sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

GLÓRIAS DE MARIA: AS SETE DORES DE NOSSA SENHORA (I)

REFLEXÕES SOBRE AS SETE DORES DE NOSSA SENHORA 

                                                                                                                      (Arcebispo Fulton Sheen)

'Oh Santa Mãe, fixai as chagas do Crucificado 
fortemente em meu coração; 
de Vosso Filho ferido que por mim quis sofrer, 
partilhai comigo as dores.'

A PRIMEIRA FERIDA: PROFECIA DE SIMEÃO 


A ferida inicial foi a profecia de Simeão. O Divino Menino, com a idade de quarenta dias, foi levado ao Templo; mal Simeão teve em seus braços a Luz do Mundo, logo de seus lábios saiu o canto do cisne: está pronto a morrer, porque viu o Salvador. Depois de ter anunciado que esse menino seria objeto de contradição, disse a Maria: 'A Tua alma será trespassada por uma espada de dor.' 

Notai que Simeão não disse que uma espada lhe trespassaria o corpo. A lança do centurião poderia trespassar o Corpo de Cristo; o Seu Corpo poderia ter sido ferido ao ponto de 'os seus ossos poderem ser contados', mas o Corpo de Maria será poupado. Assim como, na Anunciação, quando Ela concebeu, o êxtase - ao contrário do amor humano - foi, primeiro na sua alma, e, depois no seu corpo, assim, na sua compaixão, as dores do martírio penetram primeiro a sua alma, para depois terem ressonância no seu corpo, como eco de todos os golpes com que a carne de Seu Filho foi flagelada, com que as Suas mãos e os Seus pés foram trespassados. 

A Espada só tem quarenta dias e, todavia já sabe como ferir. Desde aí, quando Maria tocar nas mãos dum menino, nelas verá a sombra de um prego. Se o seu coração houvesse de formar um só com o de Jesus, então, como Ele, devia ela ver todos os pores-do-sol tintos do sangue da Paixão. As Suas pequeninas pulsações seriam, para o Seu coração, a trágica advertência dos terríveis martelos. 

A Sua dor não será o que Ela sofre, mas saber o que Ele sofrerá... O gume da espada destinado ao Salvador significava, para Sua Mãe, pela boca de Simeão, que Ele devia ser vítima para o pecado. A parte que a Ela dizia respeito consistia em saber que, até à hora do supremo sacrifício, Ela era responsável pela vida de Jesus. Com uma só palavra, Simeão previu a Crucifixão e a Sua dor. 

Mal essa nova barca foi lançada às águas da vida, logo um ancião Lhe anunciou o naufrágio. A Mãe teve quarenta dias para beijar o Seu Filho com alegria. Só; mais nada. A sombra da contradição alastra para sempre sobre o Seu futuro. Maria não beberá, de certo, o cálice do pecado, nem a borra amarga que Seu Filho beberá no Jardim das Oliveiras; todavia, Ele Lhe aproximará dos lábios o cálice. 

A hostilidade do Mundo é o prêmio que cabe a todos aqueles que pertencem a Jesus. Quantos convertidos não têm sentido o fanatismo ou o desprezo daqueles que lhes censuram o terem deixado a mediocridade do Mundo pelas alturas do sobrenatural! Nosso Senhor, falando dessa oposição, disse: 'Vim para trazer a espada com que separe o pai do filho, a mãe de sua filha.' Se o crente sente a contradição, quanto mais a não sentirá Maria, Mãe d'Aquele que iria conduzir a Cruz, símbolo da contradição. Mas uma vez que Cristo trazia a espada ao Mundo, devia ser sua Mãe a primeira a experimentá-la, não como vítima involuntária, mas pronunciando livremente o seu Fiat, para a Ele se unir no ato da Redenção. 

Se vós fôsseis o único de olhos abertos num mundo de cegos, não quereríeis ser o seu amparo? Se a bondade se comove perante as feridas, não tentará a virtude, perante o pecado, cooperar na obra d'Aquele que limpa os pecados? Se Maria, sem pecado, aceita com alegria a espada que lhe vem da Divindade sem mancha, qual de nós, pecadores, se lamentaria, quando o próprio Jesus nos permite sofrer pela remissão das nossas faltas? 

'Ó Maria, trespassada de dores; 
Salvai-nos! Tocai e salvai 
a alma daquele que amanhã comparecerá perante o Todo-Poderoso; 
uma vez que todo o homem nasceu de uma mulher 
por cada um que disso precise, 
amigo leal ou inimigo corajoso, 
intercede, Vós, ó Senhora!' 

SEGUNDA FERIDA : A FUGA PARA O EGITO 


A Santíssima Virgem recebeu a segunda ferida quando teve de partilhar das dores de todas as pessoas 'deslocadas' no mundo, de todos os exilados, dos quais Cristo foi o primeiro. O ditador Herodes, temendo que Aquele cuja coroa era de ouro lhe tirasse a sua pobre coroa de metal dourado, mandou procurar o Menino Jesus apenas com dois anos, para o mandar matar. 

Duas espadas são agora brandidas: uma por Herodes, que quer matar o Príncipe da Paz, de modo a obter uma falsa paz pelo reinado da força; a outra, por Aquele que é a Própria Espada, e que gostaria de ver o Êxodo levar, ao contrário, o povo cujos exercícios Ele outrora dirigiu, da Terra onde vai refugiar-se com Sua Mãe. É José, de novo, o encarregado de proteger o Pão Vivo. 

Os corações suportariam melhor as suas penas se estivessem certos que estas provinham de Deus. Que o Seu Divino Filho Se sirva de Simeão, como instrumento da Sua primeira ferida, era compreensível a Maria, porque 'o Espírito Santo nEle estava'. Mas desta vez, tratava-se de homens cruéis. Como nós nos sentimos abandonados de Deus, quando Ele permite que a perversidade nos aflija! No entanto, o Todo-Poderoso está nos braços de Maria, e permite-o! 

A Cruz parece ser uma dupla cruz, quando não vem d’Ele; ora, neste caso, não são a nossa paciência e a nossa capacidade de sofrer que são postas à prova, mas a nossa humildade e a nossa fé. Se o Filho de Deus, em Sua natureza humana, e Sua Santa Mãe não tivessem experimentado antes a tragédia de milhões de  seres que, na nossa civilização atual, são perseguidos por novos Herodes; se Eles não tivessem partilhado da experiência dolorosa dessas populações violentamente arrancadas de sua pátria e conduzidas pela força para as inóspitas planícies da Sibéria; se o novo Adão e a nova Eva não tivessem sido as primeiras pessoas deslocadas da História Cristã, então os infelizes refugiados poderiam levantar as mãos ao Céu para exclamarem: 'Não sabe Deus como e quanto eu sofro!' ou ainda: 'Nunca mulher nenhuma suportou tais dores!' 

Foi por amor da Humanidade que Maria sofreu, com Jesus, as dores duma terra inóspita. A Imaculada Conceição e a Virgem Maria tinham sido os dois muros que a separavam do mal. Mas a espada fendeu os muros, abateu-os, e assim permitiu que Ela sentisse o que Ele Próprio sentiu na manhã da vida. Também Ela deve ter os Seus Pilatos e os Seus Herodes! Como o padre que leva o Santíssimo Sacramento aos doentes  está pronto a defendê-lO à custa da sua própria vida, também Maria, levando Emanuel em Seus braços, aprendia que ser Sua Mãe significava sofrer com Ele para, em seguida, reinar com Ele. As palavras de Simeão só interiormente A atingiram: a cólera de Herodes e a fuga para o Egito eram  a luta contra o mal vindo de fora. Também Cristo, mais tarde, iria passar das dores íntimas da Agonia do Jardim das Oliveiras à Crucifixão do Calvário. 

E, no entanto, bastava uma palavra desse bebê nos braços de Sua Mãe, para poder fazer calar todos os Herodes do mundo, desde aquele até Stalin ou Mao Tse Tung, mas tal palavra não a quis Ele dizer: o Verbo era agora uma Espada. Todavia, como devia ser apunhalante – e isso de um modo realmente superlativo – a dor do Menino que, possuindo um espírito infinito, conhecia e consentia nesses angustiosos acontecimentos! A mãe que vê seu filho passar por uma operação, sofre decerto por ele, mas suporta essa dor tendo em vista a que daí lhe possa vir a ele um bem compensador. Aqui, o Filho é o cirurgião que, com a Sua espada de dois gumes, trespassa o Seu Próprio Coração, antes de atravessar o de Sua Mãe, como que para amortecer o golpe que A atinge. 

O Verbo é uma arma de dois gumes; se ela só pudesse ferir Maria, como Ele teria sido cruel em reservar só para ela a ferida! Mas nada penetra em sua alma que primeiro não tenha penetrado na de Cristo. Foi Sua vontade o passar pela tragédia a que os maus O submeteram. Também Ela a quis igualmente e, antes de mais nada, porque era Sua vontade que assim como Ele devia substituir Adão, Ela devia substituir Eva. 

Maria sabia que o Menino que Ela trazia em Seus braços não tinha ainda levantado a voz contra o mal; no entanto, Ela vê todos os fanáticos, tiranos, ditadores, comunistas, intolerantes e libertinos insurgirem-se contra Ele. Para os Seus braços, era Ele mais leve do que uma pluma, mas, na realidade, pesava mais sobre o coração daqueles que queriam mal à Sua vida do que o mais pesado dos planetas. Um bebê odiado! 

Era a segunda estocada na Virgem Maria. 'Assim como eles me odiaram, assim vos odiarão'. O ódio dos homens contra Ele, Ela o sentiria como em Si própria! Mas, do mesmo modo que Ele amava os que O odiavam, também, Ela os amou. Se fosse necessário, mil vezes Ela fugiria para o Egito, mil vezes suportaria temores, para impedir que uma só alma cometesse qualquer pecado, tudo por amor de Seu Filho, por amor de Deus. Agora que Maria está coroada no Céu, quando Ela nos olha das alturas, pode ver milhões de homens que continuam a banir o Criador, não só dos Seus países, mas também dos seus corações. Muitos são os homens que passam a maior parte do seu tempo, menos a ganhar a sua vida do que a fugir de Deus! 

Ele, por Seu lado, não quer atentar contra a sua liberdade. E eles, por sua vez, não querem optar por Ele. Ora, assim como Maria, por esta segunda ferida, não ficou querendo mal aos maus que Lhe faziam, assim também agora, no Céu, a Sua compaixão e o Seu amor pelos pecadores parecem ter crescido, na medida dos seus pecados. Quanto mais uma alma se une a Jesus, mais Ela ama os pecadores. Um doente, em seu delírio, pode julgar-se bem; por sua vez, um pecador pode, na sua cegueira, chegar a supor-se bom. Só os que têm saúde conhecem verdadeiramente a doença do doente. Só aqueles que não pecaram conhecem a gravidade do pecado e dele procuram afastar-se. 

Jesus e Maria, na Sua fuga para o Egito, experimentaram em Sua bondade – infinita num, finita noutro – os dois efeitos psíquicos do pecado: o temor e a fuga. A não ser que seja vencido pelo perdão, o temor conduz à perseguição do outro. O desejo de fugir, a não ser que se transforme em regresso a Deus, faz soçobrar o homem no alcoolismo, no ópio, no hábito dos excitantes. Deveriam os psicanalistas saber que esses dois efeitos do pecado são vencidos, não pela indulgência para com os seus próprios apetites, mas pelo amor que se sobrepõe ao temor, e pela penitência que impede a fuga. Nosso Senhor e Sua Mãe sofreram voluntariamente esses efeitos psicológicos, para que as almas pecadoras se libertassem deles. O verdadeiro 'tratamento de choque' que os pecadores devem utilizar é simples: consiste em invocar uma Mulher trazendo um bebê em Seus braços. Ela os levará consigo para o Egito, a comer o pão da tribulação e da penitência. Quando o coração do homem não se sente como que em sua casa em Nazaré, quando ele deserta da realidade, pode ainda esperar, porque a Madona e o Seu Divino Menino o encontrarão, mesmo na fuga desvairada para os desertos do Egito e do mundo. 

TERCEIRA FERIDA : PERDA E REENCONTRO DO MENINO JESUS 


Os três dias de ausência do Divino Menino foram a terceira ferida de Maria. Um dos gumes da Espada feriu a alma de Jesus, quando Ele se escondia de Sua Mãe e de Seu pai adotivo para Lhes lembrar, como Ele disse, que se devia ocupar das coisas de Seu Pai. Mas se é certo que o Céu também pode jogar às escondidas, o outro gume da espada era, para Maria, a dor de ter perdido Seu Filho e procurá-lO. Era Seu – e por isso que Ela O procurava. Ele ocupava-Se da Redenção, e é por isso que Ele a deixava, e ia ao Templo. Não ia nisso apenas uma perda física, mas também uma provação espiritual. 'Ficou o Menino Jesus em Jerusalém sem que Seus Pais O advertissem' (São Lucas 2,43).

Nosso Senhor disse: 'Para que me buscáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas de meu Pai? E eles não entenderam o que lhes disse' (São Lucas 2, 49-50). Mas tarde, um outro período de três dias se devia passar, durante o qual o Corpo de Jesus repousaria num túmulo. Esta primeira perda era um prelúdio da segunda, como que a sombra dos três anos de separação que foram a Sua vida pública – em relação à Virgem. Alguma coisa era agora oculta a Maria, no sentido de que a não compreendia. Não se tratava de uma simples ignorância negativa, mas de uma privação, um propósito deliberado de Seu Filho em Lhe ocultar a plenitude dos Seus desejos. No Egito, teve Ela “a sombria noite” do corpo; era preciso que tivesse a “sombria noite” da alma, em Jerusalém. 

A noite espiritual e a desolação da alma andaram sempre juntas nas provações enviadas por Deus aos místicos. A princípio, é o Seu corpo e o Seu sangue que são ocultos a Maria; agora é a Luz e a Verdade. Se a segunda ferida faz d’Ela a companheira de todos os refugiados errando pelas entradas do Mundo, esta terceira ferida iria levantá-la à companhia dos santos. A sombra da Cruz começava a projetar-se na sua alma! Não é apenas o seu corpo virginal que devia pagar caro o privilégio da Sua Imaculada Conceição; também a sua alma sofreria para vir a ser a 'Sede da Sabedoria'.

A espada de dois gumes atinge as duas almas, no doce bater de um mesmo ritmo. Certo dia, no Gólgota, chamando Cristo a Si os pecados dos homens, sentirá o pessimismo do ateu, o desespero do pecador, a solidão do egoísta, e reunirá todas as dores do isolamento, num grande grito: 'Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?' Também Maria deve experimentar essa solidão e abandono – não apenas na perda física de Cristo, mas ainda na obnubilação de todas as consolações.

Assim como, na Cruz, Ele privará a Sua natureza humana de toda a alegria que Lhe podia vir da Sua divindade, assim também privará Sua Mãe de todas as alegrias relativas às coisas de Seu Pai. Se o gume da espada, reservado a Cristo, era o abandono, o dela era a noite. Diz o Evangelho que caiu a noite sobre a Terra, quando Ele, na Cruz, ergueu às alturas o Seu grito supremo; agora, é a noite que invade o espírito de Maria, porque o Seu Próprio Filho quis esse eclipse do Sol. É quase uma pergunta que Ele lhe faz, ao dizer-lhe: 'Por que me buscáveis?' (São Lucas, 2,49). Suspenso, mais tarde, na Cruz, entre a Terra e o Céu, devia Jesus sentir-Se abandonado por Deus e repelido pelos homens. Assim, Maria, por uma só palavra da Divina Espada, é abandonada por Aquele que é, ao mesmo tempo, Deus e Homem.

A sombria noite dos santos não é igual à noite dos pecadores. Nos primeiros, não há luz, mas há amor. É muito provável que essa noite mística, que a espada fazia então entrar na alma de Maria, desse lugar, nela, a atos de tal modo heroicos de amor que eles a elevaram a novos Montes Tabores, nunca anteriormente entrevistos. Pode a luz ser, por vezes, tão brilhante que nos cegue. A incompreensão de Maria, ouvindo a palavra de Jesus, era menos devida a uma falta de clareza do que a um excesso de luz. A razão humana, chegada a certo ponto, nem sempre pode descrever o que se passa no coração. O próprio amor humano, nos seus mais altos momentos de êxtase, não se pode exprimir com palavras. A razão pode compreender palavras, mas não o Verbo. Ora, diz-nos o Evangelho que aquilo que Maria não compreendia era o que dizia o Verbo. Como é difícil de compreender a palavra, quando ela se divide em palavras! Maria não compreendia porque é que o Verbo a elevava acima do abismo da razão e a arrastava por sobre esse outro abismo incomensurável que é o Espírito de Deus.

A uma tal distância, a Sabedoria Divina, na sua expressão humana, não pode dizer o seu segredo, do mesmo modo que São Paulo não podia contar a sua visão do terceiro Céu. As palavras eram incapazes de exprimir inteiramente, por si, a significação do Verbo. Para provar que essa noite não era de ignorância, acrescenta o Evangelho: 'E Sua Mãe conservava todas estas coisas no Seu coração' (São Lucas, 2, 51). A sua alma guardaria a Palavra, e o Seu coração as palavras. Ele que, por Suas palavras, parecia renegá-la, une-a, agora, a Si Próprio, não apenas por ter depositado o mel da Sua mensagem na colmeia do Coração dela, mas também porque volta a Nazaré com ela, submetendo-se-lhe.

Cristo não se serve de instrumentos humanos, como Simeão ou Herodes, para brandir a Espada Divina sobre Sua Mãe. Aos doze anos, tem força bastante para utilizá-la Ele mesmo. Nessa dor, ambas as naturezas d’Ele se fixam sobre ela para fazer dela a co-Redentora: a Sua natureza humana na perda física, a Sua natureza divina na noite sombria da alma.

Na Anunciação, ela perguntara ao Anjo: 'Como pode isso ser, se não conheço varão?' Hoje, dirige-se ao Próprio Homem-Deus, chamando-Lhe “Filho” e pedindo-Lhe que se explique, que justifique o que fez. Maria tem consciência de ser Mãe de Deus. Onde quer que haja santidade, há familiaridade com Deus. E essa familiaridade é maior ainda na dor do que na alegria. Certos, santos, favorecidos com revelações de Nosso Senhor, declaravam que essa dor de Maria custou a Jesus extraordinários sofrimentos. Ali, como sempre, transpassou Ele o Seu próprio coração antes de transpassar o de sua Mãe, como o propósito de ser o primeiro a conhecer essa provação. A dor, que mais tarde iria sofrer, de abandonar Sua Mãe, depois das três horas de agonia na Cruz, era então antecipada por esses três dias de separação.

Aqueles que pecam sem fé não podem sentir a angústia dos que pecam com fé. Possuir a Deus, ocultar-Se daqueles que estavam no propósito de jamais abandoná-lO, tal foi a ferida de Jesus, causada pela mesma espada. Ambos sentiram os efeitos do pecado, de maneira diferente, mas em igual noite de alma: ela por O ter perdido; Ele por se ter perdido. Se a dor de Maria foi um inferno, a agonia de lhe infligir tal dor era a dor de Jesus. A Santíssima Virgem tornou-se o refúgio dos pecadores por ter aprendido o que é perder Deus e tornar a encontrá-lO. Cristo tornou-se o Redentor dos pecadores por ter conhecido a malícia, a vontade deliberada daqueles que ferem os seres a quem amam! Sentiu o que pode sentir a criatura, ao perder a criatura. Maria perdeu Jesus na noite mística da alma, e não na noite moral de um mau coração. A Sua perda era a ocultação da face d’Ele. Ela não Lhe fugia. Mas mostra-nos ela que, quando perdemos a Deus, não devemos limitar-nos a esperar que Ele volte. Devemos ir procurá-lO, e é Ela que, para alegria da nossa alma, sabe onde O podemos encontrar!