de muitas outras virtudes que nos ajudam a compreender sua natureza e perfeição. Assim aprendemos desta palavra como disse Salomão no livro dos Provérbios: 'Se suplicares a inteligência e pedires em voz alta a prudência; se andares à sua procura como ao dinheiro e se te lançares no seu encalço como a um tesouro, então compreenderás o temor do Senhor' (Pr 2,3-5).

Vemos assim quantos degraus são necessários subir para chegar ao temor do Senhor. Em primeiro lugar, devemos suplicar a inteligência, pedir a prudência, procurá-la como ao dinheiro e nos lançarmos ao seu encalço como a um tesouro. Então chegaremos a compreender o temor do Senhor. Porque o temor, na opinião comum dos homens, tem outro sentido. É a perturbação que experimenta a fraqueza humana quando receia sofrer o que não quer que lhe aconteça. Este gênero de temor manifesta-se em nós pelo remorso do pecado, pela autoridade do mais poderoso ou a violência do mais forte, por alguma doença, pelo encontro com um animal feroz e pela ameaça de qualquer mal. Esse temor, por conseguinte, não precisa ser ensinado, porque deriva espontaneamente de nossa fraqueza natural. Não aprendemos o que se deve temer, mas são as próprias coisas temíveis que nos incutem o terror.

Pelo contrário, sobre o temor de Deus, assim está escrito: 'Meus filhos, vinde agora e escutai-me: vou ensinar-vos o temor do Senhor Deus' (Sl 33,12). Portanto, se o temor do Senhor é ensinado, deve-se aprender. Não nasce do nosso receio natural, mas do cumprimento dos mandamentos, das obras de uma vida pura e do conhecimento da verdade.

Para nós, todo o temor do Senhor está contido no amor, e a caridade perfeita expulsa o temor. O nosso amor a Deus leva-nos a seguir os seus conselhos, a cumprir os seus mandamentos e a confiar em suas promessas. Ouçamos o que diz a Escritura: 'E agora, Israel, o que é que o Senhor teu Deus te pede? Apenas que o temas e andes em seus caminhos; que ames e guardes os mandamentos do Senhor teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma, para que sejas feliz' (Dt 10,12-13). Ora, os caminhos do Senhor são muitos, embora ele próprio seja o Caminho. Pois, ele chama-se a si mesmo caminho, e mostra a razão porque fala assim: 'Ninguém vai ao Pai senão por mim' (Jo 14,6).

Devemos, portanto, examinar e avaliar muitos caminhos, para encontrarmos, por entre os ensinamentos de muitos, o único caminho certo, o único que nos conduz à vida eterna. Há caminhos na Lei, caminhos nos profetas, caminhos nos evangelhos e nos apóstolos, caminhos nas diversas obras dos mestres. Felizes os que andam por eles, movidos pelo temor do Senhor.

(Excertos da obra 'Tratados sobre os Salmos', de Santo Hilário)

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A VIDA OCULTA EM DEUS: 'LEVANTA-TE, MINHA AMADA...'


'Levanta-te, minha amada; vem, formosa minha. Eis que o inverno passou: cessaram e desapareceram as chuvas. Apareceram as flores na nossa terra, voltou o tempo das canções. Em nossas terras já se ouve a voz da rola' 
(Cântico dos Cânticos 2, 10-12)

O inverno é a estação das trevas e do frio. As noites são longas, os dias são desbotados. Não há folhas, nem flores, nem frutos. Os pássaros ficam em silêncio. Tudo está letárgico, tudo parece morto. Assim também a alma interior padece o seu inverno. Ela conheceu as trevas do espírito, a letargia do coração, aquelas horas em que tudo estava frio, quando tudo nela parecia estar morto. Não havia mais luz, nem calor, nem vida. Deus se escondia. A alma estava sozinha em um deserto sem caminhos, açoitada por todos os ventos, sacudida por todas as tempestades. Era a hora dos misteriosos abandonos, da agonia e do calvário. Mas era preciso ser assim para desfrutar da glória.

Eis que o inverno acabou para sempre! E sois Vós, ó meu Deus, que se digneis anunciá-lo à alma! Vossa palavra não pode enganar, pois sois a própria Verdade. Por outro lado, a alma tem ciência bastante para saber o que isso significa. Podem sobrevir ainda alguns retornos de escuridão e de frio porque a terra não é o céu, mas esses momentos de provação serão poucos e não permanecerão. O inverno acabou. Graças a Vós, ó meu Deus! Que as almas tenham que passar por esta dura jornada é uma necessidade que se impõe à Vossa sabedoria, ainda que possa machucar o Vosso coração. Ficais algo impaciente para superar de vez esse inverno rigoroso. Assim que possível, assim o fazeis. E, uma vez feito, podeis anunciar com alegria à Vossa alma que os tempos de provação já passaram e que os belos dias não mais tardarão.

Entre o inverno e a primavera, permeia a estação chuvosa. Faz menos frio; está menos escuro. Os dias se alongam e, de vez em quando, brilham alguns raios de sol. Mas, geralmente, cai uma chuva embaçada, monótona e persistente. Quase não se pode sair. O horizonte está nublado, baixo, quase ao alcance da mão. No contexto espiritual, a alma interior conhece também uma estação muito semelhante. Em seu espírito há menos escuridão; em seu coração, menos frio. De vez em quando, parece que as coisas vão mudar para melhor. Mas, na maioria das vezes, um véu cinza a envolve. Não se vê muitas coisas à frente. O que haverá por trás dessa cortina sem desenhos e sem cores? Pode-se inferir, mas sem certezas. A espera é longa, monótona, um pouco cansativa para a imaginação. O coração permanece fiel e até ainda mais. Mas a alma demora a se livrar dessa espécie de prisão. Não tardeis, ó meu Jesus!

E Jesus vem. E então anuncia à alma que a estação chuvosa já 'passou', que passou definitivamente. E apresenta imediatamente a prova: 'as flores já brotaram da terra'. A alma, com efeito, não é mais aquela terra endurecida pelo frio ou encharcada pelas chuvas; mais parece o campo na primavera. Está coberta de flores. A campânula, valorosa e cheia de esperança, vê a violeta humilde, tímida e perfumada brotar ao seu lado. Impera o pensamento contemplativo, e o gracioso cravo pende a sua flor, um tanto pesada, em direção ao sol, como uma imagem da alma, cheia de vida interior e pronta a vicejar. Floresce então o puríssimo lírio e, por fim, a rosa primaveril da caridade. As flores das virtudes são exibidas na alma em todos os sentidos, formando em torno dela uma coroa de ornamento incomparável. Eis um dos grandes encantos deste mundo: a  primavera de uma alma interior é algo deslumbrante.

Nesse momento da vida espiritual, os olhos da alma se abrem para o mundo. Vê a terra incensada de almas em flor. O que ela agora é, as outras também o são. O que da obra divina se capta em si mesmo, contempla-se com alegria em outras almas. Ela está maravilhada, extasiada por um espetáculo tão belo. Tudo o mais desaparece aos seus olhos e ela não vê senão isso. Então, à medida que as virtudes se desenvolvem nela, seus olhos se abrem ainda mais e seu olhar se torna mais penetrante. Observa muito melhor a variedade de formas, a riqueza das nuances e a harmonia das cores. Desenvolveu-se nela como que um toque misterioso. Basta uma pequena coisa para adivinhar onde está a obra de Deus nesta ou naquela alma. Também lhe parece que está dotada de um novo sentido para captar os aromas espirituais, que são tão variados quanto as virtudes e como as almas. Para ela, enfim, existem flores do céu na terra. 

Quando a alma sentia frio - quando a chuva nublada e triste da provação a envolvia, ela não sabia senão gemer dolorosamente ou ficar em silêncio; mas agora tudo mudou. Deus, o seu verdadeiro sol, a ilumina, a aquece, a encanta. Não é hora de expressar bem alto a sua felicidade, e de cantar? Sim, de fato, 'chegou a hora do cântico'. E agora a alma interior canta. A canção de amor da eternidade começa aqui nesta terra. Esta é uma melodia misteriosa. O grau de harmonia de sua vontade com a vontade de Deus é sua tônica. Quanto mais perfeita a união, mais a entonação aumenta. Bem aventurada a alma cuja ação tende cada vez mais à plena realização da vontade divina! A sua voz eleva-se às alturas do céu e esta última nota é a que agrada aos ouvidos de Deus. Com ela a melodia termina nesta vida, mas para recomeçar além e para sempre.

Para incentivar a alma interior a segui-lo de vez, o Divino Esposo faz notar que já se pode ouvir o arrulhar da rolinha. Ela não teria deixado o seu refúgio de inverno se a primavera não houvesse chegado. A alma e a pequena ave obedecem à mesma lei. O canto da rolinha tem algo doce, gentil, constante, agradavelmente monótono. Dir-se-ia ser a própria voz de uma afeição autoconfiante que, para ser querida, basta repetir-se sem pulsos extremados, quase num murmúrio, mas sem interrupções. E, no mais íntimo da alma interior, existe também uma voz que canta assim, que...

Canta docemente, quase murmurando, uma melodia muito singela,
que se contenta com algumas poucas notas em intervalos justos:
'Ó Amor que eu amo! Meu Deus, meu Tesouro, meu Tudo, meu Amor que amo!'

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte II -  A Ação de Deus; tradução do autor do blog)

terça-feira, 21 de setembro de 2021

SOBRE PRATICAR O QUE SE ENSINA


Cuidai de vos reunirdes com mais frequência para oferecer a Deus a vossa eucaristia, as vossas ações de graças e os vossos louvores. Por vos reunirdes frequentemente, enfraqueceis as forças de Satanás e o seu poder pernicioso dissipa-se perante a unanimidade da vossa fé. Haverá algo melhor do que a paz, esta paz que desarma todos os nossos inimigos espirituais e carnais?

Não ignorareis nenhuma destas verdades, se tiverdes por Jesus Cristo uma fé e uma caridade perfeitas. Estas duas virtudes são o princípio e o fim da vida: a fé é o seu princípio, a caridade, a sua perfeição; a união das duas, o próprio Deus; todas as outras virtudes as seguem em procissão para conduzir o homem à perfeição. A profissão da fé é incompatível com o pecado e a caridade com o ódio. 'É pelos frutos que se conhece a árvore' (Mt 12,33); da mesma forma, é pelas suas obras que se reconhecem os que fazem profissão de pertencer a Cristo. Pois, neste momento, não basta fazermos profissão da nossa fé, mas temos efetivamente de a por em prática com perseverança, até ao fim.

Mais vale ser cristão sem o dizer, do que dizê-lo sem o ser. Fica muito bem ensinar, desde que se pratique o que se ensina. Nós temos, portanto, um só Mestre, aquele que 'disse, e tudo foi feito' (Sl 32,9). Mesmo as obras que realizou em silêncio são dignas do Pai. Aquele que compreende verdadeiramente a palavra de Jesus também é capaz de ouvir o seu silêncio; será então perfeito: agirá através de sua palavra e manifestar-se-á pelo seu silêncio. Nada escapa ao Senhor; até os nossos segredos estão na sua mão. Façamos portanto todas as nossas ações com o pensamento de que Ele habita em nós; desse modo, seremos seus templos, e Ele será o nosso Deus, que habitará em nós.

(Carta aos Efésios - Santo Inácio de Antioquia)

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

domingo, 19 de setembro de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'É o Senhor quem sustenta minha vida!' (Sl 53)

 19/09/2021 - Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum

43. O MAIOR DE TODOS É O QUE SERVE A TODOS 


'Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más' (Tg 3, 16). Com efeito, toda sorte de males advém da inveja e das paixões desregradas do homem, que se pauta em ter cada vez mais e invejar no outro tudo aquilo que ainda não se tem. Não é esse o caminho da graça, nem a via da santidade. Jesus, no evangelho deste domingo, vai mostrar aos seus discípulos que a primazia da alma é forjada no cadinho da humildade.

Após a extraordinária experiência no Monte Tabor, Jesus seguia agora, rodeado apenas pelos seus discípulos e, mais uma vez, lhes anunciara o mistério de sua Paixão e Ressurreição: 'O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará' (Mc 9, 31). Mas os apóstolos ainda estavam demasiado presos à ideia de um reino terreno, pautado por poderes mundanos. E era a ambição de um poder maior em relação aos demais o que minava os sentimentos daqueles homens nos caminhos da Galileia.

Jesus vai interpelá-los sobre as murmurações de uns e outros pelo caminho; e o silêncio da resposta é o testemunho de que haviam estado até então submissos aos grilhões da inveja e das rivalidades. Estremecidos os corações diante da Verdade, são todos acolhidos na misericórdia do Bom Pastor que lhes revela: 'Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!' (Mc 9, 35). A primazia da graça é o serviço do bem desprovido de honras e vaidades humanas: o maior de todos é o que serve a todos; a humildade é a virtude que eleva o homem às vias mais plenas da santidade!

E, para ilustrar a dimensão da verdadeira humildade, Jesus a insere no contexto sublime da inocência pura de uma criança: 'Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou' (Mc 9, 37). Possuir uma inocência infantil é possuir a própria sabedoria de Deus, pois nela não prospera as ambições, nem a inveja, nem as rivalidades, nem as desordens ou qualquer espécie de obras más e porque 'a sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura, depois pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento' (Tg 3, 17).

sábado, 18 de setembro de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (97/100)

 

97. HISTÓRIA DE SANTA CECÍLIA

Roma, a capital do famoso Império Romano, foi o berço de Santa Cecília, nascida em meados do século segundo da nobilíssima família dos 'Cecílios'. Educada desde a infância na fé cristã, de tal modo amava a Jesus Cristo que lhe consagrou todo o coração, fazendo voto de virgindade. Muito contra a sua vontade, foi dada por seus pais em casamento a Valeriano, jovem de raras qualidades, mas pagão.

Na mesma noite do casamento, Cecília disse a Valeriano:
➖ Eu sou cristã, como tu bem sabes; estou sob a custódia de um anjo que guarda a minha virgindade. Tem-no presente para que Deus não se ire contra ti.
Valeriano, comovido por essas palavras, não só a respeitou, mas acrescentou: 
➖ Se esse anjo se me deixar ver, acreditarei em Jesus Cristo.
➖ Para isso - disse Cecília - é indispensável que te instruas nas verdades da fé e recebas o batismo.

Naquela mesma noite, Valeriano procurou o papa São Urbano, que morava nas catacumbas. O Pontífice instruiu-o nos principais mistérios e batizou-o. Ao regressar para junto de Cecília, encontrou-a orando, e viu ao lado dela o anjo que brilhava com uma claridade celestial. Maravilhado, chamou seu irmão Tibúrcio e contou-lhe todo o ocorrido. Este, seguindo os mesmos passos de seu irmão, foi batizado pelo papa e, depois, viu também o anjo de Cecília.

Os dois neo-convertidos foram denunciados, como cristãos, ao governador Almaquio, que os condenou à morte, decretando que seriam decapitados e que, em seguida, seriam confiscados todos os bens que possuíam. Cumprida a primeira parte da sentença, mandou chamar Cecília e disse-lhe: 
➖ Sabe que tens de entregar-me todas as riquezas de Valeriano e de Tibúrcio.
Almaquio, como cristã que sou, já depositei essas riquezas no tesouro comum de Jesus Cristo.
➖ E onde está esse tesouro?
➖ Esse tesouro são os pobres, entre os quais distribuí todos os bens.

O governador, enfurecido, mandou decapitá-la. Por três vezes o algoz desfechou-lhe o golpe sem conseguir cortar-lhe a cabeça. Viveu ainda três dias, ao cabo dos quais recebeu no céu a dupla coroa da virgindade e do martírio. Imitemos Santa Cecília na devoção ao anjo da guarda. Festa litúrgica em 22 de novembro.

98. UM PAI BÁRBARO E UMA FILHA SANTA

Em meados do século III, nasceu em Nicomedia a futura Santa Bárbara. Seu pai era o senador Dióscoro, homem rico, soberbo e fanático adorador dos falsos deuses. Na escola teve a jovem Bárbara um mestre cristão que a instruiu nas verdades da fé. Quando o pai soube disso ficou furioso. Encerrou-a numa torre e ameaçou levá-la aos tribunais se, ao regressar de uma viagem que ia empreender, ela persistisse em aborrecer o paganismo.

Na parte baixa da torre, Dióscoro mandara preparar um quarto de banho, adornado com estátuas de ídolos, que recebia luz por duas janelas. Santa Bárbara, na ausência do pai, fez abrir uma terceira janela, para recordar o mistério da Santíssima Trindade. 'Assim como uma mesma luz' - dizia ela - 'entra por três janelas diversas, assim também em um só Deus há três Pessoas distintas'. Outras vezes punha-se a contemplar a piscina e exclamava: 'Água que brilhas ao resplendor da luz das três janelas, tu me fazes pensar no batismo, cuja água, vivificada pela Santíssima Trindade, apaga da alma o pecado original'.

Logo que regressou da viagem, perguntou Dióscoro à filha porque mandara abrir outra janela. A Santa aproveitou a ocasião para falar-lhe dos principais mistérios da fé e exortou-o a converter-se ao cristianismo O pai, enfurecido, entregou-a ao pretor Marciano, que a submeteu a cruéis suplícios. Suportou-os ela com tal resignação e coragem que despertou a compaixão do povo. Uma mulher, chamada Juliana, que acorrera por curiosidade, ao vê-la e ouvi-la, sentiu-se transformada por Deus e exclamou: 'Eu também quero adorar a Jesus Cristo'.

O juiz Marciano ordenou que Bárbara e Juliana fossem, imediatamente, decapitadas. Dióscoro, o pai desumano, quis executar pessoalmente a sentença. Quando regressava de cortar a cabeça de sua própria filha, estalou uma furiosa tormenta e um raio feriu-o de morte. Quase ao mesmo tempo outro raio matava o juiz Marciano. Estes castigos divinos puseram termo, em Nicomedia, à perseguição contra os cristãos. Santa Bárbara é padroeira da artilharia, porque os artilheiros têm por armas 'o trovão e o raio', isto é, a explosão e a granada. Festa litúrgica em 4 de dezembro.

99. DEMÔNIOS, ANJOS E UMA SANTA

Neste mundo constantemente inclinado à corrupção e ao abandono de Deus, cuida a Providência que haja sempre pessoas de vida celestial que, com suas virtudes e milagres, dão testemunho de Cristo e condenam a maldade. Santa Francisca Romana, nascida em Roma em 1384 foi, desde pequenina, de uma pureza instintiva e delicada que não suportava carícias nem do próprio pai. Aos doze anos de idade foi por seu pai dada em casamento a um nobilíssimo e piedoso cavalheiro, do qual teve três filhos: João Batista que chegou a boa idade, Evangelista que faleceu aos nove anos e que logo veio buscar sua irmãzinha Inês de cinco.

Desde que se casou, Francisca foi levada à mais alta contemplação e por isso perseguida pelo demônio. Para mais a purificar e a estimular permitiu Deus que o inimigo a atormentasse de mil modos: levantava-a pelos cabelos, batia-a contra a parede e prostrava-a de pancadas. Causou-lhe inúmeros outros sofrimentos, durando essa guerra toda a sua vida, até à última enfermidade. Mas Deus nunca a deixava só: os anjos continuamente a acompanhavam e a defendiam.

Seu filho Evangelista, um verdadeiro anjo, foi-lhe arrebatado aos nove anos. Uma vizinha enferma viu-o subir ao céu entre anjos. No ano seguinte, apareceu à mãe sob uma luz  radiante e acompanhado de um anjo ainda mais formoso do que ele.
➖ Mãe - ele lhe disse - estou no segundo coro da primeira hierarquia; meu companheiro, que agora vês, está ainda mais elevado. Deus o enviou para te guardar, acompanhar, consolar e guiar sempre. Agora venho buscar a minha irmãzinha para gozar comigo da incomparável felicidade do paraíso. Com efeito, pouco depois faleceu a pequena aos cinco anos de idade.

O anjo permaneceu ao lado de Francisca, sempre visível: parecia um menino de nove anos (como seu filho), cabelos louros e anelados caindo sobre os ombros, os braços e sobre o peito, uma túnica branca e uma pequena dalmática, às vezes branca e outras vezes vermelha ou azul. Despedia tanta luz que a santa podia com ela ler o Ofício.

Instruía-a, avisava-a e consolava-a; mas era também um anjo que a corrigia. Um dia deu-lhe uma bofetada ouvida pelos presentes, porque, em uma reunião, não cortara uma conversa vã e inconveniente. Pouco antes de sua morte, perguntou-lhe seu confessor que orações estava a murmurar :  'Acabo de rezar as Vésperas de Nossa Senhora'. E, em seguida, expirou, tendo 55 anos de idade.

100. UM SALTO MARAVILHOSO

Em 1856, às altas horas da noite, irrompeu um enorme incêndio em um dos maiores edifícios da cidade de Zams, na região do Tirol (Áustria). Com grande dificuldade, conseguiram os inquilinos escapar pelas escadas; mas ficaram desgraçadamente esquecidas, num dos andares mais altos, duas meninas, uma de oito e outra de doze anos.

Despertou-as o ruído das vigas de seu aposento ao quebrarem-se pelo fogo do andar inferior. Saltando imediatamente da cama, correram à porta para fugir pela escada, mas as chamas e o fumo que viram eram tão grandes, que mal puderam fechar de novo a porta. Quase desesperadas gemiam: 'Seremos queimadas vivas...'

Mas a maior teve uma ideia. Abriria a janela e saltaria para fora, tentando salvar a vida à custa de alguma fratura.
➖ Eu saltarei primeiro - disse à irmãzinha - e, se não me acontecer nada, saltarás também.
'Meu Santo Anjo da Guarda, amparai-me!' - disse -  e... saltou!
Chegada ao solo, antes mesmo de levantar-se, gritou:
➖ Joaninha, não me aconteceu nada, salta!...
'Santo Anjo' - repetiu Joaninha - e saltou sem ter sofrido o menor dano.
Os pais das meninas reconheceram neste fato uma proteção visível dos Santos Anjos e deram graças a Deus por um benefício tão insigne.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)


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