François-Xavier Nguyên Van Thuân era bispo de Nhatrang (Vietnam) desde 1967, e fôra nomeado arcebispo-coadjutor de Saigon (atual Cidade de Ho Chi Minh), quando foi preso pelos comunistas em 15 de agosto de 1975. Passou, então, 13 anos na prisão, nove dos quais numa cela isolada, sem janelas, úmida e bolorenta. Fechado neste cubículo insalubre, andava como podia para exercitar os músculos, enquanto recitava mentalmente orações e canções litúrgicas. Repetidas vezes tinha que se agachar e respirar junto ao vão da porta, para obter ar puro.
Viveu este ‘martírio sem morte’, dominando a loucura que arde do absoluto silêncio a que estava condenado e à privação de qualquer contato humano. Viveu nove anos na aceitação plena do abismo de sua fé. Depois deste período, vivendo na mais absoluta quietude e aceitação de seus sofrimentos, foi transferido para uma cela com outros presos e, ali, deu início a um contínuo trabalho de conversão dos companheiros de cárcere e também da celebração diária da missa, de forma clandestina e sob os lençóis dos presos, usando o pouco vinho que conseguia junto aos seus carcereiros. Por meio de papéis de velhos calendários, escreveu e transmitiu mensagens aos seus fiéis que, anos mais tarde, foram catalogadas e publicadas no livro ‘O Caminho da Esperança’.
A experiência amarga da prisão é relatada em outro livro: ‘Cinco Pães e Dois Peixes’ pois, como ele próprio nos confessa, cinco pães (o pão da esperança, o pão da fé, o pão da oração, o pão eucarístico e o pão da caridade) e dois peixes (o amor filial a Maria e o seguimento de Jesus) foram o seu alimento durante aquele tempo de trevas, perseguição e profundo sofrimento. “Como o menino no trecho do Evangelho, resumo a minha experiência em sete pontos: cinco pães e dois peixes. É um nada, mas é tudo o que tenho. Jesus fará o resto”.
Libertado em 1988, transferiu-se para Roma em 1991, sendo nomeado cardeal por João Paulo II, dez anos depois (2001). O Cardeal Van Thuân faleceu em Roma em 16 de Setembro de 2002 e seu processo de beatificação encontra-se atualmente em curso no Vaticano. Abaixo, algumas das citações do livro "Cinco Pães e Dois Peixes":
"Liberto, após treze anos de cativeiro, quero compartilhar convosco as minhas experiências: como encontrei Jesus em cada momento da minha experiência cotidiana, no discernimento entre Deus e as suas obras, na oração, na Eucaristia, nos meus irmãos e irmãs, na Virgem Maria, oferecendo-vos deste modo, também eu, e à maneira de Jesus, cinco pães e dois peixes."
"Jesus amantíssimo, nesta noite, no fundo da minha cela sem luz, sem janela e quentíssima, penso com intensa nostalgia na minha vida pastoral... Já dei a bênção solene com o santíssimo, na catedral; agora (na prisão) faço a adoração eucarística todas as noites às 21 horas, no silêncio, cantando baixinho o Tantum Ergo, a Salve Rainha e concluindo com esta breve oração: Senhor, estou contente em tudo aceitar das tuas mãos, todas as tristezas, os sofrimentos, as angústias, até à minha morte. Amém.”
"Nunca poderei exprimir a minha grande alegria: todos os dias, com três gotas de vinho e uma gota de água na palma da mão, celebro a minha Missa."
“Aceito a minha cruz e cravo-a, com as minhas duas mãos, no meu coração... Então, eu canto a Tua misericórdia, na obscuridade, na minha fragilidade, no meu aniquilamento.”