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terça-feira, 15 de abril de 2025

O SENHOR DOS PASSOS DO ÚLTIMO ENCONTRO

A Procissão do Encontro, em muitas regiões, acontece na Quarta-feira Santa à noite; em outras, é comumente realizada na tarde do Domingo de Ramos.

Neste momento em que o Senhor de todos os passos e caminhos encontra a Senhora de todas as dores, a Terra inteira se detém e os Céus esperam... Potestades e coortes angélicas se calam, os santos e santas de Deus se emudecem, o Purgatório congela, os infernos são calcinados e a humanidade hiberna... neste momento extremo, tudo o mais se retém no mais íntimo dos recolhimentos.

Eis o Homem! O Senhor dos Passos, desfalecido em dores, esmagado pelo horror ao pecado, incensado de misericórdia até a última gota de sangue, ergue os olhos ensanguentados à Mãe de Todas as Dores e estremece de angústia. O coração de Deus pulsa fragilmente dentro do corpo flagelado; o coração de Deus é flagelado pela visão da Mãe de todas as dores. Neste momento de agonia extrema, Jesus sabe que Maria tem que partilhar com Ele esse Calvário de dores. E, ainda assim, o Senhor dos Passos do Último Encontro levanta os olhos aos Céus, num murmúrio de misericórdia infinita pelos homens de todos os tempos: 'Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem' (Lc 23,34 a).

Os gritos, as imprecações, os sentidos nublados e a dor extrema, tudo conspira contra esse olhar entre a Mãe e o seu Filho amado. São agora dois corações dilacerados pelos flagelos humanos e divinos. A angústia física é superada pela miséria dos nossos pecados; as chagas do corpo não exprimem nem de longe as necroses da alma. O Senhor dos Passos do Último Encontro ainda se desvela com o filho resgatado de última hora: 'Hoje estarás comigo no paraíso' (Lc 23,43).

E segue a trilha da última caminhada com a mesma determinação dos tempos de Caná. E Jesus grita, dentro de nossas mentes e almas, que nada nos pode separar do amor de Deus: nem as mãos e os pés ensanguentados, nem as chagas, nem os cravos, nem a coroa de espinhos, nem o flanco aberto, nem a agonia de três horas na Cruz podem fazer Deus, o Senhor dos Passos do Último Encontro, afastar os olhos de sua Mãe e de uma misericórdia infinita pela humanidade pecadora: 'Mulher eis aí o teu filho, filho eis aí a tua mãe' (Jo 19,26-27).

Aos pés da Cruz, está a Mãe de todas as dores, o discípulo amado e as santas mulheres. Maria está de pé aos pés da Cruz para estar mais perto do Filho que lhe escapa ao último abraço. Sangue e lágrimas é o cenário derradeiro do Filho do Homem e daquela que Ele tornou a Mãe de Deus. No silêncio da Terra e do Céu, pasmos diante dos mistérios da graça, parece quebrada a unidade do universo e o Senhor dos Passos do Último Encontro invoca então ao Pai o seu lamento: 'Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?!' (Mc 15,34).

E o silêncio do Céu permanece como uma cortina de chumbo sobre o Calvário. A natureza não ousa um estremecimento qualquer. Tudo se reveste de uma atmosfera estranha e perturbada, que não se pode explicar com palavras. E o tempo dos homens flui devagar entre as testemunhas da Paixão. O estertor da crucificação se molda à realidade dos fatos consumados. Enquanto o riso e o pranto se encolhem, subjugados pelo indiferentismo de homens moldados pela rotina do castigo, o Senhor dos Passos do Último Encontro é agora mortalmente açoitado pelos sentidos: 'Tenho sede' (Jo 19,28 b).

Jesus tem sede de água. Jesus tem sede de almas. Jesus tem sede de conversão e de salvação dos homens de todos os tempos. Por isso, morre pregado numa cruz, humilhado entre dois ladrões, objeto de escárnio e zombaria dos que o sacrificam. Jesus tem sede do amor de cada criatura de Deus, criada para a glória de Deus, criada para ser salva pelo mistério da Cruz! Jesus tem sede de mim, de você, dos homens de ontem e de hoje, Jesus tem sede de amar e de ser amado pela humanidade inteira. E, ciente desta ânsia de amar,  o Senhor dos Passos do Último Encontro conclui então o seu mandato de amor: 'Tudo está consumado' (Jo 19,30 a).

Eis a hora extrema da Paixão e Morte do Senhor. Tudo está feito, tudo está consumado. O senhor de todas as coisas faz-se agora senhor de coisa alguma e apenas se deixa consumir numa morte de cruz para resgatar o homem como criatura eterna do Pai. O Senhor dos Passos do Último Encontro volve os seus olhos turvados pelas sombras da morte ao olhar angustiado de sua Mãe aos pés da Cruz. Na angústia tremenda dos corações despedaçados, a paz de Deus os retém num último abraço e, volvendo os olhos para o Céu, O Senhor dos Passos do Último Encontro exala finalmente o seu último suspiro: 'Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito' (Lc 23,46 b).

sexta-feira, 4 de abril de 2025

POEMAS PARA REZAR (LX)

A FLOR DA PAIXÃO


A flor de maracujá, de cor púrpura, é associada comumente ao simbolismo da Paixão do Senhor, seja pela cor roxa característica do tempo quaresmal, seja pelo emaranhado característico das folhas, filamentos e pétalas que remetem aos pregos, chagas e espinhos que compõem o mistério do Calvário. A correlação é tão imediata que os primeiros missionários portugueses e espanhóis que chegaram às Américas no século XVI designaram a planta como Flos Passionis ou Flor da Paixão. Atualmente, acredita-se que existam mais de 500 espécies da flor da Paixão em todo o mundo, mas principalmente no Brasil. As características singulares da Flor da Paixão foram traduzidas por Catulo da Paixão Cearense (1863 - 1946), o chamado poeta do Sertão, no poema transcrito abaixo, elaborado em linguagem livre e regional, conectando ao mesmo tempo, de forma simples e bela, o folclore sertanejo e a religiosidade popular.

A FLOR DO MARACUJÁ 

(Catulo da Paixão Cearense)

Encontrando-me com um sertanejo,
Perto de um pé de maracujá,
Eu lhe perguntei: diga-me caro sertanejo,
Porque razão nasce roxa, a flor do maracujá?

Ah, pois então eu lhi conto,
A estória que ouvi contá,
A razão pro que nasci roxa,
A frô do maracujá.
Maracujá já foi branco,
Eu posso inté lhe ajurá,
Mais branco qui a caridadi,
Mais branco do que o luá.

Quando as frô brotava nele,
Lá pros cunfim do sertão,
Maracujá parecia,
Um ninho de argodão.
Mais um dia, há muito tempo,
Num meis que inté num mi alembro,
Si foi maio, si foi junho,
Si foi janeiro ou dezembro.

Nosso sinhô Jesus Cristo,
Foi condenado a morrê,
Numa cruis crucificado,
Longe daqui como o quê,
Pregaro Cristo a martelo,
E ao vê tamanha crueza,
A natureza inteirinha,
Pois-se a chorá di tristeza.

Chorava us campu,
As foia, as ribeira,
Sabiá tamém chorava,
Nos gaio da laranjera,
E havia junto da cruis,
Um pé de maracujá,
Carregadinho de frô,
Aos pé do nosso sinhô.

I o sangue de Jesus Cristo,
Sangui pisado de dô,
Nus pé di maracujá,
Tingia todas as frô,
Eis aqui seu moço,
A estória que eu vi contá,
A razão proque nasce roxa,
A frô do maracujá.

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS

quarta-feira, 5 de março de 2025

QUARESMA 2025

A Quaresma é assumida pela Igreja como um tempo de preparação para a celebração da Páscoa, movido essencialmente pelo incentivo maior e mais intenso pelo povo cristão das práticas de oração constante e penitência, como jejuns e obras de caridade. A Quaresma deste ano tem início na Quarta-Feira de Cinzas (05 de março) e se estende até as vésperas imediatas da Missa Vespertina In Coena Domini na Quinta-Feira Santa, ou seja, na Quarta Feira da Semana Santa (dia 16/04/2025). 


Sugestão: Adotar este ciclo de leituras e devoções diárias (40 dias) durante esta Quaresma (clicar sobre o título abaixo)


Primeiro Dia - Quarta Feira de Cinzas
Quadragésimo Dia - Quarta Feira da Semana Santa 

Não incluir na sequência das datas das Leituras do Diário da Quaresma de 2025 os dias 19/03 (São José), 25/03 (Anunciação do Senhor) e 13/04 (Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor)

terça-feira, 4 de março de 2025

FESTA VOTIVA DA SAGRADA FACE DE NOSSO SENHOR

Hoje é o último dia antes do grande e santo jejum da Quaresma. No rito litúrgico da Igreja, sempre representou um dia ímpar, chamado Marti Gras (ou Terça-feira Gorda), que delimita um tempo de separação radical entre um tempo de diversão, alegria e consumo de carne ao período austero de jejum e penitência da Quaresma. Ou seja, impõe ao cristão uma percepção clara de antagonismo entre o tempo de festa que termina e o tempo de penitência prestes a se iniciar. Infelizmente, e particularmente no Brasil, este dia da terça-feira de carnaval transformou-se apenas em um dia ímpar de zombarias, escândalo público e pecado para muita gente.


Exatamente por tais razões, a festa votiva em honra à Sagrada Face de Nosso Senhor (instituída pelo Papa Pio XII em 1958 e que não consta mais do calendário da liturgia atual) é especialmente celebrada na terça-feira que precede o tempo da Quaresma, como ato de desagravo e reparação aos pecados cometidos durante o carnaval. Este foi inclusive um pedido formal de Nosso Senhor Jesus Cristo à Madre Pierina em 1938:

'Veja como sofro. No entanto, sou compreendido por tão poucos. Que gratidão da parte daqueles que dizem que me amam. Eu dei o meu Coração como um objeto sensível do meu grande amor pelo homem e dou o meu rosto como um objeto sensível da minha tristeza pelos pecados do homem. Desejo que seja honrado por uma festa especial na terça-feira da Quinquagesima (a terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas). A festa será precedida por uma novena na qual os fiéis farão reparação comigo unindo-se à minha tristeza'.

O pedido de Nosso Senhor Jesus Cristo é muito claro: não é preciso esperar a Quarta-feira de Cinzas para nos colocarmos em espírito de penitência pelos nossos pecados e pelos pecados dos homens. 

Deus onipotente e misericordioso, dignai-vos, nós vos suplicamos, conceder a todos aqueles que honram o rosto do vosso Cristo neste dia, desfigurado na sua Paixão e Morte de Cruz pelos nossos pecados, a graça de vê-lo e glorificá-lo por toda a eternidade. Amém.

sábado, 1 de março de 2025

DEVOÇÃO DAS 40 HORAS

 

Estamos a poucos dias do início da Quaresma, tempo singular de oração e penitência. E precedido por um tempo também singular de desvario e liberação total de escândalos públicos que arrastam as almas para os abismos do pecado. Há maneiras diversas de um católico viver livre destas amarras ou fazer atos de desagravo nestes tempos de carnaval e antecipar o tempo quaresmal de penitência, mas um, bastante especial, é a chamada Devoção das 40 Horas ao Santíssimo Sacramento nestes dias e antes da Quarta-Feira de Cinzas, que constitui um antigo rito litúrgico da Igreja quase relevado ao esquecimento nos dias atuais.

A devoção teve origem na Idade Média (pelo menos desde o século X) como devoção ao Santo Sepulcro do Salvador, que era erigido desde a Adoração da Cruz, na Sexta-Feira Santa, até a Missa de Ressurreição do Domingo de Páscoa. Durante este tempo (cerca de 40 horas), os fiéis oravam diante dele, recitando ou cantando salmos e outras preces, em memória da morte e sepultura do Senhor, que esteve no Sepulcro por cerca também de 40 horas.

A Exposição do Santíssimo ─ visível ou velado no cálice ─ para sua adoração pelos fiéis, constitui uma das principais práticas de adoração a Jesus na Sagrada Eucaristia, particularmente por meio da Festa de Corpus Christi e da Devoção das 40 Horas. Estas práticas litúrgicas constituem, portanto, o termo feliz da evolução da devoção original ao Santo Sepulcro de Nosso Senhor Jesus Cristo. A celebração da Devoção das 40 Horas foi aprovada inicialmente pelo papa Paulo V em 1539 e Clemente XI ordenou definitivamente a sua prática litúrgica, em termos de Adoração Perpétua, mediante a famosa Instrução Clementina de 1705.

A devoção pode ser praticada em quaisquer datas, mas especialmente é indicada no Tempo Pascal, durante as quarenta horas que antecedem o dia de Corpus Christi e durante os três dias de carnaval que antecedem a Quarta-Feira de Cinzas (domingo, segunda-feira e terça-feira), como rito de reparação aos pecados cometidos nesta época. As comunidades dividem-se em grupos e horas alternadas, de modo a adorar Jesus Sacramentado por 40 horas ininterruptas. As práticas de Devoção das Quarenta Horas é comumente intercalada com celebrações de missas coram exposito (mediante exposição do Santíssimo Sacramento).

HOJE É O PRIMEIRO SÁBADO DO MÊS

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

AURUM, TUS ET MURRAM


'Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do Oriente a Jerusalém... Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra' (Mt 2,1.11).

O presente do ouro sinaliza para a realeza de Jesus, o incenso para a sua divindade e a mirra para a sua humanidade. Deus menino desceu do Céu como nosso Rei (ouro) para cumprir seus deveres sacerdotais (incenso) e morrer pelos nossos pecados (mirra). A mirra, como símbolo de sofrimento, torna-se uma pré-anunciação e uma profecia das dores da Paixão do Senhor.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

QUARTA SEMANA DO ADVENTO

 

A SAGRADA FAMÍLIA DO ADVENTO

A Bondade Infinita de Deus reduziu-se à nossa humanidade escondido no ventre imaculado da Virgem Imaculada. O Advento é um tempo de graça para se viver este mistério de amor e despojamento do Verbo Encarnado e para se mergulhar neste abismo de misericórdia de Deus feito homem que ultrapassa todo o nosso entendimento humano.

Maria é a Mãe da esperança, que nos ensina a vivermos neste Advento a intimidade dos divinos mistérios, com espírito de humildade e recolhimento interior, na absoluta fidelidade à Santa Vontade de Deus, de quem se proclamou serva desde o primeiro dia da sua vocação.

José é o Patriarca do tesouro das graças e bem aventuranças do Espírito Santo, esposo castíssimo e pai amoroso de Jesus. Que o Advento possa nos levar a refletir o espírito de humildade e despojamento do Glorioso São José e a ele invocar e recomendar, particularmente neste tempo, a nossa vida, o nosso trabalho e a nossa família.

ANTÍFONA DO Ó - 23 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

23 de dezembro

O Emmanuel,
Rex et legifer noster,
exspectatio gentium,
et Salvador earum:
Veni ad salvandum nos, Domine Deus noster  


Ó Emanuel,
nosso rei e legislador,
esperança e salvador das nações,
Vinde salvar-nos,
Senhor nosso Deus.  

domingo, 22 de dezembro de 2024

ANTÍFONA DO Ó - 22 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

22 de dezembro

O Rex gentium
et desideratus earum
lapisque angularis,
qui facis utraque unum:
Veni et salva hominem quem de limo formasti  


Ó Rei das nações
e objeto de seus desejos,
pedra angular
que reunis em vós judeus e gentios:
Vinde e salvai o homem que do limo formastes. 

sábado, 21 de dezembro de 2024

ANTÍFONA DO Ó - 21 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

21 de dezembro

O Oriens
splendor lucis æternæ, et sol justitiæ
Veni et illumina sedentes in tenebris
et umbra mortis.  


Ó Oriente
esplendor da luz eterna e sol da justiça
Vinde e iluminai os que estão sentados
nas trevas e à sombra da morte. 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

ANTÍFONA DO Ó - 20 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

20 de dezembro 

O Clavis David
et sceptrum domus Israel:
qui aperis, et nemo claudit;
claudis et nemo aperit:
Veni, et educ vinctum de domo carceris,
sedentem in tenebris et umbra mortis   


Ó Chave de Davi
o cetro da casa de Israel
que abris e ninguém fecha;
fechais e ninguém abre:
Vinde e libertai da prisão o cativo
assentado nas trevas e à sombra da morte. 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

ANTÍFONA DO Ó - 19 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

19 de dezembro 

O Radix Jesse
qui stas in signum populorum,
super quem continebunt reges os suum,
quem gentes deprecabuntur:
Veni ad liberandum nos; jam noli tardare  


Ó Raiz de Jessé
erguida como estandarte dos povos,
em cuja presença os reis se calarão
e a quem as nações invocarão,
Vinde libertar-nos; não tardeis jamais. 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

ANTÍFONA DO Ó - 18 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.

18 de dezembro

O Adonai
et Dux domus Israel,
qui Moysi in igne flammæ rubi apparuisti
et ei in Sina legem dedisti:
Veni ad redimendum nos in brachio extento
 

Ó Adonai
guia da casa de Israel,
que aparecestes a Moisés na chama do fogo
no meio da sarça ardente e lhe deste a lei no Sinai
Vinde resgatar-nos pelo poder do Vosso braço.

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

ANTÍFONA DO Ó - 17 DE DEZEMBRO

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento.


17 de dezembro

O Sapientia
quæ ex ore Altissimi prodisti,
attingens a fine usque ad finem,
fortiter suaviter disponens omnia:
Veni ad docendum nos viam prudentiae   


Ó Sabedoria
que saístes da boca do altíssimo
atingindo de uma a outra extremidade
e tudo dispondo com força e suavidade:
Vinde ensinar-nos o caminho da prudência

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

TERCEIRA SEMANA DO ADVENTO


AS TÊMPORAS DO ADVENTO

As Têmporas do Advento ocorrem na terceira semana do Advento, após o Domingo Gaudete (Terceiro Domingo do Advento), anunciando o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, com um sentido próprio de espera e de preparação para o Natal.

As Têmporas são quatro períodos especiais de celebrações litúrgicas da Igreja, que remontam ao Antigo Testamento. Quatro vezes ao ano, nas mudanças das estações, consagrava-se três dias da semana - quarta-feira, sexta-feira e o sábado - ao jejum, à abstinência e à oração, sendo o sábado o dia mais solene, dedicado particularmente às ordenações da Igreja. Constituem, portanto, dias muito especiais para invocação e oração dos fieis a Deus pela dádiva de pastores zelosos para o rebanho do Senhor. As Têmporas do Advento do ano de 2024 são celebradas, portanto, nos próximos dias 18/12, 20/12 e 21/12/2024.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

SEGUNDA SEMANA DO ADVENTO


AS GRANDES FIGURAS DO ADVENTO

O Tempo do Advento assinala o começo de um novo ano litúrgico e nos propõe uma atitude de espera vigilante, preparando-nos para a celebração do Natal de Jesus Cristo. Este tempo de vigilância, conversão e alegria é regido pela presença e exemplos de três figuras singulares: Isaías, João Batista e Maria. Isaías é o profeta da esperança, João Batista é o arauto da revelação divina, Maria é a bendita entre todas as mulheres porque é a Mãe de Deus.

ISAÍAS

Isaías é o profeta messiânico por excelência, o precursor dos evangelistas. É Isaías quem declara que Jesus será da estirpe de Davi, é Isaías quem profetiza o nascimento de Cristo através de uma virgem, são de Isaías as profecias sobre a Paixão e Morte do Senhor, sobre a Santa Igreja de Deus e sobre a pregação de João Batista. É Isaías que anuncia a libertação dos judeus do exílio na Babilônia: 'Consolai o meu povo, consolai-o, diz o vosso Deus. Falai ao coração de Jerusalém e dizei em alta voz que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida' (Is 40, 1-2). Esta manifestação profética, entretanto, extrapola os limites da Antiga Aliança e assume um caráter messiânico: pela conversão, o homem do pecado há de se tornar digno de contemplar a própria glória de Deus.

JOÃO BATISTA

E eis que surge então outro profeta, o maior de todos, maior que Isaías, Moisés ou Abraão, aquele que foi aclamado pelo próprio Cristo como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11), que vai fazer o anúncio definitivo da chegada do Messias ao mundo: 'Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias' (Mc 1, 7). Como precursor imediato e direto do Messias e arauto desta revelação divina ao povo judeu, João vai se autoproclamar como 'a voz que clamava no deserto', símbolo dos terrenos estéreis e calcinados das almas tíbias e vazias dos homens daquele tempo. E, nesse sentido, João Batista é tão atual quando da época de sua profecia e sua mensagem ressoa pelos séculos para ser ouvida e vivida, agora como arauto do Senhor da Segunda Vinda: 'Eu vos batizei com água, mas Ele vos batizará com o Espírito Santo' (Mc 1, 8).

MARIA

Maria é a obra prima de Deus, cheia de graça desde a sua concepção, cheia de graça em cada ação ou pensamento que teve nesta terra. Atenta e silenciosa ao planos de Deus, é o modelo perfeito para a nossa vivência do advento e preparação para o Natal  - 'Fazei tudo o que Ele vos disser' (Jo 2, 5). E a Virgem de Nazaré, antes de ser a Mãe, oferece-se como serva e escrava do seu Senhor e do seu Deus: 'Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!' (Lc 1, 38). O Céu e a terra, as miríades dos anjos e dos homens de todos os tempos, hão de bendizer e louvar a glória daquele dia e a consumação daquele 'Fiat!' Sim, porque naquele momento, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro se fez, então, carne na carne de Maria e se fez carne a Nossa Salvação.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

ANO LITÚRGICO 2024 - 2025

Ano Litúrgico 2024-2025, de acordo com o rito católico romano, vai desde o primeiro domingo do Advento (01/12/2024) até a solenidade de Cristo Rei do Universo (23/11/2025), durante o qual a Igreja celebra todo o mistério de Cristo, desde o nascimento até a sua segunda vinda. O Ano Litúrgico 2024-2025 é o Ano C, no qual os exemplos e os ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras principais, retiradas do Evangelho de São Lucas, com exceção de ocasiões especiais (as chamadas Festas e Solenidades do rito litúrgico), quando são utilizadas leituras específicas do Evangelho de São João.

O ano litúrgico compreende dois tempos distintos: os chamados tempos fortes que incluem AdventoNatalQuaresma e Páscoa, durante os quais certos mistérios particulares da obra redentora e salvífica de Cristo são celebrados e o chamado Tempo Comum, no qual celebramos o Mistério de Cristo em sua totalidade, ou seja, encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão do Senhor. 

O Tempo Comum é subdividido em duas partes. A primeira parte começa no dia seguinte à festa do Batismo de Jesus (12/01/2025) e vai até a terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas (05/03/2025), quando tem início a Quaresma. A segunda parte do Tempo Comum recomeça na segunda-feira depois de Pentecostes (08/06/2025) e se estende até o sábado que antecede o primeiro domingo do Advento (30/11/2025), quando tem início um novo Ano Litúrgico, compreendendo sempre um período de 33 ou 34 semanas.





segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

PRIMEIRA SEMANA DO ADVENTO


Anunciamos a vinda de Cristo: não apenas a primeira mas também a segunda, muito mais gloriosa. Pois a primeira revestiu um aspecto de sofrimento, mas a Segunda manifestará a coroa da realeza divina.

Aliás tudo o que concerne a nosso Senhor Jesus Cristo tem quase sempre uma dupla dimensão. Houve um duplo nascimento: primeiro, ele nasceu de Deus, antes dos séculos; depois nasceu da Virgem, na plenitude dos tempos. Dupla descida: uma discreta como a chuva sobre a relva; outra, no esplendor, que se realizará no futuro.

Na primeira vinda, ele foi envolto em faixas e reclinado num presépio; na segunda, será revestido num manto de luz. Na primeira, ele suportou a cruz, sem recusar a sua ignomínia; na segunda, virá cheio de glória, cercado de uma multidão de anjos.

Não nos detemos, portanto, somente na primeira vinda mas esperamos ainda, ansiosamente, a segunda. E assim como dissemos na primeira: 'Bendito o que vem em nome do Senhor' (Mt 19,9), aclamaremos de novo, no momento de sua segunda vinda, quando formos com os anjos ao seu encontro para adorá-lo: 'Bendito o que vem em nome do Senhor'.

Por isso, o símbolo da fé que professamos nos é agora transmitido, convidando-nos a crer naquele que subiu aos céus, onde está sentado à direita do Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos; e o seu reino não terá fim. Nosso Senhor Jesus Cristo virá portanto dos céus, virá glorioso no fim do mundo, no último dia. Dar-se-á a consumação do mundo, e este mundo que foi criado será inteiramente renovado.

(Das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém)

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

SERMÕES DO CURA D'ARS (XX)





SOBRE A SANTA COMUNHÃO

 'E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo' 
(Jo 6,51)

Quem de nós, meus caros irmãos, poderia pensar que Jesus Cristo, por amor às suas criaturas, poderia chegar ao ponto de alimentar as nossas almas com o seu adorável corpo e o seu precioso sangue, se Ele próprio não nos tivesse assegurado esse fato? Uma alma pode receber o seu Criador, e quantas vezes quiser! Ó abismo de bondade e amor de Deus por suas criaturas! Quando o Redentor se revestiu da nossa carne, diz São Paulo, escondeu a sua divindade e levou a sua humilhação até à morte ignominiosa. Mas no adorável Sacramento da Eucaristia, Ele, no seu amor e misericórdia sem limites, esconde também a sua humanidade.

Vede, caros irmãos, do que é capaz o amor de um Deus pelas suas criaturas! De todos os Sacramentos não há nenhum que se possa comparar com a Sagrada Eucaristia. É verdade que no Batismo recebemos a adoção de Deus e alcançamos um título para o eterno reino dos céus; no Sacramento da Penitência, as feridas da nossa alma são curadas e a amizade de Deus nos é restituída; no adorável Sacramento da Eucaristia, porém, o seu preciosíssimo sangue não só nos é aplicado, mas nos é permitido receber na realidade o próprio divino autor de toda a graça.

Mas, infelizmente, quão poucos são os que sabem valorizar a magnificência da graça de Deus! Se apreciássemos devidamente a grande bênção do nosso privilégio de receber Jesus Cristo, esforçar-nos-íamos incessantemente por merecê-la. Para dar uma idéia da grandeza desta bênção, vamos considerar: (I) a sublimidade e a importância deste Sacramento; (II) os seus efeitos e suas bênçãos.

I

Não me comprometo, caros irmãos, a descrever-vos toda a sublimidade deste Sacramento, porque isso não é possível ao homem mortal; seria como se o próprio Deus descrevesse a magnitude deste milagre. Nunca deixaremos de nos interrogar, na outra vida e por toda a eternidade, sobre o fato de a nós, homens miseráveis, ter sido permitido receber um Deus tão grande. Mas, para vos dar uma ideia das grandes bênçãos deste grande Sacramento, queridos irmãos, lembremo-nos de que Jesus Cristo, durante a sua vida terrena, nunca foi a lado nenhum sem distribuir as suas mais ricas bênçãos, e quão grandes, portanto, e preciosos devem ser os dons recebidos na Sagrada Comunhão! De fato, o maior bem do homem neste mundo consiste em receber Jesus Cristo na Sagrada Comunhão, porque a Sagrada Comunhão não é apenas proveitosa e um alimento para as nossas almas, mas também, como veremos, proveitosa para os nossos corpos.

Lemos no Evangelho que Jesus Cristo, ao entrar em casa de Isabel, embora estivesse ainda encerrado no ventre de sua Mãe, encheu Isabel e o seu filho com o Espírito Santo; de modo que João foi purificado do pecado original, e a mãe gritou: 'De onde me vem isto, que a mãe do meu Senhor venha ter comigo?' Deixo-vos, caríssimos irmãos, a consideração de quão maior é a sorte daqueles que, na Santa Comunhão, recebem Jesus Cristo, não só em sua casa, mas em seus corações; que podem retê-lo não só por seis meses, como Isabel, mas por todo o tempo de suas vidas. Se o santo e venerável Simeão, tendo durante tantos anos desejado ardentemente contemplar o Redentor, e por fim, tendo Jesus nos braços, foi tão arrebatado pela alegria, e tão extasiado, que clamou, num êxtase de amor 'Ó Senhor, que mais posso desejar sobre a terra, depois de ter contemplado com os meus próprios olhos o Redentor do mundo? Agora posso morrer em paz!' E ainda, caríssimos irmãos, que diferença há entre tê-lo nos braços por um momento apenas e recebê-lo no nosso coração na Sagrada Comunhão? Como não damos valor à nossa sorte! 

Quando Zaqueu ouviu falar de Jesus Cristo, teve um grande desejo de vê-lo e, diante da grande multidão que o impedia de ver, subiu a uma árvore, e o Senhor o viu e lhe disse: 'Zaqueu, desce, porque hoje entrarei em tua casa'. Ele desceu imediatamente e fez os melhores preparativos que podia para receber o Redentor. Ao entrar em sua casa, o Senhor disse: 'Hoje chegou a salvação a esta casa'. Comovido com a bondade de Jesus Cristo, Zaqueu gritou: 'Senhor, a metade dos meus bens dou aos pobres, e se eu tiver prejudicado alguém em alguma coisa, restituo-lhe quatro vezes mais'. E assim a visita de Jesus Cristo fez de um grande pecador um grande santo. Segundo o Evangelho, quando Jesus entrou em casa de São Pedro, este pediu-lhe que curasse a sua sogra, que sofria de uma febre violenta. Jesus Cristo ordenou que a febre a deixasse, e ela ficou curada imediatamente e serviu os convidados à mesa. O que é que levou o Salvador a ressuscitar Lázaro da morte, depois de ele ter estado morto durante quatro dias? Foi o fato de Lázaro o ter recebido tantas vezes em sua casa; por isso, o nosso Senhor mostrou um tal apego por ele que derramou lágrimas. 

Em outras ocasiões, Jesus foi suplicado por pessoas para salvar as suas vidas, outras pediram-lhe para curar os seus corpos, e ninguém foi embora sem ter obtido o que queria. Não é esta a prova de que Ele está sempre pronto a conceder tudo o que lhe pedimos? Que graças não derramará sobre nós quando entrar nos nossos corações, para aí fazer a sua morada? Quem pode compreender a felicidade de um cristão que, bem preparado, recebe Jesus Cristo no seu coração, e que assim se torna parte do céu?

Mas, perguntarão, por que é que a maior parte dos cristãos mostra tão pouco apreço por esta felicidade? Por que é que muitos deles pensam pouco dela, e até zombam daqueles que frequentemente participam dela? Esses pobres infelizes simplesmente nunca conheceram nem desfrutaram dessa grande felicidade. Que felicidade é para um cristão crente levantar-se do banquete sagrado e sair com o céu no coração! Afortunada é a casa em que tais cristãos habitam! Possuir em sua própria casa um tabernáculo no qual Deus está entronizado! Quereis saber, talvez, se esta felicidade é tão grande, porque é que a Igreja só nos manda comungar uma vez por ano? Esta ordem não é dada para os bons cristãos, mas para os cristãos frouxos e indiferentes, para o bem das suas pobres almas.

Na Igreja primitiva, o maior castigo para um cristão era ser privado da Sagrada Comunhão. Os primeiros cristãos podiam comungar sempre que assistiam ao Santo Sacrifício da Missa. Quando a Igreja viu que muitos cristãos negligenciavam a salvação das suas pobres almas, deu-lhes a ordem de comungar três vezes por ano, no Natal, na Páscoa e no Pentecostes, esperando que o medo de pecar contra esta ordem lhes abrisse os olhos. Mas quando, com o passar do tempo, os cristãos se tornaram ainda menos zelosos da salvação de suas almas, ela tornou seu dever receber a Santa Comunhão pelo menos uma vez por ano. Como é infeliz e cego o cristão que deve ser obrigado por lei a participar desta grande felicidade! Se, meus caros irmãos, não tivésseis outros pecados na vossa consciência senão a negligência do vosso dever pascal, estaríeis eternamente perdidos. Agora dizei-me que incentivo há para deixardes a vossa alma cair num estado tão triste? Dizeis que sois feliz e contente. Se eu pudesse acreditar em ti! Mas onde encontras a tua paz e contentamento? Será no pensamento de que a alma espera o momento da morte para ser lançada no inferno? Ou, talvez, porque o diabo é o vosso mestre? Como é cego e infeliz o homem que perdeu a fé!

II

Todos os Padres da Igreja nos ensinam que, pela receção de Jesus Cristo na Sagrada Comunhão, recebemos bênçãos mil vezes maiores para o tempo e para a eternidade; de fato, esta é uma verdade tão fundamental que até uma criança, à pergunta: 'Devemos desejar ardentemente receber a Sagrada Comunhão?', responderia: 'Sim, de fato'. 'E por que?' 'Por causa dos excelentes efeitos que ela produz em nós'. 'E quais são esses efeitos?' 'A Sagrada Comunhão une-nos mais intimamente a Jesus Cristo, enfraquece as nossas inclinações para o mal, fortalece em nós a vida da graça e é para nós o fundamento e o penhor da vida eterna'.

1. A Santa Comunhão une-nos mais intimamente a Jesus Cristo. Esta união é tão íntima, caríssimos irmãos, que o próprio Jesus Cristo nos diz: 'Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele, porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida'. Por conseguinte, caríssimos irmãos, ao recebermos a Sagrada Comunhão, o sangue adorável de Jesus Cristo corre realmente nas nossas veias, a sua carne é realmente misturada com a nossa; e por isso São Paulo diz: 'Não sou eu que ajo e penso, mas é Jesus Cristo que age e pensa em mim. Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim'.

2. Ao recebermos Jesus Cristo na Sagrada Comunhão, recebemos uma abundância de graças; ao recebermos Jesus Cristo, recebemos a fonte de todas as bênçãos. Aqueles que recebem Jesus Cristo sentem a sua fé fortalecida, e estão mais profundamente impregnados com as verdades da sua santa religião; percebem mais claramente a enormidade e o perigo do pecado; o pensamento do julgamento assusta-os mais; a desgraça da perda de Deus é mais percetível para eles. Na Sagrada Comunhão, a nossa coragem é fortalecida; somos fortes para combater, as nossas ações são guiadas por motivos mais puros, a nossa caridade aumenta cada vez mais. O pensamento de que levamos Jesus no nosso coração, o arrebatamento que experimentamos nesse momento feliz, une-nos e liga-nos de tal modo a Deus que o nosso coração só pensa e só deseja Deus. Este, meus caros irmãos, é um dos efeitos que a Santa Comunhão produz em nós, se formos tão felizes a ponto de receber Jesus Cristo dignamente.

3. A Sagrada Comunhão enfraquece a nossa inclinação para o mal. É muito fácil perceber isso. O preciosíssimo sangue de Jesus que corre nas nossas veias, e o seu adorável corpo que se mistura com o nosso, devem necessariamente destruir, ou pelo menos enfraquecer muito, a nossa inclinação para o mal, produzida em nós pelo pecado de Adão. É certo, caríssimos irmãos que, depois da comunhão, sentimos um novo desejo do celeste e um novo desprezo pelas coisas materiais. Como pode o orgulho entrar num coração que acaba de receber um Deus que, ao entrar nesse coração, se rebaixou até à privação de si mesmo? Um coração que recebeu um Deus tão puro, que é a própria santidade, não sentiria o maior horror ao pecado da impureza? Um cristão que recebeu Jesus Cristo, que morreu pelos seus inimigos, não desejaria mal aos que o ofenderam? Certamente que não: dar-lhe-ia prazer fazer-lhes o bem, tanto quanto estivesse ao seu alcance. Por isso, São Bernardo dizia aos seus monges: 'Meus filhos, quando vos sentirdes menos inclinados para o mal e mais inclinados para o bem, agradecei a Jesus Cristo que vos concedeu esta graça pela Sagrada Comunhão'.

4. A Sagrada Comunhão é para nós um penhor da vida eterna, isto é, a Sagrada Comunhão dá-nos a expectativa do céu, a certeza de que o céu será um dia a nossa morada. Além disso, Jesus Cristo fará com que o nosso corpo, na ressurreição, apareça tanto mais glorioso quanto mais vezes o tivermos recebido dignamente. Sim, queridos irmãos, se realmente soubéssemos apreciar a grandeza desta felicidade, não nos importaria viver a menos que nos fosse permitido receber Jesus Cristo como nosso alimento diário. Consideraríamos que todas as coisas criadas não valem a pena; desprezá-las-íamos e entregar-nos-íamos apenas a Deus, e o nosso objetivo seria tornar-nos diariamente mais dignos de o receber.

Se tais são a felicidade e as bênçãos que resultam da digna receção deste Sacramento, não deveríamos esforçar-nos por nos tornarmos dignos de o receber frequentemente? Os efeitos que vos são explicados neste discurso todos nós desejaríamos que se produzissem em nós; por isso, exorto-vos, venerai este grande Sacramento e vivei de modo a poderdes receber o vosso Senhor e Deus, e participar da sua graça e bênção para que, no fim dos tempos, sejais, segundo as suas próprias palavras, ressuscitados da morte para a vida eterna, o que vos desejo a todos. Amém.