terça-feira, 6 de julho de 2021

A COMUNHÃO NA MÃO É TRÊS VEZES INDEVIDA, MAS...


Aos católicos que 'acham' e aos católicos que 'não acham': não existe nenhum texto da Tradição da Igreja que sustente a comunhão na mão. Nenhum. Mas, você vai ler por aí fantasias como estas dos que se extrapolam na arte de mentir, distorcer ou compartilhar sofregamente inverdades e heresias, no afã de defender como elemento da tradição litúrgica da Igreja o que nunca foi dela:

(i) a comunhão na mão era uma prática comum nos primórdios da Igreja e assim foi distribuída, seja no Oriente como no Ocidente, por mais de dez séculos [o que era praticado, como um procedimento corrente e generalizado, era o acesso à sagrada comunhão pós-confissão e consubstanciado por um jejum eucarístico de algumas horas, o que, evidentemente, não é objeto de referência alguma a ser explicitada do tesouro da tradição litúrgica da Igreja]; trata-se, portanto, de uma alegação completamente falsa, mas...

(ii) compartilham, como tocadores de tuba inflamados de ociosidade febril, as 'palavras' de São Cirilo de Jerusalém:

'Dirigindo-se, pois [à Comunhão], aproximai-vos com as palmas da mão abertas, nem com os dedos disjuntos, mas tendo a esquerda em forma de um trono sob aquela mão que está por acolher o Rei e com a direita côncava, recebei o corpo de Cristo, respondendo amém' [normalmente somente este trecho], desconectado do texto maior, que se segue nos seguintes termos:  

'Depois que tu, com cautela tiver santificado os teus olhos pondo-te em contato com o corpo de Cristo, aproximai também do cálice do sangue: não tendo as mãos estendidas, mas genuflexo de modo a expressar senso de adoração e veneração. Dizendo Amém te santificarás, tomando também o sangue de Cristo. E tendo ainda os lábios úmidos, tocai-o com as mãos e depois com esse santificarás os teus olhos, a fronte e os outros sentidos. Da Comunhão jamais vos afastai, nem vos privai destes sagrados e espirituais mistérios, ainda que estejais manchados pelo pecado'.

A simples consideração do trecho final - de que não se deve privar jamais da sagrada eucaristia, 'ainda que estejais manchados pelo pecado' - já seria razão suficiente para caracterizar esse texto como blasfemo e herético. Mas, ao contrário, esse pseudo-ritual é entranhadamente citado como um subsídio formal à comunhão eucarística na mão, por supostamente ter sido exposto por São Cirilo de Jerusalém, sem sequer considerar alguma objeção ou contestação à prática assumida como 'corrente por séculos pela Igreja' da comunhão eucarística sob as duas espécies. A incorporação deste texto herético na Catequese Mistagógica foi obra de um bispo pelagiano e, evidentemente, essa digressão absurda e ritualística não tem nada a ver com a densidade teológica dos escritos de São Cirilo de Jerusalém. Mas...

(iii) a comunhão na mão é equivalente à comunhão na boca (e, nestes tempos de pandemia, muito mais higiênica e racional), desde que feita com a devida devoção e percepção dos sagrados mistérios.

O terreno é fértil quando se abre mão (desculpem-me o trocadilho) do que é 'mais sagrado' pelo 'racional'. A tibieza do sacerdote, a complacência do bispo, a indolência do fiel ou a pandemia podem ter e ser a razão de tudo. Mas um perfeito e completo entendimento dos sagrados mistérios do banquete eucarístico não admitiria concessão alguma. Por que essa - a comunhão nos lábios distribuída por um sacerdote ou um diácono - é a única verdade proposta e imposta pelo catecismo e pela tradição litúrgica da Santa Igreja de Cristo. Baseado nesta tradição litúrgica, São Tomás de Aquino (Summa Theologica, III, q. 82, a 3) consubstanciou de forma explícita os motivos pelos quais é vetado aos fiéis leigos tocar as Sagradas Espécies. Bastaria ler na fonte os Doutores da Igreja. Mas...