quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

HISTÓRIAS QUE OUVI CONTAR (XIX)

APRENDA A ESCREVER NA AREIA...

Dois amigos inseparáveis e de longas jornadas juntos, caminhavam certo final da tarde por uma praia já praticamente deserta. Falavam sobre tudo e principalmente pelas coisas que faziam em comum, caminhando na areia macia e, de tempos em tempos, afastando os pés de se molharem nas ondas que se quebravam e vinham arrebentar na orla da praia. O sol se pondo no horizonte emprestava ao cenário uma beleza indescritível.

Nos cenários das grandes certezas, a única certeza é que nada é sempre igual no cotidiano das nossas vidas. Ninguém sabe dizer ao certo como a discussão entre eles começou e exatamente o motivo; o fato é que de uma discordância casual, o assunto tomou ares de desavença crônica e terminou numa quase agressão física, num empurrão forte que jogou um deles no chão e um silêncio constrangedor a seguir.

No chão, ainda impactado pelo empurrão do amigo de todas as horas, o outro amigo escreveu na areia, próximo ao limite das ondas: 'hoje o meu melhor amigo me jogou no chão'. De pé, o outro observava silenciosamente o que o amigo escrevia na areia e depois lhe falou:  'Ok, desculpe-me, vamos lá, vamos superar essa bobagem e seguir em frente'. E, dando a mão ao outro, ajudou que se levantasse e ambos continuaram a andar pela praia.

Mas agora ia junto com eles um silêncio pesado, asfixiante; não havia mais nada da alegria sincera do convívio de poucos minutos atrás. Nesse momento, chegaram ao final da praia, truncada por uma extensa formação rochosa que impedia a passagem adiante. Quando pensavam em voltar, no contexto de que não existem certezas absolutas, o amigo que tinha sido empurrado no chão se atirou na água e avançou rapidamente em direção ao mar. Mas de repente, perto das rochas, por ser mais íngreme a praia e as águas mais profundas, o nosso amigo, mau nadador, se viu em grande dificuldade de nadar e com sério risco de se afogar. É justamente neste momento que o outro amigo o resgatou e, em poucos braçadas, o levou são e salvo à praia.

Recuperado do susto e do risco de quase ter perdido a vida, o amigo resgatado foi até às rochas próximas e escreveu na pedra lisa: 'hoje o meu melhor amigo me salvou a vida'. O melhor amigo observou, mais uma vez silenciosamente, a ação do amigo que resgatara das águas. Ao final, ainda um pouco exausto da aventura, perguntou ao outro: 'Lá atrás, você escreveu na areia e agora aqui fez questão de escrever na pedra. Por que?'  

Com sincera alegria, o amigo respondeu: 'Quando um amigo nos machuca, devemos escrever na areia onde os ventos do perdão se encarregam de apagar rapidamente a ofensa recebida; quando um amigo nos prova a sua amizade verdadeira com um grande feito, devemos gravar isso na pedra - na pedra da memória do coração - onde vento algum poderá apagar isso jamais'.

Por isso, aprenda sempre a escrever na areia...

(texto de autor desconhecido, reescrito e adaptado pelo autor do blog)

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (VIII)

XXIII

AÇÃO DOS ANJOS BONS NO MUNDO CORPÓREO

Serve-se Deus dos anjos bons no governo do mundo material?
Sim, Senhor, porque este mundo é inferior ao dos anjos, e, em todo governo bem ordenado, os inferiores são regidos pelos superiores (CX, 1)*.

Qual é o seu ministério?
Velar pelo exato cumprimento do plano providencial e dos decretos divinos concernentes às coisas materiais.

A que ordem pertencem os anjos administradores das coisas materiais?
À ordem das Virtudes (CX, 1, 2, 2).

Que fazem os anjos que servem na administração do mundo corporal?
Velam pela perfeita execução do plano da Providência e pelas manifestações da vontade divina, em tudo o que se passa nos diversos seres que constituem o mundo material.

Logo, Deus executa por meio dos anjos que pertencem à ordem das Virtudes quantas alterações e mudanças se efetuam no mundo corporal, inclusive os milagres?
Sim, Senhor (CX, 4).

Têm os anjos virtude ou poder suficiente para fazer milagres?
Não, Senhor. Somente Deus pode fazê-los e o anjo concorre ou com intercessão ou como causa instrumental (CX, 4, ad 1).

XXIV

AÇÃO DOS ANJOS NO HOMEM - O ANJO DA GUARDA

Podem os anjos influir no homem?
Sim, Senhor; porque são de natureza puramente espiritual, e, portanto, superior à humana (CXI).

Podem iluminar a nossa inteligência?
Sim, Senhor; dando-lhe vigor e pondo ao nosso alcance a Verdade puríssima que eles contemplam (CXI, 1).

Podem intervir diretamente na nossa vontade?

Não, Senhor; porque a volição é um movimento interior que só depende de Deus, sua causa (CXI, 2).

Logo, somente Deus pode atuar diretamente e mudar, como lhe apraz, os movimentos da vontade humana?
Só Deus o pode fazer (Ibid).

Podem os anjos excitar a imaginação e as demais faculdades sensitivas?
Sim, Senhor; porque estando intimamente ligadas ao organismo dependem do mundo corpóreo submetido à ação dos anjos (CXI, 3).

Podem impressionar os sentidos externos?
Sim, Senhor; pela mesma razão, exceto quando a excitação provém do demônio, e neste caso pode ser contrabalançada por outra de um anjo bom (CXI, 4).

Por consequência, os anjos podem dificultar e impedir a obra dos demônios?
Sim, Senhor; porque a justiça divina submeteu os demônios, como castigo do seu pecado, ao domínio dos anjos (Ibid).

Envia Deus os seus anjos a exercer algum ministério entre os homens?
Sim, Senhor; Deus se serve deles para promover o bem e para executar os seus desígnios junto dos mortais (CXII, 1).

Envia, com este fim, todos os anjos?
Não, Senhor (Ibid).

Quais são os que nunca são empregados?
Os da primeira hierarquia (CXII, 2, 3).

Por que?
Porque é privilégio desta hierarquia o de permanecer constantemente junto ao Trono de Deus (Ibid).

Que título obtêm os anjos da primeira hierarquia, em atenção a este privilégio?
O de anjos assistentes (Ibid).

Quais são, pois, os enviados?
Todos os da segunda e terceira hierarquias, porém note-se que as Dominações presidem ao cumprimento dos decretos divinos e as outras ordens, Virtudes, Potestades, Principados, Arcanjos e Anjos, são os executores (CXII, 4).

Destina Deus alguns anjos para guarda dos homens?
Sim, Senhor; porque a divina Providência decretou que o homem, ignorante no pensar, inconstante e frágil no querer, tivesse como guia protetor, na sua peregrinação até ao céu, um daqueles espíritos ditosos, confirmados para sempre no bem (CXIII, 1).

Destina Deus um anjo para a guarda de cada homem, ou um só para guardar muitos?
Destina um para cada homem, porque mais ama Deus uma alma do que todas as espécies de criaturas materiais, e, apesar disto, determinou que cada espécie tivesse um anjo custódio encarregado do seu governo (CXIII, 2).

De que ordem toma Deus os anjos da guarda?
Toma-os do último coro (CXIII, 3).

Têm todos os homens, sem exceção, anjo custódio?
Sim, Senhor; todos o têm, enquanto vivem neste mundo, em atenção aos obstáculos e perigos do caminho que têm de percorrer até chegar ao fim (CXIII, 4).

Teve-o Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto homem?
Considerando que era pessoa divina, não convinha que o tivesse; porém, teve anjos com a nobilíssima missão de servi-Lo (Ibid).

Quando começa cada anjo custódio a exercer o seu ministério?
No instante em que o homem aparece no mundo (CXIII, 5).

Abandonam, alguma vez, os anjos custódios os homens confiados à sua guarda?
Não, Senhor; velam por eles sem interrupção até que exalem o último suspiro da sua vida (CXIII, 6).

Afligem-se à vista das tribulações e males do seu protegido?
Não, Senhor; porque, depois de fazerem o que está em suas mãos para evitá-los, reconhecem e adoram neles a grandeza insondável dos juízos de Deus (CXIII, 7).

É boa e recomendável a prática de invocarmos com frequência o nosso anjo da guarda e lhe confiarmos nossas pessoas e coisas?
É prática excelente e muito recomendável.

Quando invocamos os anjos da guarda, acodem eles, infalivelmente, em nosso socorro?
Sim, Senhor; porém com sujeição e conformidade com os decretos divinos e de modo que seja em coisa ordenada, em harmonia com a glória de Deus (CXIII, 8).

XXV

AÇÃO DOS ANJOS MAUS OU DEMÔNIOS

Podem os demônios combater e tentar os homens?
Sim, Senhor.

Por que?
Porque o seu todo é malícia e, além disso, porque Deus sabe tirar proveito das tentações em benefício dos eleitos (CXIV, 1).

É próprio dos demônios o tentar?
Sim, Senhor.

Em que sentido o dizeis?
No sentido de que os demônios só tentam aos homens com o propósito de seduzi-los e perdê-los (CXIV, 2).

Podem com este objetivo fazer milagres?
Verdadeiros milagres, não, Senhor; porém, 'alguma coisa parecida com os milagres'.

Que entendeis por estas palavras 'alguma coisa parecida com os milagres'?
Entendemos alguns fatos prodigiosos que excedem as forças dos agentes mais próximos e conhecidos, porém, não a virtude natural de todas as criaturas (CXIII, 4).

Como os distinguiremos dos milagres?
Em que se realizam sempre com fim ilícito ou meios reprováveis e não podem, por consequência, ser obra de Deus (CXIV, 4, ad 1).

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular).

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O PENSAMENTO VIVO DE CHESTERTON (III)

'Todas as religiões têm em si qualquer coisa de bom, mas o bem, a sua mesma realidade própria, a humildade e amor, e ardente gratidão a Deus, não se encontra nelas. Quanto mais profundamente as conhecemos, e até quanto maior reverência por elas sentimos, mais claramente o compreendemos. No mais profundo delas, encontra-se qualquer outra coisa que não é o puro bem; encontra-se a dúvida metafísica acerca da matéria ou a voz forte da natureza ou, no melhor dos casos, o temor da lei e da divindade. Se estas coisas se exageram, surge uma deformação que pode ir até à adoração do demônio'.

'Devemos lembrar que, seja verdadeira ou não, a filosofia materialista é com certeza mais limitante do que qualquer religião. Num sentido, naturalmente, todas as idéias inteligentes são estreitas. Não podem ser mais amplas do que elas mesmas. Um cristão só é limitado no mesmo sentido em que um ateu é limitado. Ele não pode pensar que o cristianismo é falso e continuar sendo cristão; e o ateu não pode considerar que o ateísmo é falso e continuar sendo ateu. Mas, na prática, há um sentido muito especial em que o materialismo tem mais restrições que o espiritualismo. O cristão tem perfeita liberdade para acreditar que existe uma considerável quantidade de ordem estabelecida e desenvolvimento inevitável no universo. Mas ao materialista não é permitido admitir em sua imaculada máquina a menor mancha de espiritualismo ou milagre'.

'Um santo é um medicamento por ser um antídoto. Na verdade, é também por isso que, muitas vezes, ele é um mártir: ele é confundido com um veneno por ser um antídoto. Vê-lo-emos geralmente a restaurar a sanidade do mundo exagerando uma coisa qualquer que o mundo esteja a negligenciar, e, seguramente, este elemento não será o mesmo em todas as épocas. No entanto, é por instinto que cada geração tenta encontrar o seu santo, e ele não será o que as pessoas querem, mas sim aquilo de que precisam'.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Segundo Domingo da Quaresma


'Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta montanha' (Mc 9,2). Uma alta montanha, o Monte Tabor. Como testemunhas da extraordinária manifestação da glória celeste e da vida eterna em Deus, Jesus conduz os três apóstolos escolhidos para o alto, numa clara assertiva de que é por meio do profundo recolhimento interior e da elevação da alma muito acima das coisas do mundo é que podemos viver efetivamente a experiência plena da contemplação de Deus.

'E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar' (Mc 9, 2-3). No mistério da transfiguração do Senhor, os apóstolos testemunharam antecipadamente alguma coisa dos mistérios de Deus. Algo profundamente diverso da natureza humana, pois nascido direto da glória de Deus. Algo muito limitado da Visão Beatífica, posto que deveria atender sentidos humanos: 'nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam (1 Cor 2, 9). Ainda assim, algo tão extraordinário e consolador, que perturbou completamente aqueles homens e, ao mesmo tempo, os moldou definitivamente na certeza da vitória e da ressurreição de Cristo.

'Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus' (Mc 9, 4). A revelação da glória de Deus é atestada pela Lei e pelos Profetas, pelo Senhor da vida e da morte, pelos textos das Sagradas Escrituras. Naquele momento, se fecha a Lei e a morte (com Moisés) e se cumprem todas as profecias e se impõe a vida eterna em Deus (com Elias, que ainda vive). E, para não se ter dúvida alguma, Deus se pronuncia no Alto do Tabor em favor do Filho: 'Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!' (Mc 9, 7).

Do alto do Tabor, a ordem divina ecoa pelos tempos e pelas gerações humanas a todos nós, transfigurados na glória de Deus pelo batismo e herdeiros do Tabor eterno: 'Escutai o que ele diz!'. Como batizados, somos como os apóstolos descidos do monte e novamente envoltos pelas brumas e incredulidades do mundo. Pela transfiguração, entretanto, somos encorajados a vencer o mundo como Cristo, a superar a fragilidade de nossos sentidos, a elevarmos nosso pensamento às coisas do Alto, a manifestar em nós a glória de Deus como primícias do Céu, sob o consolo da fortaleza e da perseverança: 'Se Deus é por nós, quem será contra nós?' (Rm 8, 31b).

sábado, 24 de fevereiro de 2018

OS TRÊS FRUTOS RUINS DA CF 2018

A Campanha da Fraternidade de 2018 tem como tema 'Fraternidade e Superação da Violência'. Não há dúvida alguma da relevância do tema e da sua inserção direta no conjunto dos problemas sociais mais graves da atual realidade do Brasil. Mas, muito provavelmente, vai ter o mesmo destino das outras recentes campanhas da fraternidade no Brasil: muito barulho por nada. Por um motivo muito simples: a CNBB há décadas abriu mão de sua atuação social primária de evangelização pela aventura de praticar proselitismo político e ideologia partidária pura e simples, com resultados pífios em termos de evangelização. Um exemplo disso é que este tema permeou a CF de 2009 - 'Fraternidade e Segurança Pública' e, no entanto, de lá para cá, a escalada da violência só se fez aumentar exponencialmente e, então, pelos frutos, podemos avaliar que a árvore plantada foi ruim (Mt 7, 17).

Três aspectos específicos permitem inferir este comprometimento de resultados da CF 2018, baseados em três grandes equívocos assumidos pela CNBB, tomados como premissas no texto-base da campanha e impostos aos católicos em geral como verdades absolutas. 

O primeiro equívoco da CNBB é se alinhar tacitamente à política do desarmamento por desconhecer um conceito essencial subjacente aos temas da segurança pública e do combate à violência: o chamado princípio da subsidiariedade. A prevenção à violência deve começar pelo cidadão, que pode e deve tomar todas e quaisquer medidas em relação à sua proteção pessoal, de sua família, de sua casa, seja instalando fechaduras eletrônicas na porta da casa, câmeras de vigilância, muros altos ou adotando práticas de defesa pessoal. Somente após exauridas estas iniciativas no âmbito privado, o cidadão deve estar submetido ao controle de políticas públicas de segurança, em que o estado passaria a intervir somente onde os limites da segurança privada (principalmente por limitações financeiras) foram ultrapassados. Caso contrário, por mais policiais treinados e ainda que muito bem remunerados, a polícia seria sempre uma minoria da minoria e a violência assumiria um ônus incontrolável.

O segundo equívoco está na sustentação irresponsável de uma manutenção da maioridade penal nos termos atuais que, acobertada pela vitimização e estatutos infames, alimenta o fogo da violência com gasolina. É estarrecedor eximir de responsabilidades os 'menores de idade' como artífices da violência cotidiana quando a própria Igreja Católica defende e assume que adolescentes com 15 ou 16 anos têm plena consciência para definir e ratificar a sua fé católica pelo sacramento da Crisma. A CNBB neste caso não tem dois pesos e duas medidas; ela não tem ponderação alguma quando se inclina diante de ideologias estranhas à fé católica.

O terceiro equívoco da CF 2018 da CNBB é generalizar e subverter ao mesmo tempo o conceito de violência. O texto-base buscou ser bastante eclético neste sentido: lá se faz referência à violência urbana, à violência contra a mulher, a violência de gênero (!), a violência doméstica, a violência no trânsito, a violência das drogas... Mas a principal forma de violência não está lá no texto-base da CF 2018. É a violência incomensurável que resulta da perda e da omissão de uma verdadeira e segura orientação espiritual que deveria ser dada aos fieis católicos neste tempo especial, subjugada por uma avalanche de temas sociais nada doutrinários, que corrompem os bons costumes, imprimem a tibieza, alicerçam o indiferentismo religioso e roubam às centenas, e dezenas de vezes mais, ovelhas do rebanho de Cristo: 'É possível alguém colher uvas de um espinheiro ou figos das ervas daninhas?' (Mt 7, 16).

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2018

55. CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2018


Lema: Vós sois todos irmãos (Mt 23, 8).


Tema: Fraternidade e superação da violência

Objetivo Geral: Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência.

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Campanhas da Fraternidade no Brasil /I
Campanhas da Fraternidade no Brasil /II
Campanhas da Fraternidade no Brasil /III
Campanhas da Fraternidade no Brasil /IV

'QUE FAZIA DEUS ANTES DE CRIAR O CÉU E A TERRA?'

Com certeza ainda estão cheios do erro do velho homem os que nos dizem: 'Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra?' Se estava ocioso, se nada fazia, porque não continuou a se abster sempre de qualquer ação? Se em Deus apareceu um movimento novo, uma vontade nova de dar o ser ao que ainda não tinha criado, como falar de uma verdadeira eternidade se nela nasce uma vontade que não existia antes? Mas a vontade de Deus não é uma criatura, ela é anterior a toda criatura; nenhuma criação seria possível se a vontade do Criador não a precedesse. A vontade, portanto, pertence à própria substância de Deus. Logo, se na substância de Deus nasce algo que antes não existia, não se pode mais com verdade chamá-la eterna. E se, desde toda eternidade, Deus quis a existência da criatura, por que a criatura também não é eterna? 

Os que assim falam não te compreendem ainda, ó Sabedoria de Deus, luz das inteligências; não compreendem ainda como é criado o que é criado por ti e em ti. Esforçam-se por saborear as coisas eternas, mas seu espírito voa ainda sobre as realidades passadas e futuras. Quem poderá deter esse pensamento, quem o fixará por um momento, para que tenha um rápido vislumbre do esplendor da eternidade imutável, e a compare com os tempos impermanentes, para perceber que qualquer comparação é impossível? Então veria que a sucessão dos tempos não é feita senão de uma sequência infindável de instantes, que não podem ser simultâneos; que, pelo contrário, na eternidade, nada é sucessivo, tudo é presente, enquanto o tempo não pode ser de todo presente. Veria que todo o passado é repelido pelo futuro, que todo futuro segue o passado, que tanto o passado como o futuro tiram seu ser e seu curso daquele que é sempre presente. Quem poderá deter a inteligência do homem para que pare e veja como a eternidade imóvel, que não é futura nem passada, determina o futuro e o passado? Acaso poderá realizar isso minha mão? Ou esta minha língua, com a palavra, poderia realizar tal obra?

Eis minha resposta à questão: 'Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra?' – não responderei jocosamente como alguém para contornar a dificuldade do problema: 'Preparava o inferno para os que perscrutam esses mistérios profundos'. Uma coisa é compreender e outra é brincar. Não, essa não será minha resposta. Prefiro dizer: 'Não sei' – pois de fato não sei, que ridicularizar quem faz pergunta tão profunda, ou louvar quem responde com sofismas. Mas eu digo que tu, meu Deus, és o Criador de toda criatura; e, se por céu e terra se entende toda criatura, não temo afirmar: 'Antes que Deus criasse o céu e a terra, nada fazia'. De fato, se tivesse feito alguma coisa, o que poderia ser senão uma criatura? Oxalá eu soubesse tudo o que desejo saber, como sei que nenhuma criatura foi criada antes da criação. 

Se algum espírito leviano, vagando por tempos imaginários anteriores à criação, se admirar que o Deus Todo-Poderoso, tu, que criaste e conservas todas as coisas, ó autor do céu e da terra, tenha-te mantido inativo até o dia da criação, por séculos sem conta, que esse desperte e tome consciência do erra que gera sua admiração. Como, pois, poderiam transcorrer os séculos se tu, criador, ainda não os tinha criado? E poderia o tempo fluir se não existisse? E como poderiam os séculos passar, se jamais houvessem existido? Portanto, como és o criador de todos os tempos – se é que houve algum tempo antes da criação do céu e da terra – como se pode afirmar que ficaste ocioso? 

Pois também criaste esse mesmo tempo, e este não poderia passar antes que o criasses. Se porém, antes do céu e da terra não havia tempo algum, porque perguntam o que fazias então? Não poderia haver então se não existia o tempo. Não é no tempo que és anterior ao tempo: de outro modo não precederias a todos os tempos. Precedes porém a todo o passado na altura de tua eternidade sempre presente; dominas todo o futuro porque está por vir e que, quando chegar, já será passado. Contudo, tu és sempre o mesmo, e teus anos não passam jamais. Teus anos não vão nem vêm; mas os nossos vão e vêm, para que todos possam existir. Teus anos existem simultaneamente, pois não fluem; não passam, não são expulsos pelos que vêm, porque não passam. Os nossos, ao contrário, só existirão todos quando não mais existirem. Teus anos são como um só dia, e teu dia não é uma repetição cotidiana, é um perpétuo hoje, porque teu hoje não cede o lugar ao amanhã e nem sucede ao ontem. Teu hoje é a eternidade. Por isso geraste um filho coeterno, a quem disseste: 'Hoje te gerei'. Todos os tempos são obra tua, e tu existes antes de todos os tempos; é pois inconcebível que tenha existido tempo quando o tempo ainda não existia. 

('Confissões', de Santo Agostinho)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

FOTO DA SEMANA

'Porque o Cordeiro, que está no meio do trono, será o seu pastor e os levará às fontes das águas vivas; e Deus enxugará toda lágrima de seus olhos' (Ap 7, 16)

22 DE FEVEREIRO - A CÁTEDRA DE PEDRO

A celebração da festa litúrgica da Cátedra de São Pedro no dia 22 de fevereiro tem origem muito antiga e está documentada por sua inclusão num calendário do ano 354 e no Martyrologium Hieronymianum, o mais antigo da Igreja Latina, composto entre 431 e 450. Na pessoa de São Pedro (e de todos os seus sucessores), insere-se o fundamento visível da unidade da Igreja, nascida de Deus e glória de Deus até os confins dos séculos 'porque as portas do inferno não prevalecerão contra ela' (Mt 16,18).

'O chamado de Pedro' (Giorgio Vasari, sem data)

'Feliz és, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem o sangue que te revelou isto, mas meu Pai que está nos céus. E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mt 16, 17-19)

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

20 DE FEVEREIRO - SANTOS JACINTA E FRANCISCO MARTO


Jacinta contava apenas sete anos e Francisco apenas nove quando tiveram, juntamente com Lúcia (à época, com 10 anos) as visões de Nossa Senhora em Fátima. Depois da visão do inferno, Nossa Senhora pediu a ambos orações e sacrifícios pela conversão dos pecadores, e as duas crianças passaram a se esmerar para o pleno cumprimento destas práticas desde então e citam-se inúmeros exemplos de mortificação dados por eles em diversas ocasiões. Em 1918, foram vitimados pela terrível gripe pneumônica que assolou toda a Europa. Durante meses, em meio a internações e operações diversas, os dois irmãos sofreram com grande resignação. 

Em janeiro de 1919, a Santíssima Virgem apareceu-lhes para dar uma surpreendente notícia e convidar Jacinta ao holocausto completo: 'Nossa Senhora veio nos ver e disse que vem buscar o Francisco muito breve para o Céu. E a mim, perguntou-me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-lhe que sim. Disse-me que iria para um hospital, que lá sofreria muito; que sofresse pela conversão dos pecadores, em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria e por amor de Jesus.' Francisco morreria em 04/04/1919. Jacinta, internada em um hospital de Lisboa, padeceu com serenidade os tormentos finais da sua enfermidade, até falecer em 20 de fevereiro de 1920.


Se é verdade que São Domingos Sávio morreu aos 15 anos e Santa Maria Goretti aos onze, é possível que crianças em tal tenra idade sejam capazes de viver e praticar a virtude com zelo heroico e, assim, alcançarem o cimo da santificação? A resposta é sim e este sim se aplica aos pequenos videntes de Fátima. A 22 de junho de 1999, foi aprovado um milagre de cura pela intercessão de Francisco e de Jacinta, abrindo-se, assim, o caminho da beatificação de ambos por meio de um único processo que culminou com a beatificação dos videntes em Fátima, em 13 de maio de 2000, ano jubilar, pelo Papa João Paulo II. 

Com a confirmação de um segundo milagre em março de 1917, considerado como resultado da intercessão direta dos videntes de Fátima e que envolveu a cura inexplicável de uma criança brasileira vítima de grave acidente com traumatismo crânio-encefálico (evento ocorrido em 2013), cumpriu-se a exigência complementar para a canonização das duas crianças, evento que ocorreu finalmente na data do centenário das aparições, em 13 de maio de 2017. Nesta data histórica, Francisco e Jacinta Marto foram declarados os santos não-mártires mais jovens da Igreja Católica.


Santa Jacinta Marto, rogai por nós!

São Francisco Marto, rogai por nós!

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE NADAL (XI)

Paterfamilias plantat vineam, & locat agricolis

91. Evangelho (Mt 21, Mc 12, Lc 20): Um pai de família planta e arrenda a sua vinha a lavradores

Extra vineam Filium occidunt

92. Evangelho (Mt 21, Mc 12, Lc 20): O filho do dono da vinha é morto pelos lavradores

Facit Rex nuptias Filio

93. Evangelho (Mt 22): Um rei celebra as bodas do seu filho

De soluendo tributo

94. Evangelho (Mt 22, Mc 12, Lc 20): Pagar os tributos (dar a César o que é de César)

De primo mandato interrogatur IESVS

95. Evangelho (Mt 22, Mc 12, Lc 20): Jesus é interrogado sobre o Primeiro Mandamento


Quomodo credendum docentibus Pharisaeis, & Scribis

96. Evangelho (Mt 23, Mc 12, Lc 20): Jesus ensina como lidar com os escribas e os fariseus

De Antichristo

97. Evangelho (Mt 24, Mc 13, Lc 21): Sobre o Anticristo

Quae Iudicium vniuersale proxime praecedent

98. Evangelho (Mt 24, Mc 13, Lc 21): O que acontece antes do Juízo Universal

Iudicium vniuersale

99. Evangelho (Mt 25): O Juízo Universal

Coena legalis

100. Evangelho (Mt 26, Mc 14, Lc 22, Jo 13): Preparação para a Última Ceia

domingo, 18 de fevereiro de 2018

O RETIRO NO DESERTO

Páginas do Evangelho - Primeiro Domingo da Quaresma


Jesus acabara de se submeter ao batismo nas águas do Jordão, evento que deflagara, então, pela manifestação expressa nas palavras do Pai e pela ação do Espírito Santo descido do céu na forma de uma pomba, o início do tempo de sua pregação pública, na investidura messiânica do Filho de Deus Vivo. E, diante desta missão portentosa, a primeira medida do Espírito Santo é conduzir Jesus ao deserto, para um tempo singular de devoção, oração e profundo recolhimento interior, na consumação da alma elevada à divina perfeição.  

Neste Primeiro Domingo da Quaresma, o Evangelho nos invoca a começar também esse tempo de jejuns e penitência seguindo o exemplo de Jesus, com um retiro no deserto. O deserto para nós representa um lugar de provação, de tentação e de exílio; afastados do cotidiano do mundo, somos desafiados a viver um tempo singular de conscientização e de reflexão sobre a limitação dos valores mundanos e da preparação de almas perseverantes na superação destes limites e indo mais além, para águas mais profundas, na busca dos valores da graça santificante que nos forjam herdeiros dos Céus.

Ir ao deserto afastado do mundo não implica se esconder do mundo. Jesus 'ficou no deserto durante quarenta dias, e aí foi tentado por Satanás. Vivia entre animais selvagens, e os anjos o serviam' (Mc 1, 13). Quarenta dias é o tempo bíblico de referência para tempos de grande provação; as tentações de satanás no deserto repetem as tentações que nos são impostas pelo demônio durante toda a nossa vida, até no momento da morte; a vida entre animais selvagens caracteriza uma vida no exílio, longe do cotidiano do mundo.

Estar no deserto não significa um isolamento da alma. Deus está presente em nós em todos os momentos, com as graças necessárias para a plena superação de todas as provações, tentações e abatimentos da caminhada e, por isso, 'os anjos o serviam' (Mc 1, 13). Encerrado o tempo de vigília e de preparação no deserto e dado o sinal final da Providência Divina, pela prisão de João Batista, o Antigo Testamento torna-se passado de vez e tem início a pregação da Boa Nova para a salvação da humanidade, evocada com os próprios termos com que o Precursor anunciara os tempos da redenção (conforme Mt 3, 1-2): 'O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!' (Mc 1, 15).

18 DE FEVEREIRO - SANTA BERNADETTE SOUBIROUS


Bernadette Soubirous nasceu em Lourdes, região montanhosa dos Pirineus, a 7 de janeiro de 1844. Após as aparições de Nossa Senhora em Lourdes, Bernadette foi admitida na Comunidade de Filhas da Caridade de Nevers: em julho de 1866 começou seu noviciado e, em 22 de setembro de 1878, pronunciou seus votos. Faleceu no dia 16 de Abril de 1879, com a idade de 35 anos, após uma longa e dolorosa enfermidade. Trinta anos após sua morte, em 22 de setembro de 1909, seu corpo foi exumado e encontrado em perfeito estado de conservação. Alguns anos depois, em 13 de abril de 1925, pouco antes de sua beatificação, efetuada em 12 de junho de 1925, foi feito um segundo reconhecimento do corpo, que continuava intacto. 

Bernadette foi canonizada pelo Papa Pio XI em 8 de dezembro de 1933. Seu corpo incorrupto é mantido em uma urna de cristal desde 3 de agosto de 1925 e pode ser visitado ainda hoje na Igreja de Saint Gildard em Nevers. A festividade da santa se celebra no dia 16 de abril, data de sua morte. Na França (e no Brasil), é celebrada no dia 18 de fevereiro. A festa de Nossa Senhora de Lourdes é celebrada no dia de sua primeira aparição, 11 de fevereiro.

Santa Bernadette, rogai por nós!



sábado, 17 de fevereiro de 2018

AS CINCO PRÁTICAS DA QUARESMA


'Voltai para mim de todo o coração, fazendo jejuns, chorando e batendo no peito! Rasgai vossos corações, não as roupas!' (Jl 2, 12 -13)

Assim diz o Senhor, pela boca do profeta Joel: 'Voltai para mim de todo o coração'... com apelos de conversão e penitência! A Quaresma é para ser vivida no coração, mas não no nosso coração cotidiano, emotivo, superficial e vazio, submerso nas preocupações da vida e nas tribulações diárias de nossa rotina. Não, o nosso coração para Deus neste tempo de graças extremadas deve ser um coração quebrado, partido, rasgado, desfigurado... 'Rasgai os vossos corações'... somente assim, em corações rasgados para o mundo, flagelados pela contrição sincera, machucados pela dor do arrependimento, o Senhor pode entrar e habitar com alegria, porque são estes corações que se mais se assemelham ao Sagrado Coração de Jesus no Calvário.

'Voltai para mim de todo o coração'... neste tempo  de Quaresma, é esse o apaixonado apelo do Senhor: afastai-vos do mundo e dai-Me os vossos corações partidos, sofridos, amargurados e Eu farei habitar neles a minha Santa Alegria. Entregar nossos corações feridos e quebrados significa experimentarmos plenamente os frutos da mortificação, da contrição e da conversão sincera. E para isso, temos cinco práticas ou preceitos tradicionalmente vividos no tempo quaresmal: jejum e abstinência, esmola, silêncio, vigília e aumento do tempo dedicado à leitura orante da Bíblia (lectio divina). Estes são os meios que a Tradição da Igreja nos revela como experimentados e verdadeiramente eficazes para se entregar o coração - de todo o coração - à graça de Deus.

1. Jejum e Abstinência 

O jejum (a privação da alimentação) e a abstinência (não fazer uso de certos alimentos) constituem a primeira pancada para quebrar a crosta endurecida do nosso coração. Não implicam golpes de aríete (jejuns extraordinários, proezas desmedidas), mas tão somente uma série de pequenos impactos, contínuos e duradouros (condizente com o estado de saúde de cada um), que estimulem a nossa vulnerabilidade e fraqueza diante da fome, da sede ou da insaciedade, limitações e vazios que somente Deus nos pode prover. Ambos têm uma conotação essencialmente eucarística: 'Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede' (Jo 6, 35).

2. Esmola 

A esmola é a dádiva ao outro sem a imposição de recursos de favor ou gratidão. O fruto da esmola é a alegria espiritual, que rasga o nosso coração por dentro para abrir o coração do outro. E, assim, abrimos o coração a Cristo. A esmola rompe o escândalo do instinto do acúmulo, que nos leva a guardar para ninguém o que aos outros pertence. O supérfluo que entulha nossos armários e casas rouba que outro possa ter o necessário e é uma afronta à Providência Divina, pois o Senhor enche de bens os famintos e manda embora os ricos de mãos vazias (Lc 1, 53).

3. Silêncio 

O silêncio é a arma predileta de Deus para romper os corações mais endurecidos. Fique em silêncio, viva o silêncio no tempo quaresmal. O silêncio evita o pecado. Mais ainda, diante do teu silêncio, a Palavra de Deus vai romper as muralhas e chegar às masmorras mais escondidas do teu pobre coração porque 'a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante que qualquer espada de dois gumes. Penetra até dividir alma e espírito, articulações e medulas. Julga os pensamentos e as intenções do coração' (Hb 4, 12).

4. Vigília

A vigília é o seu tempo sozinho com Deus. O sacrifício do nosso tempo para Deus é uma oferta de todo o coração, que nos libera da escravidão de tanto tempo perdido em coisas sem sentido e fúteis. A vigília implode o nosso coração eivado de preocupações cotidianas e submerso na posse de um tempo que está sempre aquém do que precisamos. Somos possessivos do nosso tempo e, ainda assim, perdemos tempo o tempo todo. Uma vez livres da sofreguidão do nosso tempo e na presença de Deus, experimentamos na vigília ao Senhor, mais do que apenas um pouco de tempo, a doação da nossa própria vida.

5. Leitura Orante da Bíblia

É a prática que complementa todas as outras e, sem a qual, as outras não podem dar frutos. Sem a leitura orante da Bíblia, o jejum perde o sentido, a esmola fica sempre para depois, o silêncio nos inquieta e a vigília tende a ser pesada e desconfortável. A lectio divina é o fundamento de todas as outras formas de oração. Com ela, podemos percorrer com maior proveito o caminho da Cruz, adorar com santa alegria o Senhor no Santíssimo Sacramento e invocar Nossa Senhora como advogada e medianeira na nossa entrega a Deus de todo o coração. 

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

ORAÇÃO PELOS SACERDOTES

Ó meu Jesus amado, 
Eu vos ofereço a pobreza dos Vossos sacerdotes, para que se enriqueçam; 
os corações vazios dos Vossos sacerdotes, para que Vós os encheis do Vosso amor, 
a frieza dos Vossos sacerdotes, para que se tornem fornalhas ardentes.

Eu Vos ofereço a solidão dos Vossos sacerdotes, para que sejam abraçados; 
Eu Vos ofereço as dores dos Vossos sacerdotes, para que sejam consolados; 
Eu Vos ofereço as doenças dos Vossos sacerdotes, para que sejam curados.

Eu Vos ofereço as impurezas dos Vossos sacerdotes, para que fiquem limpos; 
Eu Vos ofereço a nudez dos Vossos sacerdotes, para que sejam revestidos por Vós; 
Eu Vos ofereço a surdez dos Vossos sacerdotes, para que possam ouvir a Vossa Voz.

Eu Vos ofereço as quedas dos Vossos sacerdotes, para que sejam levantados; 
Eu Vos ofereço as vaidades dos Vossos sacerdotes, para que sejam crucificados Convosco;
Eu Vos ofereço a pequenez dos Vossos sacerdotes, para que se tornem santos.

Eu Vos ofereço a escuridão dos Vossos sacerdotes, para que recebam a Vossa luz;
Eu Vos ofereço a amargura dos Vossos sacerdotes, para que aprendam a Vossa Doçura; 
Eu Vos ofereço as lutas dos Vossos sacerdotes, para que eles experimentem a Vossa Glória.

Eu Vos ofereço a cegueira dos Vossos sacerdotes, para que tenham a Plena Visão; 
Eu Vos ofereço o cansaço dos Vossos sacerdotes para que descansem no Vosso Coração; 
Eu Vos ofereço a sede dos Vossos sacerdotes, para que se saciem na Fonte da Água Viva.

Eu Vos ofereço os medos dos Vossos sacerdotes, para que armem de toda a confiança; 
Eu Vos ofereço as dúvidas dos Vossos sacerdotes, para que sejam fortalecidos na fé; 
Eu Vos ofereço o desânimo dos Vossos sacerdotes, para que sejam infundidos de esperança.

Eu Vos ofereço a tristeza dos Vossos sacerdotes, que que sejais para eles a Santa Alegria; 
Eu Vos ofereço todos os Vossos sacerdotes, especialmente aqueles que estão em sua última agonia, aqueles que estão trancados em combate espiritual e aqueles que estão tentados a pecar contra a fé e contra a esperança, para que sejam perseverantes até o fim; 
Eu Vos ofereço a morte dos Vossos sacerdotes, para que sejam Vossos Filhos muito amados por toda a eternidade; 
Eu Vos ofereço todos os sacerdotes, particularmente aqueles para quem a Vossa Presença no Santíssimo Sacramento tornou-se apenas uma questão de rotina, tibieza e indiferença, para que sejam cobertos pela Vossa Infinita Misericórdia.

Jesus, Jesus Amado, tende misericórdia dos Vossos sacerdotes obscurecidos na tibieza, na frialdade dos corações vazios, reféns das seduções do mundo, da letargia da carne e das tentações do demônio, tomai-os para Vós como propriedade Vossa e não permitis que se percam estes Vossos Filhos que para Vós criastes com tanto amor.

(Tradução livre pelo autor do blog da oração 'Praying for Priests', publicada originalmente no blog Vultus Christi)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

QUARTA DE CINZAS


Memento, homo, quia pulvis es, et in pulverem reverteris

'Lembra-te, homem, que és pó e ao pó retornarás!' (Gn 3,19). A Quarta-Feira de Cinzas é o primeiro dia do tempo da Quaresma, quarenta dias antes da Páscoa. Neste dia por excelência refletimos sobre a nossa condição mortal nesta vida e a eternidade de nossas almas na vida futura. Num tempo em que se valoriza tanto a dimensão física, a beleza do corpo, a imposição das cinzas nos desvela a dura realidade do nosso corpo mortal: apenas pó que há de se consumir em cinzas.

Esse dia dá início, portanto,  a um tempo de profunda meditação sobre a nossa condição humana diante da grandeza e misericórdia de Deus. Tempo para fazer da nossa absurda fragilidade, sustentáculos da verdade e da fé; tempo para fazer de nossa pequenez e miséria, um templo de oração e um arcabouço de graças; tempo para transformar a argila pálida de nossos feitos e conquistas, em patamares seguros para a glória de Deus. Um tempo de oração, jejum e caridade. Um tempo de oração, desagravo, conversão, reparação. E um tempo de penitência, penitência, penitência...

A penitência é traduzida por atos de mortificação, seja na caridade silenciosa de um pequeno gesto, seja na determinação silenciosa de um pequeno 'não!' Pequenos gestos: uma visita a um amigo doente, uma palavra de conforto a quem padece ausências, um bom dia ainda nunca ofertado; ou um pequeno 'não': à abstinência de carne ou refrigerante ou ao fumo; abrir mão de ter sempre a última resposta ou para aquela hora a mais de sono; simplesmente dizer não a um livro, a uma música, a uma revista, a um programa de televisão. 

Propague o silêncio, sirva-se da modéstia; invista no anonimato, não se ensoberbeça, pratique a tolerância, estanque a frivolidade, consuma-se na obediência. Lembra-te que és pó e todas as tuas ações, aspirações e pensamentos vão reverberar em ti as glórias de Deus.

Abre-se hoje o Tempo da Quaresma: 'convertei-vos e crede no Evangelho'. Pois é no Evangelho (Mt 6, 1-6.16-18) que Jesus nos dá os instrumentos para a realização de uma autêntica renovação interior: oração, jejum e caridade. Com estas três práticas fundamentais, o tempo de penitência da quaresma é convertido em caminho de santificação ao encontro de Jesus Ressuscitado que vem, na Festa da Páscoa.