quarta-feira, 31 de agosto de 2022

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Percebemos que a morte é lucro, e a vida, castigo. Por isso Paulo diz: 'Para mim, viver é Cristo, e morrer é lucro' (Fl 1,21). Como unir-se a Cristo, espírito da vida, senão pela morte do corpo? Morramos então com ele, para com ele vivermos. Morramos diariamente no desejo e em ato, para que, por este sacrifício, nossa alma aprenda a se subtrair das concupiscências corporais. Que ela, como se já estivesse nas alturas, onde não a alcançam os desejos terrenos, aceite a imagem da morte para não incorrer no castigo da morte. Pois a lei da carne luta contra a lei do espírito e apoia-se na lei do erro. Mas qual o remédio? Quem me libertará deste corpo de morte? (Rm 7,24) A graça de Deus, por Jesus Cristo, nosso Senhor (cf. Rm 7,25s). Temos o médico, usemos o remédio. Nosso remédio é a graça de Cristo, e corpo de morte é o nosso corpo. Portanto afastemo-nos do corpo e não se afaste de nós o Cristo!... Na verdade, a morte não era da natureza, mas converteu-se em natureza. No princípio, Deus não fez a morte, mas deu-a como remédio. Pelo pecado, condenado ao trabalho de cada dia e ao gemido intolerável, a vida dos homens começou a ser miserável. Era preciso dar fim aos males, para que a morte restituísse o que a vida perdera. Pois a imortalidade seria mais penosa que benéfica, se não fosse promovida pela graça... Era isto que o santo Davi desejava, acima de tudo, contemplar e admirar, quando dizia: 'Uma só coisa pedi ao Senhor, e a busco: habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida e ver as delícias do Senhor' (Sl 26,4).

(Santo Ambrósio de Milão)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XLIII)

 

REFÚGIO DOS PECADORES, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

terça-feira, 30 de agosto de 2022

VERSUS: OS SETE GRAUS DA HUMILDADE (III)

  III. O exercício corporal, como Paulo (São Bernardo*)

* (Obras Completas de San Bernardo, BAC Editorial, 1993)


'Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, frequentes jejuns, frio e nudez! ... Se for preciso que a gente se glorie, eu me gloriarei na minha fraqueza' (II Cor 11, 27.30)


Esta pessoa doente é uma imagem viva da minha alma, ó meu Jesus. Quer recuperar a saúde, mas sem trabalho, sem sofrimento e sem remédios desagradáveis. Tal é a disposição precisa da minha alma: quer humildade, mas sem desprezo; uma obediência perfeita, mas sem ordenamentos impostos; caridade e mansidão perfeitas, mas sem padecer castigos; enfim, gostaria de buscar a santidade, mas sem sofrimento... E não é isso opor-se diretamente à vontade do Pai celestial, à doutrina e exemplo de Jesus Cristo, às disposições e inspirações interiores do Espírito Santo? Ó quão tolo sou! Antes de mim não houve, nem haverá depois, quem tornou-se santo sem sofrimento e sem refazer o caminho de Nosso Senhor Jesus Cristo'.

(Santo Antônio Maria Claret)

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (167/169)

  

167. BEIJOU A MÃO DE SÃO DOMINGOS

Um homem entregue a todos os vícios e atormentado pelo demônio, ouvindo dizer que São Domingos estava em Bolonha, foi vê-lo, assistiu à missa que o santo celebrou e depois correu a beijar-lhe a mão. Apenas deu o respeitoso ósculo, experimentou um tal perfume, que lhe pareceu ter vindo do Céu e como jamais experimentara em toda a sua vida.

O mais maravilhoso é que, imediatamente, se lhe apagou o fogo da luxúria e ele se converteu a uma vida sinceramente cristã. Era o efeito da palavra de Cristo: 'lde e mostrai-vos aos sacerdotes!' (Lc 17, 11). Cristãos! quando as tentações vos assaltarem; quando o demônio conseguir escravizar a vossa alma, apresentai-vos ao sacerdote para ouvir a santa missa ou, melhor, para vos confessardes. Também vós, como o pecador de Bolonha, experimentareis um perfume celestial, que é o odor da graça divina.

168. AQUELE FUSO FLORESCEU

Conta-se que uma santa, a virgem Libéria, fiava todos os dias por amor de Deus e dos pobres, e eis que, de repente, em seu fuso floresceram perfumadas flores como nunca se viram em parte alguma do mundo.

Ó se, como nos aconselha São Paulo, fizéssemos tudo por amor de Deus; os anjos veriam florescer os instrumentos de nosso trabalho: a enxada do lavrador, o malho do ferreiro, a tesoura da costureira, a vassoura da criada, a panela da cozinheira, a pena do escritor!

169. SÓFOCLES E OS SEUS FILHOS

Um dos grandes poetas da Grécia e do mundo, Sófocles, foi denunciado como louco por seus próprios filhos que, antes do tempo devido, pretendiam a herança paterna. O processo foi interessantíssimo e muita gente acudiu ao tribunal. Por um lado o velho poeta estava tranquilo e, por outro, os seus desnaturados e rebeldes filhos se esforçavam por demonstrar a demência do pai.

Quando se calaram, reinou um profundo silêncio e todos ficaram em expectativa. Então Sófocles puxou, por sob a toga, a sua última peça de tragédia e declamou-a diante dos acusadores, juízes e povo. Quando terminou, todos o aplaudiram freneticamente e pediram que o glorioso ancião fosse coroado com coroa de louro, enquanto seus indignos filhos, humilhados, correram a esconder-se.

Para defender-se das acusações e calúnias dos seus filhos rebeldes, não tem a Igreja necessidade senão de apresentar o seu Evangelho e as suas obras.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XLII)

SAÚDE DOS ENFERMOS, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

domingo, 28 de agosto de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Com carinho preparastes uma mesa para o pobre' (Sl 67)
 
 28/08/2022 - Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum 

40. 'QUEM SE HUMILHA SERÁ ELEVADO'


Humildade e mansidão são os frutos da fé para deleite de abundantes graças de Deus para aquele que vive a generosidade despojada dos que seguem a Jesus: 'Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração' (Mt 11, 29). Na parábola do Evangelho deste domingo, estas virtudes essenciais da graça são manifestas na transposição dos primeiros e dos últimos lugares de um grande banquete.

Diante do Filho de Deus vivo, os escribas e fariseus se preocuparam primeiro em ocupar lugares de honra à mesa. Eles observavam Jesus, eles tinham curiosidade, interesse e empenho em questionar Jesus por qualquer uma de suas palavras ou ações, mas não percebiam a própria insensatez e vaidade de suas ações primeiras: a busca desenfreada por ocupar os primeiros lugares, a vanglória de usufruir com pompas uma posição destacada na mesa de jantar, a jactância de se apropriar sem rodeios das melhores posições para exercerem, com maior júbilo e sem reservas, o desmedido orgulho de suas escolhas humanas.

Eis que Jesus os conclama a viver a humildade da vida em Deus, sem buscar os privilégios e os prestígios efêmeros do mundo: 'Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar... Mas, quando tu fores convidado, vai sentar-te no último lugar' (Lc 14, 8, 10). Como convivas do banquete, seremos provedores de honra ou da vergonha, dependendo da medida de nossa humildade ou da desdita de nosso orgulho: 'Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado' (Lc 14, 11).

E a humildade não pode prescindir do despojamento, da generosidade desinteressada, da mansidão. A mão que estende a dádiva não se curva à retribuição; a ação de oferta não se compraz da gratidão; a semente que gerou fruto não impõe recompensa alguma. Oferece o 'banquete' de seus dons e talentos aos pobres, e aleijados, e coxos, e cegos...'porque eles não te podem retribuir' (Lc 14, 14). Assim, sem a gratidão e os louvores humanos, o homem sábio ajunta tesouros e a recompensa eterna na ressurreição dos justos.

sábado, 27 de agosto de 2022

ÁGUAS DE DOWN

Quando um pequeno riacho nasce no alto da montanha, as suas águas são tranquilas e cristalinas e, ao longo dos declives e das  depressões dos terrenos a jusante, tomam vulto, assumem a dimensão dos redemoinhos, acolhem águas já não muito tranquilas e se arrebentam contra outras nem de longe cristalinas. E vira um rio. Um rio de muitas águas, um rio de incertas e tormentosas correntezas e quedas memoráveis.

A vida humana comumente é assim. Somos rios, ou melhor, ficamos rios, de tormentosas e desvairadas correntezas e abismos. Somos águas barrentas e tumultuadas, os vórtices e redemoinhos nos cumulam de realidades cotidianas, nos precipitamos em corredeiras ou cascatas com o subterfúgio ou a salvaguarda de fazer, por nós mesmos, o trajeto, o ritmo e a rebentação do rio que somos. Chamamos isso de vida e vivemos assim.

Mas nem todos somos rios, nem todos ficamos rios de correntezas descuidosas. Porque nem todos os pequenos riachos acumulam vertigens terreno abaixo; porque nem todos os riachos meandram para acolher além as suas águas mais remotas. Há riachos que permanecem riachos no alto da montanha. São e serão os riachos das grandes alturas, as surgências que se moldam pela pequenez, pela simplicidade, pela serenidade do curso, pelas águas cristalinas.

Estes pequenos riachos são as portentosas obras de Deus na vida dos homens comuns, que vivem os rios da incerteza. São aquelas crianças nascidas como especiais, são as crianças autistas, com problemas neurológicos, com síndrome de Down. Que, à nossa volta, encontram-se tão distantes de nós porque vivem no cimo das nascentes, nas fontes das águas puras das grandes montanhas. Que não falam a nossa linguagem pois se camuflaram contra os tormentos e os abismos da alma humana; que não compartilham nossas ideias e nossas crenças porque não se alimentam do desvario dos vórtices e dos redemoinhos das águas em desatino; que não vivem a nossa vida costumeira porque não são feitos de barro, cascalho e detritos.

São crianças especiais, porque são criaturas especiais de Deus, são os dons especiais de Deus. O amor humano manifestado a cada uma delas - desmedido, completo e absolutamente sem amarras ou inquietudes humanas - é um amor tão particularmente humano, que tem o sopro divino. Um amor que faz retornar rios tempestuosos à origem, que transporta mentes em redemoinho à calmaria das montanhas mais elevadas da alma. Para mergulhar as mãos em águas serenas, para beber de águas cristalinas, para ver e estar com Deus pairando sobre as águas.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

'EU SOU O SENHOR TEU DEUS'


'Eu sou o Senhor, sem rival, não existe outro Deus além de mim. Eu te cingi, quando ainda não me conhecias, 

a fim de que se saiba, do levante ao poente, que nada há fora de mim. Eu sou o Senhor, sem rival; 

formei a luz e criei as trevas, busco a felicidade e suscito a infelicidade. Sou eu o Senhor, que faço todas essas coisas. 

que os céus, das alturas, derramem o seu orvalho, que as nuvens façam chover a vitória; abra-se a terra e brote a felicidade e, ao mesmo tempo, faça germinar a justiça! Sou eu, o Senhor, a causa de tudo isso

ai daquele que discute com quem o formou, vaso entre os vasilhames de terra! Acaso diz a argila ao oleiro: 'Que fazes?'. Acaso diz a obra ao operário: 'És incompetente?'

ai daquele que ousa dizer a seu pai: 'Por que me geraste?' E à sua mãe: 'Por que me concebeste?'

eis o que diz o Senhor, o Santo de Israel e seu criador: 'Pretendeis pedir-me conta do futuro, ditar-me um modo de agir?'

fui eu quem fez a terra, e a povoou de homens; foram minhas mãos que estenderam os céus, e eu comando todo o seu exército'.

(Isaías 45, 5 - 12)

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

AS FLORES E O GATO GIGANTE

'Sonhei que estava no pátio cercado por meus alunos e que cada um deles tinha uma flor na mão. Alguns tinham uma rosa, outros um lírio; alguns tinham uma violeta e muitos, uma rosa e um lírio juntos. De repente, apareceu um enorme gato com chifres, do tamanho de um cachorro, com os olhos acesos como uma chama, com unhas grandes e grossas, e sua barriga era anormalmente deformada.

O gato gigante aproximou-se traiçoeiramente dos jovens e, circulando em volta deles, foi um a um, agarrando a flor que cada um segurava e as jogava ao chão. Diante de tal aberração, senti um grande medo e me chamou muito a atenção de que os jovens, cujas flores eram roubadas, permaneciam indiferentes e sem reação.

Quando percebi que o grande felino estava vindo em minha direção, para também roubar as minhas flores, quis fugir, mas uma voz me disse: 'Não fuja. Diga aos meninos para levantarem as mãos e os braços para que o gato gigante não possa pegar as suas flores'. Parei e levantei o braço. O grande felino fez um esforço imenso para pegar as flores que eu tinha na mão, mas, como era demasiado pesado e empanturrado, caiu desajeitadamente no chão.

E me foi dito que o lírio ou a flor que carregamos nas mãos é a santa virtude da pureza ou castidade, contra a qual o diabo continuamente faz guerra. Quem levanta a mão e se defende é quem reza, confessa, assiste à missa e comunga. E quem não levanta a mão e deixa roubar as suas flores são os que comem e bebem com avidez e passam o tempo sem fazer nada, sem se dedicar seriamente ao estudo e ao trabalho que têm a fazer. São aqueles que se envolvem em conversas ruins ou leem maus livros ou revistas impuras; aqueles que não fazem mortificações ou sacrifícios, e não evitam ocasiões de pecado; estes ficam sem levantar a mão e são roubados pelo diabo.

Jesus disse: 'Certos espíritos malignos não vão embora a não ser com oração e sacrifício'. Recomendo a todos que levantem o braço em oração devotamente todas as manhãs e todas as noites; confessando-se com frequência e comungando com fervor, fazendo uma visita diária a Nosso Senhor Sacramentado no Templo, rezando o Santo Rosário e dedicando-se cuidadosamente ao estudo e a fazer o que cada um deve fazer. Isso fará com que a santa virtude da castidade e pureza seja preservada, não importa quantos ataques o diabo possa empreender contra ela.

(Dos Sonhos de Dom Bosco)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XLI)

ESTRELA DA MANHÃ, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XXXVIII)

Capítulo XXXVIII

Razões da Expiação no Purgatório - Faltas em Matéria de Justiça - Padre D'Espinoza e a Bolsa para Pagamentos - Santa Margarida de Cortona e os Dois Mercadores Assassinados

Uma multidão de revelações nos mostra que Deus castiga com rigor implacável todos os pecados contrários à Justiça e à Caridade e que, em questões de Justiça, Ele parece exigir que a reparação seja feita antes que a pena seja remitida; assim como, na Igreja Militante, os seus ministros devem exigir a restituição de modo a remir a culpa, de acordo com o axioma que 'sem restituição, não há remissão'.

Padre P. Rossignoli nos fala de um religioso de sua Ordem, chamado Augustin d'Espinoza, cuja vida santa consistia em uma ato contínuo de devoção às almas do Purgatório. Um homem rico que se confessou com ele, tendo morrido sem ter regulado suficientemente os seus negócios, apareceu-lhe de certa vez, perguntando-lhe primeiro se o conhecia. 'Certamente' - respondeu o religioso - 'Eu administrei o Sacramento da Penitência a você alguns dias antes da sua morte'. 'Pois você deve saber, então' - acrescentou a alma - 'que venho à sua presença por uma graça especial de Deus, para conjurá-lo a apaziguar a sua Justiça e fazer por mim o que não posso mais fazer por mim mesmo. Por favor, você pode me seguir?'

O sacerdote foi primeiro informar ao seu superior o que estava sendo pedido a ele e também para pedir permissão para seguir o estranho visitante. Obtida a permissão para sair do convento, saiu e seguiu a aparição, que, sem pronunciar uma única palavra, o conduziu a uma das pontes da cidade. Ali pediu ao sacerdote que o esperasse um pouco, desaparecendo por um momento e retornando depois com uma bolsa de dinheiro, entregando-a ao sacerdote para a carregasse, e voltaram ambos para o convento. Então, o falecido deu-lhe um bilhete escrito e mostrou-lhe o dinheiro. 'Tudo isso' - disse ele - 'está à sua disposição. Tenha a caridade de tomá-lo para pagar os meus credores, cujos nomes estão escritos neste papel, com o valor devido a cada um. Utilize o valor remanescente para fazer boas obras ao seu critério, para o descanso de minha alma'. E, com essas palavras, desapareceu.

Mal haviam transcorrido oito dias quando o padre d'Espinoza recebeu outra visita da mesma alma. Ele agradeceu ao sacerdote toda a sua dedicação: 'Graças à exatidão caritativa com que pagaste as dívidas que deixei na terra, graças também às santas missas que celebraste por mim, estou livre de todos os os meus sofrimentos e sou agora admitido na bem-aventurança eterna'.

Encontramos um exemplo desta mesma natureza na Vida da Beata [Santa] Margarida de Cortona. Esta ilustre penitente também se distinguiu pela caridade para com as almas que partiram. Elas apareceram para ela em grande número, para implorar a sua ajuda e sufrágios. Um dia, entre outros, viu-se diante de dois viajantes, que lhe suplicaram que os ajudasse a reparar as injustiças deixadas em sua conta. 'Somos dois mercadores' - disseram a ela - 'que foram assassinados na estrada por bandidos. Não podíamos confessar ou receber a absolvição; mas pela misericórdia de nosso Divino Salvador e de Sua Santa Mãe, tivemos tempo de fazer um ato de contrição perfeita e fomos salvos. Mas os nossos tormentos no Purgatório são terríveis porque, no exercício da nossa profissão, cometemos muitas injustiças. Até que esses atos sejam reparados, não podemos ter repouso e nem alívio. É por isso que te rogamos, serva de Deus, que possas ir ao encontro de nossos parentes e herdeiros, para adverti-los a fazer a restituição o mais rápido possível de todo o dinheiro que adquirimos injustamente'. Forneceram em seguida todas as informações necessárias sobre estes herdeiros e desapareceram. 

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

terça-feira, 23 de agosto de 2022

PARA SER UM HOMEM ETERNO... (VII/Final)

    ... SEJA UM FILHO AMOROSO DE NOSSA SENHORA

Todas as coisas que falamos anteriormente são pontes seguras e luminosas para a eternidade junto de Deus. Aquele que se nutre do recolhimento e de vida interior, que se molda pelo sofrimento sem se abater pelas provações desta vida; aquele que se faz homem de oração e coloca em obras a sua fé cristã autêntica; aquele que possui alma de apóstolo, promove a caridade e se conduz em tudo nesta vida com os olhos na eternidade é um Homem Eterno.

Mas, além de todos estes bons e santos caminhos, há um que é uma escada direta para o Céu: amar e viver na presença de Nossa Senhora. Participar e compartilhar a graça de aprender o silêncio, a humildade, a fé e a esperança da Virgem Maria. Tomá-la como guia e exemplo, clamar pelo seu amparo, invocar a sua intercessão como medianeira e advogada nossa, como nossa mãe e como Mãe de Deus.

A eternidade é o único triunfo que vale tudo, a casa de todas as moradas, a fonte de todos os tesouros, a Jerusalém Celeste dos filhos de Deus. Este é a única coisa que tem valor nesta vida: uma vez alcançada, temos tudo; uma vez perdida, não temos nada. Não há meios termos, não há padrões intermédios: Deus nos criou como criaturas destinadas à sua glória e a glória divina não tem medidas porque é infinita. Deus é tudo e nos dá tudo, sem perda alguma. Isto é a eternidade com Deus: Deus infinito conosco. Aquele que se nega a ter tudo, não pode almejar ter um pouco de nada: sem Deus, resta apenas o mergulho medonho no vazio e nas trevas eternas; e isso é o inferno.

Não há caminho mais breve e nem meio mais fácil de encontrar a eternidade de Deus do que com Nossa Senhora por guia. Quem pode interceder melhor por nós junto de Deus do que a Mãe de Deus? A mãe de Jesus Cristo, a Senhora da Misericórdia? Que glória maior pode dar uma alma na eternidade do aquela que foi resgatada por meio da misericórdia divina derramada pelas mãos da Virgem Maria? Almas de Deus em primeiro lugar; e almas prediletas de Maria.

Para ser um homem eterno... seja um filho amoroso de Nossa Senhora. Um filho que ame profundamente a Mãe do Céu. Que aprenda com o exemplo da Mãe, que reze com ela e por ela, que molde a sua vida pela vida dela. Um vida de recolhimento, de silêncio, de oração. Seja um filho amoroso. Que faça o amor a Maria ser uma espada da fé cristã: amar Nossa Senhora de todo o coração, com todas as suas forças e aspirações e a amando-a por completo, na infinitude humana do amor pelo amor infinito de Deus.

Ame, louve e se encante com a Mãe de Deus como um filho amoroso. Um amor que não precisa de exposição, de exterioridades, das palavras humanas, mas feito de silêncio, de recolhimento e de oração, porque era assim o amor de Nossa Senhora por Jesus e foi, esse amor, a obra prima da criação divina entre os homens. A essa Senhora de muitos nomes e muitas honras e louvores, seja um filho de amor sem medidas. Com tal e tanto amor que ela possa ser 'sua' ou, na verdade, 'minha'. Que ela seja 'minha'. Particularmente minha, 'Minha Nossa Senhora...' Eis aí o homem eterno dos homens eternos, aquele que será tudo em Deus como alma predileta de Maria. 

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XL)

 

PORTA DO CÉU, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

ORAÇÃO DE CONFIANÇA AO CORAÇÃO IMACULADO DE MARIA


ORAÇÃO DE CONFIANÇA AO CORAÇÃO IMACULADO DE MARIA

Ó Coração de Maria, o mais bondoso e compassivo dos corações depois do coração de Jesus, trono das misericórdias divinas em favor dos miseráveis pecadores: Eu, reconhecendo-me em grande necessidade, venho até Vós, a quem o Senhor depositou todo o tesouro da sua bondade, com a mais plena certeza de ser ajudado. Vós sois o meu refúgio, a minha proteção e a minha esperança. Por isso vos digo e vos direi em todas as minhas angústias e perigos: 'Ó doce Coração de Maria, sede a minha salvação!'

Quando a doença me afligir ou a tristeza me oprimir ou o espinho da tribulação atingir a minha alma, ó Coração de Maria, sede a minha salvação!

Quando o mundo, o demônio e minhas próprias paixões unidas pela minha perdição eterna me perseguirem com as suas tentações e me induzirem a perder o tesouro da graça divina, ó Coração de Maria, sede a minha salvação!

Na hora de minha morte, naquele momento tremendo de que depende a minha eternidade, quando a angústia da minha alma e os ataques dos meus inimigos aumentarem, ó doce Coração de Maria, sede a minha salvação!

E quando a minha alma pecadora estiver diante do tribunal de Jesus Cristo para prestar contas de toda a minha vida, vinde para defendê-la e protegê-la e, por isso, Vos conclamo, agora e sempre, ó doce Coração de Maria, sede a minha salvação!

Espero obter de Vós estas graças, ó Coração amantíssimo de Mãe, para que eu possa louvar e glorificar a Deus em Vossa companhia por toda a eternidade no Céu. Amém.

domingo, 21 de agosto de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'À vossa direita se encontra a rainha, 
com veste esplendente  de ouro de Ofir' (Sl 44)

 21/08/2022 - Solenidade da Assunção de Nossa Senhora 

39. ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA
'O Todo-Poderoso fez grandes coisas a meu favor'

As glórias de Maria podem ser resumidas na portentosa frase enunciada pelo anjo Gabriel: 'Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus' (Lc 1, 30). Ao receber a boa-nova do anjo, Maria prostrou-se como serva e disse 'sim', e por meio desse sim, como nos ensina São Luís Grignion de Montfort, 'Deus Se fez homem, uma Virgem de tornou Mãe de Deus, as almas dos justos foram livradas do limbo, as ruínas do céu foram reparadas e os tronos vazios foram preenchidos, o pecado foi perdoado, a graça nos foi dada, os doentes foram curados, os mortos ressuscitados, os exilados chamados de volta, a Santíssima Trindade foi aplacada, e os homens obtiveram a vida eterna'.

Esta efusão de graças segue Maria na Visitação, pois ela é reflexo da presença e das graças do Espírito Santo que são levadas à sua prima Isabel e à criança em seu ventre. No instante da purificação de São João Batista, o Precursor, Santa Isabel foi arrebatada por inteira pelo Espírito Santo: 'Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo' (Lc 1,41). Por meio de uma extraordinária revelação interior, Santa Isabel confirma em Maria o repositório infinito das graças de Deus: 'Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu' (Lc 1,43).

E é ainda nesta plenitude de comunhão com o Espírito Santo, que Maria vai proclamar o seu Magnificat: 'Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre' (Lc 1, 46-55).

Mãe da humildade, mãe da obediência, mãe da fé, mãe do amor. Mãe de todas as graças e de todos os privilégios, Maria foi contemplada com o dogma de fé divina e católica da assunção assunção, em corpo e alma, à Glória Celeste. Dentre as tantas glórias e honras a Maria, a Igreja celebra jubilosa neste domingo a Serva do Senhor como Nossa Senhora da Assunção.

sábado, 20 de agosto de 2022

SANTO ROSÁRIO EM LATIM


Initium (Início)

Per Signum Crucis de inimicis nostris, libera nos, Deus noster.

In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti. Amen.

Ad Crucem (No Crucifixo)

Credo in Deum Patrem omnipotentem, Creatorem cæli et terræ. Et in Iesum Christum, Filium eius unicum, Dominum nostrum, qui conceptus est de Spiritu Sancto, natus ex Maria Virgine, passus sub Pontio Pilato, crucifixus, mortuus, et sepultus, descendit ad inferos, tertia die resurrexit a mortuis, ascendit ad cælos, sedet ad dexteram Dei Patris omnipotentis, inde venturus est iudicare vivos et mortuos. Credo in Spiritum Sanctum, sanctam Ecclesiam catholicam, sanctorum communionem, remissionem peccatorum, carnis resurrectionem, vitam æternam. Amen.

Ad Grana Maiora (Nas Contas Maiores)

Pater Noster, qui es in cælis, sanctificetur nomen tuum. Adveniat regnum tuum. Fiat voluntas tua, sicut in cælo et in terra. Panem nostrum quotidianum da nobis hodie, et dimitte nobis debita nostra sicut et nos dimittimus debitoribus nostris. Et ne nos inducas in tentationem, sed libera nos a malo. Amen.

Ad Grana Minora (Nas Contas Menores)

Ave Maria, gratia plena, Dominus tecum. Benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui, Iesus. Sancta Maria, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus, nunc, et in hora mortis nostræ. Amen.

Ad Finem Decadum (Ao Final do Mistério)

Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto. Sicut erat in principio, et nunc, et semper, et in sæcula sæculorum. Amen.

O Iesu mi, ignosce nobis, libera nos ab igne inferni, ad cælum trahe omnes animas, præsertim maxime indigentes.

V. O Maria sine labe originali concepta.
R. Ora pro nobis qui confugimus ad te.

V. Iesu, mitis et humilis Corde.
R. Fac cor nostrum secundum Cor tuum.

Sancte (Sancta)..., ora pro nobis.

Meditationes Rosarii

I. Mysteria Gaudiosa (In Feria Secunda et Sabbato)

1. Quem, Virgo, concepisti. [Mt 1:18, Lc 1:26-38];
2. Quem visitando Elisabeth portasti. [Lc 1:39-45];
3. Quem, Virgo, genuisti. [Lc 2:6-12];
4. Quem in templo præsentasti. [Lc 2:25-32];
5. Quem in templo invenisti. [Lc 2:41-50].

II. Mysteria Luminosa (In Feria Quinta)

1. Qui apud Iordanem baptizatus est. [Mt 3:13, Mc 1:9, Jn 1:29];
2. Qui ipsum revelavit apud Canense matrimonium. [In 2:1-11];
3. Qui Regnum Dei annuntiavit. [Mc 1:15, Lc 10:8-11];
4. Qui transfiguratus est. [Mt 17:1-8, Mc 9:2-9];
5. Qui Eucharistiam instituit.[In 6:27-59, Mt 26:26-29, Mc 14:22-24, Lc 22:15-20].

III. Mysteria dolorosa (In Feria Tertia et Feria Sexta)

1. Qui pro nobis sanguinem sudavit. [Lc 22:39-46];
2. Qui pro nobis flagellatus est. [Mt 27:26, Mc 15:6-15, In 19:1];
3. Qui pro nobis spinis coronatus est. [In 19:1-8];
4. Qui pro nobis crucem baiulavit. [In 19:16-22];
5. Qui pro nobis crucifixus est. [In 19:25-30].

IV. Mysteria gloriosa (In Feria Quarta et Dominica)

1. Qui resurrexit a mortuis. [Mc 16:1-7];
2. Qui in cælum ascendit. [Lc 24:46-53];
3. Qui Spiritum Sanctum misit. [Acta 2:1-7];
4. Qui te assumpsit. [Ps 16:10];
5. Qui te in cælis coronavit. [Apoc 12:1].

Orationes ad Finem Rosarii Dicendæ (Orações Ditas Ao Final do Rosário)

Salve, Regina, mater misericordiæ, vita, dulcedo, et spes nostra, salve. Ad te clamamus exsules filii Hevæ. Ad te suspiramus, gementes et flentes in hac lacrimarum valle. Eia, ergo, advocata nostra, illos tuos misericordes oculos ad nos converte. Et Iesum, benedictum fructum ventris tui, nobis post hoc exsilium ostende. O clemens, O pia, O dulcis Virgo Maria.

V. Ora pro nobis, Sancta Dei Genetrix.
R. Ut digni efficiamur promissionibus Christi.

Oremus: Deus, cuius Unigenitus per vitam, mortem et resurrectionem suam nobis salutis æternæ præmia comparavit, concede, quæsumus: ut hæc mysteria sacratissimo beatæ Mariæ Virginis Rosario recolentes, et imitemur quod continent, et quod promittunt assequamur. Per eundem Christum Dominum nostrum. Amen.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

VERSUS: OS SETE GRAUS DA HUMILDADE (II)

 II. A rudeza ao vestir, como Elias (São Bernardo*)

* (Obras Completas de San Bernardo, BAC Editorial, 1993)

'Era um homem coberto de pelos que trazia um cinto de couro em volta dos rins' (II Rs 1,8)


A carne de Jesus Cristo não é pura, imaculada, santa? Perfeitamente submetida ao espírito? Pois o corpo de Jesus Cristo não é perfeito instrumento da sua alma, exatamente como Deus o imaginou? Sim; mas a nossa carne é uma carne de pecado, impura, desregrada, rebelde ao espírito, corrompida e fonte de toda a corrupção. É dessa carne que derivam todas as obras que São Paulo chama – obras carnais, e pelas quais devia o nosso corpo ser castigado, afligido, flagelado.

Que fez o nosso Redentor? Colocou-se na situação em que devíamos estar; depôs em lugar da nossa a sua carne imaculada; revestiu-se de todas as nossas sensualidades, luxúrias, impurezas, imaginações torpes, complacências, impurezas, lascivas, de todos os nossos desejos impudicos. Na Agonia do Jardim o vemos revestido de todas as iniquidades de todos os povos, em todos os gêneros de pecado. Hoje, na Flagelação, o vemos como que de um modo especial revestido dos pecados da sensualidade, vingando a honra de nosso corpo, firmando a dignidade de nossa carne.

Eis a grande significação do mistério que, pois, não é senão uma substituição. É a carne inocente de Jesus Cristo pagando os pecados da nossa carne culpada. E basta que por uma sincera penitência apliquemos a nós próprios os méritos dessa expiação, para que satisfaçamos a Justiça Divina, que em Jesus Cristo viu a responsabilidade da pena, mas não a malícia da falta; pelo que os sofrimentos de Jesus Cristo não nos eximem da penitência, mas dão aos nossos atos de mortificação valor infinito.

Eis o ensino, a lição e o exemplo que convinham a todos os tempos; mas se há um século em que o mistério de Flagelação tenha alta significação, é o nosso, em que devemos estudá-lo, meditá-lo e admirá-lo, não simplesmente de um modo estético, como fonte de ternura, compaixão e lágrimas para o nosso coração; não lamentá-lo simplesmente como um atentado inaudito da justiça romana, uma prevaricação descomunal do Direito, um excesso brutal da crueldade judaica; mas adorá-lo como um mistério de salvação.

Foi porque Ele viu, em toda a série dos séculos, as misérias da nossa concupiscência, que deixou correr para nós, como uma fonte de vida, o sangue da sua flagelação; e é para que nos aproveitemos dela que o Evangelho para todo o sempre imortalizou o mistério e a Igreja perpetuamente nos tem reproduzido.

(Excertos da obra 'A Paixão', pelo Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XXXIX)

 

ARCA DA ALIANÇA, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

'QUÃO TARDE TE CONHECI!...'

 


O Santo Cura de ArsSão João Maria Vianney, fez num dos seus mais belos e magníficos sermões, a alegoria da lenda da vida e morte de Santo Aleixo de Roma com a presença real de Jesus Cristo no Sacramento da Eucaristia:

Santo Aleixo pertencia a uma família muito rica. Abandonando voluntariamente os seus muitos bens, por amor de Deus, deixou o conforto do palácio da família para ir morar longe e viver como um mendigo pedindo esmolas. Depois de muitos anos, ele voltou para a sua cidade natal, magro e desfigurado pelas penitências que fizera. Sem se revelar, pediu e recebeu abrigo no mesmo palácio dos seus pais. Por dezessete anos morou ali, debaixo de uma das escadas da imponente construção, anônimo e em troca da prestação de alguns serviços humildes.

Quando Aleixo morreu, a sua mãe reconheceu que tratava-se do seu filho há tanto tempo fora de sua convivência quando, na hora de embalsamar o corpo daquele humilde serviçal, reconheceu nele algumas marcas de nascença. Em meio a uma dor imensa, exclamou: 'Meu filho, quão tarde te conheci...!'.

Jesus está conosco, muito próximo de nós, vivendo em algum vão de escada ou no anonimato das ruas. Nos rostos enfeados, nos trajes miseráveis, nos pedintes de má sorte e hábitos sujos, não conseguimos ver ou reconhecer o rosto do 'Filho'. E Ele está junto de nós, e ainda muitíssimo mais perto, em cada Santa Eucaristia, e no Tabernáculo Santo. E passamos por Ele e não o vemos; e passamos por Ele, e não o reconhecemos; e, passamos por Ele, e não o encontramos. Um dia, a alma, diante de Deus, vai contemplar em si mesma a cegueira de tantas graças eucarísticas desperdiçadas, e também, incensada de infinita tristeza, haverá de também exclamar: 'Ó Meu Jesus, quão tarde te conheci...!'.

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XXXVIII)

 

CASA DE OURO, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

terça-feira, 16 de agosto de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: ELOGIO À BELEZA DA ALMA


Nada é tão doce para o coração da alma interior, ó meu Deus, do que ouvir-Vos elogiar a sua própria beleza. E não é por vaidade de sua parte; não, de jeito nenhum. Ela sabe muito bem que tudo o que possui provém de Vós. O que a agrada é apenas Vos agradar. O que ela ama é Vos amar. Toda alma que compreende o que sois não possui outra ambição senão essa: atrair o Vosso olhar e o reter em si como pleito de sua beleza infinita.

Depois de tanto empenho e tanta dedicação, eia que a obra está concluída: e Vós a contemplais com agrado, como obra do Artista Divino, perfeita e bela. Este louvor, tão precioso, é dirigido a cada alma que entra no Céu. Mas tanto amor não pode, às vezes, esperar por esse momento e precisa ser manifestado à alma o quanto antes. É difícil para Deus ficar inerte e em silêncio. Ele então se expressa numa frase, mas com que palavras: 'Como és bela, minha alma amada! -  Tota pulchra es, amica mea - como a coisa mais bela do mundo. Eu preciso te dizer isso, não tenho receios de te dizer isso, porque é verdade e o teu coração está pronto para ouvir. Sim, Eu, o teu Deus, o digo e não duvides sequer disso por um instante: és tão bela como a verdadeira beleza e assim sempre serás. Alegra-te por isso'.

Além disso, há um entonação na voz divina que não pode enganar. A emoção que domina a alma até o mais íntimo de si só pode provir de Vós, ó meu Deus. Somente Vós podeis agir assim no íntimo da alma. Só Vós podeis derramar tanta paz, tanta segurança, tanto júbilo interior. Uma árvore é conhecida pelos seus frutos e o trabalhador é conhecido pelas suas obras. 

Da graça divina, pode-se dizer que a alma 'é mais bela que a beleza'. Há um encanto infinito nela. Quando perscruta e assume uma alma, Ele a comunica esse encanto delicado, penetrante, delicioso, indefinível. Essa graça é toda feita de doçura, de harmonia, de transparência e de claridade, mas também temperada e provada. Nada é imposto, nada é violento, nada é forçado. Ele exerce o seu domínio de forma suave e imperceptível, envolvendo a alma num espírito de paz, silêncio e santidade. A alma se enleva sem esforço e sem fadiga, esquecendo-se de tudo e de si mesma, para ser mais sensível à graça. Ela se sublima na sua modéstia. Sim, a graça divina é, com efeito, 'mais bela que a beleza'.

Mas a beleza e a graça de uma alma interior harmonizam-se muito bem com a força. A alma interior é um dínamo que luta e continua a lutar o bom combate. É uma alma apta a conquistas, que refreia a ação dos demônios e de todos os seus infelizes prisioneiros. Uma alma interior causa mais dano aos Vossos inimigos, ó meu Deus, do que mais de cem almas moldadas pela tibieza. Ela vale por um exército, mas que não combate sozinha. Vós a assistis sempre com bons soldados, com valorosos soldados. Ela os instrui, ela os molda, elas os impregna com a sua fortaleza. Ela comunica a sua energia a eles, os encoraja na luta e lhes assegura, finalmente, a vitória. Em todos os tempos, Deus envia à Igreja algumas dessas almas singulares, tremendas e temíveis como um exército em batalha, que salvam e salvaram tudo o que parecia já perdido. 'Dai-nos, Senhor, almas verdadeiramente interiores'!

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

BREVIÁRIO DIGITAL - LADAINHA DE NOSSA SENHORA (XXXVII)

TORRE DE MARFIM, rogai por nós.

(Ilustração da obra 'Litanies de la Très-Sainte Vierge', por M. L'Abbé Édouard Barthe, Paris, 1801)

 

GLÓRIAS DE MARIA: ASSUNÇÃO AO CÉU

   

A Assunção de Maria - Palma Vecchio (1512 - 1514)

"Pronunciamos, declaramos e de­finimos ser dogma de revelação divina que a Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, cumprido o curso de sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à Glória celeste”.

                            (Papa Pio XII, na Constituição Dogmática  Munificentissimus Deus, de 1º de novembro de 1950)


A solenidade da Assunção da Virgem Maria (celebrada pela Igreja no dia 15 de agosto) existe desde os primórdios do catolicismo e, desde então, tem sido transmitida pela tradição oral e escrita da Igreja. Trata-se de um dos grandes e dos maiores mistérios de Deus, envolto por acontecimentos tão extraordinários que desafiam toda interpretação humana: 

1. Nossa Senhora NÃO PRECISAVA morrer, uma vez que era isenta do pecado original;

2. Nossa senhora QUIS MORRER para se assemelhar em tudo ao seu Filho, pela aceitação de sua condição humana mortal e para mostrar que a morte cristã é apenas uma passagem para a Vida Eterna;  

3. Nossa Senhora NÃO PODIA passar pela podridão natural da carne tendo sido o Sacrário Vivo do próprio Deus;

4. A morte de Nossa Senhora foi breve (é chamada de 'Dormição') e ela foi assunta ao Céu em corpo e alma;

5. Aquela que gerou em si a vida terrena do Filho de Deus foi recebida por Ele na glória eterna;

6. Nossa Senhora foi assunta ao Céu pelo poder de Deus; a ASSUNÇÃO difere assim da ASCENSÃO de Jesus, uma vez que Nosso Senhor subiu ao Céu pelo seu próprio poder.


Louvor a Ti, Filha de Deus Pai,
Louvor a Ti, Mãe do Filho de Deus,
Louvor a Ti, Esposa do Espírito Santo,
Louvor a Ti, Maria, Tabernáculo da Santíssima Trindade!

domingo, 14 de agosto de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Socorrei-me, ó Senhor, vinde logo em meu auxílio! (Sl 39)

 14/08/2022 - Vigésimo Domingo do Tempo Comum 

38. FOGO SOBRE A TERRA


'Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!' (Lc 12, 49). Com palavras tão incisivas, Jesus proclama as bem aventuranças da graça. Jesus vem à Terra como um incêndio de amor e purificação, para calcinar o pecado e tornar novas todas as coisas. É um fogo não de expiação, mas de santidade, de caridade, de libertação. No mistério da Redenção de Cristo, não somos apenas mais homens, mas nos tornamos co-herdeiros da própria divindade do Pai.

Mistério dos mistérios: por meio dos méritos infinitos da Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, a natureza humana se funde à divina em uma só Pessoa numa efusão de amor absoluto que tem as dimensões de um fogo abrasador. E para que esse fogo seja aceso e possa se propagar pelo mundo inteiro, é preciso que o Senhor passe por um batismo de dor e sofrimento inimagináveis; é preciso que o sacrifício do Filho de Deus feito homem se manifeste no Calvário para que seja acesa a pira do incêndio de amor divino derramado sobre a humanidade pecadora.

Esse fogo de amor exige restauração e não cumplicidade com a tolerância ao pecado: 'Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão' (Lc 12, 51). A paz desejada e incensada pelo mundo se atém às primícias do convívio harmônico subjugado pelo respeito humano e por etiquetas sociais. A tolerância do mundo, a convivência do mundo, a paz do mundo, estão assentes em valores puramente humanos e sociais. O fogo divino calcina todos estes valores e impõe uma nova atitude e um novo dogma: a paz verdadeira nasce e se alimenta da Verdade que é Cristo!

E se esse fogo do amor divino não é aceso, o homem submerge no pecado e a graça se esvai sem produzir nenhum fruto, por maior que seja a utópica felicidade humana dos que a vivem. O mal toma posse de tudo e a partilha da graça é então substituída pela miséria dos instintos: 'daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; ficarão divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra' (Lc 12, 52 - 53). Que os cristãos não se escondam sob estes escombros, mas que estejam sempre de pé e confiantes diante da Luz que emana de Cristo. E que os nossos corações sejam fornalhas ardentes para acolher e propagar o fogo purificador de Cristo sobre a face da Terra.

sábado, 13 de agosto de 2022

ORAÇÃO DE REPARAÇÃO CONTRA AS BLASFÊMIAS (PIO XII)


Ó Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo que, mesmo sendo infinitamente feliz em Vós e por Vós por toda a eternidade, vos dignais acolher com benevolência o louvor que se eleva de toda a Criação até o Vosso trono!

Fechai, pois, os Vossos olhos, vos rogamos; e fechai, pois, Vossos ouvidos divinos àqueles infelizes que, cegos de paixão ou movidos por um impulso diabólico, blasfemam perversamente contra o o Vosso santo nome e os da Puríssima Virgem Maria e dos Santos.

Obstai, ó Senhor, o braço da Vossa justiça, que poderia reduzir a nada aqueles que ousam ser culpados de tal impiedade. Acolhei o hino de glória que incessantemente se eleva de toda a natureza: da água da fonte que corre limpa e silenciosa às estrelas que brilham e percorrem órbitas imensas no mais alto dos céus, movidas pelo Vosso Amor.

Aceitai em reparação o coro de louvores que, como incenso diante do altar, brota de tantas almas santas que andam, sem nunca se desviarem, pelos caminhos da Vossa Lei e que, com assíduas obras de caridade e penitência, procuram aplacar a Vossa justiça ofendida. Ouvi o canto de tantos espíritos escolhidos que consagram a vida para celebrar a Vossa glória, e o louvor perene que a Igreja Vos oferece em todos os tempos e em todos os lugares.

E tornai a Vós, convertidos um dia, aqueles corações blasfemos, para que todas as línguas e todos os lábios possam cantar em harmonia nesta terra aquele canto que ressoa sem cessar nos coros dos anjos: Santo, Santo, Santo é o Senhor, Deus dos Exércitos. Céu e terra estão cheios da Vossa glória. Amém.

(dada, de viva voz, pelo papa Pio XII pela Rádio Vaticano, em 11 de setembro de 1954 e contemplada com 1000 dias de indulgência)