quinta-feira, 31 de outubro de 2024

'ESTOU A CAMINHO, SENHOR!'

O santo de hoje - Santo Afonso Rodriguez (1532 - 1617) - é o modelo de santificação de uma vida escondida e totalmente voltada ao cumprimento da Santa Vontade de Deus. Viveu 46 anos como porteiro de um colégio dos jesuítas em Palma, na ilha de Maiorca/Espanha. Como simples porteiro, e como instrumento de Deus, abriu as portas do Céu para muita gente. Sua vida de vocação ao próximo pode ser resumida na frase que rezava a cada vez que atendia a um chamado à porta do colégio: 'Estou a caminho, Senhor!' Canonizado em 1888 pelo Papa Leão XIII, ele é o santo padroeiro dos irmãos leigos da Companhia de Jesus. Os irmãos leigos jesuítas são homens que são chamados à vida religiosa como jesuítas, embora não exerçam efetivamente o ministério sacerdotal.


ORAÇÃO A SANTO AFONSO RODRIGUEZ

Humilde servo de Deus e fiel porteiro, tu que viveste uma vida de simplicidade e profunda devoção, viemos até a tua presença em oração, buscando a tua intercessão.

Em tuas tarefas diárias, encontraste a santidade no cotidiano e, em seu sofrimento, descobristes a força da fé.

Ensina-nos, pois, a abraçar nossas próprias responsabilidades com amor e a encontrar Deus nas tarefas e desafios simples da vida.

Ajuda-nos a aceitar nossas provações com paciência e confiança, sabendo que por meio delas podemos nos aproximar de Cristo.

Na vida escondida de tantas pequenas coisas, possamos também dizer todas as vezes e sempre, para todos todo o tempo e em tudo: 'Estou a caminho, Senhor!'

Isto te pedimos por Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo, Deus, para todo o sempre.

Santo Afonso Rodriguez, rogai por nós. Amém.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

POEMAS PARA REZAR (LVII)


TU ESTARÁS COMIGO

Quando lá fora o redemoinho dos ventos
assustar a miséria dos meus instintos,
tu estarás comigo, 
como guardião da minha paz.

Quando o peso dos meus pecados,
vergarem a minha consciência até o chão,
tu estarás comigo,
para me levantar a um novo recomeço.

Quando a doença consumir meu corpo exausto
e eu for fonte de todos os desvarios,
tu estarás comigo,
como um milagre de cura.

Quando a solidão bater nas portas e janelas
da minha alma perdida em devaneios,
tu estarás comigo,
luz brilhante para me guiar na escuridão.

Quando eu for refém de minhas culpas,
assolado por tristeza e desolação,
tu estarás comigo,
como doce fruto de plena sublimação.

Quando eu estiver diante da morte sorrateira,
no limiar do meu último suspiro,
tu estarás comigo,
diante a porta estreita chamada eternidade.  

Bendito Rosário, meu diário e fiel amigo,
a mais bela devoção a Maria,
nas contas singelas que eu rezo a cada dia,
estarás sempre comigo.

(Arcos de Pilares)

terça-feira, 29 de outubro de 2024

PROFECIAS CATÓLICAS (V)

👉 Elizabeth Canori-Mora (século XIX): 'Incontáveis legiões de demônios invadirão a terra como instrumento da justiça divina, causando terríveis calamidades e desastres. Nada na terra será poupado. Depois do terrível castigo, vi aparecer sobre a terra uma grande luz que era o sinal da reconciliação de Deus com os homens. Todos os homens tornar-se-ão católicos e reconhecerão o Papa como Vigário de Jesus Cristo'.

Comentários: Existem algumas outras profecias que anunciam a libertação dos demônios na segunda parte do século XX. Elizabeth Canori-Mora não indicou o período, mas Ana Catarina Emmerich sim. Os demônios andam agora à solta na terra e isso explica as aberrações que se encontram mesmo no seio da Igreja. O mundo moderno está completamente corrompido - intelectualmente, filosoficamente e moralmente. A tecnologia e a democracia deveriam trazer felicidade à Terra, mas trouxeram tanta miséria que as pessoas, em todo o mundo, estão a consumir álcool e drogas. A corrupção moral é tal que a sua presença é agora visível e tolerada mesmo dentro das paredes de uma igreja: os padres dão agora a comunhão a raparigas semi-nuas, como se fosse natural. O castigo é inevitável. 

A este respeito, leia-se o seguinte. Foi dito pelo bispo Fulton Sheen muito antes de assumir a Sé de Rochester, o que parece ter provocado nele uma mudança completa de pensamento: 'Tempos selvagens e sombrios? Não admira que as pessoas estejam abaladas e confusas! Os sinais estão por todo o lado. Os sinais do nosso tempo apontam para uma luta entre absolutos. Podemos prever que o futuro será um tempo de provações e de catástrofes por duas razões: em primeiro lugar, para deter a desintegração. A revolução, a desintegração, o caos devem lembrar-nos que o nosso pensamento está errado, que os nossos sonhos são profanos. A segunda razão pela qual as crises devem surgir é para evitar uma falsa identificação entre a Igreja e o mundo. Nosso Senhor queria que os seus seguidores fossem diferentes em espírito daqueles que não eram os seus seguidores mas, embora esta seja a intenção divina, infelizmente é verdade que a linha de demarcação é frequentemente apagada. A mediocridade e o descompromisso caracterizam a vida de muitos cristãos. Não existe mais o conflito que deveria ser nossa característica. Estamos a influenciar o mundo menos do que o mundo nos está a influenciar. Uma vez que a amálgama do espírito cristão e pagão se instalou, uma vez que o ouro se associou a uma liga ruim, o todo deve ser lançado na fornalha para que a escória [parte ruim da liga] seja queimada'. 

👉 Santo Antônio do Deserto (século IV):  Os homens render-se-ão ao espírito da época. Dirão que, se tivessem vivido nos nossos dias, a Fé seria simples e fácil. Mas no seu tempo, dirão eles, as coisas são complexas; a Igreja deve ser atualizada e sintonizada com os problemas de hoje. Quando a Igreja e o mundo forem um só, então esses dias estão próximos, porque o nosso Mestre colocou uma barreira entre as suas coisas e as coisas do mundo' (Citado na Voz de Fátima, 23 de janeiro de 1968). 

Comentários: A maior parte das profecias citadas neste livro são traduções de outras línguas, nomeadamente latim, francês, alemão, italiano e outras línguas, conforme o caso. As profecias antigas, como a citada acima, são traduzidas do latim. Obviamente, a escolha das palavras adequadas para traduzir o original é uma questão que cabe ao tradutor decidir. No entanto, neste caso, as palavras 'atualizada' e 'sintonizada' são um pouco surpreendentes, porque são precisamente as palavras usadas pelos progressistas de hoje para justificar as suas inovações imprudentes. Se a tradução está absolutamente correta, então Santo Antônio foi extraordinariamente perspicaz.

👉 São Francisco de Paula (século XV): 'Pela graça do Todo-Poderoso, o Grande Monarca aniquilará os hereges e os incrédulos. Terá um grande exército e os anjos combaterão ao seu lado. Ele será como o sol entre as estrelas. A sua influência espalhar-se-á por toda a Terra. No total, haverá na terra doze reis, um imperador, um papa e alguns príncipes. Todos eles levarão uma vida santa'.

👉 Venerável Bartolomeu Holzhauser (século XVII, na Alemanha):  'O quinto período da Igreja, que começou por volta de 1520, terminará com a chegada do Santo Papa e do poderoso Monarca que é chamado 'Socorro de Deus', porque ele restaurará tudo [em Cristo]. O quinto período é um período de aflição, desolação, humilhação e pobreza para a Igreja. Jesus Cristo purificará o seu povo por meio de guerras cruéis, fomes, epidemias de peste e outras calamidades horríveis. Ele também afligirá e enfraquecerá a Igreja Latina com muitas heresias. É um período de defecções, calamidades e extermínio. Os cristãos que sobreviverem à espada, à peste e à fome, serão poucos na terra; as nações lutarão contra as nações e serão desoladas por dissensões internas. Durante este período, a Sabedoria de Deus guiará a Igreja de várias maneiras: (i) castigando a Igreja para que as riquezas não a corrompam completamente; (ii) interpondo o Concílio de Trento como uma luz nas trevas, para que os cristãos que vêem a luz possam saber em que acreditar; (ii) colocando Santo Inácio e a sua Sociedade em oposição a Lutero e outros hereges; (iv) levando a terras remotas a Fé que foi proibida na maior parte da Europa. 

Durante este período, muitos homens abusarão da liberdade de consciência que lhes é concedida. É de tais homens que o apóstolo Judas falava quando disse: 'Estes homens blasfemam de tudo o que não entendem, e corrompem o que sabem naturalmente, como fazem os animais irracionais... Dão banquetes sem restrições, alimentando-se a si mesmos, murmuram, andam segundo as suas concupiscências; a sua boca fala coisas orgulhosas, admiram as pessoas por causa do lucro; provocam divisões, são homens sensuais que não têm o espírito'. 

Durante esse período infeliz, haverá frouxidão nos preceitos divinos e humanos. A disciplina sofrerá. Os Cânones Sagrados serão completamente desrespeitados e o Clero não respeitará as leis da Igreja. Cada um será levado a acreditar e a fazer o que lhe apetece, de acordo com a vontade da carne. Ridicularizarão a simplicidade cristã: chamar-lhe-ão loucura e disparate, mas terão a mais alta consideração pelo conhecimento avançado, e pela habilidade com que os axiomas da lei, os preceitos da moral, os Cânones Sagrados e os dogmas religiosos são obscurecidos por questões sem sentido e argumentos elaborados. Como resultado, nenhum princípio, por mais santo, autêntico, antigo e certo que seja, permanecerá livre de censura, crítica, falsas interpretações, modificação e delimitação pelo homem. 

Estes são tempos maus, um século cheio de perigos e calamidades. A heresia está em todo o lado e os seguidores da heresia estão no poder em quase todo o mundo. Bispos, prelados e padres dizem que estão a cumprir o seu dever, que estão vigilantes e que vivem como convém ao seu estado de vida. Assim, todos procuram desculpas. Mas Deus permitirá um grande mal contra a sua Igreja: os hereges e os tiranos virão de repente e inesperadamente; eles invadirão a Igreja enquanto os bispos, prelados e padres estiverem a dormir. Entrarão em Itália e devastarão Roma; incendiarão as igrejas e destruirão tudo. 

'O sexto período da Igreja começará com o poderoso Monarca e o Santo Pontífice, como mencionado anteriormente, e durará até a revelação do Anticristo. Neste período, Deus consolará a sua Santa Igreja pela aflição e grande tribulação que ela suportou durante o quinto período. Todas as nações tornar-se-ão católicas. As vocações serão abundantes como nunca antes, e todos os homens procurarão apenas o Reino de Deus e a sua justiça. Os homens viverão em paz, e isso será concedido porque as pessoas farão as pazes com Deus. Eles viverão sob a proteção do Grande Monarca e dos seus sucessores. Durante o quinto período, vimos apenas calamidades e devastação, opressão dos católicos por tiranos e hereges; execuções de reis e conspirações para estabelecer repúblicas. Mas, pela mão de Deus Todo-Poderoso, ocorre uma mudança tão maravilhosa durante o sexto período que ninguém pode humanamente visualizá-la. 

O poderoso monarca, que será enviado por Deus, irá transformar todas as repúblicas. Submeterá tudo à sua autoridade e mostrará grande zelo pela verdadeira Igreja de Cristo. O império dos muçulmanos será destruído, e este monarca reinará tanto no Oriente como no Ocidente. Todas as nações virão adorar a Deus na verdadeira fé católica e romana. Haverá muitos santos e doutores (da Igreja) na terra. A paz reinará em toda a terra, porque Deus prenderá Satanás durante alguns anos, até aos dias do Filho da Perdição. Ninguém poderá perverter a palavra de Deus porque, durante o sexto período, haverá um concílio ecumênico que será o maior de todos os concílios. Pela graça de Deus, pelo poder do Grande Monarca, pela autoridade do Santo Pontífice e pela união de todos os príncipes mais devotos, o ateísmo e todas as heresias serão banidos da terra. O Concílio definirá o verdadeiro sentido da Sagrada Escritura, e este será acreditado e aceito por todos'.

Comentários: O Ven. Holzhauser divide a história da Igreja em sete períodos. O quinto período terminará com a chegada do Grande Monarca e do Santo Pontífice, ambos mencionados em muitas profecias. A era da permissividade terá chegado ao fim. Perceber-se-á que as regras e os regulamentos têm de ser aplicados e não apenas deixados ao critério da 'livre consciência' de uma noção pervertida do homem. É por isso que o Grande Rei usará a força sempre que necessário para restaurar a ordem e a disciplina. 

Algumas observações são necessárias aqui. É verdade que um sistema baseado apenas na força não tem valor intrínseco. A medida do seu valor não é a força, mas os princípios que inspiram o sistema. Quando os princípios são sólidos, a força justifica-se. Mas também é verdade que o uso da força nunca consegue impor bons princípios a pessoas endurecidas nos seus erros. Mas consegue alguma coisa: impede enormemente os esforços destrutivos de tais pessoas, protege o povo em geral da sua influência nefasta. Se o Ocidente atingiu agora o ponto de desintegração interna, não é porque as pessoas em geral sejam, em essência, piores do que em tempos passados (a natureza humana não muda): é porque foram levadas a acreditar em erros (como a crença de que se tem o direito de fazer o que se quer) por uma minoria de 'intelectuais' que foram autorizados a disseminar livremente suas idéias perniciosas. E pior, ocupam posições de poder e influência, de modo que mesmo os nossos bispos, os defensores da fé, não se atrevem a repreender demasiado abertamente estes homens quando fazem uma declaração pública para se antepor aos seus erros mortais. 

(Excertos da obra 'Catholic Prophecy: The Coming Chastisement', de Yves Durant)

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

A MAIS SUBLIME DAS LUTAS...

 

(O Desbravador, julho/agosto de 2002)

CARTA DE SÃO JUDAS TADEU

Caríssimos, estando eu muito preocupado em vos escrever a res­peito da nossa comum salvação, senti a necessidade de dirigir-vos esta carta para exortar-vos a pelejar pela fé, confiada de uma vez para sempre aos santos.

.... Mas vós, caríssimos, lembrai-vos das palavras que vos foram preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam: 'No fim dos tempos virão impostores, que viverão segundo as suas ímpias paixões; homens que semeiam a discórdia, homens sensuais que não têm o Espírito'.

Mas vós, caríssimos, edificai-vos mutua­mente sobre o fundamento da vossa santíssima fé. Orai no Espírito Santo. Conservai-vos no amor de Deus, aguardando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna.

Para com uns exercei a vossa misericórdia, repreendendo-os, e salvai-os, arrebatando-os do fogo. Dos demais tende compaixão, repassada de temor, detestando até a túnica manchada pela carne.

Àquele, que é poderoso para nos preservar de toda queda e nos apresentar diante de sua glória, imaculados e cheios de alegria, ao Deus único, Salvador nosso, por Jesus Cristo, Senhor nosso, sejam dadas glória, magni­ficência, império e poder desde antes de todos os tempos, agora e para sempre. Amém.

(Jd 1,3.17-25)

domingo, 27 de outubro de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

'Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!' (Sl 125)

Primeira Leitura (Jr 31,7-9) - Segunda Leitura (Hb 5,1-6) -  Evangelho (Mc 10,46-52)

  27/10/2024 - TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM

48. 'SENHOR, QUE EU VEJA!'


São Marcos descreve, no Evangelho deste domingo, uma certa caminhada de Jesus pelas terras da Galileia, rumo a Jerusalém. Junto com Ele, além dos seus discípulos, ia uma grande multidão, ansiosa por ver, ouvir e compartilhar as santas alegrias do convívio com Aquele por quem já estavam plenamente convencidos de ser realmente o Messias esperado pelos séculos, ainda que com uma visão algo distorcida da verdadeira natureza divina do seu reino de glória.

O burburinho da multidão em marcha coloca em alerta um mendigo cego sentado à beira do caminho. Um homem cego, muito conhecido naquela região, tão conhecido que o seu nome ficou transcrito para sempre nas páginas das Sagradas Escrituras, Bartimeu, filho de Timeu. No meio do vozerio de tantos, grita mais alto do que todos: 'Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!' (Mc 10, 47). E, diante da reprimenda para se calar e não abafar os ensinamentos de Jesus, insiste ainda mais alto: 'Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!' (Mc 10, 48).

A fé vibrava firme na sua alma sem precisar dos acordes dos olhares e visões do mundo. Jesus percebeu de imediato a grandeza daquele sentimento, daquele gesto, daquela súplica, e o atendeu com deferência, fazendo calar o vozerio em volta: 'Chamai-o' (Mc 10, 49). De pronto e de súbito, diante do chamado de Jesus, Bartimeu se apura em pé num salto, desfaz-se do manto de uma vez e se coloca diante do Senhor, em muda expectativa. 'O que queres que eu te faça?' (Mc 10, 51) pergunta Jesus. E Bartimeu responde, cheio de fé e confiança no Senhor: 'Mestre, que eu veja!' (Mc 10, 51). E a luz da sua fé é então contemplada com os acordes da visão do Senhor: 'Vai, a tua fé te curou' (Mc 10, 52).

Bartimeu, privilegiado na graça, pediu a visão e recebeu a luz, a luz de Cristo, que rompe as trevas do pecado e eleva a alma às glórias eternas. Como cegos, muitas vezes tateando nas penumbras de uma fé claudicante, temos uma imensa dificuldade de vida espiritual e de aceitar e acolher Jesus em plenitude. Como Bartimeu, sejamos capazes de saltar além das quietudes e sonolências terrenas e nos livrarmos do manto das inquietações e vozerios do mundo, para irmos ao encontro do Senhor que passa e, como homens eivados de graça, 'seguir Jesus pelo caminho' (Mc 10, 52).

sábado, 26 de outubro de 2024

A BÍBLIA EXPLICADA (XXIX) - AS PRAGAS DO EGITO


A Escritura, sem dúvida, apresenta repetidamente as 'Pragas do Egito' como fenômenos milagrosos*. O autor inspirado julga-as como tal e esse deve ser o juízo do exegeta. Por outro lado, quase todos os fatos descritos têm clara analogia com fenômenos naturais que de vez em quando ocorriam no Egito (rās, mosquitos, pústulas, granizos, gafanhotos). Pode deduzir-se daí que o caráter milagroso das 'pragas' algumas vezes não reside na substância, porém no modo. As 'pragas', com efeito, ocorrem como consequência da ordem de Moisés, de maneira mais trágica que o usual, não muito tempo após a outra, poupando de seus efeitos mortíferos os israelitas. 

* Milagre é um fato experimental, que não decorre do jogo usual das forças da natureza, porém, de uma intervenção direta do poder de Deus. Esta intervenção direta de Deus pode manifestar-se de três modos: ou o efeito é totalmente estranho às forças naturais e às leis da natureza e, neste caso, os teólogos falam de milagre quoad substantiam, a saber naquilo que se refere à substância, à própria natureza íntima do fato (p. ex: a glorificação dos corpos ressuscitados); ou o efeito é movido por forças naturais, porém não se aplica a todos os seres (milagres quoad subiectum: p. ex.: a natureza é capaz de fornecer a capacidade visual, porém não a um cego que tenha o órgão da vista irreparàvelmente comprometido, bem como a vida, mas não para um morto); ou trata-se de um efeito possível para a natureza, porém não de um modo corrente ou usual (um tempo prolongado de carência, uma tempestade ou um terremoto ou outro fenômeno natural que ocorra exatamente quando intimado por um profeta); trata-se então de um milagre quoad modum.

O gênero literário desta narrativa apresenta a particularidade estilística das fórmulas fixas, como no primeiro capítulo do Gênesis e a de partes simétricas bipartidas entre comando e execução como na narrativa do Dilúvio. Um exemplo foi citado quando se tratava dos cânones artísticos. Aqui também se trata então de uma narrativa artisticamente esquematizada. Isto não invalida a historicidade dos acontecimentos e da própria narrativa, mas sugere a hipótese de que se possam encontrar disseminados aí modos de dizer 'hiperbólicos' ou 'correlatos', tais como encontramos nas descrições das mesmas 'pragas', no capítulo 17 do Livro da Sabedoria, que se apresentam claramente como ampliações poéticas com finalidade didática; didático e poético realmente é o gênero literário do livro em que se encontram.

Tem-se, ao contrário, uma narrativa esquemática dos mesmos fatos nos Salmos 77 [78] e 104 [105]. Muitos intérpretes colocam entre os milagres quoad substantiam, ou seja quoad subiectum, a água transformada em sangue (ou melhor em aparência de sangue, não sendo necessário incorporar nela glóbulos vermelhos e os outros elementos do sangue vivo), as trevas e a morte dos primogênitos. Pode-se, entretanto, considerar provável a identificação parcial das duas primeiras calamidades com dois fenômenos bem conhecidos no Egito; a saber: a cor vermelho-escura que o Nilo adquire pela presença de inúmeros infusórios no início de julho e a obscuridade que frequentemente ocorre no Egito, nos fins de março, causada pela areia levantada pelo vento do deserto.

Notemos, além disso, como a ordem em que as pragas se sucedem exibe uma coincidência notável com a ordem e a época de aparições de fenômenos naturais correspondentes: primeira: o avermelhamento do Nilo (em julho, a época da inundação); segunda, terceira e quarta: rās e mosquitos, cuja multiplicação coincide com a cheia do Nilo (no verão e outono); quinta e sexta: peste e pústulas, enfermidades do período invernal; sétima: granizos: fenômeno bastante raro, que se verifica quase que exclusivaente em janeiro e fevereiro; oitava: os gafanhotos, bastante raros também (início da primavera); nona: as nuvens de areia (final de março, exatamente à época da Páscoa, em que se dá a partida dos hebreus do Egito); décima: as trevas e a morte dos primogênitos (sem correlação com eventos naturais).

Porém, não obstante estas analogias, fica sempre claro que todas as dez 'pragas' outra coisa não são que milagres, como já dissemos, porque têm início e término por ordem de Moisés com proporções e efeitos preternaturais. As citadas coincidências com os flagelos tipicamente maturais destinam-se apenas para eliminar no leitor a impressão eventual de extravagância dos prodígios e a tornar ainda mais plausível o caráter histórico dos mesmos. 

Quanto aos mágicos egípcios, que no primeiro milagre (Ex 7,9-12) e nas duas primeiras pragas parecem imitar os prodígios de Moisés, tem-se o direito de supor que se trate de alguma ilusão ou de algum hábil artifício, à maneira das técnicas ilusionistas dos atuais faquires. Sua intervenção é assinalada para por em evidência a origem divina dos prodígios de Moisés. Há realmente um clímax e uma sequência crescente: a princípio os mágicos se dão bem, depois não mais são bem sucedidos, depois são obrigados a confessar a presença do 'dedo de Deus' (Ex 8, 15) e, por fim, eles próprios tornam-se vítimas do flagelo das pústulas (Ex 9, 11).

(Excertos adaptados da obra 'Páginas Difíceis da Bíblia - Antigo Testamento', de E. Galbiati e A. Piazza)

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

BÊNÇÃOS DO ROSÁRIO (III)


Quando São Domingos estava a pregar o Rosário perto de Carcassone, foi-lhe trazido um albigense que estava possuído pelo demônio. O santo exorcizou-o na presença de uma grande multidão de pessoas; cerca de doze mil pessoas que tinham vindo ouvi-lo falar. Os demônios que estavam na posse deste infeliz homem, foram obrigados a responder às perguntas de São Domingos. Disseram então que havia quinze mil deles no corpo daquele pobre homem, porque porque ele tinha atacado os quinze mistérios do Rosário e que a pregação do santo sobre o Rosário impunha medo e horror nas profundezas do inferno e que, por isso, ele era o homem que mais odiavam em todo o mundo por causa das almas que por causa das almas que lhes eram arrebatadas pela devoção ao Rosário.

São Domingos colocou o seu terço ao pescoço do endemoninhado e perguntou-lhe quem era, de todos os santos do Céu, aquele que, dos santos do Céu, aquele que  mais temiam e que, por isso, devia ser o mais amado e venerado pelos homens. Diante disso, começaram a gritar enlouquecidos, a tal ponto que a maior parte das pessoas presentes caiu por terra, tomada de medo.

Então, usando de toda a astúcia para não responderem diretamente a pergunta, os demônios choravam e lamentavam-se de uma forma tão deprimente que muitos choraram também, por pura piedade natural. Os demônios, falando pela boca do albigense, suplicavam com uma voz de dor: 'Domingos, Domingos, tem piedade de nós, prometemos-te que nunca te faremos mal. Sempre tiveste compaixão dos pecadores e dos aflitos; tem piedade de nós, porque estamos em graves sofrimentos. Se já estamos sofrendo tanto, por que te comprazes em aumentar as nossas dores? Não podeis contentar-vos com as dores que já temos? Tende piedade de nós, tende piedade de nós!' São Domingos não se comoveu nem um pouco com as palavras patéticas daqueles espíritos miseráveis e disse-lhes que não os deixaria em paz, até que respondessem à sua pergunta. 

... ''Escutai então, cristãos. Esta Mãe de Jesus é poderosíssima para salvar os seus servos de caírem no inferno. Ela é como o sol que destrói as trevas das nossas artimanhas e tentações. É Ela que desvenda as nossas tramas ocultas, quebra as nossas armadilhas e torna inúteis e ineficazes as nossas tentações. Devemos dizer, no entanto, com relutância, que nenhuma alma que tenha realmente perseverado no seu serviço se perdeu conosco. Um só suspiro que ela oferece à Santíssima Trindade vale muito mais do que todas as orações, desejos e aspirações de todos os santos. Tememo-la mais do que todos os outros santos do Céu juntos, e não temos sucesso algum com os seus fiéis servidores'.

(Excertos da obra 'O Segredo do Rosário', de São Luís Maria Grignion de Montfort)

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

TRATADO SOBRE A HUMILDADE (XII)

58. Não devemos ser demasiado afoitos em nos lisonjear por possuir alguma virtude especial. A nossa castidade pode ser o resultado da falta de oportunidades ou de tentações; do mesmo modo, a nossa paciência pode proceder de um temperamento tranquilo ou mesmo ser ditada pela sabedoria mundana e não pela virtude cristã. Devemos estudar bem esta doutrina, de que as verdadeiras virtudes cristãs 'não nascem do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus' [Jo 1,13], isto é, que elas não são obra nem dos desejos, nem das paixões, nem da razão do homem, mas procedem de Deus como seu primeiro princípio, e retornam a Deus como seu último fim. 

Este conhecimento é necessário para nós, para que não nos imaginemos virtuosos quando não o somos, nem nos julguemos melhores do que os outros quando os vemos cair em algum pecado. Devemos sempre aprender lições de humildade com as faltas dos outros, e dizer: 'se eu me encontrasse nas mesmas circunstâncias e tivesse tido a mesma tentação, talvez me tivesse saído pior'. Se Deus não permite que grandes tentações me assaltem, é porque conhece a minha fraqueza e que eu sucumbiria a elas; com olhos de compaixão, Ele vê o que eu sou, 'um homem fraco' [Sb 9,5]. E se não caio em pecado, não é por minha própria virtude, mas pela graça de Deus. Permaneço, pois, na humildade, e isso é vantajoso para mim porque, se na minha soberba me considero maior do que os outros, Deus me abandona e me deixa cair, e me humilha naquilo que eu desejaria me exaltar. Escutai o conselho de Santo Agostinho: 'Atrevo-me a dizer que é proveitoso que os soberbos caiam, para que sejam humilhados por aquilo pelo que se exaltaram' [Serm. liii, de Verb. Dom.].

('A Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

BÊNÇÃOS DO ROSÁRIO (II)

 

Branca de Castela, rainha da França, encontrava-se em profunda tristeza porque, doze anos após o seu casamento, ela ainda não tinha filhos. Quando São Domingos foi vê-la, ele a aconselhou a rezar o Rosário todos os dias para pedir a Deus a graça da maternidade, e ela fielmente seguiu seu conselho. Em 1213, ela deu à luz seu filho mais velho, Filipe, mas a criança morreu na infância. 

O fervor da rainha não foi de forma alguma entorpecido por essa grande decepção; pelo contrário, ela buscou a ajuda de Nossa Senhora mais do que nunca. Ela fez com que um grande número de Rosários fossem distribuídos a todos os membros da corte e também a pessoas em várias cidades do reino, pedindo que se juntassem a ela para implorar a Deus por uma bênção dos Céus. Assim, em 1214, nasceu São Luís — o príncipe que se tornaria a glória da França e o modelo de todos os reis cristãos.

(Excertos da obra 'O Segredo do Rosário', de São Luís Maria Grignion de Montfort)

terça-feira, 22 de outubro de 2024

AS ESTRANHAS LADAINHAS DA IRMÃ MARIE DES VALLÉES

Jesus Cristo ordenou que a Irmã Marie des Vallées [leiga mística (1590 - 1656) e não uma religiosa propriamente dita, como se poderia depreender do temo 'Irmã'] fizesse uma estranha procissão simbólica em Coutances [Normandia, França]. Ela deveria primeiro recitar as ladainhas do Pai no centro da praça central da cidade, depois as ladainhas do Filho na fossa mais imunda que ela pudesse encontrar e, finalmente, as ladainhas do Espírito Santo, diante de um crucifixo na igreja.

Ela cumpriu conscienciosamente todas essas prescrições, ainda que com grande perplexidade e não sem causar a surpresa dos transeuntes e a zombaria dos presentes, ao vê-la ajoelhada a rezar diante de um das fossas mais fedorentas da cidade.

Na verdade, a procissão de Marie contemplava a conversão geral de todos os homens. As primeiras ladainhas na praça eram para conclamar os infiéis à conversão. As segundas, diante de uma fossa, eram apelos pela conversão dos maus cristãos, particularmente pelos maus sacerdotes*, porque, Cristo disse: 'Estou na Minha Igreja numa fossa infame, como um homem obrigado a ficar ali pelas cordas que o prendem, porque assim me obriga a minha Caridade Divina' As terceiras ladainhas, por sua vez, destinavam-se a trazer um dilúvio de efusão de graças no tempo da grande conversão'.

*paralelo direto com a crise atual do clero e com as profecias de La Salette

(Excertos da obra 'La Vie Admirable et les Revélations de Marie des Vallées', de Emile Dermenghem)

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

BÊNÇÃOS DO ROSÁRIO (I)


Gluck, o célebre compositor, era filho de pais muito pobres em Viena. Tinha uma bela voz, mas, quando cantava no coro da catedral, tinha o cuidado de fazê-lo como uma oração, de modo a não chamar a atenção do público sobre si.

Um dia, depois de ter cantado um hino a Maria, em melhor estilo do que o habitual, um monge aproximou-se dele e disse-lhe com emoção: 'Meu filho, fizeste-me derramar hoje as lágrimas mais prazeirosas da minha vida. Não tenho nada para te dar em sinal da minha admiração, a não ser este rosário. Guarda-o em minha memória. Reza pelo menos uma parte dele todos os dias; e se fores fiel a esta prática, serás tão querido por Deus como serás um dia grande entre os homens'.

Gluck permaneceu fiel ao seu Rosário. A sua família era demasiado pobre para lhe permitir prosseguir os estudos. Uma noite, recebeu a visita de um célebre mestre estrangeiro de coro que, percebendo o seu talento, encarregou-se de levar o rapaz consigo, prometendo-lhe completar a sua instrução. A partir daí, Gluck percorreu com passos de gigante o caminho da fama, mas sempre fiel às suas práticas de piedade.

Na Corte de Viena, palco de grandes festas noturnas, o ilustre maestro desaparecia e, como um padre cumprindo o seu ofício estrito, procurava a solidão para rezar o terço. Quando a morte, depois de uma vida gloriosa, veio abatê-lo, encontrou-o preparado. Tinha na mão as contas que o piedoso monge lhe tinha oferecido nos seus dias de juventude.

domingo, 20 de outubro de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, pois, em vós, 
nós esperamos!' (Sl 32)

Primeira Leitura (Is 53,10-11) - Segunda Leitura (Hb 4,14-16) -  Evangelho (Mc 10,35-45)

  20/10/2024 - VIGÉSIMO NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM

47. QUEM ESTARÁ À DIREITA OU À ESQUERDA DO SENHOR?


A glória humana alimentava o pedido despropositado de Tiago e João, filhos de Zebedeu, feito a Jesus quando da sua derradeira subida a Jerusalém: 'Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!' (Mc 10, 37). Aqueles dois homens (que representam o conjunto de todos os demais apóstolos, que se 'indignaram' depois pela audácia deles), mais do que moldados pela graça, ainda estavam envoltos pela penumbra das glórias terrenas e, na dimensão dos poderes de um reino fictício no mundo dos homens, pleiteavam os postos mais elevados 'à direita e à esquerda' do Senhor.

Jesus vai prometer a ambos uma glória muito maior que qualquer poder concedido na escala dos homens. Os poderes e as glórias do mundo, por maiores que sejam, são instáveis e passageiros; Jesus tem a oferecer a eles heranças eternas. Na busca dos valores humanos, imperam a cobiça, a ambição, a disputa desenfreada por aplausos e pompas; a eternidade é moldada pelo recolhimento interior, pela oração e despojamento do ser, pela via do sofrimento e da dor: 'Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber?' (Mc 10, 38).

Quando ambos afirmam que 'sim', estão sendo apenas suscetíveis à crença de superação de dificuldades passageiras. Não conseguem vislumbrar os eventos tão próximos da Paixão e Morte do Senhor, o drama do Calvário, tantas vezes mencionado e reafirmado por Jesus em outras ocasiões. Jesus vai, num primeiro momento, confirmar este 'sim': 'Vós bebereis o cálice que eu devo beber, e sereis batizados com o batismo com que eu devo ser batizado' (Mc 10, 39). Com efeito, São João, o discípulo amado, acompanhou Jesus até o instante derradeiro da Paixão e Morte na Cruz; São Tiago foi o primeiro apóstolo a colher as palmas do martírio.

Mas, em seguida, Jesus os alerta que as moradas eternas estão destinadas àqueles forjados pela Santa Vontade do Pai: 'não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. É para aqueles a quem foi reservado' (Mc 10, 40). Na escala dos valores eternos, o maior é o que serve a todos, o posto mais alto será destinado ao que, por amor a Deus, tornar-se o menor entre os seus irmãos. A verdadeira glória passa pelo Calvário, por uma senda de dor e de sofrimento, e quem estará 'à direita ou à esquerda' de Jesus será aquele que viver e morrer, com maior semelhança, a própria vida e morte do Senhor: 'Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos' (Mc 10, 45).

sábado, 19 de outubro de 2024

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XC)

 

Capítulo XC

Vantagens e Recompensas pela Devoção às Santas Almas - O Caso do Arcebispo Sandoval em Louvain - O Advogado que Renunciou ao Mundo - A Aparição do Irmão Latti ao Dr. Verdiano

Citemos aqui outro exemplo, tanto mais digno de menção quanto um grande papa, Clemente VIII, viu nele o próprio dedo de Deus e recomendou sua publicação para a edificação da Igreja. 'Vários autores' - diz o Padre Rossignoli - 'relataram a maravilhosa assistência que Cristóvão Sandoval, Arcebispo de Sevilha, recebeu das almas do Purgatório'. Ainda criança, ele tinha o costume de distribuir parte do seu dinheiro de bolso em esmolas para o benefício das santas almas. A sua piedade aumentava com a idade; por amor das pobres almas sofredoras, dava tudo o que podia dispor, chegando mesmo a privar-se de várias pequenas coisas úteis ou necessárias. Quando prosseguia os seus estudos na Universidade de Louvain, aconteceu que algumas cartas que esperava de Espanha se atrasaram, pelo que se viu reduzido a tais dificuldades pecuniárias que mal tinha dinheiro para comprar comida. Nesse momento, um pobre pediu-lhe uma esmola por amor das almas do Purgatório e, o que nunca lhe tinha acontecido, viu-se obrigado a recusar.

Afligido por esta circunstância, entrou em uma igreja. 'Se' - disse ele - 'não posso dar uma esmola pelas minhas pobres almas, posso pelo menos dar-lhes a ajuda pelas minhas orações'. Mal tinha acabado a sua oração quando, ao sair da igreja, foi abordado por um belo jovem, vestido como um viajante, que o saudou com respeitosa afabilidade. Cristóvão experimentou um sentimento de temor religioso, como se estivesse na presença de um espírito em forma humana. Mas foi logo tranquilizado pelo seu amável interlocutor, que lhe falou com a maior convicção do Marquês de Denia, seu pai, dos seus parentes e amigos, tal como o faria um espanhol recém-chegado da Península. Terminou pedindo-lhe que o acompanhasse a um hotel, onde poderiam jantar juntos e estar mais à vontade. Sandoval, que não comia nada desde o dia anterior, aceitou de bom grado a oferta. Sentaram-se então à mesa e continuaram a conversar agradavelmente. Depois da refeição, o forasteiro deu a Sandoval uma quantia em dinheiro, pedindo-lhe que a aceitasse e que a utilizasse para o fim que quisesse, acrescentando que o Marquês, seu pai, o indenizaria assim que regressasse à Espanha. Depois, com o pretexto de tratar de algum negócio, retirou-se e Cristóvão nunca mais o viu. Apesar de todas as suas indagações sobre o estrangeiro, nunca conseguiu obter qualquer informação a seu respeito. Ninguém, nem em Louvain nem na Espanha, tinha visto ou conhecido um jovem que correspondesse à sua descrição. Quanto à soma de dinheiro, era exatamente a quantia de que o piedoso Cristóvão necessitava para fazer face às despesas até à chegada das suas cartas, e esse dinheiro nunca mais foi reclamado à sua família.

Estava, por isso, convencido de que o Céu tinha feito um milagre em seu favor e tinha enviado em seu auxílio uma daquelas almas que ele próprio tinha aliviado com as suas orações e esmolas. Esta opinião foi confirmada pelo Papa Clemente VIII, a quem contou o fato quando foi a Roma receber as Bulas de elevação ao Episcopado. Este Pontífice, impressionado com as circunstâncias extraordinárias do caso, aconselhou-o a dar a conhecer o fato a todos para a edificação dos fiéis; considerou-o como um favor do Céu, que provava quão preciosa é, aos olhos de Deus, a caridade para com os defuntos.

Tal é a gratidão das almas santas que deixaram este mundo, que elas a testemunham até mesmo pelos favores que lhes foram concedidos enquanto ainda estavam nesta vida. Conta-se nos Anais dos Frades Pregadores que, entre os que foram receber o hábito das mãos de São Domingos em 1221, havia um advogado que abandonara a sua profissão em circunstâncias extraordinárias. Estava unido por laços de amizade a um jovem de grande piedade, a quem assistiu caridosamente durante a doença de que morreu. Isto foi suficiente para levar o falecido a obter para ele o maior de todos os benefícios, o da conversão e vocação à vida religiosa. Cerca de trinta dias depois da sua morte, apareceu ao advogado e implorou a sua ajuda, porque estava no Purgatório. 'Os teus sofrimentos são muitos?' - perguntou ao seu amigo. 'Ai de mim!' - respondeu este último - 'se toda a terra, com suas florestas e montanhas, estivesse em chamas, não formaria uma fornalha como aquela em que estou mergulhado'. Tomado de medo, a sua fé reanimou-se e, pensando apenas na sua própria alma, perguntou: 'Em que estado me encontro aos olhos de Deus?' 'Num mau estado' - respondeu a alma - 'e numa profissão perigosa'. 'Então, o que é que eu devo fazer? Que conselho me dás?' 'Abandona o mundo perverso em que estás envolvido e ocupa-te apenas com os assuntos da tua alma'. O advogado, seguindo este conselho, deu todos os seus bens aos pobres e tomou o hábito de São Domingos.

Vejamos como um santo religioso da Companhia de Jesus manifestou a sua gratidão, mesmo depois da morte, ao médico que o assistiu na sua última doença. Francisco Lacci, Irmão Coadjutor, morreu no Colégio de Nápoles em 1598. Era um homem de Deus, cheio de caridade, paciência e terna devoção para com a Santíssima Virgem. Algum tempo depois de sua morte, o Dr. Verdiano entrou na igreja do Colégio para assistir à missa, antes de iniciar as suas visitas. Era o dia em que se celebravam as exéquias do rei Filipe II, falecido quatro meses antes. Quando, ao sair da igreja, se preparava para levar a água benta, aproximou-se um religioso e perguntou-lhe por que razão estava preparado o catafalco e em intenção de quem era a missa a ser celebrada. 'É a missa para o rei Filipe II' - respondeu ele.

Mas, ao mesmo tempo, Verdiano ficou espantado com o fato de um religioso fazer tal pergunta a um desconhecido, e não distinguindo as feições do seu interlocutor na obscuridade do lugar onde se encontrava, perguntou-lhe quem era. 'Sou' - respondeu ele - 'o Irmão Lacci, a quem o senhor assistiu na minha última doença'. O médico olhou-o atentamente, reconhecendo então as feições do religioso. Tomado de espanto, disse: 'Mas tu morreste dessa doença! Então estás a sofrer no Purgatório e vens pedir os nossos sufrágios?' 'Bendito seja Deus, já não tenho dores nem sofrimentos. Não preciso dos vossos sufrágios. Estou nas alegrias do Paraíso'. 'E o rei Filipe, também já está no Paraíso?' 'Sim, ele está lá, mas colocado tão abaixo de mim quanto foi elevado acima de mim na Terra. Quanto ao senhor, Dr. Verdiano, onde pensa fazer a sua primeira visita médica hoje?' Tendo Verdiano respondido que ia atender uma certa pessoa, que estava perigosamente doente, Lacci avisou-o para se precaver de um grande perigo que o ameaçava à porta da casa que ele ia visitar. De fato, o médico encontrou ali uma grande pedra disposta em posição tão perigosa, que tendia a se deslocar a qualquer momento, de modo a feri-lo mortalmente. Esta circunstância material parece ter sido concebida pela Providência para provar a Verdiano que ele não tinha sido vítima de uma ilusão.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

O ROSÁRIO NOSSO DE CADA DIA (XV)

  

QUINTO MISTÉRIO GLORIOSO: A COROAÇÃO DE NOSSA SENHORA

'Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas (Ap 12,1) ... Em mim se acha toda a graça do caminho e da verdade, em mim toda a esperança da vida e da virtude. Aquele que me ouve não será humilhado, e os que agem por mim não pecarão. Aqueles que me tornam conhecida terão a vida eterna' (Eclo 24, 25.30-31).

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, este mistério em honra da gloriosa Coroação de Nossa Senhora como rainha do Céu e da Terra e vos pedimos, pela intercessão da vossa Mãe Santíssima, a graça da perseverança na virtude e a coroa da vitória, para nós, para nossos benfeitores e para todos os justos de Deus.

Pai Nosso, 10 Ave Marias, Glória ao Pai, Ó meu Jesus...

ORAÇÃO A SÃO JOSÉ PELA PUREZA DE CORAÇÃO

 

Ó glorioso São José, pai e protetor das virgens, guarda fiel a quem Deus confiou Jesus, a própria inocência, e Maria, a Virgem das virgens; sob o vosso eficaz auxílio, em nome de Jesus e de Maria, ajudai-me a ser puro em pensamento, palavras e ações, imitando a vossa própria santa pureza. Que o vosso profundo senso de modéstia esteja refletido na minha conduta externa. Protegei os meus olhos, janelas da minha alma, de qualquer coisa que possa ofuscar o brilho de um coração puro e casto. Conservai o meu coração isento de toda impureza para que eu possa, agora e sempre, servir  fielmente a Jesus e a Maria. Amém.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

O ROSÁRIO NOSSO DE CADA DIA (XIV)

 

QUARTO MISTÉRIO GLORIOSO: A ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

'Desde o início, antes de todos os séculos, ele me criou, e não deixarei de existir até o fim dos séculos; e exerci as minhas funções diante dele na casa santa... Lancei raízes no meio de um povo glorioso, cuja herança está na partilha de meu Deus; e fixei minha morada na assembleia dos santos... Sou a mãe do puro amor, do temor (a Deus), da ciência e da santa esperança...' (Eclo 24,14.16.24).

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, este mistério em honra da gloriosa Assunção de Nossa Senhora e vos pedimos, pela intercessão da vossa Mãe Santíssima, a graça de uma verdadeira devoção à Virgem Maria, para que possamos viver e morrer sob a sua santa proteção.

Pai Nosso, 10 Ave Marias, Glória ao Pai, Ó meu Jesus...

SOFRER E PERDOAR

Como é doce a paciência dos santos! Sabem sofrer e sabem perdoar! Um homem perverso e cruel atirou com violência uma pedra que foi ferir gravemente o santo e pobrezinho São Bento Labre. Inclinou-se humildemente o santo, tomou a pedra, beijou-a e colocou-a respeitosamente num muro do caminho.

Prosseguiu a viagem, a rezar todo o tempo pelo seu agressor. Que doçura e paciência! Isto é ser cristão, é ser verdadeiro discípulo de Jesus Cristo! Quando muitas pedras de contradições, palavras duras e injúrias nos forem atiradas, fiquemos tranquilos. Oremos pelos que nos perseguirem. É um meio excelente para recuperar a calma e dominar esses instintos de cólera e orgulho que não nos deixam em paz.

Um dia Santa Isabel recebeu uma afronta. A injúria a feriu no âmago do coração. Sentiu-se perturbada e correu aos pés de Nosso Senhor. Fez violência ao coração e começou penosamente a rezar pelos que a insultaram, dizendo:
- 'Meu Jesus, dai aos que me insultaram um benefício, uma graça que corresponda a cada injúria'.

Quando assim rezava, Nosso Senhor lhe disse:
- 'Nunca me fizeste orações mais agradáveis e belas do que estas. Penetraram tuas súplicas até o fundo de meu coração. Perdoo, minha filha, por isso, todos os pecados de toda a tua vida'.
Tenhamos a doce certeza de que assim nos falará Nosso Senhor, se soubermos, como Ele, sofrer e perdoar!

(Excertos da obra 'Breviário da Confiança', do Monsenhor Ascânio Brandão)

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

O ROSÁRIO NOSSO DE CADA DIA (XIII)


TERCEIRO MISTÉRIO GLORIOSO: O PENTECOSTES

'Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reu­nidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo...' (At 2,1-4).

Nós vos oferecemos, Espírito Santo, este mistério em honra do vosso glorioso Pentecostes e vos pedimos, pela intercessão da vossa EsposaMãe Santíssima, a graça de uma santa sabedoria, para conhecer, amar, viver e perseverar em toda a Verdade necessária à nossa salvação.

Pai Nosso, 10 Ave Marias, Glória ao Pai, Ó meu Jesus...

TESOURO DE EXEMPLOS (376/380)


376. COMO RECEBIA AS INJÚRIAS

Santa Joana de Orvieto suportava com indizível alegria todas as injúrias de que era alvo. Tinha o costume de rezar duzentas vezes a oração dominical por aqueles que lhe haviam feito mal. Suas amigas diziam: 'Se alguém deseja obter as orações de Joana, basta cobri-la de injúrias'.

377. ULTRAJE CASTIGADO

O doutor Favas narrou a Luís Veuillot o seguinte: 'Um dia apresentou-se a mim um indivíduo com uma chaga na perna direita, causada por uma bala de fuzil. A ferida era de um caráter todo especial. Depois de deixar-se examinar, disse-me o paciente em tom resoluto e seguro:
➖ Senhor doutor, todo o remédio será inútil: esta chaga me acompanhará até à sepultura.
➖ Por que? - perguntei-lhe.
➖ Pela seguinte razão: 'Em 1793, o meu regimento recebeu ordem de participar da campanha da Espanha. Tendo transposto os Pirineus, encontramo-nos numa pequena aldeia. Eu estava em companhia de outros dois soldados, Francisco e Tomás; tínhamos as idéias daqueles tempos, isto é, éramos incrédulos, ou melhor, ímpios, como era a moda então. Tomás, vendo uma estátua de Nossa Senhora sobre a porta de uma casa, disse: 'Vejamos quem acerta primeiro aquele infame objeto de superstição'. Disparou então e a bala atingiu a estátua na fronte. Francisco, por sua vez, apontou o fuzil e atingiu a estátua no peito. Eu não queria seguir o exemplo dos companheiros: lembrava-me de minha mãe, que era muito religiosa; não pude, porém, resistir às zombarias dos companheiros: tremendo, encostei o fuzil ao ombro, fechei os olhos quase involuntariamente e atingi a estátua...
➖ Na perna? indaguei.
➖ Sim, exatamente onde recebi esta ferida. Uma senhora idosa que nos observava exclamou: 'Os senhores vão à guerra, e o que acabam de fazer não lhes trará felicidade!' E a profecia realizou-se. Tomás foi o primeiro ferido, e precisamente na testa, como ele ferira a estátua.
Reconhecemos logo que era uma lição do céu. No outro dia bem cedo, Francisco, prevendo o que ia acontecer, apertou-me a mão e disse-me: 'Hoje é a minha vez!' E não se enganou. Meu Deus! Não me esquecerei nunca do que vi. Uma bala atravessou-lhe o peito de um lado ao outro. Ele rolava no pó, chamando um padre que, naquele momento, era impossível encontrar. 
Eu não tinha mais dúvida, e esperava o que ia me acontecer. Realmente: fui ferido na perna; aí está o meu caso. Não sararei nunca, mas dou graças a Deus e a Nossa Senhora que me concederam tempo para reparar o mal que fiz.

378. O CASTIGO NÃO SE FEZ ESPERAR

Em 1931, na festa de Corpus Christi, o bispo de Nantes (França), por causa do mau tempo, suspendeu a procissão do Santíssimo Sacramento. No dia seguinte, os jornais socialistas e maçônicos de Nantes zombavam da decisão do prelado. 'O que faz o vosso Deus?' (escrevia um deles em tom de desprezo). 'Nós nos rimos dele. No próximo domingo, 7 de junho, organizamos uma excursão a Saint-Nazaire pelo vapor Saint Philibert. Vereis como tudo correrá bem, apesar de que todos os excursionistas perderão a missa para participar do cruzeiro'.

Chegou o domingo 7 de junho. Eram 600 os passageiros que bem cedo embarcaram no vapor. O Saint Phiiibert desceu bem o Loire, chegou a Saint-Nazaire e depois saiu do estuário e entrou no Atlântico para um breve giro ao largo. De repente formou-se um denso nevoeiro; não se via nem se ouvia nada a dez metros de distância. Não demorou muito a catástrofe: um choque tremendo com um poderoso transatlântico, que partiu ao meio o pequeno vapor francês. Após dois minutos de gritos de terror, um silêncio de morte. O Saint Philibert submergiu no oceano para sempre. 499 excursionistas desapareceram nas ondas; quatro enlouqueceram; os outros foram salvos com dificuldade por outro vapor; o capitão, desesperado, deixou-se afundar com seu navio. Assim respondia Deus à provocação dos míseros homenzinhos da seita.

379. HEROÍNA CHINESA

Maria Lute, presidente da Congregação Mariana das moças de Wu-hu, na China, apesar de recebida na religião há apenas dois anos, distinguia-se por sua modéstia e fervor. Todos os professores de certa escola católica bandearam-se para a igreja cismática, organizada pelos comunistas, exceto Maria. No dia 12 de maio, véspera de Pentecostes, enfrentou o tribunal popular, permanecendo firme na fé, sem que a pudessem de modo algum seduzir ou amedrontar. Até os professores, seus colegas, a injuriavam. Antes que lhe atassem as mãos, escreveu em um bilhetinho: 'Eu sou chinesa e, como tal, amo a minha pátria. Eu sou cristã e, assim sendo, amo a Deus, a lgreja, o Santo Padre e os missionários'. Enquanto o povo estendia o punho, exclamando: 'Matem-na! Matem-na!' - Maria olhava para todos com grande serenidade até que a arremessaram na  prisão.

380. RESPEITO HUMANO CASTIGADO

O respeito humano é uma vileza e uma escravidão. Eusébio, pai de Constantino Magno, passava em revista os seus soldados. Parado no meio do campo, exclamou:
➖ Os que forem cristãos venham para a minha direita.
Alguns tremeram, pois sabiam que Eusébio era idólatra. Eusébio por sua vez sabia que muitos dos seus soldados eram cristãos. Alguns valentes, com passo resoluto, puseram-se à sua direita, exclamando:
➖ Nós somos cristãos.
O imperador olhou para eles com firmeza e disse:
➖ Sois vós e mais ninguém?
Nenhum dos outros se moveu do lugar. Então dirigindo-se aos que estavam à sua direita, disse Eusébio:
➖ Vós formareis a minha legião de honra e todos os outros serão expulsos de minhas fileiras, porque da mesma maneira com que hoje se envergonharam de seu Deus diante do imperador, amanhã, terão vergonha do imperador diante do inimigo.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)


terça-feira, 15 de outubro de 2024

O ROSÁRIO NOSSO DE CADA DIA (XII)

   

SEGUNDO MISTÉRIO GLORIOSO: A ASCENSÃO DE JESUS

'Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém... Dizendo isso, elevou-se da (terra) à vista deles e uma nuvem o ocultou aos seus olhos. Enquanto o acompanhavam com seus olhares, vendo-o afastar-se para o céu, eis que lhes apareceram dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: 'Homens da Galileia, por que ficais aí a olhar para o céu? Esse Jesus que acaba de vos ser arrebatado para o céu voltará do mesmo modo que o vistes subir para o céu' (At 1,7-11).

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, este mistério em honra da vossa gloriosa Ascensão e vos pedimos, pela intercessão da vossa Mãe Santíssima, a graça de uma firme esperança e um grande anseio do Céu.

Pai Nosso, 10 Ave Marias, Glória ao Pai, Ó meu Jesus...

15 DE OUTUBRO - SANTA TERESA DE ÁVILA

 


Terceira dos nove filhos do segundo casamento de Alonso Sanchez Cepeda e Beatriz D'Ávila y Ahumada, Teresa nasceu em 28 de março de 1515 na cidade medieval de Ávila, na região de Castela (Espanha). Inteligente e extremamente afável, desenvolveu desde muito cedo um espírito de intensa oração e vida interior que a levaria, antes dos 20 anos, a ingressar no Convento da Encarnação das Carmelitas onde vivenciou fenômenos místicos extraordinários, como a transverberação de seu coração por um Serafim e o 'desposório místico' com Cristo.

Superando doenças e provações diversas, transformou-se, então, na grande reformadora da Ordem dos Carmelitas, a partir de 1562, quando passou a aplicar à mesma as regras formais dos antigos conventos, impondo o rigor das orações, do silêncio completo e de meditações contínuas. Neste modelo, fundou vários outros conventos e, junto com São João da Cruz, o ramo masculino dos Descalços. Seus escritos e obras expressam a singular inspiração mística de sua vida interior e a poesia de sua intimidade espiritual com Cristo.  

Em 1582, durante uma viagem a Alba de Tormes, seu estado de saúde piorou rapidamente e a santa teve a certeza que era chegada a hora de sua morte. Ao receber os últimos sacramentos do Pe. Antônio de Heredia, ergueu-se de repente do leito exclamando: 'Oh, Senhor, por fim chegou a hora de nos vermos face a face!' e, em seguida, pronunciou sua última frase: 'Morro como filha da Igreja'. Eram 9 horas da noite do dia 4 de outubro de 1582. Uma vez que, exatamente no dia seguinte efetuou-se a mudança para o calendário gregoriano com a supressão de dez dias do mesmo, a data de sua celebração é comemorada no dia 15 de outubro.

Suas relíquias repousam ainda em Alba de Tormes. Teresa foi beatificada pelo Papa Paulo V em 1614 e canonizada por Gregório XV em 1622. O Papa Paulo VI, em 27 de setembro de 1970, proclamou Santa Teresa de Ávila como Doutora da Igreja.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

O ROSÁRIO NOSSO DE CADA DIA (XI)

  

PRIMEIRO MISTÉRIO GLORIOSO: A RESSURREIÇÃO DE JESUS

E no primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, mal o sol havia despontado... Levantando os olhos, elas viram removida a pedra... Entrando no sepulcro, viram, sentado do lado direito, um jovem, vestido de roupas brancas, e assustaram-se. Ele lhes falou: 'Não tenhais medo. Buscais Jesus de Naza­ré, que foi crucificado. Ele ressuscitou, já não está aqui.... ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galileia' (Mc 16,2.4-7)... Eram elas Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago e outras suas amigas, que relataram aos apóstolos a mesma coisa (Lc 24,10).

Nós vos oferecemos, Senhor Jesus, este mistério em honra da vossa gloriosa Ressurreição e vos pedimos, pela intercessão da vossa Mãe Santíssima, a graça de uma fé viva.

Pai Nosso, 10 Ave Marias, Glória ao Pai, Ó meu Jesus...