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terça-feira, 25 de março de 2025

ORAÇÃO PARA ANTES DA COMUNHÃO


Deus eterno e todo-poderoso, eis que me aproximo do sacramento do vosso Filho único, Nosso Senhor Jesus Cristo. Impuro, venho à fonte da misericórdia; cego, à luz da eterna claridade; pobre e indigente, ao Senhor do céu e da terra. Imploro, pois, a abundância da vossa liberalidade, para que vos digneis curar a minha fraqueza, lavar as minhas manchas, iluminar a minha cegueira, enriquecer a minha pobreza, vestir a minha nudez.

Que eu receba o Pão dos Anjos, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, com o respeito e a humildade, a contrição e a devoção, a pureza e a fé, o propósito e a intenção que convêm à salvação da minha alma.

Dai-me que receba não só o sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor, mas também o seu efeito e a sua força. Ó Deus de mansidão, fazei-me acolher com tais disposições o Corpo que o vosso Filho único, Nosso Senhor Jesus Cristo, recebeu da Virgem Maria, que seja incorporado ao seu Corpo Místico e contado entre os seus membros. 

Ó Pai cheio de amor, fazei que, recebendo agora o vosso Filho sob o véu do sacramento, possa na eternidade contemplá-la face a face. Vós, que viveis e reinais na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.

(São Tomás de Aquino)

sábado, 7 de setembro de 2024

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE AVIGNON

Avignon, cidade situada na região sul da França e cortada pelo rio Ródano, é a única cidade que recebeu oficialmente o papado fora de Roma em toda história. Disputas pelo poder envolvendo o rei francês Filipe IV, levaram o papado para a França. O período histórico de 1309 a 1377 ganhou o nome de Papado de Avignon e esta permanência dos papas na região provençal constitui um dos períodos mais conturbados da história da Igreja. Foram sete papas franceses em um período de 68 anos.

Desde o século XII, a região do sul da França era cenário do desenvolvimento intenso de um dos maiores movimentos heréticos da Idade Média, o chamado catarismo ou heresia albigense, que negava a existência de um único Deus e a presença real de Cristo na sagrada eucaristia, propagando a salvação fundamentada apaenas no conhecimento direto de Deus.

Para celebrar a vitória da Igreja contra a heresia albigense, o então rei Luís VIII fez construir a Capela de Santa Cruz, em honra ao Santíssimo Sacramento. Mais ainda, promoveu e participou ativamente de uma procissão ao Santíssimo Sacramento que percorreu várias ruas da cidade e foi encerrada na capela recém-construída, durante a Festa da Exaltação da Santa Cruz em 14 de setembro de 1226. Desde então, teve início a adoração perpétua do Santíssimo Sacramento nesta igreja e, para a salvaguarda dessa devoção, foi instituída a chamada Confraria Real dos Penitentes Cinzentos de Avignon.


Cerca de duzentos anos depois, no final de novembro de 1433, a região foi assolada por chuvas torrenciais que produziram cheias históricas do rio Ródano e a inundação completa das áreas ao seu redor. As águas subiam sem parar e os penitentes da confraria, responsáveis pela devoção eucarística na Capela de Santa Cruz, temeram fortemente pela inundação da igreja. Dois membros da confraria decidiram, então, acessar a igreja por barco e resgatar a custódia contendo o Santíssimo Sacramento antes do pior. Diante deles, entretanto, a situação era bem mais crítica, pois uma muralha de água de quase 1,8m de altura já submergia o local e a própria porta frontal do templo.

Ao adentrarem na igreja, porém, os dois religiosos foram tomados por um estupor sem tamanho: à semelhança da partição das águas do Mar Vermelho, as águas da enchente conformavam dois paredões laterais próximos às paredes internas do templo, mantendo irretocavelmente seco o espaço central da igreja situado desde a porta frontal até o altar, conservando-se intacta, assim, a custódia contendo as hóstias consagradas da ação da enchente.


Após prostarem-se em oração e jubilosos com tal milagre, recolheram o Santíssimo e o conduziram a uma outra igreja em terreno mais elevado e protegido da inundação. A notícia do milagre espalhou-se rapidamente e centenas de pessoas foram testemunhas dele. A confraria franciscana instituiu a celebração do milagre desde então na capela, todos os anos, no dia de Santo André Apóstolo, 30 de novembro. Neste dia, antes da bênção do Santíssimo Sacramento, canta-se ali o Cântico que Moisés teria composto após a travessia do Mar Vermelho (Ex 15, 1-18):

'Cantarei ao Senhor, porque ele manifestou sua glória. Precipitou no mar cavalos e cavaleiros. O Senhor é a minha força e o objeto do meu cântico; foi ele quem me salvou. Ele é o meu Deus – eu o celebrarei; o Deus de meu pai – eu o exaltarei. O Senhor é o herói dos combates, seu nome é Javé. Lançou no mar os carros do faraó e o seu exército; a elite de seus combatentes afogou-se no mar Vermelho; o abismo os cobriu; afundaram-se nas águas como pedra. A vossa (mão) direita, ó Senhor, manifestou sua força. Vossa direita aniquilou o inimigo. Por vossa soberana majestade derrotais vossos adversários; desencadeais vossa cólera, e ela os consome como palha. Ao sopro de vosso furor amontoaram-se as águas; levantaram-se as ondas como muralha, solidificaram-se as vagas no coração do mar. Dizia o inimigo: perseguirei, alcançarei, repartirei o despojo, satisfarei meu desejo de vingança, desembainharei a espada, minha mão os destruirá. Ao sopro de vosso hálito o mar os sepultou; submergiram como chumbo na vastidão das águas. Quem entre os deuses é semelhante a vós, Senhor? Quem é semelhante a vós, glorioso por vossa santidade, temível por vossos feitos dignos de louvor, e que operais prodígios? Apenas estendestes a mão, e a terra os tragou. Conduzistes com bondade esse povo, que libertastes; e com vosso poder o guiastes à vossa morada santa. Ao ouvir isso, estremeceram os povos. Um pavor imenso apoderou-se dos filisteus; os chefes de Edom ficaram aterrados; a angústia tomou conta dos valentes de Moab; tremeram de medo todos os habitantes de Canaã. Caíram sobre eles o terror e a angústia, o poder do vosso braço os petrificou, até que tivesse passado o vosso povo, Senhor, até que tivesse passado o povo que adquiristes para vós. Vós o conduzireis e o plantareis na montanha que vos pertence, no lugar que preparastes para vossa habitação, Senhor, no santuário, Senhor, que vossas mãos fundaram. O Senhor é rei para sempre, sem fim!'.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

SERMÕES DO CURA D'ARS (XX)





SOBRE A SANTA COMUNHÃO

 'E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo' 
(Jo 6,51)

Quem de nós, meus caros irmãos, poderia pensar que Jesus Cristo, por amor às suas criaturas, poderia chegar ao ponto de alimentar as nossas almas com o seu adorável corpo e o seu precioso sangue, se Ele próprio não nos tivesse assegurado esse fato? Uma alma pode receber o seu Criador, e quantas vezes quiser! Ó abismo de bondade e amor de Deus por suas criaturas! Quando o Redentor se revestiu da nossa carne, diz São Paulo, escondeu a sua divindade e levou a sua humilhação até à morte ignominiosa. Mas no adorável Sacramento da Eucaristia, Ele, no seu amor e misericórdia sem limites, esconde também a sua humanidade.

Vede, caros irmãos, do que é capaz o amor de um Deus pelas suas criaturas! De todos os Sacramentos não há nenhum que se possa comparar com a Sagrada Eucaristia. É verdade que no Batismo recebemos a adoção de Deus e alcançamos um título para o eterno reino dos céus; no Sacramento da Penitência, as feridas da nossa alma são curadas e a amizade de Deus nos é restituída; no adorável Sacramento da Eucaristia, porém, o seu preciosíssimo sangue não só nos é aplicado, mas nos é permitido receber na realidade o próprio divino autor de toda a graça.

Mas, infelizmente, quão poucos são os que sabem valorizar a magnificência da graça de Deus! Se apreciássemos devidamente a grande bênção do nosso privilégio de receber Jesus Cristo, esforçar-nos-íamos incessantemente por merecê-la. Para dar uma idéia da grandeza desta bênção, vamos considerar: (I) a sublimidade e a importância deste Sacramento; (II) os seus efeitos e suas bênçãos.

I

Não me comprometo, caros irmãos, a descrever-vos toda a sublimidade deste Sacramento, porque isso não é possível ao homem mortal; seria como se o próprio Deus descrevesse a magnitude deste milagre. Nunca deixaremos de nos interrogar, na outra vida e por toda a eternidade, sobre o fato de a nós, homens miseráveis, ter sido permitido receber um Deus tão grande. Mas, para vos dar uma ideia das grandes bênçãos deste grande Sacramento, queridos irmãos, lembremo-nos de que Jesus Cristo, durante a sua vida terrena, nunca foi a lado nenhum sem distribuir as suas mais ricas bênçãos, e quão grandes, portanto, e preciosos devem ser os dons recebidos na Sagrada Comunhão! De fato, o maior bem do homem neste mundo consiste em receber Jesus Cristo na Sagrada Comunhão, porque a Sagrada Comunhão não é apenas proveitosa e um alimento para as nossas almas, mas também, como veremos, proveitosa para os nossos corpos.

Lemos no Evangelho que Jesus Cristo, ao entrar em casa de Isabel, embora estivesse ainda encerrado no ventre de sua Mãe, encheu Isabel e o seu filho com o Espírito Santo; de modo que João foi purificado do pecado original, e a mãe gritou: 'De onde me vem isto, que a mãe do meu Senhor venha ter comigo?' Deixo-vos, caríssimos irmãos, a consideração de quão maior é a sorte daqueles que, na Santa Comunhão, recebem Jesus Cristo, não só em sua casa, mas em seus corações; que podem retê-lo não só por seis meses, como Isabel, mas por todo o tempo de suas vidas. Se o santo e venerável Simeão, tendo durante tantos anos desejado ardentemente contemplar o Redentor, e por fim, tendo Jesus nos braços, foi tão arrebatado pela alegria, e tão extasiado, que clamou, num êxtase de amor 'Ó Senhor, que mais posso desejar sobre a terra, depois de ter contemplado com os meus próprios olhos o Redentor do mundo? Agora posso morrer em paz!' E ainda, caríssimos irmãos, que diferença há entre tê-lo nos braços por um momento apenas e recebê-lo no nosso coração na Sagrada Comunhão? Como não damos valor à nossa sorte! 

Quando Zaqueu ouviu falar de Jesus Cristo, teve um grande desejo de vê-lo e, diante da grande multidão que o impedia de ver, subiu a uma árvore, e o Senhor o viu e lhe disse: 'Zaqueu, desce, porque hoje entrarei em tua casa'. Ele desceu imediatamente e fez os melhores preparativos que podia para receber o Redentor. Ao entrar em sua casa, o Senhor disse: 'Hoje chegou a salvação a esta casa'. Comovido com a bondade de Jesus Cristo, Zaqueu gritou: 'Senhor, a metade dos meus bens dou aos pobres, e se eu tiver prejudicado alguém em alguma coisa, restituo-lhe quatro vezes mais'. E assim a visita de Jesus Cristo fez de um grande pecador um grande santo. Segundo o Evangelho, quando Jesus entrou em casa de São Pedro, este pediu-lhe que curasse a sua sogra, que sofria de uma febre violenta. Jesus Cristo ordenou que a febre a deixasse, e ela ficou curada imediatamente e serviu os convidados à mesa. O que é que levou o Salvador a ressuscitar Lázaro da morte, depois de ele ter estado morto durante quatro dias? Foi o fato de Lázaro o ter recebido tantas vezes em sua casa; por isso, o nosso Senhor mostrou um tal apego por ele que derramou lágrimas. 

Em outras ocasiões, Jesus foi suplicado por pessoas para salvar as suas vidas, outras pediram-lhe para curar os seus corpos, e ninguém foi embora sem ter obtido o que queria. Não é esta a prova de que Ele está sempre pronto a conceder tudo o que lhe pedimos? Que graças não derramará sobre nós quando entrar nos nossos corações, para aí fazer a sua morada? Quem pode compreender a felicidade de um cristão que, bem preparado, recebe Jesus Cristo no seu coração, e que assim se torna parte do céu?

Mas, perguntarão, por que é que a maior parte dos cristãos mostra tão pouco apreço por esta felicidade? Por que é que muitos deles pensam pouco dela, e até zombam daqueles que frequentemente participam dela? Esses pobres infelizes simplesmente nunca conheceram nem desfrutaram dessa grande felicidade. Que felicidade é para um cristão crente levantar-se do banquete sagrado e sair com o céu no coração! Afortunada é a casa em que tais cristãos habitam! Possuir em sua própria casa um tabernáculo no qual Deus está entronizado! Quereis saber, talvez, se esta felicidade é tão grande, porque é que a Igreja só nos manda comungar uma vez por ano? Esta ordem não é dada para os bons cristãos, mas para os cristãos frouxos e indiferentes, para o bem das suas pobres almas.

Na Igreja primitiva, o maior castigo para um cristão era ser privado da Sagrada Comunhão. Os primeiros cristãos podiam comungar sempre que assistiam ao Santo Sacrifício da Missa. Quando a Igreja viu que muitos cristãos negligenciavam a salvação das suas pobres almas, deu-lhes a ordem de comungar três vezes por ano, no Natal, na Páscoa e no Pentecostes, esperando que o medo de pecar contra esta ordem lhes abrisse os olhos. Mas quando, com o passar do tempo, os cristãos se tornaram ainda menos zelosos da salvação de suas almas, ela tornou seu dever receber a Santa Comunhão pelo menos uma vez por ano. Como é infeliz e cego o cristão que deve ser obrigado por lei a participar desta grande felicidade! Se, meus caros irmãos, não tivésseis outros pecados na vossa consciência senão a negligência do vosso dever pascal, estaríeis eternamente perdidos. Agora dizei-me que incentivo há para deixardes a vossa alma cair num estado tão triste? Dizeis que sois feliz e contente. Se eu pudesse acreditar em ti! Mas onde encontras a tua paz e contentamento? Será no pensamento de que a alma espera o momento da morte para ser lançada no inferno? Ou, talvez, porque o diabo é o vosso mestre? Como é cego e infeliz o homem que perdeu a fé!

II

Todos os Padres da Igreja nos ensinam que, pela receção de Jesus Cristo na Sagrada Comunhão, recebemos bênçãos mil vezes maiores para o tempo e para a eternidade; de fato, esta é uma verdade tão fundamental que até uma criança, à pergunta: 'Devemos desejar ardentemente receber a Sagrada Comunhão?', responderia: 'Sim, de fato'. 'E por que?' 'Por causa dos excelentes efeitos que ela produz em nós'. 'E quais são esses efeitos?' 'A Sagrada Comunhão une-nos mais intimamente a Jesus Cristo, enfraquece as nossas inclinações para o mal, fortalece em nós a vida da graça e é para nós o fundamento e o penhor da vida eterna'.

1. A Santa Comunhão une-nos mais intimamente a Jesus Cristo. Esta união é tão íntima, caríssimos irmãos, que o próprio Jesus Cristo nos diz: 'Aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele, porque a minha carne é verdadeiramente comida e o meu sangue é verdadeiramente bebida'. Por conseguinte, caríssimos irmãos, ao recebermos a Sagrada Comunhão, o sangue adorável de Jesus Cristo corre realmente nas nossas veias, a sua carne é realmente misturada com a nossa; e por isso São Paulo diz: 'Não sou eu que ajo e penso, mas é Jesus Cristo que age e pensa em mim. Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim'.

2. Ao recebermos Jesus Cristo na Sagrada Comunhão, recebemos uma abundância de graças; ao recebermos Jesus Cristo, recebemos a fonte de todas as bênçãos. Aqueles que recebem Jesus Cristo sentem a sua fé fortalecida, e estão mais profundamente impregnados com as verdades da sua santa religião; percebem mais claramente a enormidade e o perigo do pecado; o pensamento do julgamento assusta-os mais; a desgraça da perda de Deus é mais percetível para eles. Na Sagrada Comunhão, a nossa coragem é fortalecida; somos fortes para combater, as nossas ações são guiadas por motivos mais puros, a nossa caridade aumenta cada vez mais. O pensamento de que levamos Jesus no nosso coração, o arrebatamento que experimentamos nesse momento feliz, une-nos e liga-nos de tal modo a Deus que o nosso coração só pensa e só deseja Deus. Este, meus caros irmãos, é um dos efeitos que a Santa Comunhão produz em nós, se formos tão felizes a ponto de receber Jesus Cristo dignamente.

3. A Sagrada Comunhão enfraquece a nossa inclinação para o mal. É muito fácil perceber isso. O preciosíssimo sangue de Jesus que corre nas nossas veias, e o seu adorável corpo que se mistura com o nosso, devem necessariamente destruir, ou pelo menos enfraquecer muito, a nossa inclinação para o mal, produzida em nós pelo pecado de Adão. É certo, caríssimos irmãos que, depois da comunhão, sentimos um novo desejo do celeste e um novo desprezo pelas coisas materiais. Como pode o orgulho entrar num coração que acaba de receber um Deus que, ao entrar nesse coração, se rebaixou até à privação de si mesmo? Um coração que recebeu um Deus tão puro, que é a própria santidade, não sentiria o maior horror ao pecado da impureza? Um cristão que recebeu Jesus Cristo, que morreu pelos seus inimigos, não desejaria mal aos que o ofenderam? Certamente que não: dar-lhe-ia prazer fazer-lhes o bem, tanto quanto estivesse ao seu alcance. Por isso, São Bernardo dizia aos seus monges: 'Meus filhos, quando vos sentirdes menos inclinados para o mal e mais inclinados para o bem, agradecei a Jesus Cristo que vos concedeu esta graça pela Sagrada Comunhão'.

4. A Sagrada Comunhão é para nós um penhor da vida eterna, isto é, a Sagrada Comunhão dá-nos a expectativa do céu, a certeza de que o céu será um dia a nossa morada. Além disso, Jesus Cristo fará com que o nosso corpo, na ressurreição, apareça tanto mais glorioso quanto mais vezes o tivermos recebido dignamente. Sim, queridos irmãos, se realmente soubéssemos apreciar a grandeza desta felicidade, não nos importaria viver a menos que nos fosse permitido receber Jesus Cristo como nosso alimento diário. Consideraríamos que todas as coisas criadas não valem a pena; desprezá-las-íamos e entregar-nos-íamos apenas a Deus, e o nosso objetivo seria tornar-nos diariamente mais dignos de o receber.

Se tais são a felicidade e as bênçãos que resultam da digna receção deste Sacramento, não deveríamos esforçar-nos por nos tornarmos dignos de o receber frequentemente? Os efeitos que vos são explicados neste discurso todos nós desejaríamos que se produzissem em nós; por isso, exorto-vos, venerai este grande Sacramento e vivei de modo a poderdes receber o vosso Senhor e Deus, e participar da sua graça e bênção para que, no fim dos tempos, sejais, segundo as suas próprias palavras, ressuscitados da morte para a vida eterna, o que vos desejo a todos. Amém.

sábado, 6 de julho de 2024

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE CASCIA

Em 1330, na região de Cascia (Itália), um sacerdote foi chamado às pressas para ministrar a Sagrada Eucaristia a um homem doente em estado terminal. Atendendo rapidamente ao pedido, o sacerdote resolveu, de forma inesperada e totalmente irreverente, levar a hóstia consagrada destinada ao doente guardada entre as páginas do seu breviário. Na casa do doente, ao abrir o breviário para ministrar ao doente a comunhão, descobriu estupefato que a hóstia não apenas se transformara num coágulo único, mas se desmanchava em grandes manchas de sangue em ambas as páginas do breviário entre as quais havia sido mantida.

Sob forte comoção e arrependimento, o sacerdote dirigiu-se imediatamente para um mosteiro agostiniano próximo de Siena, ao encontro do Frei Simone Fidati, sacerdote de piedade e santidade reconhecidas, para narrar os fatos e pedir a sua confissão. O breviário foi então recolhido e as duas páginas, manchadas de sangue e com dimensões de 52mm x 44mm, foram preservadas e destinadas à veneração interna no mosteiro. 


Em 1389, o papa Bonifácio IX confirmou a autenticidade do milagre, concedendo indulgência especial ao culto da relíquia em 1401. Ao longo dos anos, um outro evento extraordinário transcorreu com as manchas de sangue diluídas nas páginas do breviário: elas passaram a conformar a figura de um rosto humano, reproduzindo a imagem de um homem com barba. A relíquia foi transferida do mosteiro agostiniano para a capela inferior da Basílica de Santa Rita em Cascia em 1930, onde se encontra atualmente, mantidas em um tabernáculo de cristal ladeado por dois painéis de mármore, que simulam as páginas do breviário contendo as imagens formadas do rosto humano.


quinta-feira, 6 de junho de 2024

'NO DIA QUE CHAMAMOS DIA DO SOL...'


No dia que chamamos dia do sol [domingo], nas cidades e nas aldeias todos os habitantes se reúnem num dado lugar. Lêem-se as memórias dos apóstolos e os escritos dos profetas segundo o tempo de que se dispõe. Quando a leitura termina, aquele que preside toma a palavra para chamar a atenção sobre os ensinamentos recebidos e para exortar ao seu seguimento. Depois levantamo-nos e, em conjunto, apresentamos as intenções de oração. Seguidamente traz-se o pão, o vinho e a água. O presidente dirige ardentemente ao céu súplicas e ações de graças, e o povo responde com a aclamação 'Amém!, uma palavra hebraica que quer dizer: 'Assim seja!'.

Chamamos este alimento de eucaristia, e ninguém o pode tomar se não acredita na verdade da nossa doutrina e se não recebeu o banho do batismo para a remissão dos pecados e regeneração. Porque nós não tomamos este alimento como se toma um pão ou uma bebida vulgar. Do mesmo modo que, pela Palavra de Deus, Jesus Cristo nosso Salvador incarnou, tomando carne e sangue para nossa salvação, também o alimento consagrado pelas próprias palavras rezadas e, destinado a alimentar a nossa carne e o nosso sangue para nos transformar, este alimento é a carne e o sangue de Jesus incarnado: esta é a nossa doutrina. 

Os apóstolos, nas memórias que nos deixaram e que chamamos de evangelhos, transmitiram-nos a recomendação que Jesus lhes fez: Tomou o pão, abençoou e disse: 'Fazei isto em minha memória; isto é o meu corpo'. De igual modo, tomou o cálice, abençoou-o e disse: 'Isto é o meu sangue'. E em seguida deu a eles (Mt 26,26-; 1Cor 11,23-). É no dia do sol que nos reunimos todos, porque este é o primeiro dia, aquele em que Deus para fazer o mundo separou a matéria das trevas, e ainda o dia em que Jesus Cristo nosso Salvador ressuscitou dos mortos.

(Excertos da obra  'Primeira Apologia', documento que faz referência ao sacramento da eucaristia nos primórdios da cristandade [século II], por São Justino [100 - 160], filósofo e mártir) 

segunda-feira, 3 de junho de 2024

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE SEEFELD

Seefeld, uma pequena localidade situada na região do Tirol (Áustria) foi palco de um dos eventos sobrenaturais mais extraordinários do século XIV.  Este evento ocorreu na Quinta Feira Santa de 1384, na pequena igreja de Saint Oswald (São Oswaldo), erigida originalmente como uma pequena capela em 1306.


Durante a missa local, Oswald Milser, nobre e senhor de Schlossberg, aproximou-se do altar para receber a Eucaristia. Era uma pessoa muito poderosa na comunidade à época e reconhecidamente uma figura de má conduta e completamente alheia à religião católica. Ainda assim, não só adiantou-se para receber a comunhão aos pés do altar, como exigiu que o sacerdote a fizesse não com a hóstia comum oferecida aos comungantes, mas por meio da grande hóstia reservada apenas ao sacerdote celebrante. O sacerdote, refém do respeito e do temor humano, fez como lhe havia sido ordenado e compartilhou com o senhor de Schlossberg a sacrílega comunhão.


Assim que recebeu a Sagrada Hóstia, o piso de pedra começou a afundar sob os pés do homem, como se não tivesse resistência alguma. Ao mesmo tempo, a Hóstia começou a diluir-se em sangue na boca do ímpio comungante, e não podia ser consumida. Com a boca aberta e fluindo sangue, o infeliz tentou ainda agarrar-se à borda do altar no desespero da situação e, nesse momento, o sacerdote conseguiu recuperar a hóstia ensanguentada. Imediatamente, o piso retornou à sua condição estável natural e o nobre pôde recompor-se de pé, saindo do buraco do chão.


A igreja tornou-se, então, um grande centro de peregrinação religiosa na Áustria e foi ampliada entre 1423 e 1431. Em 1574,  foi construída uma capela dedicada exclusivamente à relíquia eucarística - chamada Capela do Sangue - que abriga atualmente a Hóstia milagrosa, e diversas pinturas que reproduzem o milagre. 


E essa Hóstia ensanguentada permanece incólume mesmo 640 anos após esse evento, encapsulada num ostensório guardado perto do altar da capela. Ainda hoje é possível também ver o grande buraco que se abriu no piso de pedra quando Oswald Milser afundou no chão, hoje recoberto por uma grade por questões de segurança.



Quanto ao homem destes fatos extraordinários, sua vida mudou radicalmente. Convertido e profundamente abalado pelos eventos, o senhor de Schlossberg abandonou a vida mundana e ingressou imediatamente no mosteiro de Stams onde, após dois anos de severas penitências, morreu de causas naturais.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

CORPUS CHRISTI 2024

Corpus Christi, expressão latina que significa Corpo de Cristo, é uma festa litúrgica da Igreja sempre celebrada na quinta–feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa. 

O pão é pão e o vinho é vinho
como frutos do homem em oração;
é o que trazemos, é tudo o que temos,
como oferendas da nossa devoção. 

Não é mais pão, nem é mais vinho
quando espécies na consagração;
alma e divindade que se reconciliam
a cada missa, em cada comunhão.

Aparente pão, aparente vinho,
é mais que vinho, muito mais que pão;
o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo
 é o alimento da nossa salvação.

(Arcos de Pilares)

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

ORAÇÃO: AVE VERUM CORPUS NATUM

Ave Verum Corpus Natum é um pequeno hino eucarístico que data do século XIV, cuja autoria é comumente atribuída ao Papa Inocêncio VI (pontificado de 1484 a 1492), de uso bastante frequente no passado durante a bênção do Santíssimo Sacramento. O hino possui algumas pequenas variantes, mas o texto mais comum é aquele apresentado e traduzido abaixo.

Ave verum Corpus natum
De Maria Virgine:
Vere passum, immolatum
In cruce pro homine:
Cujus latus perforatum
Fluxit aqua et sanguine:
Esto nobis praegustatum
Mortis in examine.
O Jesu dulcis!
O Jesu pie!
O Jesu fili Mariae!


Salve, ó verdadeiro Corpo,
nascido da Virgem Maria,
que verdadeiramente padeceu 
e foi imolado na cruz pelos homens,
e de cujo lado transpassado
jorraram sangue e água;
sede para nós refrigério
na dura provação da morte.
Ó doce Jesus,
ó Jesus piedoso, 
ó bom Jesus, filho de Maria!

quinta-feira, 8 de junho de 2023

CORPUS CHRISTI 2023

Corpus Christi, expressão latina que significa Corpo de Cristo, é uma festa litúrgica da Igreja sempre celebrada na quinta–feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa. 

O pão é pão e o vinho é vinho
como frutos do homem em oração;
é o que trazemos, é tudo o que temos,
como oferendas da nossa devoção. 

Não é mais pão, nem é mais vinho
quando espécies na consagração;
alma e divindade que se reconciliam
a cada missa, em cada comunhão.

Aparente pão, aparente vinho,
é mais que vinho, muito mais que pão;
o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo
 é o alimento da nossa salvação.

(Arcos de Pilares)

quarta-feira, 10 de maio de 2023

SERMÕES DO CURA D'ARS (X)

SOBRE A COMUNHÃO INDIGNA

Se todo o pecado mortal traz a morte à nossa alma, separando-a de Deus para sempre e cumulando-a de toda a espécie de desgraças, a que estado deve ser reduzido o mais terrível de todos os crimes, que é o sacrilégio? Ó meu Deus, quem pode fazer uma ideia do terrível estado de uma alma envolta pelo sacrilégio? Sim, diz-nos Jesus Cristo, quando virdes a abominação da desolação no lugar santo, predita pelo profeta Daniel, entendei-a bem. Ai de mim! Tendo escolhido o coração do homem para fazer dele a sua morada e o seu templo, Jesus Cristo previu, sem dúvida, as profanações e as abominações funestas que o demônio buscaria fazer aí pelo pecado; que pensamento triste e desolador para Deus! Mas a maior e mais terrível de todas as tristezas é prever que o seu adorável corpo e o seu precioso sangue seriam profanados. Ó meu Deus! Poderão os cristãos ser realmente culpados de um tal crime, que o próprio inferno nunca poderia inventar um semelhante? 

São Paulo deplorou-o no seu tempo. Um dia, não podendo fazer-lhes sentir toda a escuridão desse crime terrível, disse-lhes, chorando amargamente: Que tormento não receberia aquele que pusesse uma mão parricida no corpo de um Deus feito homem, aquele que ferisse esse coração... Ah, esse coração terno que nos ama até à cruz e que fez irromper o sangue das suas veias! Ah, esse sangue adorável derramado por nós, que nos santificou no santo batismo, que nos purificou no sacramento da penitência... parece impossível encontrar castigos suficientemente severos e cristãos capazes de tal crime. E eis que há um ainda infinitamente mais terrível: receber indignamente o adorável Corpo e o precioso Sangue de Jesus Cristo, profaná-lo, conspurcá-lo e degradá-lo. É possível este crime? Ah, pelo menos, é possível para os cristãos? Sim, há monstros de ingratidão que levam a sua cólera a tal extremo! Sim, se o bom Deus mostrasse as comunhões de todos os que estão aqui ao ar livre, ai de nós, quantos apareceriam com a sua sentença de reprovação escrita na sua consciência criminosa com o sangue de um Deus feito homem! Este pensamento nos faz estremecer e, no entanto, nada é tão comum como estas comunhões indignas; quantos têm a temeridade de se aproximar da Mesa Santa com pecados escondidos e disfarçados na confissão! 

Quantos não têm a tristeza do pecado que o bom Deus lhes pede; quantos não se esforçam por se corrigirem; quantos ainda conservam um desejo secreto de voltar a cair no pecado! Quantos não evitam as ocasiões de pecado e, no entanto, são capazes de os cometer? Quantos não guardam inimizades no seu coração aos pés da Mesa Santa? Examine a sua consciência e certifique-se se você já teve alguma dessas disposições ao se aproximar da Santa Comunhão; se já passou por esse infortúnio, meu filho, que termos eu poderia usar para fazê-lo sentir todo o horror disso? Ah! se me permitissem, iria ao inferno para lá arrebatar Judas infame e traidor ardendo devido ao adorável sangue de Jesus Cristo que tão horrivelmente profanou. Ah! se você pudesse ouvir os gritos e os uivos desse homem, se você pudesse perceber os tormentos que suporta por causa de seu sacrilégio, você morreria de medo. Então, o que será daqueles que, talvez durante toda a vida, não fizeram nada além de sacrilégio? Cristãos que vão me ouvir e que são culpados deste crime, ainda poderão viver bem? Sim, o sacrilégio é o maior de todos os crimes, pois ataca um Deus e o mata, e atrai sobre nós toda a sorte de desgraças.

Se eu estivesse a falar com idólatras ou mesmo com hereges, começaria por provar-lhes a realidade de Jesus Cristo no adorável sacramento da Eucaristia; mas não, ninguém de vocês tem a menor dúvida sobre isso. Ah se Jesus Cristo não estivesse lá para aqueles que se aproximam dele com tão mau estado de espírito; mas não, ele está lá, mesmo para aqueles que ousam se apresentar com o pecado em seus corações, assim como está para aqueles que se encontram em estado de graça. Quero apenas começar por citar um exemplo que fortalecerá a vossa fé nesta matéria e vos dará uma ideia das medidas que deveis tomar para não profanar este grande sacramento de amor. Conta-se que um sacerdote que estava a celebrar a Santa Missa, depois de ter pronunciado as palavras da consagração, duvidou que Jesus Cristo estivesse realmente presente em corpo e alma na Sagrada Hóstia; no mesmo momento, a Sagrada Hóstia ficou manchada de sangue. Jesus Cristo parecia querer, com tão grande milagre, repreender o seu ministro pela sua falta de fé e fortalecer os cristãos nesta verdade de fé: Ele está realmente presente na Sagrada Eucaristia. A Sagrada Hóstia derramou sangue tão abundantemente que o corporal, as toalhas do altar e o próprio altar ficaram manchados de sangue. Quando o Santo Padre foi informado deste fato, mandou levar o corporal para uma igreja, onde foi usado todos os anos na festa de Corpus Christi com grande veneração. Não, meu filho, tudo isto não é o mais necessário para você, porque ninguém o duvida; mas a minha intenção é mostrar-lhe o mais possível a grandeza e o horror do sacrilégio. Este conhecimento nunca será dado ao homem mortal; seria preciso que ele fosse o próprio Deus para o poder compreender; no entanto, para vos dar uma ligeira ideia, dir-vos-ei que aquele que tem esta grande desgraça comete um pecado mais ultrajante para o bom Deus do que todos os pecados mortais que se cometeram desde o princípio do mundo e os que se poderão cometer até ao fim dos séculos. É, pois, impossível mostrá-lo em toda a sua iniquidade; e, no entanto, como são comuns tais sacrilégios!

Se eu quisesse lhes falar, meu filhos, da morte corporal de Jesus Cristo, bastar-me-ia pintar-lhes um quadro dos tormentos que Ele suportou durante a sua vida; bastar-me-ia mostrar-lhes o seu pobre corpo todo em farrapos, tal como estava depois da flagelação, tal como está agora no madeiro da cruz; não seria preciso muito mais do que isso para tocar os vossos corações e fazer correr as vossas lágrimas. De fato, qual o pecador, o mais empedernido, que poderia resistir e não misturar as suas lágrimas com esse sangue adorável? ... Meus filhos, a morte que damos a Jesus Cristo pela comunhão sacrílega é ainda mais terrível e dolorosa. Quando estava na terra, só sofreu durante um certo tempo e só morreu uma vez; contudo, foi o seu amor que o fez sofrer e morrer; mas aqui, já não é a mesma coisa. Morre apesar de si mesmo, e a sua morte, longe de ser vantajosa para nós, como da primeira vez, torna-se a nossa desgraça, atraindo para nós toda a espécie de castigos, tanto neste mundo como no outro. Meu Deus, como somos cruéis para com um Deus tão bom! Quando pensamos na conduta desse apóstolo traiçoeiro que traiu e vendeu o seu divino Mestre, que durante muitos anos o tinha admitido no número dos seus favoritos mais queridos, que o tinha cumulado de tantos benefícios, que lhe tinha dado um cargo de preferência a outros, que tinha testemunhado tantos milagres! Quando nos lembramos, digo eu, das crueldades e barbaridades dos judeus, que fizeram a este divino Salvador tudo o que a raiva podia inventar de mais cruel, a este divino Salvador que tinha vindo a este mundo apenas para os salvar da tirania do demônio, para os elevar à gloriosa graça de filhos de Deus, não podemos senão considerá-los como monstros da ingratidão, dignos da execração do céu e da terra, e dos mais rigorosos castigos que o bom Deus pode infligir aos réprobos com todo o seu poder e justa cólera.

Mas eu vos digo que quem tiver a grande desgraça de comungar indignamente comete um crime ainda mais horrível do que o de Judas, que traiu e vendeu o seu divino Mestre, e ainda maior do que o dos judeus, que o crucificaram; porque Judas e os judeus pareciam ter ainda alguma desculpa para duvidar de que Ele fosse realmente o Salvador. Mas pode este cristão, este infeliz profanador, duvidar disso? Não são as provas da sua divindade suficientemente evidentes? Não sabem eles que, por sua morte, todas as criaturas pareciam ter sido renascidas por meio dela, que toda a natureza parecia ter sido aniquilada à vista da morte do seu Criador? Não foi a sua ressurreição manifestada por um número infinito dos mais impressionantes prodígios, que não podiam deixar dúvidas da sua divindade? Não foi a sua ascensão feita na presença de mais de quinhentas pessoas, quase todas derramando o seu sangue para apoiar estas verdades? Mas o miserável profanador nada sabe de tudo isso e, com todo o seu conhecimento, trai e vende o seu Deus e Salvador ao diabo e o crucifica em seu coração pelo pecado. Judas usou um beijo de paz para o entregar aos seus inimigos; mas o indigno comungante leva a sua crueldade ainda mais longe: depois de ter mentido ao Espírito Santo no tribunal da penitência, escondendo ou disfarçando um pecado qualquer, atreve-se, esse infeliz, a ir colocar-se entre os fiéis destinados a comer este pão, com um respeito hipócrita à vista! Ah, não, não, nada o detém, esse monstro da ingratidão; ele avança e consuma a sua condenação. Em vão, este terno Salvador, vendo-o aproximar-se, grita do fundo do seu tabernáculo, como ao pérfido Judas: 'Meu amigo, que fazes aqui? O que é que vais fazer, meu amigo, trair o teu Deus e o teu Salvador com um sinal de paz? Pára, pára, meu filho; ah, por favor, poupa-me'. Mas, não, não, nem os remorsos da sua consciência, nem as ternas censuras do seu Deus podem deter os seus passos criminosos. Ah, ele avança para mais uma vez matar o seu Deus e o seu Salvador! Oh, céu, que horror! Podeis suportar sem tremer este infeliz assassino do vosso Criador? Não é isto o cúmulo do crime e da abominação no lugar santo? O inferno, com toda a sua fúria, jamais poderia inventar algo assim; nem as nações idólatras jamais poderiam inventar algo assim por ódio ao verdadeiro Deus, se compararmos com os ultrajes que um cristão que comunga indignamente faz a Jesus Cristo.

... À perfídia de Judas, o indigno comungante acrescenta a ingratidão, a fúria e a malícia dos judeus. Ouçamos a terna censura que Jesus Cristo fez aos judeus: 'Por que me perseguis? É por ter iluminado os cegos, curado os coxos, restituído a saúde aos doentes, ressuscitado os mortos? Será então crime que eu vos tenha amado tanto?' É esta a linguagem que Jesus Cristo dirige aos profanadores do seu adorável corpo e do seu precioso sangue. E no entanto, diz-nos diretamente pela boca de um dos seus profetas que se tais insultos e afrontas tivessem sido feitos por inimigos ou por idólatras que nunca tiveram a felicidade de o conhecer, ou mesmo por hereges tangidos pelo erro, eles teriam sido menos sensíveis; 'mas vós' - Ele diria - 'vós que coloquei no seio da minha Igreja, vós que eu enriqueci com meus dons mais preciosos; vós que, pelo batismo, nascestes meus filhos e herdeiros do meu reino! Sois vós que atreveis a insultar-me com tão horrível sacrilégio? Quereis atingir o meu coração que vos amou até à morte? Filho ingrato, não estais ainda satisfeito com todas as crueldades que foram infligidas ao meu corpo inocente durante a minha dolorosa paixão? Esquecestes o estado deplorável a que fui reduzido depois da minha dolorosa e sangrenta flagelação, em que o meu corpo ficou como carne exposta? Esquecestes, filhos ingratos, os sofrimentos que tive de suportar ao carregar a minha cruz: tantos passos, tantas quedas e tantos sofrimentos? Esquecestes que morri no madeiro infame da cruz para vos salvar do inferno e vos abrir o céu? Ah, meu filho, não ficastes ainda tocado? Poderia eu ter levado mais longe o meu amor por ti? Meu filho; por favor, poupai o vosso Deus que tanto vos amou; porque me quereis dar uma segunda morte, recebendo-me com o pecado no vosso coração?'

... Mas, perguntaríeis vós, quem são estes que cometem esta grande desgraça? Quem poderia ser capaz de fazer tal coisa? E eu diria: sois vós, meu amigo, que contastes os vossos pecados com tão pouca dor e com tanta indiferença! Sois vós que, depois das confissões, volveis a cair no mesmo modo de vida fácil; que não mudais vosso modo de vida; que tendes sempre os mesmos pecados para contar em todas as vossas confissões... Quem é o culpado disso? Sois vós, homem da desgraça, que ousais fechar a boca antes de acusar vossos pecados. Quem é culpado disto? Sois vós, pobres cegos, que compreendestes que não contáveis os vossos pecados tal como os conhecíeis. Dizei-me, porque atreveis acercar-se à  Mesa Santa neste estado? Assim, neste estado, comungar? Quereis comungar; mas, miserável, onde quereis colocar o vosso Deus? Será que nos vossos olhos, que maculastes com tantos olhares impuros e adúlteros? Quereis comungar, mas onde quereis colocar o vosso Deus? Será que nas vossas mãos que maculastes com tantos sentidos infames? Quereis comungar, mas onde quereis colocar o vosso Deus? Será na vossa boca e na vossa língua? Ó grande Deus, uma boca e uma língua que tantas vezes profanastes com gestos impuros! Quereis comungar, mas onde quereis colocar o vosso Deus? Será no vosso coração? Ó horror! Ó abominação! Um coração escurecido e ressecado pelo crime, como um tição que se consome no fogo há quinze dias ou três semanas. Quereis comungar, meu amigo, quereis fazer vossa Páscoa? Quando Judas, o infame Judas, vendeu o seu divino Mestre, ficou como um homem desesperado até o entregar aos seus carrascos para ser condenado à morte ...Ai de mim, meu Deus, como é que uma pessoa culpada pode ir à Sagrada Comunhão para cometer o maior de todos os sacrilégios? São Paulo nos diz que, se os judeus tivessem conhecido Jesus Cristo como Salvador, nunca o teriam feito sofrer nem morrer; mas vós, meu amigo, podeis ignorar aquele que ides receber? Se não pensais nisso, pelo menos ouvi o sacerdote que fala em alta voz: 'Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do mundo'. Ele é o santo, ele é puro. Se és culpado, infeliz, não caminheis para a frente; se não sois, tremei para que os raios do céu não caiam sobre a vossa cabeça para vos castigar e lançar a vossa alma no inferno.

Meu amigo, sondai a vossa consciência, e vede em que estado está; vede se, ao deixar a Santa Mesa, comparecereis com confiança perante o tribunal de Jesus Cristo... Ao lhe dar uma ideia da magnitude do sacrilégio, não foi minha intenção afastá-lo da Sagrada Comunhão, mas apenas abrir os olhos daqueles que que o possam ter feito, de modo a reparar o mal que fizeram enquanto há tempo, e para trazer disposições ainda mais perfeitas para aqueles que têm a esperança de estarem isentos desse crime terrível. O que devemos concluir de tudo isso? Eis aqui: que façamos as nossas confissões e nossas comunhões como gostaríamos de fazê-las na hora da nossa morte, quando então compareceremos ante o tribunal de Jesus Cristo de modo que, almejando sempre fazer o bem, tenhamos o céu como recompensa.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DA EUCARISTIA

São Tomás de Aquino, na Suma Teológica – Parte III – Questão 82, sobre a distribuição ('dispensação') da Eucaristia:


São Tomás ratifica e nos alerta de forma cristalina que as mãos dos batizados não podem tocar a Eucaristia, sendo este um privilégio concedido exclusivamente aos presbíteros. E a razão substancial para tal impedimento é que a comunhão nas mãos viola por completo a distinção fundamental entre o sacerdócio ministerial e o sacerdócio comum a todos os batizados (heresia pregada por Lutero).

Mas... 'o bispo não recomendou assim?'*. Pode ter recomendado, imposto, exigido ou proclamado tal coisa em uma suma própria. O relativismo moral não é uma concessão diabólica destinada apenas aos leigos. Cuidado em assumir como doce o que tem um gosto amargo por princípio. É melhor uma comunhão espiritual bem feita do que uma comunhão eucarística indigna. Lembrando a passagem do evangelho do domingo passado: 'Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim’, e o vosso ‘não’: ‘Não’. Tudo o que for além disso vem do Maligno' (Mt 4, 37). E, outra coisa, bispo nenhum vai estar ao seu lado quando no Juízo Particular da sua alma. Nesta hora tremenda, o seu livre arbítrio não poderá buscar refúgio de mediação entre os homens.

* parece que a epidemia somente mantém-se crítica no caso da comunhão na boca (vide carnaval, futebol, shows, etc). 

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE SIENA

Nas vésperas da festa da Assunção de Nossa Senhora, os sacerdotes de Siena estavam reunidos em vigília na catedral da cidade, na noite de 14 de agosto de 1730. Muitas hóstias haviam sido consagradas naqueles dias e estavam guardadas nas igrejas para o atendimento do grande número previsto de comunhões. E esse contexto serviu de oportunidade para alguns ladrões invadirem a basílica de São Francisco e roubarem uma âmbula de ouro contendo centenas de hóstias consagradas. 

(Basílica de São Francisco - Siena / Itália)

Constatado o sacrilégio na manhã seguinte, o roubo foi confirmado pelo achado da parte superior da âmbula perdida na rua, sem quaisquer resquícios da âmbula e das hóstias consagradas. Tristeza, e muitas orações de desagravo e na intenção da recuperação do tesouro eucarístico roubado. E eis que, três dias depois, uma pessoa notou alguma coisa branca destacando-se numa caixa de coleta numa igreja próxima à basílica de São Francisco e - surpresa! - ali se encontravam exatamente e na sua totalidade as 351 hóstias que haviam sido roubadas! 



Embora sujas e envoltas por teias de aranha, as 351 hóstias foram resgatadas uma a uma, recolocadas em outra âmbula e reconduzidas à basílica de São Francisco, onde foram objeto de maciças orações de desagravo e adoração, até que se deteriorassem por inteiro. Mas isto nunca aconteceu. As hóstias permaneceram e permanecem intactas até hoje, com o mesma aparência e frescor de hóstias recém-preparadas, como examinadas com todo o rigor em diversas ocasiões depois destes fatos. Embora muitas delas tenham sido consumidas ao longo do tempo, conservam-se atualmente na basílica de São Francisco em Siena 223 hóstias frescas que foram elaboradas e consagradas há quase 300 anos! 

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

VÍDEOS CATÓLICOS: O VÉU REMOVIDO


 Vídeo que mostra a união mística entre o céu e a terra durante a celebração da Santa Missa, na presença de homens, anjos e santos, como revelada nas Sagradas Escrituras e no Catecismo da Igreja Católica

terça-feira, 6 de julho de 2021

A COMUNHÃO NA MÃO É TRÊS VEZES INDEVIDA, MAS...


Aos católicos que 'acham' e aos católicos que 'não acham': não existe nenhum texto da Tradição da Igreja que sustente a comunhão na mão. Nenhum. Mas, você vai ler por aí fantasias como estas dos que se extrapolam na arte de mentir, distorcer ou compartilhar sofregamente inverdades e heresias, no afã de defender como elemento da tradição litúrgica da Igreja o que nunca foi dela:

(i) a comunhão na mão era uma prática comum nos primórdios da Igreja e assim foi distribuída, seja no Oriente como no Ocidente, por mais de dez séculos [o que era praticado, como um procedimento corrente e generalizado, era o acesso à sagrada comunhão pós-confissão e consubstanciado por um jejum eucarístico de algumas horas, o que, evidentemente, não é objeto de referência alguma a ser explicitada do tesouro da tradição litúrgica da Igreja]; trata-se, portanto, de uma alegação completamente falsa, mas...

(ii) compartilham, como tocadores de tuba inflamados de ociosidade febril, as 'palavras' de São Cirilo de Jerusalém:

'Dirigindo-se, pois [à Comunhão], aproximai-vos com as palmas da mão abertas, nem com os dedos disjuntos, mas tendo a esquerda em forma de um trono sob aquela mão que está por acolher o Rei e com a direita côncava, recebei o corpo de Cristo, respondendo amém' [normalmente somente este trecho], desconectado do texto maior, que se segue nos seguintes termos:  

'Depois que tu, com cautela tiver santificado os teus olhos pondo-te em contato com o corpo de Cristo, aproximai também do cálice do sangue: não tendo as mãos estendidas, mas genuflexo de modo a expressar senso de adoração e veneração. Dizendo Amém te santificarás, tomando também o sangue de Cristo. E tendo ainda os lábios úmidos, tocai-o com as mãos e depois com esse santificarás os teus olhos, a fronte e os outros sentidos. Da Comunhão jamais vos afastai, nem vos privai destes sagrados e espirituais mistérios, ainda que estejais manchados pelo pecado'.

A simples consideração do trecho final - de que não se deve privar jamais da sagrada eucaristia, 'ainda que estejais manchados pelo pecado' - já seria razão suficiente para caracterizar esse texto como blasfemo e herético. Mas, ao contrário, esse pseudo-ritual é entranhadamente citado como um subsídio formal à comunhão eucarística na mão, por supostamente ter sido exposto por São Cirilo de Jerusalém, sem sequer considerar alguma objeção ou contestação à prática assumida como 'corrente por séculos pela Igreja' da comunhão eucarística sob as duas espécies. A incorporação deste texto herético na Catequese Mistagógica foi obra de um bispo pelagiano e, evidentemente, essa digressão absurda e ritualística não tem nada a ver com a densidade teológica dos escritos de São Cirilo de Jerusalém. Mas...

(iii) a comunhão na mão é equivalente à comunhão na boca (e, nestes tempos de pandemia, muito mais higiênica e racional), desde que feita com a devida devoção e percepção dos sagrados mistérios.

O terreno é fértil quando se abre mão (desculpem-me o trocadilho) do que é 'mais sagrado' pelo 'racional'. A tibieza do sacerdote, a complacência do bispo, a indolência do fiel ou a pandemia podem ter e ser a razão de tudo. Mas um perfeito e completo entendimento dos sagrados mistérios do banquete eucarístico não admitiria concessão alguma. Por que essa - a comunhão nos lábios distribuída por um sacerdote ou um diácono - é a única verdade proposta e imposta pelo catecismo e pela tradição litúrgica da Santa Igreja de Cristo. Baseado nesta tradição litúrgica, São Tomás de Aquino (Summa Theologica, III, q. 82, a 3) consubstanciou de forma explícita os motivos pelos quais é vetado aos fiéis leigos tocar as Sagradas Espécies. Bastaria ler na fonte os Doutores da Igreja. Mas...

sexta-feira, 25 de junho de 2021

O MILAGRE EUCARÍSTICO DE BOLSENA

(Bolsena / Itália - 1263)

No retorno de uma peregrinação a Roma, um sacerdote oriundo de Praga (de nome Pedro, segundo a tradição) parou na localidade de Bolsena, tradicional ponto de parada ao longo da Via Cassia (uma das mais antigas estradas romanas). Ali, celebrou uma Santa Missa na Igreja de Santa Cristina, que guarda os restos mortais da mártir e padroeira da cidade. Durante as palavras da consagração, o sangue começou a fluir de repente da hóstia consagrada, a escorrer pelas mãos do sacerdote e a respingar sobre as pedras de mármore do altar.

(Igreja de Santa Cristina, em Bolsena)

(altar do milagre na Igreja de Santa Cristina, em Bolsena)

Deslocando-se até Orvieto, cidade situada a menos de 20km de Bolsena, comunicou o milagre ao papa Papa Urbano IV, que estava ali em residência temporária. E fez uma confissão e um pedido de perdão: ele, mesmo sendo sacerdote, muitas vezes havia duvidado da real presença de Cristo nas hóstias consagradas. O papa, sabendo tratar-se de um sacerdote justo e piedoso, embora incrédulo, o absolveu, procedeu a uma investigação particular dos fatos junto à diocese local e, posteriormente, fez conduzir a hóstia e o corporal utilizado na Missa - pequeno pano quadrangular de linho sobre o qual se coloca o cálice para o ato de consagração - manchado de sangue, para imposição no altar da catedral de Orvieto.

(Catedral de Orvieto)

(Corporal do milagre de Bolsena - altar da Catedral de Orvieto)

(Manchas de sangue no corporal do milagre de Bolsena)

Motivado por este milagre eucarístico, o papa Urbano IV encarregou São Tomás de Aquino a compor o Próprio para uma Missa e um Ofício honrando a Sagrada Eucaristia e o Corpo e o Sangue de Cristo. Em agosto de 1264, pouco mais de um ano após o milagre, o Papa Urbano IV instituiu na Igreja a festa de Corpus Christi (bula papal Transiturus de Hoc Mundo). Em agosto de 1964, no 700º aniversário da instituição da festa de Corpus Christi, o Papa Paulo VI celebrou a Santa Missa diretamente do altar da Catedral de Orvieto, que guarda as relíquias do milagre eucarístico de Bolsena.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

VERSUS: TRANSUBSTANCIAÇÃO X CONSUBSTANCIAÇÃO

Pelo Cân. 1376, o Concílio de Trento resumiu o dogma da  presença de Cristo sob as espécies eucarísticas, declarando: 'Porque Cristo, nosso Redentor, disse que o que Ele oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente o seu corpo, sempre na Igreja se teve esta convicção que o sagrado Concílio de novo declara: pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e apropriado, de transubstanciação'.

Pelo dogma da transubstanciação, o pão muda torna-se a substância do Corpo de Cristo, mediante uma conversão real do pão ordinário (enquanto pão) para a extraordinária Presença de Cristo. Analogamente, a substância do sangue é convertida na substância do Sangue de Cristo. Tal como na eternidade de Deus, o corpo e o sangue estão unidos entre si e com a alma e a de divindade de Cristo, assim também o corpo, sangue, alma e divindade de Cristo estão presentes por inteiro em cada espécie eucarística e em todas as suas partes.


Contra o dogma da transubstanciação da Igreja, foram interpostas duas grandes heresias, a aniquilação e a consubstanciação. Na primeira, a substância do pão seria totalmente aniquilada para se impor a substância do Corpo de Cristo (similarmente, a substância do vinho seria aniquilada para se estabelecer a substância do Sangue de Cristo). No contexto dessa heresia, pão e vinho não mudam e nem são convertidos, mas simplesmente desaparecem enquanto substâncias originais.

Pela heresia da consubstanciação, as substâncias persistem em igualdade de condições: o pão continua pão e, ao mesmo tempo, seria o Corpo de Cristo; o vinho permanece vinho e, ao mesmo tempo, constituiria o Sangue de Cristo. Novamente, não haveria alteração ou conversão de substâncias, mas uma associação de duas espécies de substâncias distintas em uma única substância material.

Pela transubstanciação, mistério da graça divina, somos chamados a viver em plenitude uma vida cristã cotidiana: por fora, podemos até parecer pão ou vinho (como o sacramento eucarístico parece permanecer pão e vinho) mas já não somos pão e nem vinho dos homens, porque a graça infundida nos transformou em filhos de Deus.  Não há aniquilamento da nossa herança comum: somos pecadores e sensíveis às limitações da natureza humana. Não há consubstanciação possível, entretanto, entre o que somos pelo mundo e o que devemos ser como criaturas escolhidas pelo Pai: a herança eterna pressupõe uma mudança profunda de transformação interior e de conversão: 'eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim' (Gl 2, 20).