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segunda-feira, 29 de julho de 2024

O PENSAMENTO VIVO DE TERESA DE LISIEUX (III)


'A lembrança das minhas faltas humilha-me, leva-me a nunca me apoiar na minha força que só é fraqueza, mas esta lembrança fala-me mais de misericórdia e de amor. Quando lançamos as nossas faltas com uma confiança inteiramente filial no braseiro devorador do Amor, como não seriam elas consumidas para sempre? 


'Coloquemo-nos então humildemente entre os imperfeitos, consideremo-nos almas pequenas que Deus tem de amparar a cada instante: desde que Ele nos vê bem convencidas do nosso nada estende-nos a mão; se ainda queremos tentar fazer alguma coisa de grande mesmo com o pretexto de zelo, Jesus deixa-nos sozinhos... Sim, basta humilhar-se, suportar com doçura as próprias imperfeições. Eis a verdadeira santidade! ... Corramos para o último lugar, pois ninguém nos virá disputar com ele'. 


'Suponha que o filho de um grande médico encontre no caminho uma pedra que o faz cair e que, na queda, ele fratura um membro. O pai acorre imediatamente, levanta-o com amor, trata das suas feridas, empregando para tal todos os recursos da sua arte. Uma vez completamente curado, o filho testemunha-lhe o seu reconhecimento. Sem dúvida, esse filho tem muita razão para amar o pai! Mas vou fazer ainda outra suposição. Tendo o pai ciência que no caminho do filho havia uma pedra, apressa-se a ir à frente dele e retira-a, sem ser visto por ninguém. Certamente, este filho, objeto da sua previdente ternura, não sabendo a desgraça de que o pai o livrou, não lhe testemunhará o seu reconhecimento, e amá-lo-á menos do que se tivesse sido curado por ele… Mas, e se vier a saber o perigo do qual escapou, não o amará ainda mais? Pois bem, eu sou essa filha, objeto do amor previdente de um Pai que não enviou o seu Verbo para resgatar os justos, mas os pecadores. Quer que o ame, porque me perdoou, não muito, mas tudo. Não esperou que eu o amasse muito como Santa Madalena, mas quis que eu soubesse como me tinha amado com um amor de inefável previdência, para que agora o ame loucamente!'


quinta-feira, 16 de março de 2017

DESCRIÇÃO DE UM ÊXTASE DE SANTA GEMMA GALGANI


Era uma quinta-feira. No meio do jantar, Gemma, pressentindo o êxtase, levantou-se da mesa, e retirou-se tranquilamente para o quarto. Pouco depois, Dona Cecília, sua mãe adotiva, chamou-me; segui-a e encontrei a donzela em pleno êxtase, na ocasião em que travava com a Justiça Divina uma viva luta, cujo fim era a conversão de um pecador. Confesso que em minha vida nunca assisti a um espetáculo tão comovedor.

A extática, sentada sobre o seu pobre leito, voltava os olhos, o rosto, toda a sua pessoa para o ponto do quarto em que o Senhor se encontrava. Comovida, mas sem agitação, mostrava-se resoluta, na atitude de uma pessoa que discute e que quer vencer a todo custo. Começou assim:

'Já que viestes, Jesus, pedir-Vos-ei de novo pelo meu pecador. É vosso filho e meu irmão, salvai-o, ó Jesus'. Em seguida nomeou-o. Era um estrangeiro que ela tinha conhecido em Lucca e a quem muitas vezes já, levada por uma inspiração interior, tinha advertido de viva voz e por escrito, que pusesse em ordem a sua consciência e não se contentasse com a fama de bom cristão, de que gozava entre o povo. Jesus, surdo às recomendações da sua serva, parecia decidido a tratá-lo como justo juiz. Gemma continuou sem desanimar:

'Por que é que hoje não me ouvis, ó Jesus, tanto fizestes por uma só alma e a esta recusais salvá-la? Salvai-a, Jesus, salvai-a!' 

[Nesta altura do êxtase, Jesus deve ter-lhe dito que abandonava de uma vez esse pecador pois somente assim se explica o que se segue].

'Sede bom, Jesus, não me faleis assim. Na boca de Quem é a Misericórdia, esta palavra 'Eu o abandono' não soa bem; não deveis pronunciá-la. Vós derramastes, sem medida, o Vosso sangue pelos pecadores. E agora quereis medir a quantidade dos nossos pecados? Não me ouvis? A quem hei de eu recorrer então? Derramastes o vosso sangue por ele, assim como por mim.

'Salvais-me a mim, e a ele não? Não me levantarei daqui; Salvai-o. Dizei-me que o salvais. Ofereço-me como vítima por todos, mas particularmente por ele. Prometo-Vos que nada vos hei de recusar. Dais-me? É uma alma. Pensai nisso. Jesus, é uma alma que vos custou muito. Virá a ser boa e há de corrigir-se'.

Como única resposta, o Senhor continuou a opor-se em nome da Justiça Divina. E Gemma continuou também, animando-se cada vez mais:

'Eu não procuro a vossa justiça, mas a vossa misericórdia. Por quem sois Jesus, ide ter com esse pobre pecador, e dai um terno abraço ao seu coração. Vereis que ele se converte. Experimentai ao menos… Ouvi, Jesus, Vós, como dizeis, tendes multiplicado os assaltos para o ganhar, mas nunca lhe chamaste vosso filho; experimentai. Dizei-lhe que sois seu pai e que ele é vosso filho. Vereis, vereis que, a este doce nome de pai, o seu coração endurecido se há de abrandar'. 

Nesta altura, o Senhor, para mostrar à sua serva os motivos da sua severidade, descortinou a ela, uma por uma, com as mais pequenas circunstâncias de tempo e de lugar, as faltas deste pecador, concluindo por dizer que a medida estava cheia. A pobre menina, que repetiu em alta voz toda esta confissão, ficou espantada: os braços caíram-lhe; soltou um profundo suspiro, pareceu ter-lhe fugido toda a esperança de vencer. De repente, dissipa-se o seu abatimento e volta à carga:

'Eu sei, eu sei, que ele Vos ofendeu muito, mas não vos tenho eu ofendido mais? E não obstante, tendes usado de misericórdia para comigo. Eu sei, eu sei, Jesus, que ele Vos fez chorar mas, neste momento, não deveis pensar nos seus pecados; deveis sim, pensar no Vosso sangue derramado. Que bondade tendes tido para comigo! Usai para com o meu pecador, eu Vo-lo peço pela Vossa caridade'. 

Entretanto, o Senhor permanecia sempre inflexível e Gemma voltou a cair no mesmo desalento. Está em silêncio, parecendo abandonar a luta, quando de súbito brilha no seu espírito um outro motivo que lhe parece invencível. Retoma a coragem e exclama:

'Bem, eu sou uma pecadora, não podereis encontrar ninguém pior do que eu, Vós mesmo que me dissestes. Não, não mereço, confesso-o, não mereço que me atendais. Apresento-Vos, porém, outra intercessora: é a vossa própria Mãe, que vos pede em seu favor. Ides dizer não a Vossa Mãe? Certamente a ela não o podereis fazer. E agora dizei-me, Jesus, que o meu pecador está salvo'. 

Desta vez logrou alcançar sucesso. O misericordioso Senhor concedeu a graça e a cena mudou-se de aspecto. Com um ar de alegria indescritível, Gemma exclamou: 'Está salvo, está salvo! Vencestes Jesus, triunfai sempre assim'. E saiu do êxtase.

Este espetáculo, verdadeiramente admirável, tinha durado boa meia hora. Para o descrever, utilizei as próprias palavras de Gemma, recolhidas à pena na ocasião ou cuidadosamente confiadas à minha memória.Tinha-me retirado para o meu quarto, entregue a mil pensamentos, quando ouvi bater à porta. Anunciaram-me que era um indivíduo estranho. Mandei-o entrar. Lançou-se a meus pés, chorando, e pediu-me que o confessasse. Meu Deus, qual não foi a minha surpresa! Era o pecador de Gemma, convertido poucos momentos antes. Acusou-se de todas as faltas reveladas no êxtase pela serva de Deus, esquecendo somente uma, que lhe pude recordar. Consolei-o, contei-lhe a cena que acabava de se dar e obtive dele autorização de publicar estas maravilhas do Senhor. Depois de termos nos abraçado, nos despedimos.

(Descrição de um êxtase de Santa Gemma Galgani, feita pelo Padre Germano de Santo Estanislau, seu diretor espiritual e autor da sua biografia)

sexta-feira, 11 de julho de 2014

ORAÇÃO PELA SALVAÇÃO DE UMA ALMA AGONIZANTE


Jesus de Infinita Misericórdia, prostrado aos vossos pés, suplico-vos pela alma de (...); interceda, Senhor, pela sua salvação eterna; que nesta alma se manifeste a glória da vossa infinita misericórdia! Ao Vosso Sagrado Coração venho pedir, como manancial inesgotável de todas as graças e dons... Ao Vosso Sagrado Coração, venho recorrer, como tesouro imponderável de todas as riquezas da clemência e generosidade divinas... Ao Vosso Sagrado Coração venho suplicar, pois Vós sois a Porta, o Caminho, a Verdade e a Vida em abundância...

Aceita, Jesus, a minha oração pela salvação da alma de (...) que agoniza e que, em breve, vai estar diante de Vós no Juízo Particular. Fazei a vossa misericórdia penetrar a couraça do pecado, rasgar a carne dolorosa, fazer acontecer o milagre da conversão nestes momentos derradeiros, e conceder a graça extraordinária desta alma voltar a Vós, aceitar e cumprir fielmente, nos seus últimos dias sobre a terra, a Santa Vontade de Deus. 

Na mesma confiança em que pediu o centurião romano em favor de seu criado; na mesma esperança que inflamou os corações das irmãs de Lázaro, na mesma certeza da reconciliação que animou o leproso que voltou para Vos agradecer o milagre da cura, aceita, Senhor, a minha súplica pela salvação eterna da alma de (...) e, pela intercessão de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, conceda a este vosso (a) servo (a) renascer para a graça e merecer, pela glória da vossa Infinita Misericórdia, a herança das moradas eternas no Céu. Amém.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O NÚMERO DOS QUE SE SALVAM (II)

Conforme a posição unânime dos Padres da Igreja, o número de almas (e o número de adultos católicos) que se salva, é larga minoria. Mas não precisaríamos dos Padres da Igreja para obter tal constatação. Jesus, em várias passagens, foi cristalino em relação aos eleitos de Deus: 'esforce-se pra entrar pela porta estreita...'; 'muitos são chamados, poucos são os escolhidos'; 'é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus'. Se o rico aqui é aquele que se entregou de corpo e alma às coisas do mundo (podendo tê-las alcançado ao máximo ou ao mínimo, indistintamente), as palavras de Jesus não contêm metáforas. O Céu não é ali; e são poucos os que se salvam. Entretanto, esta 'larga minoria' ou este 'pequeno resto' não significa que os eleitos de Deus sejam poucos. Não, são muitíssimos de muitos, tantos quantas são as 'estrelas do céu', embora os condenados sejam tantos 'como a areia do mar'.

Deus que que todos os homens se salvem e provê, na sua sabedoria e amor infinitos, os meios de salvação para todos (e quantos lamentarão no Juízo Particular não terem percebido ou aplicado a miríade de graças recebidas!). Deus chama, Deus atrai, Deus busca a ovelha desgarrada até as portas do abismo, Deus concede o sofrimento ou a doença como meio de reparação, Deus mostra de forma cristalina às almas a loucura que seria um mundo sem Deus, Deus ama, ama, ama infinitamente cada alma e a busca, por todos os meios, ao caminho do Céu. Mas o Sim a Deus implica o Não ao mundo: às glórias mundanas, à fama terrível, à riqueza sem duro trabalho, ao lazer sem fim, à impureza, ao orgulho e às vaidades do nada, o amor ao pecado. Deveis temer o pecado mais do que a todos os demônios do inferno: é o pecado mortal que isola a sua alma de Deus e a deixa à mercê de todos os demônios.  

Deus há de nos julgar com justiça e misericórdia e, embora sejam atributos iguais, o próprio Jesus manifestou a Santa Faustina Kowalska o valor incomensurável da Devoção à Misericórdia de Deus para a salvação das almas: 'Antes de vir como justo juiz, abro de par em par as portas da Minha misericórdia. Quem não quiser passar pela porta de misericórdia, terá que passar pela porta da Minha justiça..." (Diário, n. 1146). Na porta da Justiça, há certamente de prevalecer as posições dos Santos Padres da Igreja; na porta da Misericórdia, Deus é Bondade Pura: "Coloquem a esperança na Minha misericórdia os maiores pecadores. Eles têm mais direito do que outros à confiança no abismo da Minha misericórdia. Minha filha, escreve sobre a minha misericórdia para as almas atribuladas. Causam-Me prazer as almas que recorrem à Minha misericórdia. A estas almas concedo graças que excedem os seus pedidos. Não posso castigar, mesmo o maior dos pecadores, se ele recorre à Minha compaixão, mas justifico-o na Minha insondável e inescrutável misericórdia" (Diário, n. 1146).

O caminho da salvação passa, repassa, cruza, se atalha, pela devoção à misericórdia de Deus. Tome-a como premissa de vida espiritual, como referência de vida cristã, como escada para o Céu. Viva profundamente a graça de não cometer um pecado mortal (ninguém comete um pecado mortal sem querer pecar expressamente; esta verdade teológica implica, portanto, que só vai ao inferno quem quer e também que só se salva quem quer se salvar), de não se deixar levar pelas coisas do mundo. Nessa condição, a sua oração, no escondimento e no anonimato, tornar-se-á um tesouro para a salvação de sua alma e daqueles que você ama de modo particular. Na verdadeira devoção à misericórdia de Deus, não há minoria, nem um a menos, todos serão salvos: Não posso castigar, mesmo o maior dos pecadores, se ele recorre à Minha compaixão, mas justifico-o na Minha insondável e inescrutável misericórdia". Todos serão salvos. E aí não importa o número final dos que se salvam: o que realmente importa é estarmos entre os que se salvam, entre os eleitos para a glória eterna de Deus.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

A FÉ EXPLICADA - II


Ao morrer na cruz, Jesus Cristo propiciou a reparação completa dos meus pecados, dos teus pecados, dos pecados de todos os homens de hoje e de todos os tempos, não uma vez, mas vezes sem conta, posto que se realizou na Crucificação a plenitude de Deus no amor à humanidade pecadora. Obra de amor e reparação mais que plena, infinita. Sendo infinita a reparação feita por Jesus Cristo, qualquer penitência humana, por maior que seja sua relevância e excepcionalidade, torna-se meramente figurativa e essencialmente insignificante. E isso se aplicaria integralmente a toda a vida ímpar de caridade de uma Madre Teresa de Calcutá, por exemplo: algo de intrínseco valor humano, mas de completa inutilidade para a glória de Deus. 

Mas Deus é Deus de misericórdia e, por desígnio singular, associa a pequenez humana aos méritos infinitos de Cristo na obra da redenção. Em Cristo, o sofrimento, a doença, esta frustração momentânea, uma pequena contrariedade, tudo se faz penitência de valor infinito. Sim, de infinito valor, porque, nesta partilha, Cristo entra com o mérito infinito e nós, como membros do seu Corpo Místico, com nossas penitências claudicantes e frágeis, que se tornam, entretanto, instrumentos poderosos para a plena satisfação dos nossos pecados e dos pecados dos outros. Em Cristo e por meio Dele, a vida ímpar de caridade de uma Madre Teresa de Calcutá, por exemplo, teve um valor incalculável para a salvação de um número incontável de almas.

Ao longo de uma vida inteira, Deus espera pela sua oração, por uma obra de caridade, pela sua renúncia ao pecado, pelo sofrimento* que você tanto custa a aceitar ou que se revolta por não entender. Que obra de penitência você tem a oferecer no dia de hoje para satisfação a Deus pelos seus pecados de sempre e pelos pecados dos outros? 

* ver as palavras de Santa Maria Madalena de Pazzi em arquivo deste blog.