quarta-feira, 31 de julho de 2024

SOBRE OS BENS MATERIAIS

O cristão que possui bens devem utilizá-los com humildade, sem orgulho, como coisa emprestada, não própria. Dou-vos os bens para o uso. Tanto possuis, quanto concedo; tanto conservais, quanto permito; e tanto permito, quanto julgo útil à vossa salvação. Tal há de ser a vossa atitude quanto ao uso dos bens materiais. Assim fazendo, o cristão obedece aos mandamentos - amando-me sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo - e conserva o coração desapegado das riquezas, afetivamente, como nada possuindo. Não se apega aos bens, não os possui em oposição aos meus desígnios.

Possui externamente, ao passo que seu íntimo é pobre. Tais pessoas, como disse, eliminam o veneno do egoísmo. São os cristãos da 'caridade comum'. Os bens materiais são bons em si mesmo; foram criados por mim, bondade infinita. Os homens hão de usá-los como lhes aprouver, mas no temor e no amor autênticos. Os cristãos não devem virar escravos dos prazeres sensíveis. Se querem ter posses, as temham; mas como dominadores delas, não como dominados. O afeto do coração deve estar em mim, não nas coisas externas; elas não pertencem aos homens, são dadas em empréstimo. Não tenho preferência por pessoas ou posição social, somente pelos desejos do coração.

Quem afastar de si o apego desregrado e se orientar para mim na caridade e no santo temor, tal pessoa poderá escolher o estado de vida que quiser. Em qualquer um deles alcançará a vida eterna. Suponhamos que seja mais perfeito e mais agradável a mim que o homem viva interior e exteriormente despojado dos bens materiais. Se uma pessoa não sentir a coragem de abraçar tal perfeição devido a alguma fraqueza pessoal, que permaneça 'na caridade comum' qualquer que seja seu estado de vida. Em minha bondade dispus que assim fosse para que nenhuma pessoa viesse a desculpar-se por pecados cometidos em determinadas situações. Ninguém poderá dar desculpa, Sou condescendente com as tendências e fraquezas humanas. Se as pessoas desejam viver no mundo, possuir bens, ocupar altas posições sociais, casar-se, ter filhos, trabalhar por eles, façam-no. É lícito viver em qualquer posição social; contanto que se evite o veneno da sensualidade, o qual pode conduzir à morte perpétua.

Se prestares atenção verás que quase todos os males procedem do desordenado apego e ganância da riqueza. Disto nasce o orgulho de quem pretende ser maior que os outros, a injustiça para consigo mesmo e o próximo. A riqueza empobrece e destrói a vida da alma, torna o homem cruel consigo mesmo, prejudica sua dignidade espiritual infinita, faz amar as coisas transitórias. Todos têm obrigação de amar-me, bem infinito. Com a riqueza, o homem perde o gosto pela virtude, o amor da pobreza, o domínio sobre si, torna-se escravo dos bens materiais. Ao amar realidades inferiores a si, torna-se insaciável. Só a mim deve o homem servir, pois sou o seu fim último.

Quantos perigos enfrenta o homem, por terra e por mar, a fim de adquirir riqueza e poder voltar à sua cidade natal entre satisfações e honras; já para conseguir a virtude, é incapaz do menor esforço, não aceita dificuldade alguma! E dizer que as virtudes são a riqueza da alma. Diz meu Filho no Evangelho que 'é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que o rico entrar na vida eterna' (Mt 19,24) quando referia-se àqueles que possuem ou desejam possuir riquezas com desordenado e pecaminoso apego a elas. Afirmei também existirem pobres que, se pudessem, possuiriam com desordenado apego o mundo inteiro. Também eles não passarão pela porta estreita e baixa (agulha). Se não se abaixarem até o chão, se não dominarem o próprio apego, se não dobrarem humildemente a cabeça, como poderão atravessá-la? Outra porta não existe que conduza à vida eterna. Pelo contrário, é larga aquela que conduz à eterna condenação (Mt 7,13).

As realidades terrenas são menores que o homem, para ele foram criadas, não vice-versa. Por tal motivo os bens materiais não o satisfazem; somente Eu sou capaz de saciar o homem. Já os infelizes pecadores, como cegos, afadigam-se continuamente, à procura de uma felicidade fora de mim, e sofrem... Querem saber como sofrem? Quando alguém perde algo com que se identificara, seu apego faz sofrer. É o que acontece com os pecadores, identificados por vários modos, com os bens materiais. Eles se materializam. Uns se identificam com a riqueza, outros com a posição social, outros com os filhos; uns se afastam de mim por apego a uma pessoa; outros transformam o próprio corpo em animal imundo e impuro. Todos eles assim se nutrem de bens terrenos. Gostariam que tais realidades fossem duradouras, mas não o são. Passam como o vento. São perdidas por ocasião da morte e de outros acontecimentos dispostos por mim. Diante de tais perdas, os pecadores entram em sofrimento atroz, pois a dor da separação se compara a desordenada afeição à posse.

Todos estes se carregam com a cruz do diabo e experimentam nesta vida a certeza da condenação. Vivem doentes e, se não se corrigirem, vão para a morte eterna. São homens feridos pelos espinhos das contradições a torturarem-se interna e externamente. E, por cima, sem merecimento algum! Sofrem na alma e no corpo, nada merecem; é sem paciência que padecem estes males. Vivem revoltados, apegando-se aos bens materiais com desordenado amor. É preciso encher a alma de virtudes sob o alicerce da caridade.

(Das Revelações de Santa Catarina de Sena)

terça-feira, 30 de julho de 2024

50 JACULATÓRIAS A DEUS PAI

1. Deus tudo pode.
2. Minha alma tem sede de Deus.
3. Deus meu, meu Deus, meu tudo!
4. Deus seja louvado!
5. Deus Pai do Céu, tende piedade de nós!
6. Dai-me, ó meu Deus, cumprir sempre a vossa Santa Vontade!
7. Dai-me, ó meu Deus, a vossa misericórdia!
8. Ó Deus, tende piedade de mim, pecador!
9. Meu Deus, eu creio, adoro, espero e vos amo. Peço perdão por aqueles que não creem, não adoram, não esperam e não vos amam.
10. Deus Pai, eu tenho confiança em Vós!
11. Deus Pai, eu me abandono e descanso em Vós!
12. Meu Deus, dai-me humildade e a verdadeira sabedoria!
13. Meu Senhor e Meu Deus!
14. Meu Senhor e Meu Deus, protegei-me de todo mal!
15. Meu Senhor e meu Deus, dai-me a graça da perseverança em Vós!
16. Meus Deus, eu vos amo.
17. Eterno Pai, permanecei em mim nesta vida, para que eu seja vosso na eternidade.
18. Ó meu Deus, vós sois o meu refúgio.
19. Ó meu Deus, a vós me entrego de todo coração, de todo espírito, de toda alma.
20. Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeirio de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai, por Ele todas as coisas foram feitas.
21. Tudo posso no Deus que me fortalece!
22. Eu vos amo, ó meu Deus, de todo o meu coração.
23. Eterno Pai, eu vos ofereço as Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo para curar as chagas dos meus pecados.
24. Pai Eterno, dai-me um coração inquieto enquanto não repousar em Vós!
25. Meu Deus, vós sois a minha salvação.
26. Meu Deus, que a vossa misericórdia seja a minha bêncão!
27. Meu Senhor e meu Deus, dai-me a vossa paz!
28. Eterno Pai, eu vos ofereço a dolorosa Paixão de Jesus em expiação dos nossos pecados e do mundo inteiro.
29. Ó meu Deus, nada desejo, a não ser o cumprimento de Vossa Vontade.
30. Deus, meu Deus, em vossas mãos entrego o meu espírito!
31. Meu Criador e meu Deus, eu vos dou o meu nada.
32. Meu Deus, eu vos ofereço o meu nada e, neste nada, todo o meu amor humano.
33. Meu Deus, dai-me a graça das moradas eternas na vossa glória!
34. Meu Senhor e meu Deus, que os vossos desígnios sobre mim sejam misericórdia, misericórdia e misericórdia.
35, Recebei, ó meu Deus, a minha miséria e volvei para mim a vossa misericórdia.
36. Eu vos ofereço a  minha vida, ó meu Deus, pela eternidade convosco.
37. Senhor, meu Deus, vós sabeis tudo, sabeis que eu vos amo.
38. Glória a Deus nas alturas!
39. Ao Deus único, Salvador nosso, por Jesus Cristo, Senhor nosso, sejam dados louvor, poder e glória, desde antes de todos os tempos, agora e para sempre.
40. Deus é luz e nele não há treva alguma.
41. Ó meu Deus e meu rei, eu vos glorificarei, e bendirei o vosso nome pelos séculos dos séculos.
42. Que minha boca proclame o louvor do Senhor meu Deus, e que todo ser vivo bendiga eternamente o seu santo nome.
43. Meu Deus, vós sois o meu rochedo, em quem me refugio; Vós sois o meu escudo e o poder que me salva.
44. Provai e vede quão suave é o Senhor, meu Deus!
45. A minha confiança está no nome do Senhor, que fez o céu e a terra.
46. Eu creio, Senhor meu Deus, mas aumentai a minha fé!
47. Se Deus é por nós, quem será contra nós?
48. Deus de Deus, eu vos dou graças pela minha vida e pela minha fé católica.
49. Tende piedade de mim, ó Senhor, misericórdia!
50. Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido. Ó Senhor, não me afasteis da Vossa Face, nem retireis de mim o Vosso Santo Espírito!

segunda-feira, 29 de julho de 2024

O PENSAMENTO VIVO DE TERESA DE LISIEUX (III)


'A lembrança das minhas faltas humilha-me, leva-me a nunca me apoiar na minha força que só é fraqueza, mas esta lembrança fala-me mais de misericórdia e de amor. Quando lançamos as nossas faltas com uma confiança inteiramente filial no braseiro devorador do Amor, como não seriam elas consumidas para sempre? 


'Coloquemo-nos então humildemente entre os imperfeitos, consideremo-nos almas pequenas que Deus tem de amparar a cada instante: desde que Ele nos vê bem convencidas do nosso nada estende-nos a mão; se ainda queremos tentar fazer alguma coisa de grande mesmo com o pretexto de zelo, Jesus deixa-nos sozinhos... Sim, basta humilhar-se, suportar com doçura as próprias imperfeições. Eis a verdadeira santidade! ... Corramos para o último lugar, pois ninguém nos virá disputar com ele'. 


'Suponha que o filho de um grande médico encontre no caminho uma pedra que o faz cair e que, na queda, ele fratura um membro. O pai acorre imediatamente, levanta-o com amor, trata das suas feridas, empregando para tal todos os recursos da sua arte. Uma vez completamente curado, o filho testemunha-lhe o seu reconhecimento. Sem dúvida, esse filho tem muita razão para amar o pai! Mas vou fazer ainda outra suposição. Tendo o pai ciência que no caminho do filho havia uma pedra, apressa-se a ir à frente dele e retira-a, sem ser visto por ninguém. Certamente, este filho, objeto da sua previdente ternura, não sabendo a desgraça de que o pai o livrou, não lhe testemunhará o seu reconhecimento, e amá-lo-á menos do que se tivesse sido curado por ele… Mas, e se vier a saber o perigo do qual escapou, não o amará ainda mais? Pois bem, eu sou essa filha, objeto do amor previdente de um Pai que não enviou o seu Verbo para resgatar os justos, mas os pecadores. Quer que o ame, porque me perdoou, não muito, mas tudo. Não esperou que eu o amasse muito como Santa Madalena, mas quis que eu soubesse como me tinha amado com um amor de inefável previdência, para que agora o ame loucamente!'


domingo, 28 de julho de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Saciai os vossos filhos, ó Senhor!' (Sl 144)

Primeira Leitura (2Rs 4,42-44) - Segunda Leitura (Ef 4,1-6) -  Evangelho (Jo 6,1-15)

  28/07/2024 - DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM

34. CINCO PÃES E DOIS PEIXES 


Depois da morte do Precursor João Batista, 'Jesus subiu ao monte e sentou-se aí, com os seus discípulos' (Jo 6, 3) para um momento de recolhimento e oração. Mas eis que uma grande multidão, uma esplêndida multidão, saiu das cidades e veio ao seu encontro. Tomado de amor e compaixão, Jesus abandona o seu intento inicial e passa a atender com zelo extremado aquela gente durante todo o dia. E, ao final do dia, famintos de Deus, a multidão agora está faminta de pão.

Jesus pergunta, então, a Filipe: 'Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?' (Jo 6, 5). Sabendo em princípio que tal resposta era insondável, o Mestre coloca o seu discípulo à prova. No meio de um campo aberto e relvado, afastado das cidades, uma enorme multidão, cansada e faminta, veio ficar perto de Deus. Não havia condições de alimentação ali e nem perto dali, porque eram centenas de centenas e 'nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um' (Jo 6, 7). Mas para Deus não existe nada que seja impossível. Movido pela compaixão, Jesus vai realizar ali, diante de todos, um dos seus mais portentosos milagres. E o Cordeiro de Deus há de saciar a todos com o pão da existência e prepará-los também para lhes dar alimento de vida eterna, na Santa Eucaristia.

Pois Deus não nos abandona nunca; não nos cria perspectivas de vida eterna pela insensibilidade de nossas necessidades humanas. Jesus vai dizer em outro momento que 'nem só de pão vive o homem'. Não só de pão, mas também de pão. E, para a incredulidade dos seus discípulos, ordena então: 'Fazei sentar as pessoas' (Jo 6, 10). E, como em tudo o mais, Deus faz uso da graça como fruto da contrapartida humana; Jesus toma o que os homens têm ali a oferecer: cinco pães e dois peixes. Diante de oferta tão singela, vai realizar a partilha do pouco (que é tudo em Deus) entre muitos (que é nada sem Deus), configurando, assim, o prenúncio da partilha do seu Corpo e Sangue na Sagrada Eucaristia.

'Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes (Jo 6, 11). E os poucos pães e os poucos peixes se multiplicaram em muitos pães e em muitos peixes, que alimentaram com fartura a multidão, a ponto de serem recolhidos ainda doze cestos cheios (símbolo da partilha universal da graça divina) no final, pois Deus usa sempre da superabundância da graça para pagar o tributo da oferta sincera do homem. Este prodígio extraordinário é o prenúncio de outro milagre ainda maior que subsiste pelos tempos, a cada Santa Missa: na multiplicação das hóstias, o mesmo Deus é entregue aos homens na plenitude da graça, hoje, ontem e até a consumação dos séculos.

sábado, 27 de julho de 2024

AMOR DE SALVAÇÃO


'E do alto lançaste a mão e desta profunda escuridão arrancaste a minha alma, chorando por mim minha mãe, Tua fiel, diante de Ti, mais do que choram as mães nas exéquias do corpo. Ela via a minha morte na fé e no espírito que recebera de Ti, e Tu ouviste-a, Senhor, ouviste-a e não desprezaste as suas lágrimas, quando irrigavam profusamente a terra debaixo dos seus olhos em todo o lugar da sua oração: ouviste-a.

Pois donde veio aquele sonho com que a consolaste, para que acedesse a viver comigo e a ter comigo a mesma mesa em casa? O que começara por não querer, repudiando e detestando as blasfêmias do meu erro. Viu, com efeito, de pé, numa espécie de régua de madeira, um jovem que vinha em direção a ela, resplandecente, alegre e sorrindo-lhe, estando ela acabrunhada e consumida pela tristeza e das suas lágrimas diárias, para informar, como é costume, não para saber, e como ela respondesse que chorava a minha perdição, ele ordenou e advertiu, para que ficasse tranquila, que reparasse e visse que, onde ela estava, estava também eu. 

Quando ela reparou, viu-me ao seu lado de pé na mesma régua. Porquê isto, senão porque os Teus ouvidos estavam junto do seu coração, ó Tu, bom e onipotente, que cuidas de cada um de nós como se cuidasses de um só, e de todos como de cada um?'

(Confissões, de Santo Agostinho)

sexta-feira, 26 de julho de 2024

26 DE JULHO - SÃO JOAQUIM E SANTA ANA

Sagrada Família com São Joaquim e Santa Ana (Nicolás Juarez, 1699)

De acordo com a Tradição Católica e documentos apócrifos antigos, os pais de Maria foram São Joaquim e Santa Ana. Ana, em hebraico Hannah, significa 'Graça' e Joaquim equivale a 'Javé prepara ou fortalece'. Ambos os nomes indicam, portanto, a  missão divina de realização das promessas messiânicas, com o nascimento da Mãe do Salvador. Segundo a mesma Tradição, os pais de Maria teriam nascido na Galileia, transferindo-se depois para Jerusalém, onde Maria nasceu e onde ambos morreram e foram enterrados.

O culto aos pais de Maria Santíssima é antiquíssimo na Igreja Oriental (como revelados nos escritos de São Gregório de Nissa e Santo Epifânio, em hinos gregos e em homilias dos Santos Padres). Os túmulos de São Joaquim e Santa Ana em Jerusalém foram honrados até o final do Século IX, numa igreja construída no local onde viveram. No Ocidente, o culto de Santa Ana é muito mais recente, com sua festa litúrgica tendo início na Idade Média, sendo formalizada no Missal Romano apenas em 1584, no tempo de Gregório XIII. A devoção a São Joaquim foi ainda mais tardia no Ocidente.

Como pais de Nossa Senhora, São Joaquim e Santa Ana são nossos avós espirituais e o calendário litúrgico instituiu a festa conjunta destes dois santos em 26 de julho, que ficou também conhecida como 'dia dos avós'. Eles são também os santos protetores da Ordem dos Carmelos Descalços (fundada no Século XVI por Santa Teresa de Ávila). No dia dos avós, o blog presenteia os nossos irmãos mais velhos com estas duas orações.

Oração a Santa Ana

Santa Ana, mãe da Santíssima Virgem, pela intercessão da Vossa Filha e do Meu Salvador, dai-me obter a graça que Vos peço, o perdão dos meus pecados, a força para cumprir fielmente os meus deveres de cristão e a perseverança eterna no amor de Jesus e de Maria. Amém.

Oração a São Joaquim

Senhor! Pela intercessão de São Joaquim, pai da Santíssima Virgem, velai pelos Vossos filhos idosos, especialmente... (nomes) que, tendo cumprido na Terra uma vida longa, possa(m) merecer de Vós a Vida Eterna no Céu. Senhor, dai-lhes o conforto de uma idade avançada, saúde do corpo e da alma, a sabedoria de envelhecer e um coração inquieto enquanto não repousar em Vós. Amém.  

quinta-feira, 25 de julho de 2024

HOMILIA AOS NOSSOS ANJOS DA GUARDA

A teu respeito ordenou aos seus anjos que te guardem em todos os teus caminhos (Sl 90,11). Louvem o Senhor por sua misericórdia e suas maravilhas para com os filhos dos homens. Louvem e proclamem às nações que o Senhor agiu de modo magnífico a favor deles. Senhor, que é o homem para que assim o conheças? Ou por que inclinas para ele teu coração? Aproximas dele teu coração, enches de solicitude por sua causa, cuidas dele. Enfim, a ele envias o teu Unigênito, infundes o teu Espírito, prometes até a visão de tua face. E para que nas alturas nada falte no serviço ao nosso favor, envias os teus santos espíritos a servir-nos, confias-lhes nossa guarda, ordenas que se tornem nossos protetores.

A teu respeito, ordenou aos seus anjos que te guardem em todos os teus caminhos. Esta palavra quanta reverência deve despertar em ti, aumentar a gratidão, dar confiança. Reverência pela presença, gratidão pela benevolência, confiança pela proteção. Estão aqui, portanto, e estão junto de ti, não apenas contigo, mas em teu favor. Estão aqui para proteger, para te serem úteis. Na verdade, embora enviados por Deus, não nos é lícito ser ingratos para com eles que, com tanto amor, lhe obedecem e em tamanhas necessidades nos auxiliam.

Sejamos-lhes fiéis, sejamos gratos a tão grandes protetores; paguemos-lhes com amor; honremo-los tanto quanto pudermos, quanto devemos. Prestemos, no entanto, todo o nosso amor e nossa honra àquele que é tudo para nós e para eles; de quem recebemos poder amar e honrar, de quem merecemos ser amados e honrados. Assim, irmãos, nele amemos com ternura seus anjos como futuros co-herdeiros nossos, e enquanto esperamos nossos intendentes e tutores dados pelo Pai como nossos guias. Porque agora somos filhos de Deus, embora não se veja, pois ainda estamos sob tutela quais meninos que em nada diferem dos servos.

Aliás, mesmo assim tão pequeninos e restando-nos ainda uma tão longa, e não só tão longa, mas ainda tão perigosa caminhada, que temos a temer com tão poderosos protetores? Eles não podem ser vencidos, nem seduzidos, e ainda menos seduzir, aqueles que nos guardam em todos os nossos caminhos. São fiéis, são prudentes, são fortes; por que trememos de medo? Basta que os sigamos, unamo-nos a eles e habitaremos sob a proteção do Deus do céu.

(Dos Sermões de São Bernardo)

quarta-feira, 24 de julho de 2024

TRATADO SOBRE A HUMILDADE (VII)

 

47. Todo santo pode, num dado momento, tornar-se pecador, se for vaidoso da sua santidade; e o pecador pode, com a mesma rapidez, tornar-se santo, se for contrito e humilhar-se pelo seu pecado. Quantos são os que, no fervor da sua oração, 'sobem aos céus' e, logo a seguir, à menor ocasião de pecado, 'descem aos abismos'! [Sl 106,26]. Quantos há também que, entregues à vaidade e manchados pelos pecados mais profundos, transformam-se subitamente, abrindo os olhos para o conhecimento da verdade e atingindo assim a perfeição cristã! De fato, os altos conselhos de Deus devem ser adorados e não escrutinados, porque 'o Senhor humilha e exalta; levanta do pó o mendigo; e ergue o pobre do esterco' [1Sm 2,7-8].

Quem sabe se aquele que julgo e de quem falo mal não é mais querido por Deus do que eu? Se um outro a quem tenho pouca estima e desprezo por seus defeitos físicos ou morais não está destinado a ser muito feliz com Deus por toda a eternidade? Quem sabe se eu não estarei condenado às dores do inferno por toda a eternidade? Com esta incerteza, como é que posso ter a presunção de me considerar melhor do que qualquer outro? Ninguém vale mais do que aquilo que vale aos olhos de Deus, e como posso saber se sou um objeto de ódio ou de amor para Deus? 'Pois, contudo, o homem não sabe se é digno de amor ou de ódio' [Ecl 9,1]. Como é que eu sei se Deus vai moldar um vaso de honra ou de desonra a partir do barro de que sou feito? 'O que há de superior em ti?' [1 Cor 4,7] e 'Mas para que servem estes vasos? O Oleiro será o juiz' [Sb 15,7].

Quando leio sobre São Paulo, arauto do Espírito Santo e grande doutor dos gentios, que dizia de si mesmo que vivia com medo de cair em pecado e de se tornar um náufrago, depois de ter convertido tantos milhares de almas a Deus: Se o próprio São Paulo, que foi arrebatado ao terceiro céu e podia dizer que 'Cristo vivia nele' e 'agora vivo, não eu, mas Cristo que vive em mim' [Gl 2,20], devia temer assim, que direi de mim mesmo, que sou tão desprezível? No dia do juízo, quantos veremos à direita de Deus, a quem considerávamos náufragos, e quantos veremos à sua esquerda, a quem julgávamos estar entre os seus eleitos! Mas seria bom para nós, quando fazemos comparações entre nós e os outros, dizer o que Juda disse de Thamar: 'Ela é mais justa do que eu' e, em alguma circunstância ou outra, isso sempre se mostrará verdadeiro. São Tomás ensinou que um homem pode dizer e acreditar com verdade que é pior do que os outros, em parte devido aos defeitos ocultos que sabe que possui e, em parte, devido aos dons de Deus que estão ocultos nos outros [xxii, qu. 161, art. 6 ad 2].

48. Quem me garante que não cairei em breve num pecado mortal? E, uma vez caído, quem me garante que não morrerei em pecado e serei condenado ao castigo eterno? Enquanto viver neste mundo, não posso ter a certeza de nada. Tenho esperança de salvar a minha alma, mas também tenho medo de a perder. Ó minha alma, não pretendo deprimir-te; não, nem quero encher-te de desespero pusilânime com estes pensamentos. Desejo apenas que sejas humilde. E quanta razão tens para te humilhares nesta incerteza, não sabendo que tipo de morte será a tua, nem qual será o teu destino por toda a eternidade? É somente na medida de tua humildade que podes esperar agradar a Deus e salvar a ti mesmo, porque é certo que Deus 'salvará os humildes' [Sl 17,28] e 'salvará os humildes de espírito' [Sl 33,19].

Há quem pense que meditar sobre o mistério da predestinação é suscetível de nos encher de desespero; mas parece-me, como também a Santo Agostinho, que este pensamento é um meio muito eficaz de praticar a humildade [Lib. de Praedest. et Grat.] porque, quando medito sobre a minha salvação eterna, vejo que ela não depende do poder do meu livre arbítrio, mas apenas da misericórdia divina. Não confiando em mim mesmo, mas pondo toda a minha esperança em Deus, devo dizer com a sabedoria de Judite: 'E, portanto, humilhemos as nossas almas perante Ele, e continuando com um espírito humilde no seu serviço, peçamos ao Senhor que mostre a sua misericórdia para conosco' [Jt 8, 16-17].

49. É um dom especial de Deus saber como governar a língua, como diz o pregador em seus Provérbios: 'É o Senhor que governa a língua' [Pv 16,1] e, quando Deus quer conferir este seu dom a alguém, o faz por meio da humildade. E o Salvador ensina-nos ainda que 'a boca fala do que lhe transborda do coração' [Mt 12,34]. Portanto, se o coração estiver bem regulado pela humildade, a língua também estará bem regulada.

Aquele que é humilde de coração não tem senão uma má opinião de si mesmo e uma boa opinião dos outros; é por isso que nunca se elogia nem censura os outros. O homem humilde fala pouco, pondera e mede as suas palavras para não dizer mais do que a verdade e a modéstia exigem e, como o seu coração está livre de vaidade, assim é a sua fala. Argumentamos, portanto, que pode haver pouca ou nenhuma humildade em nossos corações quando há pouca ou nenhuma continência em nossa fala. 'O seu coração é vão' - diz o profeta e é por isso que ele acrescenta - 'a sua garganta é um sepulcro aberto' [Sl 5,10]. Falamos das coisas que enchem o coração: 'a boca fala daquilo de que o coração está cheio' [Lc 6,45] e o nosso falar determinará se no nosso coração predomina a verdade ou a vaidade. É bom pedir a Deus que refreie a nossa língua, mas peçamos-lhe também que nos dê humildade ao nosso coração, pois isso por si só já será um autocontrole muito poderoso.

('A Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)

terça-feira, 23 de julho de 2024

MUITO FAZ AQUELE QUE MUITO AMA

 


1. Por nenhuma coisa do mundo, nem por amor de pessoa alguma, se deve praticar qualquer mal; mas, em prol de algum necessitado, pode-se, às vezes, omitir uma boa obra, ou trocá-la por outra melhor. Desta sorte, a boa obra não se perde, mas se converte em outra melhor. Sem a caridade, nada vale a obra exterior; tudo, porém, que da caridade procede, por insignificante e desprezível que seja, produz abundantes frutos, porque Deus não atende tanto à obra, como à intenção com que a fazemos.

2. Muito faz aquele que muito ama. Muito faz quem bem faz o que faz. Bem faz quem serve mais ao bem comum que à sua própria vontade. Muitas vezes parece caridade o que é mero amor-próprio, porque raras vezes nos deixa a inclinação natural, a própria vontade, a esperança da recompensa, o nosso interesse.

3. Aquele que tem verdadeira e perfeita caridade em nada se busca a si mesmo, mas deseja que tudo se faça para a glória de Deus. De ninguém tem inveja, porque não deseja proveito algum pessoal, nem busca sua felicidade em si, mas procura sobre todas as coisas ter alegria e felicidade em Deus. Não atribui bem algum à criatura, mas refere tudo a Deus, como à fonte de que tudo procede, e em que, como em fim último, acham todos os santos o deleitoso repousar. Oh! Quem tivera só uma centelha de verdadeira caridade logo compreenderia a vaidade de todas as coisas terrenas!

(Da Imitação de Cristo, de Thomas de Kempis)

segunda-feira, 22 de julho de 2024

PALAVRAS ETERNAS (XIX)


'Como podes amar ao Senhor se amas a farsa e o vinho, as pompas do mundo e as suas vaidades enganosas? Aprende a não amar para que aprendas a amar; afasta-te, para poderes acercar-te; esvazia-te, para que possas encher-te da verdade'.

(Santo Agostinho)

domingo, 21 de julho de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'O Senhor é o pastor que me conduz: felicidade e todo bem hão de seguir-me!' (Sl 22)

Primeira Leitura (Jr 23,1-6) - Segunda Leitura (Ef 2,13-18) -  Evangelho (Mc 6,30-34)

  21/07/2024 - DÉCIMO SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

33. A DUALIDADE DA GRAÇA


O Evangelho deste domingo reflete as dimensões opostas da vida cristã em comunidade e em isolamento, feitas das santas alegrias do convívio social ou moldadas pelas graças do recolhimento absoluto, tangidas pelo frenesi de multidões em marcha ou pelo silêncio contemplativo dos claustros mais inacessíveis. Como nos são diversos os desígnios do Senhor! Quão diversos são os caminhos e os meios que imprimem a santidade no coração e na alma daqueles que buscam sinceramente a Deus!

Os Apóstolos haviam sido enviados por Jesus em missão, 'dois a dois' (Mc 6,7), com a recomendação expressa de levarem muito pouca coisa: 'nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura' e nem 'duas túnicas' (Mc 6, 8 - 9) e providos pela graça do dom da cura e do 'poder sobre os espíritos impuros' (Mc 6, 7). E estes homens, pescadores sem erudição, sem alforge e sem preparos retóricos, cumpriram, com coragem heróica e humildade santa, os ditames proclamados pelo Mestre: levar a Boa Nova a todos os povos e a todas as nações! E, na santa alegria da primeira missão apostólica cumprida, retornam agora ao convívio do Senhor e, cheios de júbilo, 'contaram tudo o que haviam feito e ensinado' (Mc 6, 30).

No convívio do Senhor! Na santa alegria do convívio do Senhor e dos demais Apóstolos, as primícias da Igreja são matizadas naqueles tempos pioneiros da evangelização universal. Uma comunidade viva, moldada pelos princípios das sólidas virtudes da humildade, do despojamento, da fraternidade e da partilha. Uma comunidade que crescia, que exigia novas pregações, que demandava zelo e tempo... Jesus, então, chama os seus discípulos: 'Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco' (Mc 6, 31). No meio da multidão, Jesus os exorta a viver a outra dimensão da realidade cristã, moldada pelo anonimato, pelo silêncio e pela solidão com Deus.

Nesse encontro pessoal com Deus, Jesus nos ensina a buscar a barca, os montes ou o deserto. Sim, na busca de uma maior intimidade com as coisas sobrenaturais, impõe-se afastar do burburinho e da agitação do mundo, para se mergulhar a alma no repouso físico e na contemplação do espírito. Eis, assim, a síntese da perfeição cristã, que associa ação e contemplação, convívio fraterno e recolhimento interior! E, como um círculo de perfeição, refaz-se em seguida a dualidade da graça: as multidões acercam-se uma vez mais do Mestre e este, movido pela compaixão, cerne da verdadeira devoção cristã, recomeça a sua pregação divina 'porque eram como ovelhas sem pastor' (Mc 30, 34).

sábado, 20 de julho de 2024

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXXXV)

Capítulo LXXXV

Razões e Recompensas pela Devoção às Santas Almas - Santo Ambrósio - São João da Cruz: Dar Esmolas por Amor de Si Mesmo - Santa Brígida e o Beato Pedro Lefevre

Acabamos de ver como a caridade para com as almas dos falecidos é santa e meritória diante de Deus - sancta cogitatio. Resta mostrar como é salutar, ao mesmo tempo, para nós mesmos - salubris cogitatio. Se a excelência da obra em si mesma é um incentivo tão poderoso, as preciosas vantagens que dela derivam não são menos estimulantes. Consistem, por um lado, nas graças que recebemos em recompensa da nossa generosidade e, por outro, no fervor cristão que esta boa obra nos inspira. 'Bem aventurados' - disse o nosso Salvador - 'os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia' (Mt 5,7); 'Feliz quem se lembra do necessitado e do pobre, porque no dia da desgraça o Senhor o salvará' (Sl 40,2); 'Todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes' (Mt 25, 40); 'O Senhor use convosco de misericórdia, como vós usastes com os que morreram' (Rt 1,8). Todas estas diferentes frases exprimem, no seu sentido mais forte, a caridade para com os defuntos.

Tudo o que oferecemos a Deus pela caridade para com os mortos - diz Santo Ambrósio no seu Livro dos Ofícios - transforma-se em mérito para nós e nos reverte centuplicado depois da nossa morte -  Omne quod defunctis impenditur, in nostrum tandem meritum commutatur, et illud post mortem centuplum recipimus duplicatum. Podemos dizer que o espírito da Igreja e os argumentos dos doutores e dos santos, estão expressos nestas palavras: 'O que fizerdes pelos mortos, fazeis de modo excelente por vós mesmos'. A razão disto é que esta obra de misericórdia nos será revertida centuplicada, no tempo da alição. Podemos aplicar aqui as célebres palavras de São João de Deus quando pediu aos habitantes de Granada que lhe dessem uma esmola por amor de si mesmos. Para prover às necessidades dos doentes que acolhia no seu hospital, o caridoso santo percorria as ruas de Granada, gritando: 'Dai esmolas, meus irmãos, dai esmolas por amor de vós mesmos'.

As pessoas ficavam espantadas com esta nova forma de expressão porque sempre tinham estado habituadas a ouvir: esmola por amor de Deus. 'Por que' - perguntaram ao santo - 'nos pedes que demos esmola por amor de nós mesmos?' Ao que ele espondeu: 'Porque este é o grande meio de redimir os vossos pecados, conforme as palavras do Profeta: redime os teus pecados com esmolas e as tuas iniquidades com obras de misericórdia para com os pobres' (Dn 4,24). Dando esmolas, trabalhais no vosso próprio interesse, pois assim diminuís os terríveis castigos que os vossos pecados mereceram. Não devemos concluir que tudo isso se aplica também às esmolas dadas às almas do Purgatório? Ajudá-las é preservar-nos das terríveis expiações a que de outro modo não poderíamos fugir. Podemos, pois, clamar com São João de Deus: 'Dai-lhes a esmola dos vossos sufrágios; assisti-as por amor de vós mesmos'. A generosidade para com os falecidos é sempre retribuída; encontra a sua recompensa em toda a espécie de graças, cuja fonte é a gratidão das almas santas e a de Nosso Senhor, que considera como feito a si mesmo tudo o que fazemos pelas almas penitentes.

Santa Brígida declara nas suas Revelações - e o seu testemunho é citado por Bento XII (Serm. 4, 12) - que ela ouviu uma voz das profundezas das chamas do Purgatório pronunciando estas palavras: 'Sejam bem aventurados e sejam recompensados os que nos aliviam nestas dores!' E em uma outra ocasião: 'Ó Senhor Deus, mostrai o vosso poder onipotente em recompensar cem vezes mais aqueles que nos ajudam com os seus sufrágios, e fazei brilhar sobre nós os raios da luz divina'. Em outra visão, a santa ouviu a voz de um anjo que dizia: 'Abençoados sejam na terra aqueles que, pelas suas orações e boas obras, aprestam-se em auxílio das pobres almas sofredoras!"

O Beato Pedro Lefevre, da Companhia de Jesus, tão conhecido pela sua devoção para com os santos anjos, tinha também uma devoção especial para com as almas do Purgatório. 'Essas almas' - dizia ele - 'têm anelos de caridade que estão sempre dirigidos para aqueles que ainda caminham entre os perigos desta vida; elas estão cheias de gratidão para com aqueles que as ajudam. Elas podem rezar por nós e oferecer os seus tormentos a Deus em nosso favor'. É uma excelente prática invocar as almas do Purgatório para que possamos obter de Deus, por sua intercessão, um verdadeiro conhecimento dos nossos pecados e uma perfeita contrição por eles, fervor no exercício das boas obras, cuidado em produzir frutos dignos de penitência e, em geral, praticar todas as virtudes, cuja ausência foi a causa dos seus atuais e terríveis castigos.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog

sexta-feira, 19 de julho de 2024

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Dou-te a conhecer os cinco caminhos da conversão: o primeiro é o arrependimento pelos nossos pecados; depois, o perdão concedido às ofensas do próximo; o terceiro consiste na oração; o quarto, na esmola; o quinto, na humildade. Não fiques, pois, inativo, mas toma cada dia todos estes caminhos. São caminhos fáceis e não podes apresentar como pretexto a tua miséria. Pois, mesmo que vivas na maior pobreza, podes abandonar a cólera, praticar a humildade, rezar assiduamente e arrepender-te dos teus pecados...Esta é a maneira de curarmos as nossas feridas: apliquemos, pois, estes remédios. Tendo retomado a saúde da alma, aproximar-nos-emos da mesa santa e, com muita glória, iremos ao encontro do Rei da glória, Cristo. Ganhemos os bens eternos pela graça, a bondade e a misericórdia de Jesus Cristo Nosso Senhor.

(São João Crisóstomo)

quinta-feira, 18 de julho de 2024

TESOURO DE EXEMPLOS (351/355)

 

351. MÃES BOAS, FILHOS SANTOS

Vão aqui alguns exemplos mais conhecidos: Santo Agostinho, filho de Santa Mônica; São João Crisóstomo, filho de Santa Antusa; São Gregório Magno, filho de Santa Silvia; São Basílio, São Gregório Nisseno, São Pedro de Sebaste e Santa Macrina, filhos de Santa Emélia; São Bento, filho de Santa Nona; São Bernardo, filho de Santa Alata; São Domingos de Gusmão, filho de Santa Joana de Aza; Santa Catarina de Suécia, filha de Santa Brígida...

352. VIRTUDE DA ÁGUA BENTA

Evélia, nobre dama de Antioquia, recorreu a São João Crisóstomo, pedindo-lhe que rogasse por um filho seu enfermo, o último que lhe restava de quatro que tivera. Foi o santo à casa daquela senhora, deu uma benção ao enfermo e aspergiu-o com água benta. A graça da cura não se fez esperar.

353. AS VELAS NO DIA DE SÃO BRÁS

São Brás primeiro foi médico e depois bispo. Certo dia apresentou-se-lhe uma mulher com um menino que tinha uma espinha de peixe atravessada na garganta e que se achava em perigo de vida. O santo colocou sobre o pescoço do menino duas velas em forma de cruz e deu-lhe uma benção. Saltou fora a espinha e o menino salvou-se. Em memória desse fato benzem-se, na festa de São Brás, velas apropriadas para nos preservar da dor de garganta e do engasgo.

354. VIRTUDE DA MEDALHA MILAGROSA

Um rapaz de vida selvagem e escandalosa, em abril de 1904, entrou no hospital de Lérida ferido por duas punhaladas. Seu nome era Libório Menasil, mais conhecido pela alcunha de 'o demônio'. No hospital blasfemava continuamente, insultava as Irmãs e escandalizava a todos; quis mesmo agredir a Irmã porque esta lhe falou de Deus. Apesar de tudo, puseram-lhe dissimuladamente uma medalha milagrosa debaixo do travesseiro e começaram a orar por ele na capela. Pouco depois 'o demônio' pedia um sacerdote, confessava-se com grande arrependimento e pedia a todos perdão pelos escândalos dados.

355. POR QUE ME CONDENASTE?

Um santo teve uma visão, na qual viu como Satanás, de pé diante de Deus, dizia-lhe: 'Por que me condenaste por um só pecado que cometi, e ao contrário salvas a tantos que te ofenderam milhares de vezes?'
E Deus respondeu: 'Porque o homem me pede perdão e tu, nunca. O homem se confessa e tu, não'.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

quarta-feira, 17 de julho de 2024

ORAÇÃO PELA CONVERSÃO DIÁRIA


Meu Senhor Jesus, cujo amor por mim foi suficientemente grande para vos fazer descer do céu para me salvar, mostrai-me o meu pecado, manifestai-me a minha indignidade, ensinai-me a arrepender-me sinceramente e perdoai-me na vossa misericórdia. Eu vos peço, meu querido Salvador, que tomeis posse da minha pessoa. Só o vosso perdão o pode fazer; não posso salvar-me sozinho; não sou capaz de recuperar o que perdi.

Sem Vós, não posso voltar-me para Vós, nem vos agradar. Se contar apenas com as minhas forças, irei de mal a pior e, fraquejando completamente, vou vos perder por negligência. Serei o centro de mim mesmo em vez de o fazer por Vós. Adorarei qualquer ídolo moldado por mim, em vez de vos adorar, o único verdadeiro Deus, o meu Criador, se não o impedirdes com a vossa graça.

Meu senhor e meu Deus, escutai-me! Já vivi o suficiente neste estado a vagar indeciso e sem rumo; quero ser um vosso fiel servidor, não quero pecar mais. Sede misericordioso para comigo, fazei com que me seja possível, pela vossa graça, tornar-me aquele que deveria ser diante de Vós.

(Santo John Henry Newman)

terça-feira, 16 de julho de 2024

GLÓRIAS DE MARIA: MÃE E FORMOSURA DO CARMELO

    


No dia 16 de julho de 1251, São Simão Stock suplicava a intercessão de Nossa Senhora para resolver problemas da Ordem Carmelita quando teve uma visão da Virgem que, trazendo o Escapulário nas mãos, lhe disse as seguintes palavras:

"Filho diletíssimo, recebe o Escapulário da tua Ordem, sinal especial de minha amizade fraterna, privilégio para ti e todos os carmelitas. Aqueles que morrerem com este Escapulário não padecerão o fogo do Inferno. É sinal de salvação, amparo e proteção nos perigos, e aliança de paz para sempre". 


Imposição e Uso do Escapulário

- Qualquer padre pode fazer a bênção e imposição do Escapulário à pessoa.

2 - A bênção e a imposição valem para toda a vida e, portanto, basta receber o Escapulário uma única vez.

- Quando o Escapulário se desgastar, basta substituí-lo por um novo.

- Mesmo quando alguém tiver a infelicidade de deixar de usá-lo durante algum tempo, pode simplesmente retomar o seu uso, não sendo necessária outra bênção.

5 - Uma vez recebido, o Escapulário deve ser usado em todas as ocasiões (inclusive ao dormir), preferencialmente no pescoço.

6 - Em casos de necessidade de retirada do Escapulário, como no caso de doenças e/ou internações em hospitais, a promessa de Nossa Senhora se mantém, como se a pessoa o estivesse usando.

7 - Mesmo um leigo pode fazer a imposição do Escapulário a uma pessoa em risco de morte, bastando recitar uma oração a Nossa Senhora e colocar na pessoa um escapulário já bento por algum sacerdote.

8 - O Escapulário pode ser substituído por uma medalha que tenha, de um lado, o Sagrado Coração de Jesus e, do outro, uma imagem de Nossa Senhora (por autorização do Papa São Pio X).
Oração a Nossa Senhora do Carmo
     Ó Virgem do Carmo e mãe amorosa de todos os fiéis, mas especialmente dos que vestem vosso sagrado Escapulário, em cujo número tenho a dita de ser incluído, intercedei por mim ante o trono do Altíssimo. 

          Obtende-me que, depois de uma vida verdadeiramente cristã, expire revestido deste santo hábito e, livrando-me do fogo do inferno, conforme prometestes, mereça sair quanto antes, por vossa intercessão poderosa, das chamas do Purgatório.

        Ó Virgem dulcíssima, dissestes que o Escapulário é a defesa nos perigos, sinal do vosso entranhado amor e laço de aliança sempiterna entre Vós e os vossos filhos. Fazei, pois, Mãe amorosíssima, que ele me una perpetuamente a Vós e livre para sempre minha alma do pecado. 

       Em prova do meu reconhecimento e fidelidade, ofereço-me todo a Vós, consagrando-Vos neste dia os meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração e todo o meu ser. E porque Vos pertenço inteiramente, guardai-me e defendei-me como filho e servidor vosso. Amém.

segunda-feira, 15 de julho de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXVII)

Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814) foi o maior artista brasileiro de arte barroca de todos os tempos. Sua arte, presente em obras sacras distribuídas por várias cidades históricas de Minas Gerais, retrata e expressa um barroco europeu renovado e adaptado singularmente pelo gênio do artista. São criações muitíssimo pessoais, que podem ser identificadas por traços e características marcantes, como as que são destacadas abaixo, na sua peça da cabeça de Cristo, figura em cedro e parte integrante do cenário dos chamados Passos da Paixão, obra localizada em Congonhas do Campo/MG.

domingo, 14 de julho de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade e a vossa salvação nos concedei! (Sl 84)

Primeira Leitura (Am 7,12-15) - Segunda Leitura (Ef 1,3-14) -  Evangelho (Mc 6,7-13)

  14/07/2024 - DÉCIMO QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

32. A MISSÃO DOS APÓSTOLOS


Em Nazaré, Jesus não pôde realizar milagre algum. Ali, foi rejeitado e caluniado pelos seus próprios conterrâneos, movidos pelos escrúpulos humanos dos mistérios da iniquidade. Pois foi dessa mesma Nazaré da incredulidade humana, que Jesus moveu os seus discípulos à missão de um apostolado universal, de forma a levar a Boa Nova a todas as criaturas, a todos os povos e a todas nações: 'Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!' (Mt 28, 18 - 20). Provavelmente para enfatizar a todos eles a dureza da missão que lhes era confiada: as sementes devem ser lançadas, os frutos dependerão da acolhida do coração humano.

Jesus escolheu Doze Apóstolos para esta missão universal. No simbolismo dos números bíblicos, doze é o número da perfeição: 'Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito’(Mt 5, 48). E os enviou 'dois a dois' (Mc 6,7) para que cada um deles tivesse no outro a contrapartida da fortaleza, da vigilância e da perseverança para o pleno cumprimento de uma missão particularmente difícil: 'Eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos (Mt 10, 16). E Jesus os exorta, nesta missão, a uma plena disposição de alma, a uma entrega absoluta nas mãos da Providência: 'Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas' (Mc 6, 8 - 9). E lhes deu o dom da cura e o 'poder sobre os espíritos impuros' (Mc 6, 7)

Não é preciso levar alforge ou vestimenta especial, apenas a entrega complacente à Santa Vontade de Deus. É imperioso o serviço da vocação; os frutos pertencem aos ditames da Providência. O reino de Deus deve ser proclamado para todos, em todos os lugares, mas a Boa Nova será recebida com jubilosa gratidão num lugar ou indiferença profunda em outro; aqui vai gerar frutos de salvação, mais além será pedra de tropeço. Em outros lugares ainda, será rejeitada simplesmente e, nestes, a sentença não será velada: 'Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!' (Mc 6, 11).

Eis a síntese do apostolado cristão para os homens de sempre: anunciar o Evangelho de Cristo ao mundo inteiro. Ser missionário e se fazer apóstolo, aí estão as marcas de identidade de um cristão no mundo. De todos os cristãos: os primeiros doze apóstolos, os outros setenta e dois, os cristãos de todos os tempos, eu e você. Como cordeiros entre lobos, como emissários da paz entre promotores das guerras, os cristãos estão no mundo para torná-lo um mundo cristão. O apostolado começa com o bom exemplo, expande-se com o amor ao próximo, multiplica-se pela caridade. E ainda que fôssemos capazes de domar a natureza e realizar prodígios, a felicidade cristã não está nos eventos temporais aqui na terra, mas na Eterna Glória daqueles que souberam combater o 'bom combate' (2Tm 4,7).

sábado, 13 de julho de 2024

SOBRE O AMOR A DEUS

Primum instrumentum! Para o 'obreiro' espiritual, o amor a Deus deve ser o primeiro instrumento. É essa a alavanca motora que o levará a transformar toda a sua atividade natural em algo sobrenatural. Uma obra só tem valor se tiver como princípio o desejo de agradar a Deus, ou seja, se for regida pelo amor. É deste amor que a alma cristã retira a força para obedecer aos mandamentos e a alma do religioso o sustento para prover a salvação das almas. Quando a natureza recua diante das dificuldades da tarefa; quando a suscetibilidade se revolta diante das humilhações; quando se enfrentam as perseguições inevitáveis, é no amor que o verdadeiro discípulo de Cristo vai buscar a fortaleza de que necessita.

Foi no amor a Deus que os mártires assentaram os fundamentos das suas forças; os apóstolos, o estímulo do seu zelo; os confessores e as virgens, o sustentáculo de todas as virtudes. Se perguntarmos a Santa Teresa como ela renovou a vida contemplativa e levou aos quatro cantos do mundo a luz radiosa do Carmelo renovado; a São Francisco Xavier, qual foi o instrumento de suas tantas conquistas espirituais;  a tantos outros santos quais foram os meios que garantiram o êxito de suas obras de santidade, todos, todos mesmo, nos darão a mesma resposta: 'por amor a Deus'. O primeiro instrumento de todos eles foi o amor.

Antes de Nosso Senhor confiar a São Pedro o governo da sua Igreja e de o enviar como evangelizador do mundo inteiro, fez a ele uma única pergunta: Simon Joannis, diligis me? -  'Simão, filho de João, tu me amas?' [Jo 21,16]. Não lhe perguntou: 'Sabes pregar?' ou 'Estás preparado para todas as dificuldades e todas as perseguições?' ou ainda 'Serás capaz de suportar a prisão, os sofrimentos e as cruzes?' Não, apenas lhe perguntou: 'Simão, filho de João, tu me amas?' Diligere - amar. Note-se que nesta palavra há eligere - escolher. O amor que Deus espera de nós é um amor de escolha, de nossa escolha, ditada apenas pelo nosso livre arbítrio.

(Excertos da obra 'Les Instruments de la Perfection', de L' Abbaye Sainte-Marie de Paris, tradução do autor do blog)

sexta-feira, 12 de julho de 2024

POEMAS PARA REZAR (LV)

O chamado Catecismo de Baltimore constituiu o primeiro e o mais renomado catecismo escrito para católicos na América do Norte, vigente desde 1885 até o final da década de 1960. O hino religioso Mother Dear, oh, Pray for Me - oração de louvor e súplica de proteção à Nossa Senhora traduzida abaixo - constitui uma das mais belas devoções do Catecismo de Baltimore.  


MOTHER DEAR, OH, PRAY FOR ME

Mother dear, oh, pray for me,
Whilst far from heav'n and thee
I wander in a fragile bark,
O'er life's tempestuous sea;
O Virgin Mother, from thy throne,
So bright in bliss above,
Protect thy child and cheer my path,
With thy sweet smile of love.

Mother dear, remember me,
And never cease thy care,
Till in heaven eternally
Thy love and bliss I share.

Mother dear, oh, pray for me,
should pleasure's siren lay
E'er tempt thy child to wander far
From virtue's path away;
When thorns beset life's devious way,
And darkling waters flow,
Then, Mary, aid thy weeping child,
Thyself a mother show.

Ó MÃE QUERIDA, REZA POR MIM

Ó mãe querida, reza por mim,
longe do céu e de ti, alma perdida,
sou nau errante a vagar sem rumo
no mar tormentoso desta vida;
Ó Virgem Mãe, do teu trono,
radiante de glória e esplendor,
protege teu filho e alegra meus passos,
sob o teu suave sorriso de amor.

Ó mãe querida, lembra-te de mim,
e nunca me deixes afastar de Deus,
até que na eternidade do céu, assim,
o teu amor e teu sorriso sejam meus.

Ó mãe querida, reza por mim
se a cobiça do prazer mais rude
tentar desviar o teu filho enfim
do reto caminho da virtude;
quando os espinhos moldarem meu caminho
e as águas escuras me levarem embora;
cuida de mim, então, filho que chora,
ó mãe querida, cuida então de mim.

(livre tradução do autor do blog)