quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

INDULGÊNCIAS PLENÁRIAS DE VIRADA DO ANO


É concedida a indulgência plenária aos fieis que, na igreja ou publicamente, recitarem solenemente e com piedosa devoção os seguintes hinos nas datas da passagem de ano:

(i) Te Deum, no último dia do ano, em agradecimento a Deus pelos favores recebidos ao longo de todo o ano que termina.

(ii) Veni Creator Spiritus, no primeiro dia do ano, implorando o auxílio divino para o ano que se inicia.

ORAÇÃO PARA O ÚLTIMO DIA DO ANO

Obrigado, Senhor, pelo ano que termina,
porque estou aqui, junto Convosco e com minha família (com meus amigos),
vivendo a alegria de ter vivido um ano mais
em Vossa Santa Presença.

Obrigado, Senhor,
por mais um ano de vida,
por ter tido ainda este tempo para viver 
as santas alegrias do Natal e deste Ano Novo.
Por estar com pessoas que amo
e que compartilham comigo
a mesma fé e o sincero propósito
de viver o Evangelho a cada dia.

Obrigado, Senhor,
por tantas graças recebidas neste ano que passa;
eu Vos ofereço hoje o meu nada
e, dentro do meu nada, todo o meu amor humano possível,
como herança de Vossa Ressurreição.
No meio das luzes do mundo nesse dia de festa,
eu me recolho à sombra da Vossa Misericórdia;
e Vos honro e Vos dou glória nesse tempo
pelos tempos que estarei Convosco para sempre.

Obrigado, Senhor,
por estar aqui na Vossa Presença,
no tempo que conta mais um ano que se vai,
na gratidão da alma confiante
que aprendeu o caminho do Pai.
Das coisas boas que fiz, dou-Vos tudo,
porque as recebi de Vosso Santo Espírito.
E Vos suplico curar com Vosso Corpo e Sangue
as cicatrizes dos meus pecados.

Obrigado, Senhor,
pela caminhada diária com Maria, 
que nos ensina no cotidiano de nossas vidas
a ir ao Vosso encontro todos os dias.
Pelo meu Santo Anjo da Guarda,
pelos meus santos de devoção, 
pelo papa, e pela Vossa Igreja,
eu Vos agradeço, Senhor, e Vos louvo, 
neste último dia do ano.

Obrigado, Senhor,
pelo ano que termina.
Que eu não me lembre nesse tempo
das dores e sofrimentos que passei,
das tristezas e angústias que vivi:
que todo mal seja olvidado agora
na alegria de eu estar aqui Convosco,
e pela resignação à Santa Vontade de Deus.

E que nesta última hora do tempo que se vai,
do ano que chega ao fim:
mais uma vez, não seja eu que viva,
mas o Cristo que vive em mim.
Amém.

(Arcos de Pilares)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE DORÉ (XX/Final)

 PARTE XX (At 2 - Ap 21)

[A descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 2, 3-4)]

[A pregação de Pedro aos homens da Judeia e de Jerusalém (At 2, 14)]

[Pedro e a cura do homem coxo à porta do Templo (At 3, 6-7)]

[A morte de Ananias (At 5,5)]

[O martírio de Santo Estêvão (At 7, 58-60)]

[A aparição de Jesus a Saulo na estrada de Damasco (At 9, 3-6)]

[A pregação de Pedro na casa de Cornélio (At 10, 24-)]

[A aparição do Anjo e a libertação de Pedro da prisão (At 12, 7)]

[A pregação de Paulo na sinagoga de Tessalônica (At 17, 2-3)]

[A pregação de Paulo em Éfeso e a queima dos livros heréticos (At 19, 19)]

[Paulo é protegido pelos soldados do furor de uma grande multidão (At 21, 35)]

[Naufrágio do barco de Paulo e todos se salvam (At 27, 41-44)]

[João na Ilha de Patmos (Ap 1,9)]

[A visão do cavalo esverdeado cavalgado pela Morte (Ap 6,8)]

[A visão da Mulher revestida do sol (Ap 12,1)]

[A queda da Babilônia (Ap 18,2)]

[O Juízo Final (Ap 20,12)]

[A visão da Cidade Santa, a nova Jerusalém (Ap 21,2)]

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

TESOURO DE EXEMPLOS (40/42)

 

40. O MEDO DO COROINHA

São Pedro de Alcântara, nascido em 1499, entrou na Ordem dos Franciscanos com a idade de 16 anos. Foi um dos santos mais penitentes e favorecidos de Deus em seu tempo. Santa Teresa de Ávila, que o conhecia de perto, conta-nos que São Pedro passara 40 anos sem dormir mais de hora e meia por dia. O santo não se deitava, mas ficava assentado com a cabeça encostada a uma viga de madeira da parede. Essa foi a penitência que mais sacrifícios lhe custou.

Além disso, usava terríveis cilícios e passava três dias, às vezes até oito dias, sem outro alimento que a Sagrada Comunhão. Em vista de tudo isso, não é de estranhar que se tenha elevado à mais alta contemplação e Jesus o tenha favorecido com inefáveis carícias, mormente na missa e na sagrada comunhão.

Conta-se que, em um certo convento, o coroinha, que ajudava a missa do santo, era um menino inocente e bonzinho. Um dia, ao regressar da igreja, o menino procurou a sua mãe e lhe disse:

➖ Mamãe, eu não quero mais ajudar à missa do Padre Pedro.

➖ Mas por que, meu filho, não hás de ajudar o Padre Pedro, que é um padre tão santo?

➖ Mamãe, ao ajudar-lhe a missa, várias vezes tenho visto um menino lindo, muito lindo, nas mãos dele; e, na hora da comunhão, ele come aquele menino. Mamãe, tenho medo que ele me coma também.

A mãe, que conhecia a santidade do Padre Pedro, compreendeu logo o mistério e disse ao filho:

➖ Não temas, meu filho; é o Menino Jesus que está na Hóstia... Que feliz és tu, que o vês com teus olhos inocentes!

Daí em diante o menino não teve mais medo e ajudava à missa do santo com muito gosto e devoção.

41. ESTE MENINO SERÁ PADRE

O que vamos narrar é um episódio da vida de São João Bosco. Um certo dia, foi procurá-lo a Condessa D. Z. para suplicar-lhe que abençoasse os seus quatro filhinhos. Dom Bosco, sempre amável e amigo das crianças, com muito afeto deu uma poderosa bênção aos pequeninos.

A Senhora Condessa, que também se ajoelhara, levantou-se certa de que a bênção daquele sacerdote, que ela considerava um santo, atrairia sobre toda a família graças copiosas de Deus. Depois, apertando a si os filhos e sabendo, como era notório, que Dom Bosco via o futuro, perguntou-lhe:

➖ Dom Bosco, o que será dos meus filhos?

Dom Bosco, gracejando, referiu-se a cada um, a começar pelo mais velho, profetizando o bem a todos. Quando chegou ao último, pôs-lhe a mão sobre a cabeça, contemplando-o com particular interesse.

➖ Qual será a sorte desse, Dom Bosco?

➖ Da sorte deste último não sei, senhora condessa, se ficarás muito contente...

➖ Diga, pois, o que lhe parece.

➖ Bem! deste menino digo que será um ótimo padre!

A estas palavras, a cena transformou-se de repente; a nobre dama empalideceu, apertou a si o menino como para livrá-lo de uma desgraça, e fora de si exclamou:

➖ Meu filho, um padre? Antes peço a Deus que lhe tire a vida!

Dom Bosco, que tinha pelo sacerdócio a mais alta estima, sentiu dolorosamente aquelas palavras e, erguendo-se pesaroso, despediu a condessa. Poucos meses depois, de fato, o filho mais novo da condessa lhe foi arrebatado por uma doença fulminante.

42. O AMOR DE UM VELHINHO

Um dia São Afonso Rodríguez, irmão leigo jesuíta, muito bom e muito santo, estava rezando diante de uma imagem de Maria. Já era velhinho e passava longas horas aos pés de sua boa Mãe do Céu. Às vezes, punha-se a chorar como uma criança; às vezes, sorria como um anjo. Tinha algum sofrimento? Lá ia logo comunicá-lo a Nossa Senhora. Sentia alguma alegria? Depressa, ia contá-la à Mãe do Céu. Tentavam-no os demônios? Corria aos pés da Imaculada e pedia-lhe que não o desamparasse nem na vida e nem na morte.

Num certo dia, estava ele a dizer a Nossa Senhora que a amava muito, muitíssimo, com toda a sua alma e com todo o seu coração. E parecia ao santo velhinho que a Virgem Santíssima lhe sorria amavelmente. Ouviu, enfim, ou pareceu-lhe ouvir do fundo de sua alma uma voz que dizia:

➖ Afonso, quanto me amas?

E o bom velhinho respondeu:

➖ Olha, minha boa Mãe do Céu: amo-te tanto, tanto, que é impossível que me possas amar tanto como eu te amo.

A Senhora, ouvindo isso, levantou a mão amorosa, deu-lhe uma leve bofetada e lhe disse: 

➖ Cala-te, Afonso, cala-te!... o que estás a dizer? Eu te amo imensamente mais do que tu serias capaz de me amar.

Eis por que devemos amar a Maria: ama-nos tanto que jamais poderemos compreender toda a grandeza do seu amor.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

ver PÁGINA: TESOURO DE EXEMPLOS


segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

28 DE DEZEMBRO - SANTOS INOCENTES


Santos Inocentes de Deus,
almas cristalinas,
pousai vossos ternos anelos
nas sombras das colinas;
não inquieteis com vosso pranto
as feras sibilinas,
fitai o esgar dos carrascos
com doces retinas;
que a vida que foge breve,
em adagas repentinas,
renasça em eternos louvores
nas glórias divinas.
(Arcos de Pilares)

Santos Inocentes de Deus, rogai por nós!

IMAGEM DA SEMANA

'Deus de Deus, Luz da Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro, gerado e não criado, consubstancial ao Pai. Por Ele todas as coisas foram feitas'

(do Credo niceno-constantinopolitano)

domingo, 27 de dezembro de 2020

EVANGELHO DE DOMINGO

  

'Felizes os que temem o Senhor e trilham seus caminhos!' (Sl 127)

 27/12/2020 - Festa da Sagrada Família

5. SAGRADA FAMÍLIA


Neste último domingo do ano, o Evangelho evoca o culto à Sagrada Família, síntese da vida cristã autêntica e primeira igreja na terra. Na humilde casa de Nazaré, três pessoas: pai, mãe e filho, viviam em natureza sobrenatural exatamente inversa à ordem natural: São José, patriarca e pai de família devotado, com direitos naturais legítimos sobre a esposa e o filho, era o menor em perfeição; Nossa Senhora, esposa e mãe, era Mãe de Deus e de todos os homens; Jesus, a criança indefesa e submissa aos pais, é o Deus feito homem para a salvação do mundo. Portentoso mistério que revela a singular santidade da família humana, moldada sobre clara hierarquia divina, moldada por Deus para ser escola de santificação, amor, renúncia e salvação. 

Neste modelo de submissão perfeita ao amor de Deus e em obediência estrita à Lei de Moisés, 'quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho' (Lc 2, 22), José e Maria se dirigem ao Templo de Jerusalém para a consagração do seu primogênito e oferenda do sacrifício penitencial. E será ali, apenas 40 dias após o nascimento de Jesus, que Nossa Senhora vai experimentar, pela profecia do velho Simeão, a primeira grande ferida de sua alma imaculada nesta terra, que a tornaria Nossa Senhora de todas as dores: 'Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma' (Lc 2, 35).

O velho Simeão, sacerdote piedoso e justo, dirigiu-se ao Templo por um impulso sobrenatural e, para se cumprir plenamente a grande promessa que recebera de que não morreria sem ter contemplado o Messias, agora O tinha entre os braços: 'Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meu olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel' (Lc 2, 29 - 31). Eis que se conclui naquele momento o tempo dos profetas, nas palavras do velho Simeão e da profetisa Ana: Deus se fez homem e a redenção e a salvação da humanidade estava entre nós!  Nesta sagrada família, Jesus 'crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele' (Lc 2 , 40).

Eis o legado da Sagrada Família às famílias cristãs: a oração cotidiana santifica os pais e os filhos numa obra incomensurável do amor de Deus e a fortalece contra todos as tribulações. Sim, que os maridos amem profundamente suas esposas, que as esposas sejam solícitas a seus maridos, que os pais não intimidem os seus filhos, que os filhos sejam obedientes em tudo a seus pais. Mas que rezem juntos, que louvem a Deus juntos, que se santifiquem juntos, como família de Deus. Em Nazaré, Deus tornou a família modelo e instrumento de santificação; que em nossas casas e em nossas famílias, a Sagrada Família seja o modelo e instrumento para a nossa vida e para nossa santificação de todos os dias!

sábado, 26 de dezembro de 2020

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (XVIII)


QUARENTA HORAS

É uma devoção que consiste em passar 40 horas em oração diante do Santíssimo Sacramento exposto, desde o domingo da Quinquagésima [primeiro domingo que precede a Quaresma] até a terça-feira seguinte. Esta devoção, ordenada pela Igreja, tem por finalidades: (i) aplacar a justiça divina, gravemente ofendida pelas desordens nos dias chamados de carnaval; (ii) desviar das loucuras e dos grosseiros e impuros divertimentos desses dias, aqueles que poderiam ser arrastados na corrente dos maus costumes; (iii) afervorar os fieis no amor a Jesus, recordando as 40 horas que decorreram desde a sua condenação à morte até à sua ressurreição. Nas igrejas onde é feita a solenidade das Quarenta Horas, e durante a mesma, todos os altares são privilegiados. 

RACIONALISTA

É aquele que rejeita toda a sujeição da razão humana a Deus e que proclama que a mesma razão é a fonte única de toda a verdade especulativa e prática; exclui, assim, toda a revelação; nega a ordem sobrenatural e despreza a autoridade da Igreja.

REDENÇÃO DO GÊNERO HUMANO

Por causa do pecado original sob o qual todos os homens são concebidos, ninguém poderia conseguir a salvação eterna por méritos próprios. O Filho de Deus fez-se Homem, padeceu e morreu por amor aos homens, oferecendo ao seu eterno Pai a sua Vida, Paixão e Morte, como sacrifício para remir os homens do pecado e fazê-los entrar no Céu. Deste modo foi feita a redenção do gênero humano.

REGULARES

São os religiosos que fizeram votos em alguma Ordem Religiosa. São obrigados à clausura papal e estão isentos da jurisdição episcopal, exceto nos casos expressos no Direito.

REINO DE DEUS

Na terra, é a Igreja Católica, com a sua vida social, sob o regime espiritual da hierarquia, de que é Chefe visível universal o Romano Pontífice. A Igreja, reino de Deus exterior, está encarregada de manter e propagar o reino de Deus interior, ou reinado de Deus nas almas neste mundo. Na eternidade, o Reino de Deus é o Céu, onde entram os homens que na terra fizeram parte da Igreja Católica. Ao Reino de Deus na terra podem pertencer todos os homens, sem distinção de raça, de nacionalidade, de condição, mas não devem procurar nele bens materiais; encontrarão, porém, a paz, a justiça e a alegria de uma vida virtuosa. Assim escreveu o Apóstolo São Paulo: 'O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo' (Rm 14,17).

RELÍQUIAS DOS SANTOS

São restos dos corpos dos santos ou objetos de que fizeram uso. São classificadas em duas categorias: insignes ou grandes, que são o corpo, a cabeça, o braço, a perna, ou a parte do corpo em que o santo sofreu o martírio, o antebraço, a mão, a língua e o coração. A segunda categoria é formada pelas relíquias pequenas. O Santo Lenho, ainda que seja uma pequenina parte, é sempre considerada como relíquia insigne, por ser uma parte da cruz em que Jesus Cristo morreu. A Igreja aprova e recomenda o culto das relíquias, e mais um culto relativo à pessoa ou ao santo a que as relíquias pertencem. A qualquer relíquia de santo é devido o culto de veneração com uma inclinação de cabeça e é incensada com dois duetos. O Santo Lenho tem o culto de veneração de joelhos e é incensado com três duetos. As relíquias insignes não podem conservar-se em casas ou oratórios particulares, sem expressa licença do bispo do lugar. As relíquias não insignes podem conservar-se em casas particulares, sendo tratadas com honra. Não podem as relíquias ser expostas ao culto público, sem estarem autenticadas em documentos por algum cardeal ou pelo bispo do lugar, ou por algum Eclesiástico com faculdades especiais. As relíquias, quando são expostas, devem estar encerradas numa cápsula. A relíquia do santo Lenho nunca deve estar exposta à veneração pública na mesma cápsula com relíquias de santos. As relíquias dos beatos, sem indulto especial, não devem ser levadas nas procissões, nem expostas na igreja, a não ser naquela onde se celebra Ofício e Missa por concessão da Sé Apostólica. As santas relíquias não são objeto de comércio e não se podem vender.

REMISSÃO DOS PECADOS

A remissão dos pecados foi confiada à Igreja por Jesus Cristo, quando disse aos seus Apóstolos: 'Àqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados» (Jo 20,23). A remissão dos pecados é fruto da Paixão e Morte de Jesus Cristo, como se lê no Santo Evangelho: 'Importava que Cristo padecesse e que ressurgisse dos mortos ao terceiro dia e que em seu nome se pregasse a penitência e a remissão dos pecados em todas as Nações' (Lc 24, 46-47). Pela remissão dos pecados somos justificados, isto é, recebemos a graça de Deus e ficamos na sua amizade, capazes de viver virtuosamente e de gozar a bem aventurança celeste. A remissão dos pecados faz-se por meio dos sacramentos, particularmente pelo Batismo e pela Penitência ou Confissão Sacramental.

RESPEITO HUMANO

É um sentimento produzido pelo temor de desagradar ao mundo, quando há um dever religioso a cumprir. É uma fraqueza na Fé, é uma covardia na ação. A Religião de Jesus Cristo não exige de nós coisa alguma de que tenhamos de nos envergonhar. Pelo contrário, todos os atos da Religião têm por fim levar-nos à prática da virtude, elevar-nos para Deus. Ter respeito humano é ter vergonha de servir a Deus, é preferir a estima dos homens à graça de Deus. Que nos importa o que digam de nós, se Deus aprova as nossas ações? E que dirá Deus e que fará Deus se nos envergonharmos de servi-Lo? A resposta é dada por Jesus Cristo, dizendo: 'Se alguém se envergonhar de Mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na sua majestade e na de seu Pai e na dos Anjos' (LC 9, 26).

RESSURREIÇÃO DA CARNE

É a união da alma separada ao seu corpo, no fim do mundo, para uma nova vida, que será eterna. É uma verdade ensinada por Jesus, dizendo: 'Todos os que se acham nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que obraram bem neste mundo sairão para a ressurreição da vida, mas os que obraram mal sairão ressuscitados para a condenação' (Jo 5, 28-29). E o Apóstolo São Paulo escreveu: 'Todos ressuscitaremos num abrir e fechar de olhos; porquanto, é necessário que este corpo mortal se revista da imortalidade' (I Cor 15, 51-53). A ressurreição não é natural, é miraculosa. Deus criou o homem, infundindo no pó da terra uma alma imortal e espiritual, que lhe deu a vida. Deus tira a vida ao homem separando a alma do seu corpo. Deus dá novamente vida ao homem, unindo novamente a alma ao pó que foi o seu corpo, pois a Deus nada é impossível.

RETIRO ESPIRITUAL

É a suspensão, por alguns dias, da vida habitual, para os consagrar a um trabalho interior mais intenso e preparar o futuro, estudando em melhores condições a vontade de Deus sobre nós e renovando o fervor da alma para uma vida mais cristã, mais sobrenatural. O isolamento durante o retiro deve ser o mais completo possível, para que todo o tempo seja aplicado à meditação, aos exames de consciência, à oração, às resoluções e à organização da vida para o futuro.

REVELAÇÃO

É a manifestação de alguma verdade feita por Deus iluminando sobrenaturalmente a nossa inteligência. Deus revelou as verdades da Religião aos judeus, por meio dos Profetas; as verdades da Religião Cristã foram reveladas por Jesus Cristo, Deus Filho feito homem. A nossa Fé fundamenta-se nas revelações feitas por Jesus Cristo e escritas nos Santo Evangelhos, nas Epístolas dos Escritores Sagrados e na Tradição conservada na Igreja Católica. O Apóstolo São Paulo escreveu: 'Deus, tendo falado muitas vezes e de muitos modos, em outros tempos aos nossos pais pelos Profetas; nestes dias nos falou pelo seu Filho' (Hb 1, 1-2).

ROMANO PONTÍFICE

É o sucessor do Apóstolo São Pedro, o Vigário de Jesus Cristo na terra. Tem, não só o primado de honra, mas também o supremo e o pleno poder de jurisdição sobre toda a Igreja, tanto nas coisas que dizem respeito à Fé e aos costumes, como nas coisas que se referem à disciplina e regime da Igreja, espalhada por todo o mundo. Este poder é independente de toda a autoridade humana. Todos os fieis devem obedecer ao papa como ao próprio Jesus Cristo. É infalível quando ensina, como Chefe da Igreja, doutrina revelada sobre a Fé e a Moral.

RUBRICAS

São indicações nos livros litúrgicos para dirigirem os clérigos na recitação das orações e cerimônias litúrgicas. Devem ser cuidadosamente observadas na administração dos sacramentos e, principalmente, na celebração da Missa. Reprovado qualquer costume em contrário, o sacerdote celebrante não deve acrescentar, por seu próprio arbítrio, outras cerimônias ou preces às que estão designadas nas rubricas dos seus livros rituais.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

FELIZ E SANTO NATAL EM CRISTO!

Desejo a todos os nossos amigos e visitantes um Santo e Feliz Natal! 

IGREJA CATÓLICA: ALMA DO NATAL
(Luís Dufaur)


CÂNTICO DE NATAL


Ó meu Menino Jesus, 
sede a minha esperança!
Que na gruta da vossa Belém 
eu possa renascer também
como uma outra criança!  

Ó meu Menino Jesus,  
sede minha santa alegria!
Que o meu presépio se faça 
banhando minha alma na graça
de uma pobre estrebaria!

Ó meu Menino Jesus, 
sede minha força e minha fé!
Que a mãe que me vela agora
seja a mesma Nossa Senhora 
da família de Nazaré!

Ó meu Menino Jesus, 
sede farol e minha luz!
Que este Natal de abraços,
se faça caminho de passos
que passam diante da Cruz! 

Ó meu Menino Jesus, 
sede a alma do meu viver!
Que este Natal me converta
em dom, partilha e oferta
para os que vão renascer!
E em dom, oferta e partilha,
onde ainda hoje não brilha
a luz do vosso nascer! 

Ó meu Menino Jesus, 
sede minha paz e todo bem!
Que eu viva a bem aventurança 
de adorar Deus feito criança
numa gruta de Belém!

(Arcos de Pilares)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

O NASCIMENTO DE JESUS

Maria sentiu um leve estremecimento no ventre. Estremecimento e não dor. Percebera-o nitidamente em meio ao movimento harmônico do trote do burrico pela estrada poeirenta. No recolhimento de sua oração profunda, sua mão busca tocar levemente o ventre como uma resposta imediata da Mãe ao sinal enviado pelo Filho: a longa preparação do Tempo dos Profetas há de ser realidade em breve naquele tempo da história e Deus feito homem vai nascer no mundo. É o primeiro sinal. Suave estremecimento, perceptível apenas por Maria, naquele momento da longa travessia que perpassa agora os campos abertos que levam mais adiante à Belém de todas as profecias.


José, puxando o burrico, olha para trás e se preocupa. O vento começa a soprar mais forte e mais frio e a jornada agora é mais lenta e penosa, nos declives mais acentuados da estrada que serpenteia pelo vale e pelos contrafortes de formações rochosas. E há muitas pessoas e alarido em torno deles. De tempos em tempos, são obrigados a parar e dar passagem a outros viajantes em marcha mais apressada ou para superarem com extremo cuidado os trechos mais íngremes. Quase todos os peregrinos têm o mesmo destino e o mesmo objetivo: apresentarem-se às autoridades em Belém e cumprirem as normas do novo recenseamento imposto pelas autoridades romanas. 

Em meio a um acontecimento regional e específico da história humana, está prestes a ocorrer o mais extraordinário evento da humanidade. Em meio ao burburinho e à agitação de toda aquela gente, Maria recebeu o primeiro sinal da manifestação da vinda do Messias prometido. Um murmúrio de humanidade no sagrado ventre consubstancia em definitivo o Mistério da Anunciação. Um leve estremecimento acaba de prenunciar o nascimento de Deus. 


As ruas estreitas se consomem de tanta gente. Há um cenário de mercado livre por toda a Belém daqueles dias. Eles acabaram de cumprir os registros formais do recenseamento e agora buscam ansiosamente uma pousada para o pernoite. Não é apenas o albergue principal da cidade que está com a lotação esgotada; as casas se transformaram em emaranhados de pessoas e utensílios, num entra e sai sem fim de gente ruidosa e apressada. Há o burburinho comum das crianças e o festim grotesco das ofertas gritadas e dos negócios de ocasião. No vaivém das ruas apinhadas e confusas, Maria e José buscam refúgio fora da cidade, além das casas mais ermas e mais afastadas. Aqui e ali ainda se veem acampamentos rústicos, improvisados, à guisa de refúgio de grupos mais ou menos numerosos. Além, mais além, as formações calcárias formam reintrâncias e cavernas, que muitas vezes são utilizadas como estrebarias pelos mercadores das grandes rotas até Jerusalém.

José leva o burrico na direção destas cavernas. Ele não sente no rosto o vento frio da tarde que se desvanece, nem o cansaço da longa jornada. Seu pensamento é todo, totalmente por Maria. A preocupação em encontrar um lugar digno para ela o consome por completo. A ânsia de dar descanso e refúgio a Maria tolhe todos os seus sentidos e atividades. A dimensão do mistério insondável o atordoa e o aniquila: a humanidade de José sente o peso incomensurável dos desígnios da Providência.

Passa adiante da primeira entrada, que não passa de um buraco estreito e irregular na rocha. A seguinte é pouco melhor do que isso. As demais mostram-se maiores e limpas, mas já estão todas ocupadas. As pessoas amontoam-se nos espaços exíguos em silêncio, homens na sua grande maioria, cercados por animais, feno e capim. São estrebarias que agora acomodam pessoas. José se inquieta ainda mais. Não há possibilidade aparente de privacidade para o nascimento de Jesus, não há lugar nenhum para um abrigo ainda que provisório. 

Avançado o paredão rochoso, José agora se depara com um cinturão de amendoeiras que margeiam o caminho adiante, que se abre, então, para campos e vales ao longe. Bem distante, na encosta suave do outro lado do vale, consegue divisar um pastor empurrando o seu rebanho. Nesse momento, sente os ombros dolorosamente pesados e seu andar vacilante. Seu olhar havia percorrido cada entrada rochosa e cada rosto humano em busca de recepção e de um gesto de boa vontade. E nada. Agora volve o seu olhar para Maria, como que pedindo perdão pela sua incapacidade e incerteza daquele momento. A humanidade inteira geme as suas ânsias pelo olhar desconsolado de José. 

Ao passar pela terceira gruta, Maria sentiu, como uma vibração percorrendo todo o seu corpo, o sopro do Espírito de Deus. Desde o primeiro sinal, recolhera-se, ainda com maior devoção, à oração de dar glórias ao Pai pelo que estava prestes a acontecer. Como serva da Anunciação, era agora a mesma serva como Mãe de Deus. E, nesse momento, pressentira o segundo sinal. A Divina Promessa iria dispensar a Redenção em breve à humanidade pecadora. Ao olhar para José, compreendendo a sua aflição e seu desapontamento, fitou-o com os olhos da perseverança e da fé inquebrantáveis e o brilho deste olhar emanava a própria luz de Deus.

Diante do olhar de Maria, a humanidade de José se detém e suas dúvidas se dissipam. Então, ele avança mais vinte, mais cinquenta metros, contorna as árvores e avista a gruta que emerge da continuação do maciço rochoso à esquerda. É e será sempre a visão do paraíso. Não é exatamente uma gruta, mas uma escavação que avança em profundidade na rocha e é protegida por uma murada frontal de pedras mal alinhadas, trançadas com restos de vigas de madeira, espalhados em desordenada profusão, que fecham de maneira irregular a entrada do lugar, protegendo-o dos ventos e das intempéries. Escondida, erma, isolada, bendita seja a gruta de Belém! 

Ela está suja, úmida, mal cuidada, mas não de todo desconhecida ou abandonada, porque um boi ali se encontra, com bastante feno e água. Há sujeira e palha solta em todos os lugares. Num canto, um arranjo de pedras enegrecidas indica o lugar de costume de se acender o fogo. Aliviado e feliz, José se consome nos arranjos práticos do refúgio improvisado. Ajuda Maria a entrar na gruta e se apressa a alimentá-la e a acomodá-la o melhor possível; dá feno e água ao burrico que é levado para junto do boi, monta um tablado de feno no chão, dispondo cuidadosamente os fardos; com paus e pedras, faz um arremedo de cercado em torno de Maria e o cobre com a sua manta grossa de viagem; empilha num canto os troncos e os pedaços de madeira espalhados; limpa as pedras e o chão com feixes de palhas e, com gravetos e pedaços de madeira seca, acende o fogo. A pequena luz se espalha pela escondida, erma, isolada, bendita gruta de Belém! 


O silêncio da gruta é quebrado apenas pelo crepitar das últimas chamas. O fogo aqueceu o espaço limitado e agora existe mais penumbra do que claridade. O fogo emoldura em repentes luminosos o rosto de José enquanto, pelas aberturas das muradas de pedras, o luar desenha feixes de luzes prateadas que cortam a escuridão que envolve toda a gruta. De repente, Maria põe-se de joelhos em contrita oração. Prostra-se com o rosto no chão e José percebe, apesar de toda a escuridão, o que está para acontecer. Coloca-se também de joelhos, também em fervorosa oração, louvando a Deus por ser testemunha e personagem de mistério tão extraordinário. Em muda expectativa, contempla o perfil de Maria apenas esboçado na escuridão da gruta.

A princípio, supõe ver os feixes de luar convergirem para o rosto de Maria ou auréolas de luz provenientes do fogo a envolverem completamente. Mas sabe que é muito mais que isso: uma luz, de claridade e brilho espantosos, nasce, emana e flui dela, enchendo a gruta de uma tal iridescência, que todas as coisas perdem a forma, o volume e a natureza material. Maria não se transfigura em luz, ela é a própria luz! O rosto de Maria é luz, as vestes de Maria são luz, as mãos de Maria são luz. Mas não é uma luz deste mundo, nem o brilho do cristal mais polido, nem o resplendor do diamante mais lapidado, nem a etérea luminosidade dos átomos em fissão; tudo isso seria uma mera pátina de luz. Maria torna-se um espelho do próprio Deus, da qual emana a luz do Céu!

José se transfigura neste redemoinho de luz sem ser a luz. Seus olhos puderam contemplar o terceiro e definitivo sinal da Natividade de Deus. E trêmulo, mudo, pasmado, contempla o recém-nascido acolhido entre os braços de Maria, recebendo o primeiro carinho e o primeiro beijo da Mãe Imaculada. Pressuroso e em êxtase, prepara a humilde manjedoura, o primeiro altar de Jesus na terra. O Filho do Deus Vivo já habita entre nós!

(Adaptação livre do autor do blog sobre os eventos prévios ao nascimento de Jesus)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

'E O VERBO SE FEZ CARNE!'


O nascimento do Menino Jesus em Belém foi descrito detalhadamente pelos evangelistas São Mateus e São Lucas. E o que estes evangelistas nos falam sobre a origem de Jesus? São Mateus registra a longa genealogia do Salvador, começando por Abraão e terminando com Jacó, que 'gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo (Mt 1,16), e complementa que Maria, então desposada com José, 'concebeu por virtude do Espírito Santo' (Mt 1, 18). 

São Lucas não trata o nascimento de Jesus com uma genealogia, mas com a narrativa da Anunciação: 'No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria' (Lc 1, 26-27). O Anjo explica então a Maria a concepção do Salvador: 'O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus' (Lc 1, 35).

São Marcos, por outro lado, não evoca este período da vida de Jesus, e começa o seu Evangelho com a pregação de João Batista. Por outro lado, se São João também não menciona os eventos relacionados ao nascimento do Salvador, ele inicia o seu Evangelho com o prólogo: Et Verbum caro factum est [e o Verbo se fez carne]São João, em vez de contemplar a geração terrena do Menino Jesus, convida-nos a contemplar a Trindade: 'No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus' (Jo 1,1). 

Desde toda a eternidade, o Pai que é Deus gera o Filho que é Deus. Ambos são, junto com o Espírito Santo, um único Deus. E São João traz os mistérios insondáveis à encarnação do Verbo: 'E o Verbo se fez carne e habitou entre nós' (Jo 1,14). O Verbo de Deus, segunda Pessoa da Trindade, recebe em sua encarnação a natureza humana, unida e indissociável à sua natureza divina, que Ele retém do Pai desde toda a eternidade. 

Deus encarnado nos é dado como criança como graça de redenção e de salvação da humanidade, mistério de amor que, tendo por medida a Divina Vontade, é inconcebível e sem medida pela ótica humana. Aquele olhar de Jesus e de Maria, expressão absoluta da perplexidade humana diante os infinitos mistérios de Deus, perpassa a cada Natal diante os homens de todos os tempos: estamos prestes, mais uma vez, a contemplar Deus feito Homem no meio de nós!

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

'ONDE ESTÁ O PALÁCIO REAL?'


Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar na gruta de Belém, a fim de dar à luz o Filho de Deus? Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; e ao Rei do Céu prepara-se para nascer uma estrebaria fria, para cobri-lo, uns pobres paninhos; para cama, um pouco de palha e para o colocar, uma vil manjedoura? Oh, ingratidão dos homens! Oh, confusão para nosso orgulho que sempre ambiciona comodidades e honras!

I. Continuemos hoje a meditar na história do nascimento de Jesus Cristo. Vendo-se repelidos de toda parte, São José e a Bem-aventurada Virgem saem da cidade a fim de achar fora dela ao menos algum abrigo. Os pobres viandantes caminham na escuridão, errando e espreitando; afinal, deparasse-lhes ao pé dos muros de Belém uma rocha escavada em forma de gruta, que servia de estábulo para os animais. Disse então Maria: José, meu Esposo, não precisamos ir mais longe; entremos nesta gruta e deixemo-nos ficar aqui. 'Mas como?' responde São José; 'não vês, minha Esposa, que esta gruta é tão fria e úmida que a água escorre em toda parte? Não vês que não é uma morada para homens, senão uma estrebaria para animais? Como queres passar aqui a noite e dar à luz?' – 'Contudo é verdade', tornou Maria, 'que este estábulo é o paço real onde quer nascer na terra o Filho eterno de Deus'.

Ah! Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar naquela gruta para dar à luz! Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; preparam-se-lhes berços incrustados com pedras preciosas, e mantilhas preciosas; e fazem-lhe cortejo os primeiros senhores do reino. E ao Rei do Céu prepara-se uma gruta fria e sem lume para nela nascer, uns pobres paninhos para cobri-lo, um pouco de palha para leito, e uma vil manjedoura para o colocar? Ubi aula, ubi thronus? [Onde está o palácio (corte real), onde está o trono?]. 'Meu Deus', assim pergunta São Bernardo, 'onde está a corte, onde está o trono real deste Rei do Céu, porquanto não vejo senão dois animais para lhe fazerem companhia, e uma manjedoura de irracionais, na qual deve ser posto'?

Ó Gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver o Verbo divino nascido dentro de ti! Ó presépio ditoso, que tiveste a honra de receber em ti o Senhor do Céu! Ó palha ditosa, que serviste de leito àquele cujo trono é sustentado pelos serafins! Sim, fostes ditosos, ó gruta, ó presépio, ó palha; mais ditosos, porém, são os corações que, tenra e fervorosamente, amam esse amabilíssimo Senhor e que, abrasados em amor, o recebem na santa Comunhão. Oh, com que alegria e satisfação vai Jesus Cristo pousar no coração que o ama!

II. Um Deus que quer começar a sua infância num estábulo confunde o nosso orgulho e, segundo a reflexão de São Bernardo, já prega com exemplo o que mais tarde havia de pregar à viva voz: 'Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração'. Eis porque ao contemplarmos o nascimento de Jesus Cristo e ao ouvirmos falar em gruta, em manjedoura, em palha, em leite, em vagidos, estas palavras deveriam ser para nós como que chamas de amor, e como que setas que nos ferissem os corações e nos fizessem amantes da santa humildade.

É verdade, ó meu Jesus, Vós, tão desprezado por nosso amor, com o vosso exemplo fizestes os desprezos excessivamente caros e amáveis aos que Vos amam. Mas como então é possível que eu, em vez de os abraçar, como Vós os abraçastes, ao receber algum desprezo da parte dos homens, me tenha mostrado tão orgulhoso, e tenha ainda chegado a ofender-Vos, ó Majestade infinita? Pecador e orgulhoso que sou!

Ah, Senhor, já o compreendo: eu não soube aceitar com paciência as humilhações e as afrontas, porque não Vos soube amar. Se Vos tivera amor, ter-me-iam sido doces e amáveis. Mas visto que prometeis o perdão a quem se arrepende, de toda a minha alma arrependo-me de toda a minha vida desordenada, tão diferente da vossa. Quero emendar-me, e por isso Vos prometo que, para o futuro, aceitarei com paz todos os desprezos que me vierem, e que os sofrerei por vosso amor, ó meu Jesus, que por meu amor tendes sido tão desprezado. Compreendo que as humilhações são as gemas preciosas por meio das quais quereis enriquecer as almas com tesouros eternos. 

Já sou digno de outras humilhações e de outros desprezos, porque desprezei a vossa graça. Mereço ser pisado aos pés do demônio. Mas os vossos merecimentos são a minha esperança. Quero mudar de vida; não quero mais causar-Vos desgosto; daqui por diante, não quero buscar senão a vossa vontade e, por isso, Vos dou todo o meu coração. Possuí-o, e possuí-o para sempre, a fim de que eu seja sempre vosso e todo vosso. E Vós, ó Pai Eterno, que cada ano nos alegrais com a esperança de nossa Redenção, concedei-me que, com confiança, possa esperar a vinda do vosso Filho unigênito como Juiz, a quem agora recebo alegremente como Salvador. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os Dias e Festas do Ano' - Tomo I, de Santo Afonso Maria de Ligório)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

'VOCÊ ME DEIXOU NO PURGATÓRIO!'

Nesta vida mortal, somos tangidos pelos julgamentos humanos, eivados de sentimentalismo e escapismos morais, e com uma tendência absurda de analisar, com especial condescendência, a vida de alguma pessoa falecida que amamos ou que conhecemos muito. Temos um julgamento profundamente equivocado da misericórdia e da justiça de Deus, como se uma pudesse excluir a outra. Criatura alguma que não esteja completamente imaculada de qualquer mísero pecado pode ficar de pé diante de Deus e, assim, somente as almas purificadas e livres de quaisquer pecados podem subir diretamente ao Céu. Em outras palavras, o Purgatório é uma realidade tremenda como fronteira final de nossas vidas no caminho da santidade. 

O trecho abaixo, compilado da obra 'I nostri morti - La casa di tutti' do Pe. Giuseppe Tomaselli (1902 - 1989) é um eloquente testemunho destas verdades cristãs tão esquecidas. Antes de causar espanto e incredulidade - ou desânimo espiritual - pois não conhecemos (como o sacerdote achava conhecer) o que somente Deus sabia sobre os pecados de toda uma vida de uma velha senhora, estes fatos nos devem fazer zelosos e perseverantes na busca de uma santidade pessoal que, usando em abundância dos tesouros e indulgências da Santa Igreja, nos permita obter o perdão de todos os nossos pecados e, ao mesmo tempo, rezar em intenção dos nossos queridos irmãos falecidos, para que eles e nós possamos alcançar a glória eterna sem conhecer o Purgatório. Temos a certeza plena de que os nossos pecados (e as penas devido aos nossos pecados) foram perdoados? As nossas confissões foram boas ou más confissões? 

Neste sentido, lembrem-se de valorizar com especial devoção os tempos santos que estamos vivendo: esta semana é a semana mais santa de todas as semanas do ano. Revelações de vários santos asseguram que, mais do que em qualquer outra data, incluindo o próprio Dia de Todos os Santos, é na Noite de Natal que mais almas são libertas do Purgatório para a glória das moradas eternas! Na Noite de Natal, não esqueça das almas do Purgatório em suas orações.


'Em 3 de fevereiro de 1944, uma senhora muito idosa, com quase oitenta anos, morreu. Ela era a minha mãe. Pude contemplar o seu corpo na capela do cemitério, antes do enterro. Como sacerdote, pensei: 'Você, ó mulher, pelo que posso julgar, nunca violou gravemente um único mandamento de Deus'! E, em minha mente, revisei a vida dela.

Na realidade minha mãe foi um modelo de virtudes e devo a ela, em grande parte, a minha vocação sacerdotal. Todos os dias ia à missa, mesmo na velhice, e sua comunhão era diária. Nunca deixou de rezar o Rosário. Foi sempre caridosa ao extremo, principalmente com os mais pobres e profundamente conformada à vontade de Deus. Assim, quando diante do cadáver do meu pai exposto na nossa casa, perguntei: 'O que posso dizer a Jesus neste momento para agradá-lo?' Ela respondeu: 'Senhor, seja feita a Vossa Vontade!'

Em seu leito de morte, ela recebeu os últimos sacramentos com viva fé. Poucas horas antes de expirar, sofrendo demais, repetiu: 'Ó Jesus, gostaria de pedir-Vos que diminuísse os meus sofrimentos. Mas não quero me opor aos Vossos desejos; que se faça a Vossa Vontade!'... Foi assim que morreu aquela mulher que me trouxe ao mundo.

Baseando-me no conceito da realidade da Justiça Divina, prestando pouca atenção aos elogios que podiam fazer os conhecidos e os próprios sacerdotes, intensifiquei os sufrágios por sua alma. Ofereci a ela um grande número de Santas Missas e atos de caridade e, onde quer que pregasse, exortei os fieis a oferecerem comunhões, orações e boas obras no sufrágio da alma da minha mãe.

Pois bem, Deus permitiu que a minha mãe aparecesse para mim. Analisei a aparição e compartilhei a mesma com bons teólogos, e igualmente concluímos: 'Foi uma verdadeira aparição'! Minha mãe estava morta há dois anos e meio e, de repente, lá estava ela diante de mim, em forma humana. Ela aparentava estar muito triste e então me disse: 'Você me deixou no Purgatório!'

 - Quanto tempo você ficou no Purgatório?
 - Eu ainda estou aqui! Minha alma está rodeada de trevas e não consigo ver a Luz, que é Deus! Estou no limiar do Paraíso, perto das bem aventuranças eternas e anseio de agonia em entrar lá, mas não posso! Quantas vezes eu disse: 'Ah se meus filhos conhecessem o meu terrível tormento, como viriam em meu socorro'!
- E por que você não veio me avisar disso antes?
- Não estava em meu poder.
- Você ainda não viu o Senhor?
- Assim que morri, eu vi Deus, mas não em toda a sua luz.
- O que podemos fazer para libertá-la imediatamente?
- Eu só preciso de uma missa. Deus me permitiu vir aqui e lhe pedir isso a você.
- Assim que você entrar no Paraíso, volte aqui para me contar!
- Se o Senhor o permitir! Que Luz... Que esplendor!... e, em seguida, a visão desapareceu.

Foram celebradas então duas missas na intenção da sua alma e, um dia depois, ela reapareceu me dizendo: 'Entrei no Céu'! Diante destes fatos, me peguei dizendo a mim mesmo: 'Uma vida cristã exemplar, muitos sufrágios por sua alma... e dois anos e meio de Purgatório! Não é isso algo muito além do julgamento dos homens?'

(Excertos da obra 'I nostri morti - La casa di tutti' [Nossos Mortos - Todos em Casa] de Dom Giuseppe Tomaselli).