Mostrando postagens com marcador Tesouro de Exemplos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Tesouro de Exemplos. Mostrar todas as postagens

sábado, 24 de maio de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (13/15)

13. PROTESTO CONTRA OS FALSOS PROFETAS

Um nobre marquês de França foi certa vez convidado pelo Ministro do Exterior da Grécia a apertar a mão de Ernesto Renan, aquele escritor tristemente famoso que tanto injuriou a Jesus Cristo em seu livro Vida de Jesus.
O marquês, vivamente contrariado, escondeu sua mão, exclamando com voz solene: 'Jamais apertarei essa mão que esbofeteou o meu Deus!'
É triste que, também entre nós, haja quem leia e admire certos escritores ímpios, imorais e blasfemadores.

14. DÚVIDAS CONTRA A FÉ

Andava um fervoroso apóstolo do bem a pregar pelas cidades e vilas a doutrina da salvação quando, certo dia, aproximando-se dele um jovem, disse:
➖ Padre, tenho muitas dúvidas contra a fé.

O padre fitou-o demoradamente e, quando o jovem esperava uma erudita conferência sobre religião, aquele perguntou-lhe simplesmente:
➖ E quanto tempo faz que não te confessas?
➖ Não é isso, padre; não venho confessar-me, mas queria que o senhor resolvesse as minhas dúvidas.
➖ E por que não havíamos de inverter os termos: primeiro confessar-te e depois instruir-te?

E com aquela doçura que conquista os corações, converteu-o e o jovem caiu de joelhos aos seus pés, fez uma confissão sincera e demorada de suas culpas e quando terminou pós-se em pé. O padre então lhe disse:
➖ E, agora, meu filho, vamos ver aquelas dúvidas que tinhas contra a fé?
➖ Padre, agora já não tenho mais dúvidas!
Também vós andais a dizer que tendes dúvidas contra á fé. Serão mesmo dúvidas? Não serão culpas? Quanto tempo faz que não vos confessais?

15. ESTAIS SEGUROS DA VOSSA SALVAÇÃO?

Frei Gil, o bendito leigo franciscano, temendo pela sua salvação, abandonara o mundo. Urna gruta às margens de um rio ofereceu-lhe abrigo e ali vivia todo consagrado ao serviço de Deus. A água cristalina matava-lhe a sede e as árvores ofereciam-lhe seus frutos. O sol surpreendia-o em oração e as estrelas da noite eram testemunhas de suas assombrosas penitências.

Um dia, três cavaleiros, que andavam à caça, chegaram à gruta de Frei Gil. Este recebeu-os amavelmente, entreteve-se com eles sobre coisas espirituais e notou que, embora bons cristãos, gostavam mais do mundo do que de Deus.

Ao despedirem-se, um deles disse:
➖ Santo bendito, desde hoje recomenda-nos a Deus.
➖ Em verdade, senhores, vós é que haveis de pedir a Deus por mim, porque tendes mais fé e mais esperança do que eu.
➖ Como assim? Nós?
➖ Sim, disse Frei Gil, porque estou aqui retirado de todo trato com os homens, vestido de burel, dormindo no chão e sempre ando com medo de condenar-me; e vós, cercados de prazeres e comodidades, alimentando vícios e paixões, estais tão seguros de vossa salvação! Tendes, na verdade, mais fé e mais esperança do que eu.

O santo tinha razão. É preciso assegurar a nossa salvação por meio da penitência, pois a eterna Verdade diz: 'Se não fizerdes penitência, perecereis'.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

VER PÁGINA

sexta-feira, 9 de maio de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (10/12)


10. A GRANDEZA DO PAPADO

Encerrada a Revolução Francesa, assentou-se no trono de França um rei herdeiro dos funestos princípios da Revolução: Luís Filipe de Orléans. Thiers é o presidente do Conselho de Ministros e é, ao mesmo tempo, magnífico escritor e político a Maquiavel. Um dia está em Roma e quer ver o papa. O Santo Padre prontifica-se a recebê-lo; mas Thiers - como protestante que é - pede uma condição: não ajoelhar-se diante do papa, nem beijar-lhe a mão. Ciente dessa condição, Gregório XVI sorriu apenas. 

Entrou, afinal, nos aposentos pontifícios o famoso presidente. O papa estendeu-lhe a mão para cumprimentá-lo mas, em presença daquela imponente figura branca, Thiers sente apoderar-se de sua alma um sentimento indefinível. Vacilou um instante, caiu de joelhos e osculou o pé do Vigário de Cristo. O papa perguntou-lhe cheio de bondade:
➖ Tropeçou em alguma coisa, senhor presidente? 
E Thiers, comovido, respondeu:
➖ Santíssimo Padre, tropecei na grandeza do papado! 

11. ASSIM SÃO OS FILHOS 

Na história evangélica, encontramos cinco pais que acodem ansiosos a Jeus, intercedendo por seus filhos: um pede a saúde, outro a honra, outro a vida... Só uma vez encontramos um fiiho que pede por seu pai.

Sabeis o que pediu? Licença para ir enterrá-lo!... 

12. NÃO ZOMBAR DOS PADRES 

O célebre historiador Saiviano narra que, na cidade de Cartago, decaída de seu antigo prestígio, estava na moda desprezar os religiosos. A plebe vil, quando avistava algum padre ou religioso, escarnecia-os e dirigia-lhes nomes injuriosos. 

O castigo de Deus não se fez esperar muito. Um dia aportaram ali os terríveis vândalos. A ferro e a fogo, reduziram a cidade a um montão de ruínas, não deixando em pé nem sequer uma parede sobre a qual se pudesse escrever: 'Aqui era Cartago'. 

Foi assim que Nosso Senhor fez ver quanto ciúme tem do respeito devido aos seus ministros, dos quais dissera: 'Quem vos toca, toca a pupila de meus olhos' (Zc 2, 8); e 'quem vos despreza a mim despreza' (Lc 10, 16).

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

VER PÁGINA

sexta-feira, 25 de abril de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (07/09)


07. SÓ MESMO O SOFRIMENTO

Urna senhora da alta classe social foi urna vez queixar-se a um diretor espiritual, homem experimentado:
➖Padre, sou frívola, o mundo me encanta e a vida moderna me entusiasma. Já fiz o possível para corrigir-me (confissões, novenas, retiros) e nao consigo. Será que posso salvar-me? O que me pode valer-me? 
O velho sacerdote respondeu-lhe: 
➖ O que é que pode salvá-la? Somente uma coisa, minha senhora... 
➖ E o que seria? 
➖ Só mesmo um grande sofrimento!

08. SE CRISTO VOLTASSE... 

Algumas vezes fico a pensar: que impressão teria Cristo se voltasse hoje a este mundo? Vejamos. É um dia festivo. A grande praça da cidade está regurgitando de gente. Uns passeiam no jardim; outros estão sentados nos bares e cafés; estes discutem política, aqueles fazem fila à entrada do cinema...

E se, de repente, Cristo surgisse com a cruz às costas, coroado de espinhos e amarrado com cordas como passou outrora pelas ruas de Jerusalém, a caminho do Calvário. Um bando de meninos insolentes segueriam os seus passos a gritar e assobiar. A gente correria para vê-lo. Alguns operários ergueriam os punhos ameaçadores; muitos curiosos comentariam com desdém o raro espetáculo; jovens dissolutos contemplariam a sua figura com olhos maliciosos; sábios incrédulos sorririam com desprezo; alguns sentiriam compaixão daquele homem carregando a cruz, mas, medrosos, esconder-se-iam atrás de alguma porta... quantos realmente tomariam a decisão de acompanhá-lo e de confortá-lo naquela hora de amargura? 

Pouquíssimos! Alguns jovens decididos, algumas mulheres piedosas, como no caminho do Calvário. E tu, o que farias? Terias coragem de o seguir, ou serias daquele número dos que o desprezariam, escarneceriam ou se ocultariamm para que não o vejam chorar? Oxalá fosses dos valentes que o aju- dariam a carregar a cruz, dos destemidos que correriamm às praçaas e apregoariam a sua glória! 

09. A GANA DE SER RICO

Já ouvistes a história de João Wilde? Dizem que na ilha de Bergen há uma multidão de anõezinhos habitando um palácio de cristal, no interior da montanha. De vez em quando, saem do seu palácio encantado para bailar pelos campos. Mas, se numa dessas excursões, algum anãozinho perder um de seus sapatinhos de vidro, tem que voltar e procurá-lo, até o encontrar, custe o que custar. 

Um lavrador, chamado João Wilde, que sabia desse segredo, resolveu apanhar um desses sapatinhos e fazer fortuna. Saiu, pois, à meia-noite, deitou-se ao pé da montanha e fingiu que dormia. Apareceram os anõezinhos e, vendo-o dormir., bailaram tranquilos e alegres à luz do luar. João Wilde espreitava-os e vendo que um deles deixou cair o sapatinho, de um salto apoderou-se do precioso tesouro. No dia seguinte, o anãozinho, disfarçado de viajante, dirigiu-se à casa do lavrador. Este negou-se a devolver-lhe o sapatinho e o anãozinho, em desespero, ofereceu-lhe pelo sapatinho tudo o que quisesse. 
➖ Quero - disse João - que daqui em diante, a cada golpe do meu enxadão, apareça uma moeda de ouro. 

Firmou-se então um contrato entre os dois. O lavrador, com mão trêmula, tomou o enxadão e o mergulhou na terra e - ó boa sorte! - apareceu uma moeda de ouro reluzente e novinha. Todo o dia, de sol a sol, esteve cavando e todo o dia esteve recolhendo moedas. Voltou no dia seguinte, e também no outro e, como achava curto o dia, comecou a passar a noite desenterrando moedas de ouro. Sem descanso e sem sossego, cavou, suou, mourejou. Nem um momento de repouso, tamanha era a ânsia de amontoar puro, ouro e mais ouro... 

Um dia, porém, encontraram-no estendido no campo ao lado do seu enxadão: morrera de fadiga sobre um montão de moedas de ouro. O anão dera-lhe o ouro por castigo. Já disseste ou pensaste  talvez: faço sempre a vontade de Deus e, no entanto, vivo na pobreza; outros, vivem a ofendê-lo e gozam de abundância... Não te queixes, meu irmão; a tua pobreza, suportada com resignação, é uma mina de méritos para o céu. A riqueza mal adquirida ou mal empregada será causa de grandes castigos na vida futura.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

VER PÁGINA

sábado, 5 de abril de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (04/06)

 

04. A MULHER MODERNA

Viviam aquelas pombas irrequietas e felizes na doce paz do seu pombal. Todas as manhãs voavam ao campo, com o pescoço irisado pelo sol e bicavam os grãos que haviam caído ao golpe da foice do ceifeiro. À noite, o pombal dava-lhes abrigo e calor e, ali no ninho escondido na parede, ouviam alegremente o piado dos seus filhotes. Nao careciam de nada; tinham tudo, viviam ditosas e morriam tranquilas. 

Mas, eis que um dia apareceu no pombal uma pomba revolucionária. Vinha de outras terras, onde as pombas sacrificavam a felicidade à liberdade, e falou-lhes desta maneira: 'Companheiras, viveis dois séculos atrasadas com respeito às pombas de outros países. Basta de clássicas submissões, de vida aborrecida e estéril. Por que havemos de ser inferiores às patas? Elas podem ir à esterqueira e nós temos medo de nos mancharmos; elas podem banhar-se até na água suja e nós nã temos coragem de meter-nos no rio. Para que defender tanto a nossa alvura, a nossa pureza? Isso sao preconceitos da Idade Média! Cada uma fala o que bem entender, pois para isso é dona de seu corpo e de sua vida. Chega! Vamos à esterqueira! Ao charco!' Todas as pombas incautas aplaudiram a estrangeira agitando as asas. Dirigidas pela revolucionária, voaram para um pântano infecto que se via à distância. Enlambuzaram-se, revolveram-se no lodo com grande algazarra e... não vos direi como saíram dali as pombas! 

Assim, caros leitores, viviam em nossa terra ditosas e tranquilas mulheres. No ninho do seu lar viviam em paz a vida do trabalho e do amor. Mas a civilização revolucionária começou a cantar o seu canto de sereia assim: 'Como! Ficareis toda a vida fechadas em casa? E escravas dos homens? Basta, basta já de submissões! Nao vedes como se chegou, em outros países, à emancipação da mulher? Abandonai os vossos preconceitos medievais! A mulher é dona do seu corpo e de sua vida. Por que sacrificar à alvura da pureza todas as alegrías do prazer? Ao charco! Ao pântano! E as mulheres modernas lançaram-se e revolveram-se no charco da vida... e não vos direi eu como saem dele as mulheres de hoje!

05. O REMORSO DE CONSCIÊNCIA

Em 1859, uma aldeia da Morávia, chamada Leibnitz, foi devastada por um pavoroso incêndio. A princípio, ninguém suspeitou que o fogo tivesse sido obra de urna terrível vinganga. O que chamou a atenção foi que, desde o dia do incêndio, um dos habitantes se afastava cautelosamente dos demais e passava seus dias em casa, sempre sozinho, com as portas cerradas. Era o incendiário que, depois do seu crime, via continuamente os espectros das vítimas que pereceram no fogo. 

Estas bailavam diante dos seus olhos e, apontando para uma árvore do quintal, pareciam dizer-lhe: 'Ali serás enforcado!' O infeliz então cortou a árvore. Em vão. Os moradores do povoado viam-no rezar todos os dias ajoelhado e erguendo as mãos aos céus. Nem assim teve sossego. Por fim, ele mesmo foi apresentar-se às autoridades, dizendo: 'Eu sou o culpado, eu sou o autor do incêndio!' 

Ah! É inútil. Pretendem alguns abafar a voz da consciência, entregando-se aos prazeres e folguedos; mas é inútil. Por algum tempo, talvez, a consciência ficará calada; mas chega um dia em que, dentro de nós, ela começa a gritar com a severidade de um juiz: 'Tu és o incendiário! Tu és o assassino! Tu és o pecador!' 

06. SE NÃO HOUVESSE INFERNO... 

Nos terríveis dias da Revolução Francesa, um pároco de Lyon foi barbaramente arrastado aos tribunais.
➖ Crês que há um inferno? - perguntou-lhe cinicamente um dos juízes revolucionários. 
➖ Claro que sim - respondeu o pároco; e se não cresse, vendo agora os vossos crimes, não teria dúvida em crer; porque, se de fato não existisse o inferno, seria mister inventá-lo para vos castigar!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

sábado, 15 de março de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS II (01/03)


01. FOI AVISADO DE QUE MORRERIA

Rapazes, até quando continuareis zombando da autoridade de Deus? Até quando desprezareis o seu preceito de ir à missa aos domingos, à confissão, à comunhão? Tendes saúde, sois fortes, alegres, adulados, amados de vossos pais, estimados por  vossoss colegas, bem sucedidos nos estudos, ricos e afortunados... Mas uma coisa eu vos digo: de Deus não se zomba. Se nao fazeis caso da religião, se não cumpris vossos deveres morais e religiosos, se continuais na libertinagem, nao duvideis que o castigo virá. Como? De que maneira? Quando? A estas perguntas nao podemos responder: sao mistérios de Deus. O certo, porém, é que Ele anunciou temerosos castigos contra os profanadores dos dias santos. E esses castigos, nesta ou na outra vida, virão infalivelmente. 

Escutem o que nos diz o grande doutor da Igreja Santo Afonso de Ligório. Era - diz ele - o dia 24 de novembro de 1668. Dois amigos passeavam juntos nos jardins de Palermo. Um deles, chamado  César, era ator dramático. 
➖ César - disse-lhe o amigo - você está triste!
➖ Muito. 
➖ Por que não conversas?
➖ Não posso. 
➖ Tens alguma preocupação?
➖ Sim; e muito grande. 
➖ Podes contar o que é?
➖ Sim; como és um bom amigo, vou abrir-te o meu coração...

Já sabes que minha mãe era uma pessoa muito boa. Educou-me na piedade. Mais tarde, porém, abandonei tudo e tornei-me um libertino. Dediquei-me ao teatro; tenho tido muitos sucessos, mas, também, tenho dado muitos escândalos. Um dia, estando eu em Nápoles, passei por uma praça abarrotada de povo. Parei. Era um missionário que estava pregando. Ouvi-lhe o sermão sobre o inferno e tive medo. Converti-me, confessei-me com ele e, ao terminar, ele me disse: 'Não voltes ao vômito do pecado, porque, se voltares (digo-te da parte de Deus), só terás mais doze anos de vida'. 
➖ Isso te disse o padre?
➖ Exatamente.
➖ E por que hoje te lembras disso?
➖ Porque hoje, exatamente, vai fazer doze anos...
➖ Qual nada! Não  te vejo com cara de moribundo!
➖ Sim; hoje estou melhor do que nunca.
➖ Então; deixa-te de tolices. Eu te profetizo, sem ser missionário, que esta noite terás um dos maiores sucessos de tua vida. E viverás ainda muito, até caires de velhice.
➖ Deus te ouça, meu amigo; mas asseguro-te que tenho medo, muito medo. 

Chegou a noite. Começou a peça de teatro. César atuava no palco e todos o aplaudiam em delírio. De repente, cambaleou e caiu. Acercaram-se dele e tentaram erguê-lo... mas estava morto! Realizava-se, assim, a tremenda profecia do missionário. 

Nao sou eu, mas o próprio Deus, quem vos diz: Rapazes, frequentai a missa! Porque, se não observais a minha lei e se  profanais as minhas festas, contra vós enviarei terríveis castigos quer nesta, quer na outra vida.

02. QUEM QUER DISCUTIR RELIGIÃO?

Viajava num trem um douto e modesto frade. Ele lia o seu Breviário e nao prestava atenção ao que os vizinhos conversavam, embora tivesse percebido que andavam a gracejar sobre a religião. Uma senhora, mais petulante que os outros, intrigada com o silêncio do frade, voltou-se para ele e disse:
➖ Saiba, padre, que eu sou incrédula!
➖ Então a senhora não admite a revelação divina?
➖ Ah! não; isso de revelação divina não passa de fábula. 
➖ A senhora já estudou algumas provas da revelação?
➖ Não, senhor.
➖ Terá lido alguma obra de São Tomás ou de Balines?
➖ Também não.
➖ E não passou a vista por alguma obra de apologética fundamental, a de Hilaire, por exemplo?
➖ Não, senhor. 
➖ Pois então, minha senhora, permita-me que lhe diga a verdade: a senhora não é incrédula, a senhora é analfabeta!

É por aí mesmo. Certos 'incrédulos' posam como tal, dizendo ou escrevendo disparates contra a religião e, no entanto, não passam de pobres analfabetos em assuntos religiosos. Que lhes aproveite, pois, esta lição!

03. AH! ESSAS MODAS...

Regressava das missões da África um missionário de barba longa e veneranda. Todos no navio o tratavam com respeito. Durante o dia, enquanto os passageiros se divertiam, ele permanecia no convés, rezando e contemplando o belo céu. Comparava a sua paz com aquele torvelinho, cada dia mais se alegrava de ter escolhido a melhor parte, ou seja, o sacerdócio. 

Uma tarde desceu para a refeição e modestamente ocupou o seu lugar à mesa. Em frente dele, sentou-se uma senhora vestida muito à moda, isto é, quase como Eva no paraíso. O missionário lançou-lhe um olhar sério e guardou silêncio. Durante toda a refeição, manteve-se constrangido. Compreendia a obrigação que tinha de advertir aquela senhora, mas queria fazê-lo de forma caridosa e polida para que sua repreensão fosse mais eficaz. 

Ainda estava indeciso, quando chegou a sobremesa. A senhora tomou delicadamente uma maçã da bandeja e a ofereceu ao padre.
➖ Desculpe-me, senhora - disse ele - mas preferiria que a senhora mesmo a comesse. 
➖ Não não, faça-me o favor...
➖ De modo nenhum, pois é à senhora que compete comer essa maçã.
➖ Mas por que, padre?
➖ Para que se repita o caso descrito na Sagrada Escritura, lembra-se?: Eva tomou uma maçã, levou-a à boca e deu-lhe uma dentada e, então, abriram-se-lhe os olhos e compreendeu que estava desnuda!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos' - Volume II, do Pe. Francisco Alves, 1960; com adaptações)

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS (405/407)


CONTOS DE FANTASIA (LENDAS)

405. A LENDA DE FREI PACÔMIO

Em princípios do século décimo, vivia num convento de beneditinos um santo religioso, chamado Frei Pacômio, que não podia compreender como os bem-aventurados não se cansam de contemplar por toda a eternidade as mesmas belezas e gozar dos mesmos gozos. Um dia, o prior do convento mandou que ele fosse a um bosque vizinho para recolher alguma lenha. Foi com gosto, mas mesmo no trabalho não o largavam as dúvidas. De repente ouviu a voz de uma avezinha que cantava maravilhosamente entre os ramos. Ergueu-se e viu um animalzinho tão encantador como jamais vira em sua vida.

Saltava de um ramo para o outro, cantando, brincando e internando-se na selva. Seguiu-o Frei Pacômio, todo encantado, sem dar-se conta nem do tempo nem do lugar. A certa altura a avezinha atirou aos ares o último e mais doce gorjeio e desapareceu. Lembrando-se então de seu trabalho, procurou o machado para voltar ao convento, mas - coisa esquisita! - achou-o enferrujado. Quis pegar o feixe de renha, que ajuntara, mas não o encontrou.

Alguém o teria roubado? - pensou consigo. Pôs-se a andar, mas não encontrava o caminho. Chegou, afinal, à beira do bosque, mas não encontrou o mato de outrora; ali estava agora um campo de trigo, em que trabalhavam homens desconhecidos. Perguntou a um deles o caminho do mosteiro, pois decerto se havia extraviado. Todos o olharam com surpre, mas, em seguida, indicaram-lhe o caminho até o mosteiro. Quando lá chegou - grande Deus! - como estava mudado! Em lugar da casa modesta de sempre, viu um edifício magnífico ao lado de uma grandiosa capela. Intrigado, bateu à porta; um irmão desconhecido a abriu.
➖ Sois recém-chegado, disse-lhe Pacômio, eu venho do bosque onde me mandou esta manhã o prior D. Anselmo para buscar lenha.
Admirado o porteiro, deixando ali o hóspede, foi avisar o prior que na portaria estava um monge com hábito velho, barba e cabelos brancos como a neve, perguntando pelo prior Anselmo.

O caso era curioso. O prior, abrindo os registos do convento, descobriu na lista o nome do prior Anselmo, que ali vivera há quatrocentos anos. Continuou a ler e achou nos anais daquele tempo o seguinte:
➖ Esta manhã, Frei Pacômio foi mandado buscar lenha no bosque e desapareceu.
Chamaram o hóspede e fizeram-no entrar e contar a sua história. Frei Pacômio narrou o caso de suas dúvidas sobre a felicidade e o paraíso e o prior começou a compreender o mistério. Deus quis mostrar ao pio religioso que, se o canto de uma avezinha era capaz de encantar-lhe a alma por séculos inteiros, quanto mais a formosura de Deus não há de embevecer os bem aventurados por toda a eternidade sem que eles jamais se cansem.

406. O GIGANTE SÃO CRISTÓVÃO

A história deste gigante tem para as crianças um atrativo especial. Era São Cristóvão um gigante que ganhava a vida carregando em seus ombros os viajantes de uma margem para outra de um rio caudaloso sobre o qual não havia ponte. A correnteza não podia com ele. Dava alguns passos largos e já estava do outro lado. Largava ali o passageiro, recebia os cobres e ia carregar outro. Contam que um dia se apresentou à beira do rio um menino louro como um raio de sol e sorridente como uma rosa de primavera. Era pequeno, pesava pouco, mas era lindo como um anjo.

Logo que o viu, disse São Cristóvão com muito carinho:
➖ Menino, queres que te passe para o outro lado? Andas tão sozinho por estes caminhos.
O formoso menino respondeu:
➖ Ando pelo mundo à procura de um tesouro que perdi.
Quisera passar para a outra banda do rio para ver se, por esses campos e caminhos, o encontro; mas não poderás comigo.
Cristóvão soltou uma gargalhada:
➖ Não poderei contigo? Anjinho de Deus, não te levarei nos ombros, mas na ponta do dedo.

Dito isso, aquele vigoroso gigante tomou o menino e, como se fosse uma pena, colocou-o sobre os ombros e, saltando ao rio, caminhava para a margem oposta. Mas, quando estava no meio da torrente, o menino começou a pesar de tal forma que o gigante tremia. Vendo que a correnteza o arrastava, exclamou estupefato:
➖ Menino, pesas muito; tens que ser mais que um simples menino.
E o menino respondeu:
➖ Tens razão. Cristóvão; eu peso mais que todo o mundo, porque eu sou o menino Deus. Ando por estas terras à procura de um tesouro que são as almas. Agora venho buscar a tua alma. Se crês em mim e me amas, não só não te pesarei sobre os ombros, mas ainda te levarei no meu coração e te farei feliz neste mundo e no outro.
Chegando à margem oposta, Cristóvão pôs o menino sentadinho sobre a areia e, ajoelhando-se diante dele, disse:
➖ Menino, tu és Deus. Creio em ti e amo-te, e só a ti quero amar por toda a minha vida.
E cumpriu a sua palavra, porque desde aquele dia dedicou-se a servir e amar a Deus.

407. AS TRÊS LÁGRIMAS

Havia no céu um anjo curioso! Queria saber o que se passava pelo mundo; escapou-se do céu e baixou à terra. Que amarga foi a sua decepção! Não viu senão sangue; não pisou senão barro. Agitou suas asas brancas e rumou para o ceú. Estavam fechadas as portas. Ouviu uma voz que lá de dentro lhe dizia:
➖ Anjo, não poderás entrar de novo no céu se não trouxeres da terra, num cálice, uma lágrima que recolheres por um ato de caridade que fizeres.

Rápido baixou o anjo à terra. Ouviu um leve gemido, que saía de uma casa perdida no meio do campo e entrou. Era um menino que estava a morrer sozinho, abandonado de todos.O anjo olhou para ele e o pobrezinho sorriu-lhe e de seus olhos correu uma lágrlma... e morreu. O anjo recolheu em seu cálice de ouro aquela lágrima e, rico com aquele tesouro, cruzou os ares e atravessou as nuvens, chegando às portas do céu.
➖ Anjo, que trazes aí?
➖ Senhor, uma lágrima que recolhi dos olhos de um menino agonizante que não tinha ao seu lado nem os olhos carinhosos de sua mãe.
➖ Anjo, isso não basta.

E desceu novamente o anjo à terra. E outro ai lastimoso chegou-lhe aos ouvidos. Vinha de muito longe. Chegando ao fundo de um deserto, entrou em uma caverna. Um santo anacoreta entrava em agonia! Pôs o anjo a sua mão esquerda debaixo da cabeça do homem de Deus, à maneira de macio travesseiro macio e, com a mão direita, indicava-lhe os belos horizontes da eternidade. O anacoreta sorriu e morreu. Uma lágrima caía dos seus olhos abertos. O anjo recolheu aquela lágrima e, rico com aquele tesouro, cruzou os ares e atravessou as nuvens, chegando à porta do céu.
➖  Anjo, que trazes aí?
➖  Senhor, uma lágrima recolhida dos olhos de um anacoreta a quem consolei em sua última agonia.
➖ Isso ainda não basta!

E outra vez o anjo desceu à terra. Uma multidão imensa conduzia à forca uma jovem rainha, que já se achava no fatal banquinho dos condenados. O anjo aproximou-se dela, ouviu-a e viu que era inocente. Levantou-se, fez um discurso e provou àquela multidão revoltada que aquela jovem rainha era inocente. E a multidão entusiasmada proclamou-a de novo sua rainha e soberana. Do seu banquinho fatal,  levantou-se a rainha, caiu de joelhos diante do anjo e uma lágrima de gratidão rolou dos seus olhos. O anjo recolheu em seu cálice aquela preciosa lágrima e, rico com aquele tesouro, cruzou os ares e atravessou as nuvens, chegando às portas do céu.
➖  Anjo, que trazes aí?
➖  Senhor, uma lágrima colhida dos olhos de uma rainha vilmente caluniada e por mim livrada da morte.
➖ Isso ainda não basta não.

O anjo baixou de novo à terra, agora triste e acabrunhado. Assentou-se em uma pedra. Olhou para o céu e exclamou chorando: Adeus céu, adeus! Eu te perdi e não te tereis mais, porque não encontro na terra uma lágrima que mereça as tuas alegrias. Deixou cair a cabeça e o desespero começou a apoderar-se dele. De repente a terra tremeu, o mundo estremeceu, o sol ocultou sua face, as rochas partiram-se e as trevas cobriram o universo. O anjo levantou espantado a cabeça, olhou por toda a imensidade do escuro horizonte...

Lá, ao longe, descobriu um ponto de luz, uma colina, sobre a colina uma cruz, na cruz uma vítima e, aos pés da cruz, uma mulher que chorava. O anjo agitou impetuosamente as asas até lá. Ao chegar - Santo Deus! - o que viu? Esta vítima é Jesus, o meu Deus! Esta mulher é a minha rainha... é Maria! E o anjo recolheu em seu cálice de ouro uma lágrima de Jesus e outra lágrima de Maria. O anjo chorou também, e aquela sua lágrima caiu no mesmo cálice e fundiu-se com as outras duas. E o anjo, rico com aquele tesouro, cruzou os ares e atravessou as nuvens, chegando às portas do céu.
➖  Anjo, que trazes aí?
➖  Senhor, uma lágrima de Jesus, uma lágrima de Maria e outra lágrima que é minha....
➖ Entra! entra! 
E entrou de novo, no reino da felicidade, o anjo das três lágrimas.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS (402/404)


CONTOS DE FANTASIA (LENDAS)

402. TOMA ESTE CÁLICE... ENCHE-O DE ÁGUA

Meninos, ouvi! Sabemos que era um jovem e que cometera pecados horríveis. Mas tinha fé e, às vezes, punha-se a pensar na hora da morte e na eternidade e então aquele jovem sentia que o desespero o arrastava à condenação eterna. De vez em quando sentia um desejo ardente de voltar ao bom caminho, de converter-se a Deus, de fazer penitência. Entretanto, do fundo da alma parecia que uma voz lhe gritava:
➖ Não há perdão para ti.

Ao passar um dia por uma igreja, não pôde vencer o desejo de entrar. Qualquer coisa o atraía. E se viu então diante do Cristo Crucificado. Rezou e com os olhos rasos de lágrimas, disse:
➖ Senhor, haverá ainda misericórdia para mim?
E ouviu uma voz que lhe dizia:
➖ Teus pecados serão perdoados, quando tiveres chorado muito.
➖ Senhor - replicou o jovem - chorarei toda vida; mas quisera ter certeza de que chorei bastante e de que me perdoaste.
Então o divino Crucificado, estendendo a mão, entregou-lhe um cálice e disse:
➖ Toma-o. Quando o encheres de água, será sinal de que teus pecados te foram perdoados.

Tremendo de comoção tomou o penitente o precioso cálice. Pouco distante dali havia uma grande pedra. Das entranhas daquela rocha brotava uma fonte.
➖ Na água dessa fonte encherei o meu cálice.
Subiu ao alto do morro. Acercou-se da rocha. Encostou o cálice à água, mas... a fonte secou.
➖ Secou-se a fonte - disse consigo o pecador - mas não secará a torrente que corre atrás daquelas montanhas.

E subiu aos montes e desceu aos vales e, por fim, chegou à suspirada torrente. Mas, quando quis encher o cálice... a torrente secou.
➖ Secou-se a fonte e secou-se a torrente - murmurou o jovem; certamente quer Deus que eu faça penitência e busque com trabalhos e suores a água do perdão. Detrás daqueles montes, do outro lado destas terras, está o mar. Secou-se a fonte secou-se a torrente, mas não secará o mar. Nas águas salgadas do mar encherei o meu cálice.

E pôs-se a caminho. Andou muito através de campos, montes e vales e, finalmente, do alto da gigantesca serra contemplou o mar distante. O' mar - exclamou - és a minha esperança; em tuas águas inesgotáveis encherei o meu cálice.
E desceu e correu ansiosamente. Já estavam muito perto as praias do mar. Dá um grito de alegria e avança com o cálice na mão para enchê-lo nas ondas que vinham beijar-lhe os pés. Mas, de repente, vê com horror que as ondas se afastam e fogem e o mar retroce diante dele... Cai de joelhos o pobre jovem e não se atreve a erguer os olhos ao céu; inclina a cabeça e rompe em copioso pranto de arrependimento. Chorou muito e sem parar. Quando voltou a si, quando quis enxugar a última lágrima dos seus olhos inflamados, viu que o cálice estava cheio de água, da água de suas lágrimas. Aí está: essa é a água que lava as nossas almas e nos obtém o perdão.

403. A CRUZ DO ROSÁRIO

Sobre São Pedro, o chaveiro do céu, há várias lendas, sendo a seguinte bastante interessante e instrutiva. Dizem que, um belo dia, São Pedro fechou a porta do céu por fora e veio dar umas voltas pelo mundo para ver como andavam as coisas por aqui. Parecia-lhe que estava chegando pouca gente ao céu e era preciso conhecer a causa dessa triste situação. Terminado o seu inquérito, e achando mais prudente não conceder entrevista aos jornais bisbilhoteiros, dirigiu seus apressados passos lá para cima. Aconteceu, porém, que, ao chegar à porta do paraíso, meteu a mão nos bolsos e - ai! - não encontrou mais a chave. Perdera-a e não sabia nem onde nem como. O que fazer em tamanha aflição?
➖ Descerei de novo à terra, disse, e procurarei um bom serralheiro que me faça uma nova chave.

De fato, não custou a encontrar um muito entendido e, disse-lhe:
➖ Olhe, eu preciso com urgência de uma chave para abrir a porta do céu. Você pode fazê-la?
➖Perfeitamente; mas custará mais, porque há de ser uma chave extraordinária.
➖ Que homens! - disse consigo S. Pedro - nem para o céu fazem uma chave de graça! Que seja! Não há dúvida; vamos lá para cima.

Subiu o serralheiro ao céu e, orgulhoso de sua arte, examinou o modelo, tirou as medidas e voltou à terra. Tomou dos instrumentos, talhou a chave, limou-a, poliu-a e, triunfante, apresentou-se à porta do céu. Mas - ai! - a chave entrava no buraco da fechadura, dava voltas, mas nada! Não abria a porta.
➖ Que venha outro serralheiro, mas depressa - disse São Pedro.
Chegou outro, mais presumido que o primeiro, fez as mesmas manobras e nada! A chave não abria.
Assim foram fracassando, uns após outros, todos os serralheiros.

Entretanto, as almas que vinham chegando, dos quatro cantos do mundo, começavam a impacientar-se, porque demorava muito a entrada no céu. São Pedro suava frio pois, por seu descuido, já ninguém podia entrar na glória. Por fim, uma humilde velhinha se ofereceu para abrir a porta.
➖ Bem. Experimente, vamos ver - disse São Pedro.
E a velhinha,que, na terra, fôra devotíssima de Nossa Senhora, meteu a cruz de seu rosário na fechadura, deu meia volta à chave improvisada e a porta se abriu.
➖ Bravo! Bravo! exclamaram todos, é o rosário de Nossa Senhora que nos abre a porta do Céu! E lá entraram cheios de alegria e contentamento

404. POBREZA FELIZ

Corre entre os russos a seguinte história. O czar (imperador) caiu gravemente enfermo. Não encontrando remédio, disse:
➖ Darei a metade de meu reino a quem me curar.
Reuniram-se então todos os sábios para uma consulta, cujo tema era: 'Como havemos de curar o imperador?' Depois de muito discutirem, disse um:
➖ Procurai um homem feliz, tirai-lhe a camisa e levai-a ao czar e, vestindo-a, ele vai se curar.
Mensagiros percorriam todo o império à procura do homem feliz, mas não o encontravam, porque um era rico, mas sempre doente; outro era são, mas pobre; este, são e rico, mas sem filhos; aquêle são, rico e com filhos, mas atribulado; todos, enfim, tinham do que lamentar-se.

Um dia, o filho do czar aproximou-se à noitinha de uma cabana, parou e ouviu que dentro um homem falava assim:
➖ Graças a Deus, trabalhei, comi e vou para a cama contente de ter cumprido o meu dever. Nada me falta, sou feliz. O filho do czar não cabia em si de contente, pois encontrara afinal o homem feliz e estava disposto a dar-lhe quanto dinheiro quisesse pela camisa, que levaria imediatamente ao czar, seu pai. Bateu à porta, entrou, pôs-se diante do homem feliz para comprar-lhe a cobiçada camisa, mas...o que ele viu? O homem feliz não possuía nem uma camisa! Bem-aventurados os pobres...

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS (399/401)


CONTOS DE FANTASIA (LENDAS)

399. O ORGULHOSO NÃO SE AJOELHA

Diz uma lenda que na cidade de Colônia vivia um padre santo. Não era sábio; não era eloquente; mas era um grande confessor. Dizem que todos os que se levantavam de seu confessionário levavam na fronte o ósculo da paz.

Foi na véspera de uma grande solenidade. Uma grande multidão de penitentes esperava ao redor do confessionário daquele santo sacerdote. Entre eles achava-se um homem, o único que se conservava de pé. Tinha um rosto triste. escuro, quase negro.... atitude que revelava imensa tristeza e desconcertante inquietação. Chegou a sua vez. Acercou-se do confessionário, mas não se ajoelhou.
➖ Irmão - disse brandamente o confessor - ajoelhe-se.
➖ Nunca! Eu nunca me ajoelho.
➖ Quem é o senhor?
➖ Isso não lhe importa.
➖ De onde vem?
➖ Também isso não lhe importa.
➖ O senhor tem razão - respondeu humildemente o confessor - nada disso me importa. Mas, então, o que deseja?
➖ Confessar-me, porque trago dentro do meu coração um inferno que me abrasa e busco a paz.
➖ Irmão - replicou o confessor com toda humildade de sua alma - se procura a paz, aqui a encontrará, mas deve ajoelhar-se.

O penitente, com um gesto de soberba, respondeu:
➖ Nunca! Já lhe disse que nunca me ajoelho.
➖ Irmão - disse então o confessor com grande mansidão - compadeço-me do senhor; faça de pé a sua confissão, pois quando tiver diante dos olhos a gravidade de seus pecados, certamente se ajoelhará.
➖ Nunca! - atalhou o penitente- Ajoelhar-me? Nunca! Mil vezes lhe direi que não me ajoelho nunca!
➖ Irmão, comece então!
E começou o penitente a contar os seus pecados. 

E eram tantos e tão horríveis, que o confessor, que até então conservara os olhos baixos, levantou-os, fixou o penitente e disse-lhe com extrema bondade:
➖ Irmão, o senhor está me enganando.
➖ Não o engano.
➖ Esses pecados o senhor não pôde cometê-los.
➖ Mas eu os cometi.
➖ Para ter cometido tantos pecados seria necessário que o senhor fosse muito mais velho do moço que ainda é.
➖ Moço? Já tenho muitos séculos!
➖ Muitos séculos?
➖ Sim... muitos séculos!
➖ Quem é o senhor, afinal?
➖ Não lhe importa.
➖ De onde vem?
➖ De uma região onde não há sol.
➖ Então já adivinho quem és. Irmão, ainda há perdão e misericórdia para o senhor, mas ajoelhe-se.
➖ Nunca! Nunca me ajoelharei!
➖ Então o senhor é...
➖ Sou Satanás! E desapareceu.
Sim; há perdão para todos os pecadores. Nosso Senhor exige apenas que o pecador, reconhecendo e detestando os seus pecados, humilde e sinceramente os acuse no tribunal da penitência.

400. A MORTE NIVELA TUDO

Morreu em 1916 Francisco José, imperador da Áustria, que por muitos anos soubera conservar, sob o poderio paternal de seu cetro, muitos povos que antes viviam em contínuas guerras. O féretro foi levado à cripta da igreja dos Padres Capuchinhos de Viena, onde jazem outros reis e imperadores.

O mestre de cerimônias bateu à porta.
➖ Quem é? - perguntou do lado de dentro, segundo o cerimonial, um padre capuchinho.
Os cortesãos responderam:
➖ Francisco José, imperador e rei.
De lá de dentro a mesma voz austera do frade respondeu:
➖ Não o conheço.

Fez-se um momento de silêncio dentro da cripta. Do lado de fora, à porta, deliberavam os senhores e políticos. Bateram outra vez. E outra vez insiste de dentro o guardião daquelas tumbas:
➖ Quem é?
➖ Francisco José de Habsburgo - responderam de fora os que sustentavam em seus ombros o régio féretro.
E de novo ouviu-se a voz do frade:
➖ Não o conheço.

Fez-se mais um momento de silêncio e mais um instante de deliberação. Urgia, porém, entregar à terra aqueles restos mortais que foram ontem de homem tão grande e que hoje ninguém os queria em parte alguma. Por isso, após um instante de imponente silêncio, outra vez a voz do Capuchinho interroga:
➖ Quem é?
E aquele que respondia em nome da política e da grandeza do império austríaco, respondeu agora:
➖ Um pobre morto.
A voz serena e imutável do guardião daqueles túmulos respondeu imediatamente:
➖ Entre!

E abriram-se as portas, dando entrada ao cadáver e ali, como um pobre morto, foi enterrado o célebre imperador: Francisco José, rei e imperador da Áustria. É certo que a morte nivela tudo. De toda a grandeza, como de toda a miséria, após a morte resta apenas um cadáver que dentro em pouco não será mais do que pó e cinza.

401. O REI MIDAS

Narra a mitologia que o rei Midas, o qual era muito avarento, por ter tratado bem a Sileno, seu prisioneiro, recebeu dos deuses a grande recompensa de converter em ouro tudo quanto a sua mão tocasse. Uma bela fortuna, não é verdade? Uma fortuna?!

Fora de si de contente, aquele rei tocou seu bastão, e o bastão se converteu em ouro cintilante; tocou a parede e a parede tornou-se toda de ouro; meteu a mão na algibeira, e toda a sua veste converteu-se num bloco de ouro preciosíssimo.. .
No palácio real, tudo agora era ouro. O rei assentou-se à mesa. A sopa, apenas lhe tocou os lábios, tornou-se ouro; o pão, a carne, tudo tornava-se ouro, de modo que o rei Midas não pôde tomar alimento algum e depois de alguns dias ia morrendo de fome rodeado de ouro. Assim diz a fábula.
Mas eu vos digo, em outro sentido, que também nós possuímos um meio de converter em ouro, isto é, em mérito preciosíssimo, todas as nossas obras. Esse meio consiste em conformar sempre e em tudo a nossa vontade com a santa vontade de Deus.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

TESOURO DE EXEMPLOS (394/398)

 

CONTOS DE FANTASIA (LENDAS)

394. O PODER DE SÃO JOSÉ 

Havia um homem, devoto de São José, que não se preparou para a morte e, assim mesmo, quis entrar no céu. Mas São Pedro, vendo-o chegar manchado, fechou-lhe a porta e deixou-o sentado no corno da lua. Entretanto não faltou quem fosse contar o caso a São José, o qual se apresentou diante do trono de Deus para pedir graça para seu devoto. O Senhor negou-lhe a graça. São José disse que era um devoto seu. 'Devoto que acende uma vela a ti e duas ao demônio...?'

São José, porém, decidido a vencer, disse:
➖ Se meu devoto não entrar no céu, eu me vou embora.
➖ Pois então vai! - disse o Senhor.
São José, que não esperava essa resposta, de chapéu na mão, dirigia-se para a porta; mas, no meio do caminho, virou-se e disse:
➖ Se eu for, não irei só; deve ir comigo também a minha esposa.
➖ Pois que vá!
➖ Mas levando minha esposa, devo levar tudo que lhe pertence...
➖ Pois que leve tudo! - disse o Senhor.
➖ Tenho aqui uma lista completa - E São José, em pé no meio do paraíso, começou a ler: 'Rainha dos Anjos!' - e já todos os anjos voaram para a porta; Rainha dos Patriarcas! - e eles foram se enfileirando perto da porta; Rainha dos Mártires! - vão todos eles também para a porta. E quando São José ia clamar: Rainha de todos os Santos!...
➖ Olha, José; corre, vai dar um banho no teu devoto e, depois, faça que ele entre no céu; porque, se me empenho em não deixá-lo entrar, por justiça fico sozinho no céu!

395. A SOPINHA DE JESUS

A Sagrada Família estava no desterro do Egito. Ia caindo a tarde e São José não conseguira terminar seu trabalho para receber o pagamento. Suspirando olhava para sua castíssima esposa, a qual, adivinhando o que se passava no coração de José, disse-lhe:
➖ Não temas; tenho um pouco de leite e pão e farei uma sopinha para o nosso querido Menino; nós comeremos amanhã, se Deus quiser.

No mesmo instante em que se dispunha a dar a Jesus o humilde alimento, uma voz trêmula implorava uma esmola. O Menino olhou para sua Mãe e ela disse: 
➖ Não temos nada, meu Filho!
O Menino corre, toma a tigelinha de sopa e leva-a ao velhinho que pedia esmola. E José e Maria choraram em silêncio, vendo Jesus fazer aquele sacrifício, prelúdio do sacrifício da Cruz, que êle mesmo ofereceria ao Pai eterno.

396. AS POMBINHAS DO MENINO JESUS

O Menino Jesus estava brincando com outros meninos às margens do rio Nilo. Faziam passarinhos de areia. Jesus fazia-os tão lindos, que Nossa Senhora, ao contemplá-los, exclamou: 'Que pena que não tenham vida!'

Jesus para comprazer a sua mãe, deu vida às suas duas pombinhas e as fez voar. Recomendou-lhes que não fossem para muito longe e não se ajuntassem com as aves de rapina. Sobre a cúpula do templo de Menfis estavam as outras pombas e para lá se foram elas também. Eis que, ao chegar o gavião para persegui-las uma fugiu imediatamente e foi refugiar-se junto de Nossa Senhora; a outra demorou-se e, ao regressar à tarde, apresentava muitos ferimentos e poucas penas. Jesus tomou-a entre as mãos e curou-a. No dia seguinte repetiu-se a cena, e a pombinha ferida regressou quando a Sagrada Família já se havia recolhido em sua casinha. Assentou-se na janela e São José a recolheu e Jesus curou-a de novo e fez-lhe muitas advertências e deu-lhe muitos conselhos. Na manhã seguinte repetiram as pombas o seu passeio, mas a desobediente foi devorada pelo gavião.

O mesmo acontece com tantos cristãos que, por sua imprudência, caem nas garras do demônio, que os corrompe e mata!

397. A MÃO MAIS LINDA

Três meninos iam muito alegres à cidade, onde o que tivesse a mão mais linda ganharia um prêmio. Chegou um deles ao bosquezinho de nardos: uma a uma foi tocando as olorosas flores que, em sinal de gratidão, deixavam naquelas mãos brancas suas cores e seu aroma. Encontrou o outro um regato e, em suas cristalinas águas, perfumadas de flores de laranjeiras, banhou suas mãos, que saíram mais formosas. Tímido e modesto, o outro vacilava em pedir perfume às flôres e beleza ao regato. 

Passou um mendigo que pediu uma esmola por amor de Deus. Puxou o menino uma moeda e deu a ele. Ao recebê-la, o mendigo beijou aquela mão benfeitora,deixando cair uma lágrima de agradecimento. Aquela lágrima transformou-se em belíssima pérola que tomou mil cores do arco-íris e esmaltou a mão do angélico menino. Esta foi a mão que brilhou com encantadoras cintilações, porque foi purificada pela lágrima de um pobre.

398. AS ROSAS

Segundo uma lenda antiga,
Maria, com São José,
Fugindo à gente inimiga,
Transpôs caminhos a pé.

E à proporção que Maria
Deixava rastro no chão,
Todo o caminho floria
De rosas em profusão.

Pelos trilhos e barrancas
Das estradas, viu-se em breve
O estendal de rosas brancas
Tudo enfeitando de neve.

De um branco suave e doce
As rosas; nenhuma havia
Pela terra, que não fosse
Da cor dos pés de Maria.

Depois de tempos volvidos,
Ao peso de imensa cruz,
Pelos caminhos floridos
Um homem passa - Jesus.

E sobre o estendal de flores.
De seu corpo o sangue vai
Caindo, e Ele, entre mil dores,
Não geme, não solta um ai.

Passou e pelas barrancas,
Sob as asas das abelhas,
Dos tufos das rosas brancas
Brotavam rosas vermelhas.

Só duas cores havia
De rosas que aqui registro:
A cor dos pés de Maria
E a cor das chagas de Cristo.

                                                              (B. Braga)

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)