Ó Deus Eterno e Pai de bondade que, para nosso conhecimento e consolação, nos deixaste escrita a tua Sagrada Palavra! Preserva minha compreensão de todo erro ao lê-la; livra-me do espírito de soberba para que eu siga fielmente os ensinamentos daquela que nos deste como mestra infalível da verdade, a Santa Igreja Católica, e dá-me um coração dócil e generoso para que eu saiba praticar os teus ensinamentos divinos. Eu te imploro esta graça pelos méritos daquele que é nosso caminho, nossa verdade e nossa vida, Jesus Cristo, teu único Filho e nosso Senhor, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da graça, que contigo e com o Espírito Santo vive e reina, Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.
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terça-feira, 29 de julho de 2025
domingo, 27 de julho de 2025
EVANGELHO DO DOMINGO
'Naquele dia em que gritei, Vós me escutastes, ó Senhor!' (Sl 137)
Primeira Leitura (Gn 18,20-32) - Segunda Leitura (Cl 2,12-14) - Evangelho (Lc 11,1-13)
27/07/2025 - DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM
VIDA DE ORAÇÃO
Jesus em oração. Nos Evangelhos, são inúmeros os exemplos que mostram Jesus em silente oração na intimidade com o Pai. O Filho de Deus Vivo feito homem mostra e reafirma, em sua condição humana, a necessidade da oração contínua e suplicante a Deus. Nestas ocasiões, Jesus se afastava do burburinho dos homens, para rezar com piedade, recolhimento e devoção, no exemplo do modelo da oração perseverante que se eleva da terra e encontra acolhida e reflexos nos céus. É preciso rezar sempre, é preciso sempre rezar bem.
E Jesus ensina aos discípulos a Oração do Pai Nosso, síntese da perfeição da oração cristã. Em São Lucas, os Evangelhos transcrevem uma versão mais resumida da forma integral da oração como expressa por São Mateus (Mt 6, 9-13). Nas suas sete petições, suplicamos e louvamos de forma perfeita a glória e a misericórdia de Deus, assumimos a condição de criaturas necessitadas de alimento físico e espiritual para ascendermos à eternidade com Deus, definitivamente libertados do pecado e de todas as insustentáveis fragilidades da nossa natureza humana.
Rezar bem, com perseverança, insistentemente, oportuna e inoportunamente, como Abraão diante o perdão de Sodoma (Gn 18, 20-32), como Jesus ilustra com a parábola do pedido inoportuno do amigo insistente em plena madrugada: 'Amigo, empresta-me três pães...' (Lc 11,5). Deus não se cansa, Deus não se aflige, Deus não reclama de horários inapropriados ou da falta de cortesias humanas. Deus quer ouvir a nossa oração sempre, a qualquer hora, em qualquer lugar: 'Portanto, eu vos digo: pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá' (Lc 11, 9-10). A oração bem feita é a certeza concreta de que nossas súplicas tocaram o Coração de Deus.
A insistência e a perseverança da oração rendem frutos de graças. O poder da oração agradável a Deus é capaz de remover montanhas, obstáculos julgados intransponíveis, e de superar todos os limites conhecidos da condição humana; é capaz de realizar milagres: 'Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!' (Lc 11, 13). O tempo de Deus conosco é a nossa vida em oração.
sexta-feira, 25 de julho de 2025
O DOGMA DO PURGATÓRIO (CV)
Capítulo CV
Meios de se Evitar o Purgatório - Confiança na Misericórdia de Deus - Palavras de São Francisco de Sales - São Filipe Néri: 'O Paraíso é seu!'
O quinto meio para obter o favor diante do tribunal de Deus é ter grande confiança em sua misericórdia. 'Junto de vós, Senhor, me refugio. Não seja eu confundido para sempre (Sl 30,2). Certamente Aquele que disse ao bom ladrão: 'Hoje estarás comigo no Paraíso', merece bem que tenhamos uma confiança ilimitada nele. São Francisco de Sales confessou que, se considerasse apenas a sua miséria, mereceria o inferno; mas, cheio de humilde confiança na misericórdia de Deus e nos méritos de Jesus Cristo, esperava firmemente compartilhar a felicidade dos eleitos. 'E o que Nosso Senhor faria com sua vida eterna' - disse ele - 'se não fosse dá-la a nós, pobres, pequenas e insignificantes criaturas que somos, que não temos outra esperança senão a sua bondade? Bendito seja Deus! Tenho esta firme confiança no fundo do meu coração, de que viveremos eternamente com Deus. Um dia estaremos todos unidos no Céu. Tenham coragem; em breve estaremos lá!'
'Devemos' - disse ele também - 'morrer entre dois travesseiros: um, da humilde confissão de que não merecemos nada além do inferno; o outro, da confiança total de que Deus, em sua misericórdia, nos dará o paraíso'. Tendo encontrado um dia um senhor que estava cheio de medo excessivo dos julgamentos de Deus, ele lhe disse: 'Aquele que tem um desejo verdadeiro de servir a Deus e evitar o pecado não deve, de forma alguma, permitir-se ser atormentado pelo pensamento da morte e do julgamento. Se eles devem ser temidos, não é com aquele medo que desanima e deprime o vigor da alma, mas com um medo temperado pela confiança e, portanto, salutar. Espere em Deus: quem espera nele nunca será confundido'.
Lemos na Vida de São Filipe Néri que, tendo ido um dia ao Convento de Santa Marta, em Roma, uma das religiosas, chamada Escolástica, desejou falar com ele em particular. Essa senhora estava há muito tempo atormentada por um pensamento de desespero, que não ousava revelar a ninguém; mas, cheia de confiança no santo, resolveu abrir seu coração a ele. Quando ela se aproximou dele, antes que tivesse tempo de dizer uma palavra, o homem de Deus disse-lhe com um sorriso: 'Você está muito enganada, minha filha, ao acreditar que está destinada às chamas eternas: o Paraíso pertence a você!' 'Não consigo acreditar, padre!' - respondeu ela com um profundo suspiro. 'Você não acredita? Isso é loucura da sua parte, você verá. Diga-me, Escolástica, por quem Jesus morreu?' 'Ele morreu pelos pecadores'. 'Então, pois, me diga, você é uma santa? 'Ai de mim!' - respondeu ela chorando, 'sou uma grande pecadora'. 'Portanto, Jesus morreu por você, e certamente foi para abrir o Céu para você. Assim, fica claro que o Céu é seu. Quanto aos seus pecados, você os detesta, não tenho dúvidas'. A boa religiosa ficou comovida com essas palavras. A luz entrou em sua alma, a tentação desapareceu e, a partir daquele momento, aquelas doces palavras - 'o Paraíso é seu!' - a encheram de confiança e alegria.
Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.
domingo, 20 de julho de 2025
EVANGELHO DO DOMINGO
'Senhor, quem morará em vossa casa?' (Sl 14)
Primeira Leitura (Gn 18,1-10a) - Segunda Leitura (Cl 1,24-28) - Evangelho (Lc 10,38-42)
20/07/2025 - DÉCIMO SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM
SÓ UMA COISA É NECESSÁRIA
Em meio às suas muitas viagens e peregrinações, em certa ocasião, Jesus parou para descansar na pequena comunidade de Betânia e ali se hospedou numa casa de propriedade de Marta. Marta era irmã de Maria e Lázaro, família religiosa e de posses, pela qual Jesus nutria grande apreço e amizade. Desta feita, aparentemente já se passara algum tempo sem Jesus ter estado com eles, pois, diante de sua chegada, Maria não arredava pé de sua Santa Presença, ouvindo com admiração e profunda alegria as palavras do Mestre.
Tão absorta e tão entretida estava Maria com a chegada do Senhor, que relegara ao completo esquecimento quaisquer outras tarefas ou atribuições, ainda que motivadas pela chegada de visitante de tal honra. Honra maior do que servi-lo ou preparar-lhe a refeição, era amá-lo, era estar envolvida pela sua presença, era encher o coração de graça e de se deleitar na graça do Senhor. Atitude diversa tivera a sua irmã Marta. Na praticidade e nas exigências das ações humanas, movia-se de esforços concentrados em dar ao Mestre a refeição mais ligeira e mais substanciosa. E, nesse intuito, estava imersa por completo em mil afazeres e preparativos, moldada pelo intento de oferecer uma generosa hospitalidade e propiciar uma acolhida calorosa ao Senhor em sua casa. Santas e gratas intenções do coração humano!
Foi, pois, movida por tais preocupações imediatas, que Marta abordou Jesus, buscando a sua intervenção em induzir Maria a ajudá-la nas tarefas a cumprir: 'Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!' (Lc 10, 40). A hospitalidade e a docilidade da acolhida são afligidas pelas queixas e uma certa admoestação a Jesus no pedido de Marta: 'não importas?'; 'manda'... Diante de Deus, Maria se alimenta do Verbo Encarnado; diante de Deus, Marta se apequena nas suas próprias tribulações humanas.
Jesus vai conduzi-las ambas a si. Com Maria, mediante as palavras e os ensinamentos que o Evangelho não transcreveu. Com Marta, com as palavras que ressoam para todos nós: 'Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária' (Lc 10, 41-42). Todas as ações humanas podem ser belas e santas, desde que comecem no espírito da Santa Presença de Deus. Por Cristo, com Cristo, em Cristo: tudo em Cristo para a glória de Deus! Maria escolheu a melhor parte porque fez a acolhida do Senhor Que Vem primeiro na alma. E esta escolha, ratificada por Jesus, é outra verdade que ressoa para cada um de nós, no agora da vida humana e no depois da eternidade: a melhor parte definitivamente 'não lhe será tirada' (Lc 10, 42).
sábado, 19 de julho de 2025
GALERIA DE ARTE SACRA (XLII)
O afresco Fractio Panis - Partição do Pão - constitui a representação mais antiga conhecida da celebração da Eucaristia, localizada na chamada 'Capela Grega', na Catacumba de Priscila, Via Salaria Nova, em Roma. Inteiramente recuperada e posteriormente descrita nos trabalhos do Padre Joseph Wilpert [Die Malereien der Katakomben Roms (1903)], a obra encimava o arco superior do altar da capela, datada da primeira metade do século II. Na mesma câmara, ao lado do afresco, está representado o sacrifício de Abraão e, no lado oposto, há também uma representação de Daniel na cova dos leões.
O registro histórico dos primórdios do cristianismo é contundente em demonstrar como as representações artísticas da celebração da Eucaristia variaram ao longo do tempo, dependendo do estado do conhecimento e da teologia da época. Nesta abordagem primitiva, a referência explícita está concentrada no ato eucarístico da partição do pão por um personagem imponente postado na extremidade de uma grande mesa: 'Unidos de coração, frequentavam todos os dias o templo; partiam o pão nas casas e tomavam a comida com alegria e singeleza de coração' (At 2,46) ou 'No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para partir o pão...' (At 20,7). Da extremidade da mesa, este personagem, estendendo as mãos para a frente, formaliza a partição do pão diante dos demais convivas reunidos em torno da mesa e representados por 5 homens e uma mulher..
O significado eucarístico da imagem é corroborado por outros acessórios presentes na imagem, Com efeito, mais adiante na mesa, há dois pratos grandes, um contendo dois peixes e o outro, cinco pães. Em cada extremidade da mesa, estão presentes cestos cheios de pães - quatro cestos em uma extremidade e três na outra. Os pães e os peixes sobre a mesa apontam diretamente para a multiplicação milagrosa realizada duas vezes por Cristo. A associação deste milagre com a Santíssima Eucaristia é conhecida não apenas em outros monumentos arqueológicos, mas também na própria literatura cristã primitiva.
sexta-feira, 18 de julho de 2025
TRATADO SOBRE A HUMILDADE (XXVI)
Exame sobre a Humildade para com o Próximo
119. De acordo com a doutrina de São Tomás [2a 2æ, qu. clxi, art. 3], o primeiro ato de humildade consiste em nos submetermos a Deus, e o seguinte é submeter-nos - isto é, humilhar-nos - ao próximo por amor a Deus; como diz o Espírito Santo por meio de São Pedro: 'Sujeitem-se, portanto, a toda criatura humana por amor de Deus' [1Pd 2,13] e o mesmo Espírito Santo nos exorta através de São Paulo a nos superarmos uns aos outros em humildade: 'Com humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo' [Fl 2,3].
120. Ora, como o próximo pode ser seu superior, seu igual ou seu inferior, é certo que você deve praticar a humildade antes de tudo para com seu superior, o que é um preceito, pois, como diz São Pedro, tal é a vontade de Deus: 'Porque assim é a vontade de Deus' [1Pd 2,15]. Você demonstra aos seus superiores a obediência e reverência que sua condição exige? Como você recebe suas repreensões? Você sente aquela humildade de coração para com eles 'servindo de boa vontade' [Ef 6,7] que São Paulo recomenda? Há uma humildade necessária para a imitação de Cristo, 'que se humilhou, tornando-se obediente até a morte' [Fl 2,8]. Às vezes, pode haver uma desculpa de impotência ou inadvertência em não obedecer àqueles que Deus colocou acima de você, mas recusar-se a obedecer é sempre um ato de orgulho indesculpável. Como diz São Bernardo [citando São Tomás]: 'Não estar disposto a obedecer é um esforço orgulhoso da vontade' [2a 2æ, qu. clxi, art. 2].
121. Como você se comporta com os seus iguais? Você deseja estar acima deles, ser preferido a eles, não se contentando com sua própria condição? Toda vez que você sentir esse desejo em seu coração, diga a si mesmo que esse foi o pecado de Lúcifer, que disse em seu coração: 'Eu subirei' [Is 14,14]. E São Tomás ensina que a virtude da humildade consiste essencialmente em moderar esse desejo de nos exaltarmos acima dos outros.
Você se considera acima dos outros por algum dom da natureza, educação ou graça? Isso é verdadeiro orgulho, e você deve subjugá-lo com humildade, considerando-se inferior aos outros, como de fato você pode ser diante de Deus.
122. Como você se comporta com os seus inferiores? É para com eles que você deve exercer a humildade acima de tudo. 'Quanto maior fores' - diz a palavra inspirada - 'tanto mais humilha-te em todas as coisas' [Eclo 3,20]. E embora eles sejam inferiores no que diz respeito à sua condição de vida, lembra-te sempre que diante de Deus eles são teus iguais: 'Sabendo que o Senhor deles e teu está no céu, e que não faz acepção de pessoas' [Ef 6,9].
Dessa forma, você se tornará bondoso e atencioso, como aconselha São Paulo quando diz: 'Consentindo em ser humilde' [Rm 12,16]. Você os comanda com arrogância e imperiosidade, contra a vontade expressa de Deus, que não deseja que você se comporte com seus inferiores 'como senhor'? [1Pd 5,3]. E quando você é obrigado a corrigi-los, você o faz com o espírito adequado: 'Com espírito de mansidão' - como nos ensina o Apóstolo - 'considerando-se a si mesmo, para que também não seja tentado'? [Gl 6,1].
Há também outro tipo de humildade que é falsa e contra a qual somos advertidos pelo Espírito Santo quando Ele diz: 'Não sejas humilde em tua sabedoria, para que, sendo humilhado, não sejas enganado pela loucura' [Eclo 13,11]. Se você possui o talento de ensinar, aconselhar, ajudar e fazer o bem às almas dos outros, e então se retira, dizendo, como se fosse por humildade: 'Não sou bom o suficiente'; ou se você estiver em uma posição em que é seu dever corrigir, punir ou exercer autoridade, e você a abandonar por motivos de humildade, isso não é verdadeira humildade, mas fraqueza e covardia, e no que diz respeito às aparências, devemos observar a regra de Santo Agostinho: 'Para que, enquanto a humildade é observada indevidamente, a autoridade do governante não seja minada entre aqueles que devem ser submissos' [In Reg.].
Por mais que eu deva elogiá-lo por se considerar inferior em mérito a todos aqueles abaixo de você, 'no conhecimento do seu coração' - como diz tão bem São Gregório - isso não deve ser em detrimento do seu cargo, diminuindo a sua superioridade. Pois estar em uma posição superior não o impede de ser humilde de coração; mas essa humildade não deve ser um impedimento para o exercício da sua autoridade. A citação de Santo Agostinho é referida por São Tomás: 'Em segredo, considere os outros como seus superiores, aos quais você é superior em público' [2a 2æ, qu. clxi, art. 6 ad 1].
123. Temos que praticar dois tipos de humildade para com todos os nossos vizinhos: uma é de conhecimento, a outra de afeto. A humildade do conhecimento consiste em reconhecer e manter em nossa alma mais íntima que somos inferiores a todos, e é por isso que Jesus Cristo nos aconselha em seu evangelho a ocupar o lugar mais baixo: 'Sente-se no lugar mais baixo' [Lc 14,10]. Ele não nos diz para nos sentarmos em um lugar no meio, nem em um dos últimos, mas no último; isto é, devemos ter uma opinião de nós mesmos tal que nos consideremos inferiores a todos, como exclama São Bernardo: 'Que você se sente sozinho e em último lugar, não apenas não se colocando à frente dos outros, mas nem mesmo ousando se comparar com os outros' [Serm. 37 in Cant.]. A razão é que você não sabe se aqueles que você considera inferiores a si mesmo, e acima dos quais você se exalta, não são muito mais queridos por Deus e serão colocados no futuro à direita do Altíssimo.
O homem verdadeiramente humilde acredita que todos são melhores do que ele e que ele é o pior de todos. Mas você é realmente humilde assim em sua própria opinião? Você se compara facilmente com este e aquele, mas a quantos você não se prefere com o orgulho do fariseu: 'Eu não sou como os outros homens' [Lc 18,11]. Quando você se prefere aos outros, muitas vezes parece que você fala com certa humildade e modéstia, dizendo: 'Pela graça de Deus, não tenho os vícios de tal pessoa; pela graça de Deus, não cometi tantos pecados graves quanto tal pessoa'. Mas é realmente verdade que você reconhece que deve tudo isso à graça de Deus e que dá a Ele a glória, em vez de a si mesmo? Se você se estima mais do que tal pessoa, e se ela, por sua vez, se estima inferior a você, ela é, portanto, mais humilde do que você e, por essa razão, melhor. Se, pela graça de Deus, você é casto, caridoso e justo, deve se esforçar, pela mesma graça, para ser também humilde. E como você pode ser humilde se tem tanta autoestima, preferindo-se aos outros?
Quando São Paulo nos ensina que, em santa humildade, devemos acreditar que todos os outros são melhores do que nós, ele também nos ensina a maneira de conseguir isso, ou seja, não considerando o bem que temos em nós mesmos, mas o que os outros têm ou podem ter, 'cada um não considerando as coisas que são suas, mas as que são dos outros' [Fl 2,4]. Com base nisso, São Tomás fundamenta esta doutrina de que todo o mal que há no homem e é feito pelo homem vem do homem, e todo o bem que há no homem e é feito pelo homem vem de Deus; e ele diz que, por quatro razões, podemos afirmar sem hesitação que todos são melhores do que nós.
A primeira razão é considerar em nossos corações o que realmente nos pertence, ou seja, a malícia e a maldade, e considerar o que nosso próximo possui o que é de Deus, ou seja, seus inúmeros benefícios. A segunda é considerar alguma qualidade boa em particular que essa pessoa possa ter e que nós não temos. A terceira é reconhecer alguma falha em nós mesmos que a outra pessoa não tem. A quarta é ter um temor sábio de que possa haver algum orgulho secreto dentro de nós que corrompa nossas ações mais sagradas e que possamos estar enganados na opinião que temos de nós mesmos, imaginando-nos virtuosos quando não somos [2a 2æ, qu. clxi, art. 3 in 4; dist. 25, qu. ii, art. 3 ad 2].
('A Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)
terça-feira, 15 de julho de 2025
SOMENTE DEUS CONHECE O FUTURO
A expansão atual da prática da adivinhação popular, sob as mais diversas formas, é incrível... Sem dúvida, os procedimentos antigos – o exame das entranhas das vítimas, o voo dos pássaros, o murmúrio do vento na floresta ou os padrões formados pela água fervente em uma fonte – desapareceram para sempre. Mas há o baralho de cartas, ou o estudo das linhas da palma, a interpretação da borra de café e muitos outros procedimentos, cada um tão válido quanto o outro. E há, como nos tempos antigos, a astrologia, considerada a forma mais erudita de discernir os destinos humanos. Astrólogos ainda existem hoje. E eles afirmam – não sem imprudência – que têm provas convincentes do valor de suas previsões.
... Para um crente, o que torna evidente a 'mentira' da adivinhação é a certeza de que só Deus conhece o futuro. Como Ele o conhece? Como pode aquilo que ainda não existe ser objeto de conhecimento para Deus, quando a liberdade humana está em jogo? E como essa presciência divina é compatível com a nossa liberdade? Todos sabem que isso constitui um dos problemas mais difíceis da metafísica geral. Expliquemos brevemente o que nos parece ser a única solução concebível.
Nosso mundo não é o único possível. Há um número infinito de mundos possíveis, todos diferentes uns dos outros. Mas a própria possibilidade deles advém do fato de terem sido carregados desde toda a eternidade na Mente do Criador. E nessa Mente, isto é, no Verbo Divino, esses mundos se desenvolvem idealmente na natureza, com suas leis e também com o jogo eventual das liberdades criadas. Quando Deus decreta que tal mundo existirá, isto é, será criado por Ele, em preferência a outros, as condições desse mundo não são alteradas por isso, caso contrário, não seria o mundo desejado e visto por Deus. Atos livres serão livres nele, e ainda assim Deus os terá visto e os vê no momento em que ocorrem. É nesse sentido que Deus conhece o futuro.
Mas, como Ele é o único que carrega eternamente os mundos em sua mente, Ele é evidentemente o único que conhece o futuro. Tentar prever o futuro, fora dos casos milagrosos de profecia divina, é, portanto, necessariamente diabólico, no sentido de que é uma usurpação de Deus. Segue-se que nenhum poder de adivinhação foi colocado no jogo de cartas, nas borras de café, nas linhas da palma da mão, nas linhas traçadas pelo sal na clara do ovo, nem nas conjunções dos planetas e estrelas no momento do nascimento de um ser humano. O que é prescrito, portanto, em astrologia ou horóscopo, é tão somente uma fraude ou superstição.
(Excertos da obra 'A presença de Satanás no Mundo Moderno', de Monsenhor Cristiani, 1959)
domingo, 13 de julho de 2025
EVANGELHO DO DOMINGO
'Humildes, buscai a Deus e alegrai-vos: o vosso coração reviverá!'
(Sl 68)
Primeira Leitura (Dt 30,10-14) - Segunda Leitura (Cl 1,15-20) - Evangelho (Lc 10,25-37)
13/07/2025 - DÉCIMO QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM
O BOM SAMARITANO
'Quem é o meu próximo?' (Lc 10, 29). Diante da pergunta capciosa do mestre da lei, Jesus não responde diretamente. Era preciso um ensinamento maior: para quem pratica a caridade, o próximo são todas as outras pessoas; para quem se exalta na malícia do pecado, o próximo é algo tão intangível quanto a enorme soberba do douto perscrutador do evangelho deste domingo, tão cheio de artimanhas, tão farto de arrogância.
E Jesus, então, lhes conta uma pequena história: 'Certo homem descia de Jerusalém para Jericó...' (Lc 10, 30). Um certo homem... provavelmente um judeu como eles, deslocando-se de Jerusalém para Jericó, a cerca de 30 km e em altitude bem mais baixa que Jerusalém. Sem dúvida, tratava-se de um homem de posses e descuidado de sua segurança, pois viajava sozinho. E eis que, então, o homem é assediado por assaltantes, tem os seus bens saqueados e, mais que isso, é espancado e ferido brutalmente, até ser abandonado semimorto à beira da estrada.
E no local da encenação deste drama comovente, vão passar três personagens singulares: um sacerdote, um levita e um samaritano. Os dois primeiros, anestesiados pelos seus interesses e preocupações mundanas e imbuídos do frio calculismo dos incômodos e perturbações que uma tal ação de socorro poderia lhes causar, vão passar insensíveis ao largo do homem ferido. Muito diferente será a reação do viajante samaritano que, não apenas pára para socorrer o pobre homem, como alivia as suas dores e, mais ainda, assume a responsabilidade pelo completo restabelecimento da sua saúde e pela cura dos seus ferimentos.
'Quem é o meu próximo?' não foi, afinal, a pergunta certa feita pelo mestre da lei, o mesmo que antes dera resposta correta a outra pergunta de Jesus: 'Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!' (Lc 10, 27). 'Amar o próximo como a ti mesmo' significa em todos 'amar a Deus com todo o coração e com toda a alma'. Todos são próximos de todos. Os dons e os talentos de cada um devem ser compartilhados com todos. E esta partilha se faz com as mãos estendidas da humildade e da misericórdia. Este é o legado de Jesus para nós: 'Vai e faze a mesma coisa' (Lc 10, 37). Fazendo a mesma coisa, todos os outros serão apenas um: o próximo, que nos coloca dentro do Coração de Deus!
quinta-feira, 10 de julho de 2025
O DOGMA DO PURGATÓRIO (CIV)
Capítulo CIV
Meios de se Evitar o Purgatório - Os Sacramentos - Efeitos Espirituais e Medicinais da Extrema Unção [Unção dos Enfermos]
Indicamos, como quarto meio de satisfação neste mundo, o uso dos sacramentos, e especialmente a recepção santa e cristã dos últimos sacramentos na aproximação da morte.
O Divino Mestre nos adverte no Evangelho para nos prepararmos bem para a morte, a fim de que ela seja preciosa aos seus olhos e a coroação digna de uma vida cristã. Seu amor por nós faz com que Ele deseje ardentemente que deixemos este mundo inteiramente purificados, despojados de toda dívida para com a Justiça Divina; e que, ao comparecermos diante de Deus, sejamos considerados dignos de ser admitidos entre os eleitos, sem necessidade de passar pelo Purgatório. É para esse fim que Ele normalmente nos envia as dores da doença antes da morte e que instituiu os sacramentos, para nos ajudar a santificar os nossos sofrimentos e nos dispor mais perfeitamente a comparecer diante de sua face.
Os sacramentos que recebemos em tempo de doença são três: a Confissão, que podemos receber assim que desejarmos; o Santo Viático e a Extrema Unção, que podemos receber assim que houver perigo de morte. Esta circunstância do perigo de morte deve ser entendida no sentido amplo da palavra. Não é necessário que haja um perigo iminente de morte e que toda a esperança de recuperação esteja perdida; nem mesmo é necessário que o perigo de morte seja certo; basta que seja provável e prudentemente presumido, mesmo quando não há outra enfermidade além da velhice.
Os efeitos dos sacramentos, bem recebidos, correspondem a todas as necessidades, a todos os desejos legítimos dos doentes. Esses remédios divinos purificam a alma de seus pecados e aumentam seu tesouro de graça santificante; fortalecem o doente e o capacitam a suportar seus sofrimentos com paciência, a triunfar sobre os ataques do demônio no último momento e a fazer um generoso sacrifício de sua vida a Deus. Além disso, além dos efeitos que produzem sobre a alma, os sacramentos exercem uma influência salutar sobre o corpo. A extrema-unção, em especial, conforta o doente e alivia os seus sofrimentos; e até mesmo restaura sua saúde, se Deus julgar conveniente para sua salvação.
Os sacramentos são, portanto, para os fiéis, uma ajuda imensa, um benefício inestimável. Não é de se surpreender, portanto, que o inimigo das almas tenha como objetivo principal privá-las de um bem tão grande. Não podendo roubar os sacramentos da Igreja, ele se esforça para mantê-los longe dos doentes, seja fazendo com que eles os negligenciem completamente, seja fazendo com que os recebam tão tarde que percam todos os seus benefícios. Ai de mim! Quantas almas se deixam levar por essa armadilha! Quantas almas, por não receberem prontamente os sacramentos, caem no inferno ou no abismo mais profundo do purgatório!
Para evitar tal desgraça, a primeira preocupação de um cristão, em caso de doença, deve ser pensar nos sacramentos e recebê-los o mais rápido possível. Dizemos que ele deve recebê-los prontamente, enquanto ainda está em posse do uso de suas faculdades, e insistimos nessa circunstância pelas seguintes razões:
(i) Ao receber os sacramentos prontamente, o paciente, ainda com forças suficientes para se preparar adequadamente, obtém todos os frutos deles.
(ii) Ele precisa receber o mais rápido possível a assistência divina, a fim de suportar os seus sofrimentos, vencer a tentação e santificar o tempo precioso da doença.
(iii) É somente recebendo os óleos sagrados a tempo que podemos experimentar os efeitos de uma cura corporal.
E devemos aqui observar um ponto importante: o remédio sacramental da santa unção produz seu efeito sobre o doente da mesma maneira que os remédios médicos. Assemelha-se a um medicamento requintado que auxilia a natureza, na qual ainda se supõe haver um certo vigor; de modo que a extrema-unção não pode exercer uma virtude medicinal quando a natureza tornou-se muito fraca e a vida está quase extinta. Assim, um grande número de pessoas doentes morre porque adia a recepção dos sacramentos até estar em estado terminal; enquanto não é incomum ver aqueles que se apressam em recebê-los se recuperarem totalmente.
Santo Afonso nos fala de um doente que adiou receber a Extrema Unção até que fosse quase tarde demais, pois morreu pouco depois. Deus revelou, diz o santo doutor, que se ele tivesse recebido esse sacramento mais cedo, teria recuperado a saúde. No entanto, o efeito mais precioso dos últimos sacramentos é aquele que eles produzem na alma; eles a purificam dos resquícios do pecado e tiram, ou pelo menos diminuem, sua dívida de punição temporal; eles a fortalecem para suportar o sofrimento de maneira santa; eles a enchem de confiança em Deus e a ajudam a aceitar a morte em união com a de Jesus Cristo.
Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.
terça-feira, 8 de julho de 2025
QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (XIX/Final)

É impossível ter um amor verdadeiro e sincero por Deus sem também amar tudo o que está relacionado com Ele; e quanto mais algo estiver relacionado com Deus, maior deve ser o nosso amor por isso. Ora, todos aqueles que estão em uma religião falsa, embora separados da comunhão da Igreja, têm, em muitos outros aspectos, uma conexão muito próxima com Deus, pois são suas criaturas, obra de suas mãos, feitas para sua glória; são suas imagens, feitas à semelhança e semelhança de Deus; são redimidos pelo sangue de Jesus, que morreu pela humanidade; são criados para serem eternamente felizes com Ele no céu; pois Deus não deseja a morte do pecador, mas sim que ele se converta e viva.
Todas estas considerações mostram que somos obrigados a ter um amor sincero e fervoroso por eles, e um zelo caridoso pela sua salvação eterna e, consequentemente, a ter a mais terna simpatia e compaixão por eles, considerando o perigo em que se encontram as suas almas; e esta é a disposição radical e essencial dos nossos corações, que somos obrigados a ter para com toda a humanidade, sem exceção. Temos um belo exemplo disso em São Paulo, que expressa assim a disposição de seu coração para com seus irmãos, os judeus incrédulos: 'Falo a verdade em Cristo, não minto, minha consciência me testemunha no Espírito Santo, que tenho grande tristeza e pesar em meu coração: pois eu desejava ser anátema' (isto é, uma maldição) de Cristo, por meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne' (Rm 9,1-3). Agora, esse amor sincero e zelo pela salvação deles deve se manifestar principalmente nos seguintes pontos:
(i) 'Estar sempre prontos para satisfazer a todos os que nos pedirem razão da esperança que há em nós' (1Pd 3,15), isto é, estar sempre dispostos e prontos para explicar nossa santa fé a eles e mostrar-lhes os fundamentos sobre os quais nossa fé está construída, sempre que algum deles nos pedir para fazê-lo. Isso deve ser feito com toda a modéstia e mansidão para com eles, sem entrar em disputas inúteis, nem manter contendas com calor e acrimônia, mesmo que eles sejam tão irracionais no que dizem contra nós, mas dando conta da esperança que há em nós com mansidão e caridade, e deixando o resto à disposição da Divina Providência; pois a Escritura diz: 'Rejeita as discussões tolas e absurdas, visto que geram contendas. Não convém a um servo do Senhor altercar; bem ao contrário, seja ele condescendente com todos, capaz de ensinar, paciente em suportar os males. É com brandura que deve corrigir os adversários, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento e o conhecimento da verdade, e voltem a si, uma vez livres dos laços do demônio, que os mantém cativos e submetidos aos seus caprichos'. (2 Tm 2,23-26) e 'Procedei com sabedoria no trato com os de fora. Sabei aproveitar todas as circunstâncias. Que as vossas conversas sejam sempre amáveis, temperadas com sal, e sabei responder a cada um devidamente' (Cl 4,5-6).
(ii) Ser sincero em orar a Deus pela conversão e salvação deles é como expressamente ordenado nas Escrituras: 'Desejo, portanto, antes de tudo, que súplicas, orações, intercessões e ações de graças sejam feitas por todos os homens... pois isso é bom e agradável aos olhos de Deus, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade' (1Tm 2,1.3-4). Temos um belo exemplo disso no mesmo santo apóstolo, que, cheio de caridade pela salvação dos judeus, tem pena do zelo equivocado deles por seus próprios erros e derrama as orações de seu coração por eles: 'Irmãos' - diz ele - 'a vontade do meu coração e a minha oração a Deus é pela salvação deles; pois lhes dou testemunho de que têm zelo por Deus, mas não segundo o discernimento' (Rm 10, 1-2).
(iii) Dar-lhes bom exemplo, pelo exercício de boas obras e pela prática de todas as virtudes cristãs. Nada é mais eficaz para dar aos outros uma opinião favorável de nossa santa religião do que uma vida boa. Este é um argumento vivo que ensina os mais ignorantes e convence os mais obstinados. E, por isso, encontramos isso repetidamente ordenado nas Escrituras com o propósito de edificar aqueles que estão de fora e estimulá-los a glorificar a Deus. 'Assim brilhe a vossa luz' - diz o próprio Jesus Cristo - 'diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai celestial' (Mt 5,16). E São Pedro se expressa assim sobre este importante dever: 'Caríssimos, rogo-vos que, como estrangeiros e peregrinos, vos abstenhais dos desejos da carne, que combatem contra a alma. Comportai-vos nobremente entre os pagãos. Assim, naquilo em que vos caluniam como malfeitores, chegarão, considerando vossas boas obras, a glorificar a Deus no dia em que ele os visitar... porque esta é a vontade de Deus que, praticando o bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos' (1Pd 2, 11-12.15). São Paulo também exige a mesma coisa, dizendo: 'Em tudo, mostre-se um exemplo de boas obras, na doutrina, na integridade, na seriedade; que a sua fala seja sã, de modo a não ser censurada, para que o adversário seja confundido, não tendo a dizer de nós mal algum (Tt 2,7-8).
(iv) Por último, se, apesar de tal comportamento piedoso e edificante, perseguições e provações forem permitidas pela Divina Providência para nos atingir por seus próprios propósitos sábios e justos, se formos caluniados falsamente, se as verdades de nossa santa religião forem difamadas e nossa doutrina deturpada, não devemos nos surpreender nem desanimar; mas lembrar que essa foi a maneira como o mundo tratou nosso próprio Senhor e Mestre, que predisse que os seus fiéis seguidores seriam tratados da mesma maneira. São Pedro também nos assegura que este é um dos sinais daqueles que seguem seitas de perdição, falar mal da verdade, 'por meio dos quais' - diz ele - 'o caminho da verdade será difamado' (2Pd 2,2) e São Judas acrescenta: 'que blasfemam contra tudo o que ignoram' (Jd 1,10).
Tais provações não devem diminuir, nem mesmo no menor grau, nossa sincera caridade por eles e nosso desejo de sua salvação; mas, ao contrário, devem aumentar nossa piedade e compaixão por suas pobres almas e nos tornar mais sinceros em nossas orações por eles, imitando nosso abençoado Salvador, que, na própria cruz, orou por seus perseguidores: 'Pai' - disse Ele - 'perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem'. Acima de tudo, nunca devemos ter o menor pensamento de vingança, 'não retribuindo mal com mal, nem injúria com injúria, mas, pelo contrário, abençoando; pois para isso fostes chamados, para que herdeis a bênção' (1Pd 3,9). Pelo contrário, considerando nossas provações como dispostas e ordenadas pela mão de Deus, 'sem o qual nem um cabelo de nossa cabeça pode cair em terra', devemos 'regozijar-nos por sermos considerados dignos de sofrer afronta por causa de Cristo' (At 5,41).
Pois 'se também sofrerdes por causa da justiça, sois bem-aventurados... pois é melhor fazer o bem (se tal for a vontade de Deus) e sofrer do que fazer o mal' (1Pd 3,14.17). E, portanto, 'Caríssimos, não vos perturbeis no fogo da provação, como se vos acontecesse alguma coisa extraordinária. Pelo contrário, alegrai-vos em ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que vos possais alegrar e exultar no dia em que for manifestada sua glória. Se fordes ultrajados pelo nome de Cristo, bem-aventurados sois vós, porque o Espírito de glória, o Espírito de Deus repousa sobre vós. Que ninguém de vós sofra como homicida, ou ladrão, ou difamador, ou cobiçador do alheio. Se, porém, padecer como cristão, não se envergonhe; pelo contrário, glorifique a Deus por ter esse nome' (1Pd 4,12-16), lembrando-se sempre das palavras de nosso Senhor: 'Bem-aventurados sois quando os homens vos injuriarem e perseguirem, e disserem falsamente todo mal contra vós por minha causa; alegrai-vos e exultai, pois será grande a vossa recompensa nos céus' (Mt 5,12).
(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)
domingo, 6 de julho de 2025
EVANGELHO DO DOMINGO
'Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira' (Sl 65)
Primeira Leitura (Is 66,10-14) - Segunda Leitura (Gl 6,14-18) - Evangelho (Lc 10,1-12.17-20)
06/07/2025 - DÉCIMO QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM
APOSTOLADO E ORAÇÃO
Eis a missão: levar a Boa Nova do Reino de Deus a todas as criaturas. Eis a síntese do apostolado cristão para os homens de sempre: anunciar o Evangelho de Cristo ao mundo inteiro. Ser missionário e se fazer apóstolo, aí estão as marcas de identidade de um cristão no mundo. De todos os cristãos: os primeiros doze apóstolos, os outros setenta e dois, os cristãos de todos os tempos, eu e você. Porque 'a messe é grande e os trabalhadores são poucos' (Lc 10,2) e a nossa oração sincera é semente profícua que faz brotar novos apóstolos e novos missionários no Coração do Senhor da Messe.
Como cordeiros entre lobos, como emissários da paz entre promotores das guerras, os cristãos estão no mundo para torná-lo um mundo cristão. O apostolado começa com o bom exemplo, expande-se com o amor ao próximo, multiplica-se pela caridade. Não é preciso levar alforge ou vestimenta especial, apenas a entrega complacente à Santa Vontade de Deus. É imperioso o serviço da vocação; os frutos pertencem aos ditames da Providência.
O reino de Deus deve ser proclamado para todos, em todos os lugares, mas a Boa Nova será recebida com jubilosa gratidão num lugar ou indiferença profunda em outro; aqui vai gerar frutos de salvação, mais além será pedra de tropeço. Em outros lugares ainda, será rejeitada simplesmente e, nestes, a sentença não será velada: 'Até a poeira de vossa cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós' (Lc 10,11).
Operários da grande messe do Senhor, nós, os cristãos, não podemos dispor das comodidades do mundo para vivermos a planura das alegrias efêmeras das calmarias. Não há amor sem sofrimento. Não há graça corrompida pelo respeito humano. Não há frutos de salvação em palavras amenas e solícitas. Deus nos quer valorosos combatentes da fé, pregadores perseverantes da Verdade Plena. À luz do Evangelho de Cristo, somos o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5,13-14). E ainda que sejamos capazes de domar a natureza e realizar prodígios, a felicidade cristã não está nos eventos temporais aqui na terra, mas na Eterna Glória daqueles que souberam combater o 'bom combate' (2Tm 4,7) e os quais Jesus nomeou como santos de Deus: 'vossos nomes estão escritos no céu' (Lc 10,20).
terça-feira, 1 de julho de 2025
TRATADO SOBRE A HUMILDADE (XXV)
113. Quando você tenta desobedecer a algum dos mandamentos divinos, como você se comporta? É especialmente no momento da tentação que a humildade é necessária. Toda vez que o diabo o tenta a cometer algum pecado grave, ele o tenta a se revoltar contra Deus, a desprezá-lo e a ofendê-lo.
114. Como você submete sua vontade à vontade de Deus nos momentos de adversidade, que são especialmente aqueles em que devemos nos humilhar, como nos diz o Espírito Santo pela boca de São Pedro: 'Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus' [1Pd 5,6]? Como todas as tribulações deste mundo são ordenadas por Deus, e as suas lhe são enviadas por Ele especialmente para humilhar o seu orgulho e mantê-lo na devida humildade, você realmente as recebe com a intenção de corresponder à intenção de Deus, dizendo com o Profeta: 'É bom para mim que Tu me tenhas humilhado' [Sl 118, 71]?
O melhor meio de obrigar Deus a nos livrar de nossas tribulações é nos humilharmos, e o rei Davi testemunha isso por sua própria experiência: 'estava abismado na aflição e na ansiedade ... e o Senhor me salvou' [Sl 114,3.6]. Você já praticou esse meio de se humilhar em suas tribulações, protestando que as mereceu e as merece, mesmo que seja apenas por causa do seu orgulho? Deus envia adversidades para humilhá-lo, e Ele o humilha para que, a partir dessa humilhação, você possa aprender a humildade. Mas que fruto de humildade você colheu de todas as adversidades que teve até agora? Você pode dizer, como Moisés disse aos hebreus: 'Nós nos alegramos pelos dias em que Tu nos humilhaste' [Sl 89,15]?
115. Se você tem alguma qualidade boa, seja física ou espiritual, e se você fez alguma boa obra, você reconhece que tudo isso vem de Deus, atribuindo toda a glória a Deus como devida somente a Ele? 'Ao único Deus sejam dados honra e glória' [2Tm 1,17]. Nisso, diz São Paulo, discernimos o espírito de Deus, que é o espírito da humildade, do espírito do mundo, que é o espírito do orgulho, porque quem tem o espírito de Deus reconhece que tudo o que tem é simplesmente um dom de Deus: 'Agora, não recebemos o espírito do mundo, mas o espírito que vem de Deus, para que possamos conhecer as coisas que nos são dadas por Deus' [1Cor 2,12]. Mas de que serviria esse reconhecimento de que tudo vem de Deus, a não ser para referir todas as coisas a Ele e agradecer-lhe? Você agradece a Deus pelas muitas bênçãos que recebe constantemente dele - do fundo do seu coração, com verdadeira humildade, acreditando ser tão miserável que cairia em todos os pecados, e até mesmo no próprio inferno, se Deus não viesse em seu auxílio? 'Se o Senhor não me socorresse, minha alma em breve teria habitado no inferno' [Sl 93,17].
116. Nada é tão contrário à verdadeira humildade quanto buscar a própria estima no exercício das boas obras. Você às vezes faz o bem por motivos de respeito humano, a fim de ser visto, estimado? 'Cuidado' - diz o senhor - 'para não praticar a sua justiça diante dos homens, para ser visto por eles' [Mt 6, 1]. Você está simplesmente roubando a glória de Deus quando, dos dons que Ele lhe deu, reserva parte da glória para si mesmo. Examine as suas intenções; elas são puramente direcionadas à glorificação de Deus?
E admitindo que, ao fazer o bem, você não busca a estima dos homens, você às vezes faz isso para não perder as boas graças e favores dos outros, conformando-se ao espírito deles, que é viver de acordo com os costumes do mundo, esquecendo-se de Deus? Isso também é amar a glória do mundo mais do que a glória de Deus, e é uma falha que se opõe grandemente à humildade, e que foi condenada naqueles homens importantes entre os judeus que acreditavam em Cristo, mas por medo dos fariseus e por respeito à opinião deles não ousavam confessá-lo, 'porque amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus' [Jo 12,43].
117. Você tem talvez uma consciência tímida por causa de muitos escrúpulos? Se for esse o caso, examine-se e provavelmente descobrirá que a verdadeira razão dos seus escrúpulos reside no seu amor próprio, isto é, no seu orgulho. Você é indócil e não sabe como se submeter ao que seus diretores lhe dizem para fazer; e São Tomás ensina que isso é um efeito do orgulho, 'porque a docilidade é a bela filha da humildade e dispõe a alma à obediência' [2a 2æ, qu. xlviii; et qu. xlix, art. 3 ad 4]. Como é que, quando lemos a vida dos santos, não encontramos que eles eram agitados por esses escrúpulos? Os santos eram humildes, e onde há humildade, há também tranquilidade de espírito. Sabemos que muitas pessoas escrupulosas foram curadas de seus escrúpulos, que eram considerados quase incuráveis, por nenhum outro meio senão dizendo a Deus com todo o coração: 'Eu me acuso de orgulho; lamento meu orgulho e peço a vossa ajuda para corrigir meu grande orgulho'.
Mas se você perceber que é escrupuloso menos por indocilidade do que por covardia, peça conselho mais uma vez a São Tomás, que ensina que essa covardia também vem do orgulho, porque ao julgar nossa própria suficiência, colocamos nosso próprio julgamento em oposição ao dos outros [2a 2æ, qu. cxxxiii. art. 1]. Você deseja desfrutar da paz de uma consciência tranquila e também de certos consolos espirituais que são uma grande ajuda para fazer de boa vontade tudo o que é necessário para levar uma vida devota e ser cada vez mais fervoroso no serviço de Deus? Não posso lhe dar melhor conselho do que este: Entregue-se à humildade e Deus encherá a sua alma de consolo inefável. 'E meu espírito se alegrou' - diz a Santíssima Virgem em seu cântico; e ela acrescenta, para sua instrução, que essa exultação lhe foi enviada por Deus por causa de sua humildade: 'Porque Ele considerou a humildade da sua serva' [Lc 1,48].
118. Se você tem um desejo sincero de salvar a sua alma, deve tomar os meios que Deus ordenou para você, e o principal e mais essencial deles é a humildade, como mostra a Sagrada Escritura: 'Porque Tu salvarás o povo humilde' [Sl 33,10]. 'E Ele salvará os humildes de espírito' [Sl 17,28]. 'A glória sustentará os humildes de espírito' [Pv 29,23]. E como você estima essa humildade? Como você a pratica? Com que fervor você a pede a Deus? Você a considera um preceito ou apenas um conselho que você é livre para escolher ou rejeitar à vontade? A entrada no Paraíso não é apenas estreita, mas também baixa, por isso Jesus Cristo disse: 'A menos que vocês se tornem como crianças, não poderão entrar no reino dos Céus' [Mt 18,3]. E somente aquele que 'se humilhar' poderá entrar nesse reino [Mt 18,4].
Há sempre perigo na jornada rumo ao nosso lar celestial para aqueles que mantêm a cabeça erguida e é mais seguro mantê-la baixa. Esta é uma regra geral para todos. São João Crisóstomo nos adverte: 'Quando nosso Senhor disse: ‘Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração’, Ele não se dirigia apenas aos monges, mas a todas as classes de homens' [Lib. 3]. A humildade de coração não foi exigida por Jesus Cristo apenas aos religiosos, mas também aos seculares, fossem eles quem fossem e sem qualquer exceção.
('A Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)
domingo, 29 de junho de 2025
EVANGELHO DO DOMINGO
'De todos os temores me livrou o Senhor Deus' (Sl 33)
Primeira Leitura (At 12,1-11) - Segunda Leitura (2Tm 4,6-8.17-18) - Evangelho (Mt 16,13-19)
29/06/2025 - SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO
AS COLUNAS DA IGREJA
Neste domingo, a liturgia católica celebra a Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, primícias da fé, fundamentos da Igreja. De toda a fundamentação bíblica do primado de Pedro, é em Mt 16, 18-19 que aflora, mais cristalina do que nunca, a água viva que brota e transborda das Palavras Divinas as primícias do papado e da Igreja, nascidos juntos com São Pedro: 'Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la' (Mt 16,18). Esta será a Igreja Militante, a Igreja Temporal, A Igreja da terra, obra temporária a caminho da Igreja Eterna do Céu. Mas ligada a Pedro e aos sucessores de Pedro, sumos pontífices herdeiros da glória, poder e realeza de Cristo.
(Cristo entrega as chaves a São Pedro - Basílica de Paray-le-Monial, França)
E Jesus vai declarar, em seguida e sem condicionantes, o poder universal e sobrenatural da Santa Igreja Católica Apostólica e Romana: 'Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mt 16,19). Ligado ou desligado. Poder absoluto, domínio universal, primado da verdade, Cátedra de Pedro. Na terra árida de algum ermo qualquer da 'Cesareia de Felipe', erigiu-se naquele dia, pela Vontade Divina, nas sementeiras da humanidade pecadora, a Santa Igreja, a Videira Eterna.
Com São Paulo, a Igreja que nasce, nasce com um gigante do apostolado e se afirma como escola de salvação universal. Eis aí a síntese do espírito cristão levado à plenitude da graça: Paulo se fez 'outro Cristo' em Roma, na Grécia, entre os gentios do mundo. No apostolado cristão de São Paulo, está o apostolado cristão de todos os tempos; a síntese da cristandade nasceu, cresceu e se moldou nos acordes pautados em suas epístolas singulares proferidas aos Tessalonicenses, em Éfeso ou em Corinto. Síntese de fé, que será expressa pelas próprias palavras de São Paulo: 'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé' (2Tm 4,7).
(São Paulo Apóstolo - Basílica de Alba, Itália)
São Pedro foi o patriarca dos bispos de Roma, São Paulo foi o patriarca do apostolado cristão. Homens de fé e coragem extremadas, foram as colunas da Igreja. São Pedro morreu na cruz, São Paulo morreu por decapitação pela espada. Mártires, percorreram ambos os mesmos passos da Paixão do Senhor. E se ergueram juntos na Glória de Deus pela Ressurreição de Cristo.
sábado, 28 de junho de 2025
QUESTÕES SOBRE A DOUTRINA DA SALVAÇÃO (XVIII)

Nada pode contribuir mais eficazmente para produzir as disposições mais necessárias e salutares em seus corações, tanto para com Deus, quanto para com os outros e para com aqueles que estão separados de sua comunhão, do que a consideração frequente e séria de sua vocação para a fé em Cristo e para a comunhão daquela Igreja, fora da qual não há salvação.
No que diz respeito a Deus, não pode deixar de inspirar-lhes os mais ternos sentimentos de afeto, amor e gratidão para com Ele, os que se veem tão altamente favorecidos pela sua infinita bondade, sem qualquer mérito de sua parte, e em preferência a tantos milhares de outros que são deixados na ignorância e no erro. Eles nunca devem deixar de louvá-lo e adorá-lo por um favor tão grande e inestimável, e devem ser assíduos em dar provas da sinceridade de sua gratidão e amor a Ele, por meio da obediência contínua aos seus mandamentos. Quão agradáveis são essas coisas ao Deus Todo-Poderoso, e o quanto Ele as exige daqueles a quem Ele tanto favoreceu, é evidente por sua própria Palavra Divina, onde somos frequentemente lembrados da grandeza da graça de nossa vocação e urgentemente ordenados a retribuir adequadamente a Deus por ela, por meio dessas virtudes sagradas.
'Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo' - diz São Paulo - 'que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos... Por isso também eu, tendo ouvido falar da vossa fé no Senhor Jesus, e do amor para com todos os cristãos, não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações. Rogo ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê um espírito de sabedoria que vos revele o conhecimento dele; que ilumine os olhos do vosso coração, para que compreendais a que esperança fostes chamados, quão rica e gloriosa é a herança que ele reserva aos santos, e qual a suprema grandeza de seu poder para conosco, que abraçamos a fé. É o mesmo poder extraordinário que ele manifestou na pessoa de Cristo' (Ef 1,3-4.15-20). Vede com que ardor ele deseja que tenhamos uma noção adequada dessa grande misericórdia! E um pouco depois, descrevendo a grandeza desse favor e o retorno que ele exige de nós, ele diz: 'porquanto é por ele que ambos temos acesso junto ao Pai num mesmo espírito. Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus (Ef 2,18-20). E ainda: 'Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas' (Ef 5,8-11). Em outro texto, nos diz: 'para que vos comporteis de maneira digna do Senhor, procurando agradar-lhe em tudo... Sede contentes e agradecidos ao Pai, que vos fez dignos de participar da herança dos santos na luz. Ele nos arrancou do poder das trevas e nos introduziu no Reino de seu Filho muito amado' (Cl 1,10.12-13). E, novamente, escrevendo a Tito, ele diz: 'É fiel esta palavra, e estas coisas quero que afirmes constantemente, para que os que crêem em Deus se esforcem por praticar boas obras' (Tt 3,8).
Por fim, para mostrar a necessidade absoluta dessa correspondência grata da nossa parte com a grande bondade de Deus para conosco, ele nos assegura que somente sob a condição de perseverarmos em nossa santa fé e na esperança de nosso chamado, podemos esperar a recompensa eterna de sermos apresentados sem mancha diante de Deus: 'Considerando que' - 'diz ele - 'algumas vezes vocês estavam alienados e eram inimigos em sua mente, em más obras; mas agora Ele os reconciliou no corpo da sua carne, para apresentá-los santos, imaculados e irrepreensíveis diante dele, se assim continuarem na fé, fundamentados e firmes, e inabaláveis no Evangelho que ouviram, que é pregado em toda a criação que está debaixo do céu' (Cl 1,21-23). São Pedro também descreve a graça da nossa vocação nos termos mais belos e assegura-nos que o próprio desígnio de Deus ao nos chamar era que pudéssemos retribuir-lhe adequadamente, proclamando os seus louvores. 'Vós sois uma geração eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, um povo adquirido, para que proclameis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua admirável luz' (1Pd 2,9). Que grande obrigação tudo isso nos impõe de viver uma vida boa e de nos esforçarmos em todas as coisas para fazer a vontade de Deus, especialmente quando o próprio Cristo diz expressamente: 'Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos céus'!
P. 40. Quais são as disposições e o comportamento que esta inestimável bondade de Deus exige dos membros da sua Igreja uns para com os outros?
São Paulo descreve-nos isso de forma muito clara, da seguinte maneira: 'Exorto-vos, pois, – prisioneiro que sou pela causa do Senhor –, que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados, com toda a humildade e amabilidade, com grandeza de alma, suportando-vos mutuamente com caridade. Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz. Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vossa vocação a uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em todos' (Ef 4,1-6). Vejam aqui com que cores fortes ele mostra que a humildade, a mansidão e o amor fraternal são virtudes essenciais à nossa vocação, e que tudo o que pertence à nossa santa religião exige que vivamos na prática constante delas; que estamos todos unidos em um só corpo, a Igreja de Cristo animada por um só espírito, o espírito de Jesus, que guia e conduz esse corpo a toda a verdade; que somos chamados a uma só esperança da nossa vocação, a posse do próprio Deus na glória eterna; que todos servimos a um único Senhor, nosso Senhor Jesus Cristo; que todos professamos uma única fé, aquela santa fé que Ele revelou à humanidade, sem a qual é impossível agradar a Deus; que todos somos santificados por um único batismo; que todos servimos a um único Deus; que todos somos filhos de um único Pai; e que este Pai celestial está sempre presente conosco, e toda a nossa conduta está nua e aberta diante Dele. Quão impróprio, então, deve ser aos olhos deste nosso Pai, ver-nos entretendo discórdias ou má vontade entre nós! E quão indigno de nossa vocação e desonroso para nossa religião se, sendo membros do mesmo corpo, servos do mesmo mestre e filhos do mesmo Pai, unidos por tantos laços fortes de religião, vivêssemos em animosidade e inimizade uns com os outros!
Em outro texto, o mesmo santo apóstolo, descrevendo as disposições necessárias para aqueles a quem Deus chamou, como seus eleitos, para a graça inestimável de serem membros da sua santa Igreja, diz: 'Portanto, como eleitos de Deus, santos e queridos, revesti-vos de entranhada misericórdia, de bondade, humildade, doçura, paciência. Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós' (Cl 3,12-13). E o comportamento contrário é tão impróprio e tão indigno da nossa vocação, que São Tiago declara que é até diabólico: 'Se tendes zelo amargo e contendas em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade; porque isso não é sabedoria que desce do alto, mas é terrena, sensual, diabólica' (Tg 3,14). Tudo isso é extraído da doutrina expressa do nosso grande Mestre, que não apenas ordena a todos os seus seguidores que vivam em amor fraternal e união entre si, mas declara que isso está tão ligado à sua vocação que é o sinal distintivo de que pertencem a Ele: 'Nisto todos saberão' - diz Ele - 'que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros' (Jo 13,35).
(Excertos da obra 'The Sincere Christian', V.2, do bispo escocês George Hay, 1871, tradução do autor do blog)
domingo, 22 de junho de 2025
EVANGELHO DO DOMINGO
'A min'alma tem sede de Vós, como a terra sedenta, ó meus Deus'
(Sl 62)
Primeira Leitura (Zc 12,10-11.13,1) - Segunda Leitura (Gl 3,26-29) - Evangelho (Lc 9,18-24)
22/06/2025 - DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO COMUM
'E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?'
Jesus encontra-se em oração em um lugar retirado. O Filho de Deus, em sua condição humana, suplicando graças à Trindade Santa, da qual constitui a Segunda Pessoa, constitui um mistério insondável. E Jesus reza sozinho, em profunda meditação, como a indicar, com soberana clareza, que a revelação extraordinária que será dada a seguir - a identidade do Cristo - perpassa pela oração profunda e pelos mistérios da graça. E, neste espírito de profundo recolhimento interior, que antecede grandes revelações, Jesus indaga aos seus discípulos: 'Quem diz o povo que eu sou?' (Lc 9, 18).
Neste 'certo dia', as mensagens e as pregações públicas de Jesus estavam consolidadas; os milagres e os poderes sobrenaturais do Senhor eram de conhecimento generalizado no mundo hebraico; multidões acorriam para ver e ouvir o Mestre, dominados pela falsa expectativa de encontrar um personagem mítico e um Messias dominador do mundo. Na oração profunda, Jesus afasta-se do júbilo fácil do mundo e das multidões errantes, que o tomam por João Batista, por Elias, por um dos antigos profetas. E se aproxima intimamente daqueles que haverão de ser os primeiros apóstolos da Igreja nascente, compartilhando-lhes na pergunta do juízo de fé: 'E vós, quem dizeis que eu sou?' (Lc 9, 20), a resposta à sua identidade salvífica, saída da boca de Pedro: 'O Cristo de Deus' (Lc 9, 20).
Sim, Jesus é o Cristo de Deus e o seu reino não é deste mundo. Ante a confissão de Pedro, Jesus revela a sua origem e a sua missão e faz o primeiro anúncio de sua Paixão, Morte e Ressurreição: 'O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia' (Lc 9, 22). E, um passo além, faz o testemunho da cruz, pela privação do mundo: 'Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará (Lc 9, 23-24).
Eis aí o legado definitivo de Jesus aos homens de sempre: a Cruz de Cristo é o caminho da salvação e da vida eterna. Tomar esta cruz, não apenas hoje ou em momentos específicos de grandes sofrimentos em nossas vidas, mas sim, todos os dias, a cada passo, em cada caminho, é a certeza de encontrá-lo na glória e da plenitude das bem-aventuranças. A Cruz de Cristo é a Porta do Céu.
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