terça-feira, 20 de julho de 2021

DUAS IGREJAS E DUAS LÚCIAS DE FÁTIMA?

Dentre os extraordinários fatos e revelações que caracterizam as mensagens de Nossa Senhora em Fátima, um dos mais perturbadores e absurdos é a personagem da Irmã Lúcia após 1957 - 1960. São duas Lúcias tão diversas quanto a realidade e a versão divulgada do Terceiro Segredo. Na história dos primeiros 40 anos dos eventos (1917 - 1957) - um período aproximado - temos conhecimento de uma Lúcia tipificada pela introversão e penitência de claustro, sob confinamento forçado ou não, mas fazendo, com as profundas limitações de suas próprias forças e condições, o que Nossa Senhora lhe dera por missão, na sua Segunda Aparição - a difusão no mundo da devoção ao Imaculado Coração de Maria:

– Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu.
– Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração.
– Fico cá sozinha? – perguntei, com pena.
– Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.

Essa Lúcia - a Lúcia das aparições - tinha antecipado o seu 'sim' aos desígnios da graça já na Primeira Aparição:

- Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores?
Sim, queremos.
Ide, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.

Assim, a missão de Lúcia foi estabelecida pela via do ostracismo e do sofrimento, longe da realidade do mundo: – 'Ide, pois, ter muito que sofrer'. Lúcia não ganharia o Céu de imediato e nem teria mais o mundo. Neste escondimento e anonimato, entretanto, nunca esteve realmente sozinha, pois Nossa Senhora sempre a amparou – O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus. Com uma vida inteiramente dedicada à oração, penitências e sacrifícios, Lúcia cumpriu a sua missão, não como fonte irradiadora da luz divina, mas como espelho débil e generoso de que se valeu Nossa Senhora para nele refletir os portentosos desígnios da Providência divina.

A Irmã Lúcia revelou expressamente que o Terceiro Segredo de Fátima deveria ser revelado em 1960 ou até um pouco antes, em caso da sua morte. E por que 1960? Porque este ano representa uma data referencial para o cerne da revelação mariana: uma crise de fé universal, tão crítica e tão tremenda que seria capaz de abalar os fundamentos da Igreja - uma aurora de uma apostasia universal e a destruição quase completa dos fundamentos da Santa Igreja Católica. Assim, o ano de 1960 era de especial e fundamental relevância para o bem da Igreja e do mundo no sentido de uma plena compreensão (e consequente tomada de posição) contra fatos, circunstâncias ou eventos que tenderiam a ser particularmente graves e deletérios para a Santa Igreja e para toda a humanidade nas décadas seguintes. 

Esta revelação, entretanto, poderia também ocorrer um pouco antes de 1960, em caso da morte da vidente, como ela própria havia assinalado. A Irmã Lúcia, amparada por Nossa Senhora durante toda a sua missão na terra, teria ciência clara de que cumprira a missão a ela destinada e esta, uma vez concluída (Fátima já seria uma realidade para o mundo inteiro nesta época), 'o algum tempo' que lhe restava nesta vida estaria prestes a se concluir também. Neste sentido, 1960 era o tempo do Terceiro Segredo e um limite de tempo prescrito pelos Céus para a missão da Irmã Lúcia e, por essa razão, é bastante razoável admitir que a verdadeira Irmã Lúcia tenha falecido alguns meses ou anos um pouco antes de 1960. 

Desta forma, o domínio do tempo das revelações de Nossa Senhora em Fátima estaria circunscrito aproximadamente ao ano de 1960, com duas determinações precisas e enfáticas de Nossa Senhora: a primeira - dirigida e cumprida por Lúcia - consistia na sua missão de divulgar ao mundo a devoção ao seu Imaculado Coração e a segunda - dirigida e não cumprida pelos papas da Igreja - consistia na devoção explícita da Rússia ao Imaculado Coração de Maria e o anúncio do Terceiro Segredo ao mundo católico e à toda a humanidade. De alguma forma, naquele período singular da história da humanidade e por razões diversas, Lúcia e o papado - na concepção plena dos papas como sucessores de Pedro e irmanados na observância rigorosa da doutrina católica fundamentada pelos Evangelhos e pela tradição bimilenar da Igreja, morreram juntos.  

E, ressurgiram também juntos, com uma nova Lúcia e um novo papado - e, consequentemente, uma nova Igreja - pelo Concílio Vaticano II, concílio ecumênico convocado pelo Papa João XXIII em 25 de dezembro de 1961, inaugurado em 11 de outubro de 1962 e concluído pelo seu sucessor, o Papa Paulo VI, em 8 de dezembro de 1965. Um concílio que não teve como objeto estabelecer nenhum dogma, denunciar quaisquer erros doutrinários ou condenar quaisquer heresias, mas que simplesmente formalizou um novo rito litúrgico da chamada Missa Nova e promoveu uma verdadeira revolução nos pilares da fé autêntica da Igreja de Cristo. 

A distinção é óbvia nos tempos da Igreja pré e pós-conciliar. Os maus frutos desta árvore má são abundantes e estão espalhados por todos os lados nestes tristes tempos de apostasia universal. Mas muitos - uma maioria moldada pela tibieza, pelo indiferentismo e pelo ecumenismo mais diabólico - simplesmente não vê o que não quer ver. Mas o que o espírito humano se apraz em legitimar como unidade das duas Igrejas, a tecnologia avançada não deixa dúvidas entre uma Lúcia verdadeira e uma Lúcia falsa, utilizando simplesmente a técnica do envelhecimento (ou rejuvenescimento) de rostos ou das suas mudanças físicas em termos da adição, remoção ou alteração de formatos ou de elementos fisionômicos (comumente na forma de mudanças em termos de cortes de cabelo ou inclusão/exclusão de barba, óculos, próteses dentárias, etc). 

A sequência de fotografias abaixo apresenta comparações entre a Lúcia Jovem (pré-1960), a Lúcia Jovem artificialmente envelhecida e a Lúcia Idosa (pós-1960), utilizando as técnicas citadas. A sequência seguinte apresenta os rostos das duas Lúcias num sorriso mais aberto. Mas a distinção maior entre essas duas personagens está no 'état d'esprit' (sequência inferior das fotos): a Lúcia mais jovem é contida, recatada, quase solene; enquanto a Lúcia mais idosa é afável, cordial, quase relaxada. Surpreendentemente duas Lúcias, que se assemelham talvez pelos hábitos religiosos que vestem.




Duas Lúcias é uma teoria da conspiração? Ou o resultado de uma conspiração monstruosa e de consequências avassaladoras para a Igreja? Se a primeira serviu-se do escondimento e da pequenez, a segunda serviu de suporte muito adequado para encontros e eventos públicos da Igreja pós-conciliar. A hipótese de duas Lúcias tem outros elementos de abordagem, mas nos basta aqui fazê-la por apenas mais um viés complementar.

Durante uma entrevista com a Irmã Lúcia entre 17 e 18 de outubro de 1946, o Cônego Barthas perguntou à vidente: 'Quando nos será revelada a terceira parte do segredo?' A resposta foi incisiva: 'Em 1960'. Na sequência, o cônego escreveu: 'E quando levei a minha audácia tão longe ao ponto de perguntar sobre o porquê de ser necessário esperar até lá, a única resposta que recebi foi: 'Porque a Santíssima Virgem deseja que assim o seja' (Barthas, Fátima, Merveille du XXe siecle, pág. 83, Fatima-editions, 1952). Essa acepção foi explicitamente exposta, em termos diretos pela própria caligrafia da Irmã Lúcia, na forma de um encaminhamento postado sobre um envelope pardo que conteria o texto original da revelação, como apresentado pelo Cardeal Bertone em vídeo público, quando do anúncio do terceiro segredo de Fátima pelo Vaticano, no ano de 2000: 'Por ordem expressa de Nossa Senhora, este envelope só pode ser aberto em 1960...'

Nos termos mais completos do Segredo revelado publicamente ('A Mensagem de Fátima', texto disponível no site do Vaticano), consta um interrogatório realizado com a vidente pelo próprio Cardeal Bertone, que incluiu a sequinte questão: 'Por que o limite de 1960? Foi Nossa Senhora que indicou aquela data?', cuja resposta da vidente de Fátima foi perturbadoramente estranha: 'Não foi Nossa Senhora; fui eu mesma que meti essa data porque, segundo intuição minha, antes de 1960 não se perceberia, compreender-se-ia somente depois. Agora pode-se compreender melhor. Eu escrevi o que vi, não compete a mim a interpretação, mas ao papa'.

A resposta dessa 'Lúcia' contradiz frontalmente a afirmação de Lúcia. Além de confrontar o que se afirmara antes, a resposta dada é totalmente estranha e descabida. A data de 1960 - um elemento de singularidade histórica para a vida da Igreja e para a civilização cristã - teria sido fruto da intuição da vidente e não de uma mensagem profética de Nossa Senhora? Baseado em quais fatos e evidências? A vidente tornava-se então, mais que meramente intuitiva, uma profetisa dos Céus? Não tem sentido algum. Para, logo em seguida, afirmar que não competia a ela, mas ao papa, a interpretação dos fatos! Como se intuir não fosse uma interpretação além dos fatos... Definitivamente, há algo errado com essa Lúcia de Fátima! Definitivamente, estamos diante de Lúcias que são diferentes, que agem de maneiras diferentes, que falam coisas diferentes...