sábado, 31 de agosto de 2024

DECÁLOGO SOBRE A CONSOLAÇÃO

1. Bem-aventurados os que cho­ram, porque serão consolados! (Mt 5,4)

2. Vinde a mim todos os que vos achais em sofrimentos e sobrecarregados; e eu vos aliviarei (Mt 11,28)

3. Quando Deus te der alguma consolação espiritual, receba-a agradecido, reconhecendo que é dom de Deus e não merecimento teu. Com ela não te desvaneças nem te alegres em excesso, nem presumas vãmente de ti, mas humilha-te pelo dom recebido e sê mais acautelado e timorato em todas as tuas obras, porque passará aquela hora de alegria e virá a tentação. Quando te for tirada a consolação, não desesperes logo, mas espera com humildade e paciência que volte esta alegria celeste, porque todo poderoso é Deus para dá-la de novo e ainda maior que a precedente (Excertos da obra 'Breviário da Confiança', do Pe. Ascânio Brandão)

4. Portanto, considera, ó minha alma, que não poderás achar consolo pleno e alegria perfeita senão em Deus, que consola os pobres e agasalha os humildes (Da Imitação de Cristo).

5. Nos períodos de solidão, eu às vezes me sentia triste, e costumava me consolar repetindo este verso de um belo poema que papai me ensinara: 'A vida é teu navio, não é a tua morada' (Santa Teresa do Menino Jesus)

6. Na meditação da Paixão de Cristo está toda a escola das virtudes, o alento nos trabalhos, a consolação nas aflições, o incentivo ao heroísmo, o bálsamo nos sofrimentos, o alimento da devoção pura, a fornalha do divino amor' (São Paulo da Cruz)

7. Se, pois, somos atribulados, é para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, a qual se efetua em vós pela paciência em tole­rar os sofrimentos que nós mesmos suportamos (IICor 1,6).

8. Nem sempre temos de tragar água amarga; durante toda a eternidade beberemos as cristalinas águas da vida. Das águas amargas caem somente gota após gota sobre nós; ao passo que beberemos, um dia, no rio, no oceano da vida, por todos os séculos dos séculos (São Bernardo).

9. Toda a verdadeira consolação que podemos desejar, todas as graças que Deus nos concede, todas as luzes, inspirações, santos desejos, bons afetos, dor dos pecados, bons propósitos, amor de Deus, esperança do céu: todos estes bens são frutos e dons que nos veem da Paixão de Jesus Cristo (Santo Afonso Maria de Ligório).

10. Sois a consolação do mundo, o resgate do cativo, a saúde do enfermo, a alegria do aflito, o refúgio e a salvação do gênero humano (Oração de Santo Efrém a Nossa Senhora).

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

COMO ENCONTRAR A VERDADEIRA PAZ INTERIOR


1. Jesus: Filho, eu disse aos meus discípulos: 'Eu vos deixo a paz; dou-vos a minha paz; não vo-la dou como a dá o mundo' (Jo 14,27). Todos desejam a paz, mas nem todos buscam as coisas que produzem a verdadeira paz. A minha paz está com os humildes e mansos de coração. Na muita paciência encontrarás a tua paz. Se me ouvires e seguires a minha voz, poderás gozar grande paz.

2. A alma: Que hei de fazer, pois, Senhor?

3. Jesus: Em tudo olha bem o que fazes e dizes, e dirige toda a tua intenção só para meu agrado, sem desejar ou buscar coisa alguma fora de mim. Não julgues temerariamente as palavras e obras dos outros, nem te intrometas em coisas que não te dizem respeito; deste modo poderá ser que pouco ou raras vezes te perturbes.

4. Nunca sentir, porém, inquietação, nem sofrer moléstia alguma do corpo ou do espírito, não é próprio da vida presente, senão do estado do eterno descanso. Não julgues, pois, ter achado a verdadeira paz, se não sentires nenhuma aflição; nem que tudo está bem, se não tiveres nenhum adversário, ou tudo perfeito, se tudo correr a teu gosto. Nem penses que és grande coisa ou singularmente amado por Deus, se sentes muita devoção e doçura, porque não são estes os sinais pelos quais se conhece o verdadeiro amante da virtude, nem consiste nisso o aproveitamento e a perfeição do homem.

5. A alma: Em que consiste, pois, Senhor?

6. Jesus: Em te ofereceres de todo o teu coração à divina vontade, sem buscares o teu próprio interesse em coisa alguma, nem eterna; de sorte que com igualdade de ânimo dês graças a Deus na ventura e na desgraça, pesando tudo na mesma balança. Se fores tão forte e constante na esperança que, privado de toda consolação interior, disponhas teu coração para maiores provações, sem te justificares, como se não deveras sofrer tanto, e antes louvares a santidade e a justiça em todas as minhas disposições, então andarás no verdadeiro e reto caminho da paz e poderás ter certíssima esperança de contemplar novamente minha face com júbilo. E, se chegares ao perfeito desprezo de ti mesmo, fica sabendo que então gozarás da abundância da paz, no grau possível nesta peregrinação terrestre.

(Da Imitação de Cristo, de Thomas de Kempis)

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

ORAÇÃO: AURORA LUCIS RUTILAT

Hino de louvor a Jesus Ressuscitado, datado do século IV ou V e comumente atribuído a Santo Ambrósio (340-397), ainda que sem comprovação formal. O hino original era composto de 12 estrofes, com 4 versos cada, que foram posteriormente separadas na forma de 2 ou 3 hinos adicionais. A forma abaixo, contemplando seis estrofes, representa a versão atual mais convencional do hino.

AURORA LUCIS RUTILAT

Aurora lucis rutilat,
caelum resultat laudibus,
mundus exsultans iubilat,
gemens infernus ululat.

Cum rex ille fortissimus,
mortis confractus viribus,
pede conculcans tartara
solvit catena miseros.

Ille, quem clausum lapide
miles custodit acriter,
triumphans pompa nobili
victor surgit de funere.

Inferni iam gemitibus
solutis et doloribus,
quia surrexit Dominus
resplendens clamat angelus.

Esto perenne mentibus
paschale, Iesu, gaudium
et nos renatos gratiae
tuis triumphis aggrega.

Iesu, tibi sit gloria,
qui morte victa praenites,
cum Patre et almo Spiritu,
in sempiterna saecula.


A AURORA DE LUZ BRILHA

A aurora de luz brilha
e o céu ressoa com louvores:
o mundo exulta de alegria
e o inferno ruge e geme.

​Quando o Rei poderosíssimo,
tendo quebrado as forças da morte,
esmagou o Inferno sob seus pés
e libertou os justos da prisão.

Aquele a quem os soldados
guardam vigilantes com pedra selada,
ergue-se hoje glorioso e magnífico,
triunfante sobre o seu túmulo.

Tendo acabado os estertores
e gemidos do inferno,
um anjo resplandecente clamou:
O senhor ressuscitou!

Sede, Jesus, para as nossas almas,
a alegria eterna da Páscoa
e que nós, renascidos para a graça,
sejamos testemunhas de vosso triunfo.

A Vós, Jesus, seja dada toda glória,
 no esplendor de ter vencido a morte
com o Pai e o Espírito Santo
agora e por todos os séculos. Amém.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

SOBRE O IMENSURÁVEL VALOR DO PERDÃO

Todo o homem é devedor de Deus e tem o seu irmão como seu devedor. Haverá alguém que não deva nada a Deus, senão Aquele em quem não se pode encontrar pecado? E quem é o homem que não tem um irmão como seu devedor, senão aquele a quem ninguém ofendeu? Parece-te possível que haja um único homem a quem não se possa contabilizar qualquer falta para com um irmão?

Portanto, todo o homem é devedor de alguém e tem os seus devedores. Por isso Deus, que é justo, deu-te uma regra para seguires com o teu devedor, e Ele próprio aplicará esta regra para com o seu. Existem, com efeito, duas obras de misericórdia que nos podem libertar; o próprio Senhor as formulou de uma forma breve no seu Evangelho: 'Perdoai e ser-vos-á perdoado' e 'Dai e recebereis' (Lc 6,37-). A primeira tem a ver com o perdão, a segunda com a caridade.

Tu desejas obter o perdão dos teus pecados e também tens pecados a perdoar a alguém. O mesmo se passa com a caridade: o mendigo pede-te esmola e tu és o mendigo de Deus, porque todos somos, quando pedimos, mendigos de Deus. Todos nos prostramos diante da porta do nosso Pai, da sua enorme riqueza. E suplicamos-lhe gemendo, desejosos de receber dele alguma coisa: ora essa coisa é o próprio Deus. Que te pede o mendigo? Pão. E tu, que pedes a Deus? Nada menos que o próprio Cristo, que disse: 'Eu sou o pão vivo que desceu do Céu' (Jo 6,51). Quereis ser perdoados? 'Perdoai e sereis perdoados'. Quereis receber? 'Dai e recebereis'.

(Santo Agostinho)

terça-feira, 27 de agosto de 2024

PROFECIAS CATÓLICAS (II)

 👉 São Tomás Becket (século XII): 'Um cavaleiro virá do Ocidente. Ele capturará Milão, Lombardia e as três Coroas. Depois navegará para Chipre e Famagosta e desembarcará em Jaffa, e chegará ao túmulo de Cristo onde lutará. Guerras e maravilhas acontecerão até que as pessoas acreditem em Cristo até o fim do mundo'.

Comentários: Na sua forma atual, esta profecia é muito obscura. No entanto, ela confirma o que se sabe de profecias mais específicas: o Cavaleiro é o grande rei cristão que será escolhido por Deus para destruir o comunismo e ao qual os Estados Unidos emprestarão o seu poder material. Combaterá primeiro na França e na Alemanha, depois em Itália e libertará o Vaticano ('Três Coroas' equivalem à Tiara). Em seguida, navegará para a Palestina para aí restaurar o cristianismo. Muitas profecias confirmam este fato, por mais incrível que possa parecer por enquanto.

👉 Santa Hildegarda (século XII): 'Está para chegar o tempo em que os príncipes e os povos rejeitarão a autoridade do papa. Alguns países preferirão os seus próprios governantes eclesiásticos ao papa. O Império Alemão será dividido, os bens da Igreja serão secularizados. Os padres serão perseguidos. No fim do mundo, a humanidade será purificada pelo sofrimento. Isto será verdade especialmente para o clero que será despojado de todos os seus bens'

Comentários: esta profecia já se cumpriu parcialmente; muitos países tornaram-se protestantes no século XVI e o Império Alemão foi dividido em consequência disso.

👉 Santa Hildegarda (outra profecia): 'Um vento poderoso surgirá do norte, trazendo consigo, por ordem divina, um nevoeiro pesado e a mais densa poeira, que encherá as suas gargantas e olhos, de modo a que cessem a sua selvageria e sejam dominados por um grande temor. Antes da chegada do cometa, muitas nações más serão flageladas pela carência e pela fome. A grande nação no oceano que é habitada por pessoas de diferentes tribos e descendências será devastada por um terremoto, tempestades e maremotos. Ela será dividida e, em grande parte, submersa. Essa nação também terá muitos infortúnios no mar e perderá as suas colônias. Pela sua tremenda pressão, o cometa forçará as águas muito para fora do oceano, inundando muitas regiões e causando muita miséria. Todas as cidades costeiras viverão com medo, e muitas delas serão destruídas por maremotos, e a maior parte das criaturas serão mortas e mesmo aquelas que escaparem morrerão de doenças horríveis, pois em nenhuma dessas cidades se vive de acordo com as leis de Deus. A paz voltará ao mundo quando a flor branca tomar posse do trono da França. Durante esse período de paz, as pessoas serão proibidas de andar armadas, e o ferro será usado apenas para fazer utensílios e ferramentas agrícolas. Também durante esse período, a terra será muito produtiva, e muitos judeus, pagãos e hereges converter-se-ão à Igreja'.

Comentários: Muitas outras profecias mencionam tais calamidades, nevoeiros e poeiras de tal espessura que os homens serão obrigados a deixar de se matar uns aos outros. Esta catástrofe natural causará muita perda de vidas e grande destruição. Após o fracasso das colheitas, muitas pessoas morrerão de fome, e os seus corpos não enterrados serão causa de terríveis epidemias. A nação de 'muitas tribos' no oceano não parece ser a América. De fato, outra profecia nomeia a Inglaterra, uma antiga grande potência colonial, que também era composta por muitas tribos diferentes no início. A 'flor branca' é o lírio, símbolo da monarquia francesa. O Grande Rei governará toda a Europa Ocidental. Será o novo Império Romano, no fim do qual, segundo muitos Padres da Igreja, virão as últimas perseguições do Anticristo. 

Embora Santa Hildegarda fosse uma santa alemã, ela menciona a França em particular. Por quê? Porque a França, para o bem e para o mal, sempre teve uma grande influência nos assuntos mundiais. A França envenenou o mundo inteiro com as doutrinas mortíferas dos seus filósofos do século XVIII, em particular Rousseau e Voltaire. A Revolução Francesa marcou o triunfo das ideias destes filósofos, que se enraizaram primeiro na América e depois em toda a Europa, na sequência da vitória dos exércitos de Napoleão. Da Europa, espalharam-se por todo o mundo no período colonial que se seguiu. As instituições sociais e políticas de todo o mundo - incluindo o comunismo - são o desenvolvimento lógico dessas ideias. É, portanto, justo que a Contra Revolução comece também em França. E, de fato, é na França que o Grande Rei, de acordo com todas as profecias, iniciará a sua obra.

(Excertos da obra 'Catholic Prophecy: The Coming Chastisement', de Yves Durant)

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

PALAVRAS ETERNAS (XX)


(imagem de Jesus, recriada por IA, a partir do Sudário de Turim)

'A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus' (Jo 6, 68 - 69)


domingo, 25 de agosto de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Provai e vede quão suave é o Senhor!' (Sl 33)

Primeira Leitura (Js 24,1-2a.15-17.18b) - Segunda Leitura (Ef 5,21-31) -  Evangelho (Jo 6,60-69)

  25/08/2024 - VIGÉSIMO PRIMEIRO DOMINGO DO TEMPO COMUM

38. 'TU ÉS O SANTO DE DEUS'


Jesus acabara de dizer aos seus discípulos: 'Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós' (Jo 6, 53). Na incompreensão dos mistérios da Eucaristia, muitos já haviam se perguntado: 'Como poderá este dar-nos a sua carne para comermos?' (Jo 6, 52) e agora ainda murmuravam: 'Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?' (Jo 6, 60). Sob a luz irradiante de revelações tão profundas, como poderiam homens de fé tão dúbia entender os divinos mistérios?

E o passo seguinte e natural daqueles homens foi a rejeição. Diante de 'palavras tão duras', onde o pensamento racional não conseguia sustento e amparo, os homens de pouca fé se dispersaram, voltaram atrás e não andavam mais com Jesus. Para eles, era inconcebível Jesus se revelar como 'pão', como 'carne' a ser comida, como 'sangue' a ser bebido, como primícias de vida eterna. O milagre da transubstanciação implica não o aceno morno dos sentidos, mas a experiência definitiva da fé em plenitude.

Jesus vai indagar, então, aos que o cercam: 'Isto vos escandaliza?' (Jo 6, 61) e também aos doze apóstolos em particular: 'Vós também quereis ir embora?' (Jo 6, 67). O caminho do livre arbítrio deve mover o coração humano à acolhida da graça e, por isso, já os alertara previamente: 'É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim, a não ser que lhe seja concedido pelo Pai' (Jo 6, 65). Ninguém pode ir a Jesus pela metade, aprisionado às mazelas do mundo, subjugado pelos ditames dos sentidos; a vida em Deus exige a entrega total, conformada pela crença definitiva de que Jesus de Nazaré é realmente a Verdade, o Caminho e a Vida: 'As palavras que vos falei são espírito e vida' (Jo 6, 63).

E a plenitude da Verdade é conclamada por todos os seus verdadeiros discípulos pela voz de Pedro: 'A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus' (Jo 6, 68 - 69). Eis aí a profissão da autêntica fé cristã que todos nós, apóstolos e discípulos de Jesus, continuamos a entoar através dos tempos: nós cremos, Senhor, que Vós sois verdadeiramente o Santo de Deus, o Filho de Deus Vivo, a Hóstia da Eterna Salvação, o Corpo, Sangue, Alma e Divindade presentes na Santa Eucaristia, que nos é dada, à luz da fé, para que possamos ser e viver, a cada dia na terra, como novos Cristos a caminho dos Céus.

sábado, 24 de agosto de 2024

TRATADO SOBRE A HUMILDADE (IX)

52. O próprio Deus nos deu os meios de obter essa humildade de coração, na lembrança da morte e na meditação sobre ela. A morte é a melhor mestra da verdade; e o orgulho, que não passa de uma ilusão do nosso coração, apega-se a uma vaidade que ele não reconhece como vaidade; por isso, a morte é o melhor meio de aprendermos o que é a vaidade e de nos desapegarmos dela. O nosso amor-próprio é ferido pelo pensamento de que devemos morrer em breve e quando menos o esperarmos e que, com a morte, tudo termina para nós neste mundo; mas, ao mesmo tempo, esta reflexão enfraquece e humilha o nosso amor-próprio. Infelizmente, não pensamos na morte com a seriedade que lhe deveríamos dar.

Se eu tivesse a certeza de que iria morrer dentro de um ano, imagino que me tornaria mais humilde, dia após dia, ao pensar que cada dia mais me aproximaria da minha morte. Mas quem me garante que tenho um ano de vida; mais ainda, que certeza tenho que estarei vivendo ao fim do dia? Ó meu Deus, verdadeira luz da minha alma, mantém viva em mim a lembrança da minha morte. Dizei-me, muitas vezes, com a vossa voz no meu coração, que tenho de morrer, talvez dentro de um ano, talvez dentro de um mês, talvez dentro de uma semana; e assim permanecerei humilde. Para que o pensamento da morte não seja infrutífero para mim, excita agora na minha alma o conhecimento e os sentimentos que terei na última hora da minha vida, quando o abençoado candeeiro for colocado nas minhas mãos 'no dia da provação' [Sb 3,18]. Fazei com que eu saiba agora, como saberei então, o que é a vaidade, e então como poderei voltar a ser arrogante diante dessa verdade tão certa? 'Vaidade das vaidades, tudo é vaidade' [Ecl 1,2]. Jó sempre foi humilde, mesmo nos dias de sua prosperidade: 'os meus dias serão encurtados e só me resta a sepultura' [Jó 17, 1].

53. Outro pensamento humilhante está na lembrança do julgamento que virá. Os santos tremem ao pensar que serão julgados por um Deus em cuja presença nem mesmo os anjos são imaculados. Tremem, embora não tenham nada para ser julgado, exceto as suas boas obras. E o que será de mim, que sou culpado de tantos pecados? Portanto, se eu me prezo e procuro ser estimado pelos outros como mais virtuoso ou menos pecador do que realmente sou, é certo que tal desejo só pode provir da minha própria hipocrisia, pela qual me apresento aos olhos dos homens sob um falso disfarce, levando-os a crer que sou uma coisa quando na realidade sou outra, porque sei que eles não podem ver o que se passa no meu coração; mas virá um tempo em que Deus revelará a minha maldade ao mundo inteiro: 'Mostrarei a tua nudez às nações, e a tua vergonha aos reinos' [Na 3,5]. E então aparecerei como realmente sou. E que dirão de mim os que se deixaram enganar pelas minhas falsas dissimulações?

Ó minha alma, sê humilde e não te esqueças de que, quanto mais te exaltas na tua própria estima, mais serás envergonhada e confundida no dia do juízo. Pois então, como diz o profeta, 'o homem será humilhado' [Is 5,15] e só os humildes poderão gloriar-se 'na sua elevação' [Tg 1,9]. Lembrai-vos de que, segundo o dito de Isaías, o dia do juízo foi designado especialmente para humilhar os soberbos: 'Porque o dia do Senhor dos exércitos virá sobre todo o soberbo e altivo, e ele será humilhado' [Is 2,12], e deves considerar como se fosse especialmente dirigida a ti a voz profética de Deus que diz: 'Eis que venho contra ti, ó soberbo, diz o Senhor, porque é chegado o teu dia, o tempo da tua visitação. E o soberbo cairá, cairá, e não haverá quem o levante' [Is 1,31].

Ah, como posso eu, de fato, estimar-me mais do que os outros, quando todos temos de comparecer como criminosos, miseráveis e nus, perante o tribunal de Deus? Assim escreve São Paulo na sua Epístola aos Romanos: 'Mas tu, por que julgas o teu irmão? E porque desprezas a tua mãe? Porque todos havemos de comparecer perante o tribunal de Cristo' [Rm 14,10].

('A Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

A ENTRADA DA ALMA NO CÉU

I – Ó Deus! Que dirá a alma ao entrar no reino bem-aventurado do Céu? Imaginemos ver morrer essa virgem, esse jovem que, tendo-se consagrado ao amor de Jesus Cristo, e, chegada a hora da morte, vai deixar esta terra. Sua alma apresenta-se para ser julgada; o Juiz acolhe-a com bondade e lhe declara que está salva. O seu Anjo da guarda vem ao seu encontro e mostra-se todo contente; ela lhe agradece toda a assistência recebida, e o anjo responde-lhe: 'Alegra-te, alma formosa; já estás salva; vem contemplar a face do teu Senhor'.

Eis que a alma se eleva acima das nuvens, acima do firmamento e de todas as estrelas: entra no Céu. Que dirá ao penetrar pela primeira vez nessa pátria bem-aventurada, ao lançar o primeiro olhar sobre essa cidade de delícias? Os Anjos e os Santos saem-lhe ao encontro e lhe dão, jubilosos, as boas vindas. Que consolação experimentará ao encontrar ali os parentes e amigos que a precederam, e os seus gloriosos protetores! A alma quererá prostrar-se diante deles; mas os Santos lhe dirão: Guarda-te de o fazer; porque somos servos como: Vide ne feceris; conservus tuus sum.

Ela irá depois beijar os pés de Maria, a Rainha do paraíso. Que ternura não experimentará ao ver pela primeira vez essa divina Mãe, que tanto a ajudou a salvar-se! Então a alma verá todas as graças que Maria lhe alcançou. A Rainha celestial abraça-a amorosamente e a conduz a Jesus que a acolhe como esposa e lhe diz: Veni de Libano, sponsa mea; veni, coronaberis - Vem do Líbano, esposa minha; vem, serás coroada. Regozija-te, esposa querida, passaram já as lágrimas, as penas, os temores: recebe a coroa eterna que te alcancei a preço de meu sangue. Ah, meu Jesus! Quando chegará o dia em que eu também ouvirei de tua boca estas doces palavras?

II – Jesus mesmo acompanhará a alma bem-aventurada afim de receber a bênção de seu Pai divino, que a abraçará carinhosamente e a abençoará, dizendo: Intra in gaudium Domini tui” - Entra no gozo do teu Senhor, e então a deixará participar da sua própria gloriosa beatitude.

Meu Deus, aqui tendes aos vossos pés um ingrato, que foi criado por Vós para o Céu, mas que muitas vezes, na vossa presença, o renunciou por indignos prazeres, consentindo em ser condenado ao inferno. Espero que já me haveis perdoado todas as injúrias que Vos fiz e de que de novo me arrependo e quero arrepender-me até à morte. Quero também que Vós sempre as torneis a perdoar-me. Mas, ó Jesus, embora já me tenhais perdoado, sempre ficará sendo verdade que tive a audácia de amargurar-vos, meu Redentor que, para me conduzir ao vosso reino, sacrificastes a própria vida. Para sempre seja louvada e abençoada a vossa misericórdia, ó meu Jesus, que me haveis aturado com tamanha paciência, e que, em vez de me punir, multiplicastes para comigo as graças, as luzes e os chamados.

Vejo, meu amantíssimo Salvador, que quereis deveras a minha salvação; quereis ver-me em vosso reino para eu que vos possa amar eternamente; mas quereis que primeiramente vos ame nesta terra. Sim, eu quero vos amar. Ainda que não houvesse paraíso, quisera amar-vos por toda a vida, com toda a minha alma, com todas as minhas forças. Basta-me saber que Vós, meu Deus, desejais ser amado por mim. Assisti-me, meu Jesus, com a vossa graça; não me abandoneis. Minha alma é eterna; estou, pois, na alternativa de vos amar ou de vos odiar eternamente! O que eu quero é amar-vos eternamente; quero amar-vos muito nesta vida para vos amar muito na outra. Disponde de mim como vos aprouver; castigai-me como quiserdes; não me priveis do vosso amor, e depois fazei de mim segundo a vossa vontade. Meu Jesus, os vossos méritos são a minha esperança. Ó Maria, ponho toda a minha confiança na vossa intercessão. Livrastes-me do inferno, quando estava em pecado; agora, que desejo só a Deus, deveis salvar-me e tornar-me santo.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os Dias e Festas do Ano', Santo Afonso Maria de Ligório)

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

FRASES DE SENDARIUM (XXXVI)

 'A submissão ao Espírito Santo é o segredo da santidade'

(Cardeal Mercier)

Que eu siga os Teus passos / e leve minha cruz / sendo o sal da Terra / entre os Filhos da Luz / E que o Santo Espírito / me faça viver assim / não sendo eu que vivo / mas Cristo em mim

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXXXVII)

 

Capítulo LXXXVII

Vantagens e Recompensas pela Devoção às Santas Almas - O Regresso do Sacerdote Exilado - O Padre Mumford e a Carta de William Freyssen

Para compreender a gratidão das santas almas, é necessário que tenhamos uma concepção muito clara do benefício que recebem dos seus benfeitores e que saibamos o que significa 'entrar no Céu'. 

'Quem nos dará a conhecer' - diz o abade Louvet - 'as alegrias dessa hora bem-aventurada?' Representai para vós mesmos a felicidade de um exilado que regressa finalmente à sua pátria. Durante o reinado do terror, um pobre padre de La Vendee foi condenado a morrer afogado. Tendo escapado por milagre, foi obrigado a emigrar para salvar a sua vida. Quando a paz foi restabelecida na Igreja e na França, apressou-se a regressar à sua querida paróquia.

'Foi um dia de festa na aldeia. Todos os paroquianos foram ao encontro do seu pároco e pai; os sinos da velha torre tocaram alegremente e a igreja estava decorada como em dias de grande solenidade. O velho sacerdote avançou sorridente no meio dos seus filhos, mas quando as portas do lugar santo se abriram diante dele, quando voltou a ver o altar que tanto alegrou os dias da sua juventude, o seu coração, demasiado fraco para suportar tais arroubos de alegria, rompeu-se no seu peito. Com uma voz trêmula entoou o Te Deum, mas era o Nunc Dimittis da sua vida sacerdotal:caiu moribundo aos pés do altar. O exilado não tinha mais o vigor necessário para suportar as alegrias do seu regresso'. Se tais são as alegrias do regresso de um exilado à sua pátria terrestre, quem nos dará a conhecer os enlevos que experimentaremos ao entrar no Céu, a verdadeira morada das nossas almas? E como admirar a gratidão dos bem aventurados que ajudamos a lá entrar? 

O Padre James Mumford, da Companhia de Jesus, que nasceu na Inglaterra em 1605 e que lutou durante quarenta anos pela causa da Igreja naquele país, entregue à heresia, compôs uma obra notável sobre o Purgatório, que mandou imprimir em Colônia por William Freyssen, um conhecido editor católico. Este livro obteve grande circulação e fez um grande bem entre as almas, sendo o editor Freyssen um dos que mais se beneficiaram com ele. Eis a carta que ele escreveu ao Padre Mumford em 1649: 

'Escrevo-lhe, padre, para o informar da cura milagrosa e dupla do meu filho e da minha mulher. Durante as férias, enquanto o meu escritório estava fechado, pus-me a trabalhar na leitura do livro Misericórdia Praticada para com as Almas do Purgatório”, que me mandaste imprimir. Estava ainda a ler a obra quando fui informado de que o meu filho, de quatro anos de idade, apresentava sintomas de uma doença grave. A doença progrediu rapidamente, o médico perdeu a esperança e já se pensava nos preparativos para o seu enterro. Ocorreu-me que talvez o pudesse salvar, fazendo um voto a favor das almas do Purgatório'.

'Fui à igreja de manhã cedo, e implorei fervorosamente a Deus que tivesse piedade de mim, prometendo como voto distribuir gratuitamente cem exemplares do vosso livro entre os eclesiásticos e religiosos, para lhes lembrar o zelo com que devem interessar-se pela Igreja que sofre, e as práticas mais adequadas para cumprir este dever. Reconheço que estava cheio de esperança. Quando regressei a casa, encontrei a criança melhor. Já pedia comida, embora há vários dias não conseguisse engolir uma só gota de líquido. No dia seguinte, a cura foi completa; levantou-se, saiu para passear e comeu com tanto apetite como se nunca tivesse estado doente. Penetrado de gratidão, o meu desejo mais urgente era cumprir a minha promessa. Dirigi-me ao Colégio da Companhia de Jesus e pedi aos Padres que aceitassem os meus cem exemplares, que ficassem com o número que quisessem para eles e que distribuíssem os demais para outras comunidades e eclesiásticos que conhecessem, para que as almas sofredoras, minhas benfeitoras, pudessem ser consoladas com novos sufrágios'.

'Três semanas depois, aconteceu-me um outro acidente, não menos grave. A minha mulher, ao entrar em casa, foi subitamente tomada por um violento tremor em todos os membros, que a fez cair prostrada no chão. Rapidamente perdeu o apetite e a capacidade de falar. Foram empregados todos os tipos de remédios, mas em vão. A doença só aumentava, e toda a esperança parecia perdida. O seu confessor, vendo-a reduzida a este estado, procurou palavras para me consolar, exortando-me a resignar-me à vontade de Deus. Quanto a mim, depois da proteção que experimentei das boas almas do Purgatório, não podia pensar em desesperar'. 

'Voltei à mesma igreja, prostrei-me diante do Santíssimo Sacramento e renovei a minha súplica com todo o fervor de que era capaz. Ó meu Deus - exclamei - a vossa misericórdia não tem limites! Em nome da vossa Infinita Bondade, não permitais que o restabelecimento da saúde do meu filho seja compensado pela morte da minha mulher! Fiz então o voto de distribuir duzentos exemplares do teu livro, para obter um alívio ainda mais abundante para as almas sofredoras. Ao mesmo tempo, pedi às almas que tinham sido libertadas anteriormente que unissem as suas orações às das outras ainda retidas no Purgatório. Depois desta oração, regressei a casa e vi os meus criados a correr ao meu encontro. Disseram-me que a minha querida esposa estava bastante melhor, que o delírio tinha cessado e que a sua fala tinha voltado. Apressei-me a ir ter com ela e verifiquei que tudo era verdade. Ofereci-lhe comida, que ela tomou com gosto. Pouco tempo depois, estava tão restabelecida que me acompanhou à igreja para dar graças a Deus por toda a sua misericórdia'.

'Vossa Reverência pode depositar toda a confiança nesta declaração. Peço-lhe que me ajude a agradecer a Nosso Senhor por este duplo milagre' (William Freyssen). 

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog




terça-feira, 20 de agosto de 2024

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'A água que eu lhe der se tornará nele fonte de água viva, que jorra para a vida eterna' (Jo 4,14). Água diferente, esta que vive e jorra; mas jorra apenas sobre os que são dignos dela. Por que motivo o Senhor dá o nome de 'água' à graça do Espírito Santo? Certamente porque tudo tem necessidade de água; ela sustenta as ervas e os animais. A água das chuvas cai dos céus; e embora caia sempre do mesmo modo e na mesma forma, produz efeitos muito variados. De fato, o efeito que produz na palmeira não é o mesmo que produz na videira; e assim em todas as coisas, apesar de sua natureza ser sempre a mesma e não poder ser diferente de si própria. Na verdade, a chuva não se modifica a si mesma em qualquer das suas manifestações. Contudo, ao cair sobre a terra, acomoda-se às estruturas dos seres que a recebem, dando a cada um deles o que necessita. Com o Espírito Santo acontece o mesmo. Sendo único, com uma única maneira de ser e indivisível, distribui a graça a cada um conforme lhe apraz. E assim como a árvore ressequida, ao receber água, produz novos rebentos, assim também a alma pecadora, ao receber do Espírito Santo o dom do arrependimento, produz frutos de justiça. O Espírito tem um só e o mesmo modo de ser; mas, por vontade de Deus e pelos méritos de Cristo, produz efeitos diversos.

(São Cirilo de Jerusalém)

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

AS SEIS PREMISSAS DA ORAÇÃO PERFEITA

1. A FÉ

A primeira condição é a fé, de acordo com as palavras do apóstolo: 'Porém, como invocarão aquele em quem não têm fé?' (Rm 10,14a), com as quais São Tiago concorda: 'mas peça-a com fé, sem nenhuma vacilação' (Tg 1,6a). Mas a necessidade de fé não deve ser entendida como se fosse importante acreditar que Deus deva certamente atender ao que é pedido, pois neste caso nossa fé seria provada falsa e então não obteríamos nada. Devemos acreditar que Deus é mais poderoso, mais sábio e mais digno de fé; e que Ele sabe, tem poder e está preparado para atender os nossos pedidos, se entender como apropriado e útil para nós, recebermos o que pedimos. Esta fé Cristo pediu aos dois homens cegos que curou: 'Credes que eu posso fazer isso?' (Mt 9, 28) Com a mesma fé, Davi rezou pelo seu filho adoentado, como provam suas palavras, pois ele acreditava não ser seguro que Deus atenderia suas preces, mas que somente Deus seria capaz de conceder tal graça: 'Quem sabe, talvez o Senhor terá pena de mim e o menino ficará bom?' (2Sm 12,22). Disto não se pode duvidar. Com a mesma fé o apóstolo Paulo rezou para se livrar de um 'espinho na carne'. Pois o apóstolo rezou com fé, e sua fé não era falsa se ele acreditava que Deus poderia lhe conceder a cura que pedia, embora não tenha obtido o que pedia. E, com a mesma fé, a Igreja pede por todos heréticos, pagãos, cismáticos e maus cristãos que possam ser converter e, no entanto, é certo que nem todos se converterão.

2. A ESPERANÇA

Outra condição muito necessária para rezar é a esperança. Pois ainda que pela fé, que é consequência da compreensão, nós não acreditemos que Deus atenderá nossos pedidos; pela esperança, que é um ato de desejo, podemos firmemente nos apoiar na bondade divina e termos confiança que Deus poderá nos atender. Esta condição Deus requer do paralítico, para quem diz: 'Meu filho, coragem! Teus pecados te são perdoados' (Mt 9,2). O mesmo pede o apóstolo para todos, quando diz: 'Aproximemo-nos, pois, confiantemente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno' (Hb 4,16). E muito antes dele, o profeta apresenta Deus, falando: 'Quando me invocar, eu o atenderei; na tribulação estarei com ele' (Sl 90,15). Mas como a esperança brota da fé perfeita, quando a Escritura requer fé nas grandes coisas, ela acrescenta algo sobre esperança. Assim lemos em São Marcos: 'Em verdade vos declaro: todo o que disser a este monte: levanta-te e lança-te ao mar, se não duvidar no seu coração, mas acreditar que sucederá tudo o que disser, obterá esse milagre' (Mc 11,23). Que a fé produz confiança, podemos entender destas palavras do apóstolo: 'mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas' (1Cor 13,2b). João Cassiano escreve em seu Tratado sobre a Oração que um sinal certo que nossos pedidos serão atendidos ocorre, quando em oração, nós não duvidamos que Deus certamente nos atenderá, e não hesitamos de nenhuma maneira, mas derramos nossas orações com alegria espiritual.

3. A CARIDADE

A terceira condição é a caridade pela qual nos libertamos dos pecados, pois os amigos de Deus obtém os seus dons. Assim fala Davi em um salmo: 'Os olhos do Senhor estão voltados para os justos, e seus ouvidos atentos aos seus clamores' (Sl 33,15) e em outro: 'Se eu intentasse no coração o mal, não me teria ouvido o Senhor' (Sl 65, 18). E, no Novo Testamento, o Senhor mesmo confirma: 'Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e vos será feito' (Jo 15,7). E o amado discípulo fala: 'Caríssimos, se a nossa consciência nada nos censura, temos confiança diante de Deus, e tudo o que lhe pedirmos, receberemos dele porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é agradável a seus olhos' (1Jo 3,21-22).

Isto não é contrário à doutrina. Quando o publicano suplica por perdão de seus pecados, ele retorna para casa justificado; pois um pecador arrependido não obtém perdão por ser pecador, mas por estar arrependido; pois, como pecador, ele é inimigo de Deus; como penitente, amigo de Deus. Aquele que peca, desagrada a Deus; mas quem se arrepende de seus pecados, faz o que mais agrada ao Senhor.

4. A HUMILDADE

A quarta condição é a humildade, pela qual o suplicante, confia não em sua própria justiça, mas na bondade de Deus: 'Fui eu quem fez o universo, e tudo me pertence', declara o Senhor. É o angustiado que atrai meus olhares, o coração contrito que teme a minha palavra (Is 66,2). E o Livro do Eclesiástico acrescenta: 'A oração do humilde penetra as nuvens; ele não se consolará, enquanto ela não chegar [a Deus], e não se afastará, enquanto o Altíssimo não puser nela os olhos' (Eclo 35,21).

5. A DEVOÇÃO

A quinta condição é a devoção, pela qual não devemos rezar de maneira negligente, como muitos costumam fazer, mas com atenção, sinceridade, diligência e fervor. Nosso Senhor severamente adverte aqueles que rezam apenas com os lábios. Assim Ele nos fala em Isaias: 'O Senhor disse: Esse povo vem a mim apenas com palavras e me honra só com os lábios, enquanto seu coração está longe de mim' (Is 29, 13). Esta virtude é fruto de uma fé viva e consiste não apenas no hábito de orar, mas na ação. Para aqueles que, com fé firme e atenção, consideram a grandeza de sua majestade Nosso Senhor, quão grande é nossa insignificância, e como são importantes nossos pedidos, não pode fazer diferente que rezar com grande humildade, reverência, devoção e fervor.

Aqui devemos acrescentar o testemunho importante de dois santos padres. São Jerônimo escreve: 'começo pela oração: não devo orar se não acreditar; mas se eu tiver fé verdadeira, este coração, que Deus vê, posso limpá-lo; posso bater no peito, posso molhar minhas faces com minhas lágrimas, posso negligenciar toda atenção ao meu corpo e tornar-me fraco; posso me jogar aos pés do meu Senhor, molhá-los com minhas lágrimas e secá-los com meus cabelos; me apoiar na cruz, e não abandoná-la enquanto não obtiver misericórdia. Porém mais frequentemente durante minhas orações encontro-me caminhando pela cidade e sendo levado por pensamentos maus, entretenho-me em coisas das quais me envergonho de falar. Onde está nossa fé? Supomos que Jonas rezou assim? Os três jovens? Daniel na cova dos leões? Ou o bom ladrão na cruz?'

São Bernardo, no seu Sermão sobre os Quatro Métodos da Oração, escreve: 'sobretudo nos impele, durante o tempo de oração, entrar no quarto celestial, no qual o Rei dos Reis encontra-se sentado em seu trono, cercado por inumerável e glorioso exército de almas abençoadas. Com tal reverência, tal temor, tal humildade, nos aproximamos com pó e cinzas, nós que não somos nada além de pequenos insetos rastejantes. Com tal temor, seriedade, atenção e solicitude deve tão miserável homem estar próximo da divina majestade, na presença de anjos, na assembléia dos justos? Em todas nossas ações temos necessidade de vigilância, especialmente na oração'.

6. A PERSEVERANÇA 

A sexta condição é a perseverança, que nosso Senhor em duas parábolas recomenda: uma sobre o amigo importuno que pede dois pães em um horário inconveniente, no meio da noite, e recebe pela sua perserverança (Lc 11,5-8) e outra sobre a viúva que pede sem esmorecer para que o juiz a livre de seu adversário; e o juiz, embora sendo iníquo, homem que não temia nem Deus nem os homens, sobrepujado pela perseverança da mulher, livrou-a de seu inimigo. Destes exemplos o Senhor conclui, que muito mais perseverantes devemos ser na oração a Deus, porque ele é justo e misericordioso. E São Tiago completa: 'Deus concede generosamente a todos, sem recriminações' (Tg 1,5). Ou seja, ele concede seus dons liberalmente a todos que pedem, e 'sem recriminações' por serem inoportunos, pois Deus não tem limites em suas riquezas e nem em sua misericórdia.

(Excertos da obra 'A Arte de Morrer Bem', de São Roberto Belarmino, texto publicado originalmente no blog Tesouros da Igreja Católica)

domingo, 18 de agosto de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'À vossa direita se encontra a rainha,
com veste esplendente de ouro de Ofir' (Sl 44)

Primeira Leitura (Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab) - Segunda Leitura (I Cor 15,20-27a) -  Evangelho (Lc 1,39-56)

  18/08/2024 - SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

37. ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

 'O Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor'

As glórias de Maria podem ser resumidas na portentosa frase enunciada pelo anjo Gabriel: 'Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus' (Lc 1, 30). Ao receber a boa-nova do anjo, Maria prostrou-se como serva e disse 'sim', e por meio desse sim, como nos ensina São Luís Grignion de Montfort, 'Deus Se fez homem, uma Virgem tornou-se Mãe de Deus, as almas dos justos foram livradas do limbo, as ruínas do céu foram reparadas e os tronos vazios foram preenchidos, o pecado foi perdoado, a graça nos foi dada, os doentes foram curados, os mortos ressuscitados, os exilados chamados de volta, a Santíssima Trindade foi aplacada, e os homens obtiveram a vida eterna'.

Esta efusão de graças segue Maria na Visitação, pois ela é o reflexo da presença e das graças do Espírito Santo que são levadas à sua prima Isabel e à criança em seu ventre. No instante da purificação de São João Batista, o Precursor, Santa Isabel foi arrebatada por inteira pelo Espírito Santo: 'Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo' (Lc 1,41). Por meio de uma extraordinária revelação interior, Santa Isabel confirma em Maria o repositório infinito das graças de Deus: 'Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu' (Lc 1,43).

E é ainda nesta plenitude de comunhão com o Espírito Santo, que Maria vai proclamar o seu Magnificat: 'A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre' (Lc 1, 46-55).

Mãe da humildade, mãe da obediência, mãe da fé, mãe do amor. Mãe de todas as graças e de todos os privilégios, Maria foi contemplada com o dogma de fé divina e católica da assunção, em corpo e alma, à Glória Celeste. Dentre as tantas glórias e honras a Maria, a Igreja celebra neste domingo a Serva do Senhor como Nossa Senhora da Assunção.

sábado, 17 de agosto de 2024

SERVÍS A DEUS OU AO MUNDO?

Sois, por vossas ações, meus queridos Amigos da Cruz, aquilo que vosso grande nome significa? Ou pelo menos, tendes verdadeiro desejo e vontade verdadeira de assim vos tornardes, com a graça de Deus, à sombra da Cruz do Calvário e de Nossa Senhora da Piedade? Entrastes no verdadeiro caminho da vida, que é o caminho estreito e espinhoso do Calvário? Não estareis, sem o pensar, no caminho da perdição? 

Sabeis bem que há um caminho que parece ao homem reto e seguro, e que conduz à morte? Distinguís bem a voz de Deus e de sua graça da voz do mundo e da natureza? Ouvís bem a voz de Deus, nosso Pai, que, depois de ter dado sua tríplice maldição a todos os que seguem as concupiscências do mundo: vae, vae, vae habitantibus in terra - maldição, maldição, maldição aos habitantes da terra... (Ap 8, 13), grita-vos amorosamente, estendendo-vos os braços: Separamini, popule meus. Separai-vos, meu povo escolhido, queridos Amigos da Cruz de meu Filho; separai-vos dos mundanos, malditos por minha Majestade, excomungados por meu Filho e condenados pelo meu Espírito Santo. 

Tomai cuidado para não vos sentardes em sua cadeira toda empestada, não sigais os seus conselhos, nem mesmo pareis em seu caminho. Fugi do meio da grande e infame Babilônia; não escuteis outra voz e não sigais outras pegadas que não as de meu Filho bem amado, que vos dei para que fosse vosso caminho, vossa verdade, vossa vida e vosso modelo: Ipsum audite - ouvi-o (Mt 17,5). Ouvís o amável Jesus que, carregando sua Cruz, vos grita: Venite post me: - vinde após mim; o que me segue não anda em trevas; confidite, ego vici mundum - tende confiança, eu venci o mundo (Jo 16,33)?

(Excertos da obra 'Carta aos Amigos da Cruz', de São Luís Maria de Montfort)

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

TESOURO DE EXEMPLOS (361/365)

 

361. É PREFERÍVEL A MISSA

Henrique III, rei da Inglaterra, ouvia duas ou três missas por dia. Quando um cortesão lhe disse que, a seu juízo, era preferível ouvir sermões, replicou o rei: 'Ouvir sermões é muito bom; mas eu prefiro ver o amigo a ouvir falar dele, por muito que o louvem'.

362. O SEGREDO DA CONFISSÃO

Um sacerdote renegado, excomungado e apóstata, anunciou que, no Teatro Lírico de Santiago do Chile, revelaria os mais interessantes segredos de confissão dos tempos de seu sagrado ministério. Era 18 de maio de 1905. No momento exato em que o desgraçado ia abrir a boca para começar a falar, desabaram estrepitosamente as galerias do teatro, ficando sepultadas debaixo de suas ruínas 600 pessoas. Assim Deus o castigou, não permitindo que se violasse o segredo da Confissão.

363. SE NÃO BLASFEMARES, DOU-TE UMA MOEDA

Um soldado blasfemador dizia que não se corrigia por não poder. Disse-lhe um dia um cavalheiro: 'Se hoje não blasfemares, dou-te uma moeda de ouro'. O soldado, naquele dia, percorreu a caserna, falou, discutiu com os outros soldados, mas não deixou escapar nem uma só blasfêmia. Deu-lhe o cavalheiro a moeda, mas fez-lhe notar que se não se corrigia era porque não queria, mas porque não fazia propósito eficaz; pois, se podia abster-se de blasfemar por uma moeda, muito mais devia abster-se para ganhar o céu. E com esta lição emendou-se aquele soldado.

364. PEQUENOS EXEMPLOS

Em 1763, o general Marquês de Broc inspecionava o regimento do conde de Provença. Perguntou a um cabo do regimento: 'Camarada, como começas o seu dia? 'Meu general, começo rezando as minhas orações'. 'Basta, o próximo. Um soldado que começa o dia assim, seguramente cumprirá seu dever'.

A. Um certo bispo visitava um hospital militar. Aproximando-se de um soldado, recomendou-lhe que não deixasse de rezar pela manhã e à noite. Respondeu-lhe: 'Senhor, eu rezo todas as manhãs e todas as noites, mas à moda militar, brevemente'. 'E como rezas? 'Assim: de manhã, ao despertar, digo: Meu Deus, teu servo se levanta, tem compaixão dele. E ao deitar-me, digo: Meu Deus, teu servo se deita, tem compaixão dele'. 'Bravo! Magnífico!'

B. Nos terremotos de 1906 em São Francisco (Califórnia), enquanto todos corriam como loucos de um lugar para outro, as Irmãs do Sagrado Coração de Jesus, da rua Franklin, com sua superiora Madre Germana, refugiaram-se a orar na capela e rezavam a ladainha do Coração de Jesus, entre os gritos de espanto da multidão. Num instante um mar de fogo e fumo cercou todo o convento; mas, acalmado o incêndio, entre as ruínas dos arredores apareceu o convento intacto, sem sequer ter queimado uma persiana.

C. Um homem casado, mas muito desordeiro, que por conselho de sua esposa rezava sempre uma Ave-Maria, viu que o Menino Jesus estava coberto de chagas e lhe virava as costas. Compreendeu que eram seus pecados e pediu perdão, e rogou a Nossa Senhora que intercedesse por ele. Assim o fez Nossa Senhora, mas o Menino recusava-se a perdoar. Pareceu-lhe então que a Virgem pôs-se de joelhos diante do Filho. Este comoveu-se, perdoou, mas exigiu que o pecador lhe beijasse as chagas, e estas, à medida que eram beijadas, desapareciam. Aquele esposo mudou de vida e tornou-se um cristão fervoroso.

D. Era na Alemanha. Um capelão não conseguia converter um condenado que ia ser enforcado. Por fim, isse-lhe: Reze comigo ao menos uma Ave-Maria. Ele a rezou e, banhado em lágrimas, confessou-se e morreu bem.

E. 'A missa é tão longa!' - dizia alguém ao bispo de Amiens, Mons. de la Motte. 'Que vergonha!' - respondeu o prelado - 'um filho se cansa de estar com o seu pai; um homem se cansa de estar com o seu Deus!'

F. Carlos XII, rei da Suécia, embriagou-se e fez um insulto à sua mãe. Esta retirou-se e, no outro dia, não se apresentou ao filho. Carlos, ao saber da causa, tomou um copo de vinho e, apresentando-se à rainha, disse: 'Senhora, sei que ontem vos insultei; perdoai-me. Bebo este vinho à vossa saúde'. Em seguida, quebrou o copo e acrescentou: 'Este é o último copo de vinho que bebo em minha vida'. E cumpriu a palavra.

G. Henrique VIII, rei católico, para casar-se com Ana Bolena (posto que já era casado com outra), abjurou a religião católica e tornou-se um rei perseguidor e sanguinário. Imolou 2 cardeais, 13 abades, 18 bispos, 50 doutores, 200 padres, 360 senhores e mais de 72.000 vítimas. Ao morrer dizia: 'Desgraçado de mim! Não perdoei durante minha vida nem a um homem em minha cólera, nem a uma mulher em minha sensualidade, e morro execrado dos homens e amaldiçoado de Deus'.

H. São Medardo possuía uma novilha, que trazia ao pescoço um cincerro. Um dia um amigo do alheio roubou-lhe a novilha. O cincerro começou a soar; o ladrão encheu-o de palha, e soava; tirou-o do pescoço da vaca e meteu-o num balaio, e este continuava a tinir; enterrou-o, e mesmo assim continuava a tinir. Cheio de terror, devorado pelo remorso, aquele ladrão confessou a sua culpa, entregando a novilha ao seu legítimo dono.

I. Um rapaz foi condenado à morte. Estava preso e naquele dia seria executado. Sua mãe foi visitá-lo, mas ele a repeliu e não a quis receber, dizendo: 'A senhora tem a culpa. Se, quando eu fazia pequenos furtos, me tivesse castigado, eu não estaria aqui. A senhora, uma má mãe, aprovou aqueles furtos pelo que agora estou condenado'.

J.  Washington, um dos mais célebres presidentes dos Estados Unidos, era um menino travesso. Um dia, deu uma machadada numa cerejeira, que seu pai estimava muito e a arvorezinha secou. Perguntou o pai tal fato aos criados. O menino, a essa altura, apresentou-se ao pai e disse: 'Pai, eu não devo mentir: fui eu'. E o pai: 'Muito mais estimo a tua sinceridade que todas as cerejeiras do mundo. Perdoo-te, uma vez que disseste a verdade'.

K. O médico Hipócrates, que chegou à idade de 140 anos, dizia: 'Nunca comi até ficar farto'. São Francisco de Paula chegou aos 91 e Santo Afonso também; Santo Hilário chegou aos 104 e, como eles, muitos outros jejuadores chegaram a idades avançadas.

L. Um santo bispo mandou por em seu epitáfio estas palavras: 'Lembrai-vos de santificar o dia do Senhor'. O santo bispo de Poitiers, Mgr. Pie, dizia: 'Quisera que na sepultura de todos os nossos diocesanos se pudesse pôr êste epitáfio: Êste homem descansou todos os domingos, e os santificou'. O santo cura de Ars dizia: 'O domingo é dia de Deus... Conheço dois meios de empobrecer: trabalhar aos domingos e roubar'.

M. Alguém perguntou ao sábio Diógenes que deveria fazer para vingar-se de um inimigo. Diógenes respondeu: 'Seja mais virtuoso que ele'.

365. SAVONAROLA E O CARNAVAL

Conta-se que, em represália aos excessos do carnaval florentino, organizou Savonarola em 1496 uma procissão de 10.000 jovens, que desfilou pelas ruas principais da cidade cantando hinos religiosos de penitência. Chegando a uma praça, onde se erguera uma grande pirâmide de livros maus, recolhidos com antecedência, a um sinal dado, deitaram-lhes fogo. Ao mesmo tempo soaram as trombetas da Signoria, repicaram os sinos da Igreja de São Marcos e a multidão prorrompeu em aclamações. Encerrou-se a função com uma missa solene no meio da praça, onde fôra erguido um grande Crucifixo.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

GLÓRIAS DE MARIA: ASSUNÇÃO AO CÉU

  

A Assunção de Maria - Palma Vecchio (1512 - 1514)

"Pronunciamos, declaramos e de­finimos ser dogma de revelação divina que a Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, cumprido o curso de sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à Glória celeste”.

                            (Papa Pio XII, na Constituição Dogmática  Munificentissimus Deus, de 1º de novembro de 1950)


A solenidade da Assunção da Virgem Maria (celebrada pela Igreja no dia 15 de agosto) existe desde os primórdios do catolicismo e, desde então, tem sido transmitida pela tradição oral e escrita da Igreja. Trata-se de um dos grandes e dos maiores mistérios de Deus, envolto por acontecimentos tão extraordinários que desafiam toda interpretação humana: 

1. Nossa Senhora NÃO PRECISAVA morrer, uma vez que era isenta do pecado original;

2. Nossa senhora QUIS MORRER para se assemelhar em tudo ao seu Filho, pela aceitação de sua condição humana mortal e para mostrar que a morte cristã é apenas uma passagem para a Vida Eterna;  

3. Nossa Senhora NÃO PODIA passar pela podridão natural da carne tendo sido o Sacrário Vivo do próprio Deus;

4. A morte de Nossa Senhora foi breve (é chamada de 'Dormição') e ela foi assunta ao Céu em corpo e alma;

5. Aquela que gerou em si a vida terrena do Filho de Deus foi recebida por Ele na glória eterna;

6. Nossa Senhora foi assunta ao Céu pelo poder de Deus; a ASSUNÇÃO difere assim da ASCENSÃO de Jesus, uma vez que Nosso Senhor subiu ao Céu pelo seu próprio poder.


Louvor a Ti, Filha de Deus Pai,
Louvor a Ti, Mãe do Filho de Deus,
Louvor a Ti, Esposa do Espírito Santo,
Louvor a Ti, Maria, Tabernáculo da Santíssima Trindade!

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

VERSUS: BONDADE DIVINA X MISÉRIA HUMANA

Poderá haver prova mais eloquente da misericórdia de Deus do que assumir nossa miséria? Poderá haver maior prova de amor do que o Verbo de Deus se tornar como a erva do campo por nossa causa? 'Senhor, que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho?' (Sl 8,5). Por isso, compreenda o homem até que ponto Deus cuida dele; reconheça bem o que Deus pensa e sente a seu respeito. Não perguntes, ó homem, por que sofres, mas por que ele sofreu por ti. Vendo tudo o que fez em teu favor, considera o quanto ele te estima, e assim compreenderás a sua bondade através da sua humanidade. Quanto menor se tornou em sua humanidade, tanto maior se revelou em sua bondade; quanto mais se humilhou por mim, tanto mais digno é agora do meu amor. Diz o Apóstolo: Apareceu a bondade e a humanidade de Deus, nosso Salvador. Na verdade, como é grande e manifesta a bondade de Deus! E dá-nos uma grande prova de bondade Aquele que quis associar à humanidade o nome de Deus.

(São Bernardo)


Todas as delícias e doçuras que a vontade saboreia nas coisas terrenas, comparadas aos gozos e às delícias da união divina, são suma aflição, tormento e amargura. Assim todo aquele que prende o coração aos prazeres terrenos é digno diante do Senhor de suma pena, tormento e amargura, e jamais poderá gozar os suaves abraços da união de Deus. Toda a glória e todas as riquezas das criaturas, comparadas à infinita riqueza que é Deus, são suma pobreza e miséria. Logo a alma afeiçoada à posse das coisas terrenas é profundamente pobre e miserável aos olhos do Senhor, e por isto jamais alcançará o bem-aventurado estado da glória e riqueza, isto é, a transformação em Deus.

(São João de Deus)