Mostrando postagens com marcador Arte Sacra. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Arte Sacra. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 11 de abril de 2025

GALERIA DE ARTE SACRA (XLI)

Apeles de Cós foi um renomado pintor da Grécia antiga, considerado geralmente como o maior pintor da antiguidade. Uma de suas pinturas mais famosas foi 'A Calúnia' que, como as suas demais obras, se perderam por completo, mas cujo tema e detalhes da composição original foram descritos e conservados. Vários pintores renascentistas italianos, ciosos destas descrições, buscaram repetir os seus temas, como esta obra 'A Calúnia' de Sandro Botticelli (1445 - 1510), datada de 1494/95.

A pintura é composta por dez figuras emblemáticas: um rei detentor do poder de juiz, um jovem réu impotente ao veredito e personificações diversas das virtudes e dos vícios que envolvem o julgamento dos homens. A Calúnia - a jovem de azul e branco portando uma tocha acesa - arrasta o jovem inocente pelos cabelos e a nudez dele (que, com as mãos unidas, clama aos Céus por justiça) é uma constatação da sua inocência do crime de calúnia que lhe é imputado (exposto pelo simbolismo do corpo arrastado pelo chão e puxado pelos cabelos). Duas jovens - a Fraude ou Malícia (posicionada atrás da Calúnia) e a Perfídia (trajada em vermelho e amarelo) amparam e sustentam a figura da Calúnia, conformando um núcleo central comum do objeto da difamação. Um passo à frente, como sinal da origem da iniquidade, encontra-se a Inveja, dissimulada no homem encapuçado e acusador.


O juiz iníquo e desonesto é retratado pela aceitação passiva da ousadia da Inveja que empunha o seu braço acusador até a fronte do próprio rei, turvando-lhe a visão. A sentença justa é ainda mais abortada pela ação conjunta da Suspeição (em primeiro plano) e da Estupidez (ou Ignorância) ao fundo, que se precipitam sobre o juiz em seu momento de veredito (mão estendida para a frente, mas subjacente à do acusador). O rei teria, então, grandes orelhas de burro, símbolos de sua tolice e submissão.


Ao fundo da cena, como símbolos ausentes do enquadramento final do processo, a Verdade (nua e crua) e o Arrependimento (simbolizado por uma velha encurvada em vestes negras e desgastadas) agora estão juntos, mas igualmente vencidos. Na abordagem de reconstituição de uma pintura grega antiga, várias estátuas e frisos do período foram introduzidos para compor o cenário de fundo da obra retratada.

Uma reinterpretação do mesmo tema é apresentada na figura abaixo, que consiste na reconstituição da 'Calúnia de Apeles" pelas mãos do pintor holandês Cornelis Cort (1533 - 1578).

terça-feira, 1 de abril de 2025

OS GRANDES TESOUROS DA MÚSICA SACRA (III)

O moteto (termo derivação do termo francês mot = palavra) constitui um gênero musical polifônico literário (textos diferentes para cada voz) de origem medieval (século XIII), compreendendo textos distintos (sagrados ou profanos, inclusive em diferentes línguas) que são cantados simultaneamente, numa mistura integrada de estilos e palavras. 

Anton Bruckner (1824 - 1896), compositor e organista austríaco, era um homem muito religioso e compôs inúmeras obras sacras. Ele escreveu um Te Deum, cinco conjunto de salmos, uma cantata festiva, um Magnificat, pelos menos sete Missas e cerca de quarenta motetos durante a sua vida, desde uma composição de Pange Lingua por volta de  1835 até o hino Vexilla Regis em 1892 e, entre eles, oito conjuntos de Tantum Ergo e três composições para Christus Factus Est e Ave Maria. Como exemplo, tem-se aqui uma das suas composições para Christus Factus Est.


Christus factus est pro nobis obediens usque ad mortem, mortem autem crucis. Propter quod et Deus exaltavit illum et dedit illi nomen, quod est super omne nomen.

Cristo tornou-se obediente por nós até a morte e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo nome.

quinta-feira, 13 de março de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (IV)

 

CRISTO DA HUMILDADE PERFEITA

Quando exposto ao jugo do orgulho e da vanglória, responda com a nudez da imolação e da pobreza. Diante às perseguições injustas, recline a cabeça. Face às zombarias, infâmias e falsas acusações, cruze os braços sobre o coração e receba com humilde acolhimento o que é oferecido com despeito. E quando confrontado com a pergunta: 'Até onde devo tolerar tamanha vergonha e tanta injustiça?', lembre-se de que a resposta é 'até o túmulo'. O ícone nos direciona e nos incentiva buscar pela humildade a perfeita Imitação de Cristo.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (III)

A imagem da Sagrada Família, composta pela presença da Virgem Maria, São José e o menino Jesus é bastante conhecida e venerada pelos cristãos.

Embora esta imagem tenha sido pintada por grandes mestres tanto do Ocidente quanto na iconografia ortodoxa e bizantina, este ícone é ainda motivo de polêmica e questionamento. Tal polêmica busca confrontar a representatividade desta imagem familiar, no sentido de que a iconologia ortodoxa não entende São José como o chefe de uma 'Sagrada Família' (o que, nessa interpretação equivocada,  implicaria diretamente em uma percepção enfraquecida da virgindade de Maria), mas apenas como o guardião providencial da Mãe de Deus e do seu Divino Filho. Neste contexto, o apequenamento de São José seria essencial para se compreender a dimensão maior da hierarquia divina da Sagrada Família. Tal visão distorcida confronta-se com a própria natureza e significado da iconografia cristã.


Com efeito, os ícones repreesentam imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Nossa Senhora e Mãe de Deus, dos Santos Anjos e dos Homens Santos e Veneráveis. Por meio desta representação por imagens, somos incitados a contemplá-los, a lembrarmo-nos deles como modelos, como objetos de nosso amor e louvor e veneração, e não a verdadeira adoração que, segundo a nossa fé, convém apenas à natureza divina, porque a honra dada à imagem vai direta ao seu modelo e aquele que venera um ícone venera a pessoa que se encontra nele representada. Nestes termos, tem-se como óbvio que tal polêmica, mais do que infantil e distorcida, é absurdamente ímpia no sentido de se buscar impor, como premissa, o apequenamento de São José (a ponto de não se aceitar a sua inserção na representação na família de Nazaré) para a elevação (mais do que conhecida) do papel da Mãe de Deus e do seu Divino Filho no plano da salvação e redenção da humanidade.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

OS GRANDES TESOUROS DA MÚSICA SACRA (II)


Ora, Pedro estava assentado fora, no pátio; e, aproximando-se dele uma criada, disse: 'Tu também estavas com Jesus, o galileu'. Mas ele negou diante de todos, dizendo: 'Não sei o que dizes'. E, saindo para o vestíbulo, outra criada o viu, e disse aos que ali estavam: 'Este também estava com Jesus, o Nazareno'. E ele negou outra vez com juramento: 'Não conheço tal homem'. E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: 'Também tu és um deles, pois a tua fala te denuncia'. Então começou ele a praguejar e a jurar, dizendo: 'Não conheço esse homem'. E imediatamente o galo cantou. E lembrou-se Pedro das palavras de Jesus, que lhe dissera: 'Antes que o galo cante, três vezes me negarás'. E, saindo dali, chorou amargamente (Mt 26, 69-75).


Erbarme dich, mein Gott, um meiner Zähren Willen! - 'Tem piedade de mim, meu Deus, veja minhas lágrimas!' é uma ária para contralto da segunda parte da 'Paixão Segundo São Mateus', a obra prima de Johann Sebastian Bach (1685-1750). Na ária, a solista pede perdão pela tríplice negação de Pedro e a música sustenta a comoção do seu amargo pranto. O lamento sublime fez com que a própria ária assumisse um patamar independente da 'Paixão', como um dos grandes triunfos da música sacra universal.

Erbarme dich, mein Gott,
um meiner Zähren willen!
Schaue hier, Herz und Auge
weint vor dir bitterlich.
Erbarme dich, mein Gott.

Tem piedade de mim, meu Deus,
e veja as minhas lágrimas!
Olha aqui, o coração e os olhos
choram amargamente diante de Ti.
Tem piedade de mim, meu Deus.

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (II)

João Batista é o Precursor de Cristo e, por isso, na iconografia cristã, é comumente representado com asas, simbolizando a condição ímpar de João Batista como um arauto divino. Tal representação é absolutamente ímpar porque João é o grande Precursor do Redentor e, com a sua prisão e morte, tem fim a Era dos Profetas. 'Profeta do Altíssimo', João supera todos os profetas, dos quais é o últimoE sobre ele, foram manifestadas as palavras de glória eterna pelo próprio Cristo: 'entre os nascidos de mulher, não há ninguém maior do que João' (Mt 11,11).

Nas inscrições dos ícones, João é descrito como sendo o 'Anjo do Deserto', por duas razões: primeiro, pela condição de mensageiro da chegada iminente de Jesus Cristo, nosso Salvador; segundo, pela vida austera de castidade, abstinência e oração no deserto, no encontro com Deus e no afastamento completo e desapego às coisas mundanas (João Batista é o padroeiro dos monges, eremitas e ascetas). Por ambas as razões, o seu ícone incorpora as duplas asas de uma pomba. Os cabelos longos, a barba espessa mal cuidada e as vestes rudes remetem à vida de austeridade no deserto. No ícone, João prenuncia Cristo, indicando o seu nascimento com a mão direita e segurando um pergaminho na mão esquerda, que contém o texto bíblico referente a essa anunciação.

João Batista é mártir pela fé e pelo sangue. No primeiro caso, como testemunha e guerreiro da fé (ícones desta natureza são representados por uma vestimenta de cor verde, sendo identificados como 'mártires verdes') e, no segundo caso, pelo derramamento de sangue (João Batista foi decapitado por ordem de Herodes). Símbolos deste martírio estão também comumente presentes em ícones do santo como a túnica verde, a cruz e a bandeja contendo a cabeça de João Batista (Mt 14,11).

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (I)


Ícone de Maria, a Theotokos ('Mãe de Deus' ou literalmente 'Portadora de Deus'). Maria é mostrada em trajes típicos das mulheres judias à época, em cor vermelha, a cor da divindade, segurando o Menino Jesus. A palavra em grego sobre seu ombro direito a identifica como 'guia'. Seu olhar é dirigido a nós, pobres pecadores, mas sua mão direita nos guia em direção ao seu Filho Jesus Cristo (identificado pelas letras IC XC), fonte de todas as graças, que nos abençoa com a mão direita e que, com a mão esquerda, segura um pergaminho, símbolo da sabedoria divina.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

OS GRANDES TESOUROS DA MÚSICA SACRA (I)

Miserere é um dos salmos atribuídos a Davi, rei de Israel [Salmo 50]. E é um clamor de piedade por um crime terrível: Davi desejou Bate-Seba (ou Betsabé), esposa de seu soldado mais fiel, Urias - o hitita - e deitou-se com ela e a engravidou. O rei então tramou para que Urias fosse morto em batalha. O bebê nasceu e morreu em seguida. Davi então pediu perdão e casou-se com Bate-Seba, que lhe deu outro filho: Salomão. 

Miserere mei é a versão musicada do salmo 50 feita pelo compositor italiano Gregorio Allegri (1582 - 1652), reproduzida na gravação abaixo. A tradução apresentada na sequência é bastante convencional do Salmo 50 em português. Música sacra para se ouvir, deleitar-se e se recolher na presença de Deus!



SALMO 50

Miserere mei, Deus: secundum magnam misericordiam tuam. 
Et secundum multitudinem miserationum tuarum, dele iniquitatem meam. 
Amplius lava me ab iniquitate mea: et a peccato meo munda me. 
Quoniam iniquitatem meam ego cognosco: et peccatum meum contra me est semper. 
Tibi soli peccavi, et malum coram te feci: ut justificeris in sermonibus tuis, et vincas cum judicaris. Ecce enim in iniquitatibus conceptus sum: et in peccatis concepit me mater mea. 
Ecce enim veritatem dilexisti: incerta et occulta sapientiae tuae manifestasti mihi. 
Asperges me hysopo, et mundabor: lavabis me, et super nivem dealbabor. 
Auditui meo dabis gaudium et laetitiam: et exsultabunt ossa humiliata. 
Averte faciem tuam a peccatis meis: et omnes iniquitates meas dele. 
Cor mundum crea in me, Deus: et spiritum rectum innova in visceribus meis. 
Ne proiicias me a facie tua: et spiritum sanctum tuum ne auferas a me. 
Redde mihi laetitiam salutaris tui: et spiritu principali confirma me. 
Docebo iniquos vias tuas: et impii ad te convertentur. 
Libera me de sanguinibus, Deus, Deus salutis meae: et exsultabit lingua mea justitiam tuam. 
Domine, labia mea aperies: et os meum annuntiabit laudem tuam. 
Quoniam si voluisses sacrificium, dedissem utique: holocaustis non delectaberis. 
Sacrificium Deo spiritus contribulatus: cor contritum, et humiliatum, Deus, non despicies. 
Benigne fac, Domine, in bona voluntate tua Sion: ut aedificentur muri Ierusalem. 
Tunc acceptabis sacrificium justitiae, oblationes, et holocausta: tunc imponent super altare tuum vitulos.


Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. 
E conforme a imensidade de vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade.
Lavai-me totalmente de minha falta, e purificai-me de meu pecado.
Eu reconheço a minha iniquidade, diante de mim está sempre o meu pecado.
Só contra vós pequei, o que é mau fiz diante de vós. Vossa sentença assim se manifesta justa, e reto o vosso julgamento.
Eis que nasci na culpa, minha mãe concebeu-me no pecado.
Não obstante, amais a sinceridade de coração. Infundi-me, pois, a sabedoria no mais íntimo de mim.
Aspergi-me com um ramo de hissope e ficarei puro. Lavai-me e me tornarei mais branco do que a neve.
Fazei-me ouvir uma palavra de gozo e de alegria, para que exultem os ossos que triturastes.
Dos meus pecados desviai os olhos, e minhas culpas todas apagai.
Ó meu Deus, criai em mim um coração puro, e renovai-me o espírito de firmeza.
De vossa face não me rejeiteis, e nem me priveis de vosso santo Espírito.
Restituí-me a alegria da salvação, e sustentai-me com uma vontade generosa.
Então, aos maus ensinarei vossos caminhos, e voltarão a vós os pecadores.
Deus, ó Deus, meu salvador, livrai-me da pena desse sangue derramado, e a vossa misericórdia a minha língua exaltará.
Senhor, abri meus lábios, a fim de que minha boca anuncie vossos louvores.
Vós não vos aplacais com sacrifícios rituais; e se eu vos ofertasse um sacrifício, não o aceitaríeis.
Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um coração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar.
Senhor, pela vossa bondade, tratai Sião com benevolência, reconstruí os muros de Jerusalém.
Então, aceitareis os sacrifícios prescritos, as oferendas e os holocaustos; e sobre vosso altar vítimas vos serão oferecidas (Sl 50, 3,21).

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XL)


'A ALEGORIA DO HOMEM' é uma obra religiosa inglesa, provavelmente do final do século XVI, cuja origem e autor são desconhecidos. Mas, por outro lado, possui um simbolismo óbvio que reflete a luta contínua do homem na busca da sua santificação e do Céu, enfrentando os perigos e as tentações do mundo. Diante dele - e ao seu redor - a morte e os sete pecados capitais o desafiam a cada instante e, como escudo e carapaça, as sete virtudes o protegem e o conservam no caminho para Deus.

A donzela à esquerda, bela e nobre, empunha um arco retesado e pronto a disparar três flechas contra o homem escolhido como alvo. As flechas estão assinaladas com os pecados capitais que representam: Gula, Preguiça e Luxúria (todas as inscrições em inglês arcaico). Logo abaixo dela, um nobre empunha uma besta [uma arma contendo um arco de flechas, adaptado a uma das extremidades, para disparar dardos ou flechas] mirada em direção ao homem, com o significado de Avareza


No canto inferior direito da pintura, tem-se a figura de um demônio com chifres, asas de morcego e uma serpente no dorso que, por sua vez, tem também três fechas direcionadas contra o homem, gravadas como Orgulho, Inveja e Ira. Acima dele, um esqueleto com escudo e espada afronta o homem como o aguilhão da morte. A frase no escudo estampa o simbolismo da morte como um furtivo ladrão: 'atrás de ti... roubar como um ladrão.. a vida devorar'.

A figura central do homem encontra-se envolvido por um escudo de Virtudes Cristãs (cujos nomes estão inscritos no pergaminho branco [eventualmente com outros termos à época], que forma uma espiral em torno de sua figura), sustentado por um anjo e terminada com a seguinte inscrição: 'Sede sóbrios, portanto, e vigiai, pois não sabeis nem o dia e nem a hora'. O homem utiliza um traje militar da época (muitos adereços da pintura têm igualmente uma natureza similar), indicando que a pintura possa ter sido provavelmente destinada a uma pessoa de formação militar. 


Entre nuvens espessas, acima do homem, pequenos anjos alados centram os seus olhares na figura do Cristo Ressuscitado, que está segurando uma grande cruz de madeira. As feições do homem são muito parecidas com as do próprio Cristo, como a indicar que a santificação é alcançada na medida em que o homem progride na observância estrita ao exemplo de Jesus Cristo. A inscrição ao lado de Cristo está em latim: Gratia me svficit tibie (2Cor 12,9) - Basta-te a minha graça.

A moldura inferior possui a seguinte inscrição (de tradução livre pelo autor do blog): 'Ó homem, qual miserável criatura ansiosa por riquezas, poder ou quaisquer outras coisas mundanas, guarda lembrança dos teus inimigos que, continuamente, buscam te destruir e reduzir a nada, sem dignidade e sem os bens eternos. Assim, jejua, vigia e reza continuamente com especial fervor ao vosso Senhor ['capitão', numa tradução mais literal], que é o único capaz de te defender dos seus terríveis ataques'.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXIX)

'O Retorno do Calvário' é uma obra do pintor inglês Herbert Gustave Schmalz (1856 - 1935). A pintura retrata um crepúsculo já dominado pelas sombras da noite. Eis o tempo dos homens: a Paixão de Cristo está consumada e seu corpo está confinado por uma pedra no sepulcro novo. Três cruzes solitárias (no alto à direita da pintura) modelam agora o cenário do Calvário. A 'volta para casa' ainda é parte integrante da Paixão, porque o triunfo da ressurreição é ainda uma perspectiva.

Todo o cenário contribui para um jogo contínuo de confrontos: luzes e sombras, a escadaria e a parte baixa da cidade, o distanciamento do Calvário diante a perspectiva ainda indefinida do triunfo da ressurreição. Cinco personagens - 1 homem e 4 mulheres - vivenciando uma elevação de graças e dores muito acima das mazelas do mundo lá embaixo, percorrem lentamente os degraus de uma escadaria.

Eis o homem: João, o discípulo amado que ampara e sustenta a Maria, Mãe do Crucificado. O seu olhar está fixado na visão do Calvário e é quase possível transcrever seu pensamento de agora, demarcado a ferro e a fogo pelas palavras finais de Jesus: 'Eis aí tua mãe'. Maria avança em desolação completa, cada passo agora é abandono e resignação completa: 'Vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede: há dor como a minha dor? (Lm 1,12).

Há outras Marias neste grupo que amparam e acompanham a Virgem Maria. A mulher ruiva que a consola diretamente com João é Maria Madalena ou Maria de Magdala, que vai se tornar a primeira testemunha da ressurreição. Maria, mulher de Cleófas ou mãe de Tiago (Menor) é provavelmente a mulher que, mais atrás, tem o olhar dirigido às solitárias cruzes que encimam o Calvário. E a mulher atrás dela, com o rosto envolto pelas mãos, é provavelmente Salomé, 'a mãe de Tiago e João, filhos de Zebedeu'. As duas mulheres que, mais tarde, iriam juntas para comprar aromas para ungir o Corpo de Jesus. Ou, sob outro ponto de vista, podemos inverter a identificação de ambas na pintura.

Mas alguém vislumbrou uma outra interpretação criativa para esta pintura que me agrada muitíssimo mais. Aquelas duas figuras mais atrás - uma que obscurece a própria visão e outra que volve seu olhar ao drama da Paixão, ambas aturdidas, ambas profundamente abaladas - somos nós, eu e você, quaisquer um de nós. Reflexos de nós mesmos, personagens reais ou projetados de quem, no tempo dos homens e na eternidade de Deus, seremos igualmente um dia - todos - testemunhas da Paixão. 

sábado, 10 de agosto de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXVIII)


'A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória' (Gl 6,14)

Os instrumentos da Paixão do Senhor (a cruz, a coroa de espinhos, a coluna da flagelação, os pregos, a lança, etc), são conhecidos como Arma Christi (as armas de Cristo) e constituem uma série de símbolos representando a Agonia, a Traição, a Prisão, o Julgamento, a Condenação, a Crucificação, a Descida da Cruz e o Sepultamento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os principais instrumentos da Paixão, mais recorrentes na arte sacra, são:

- a cruz (o santo madeiro);
- a coluna da flagelação com um ou mais flagelos;
- a coroa de Espinhos;
- o 'véu da Verônica';
- os cravos ou pregos da crucificação;
- a vara com a esponja com a qual se ofereceu vinagre a Jesus;
- a lança com a qual o soldado perfurou o coração de Cristo.


Outros instrumentos complementares da Arma Christi são:

- o cálice da última Ceia, que representa também o cálice da agonia;
- as trinta moedas de prata recebidas por Judas;
- as correntes, cordas e tochas usadas pelos soldados que prenderam Jesus;
- a espada usada por Pedro para cortar a orelha do servo do sumo sacerdote;
- o galo que cantou após as negações de Pedro;
- a mão do soldado que esbofeteou Jesus;
- uma corneta, que um soldado soa de modo desafinado para zombar de Jesus;
- o caniço entregue a Jesus como 'cetro' pelos soldados;
- o jarro e a bacia com água com os quais Pilatos lavou as mãos;
- o Titulus Crucis, ou seja, a placa com a inscrição 'Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus';
- as vestes de Jesus e os dados usados pelos soldados para o sorteio;
- o martelo utilizado para pregar Jesus na cruz e o alicate usado para removê-los;
- a escada utilizada para a deposição do corpo de Jesus da cruz.
- o Santo Sudário (lençol do sepultamento) e o vaso com mirra para ungir o corpo.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXVII)

Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814) foi o maior artista brasileiro de arte barroca de todos os tempos. Sua arte, presente em obras sacras distribuídas por várias cidades históricas de Minas Gerais, retrata e expressa um barroco europeu renovado e adaptado singularmente pelo gênio do artista. São criações muitíssimo pessoais, que podem ser identificadas por traços e características marcantes, como as que são destacadas abaixo, na sua peça da cabeça de Cristo, figura em cedro e parte integrante do cenário dos chamados Passos da Paixão, obra localizada em Congonhas do Campo/MG.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXVI)

ÍCONE DA ÁRVORE DE JESSÉ 

'A Raiz de Jessé' ou a 'A Árvore de Jessé' é um ícone que representa a genealogia de Jesus Cristo sob a forma de uma grande árvore ou videira de múltiplos ramos. A herança terrena de Cristo remonta a Jessé, o pai do Rei Davi, que é representado comumente deitado sob o tronco da grande árvore, que parece emanar do seu próprio corpo. A simbologia remonta pela árvore o grande legado da prole de Jessé e seu estado de dormição é similar ao estado primitivo de Adão, antes de ser trazido à vida por Deus.

'Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes'
 (Is 11,1)

No centro da árvore e em destaque, encontra-se a Mãe de Deus, como a 'Vara de Jessé', representada imediatamente abaixo de Jesus ou trazendo Cristo sentado no colo, o rebento do Filho de Deus Vivo. São José raramente é representado nessa iconografia, embora, ao contrário de Maria, ele seja um elo direto das genealogias descritas nos Evangelhos. A maioria dos ícones da Árvore de Jessé data dos séculos XII a XVI, mas as imagens nas quais os ícones se baseiam podem ser bem mais antigas, incorporadas comumente como figuras de bíblias, saltérios e vitrais.

'A raiz é o lar dos judeus, a vara é Maria, a Flor de Maria é Cristo. Ela é justamente chamado uma haste, pois ela é da linhagem real, da casa e família de Davi. Sua flor é Cristo, que destruiu o mau cheiro da poluição mundana e derramou nele o perfume da vida eterna'
(Santo Ambrósio de Milão)

O arranjo dos ramos da árvore que envolvem Jesus e sua mãe pode ser mais ou menos complexo, mais ou menos abrangente, compreendendo representações tanto dos antepassados ​​de Cristo (quase sempre com destaque para o Rei Davi e seu filho Salomão), bem como dos grandes profetas que preanunciaram a sua vinda (como por exemplo, Jacó comumente representado com uma escada, símbolo da sua visão profética - Gn 28, 12). 


quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXV)

ÍCONE DA EPIFANIA DO SENHOR


Da Galileia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser batizado por ele. João recusava-se: 'Eu devo ser batizado por ti e tu vens a mim!' Mas Jesus lhe respondeu: 'Deixa por agora, pois convém cumpramos a justiça completa'. Então, João cedeu. Depois que Jesus foi batizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. 17.E do céu baixou uma voz: 'Eis meu Filho muito amado em quem ponho minha afeição'.

O ícone da Epifania ou Teofania do Senhor está centrado no mistério da revelação da Santíssima Trindade e de Jesus Cristo como Filho de Deus, por meio do batismo do Senhor nas águas do rio Jordão, mediante um ato de profunda humildade e submissão de Jesus a um simples homem - João Batista, o Precursor. O ícone apresenta Jesus Cristo no centro da figura imerso no Rio Jordão, em pé e com olhar frontal, dirigido diretamente para todos nós. 


O curso do rio é modelado pelas margens rochosas. Na margem direita, encontra-se João que, embora esteja batizando a Cristo, é ele que se inclina reverentemente diante o batizado. Perto dele, a figura da árvore e do machado em sua base evoca as palavras do próprio João Batista: 'O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo' (Mt 3,10). Na margem oposta, um grupo de anjos, prostrados em reverência, aguardam para vestir Jesus, após a sua revelação pública como Filho de Deus. 

Junto aos pés de Cristo, são representadas pequenas criaturas que parecem fugir do Senhor porque a terra e as criaturas tremem diante a face do seu Deus: 'O mar, à vista disso, fugiu, o Jordão volveu atrás. Os montes saltaram como carneiros; as colinas, como cordeiros. Que tens, ó mar, para assim fugires? E tu, Jordão, para retrocederes para a tua fonte?' (Sl 113, 3-5).

Outros ícones similares apresentam também alguns peixes nas águas do Jordão, simbolizando os homens eleitos, aqueles que podem nadar nas águas puras da sã doutrina de Cristo, redimidos e fieis aos ensinamentos do nosso Salvador.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

A CRUZ ESLAVA DE TRÊS BARRAS TRANSVERSAIS


A Cruz Ortodoxa Eslava (de cunho restrito a certas igrejas ortodoxas como a igreja russa, por exemplo, mas que não é usual ou tradicional em outras variantes ortodoxas, como na Grécia, por exemplo) possui uma configuração bastante particular, compreendendo duas outras barras transversais à barra vertical, posicionadas distintamente, acima e abaixo, em relação à barra horizontal principal.

Todo o conjunto é fortemente assinalado por um simbolismo de imagens e inscrições (destacando-se aqui tão somente a simbologia da configuração bastante singular da própria cruz, particularmente em relação à barra inferior). A barra superior, curta e horizontal, evoca a placa fixada à cruz de Jesus, contendo a inscrição: 'Este é o Rei dos Judeus' (Lc 23, 38) ou 'Jesus de Nazaré, rei dos judeus' (Jo 19,19) ou ainda como 'O Rei da Glória', forma usual no contexto da iconografia ortodoxo greco-bizantina.

A barra inferior curta representa o apoio para os pés do crucificado; a morte de cruz tende a ocorrer por intensa agonia, exaustão e asfixia, a partir do momento em que o crucificado não consegue mais sustentar o peso do corpo pelo apoio dos pés. Mas há nela um simbolismo adicional: a placa é inclinada da direita para a esquerda: a ponta direita se eleva em direção ao Céu (destino final dos justos), enquanto a ponta esquerda se inclina em direção à terra (o inferno destinado aos condenados). O simbolismo dessa representação evoca ainda o destino eterno dos dois ladrões entre os quais Jesus foi crucificado: um premiado com a salvação eterna: 'Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso' (Lc 23, 43) e o outro condenado eternamente como blasfemador e ladrão obstinado.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXIV)

Galeria de Ícones da Natividade da Mãe de Deus

Tua natividade, ó Mãe de Deus, anunciou a alegria ao mundo inteiro; pois de ti nasceu o Sol da justiça, o Cristo nosso Deus, o qual, abolindo a maldição, nos deu a bênção, e destruindo a morte, deu-nos a vida eterna.








quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXIII)

A chamada Cathedra Petri (Trono de São Pedro) constitui um monumento único e singular da arte sacra, localizado na abside da Basílica de São Pedro, em Roma, conformando um cenário simbólico intimamente associado às colunatas da Praça de São Pedro. A obra imortal do arquiteto italiano Gian Lorenzo Bernini (1598 - 1680) foi especialmente encomendada pelo Papa Alexandre VII (1655 - 1667), para se consolidar como símbolo maior da realeza da Igreja e do próprio magistério pontifício, firmado sobre o trono (a cátedra) de Pedro, primeiro pontífice da Igreja.

A Cátedra de São Pedro (monumento) faz referência a um antigo costume romano de veneração aos mortos, cuja celebração incluía a utilização de uma cadeira suntuosa e vazia em memória de um ilustre falecido, que convergiu então para a figura de São Pedro. Historicamente, a festa da Cátedra de São Pedro comportou duas variantes, que incluíam procissões solenes da cátedra (trono) de Pedro e sua exposição em altares para veneração púbica dos fieis: uma em Antioquia (celebrada em 22 de fevereiro), em referência ao período antes da viagem e do martírio do Apóstolo em Roma e outra em Roma, em referência direta ao seu magistério romano (celebrada em 19 de janeiro). Ambos os eventos foram unificados para a data de 22 de fevereiro, após a reforma do calendário litúrgico do Papa João XXIII, em 1960.

O monumento em bronze e em estilo barroco de Bernini, construído entre 1657 e 1666, representa a Cátedra de Pedro em dimensões portentosas no alto da abside e atrás do altar-mor da Basílica. O conjunto da obra expressa um cenário extraordinário, com a cátedra vazia (com cerca de 7m de altura) sendo ladeada por anjos e sustentada por quatro estátuas (com cerca de 5m de altura) de grandes Padres da Igreja latina e grega: Santo Agostinho, Santo Ambrósio, Santo Atanásio e São João Crisóstomo. O espaço acima do trono é dominado por um cenário de nuvens douradas, envolvidas por anjos e raios irradiantes. No centro dessa área, uma janela liga com grande luminosidade a igreja ao mundo exterior e inclui a figura de uma pomba, símbolo do Espírito Santo a guiar o papado e a iluminar os homens. É a plena celebração da singularidade, da identidade e da unidade da Igreja sob o Papado.


No interior do monumento, totalmente confinada e com raríssimas exposições públicas, mantém-se preservada a cátedra original de Pedro em Roma (foto abaixo), embora algo modificada. A peça original em madeira de carvalho teria sido uma cadeira romana de transporte comum à época (sedes gestatoria), já bastante carcomida e deteriorada pelo tempo, pelo que foi reformada quase por completo por meio de inclusões de peças de madeira de acácia e por incrustações de marfim, após o que teria sido doada à Igreja enquanto Papa João VIII (872 - 882), pelo monarca britânico Carlos, o Calvo, em torno do ano 875 da nossa era.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXII)


A Praça de São Pedro, situada em frente à Basílica de São Pedro no Vaticano, foi construída entre 1656 e 1667 e tem dimensões impressionantes:  320 metros de comprimento e 240 metros de largura. Além destas dimensões singulares, a praça é ornamentada por um anfiteatro com duas colunatas compostas por 284 colunas e 88 pilastras, que circulam a praça em um pórtico de quatro filas, tendo no topo estátuas de 140 santos e santas da Igreja, executadas pelos discípulos de Bernini, com a seguinte distribuição arquitetônica:

Colunata Esquerda 71. São Boaventura, cardeal da Ordem dos Frades Menores e Doutor da Igreja 72. São Marcos, mártir 73. São Marcelino, mártir 74. São Vito, mártir 75. São Modesto, mártir 76. Santa Praxedes, mártir 77. Santa Pudentiana, mártir 78. São Fabiano, papa e mártir 79. São Sebastião, mártir 80. São Feliciano, mártir 81. São Fausto, mártir 82. Primo de Santo, mártir 83. São Feliciano, mártir 84. São Hipólito, mártir 85. São Basilides, mártir 86. São Paulo, mártir 87. São Juliano, mártir 88. São Nereu, mártir 89. São Aquiles, mártir 90. São Félix, bispo e mártir 91. São Constâncio de Perugia, bispo e mártir 92. Santo André Corsini, bispo da Ordem Carmelita 93. São Crescentius, mártir 94. Santa Pelagia, virgem e Mártir 95. São Pancrácio, Mártir 96. São Dionísio Areopagita, bispo e mártir 97. São Lourenço, diácono e mártir 98. Santo Estêvão, diácono e protomártir da Igreja 99. São Romano de Samósata, mártir 100. Santo Eusébio de Samósata, bispo e mártir 101. São Spyridion , mártir 102. Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir 103. Santo Alexandre de Alexandria, bispo 104. São Leão Magno, papa e doutor da Igreja 105. Santo Anastácio de Antioquia, bispo 106. São João Crisóstomo, bispo e padre da Igreja 107. São Ubaldo, bispo 108. São Gregório Nazianzeno, bispo e pai da Igreja 109. São Leão IV, papa 110. São Clemente Romano, papa e mártir 111.São Celestino V, papa 112. São Marcelo, papa e mártir 113. São Martinho, papa e mártir 114. São Silvestre, papa 115. São Marcelino, papa e mártir 116. Santa Gala, viúva 117. Santa Catarina de Sena, virgem de Ordem dos Pregadores 118. Santa Beatriz, virgem e mártir 119. Santa Teodora, virgem e mártir 120. São Jacinto da Polônia, sacerdote da Ordem dos Pregadores 121. São Francisco Xavier, sacerdote da Companhia de Jesus 122. São Caetano de Thiene, sacerdote e fundador da Ordem dos Clérigos Regulares 123. São Filipe Benizi, sacerdote da Ordem dos Servos de Maria 124. São Filipe Neri, sacerdote e fundador da Congregação do Oratório 125. São Carlos Borromeu, cardeal 126. Santo Antônio de Pádua, sacerdote da Ordem dos Frades Menores e doutor da Igreja 127. São Francisco de Paula, eremita e fundador da Ordem dos Mínimos 128. Santo Antônio, abade 129. São Paulo, primeiro eremita 130. São Pedro Nolasco, sacerdote e fundador da Ordem da Misericórdia 131. São José, pai adotivo de Jesus 132. São Romualdo, eremita e fundador da Ordem dos Camaldulenses 133. São João Esmoleiro, bispo 134. São Luís Bertrand, sacerdote da Ordem dos Pregadores 135. São Bruno, sacerdote e fundador da Ordem da Cartuxa 136. Santo Hilário, abade 137. São Jerônimo, sacerdote e pai da Igreja 138. São Teodoro, mártir 139. São Teobaldo, sacerdote e eremita 140. São Norberto, bispo e fundador da Ordem Premonstratense.
Colunata Direita 1. São Galicano, mártir 2. São Leonardo, eremita 3. Santa Petronilla, virgem 4. São Vital, mártir 5. Santa Tecla, virgem e mártir 6. Santo Alberto, Carmelita 7. Santa Isabel de Portugal, viúva 8. Santa Ágata, virgem e mártir 9. Santa Úrsula, virgem e mártir 10. Santa Clara, virgem e fundadora da Ordem das Irmãs Clarissas 11. Santa Olímpia, viúva 12. Santa Lúcia, virgem e mártir 13. Santa Balbina, virgem e mártir 14. Santa Apolônia, virgem e mártir 15. São Remígio, Bispo 16. Santo Inácio de Loyola, sacerdote fundador da Companhia de Jesus 17. São Bento, Abade 18. São Bernardo de Claraval, sacerdote da Ordem de Cister e doutor da Igreja 19. São Francisco de Assis, diácono e fundador da Ordem dos Frades Menores 20. São Domingos de Guzmán, sacerdote e fundador da Ordem dos Pregadores 21. Santa Macrina, a Velha 22. Santa Teodósia, virgem e mártir 23. São Efrém, diácono e doutor da Igreja 24. Santa Maria do Egito 25. São Marcos , evangelista 26. Santa Febronia, virgem e mártir 27. Santa Fabíola, viúva 28. São Nilamon, eremita 29. São Marciano, mártir 30. São Eusigno, mártir 31. São Marino, diácono 32. São Dídimo, mártir 33. São Apolônio o Apologista, mártir 34. São Cândido, mártir 35. Santa Fausta, confessor 36. Santa Bárbara, virgem e mártir 37. São Benigno, mártir 38. São Malco, mártir 39. São Mamante, mártir 0. São Columba, abade 41. São Pontiano, mártir 42. São Genésio, mártir 43. Santa Inês, virgem e mártir 44. Santa Catarina de Alexandria, virgem e mártir 45. São Justino, mártir 46. Santa Cecília, virgem e mártir 47.Santa Francisca Romana, viúva 48. São Jorge, mártir 49. Santa Maria Madalena de Pazzi, virgem da Ordem do Carmo 50. Santa Susana, mártir 51. Santa Martina, mártir 52. São Nicolau de Bari, bispo 53. São Nicolau de Tolentino, sacerdote da Ordem de Santo Agostinho 54. São Francisco de Bórgia, sacerdote da Companhia de Jesus 55. São Francisco de Sales, bispo e cofundador da Ordem da Visitação de Santa Maria 56. Santa Teresa de Jesus, virgem e fundadora da Ordem do Carmelo Descalço 57. Santa Juliana, mártir 58. São Juliano, mártir 59. São Celso, mártir 60. São Anastácio, mártir 61. São Vicente, mártir 62. São Paulo, mártir 63. São João, mártir 64 São Damião, mártir 65. São Cosme, mártir 66. São Zózimo, mártir 67. São Rufo, mártir 68. São Potrásio, mártir 69. São Gervásio, mártir 70. São Tomás de Aquino, presbítero da Ordem dos Pregadores e Doutor da Igreja


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXI)

 A Virgem com um Peixe (Rafael Sanzio)

'A Virgem com um Peixe' é uma das mais famosas pinturas de Rafael Sanzio (nascido em Urbino em 1483 e falecido em Roma, em 1520), da sua série com pinturas da Virgem Maria e o Menino Jesus. Sentada em um trono, a Virgem segura o Menino Jesus no colo. À esquerda, encontra-se o Arcanjo Rafael que apresenta à Virgem o jovem Tobias, ao qual guiara previamente até o Rio Tigre e que segura o peixe com cujo fel haverá de curar a cegueira do seu pai (Tb 11, 13). À direita, São Jerônimo, vestido de cardeal, tem a Vulgata (Bíblia que traduziu para o latim) aberta nas mãos, aparentemente na passagem do Livro de Tobias. 

O Livro de Tobias é um dos livros deuterocanônicos do Antigo Testamento, possuindo 14 capítulos e 297 versículos, e foi considerado canônico pelo Concílio de Cartago em 397 e reconfirmado por todos os demais concílios. Entre os principais ensinamentos do livro, destacam-se a descoberta da providência divina na vida cotidiana, a fidelidade à vontade de Deus, a prática da esmola, o amor aos pais, a oração e o jejum, a integridade do matrimônio e o respeito pelos mortos. A ênfase é dada ao fato de que o homem justo não vive sozinho: mas está sempre acompanhado pela graça de Deus.

A Verdade das primícias da fé é sempre a mesma, unindo o Antigo (Tobias) e o Novo Testamento (São Jerônimo e a tradução da Bíblia), perpassando por Cristo (que nos redimiu pelo batismo - símbolo do peixe - e nos legou o primado de 'pescadores de homens') e a sua Mãe, medianeira de todas as graças. O Anjo do Senhor revelou-se a Tobias e este foi agraciado com as bênçãos dos Céus depois de muito sofrimento; Jesus se revela por Maria como caminho, verdade e vida para todos os homens, com as mesmas promessas: chega-se ao Céu por meio da superação das vicissitudes, sofrimentos e realidades tremendas dessa vida.

A pintura (215cm x 158cm) data de 1513-1514 e foi encomendada por Geronimo del Doce para a capela de Santa Rosa de Lima no Mosteiro de San Domenico em Nápoles e, mais de cem anos depois, transferida pelo vice-rei espanhol de Nápoles para a Espanha, encontrando-se atualmente no Museu Nacional do Prado, em Madri. São conhecidos dois desenhos prévios da obra, disponíveis atualmente em Florença na Itália e em Edimburgh, na Escócia.

(Esboço da obra - giz vermelho sobre papel branco - Florença / Itália)