Em novembro do ano de 1095, o Papa Urbano II convocou um concílio na cidade de Clermont-Ferrand na França que, entre outros assuntos, tinha o propósito de deliberar sobre a situação à época da Terra Santa, há muito em poder dos muçulmanos. Com efeito, após vários séculos de contínuas conquistas, os exércitos muçulmanos dominavam todo o norte da África, o Oriente Médio, a Ásia Menor e grande parte da Espanha, incluindo Egito, Síria e a Palestina, terra de Nosso Senhor Jesus Cristo. Dali, o império muçulmano tenderia a se expandir cada vez mais para o Ocidente, para Constantinopla e até os confins da Europa.
A situação tornou-se ainda mais crítica com a invasão de povos bárbaros tártaros, particularmente os turcos, que tinham dominado a Pérsia e adotado a religião de Maomé, com poderio avassalador de suas hordas de conquista sob a dinastia dos seljúcidas. Mediante uma atroz perseguição contra os cristãos do oriente e dos peregrinos à Terra Santa, a civilização cristã corria o risco de ser destruída em face de sua supressão no Oriente e de uma consequente ofensiva islâmica sobre o Ocidente.
Naquele concílio - mais precisamente em 17 de novembro de 1095, o Papa Urbano II deu início à gloriosa era das cruzadas (foram 9 no total, num período de cerca de 200 anos), clamando à cristandade e a Santa Igreja a combaterem com armas contra os inimigos da fé cristã: os mouros sarracenos e demais seguidores de Maomé, os hereges albigenses e as hordas de bárbaros pagãos que avançavam sobre o Reno e o Danúbio e pela libertação dos lugares santos da fé cristã, por meio de um brado decisivo: Deus lo vult - Deus o quer! Expressão do heroísmo religioso levado às últimas consequências, as cruzadas representaram, apesar de muitas infortúnios e fatos condenáveis, a salvação da cristandade e sua libertação do jugo islâmico no Ocidente.
Neste ideal de liberdade da fé cristã, foram realizadas nove Cruzadas ao longo dos séculos XI e XIII, das quais a primeira é a mais importante, pois foi, por meio dela, que Godofredo de Bouillon logrou estabelecer no Oriente, ainda que por um breve período, o Reino Latino de Jerusalém, o principado de Antioquia e os condados de Edessa e de Trípoli. Uma vez entronizado como rei de Jerusalém, Godofredo de Bouillon recusou a coroa que lhe foi oferecida, na Terra Santa onde Jesus havia sido coroado com uma coroa de espinhos. Nessas santas lutas em defesa da Fé contra os muçulmanos, pagãos e hereges, participaram uma legião de cristãos que foram chamados 'cruzados', que legaram à cristandade seus feitos e um heroísmo particular, firmados nas premissas de Cristo de que não é digno dEle quem não toma sua cruz e a leva até o fim e de que as verdadeiras riquezas do mundo não são as materiais, mas aquelas forjadas pelos bens espirituais que nem a ferrugem nem a traça são capazes de corroer.
AS NOVE CRUZADAS
1095 - O Papa Urbano II convoca a Cristandade para partir em direção a Jerusalém, para libertar a cidade e os cristãos do Oriente, que estavam sob jugo muçulmano.
1096-1099 - Primeira Cruzada: período de três anos para as conquistas de Niceia, Antioquia e, por fim, Jerusalém.
1147-1149 - Segunda Cruzada, a pedido do Papa Eugênio III (motivado pela queda de Edessa) e pregada na França por São Bernardo, concluída pela derrota derrota de Luís VII, rei da França e de Conrado III, imperador alemão, diante da cidade de Damasco.
1189-1192 - Terceira Cruzada, empreendida por causa da queda de Jerusalém em poder de Saladino. O rei da França Felipe Augusto, o imperador alemão Frederico Barbaroxa e o rei da Inglaterra Ricardo Coração de Leão tornam-se cruzados; tomada da ilha de Chipre e de Acre, no litoral da Palestina e acordo firmado com Saladino, que concedeu livre acesso aos lugares santos; criação do reino cristão da Pequena Armênia.
1202-1204 - Quarta Cruzada, convocada pelo Papa Inocêncio III, que tinha o Egito como objetivo inicial. Os cruzados terminaram tomando Constantinopla, onde Balduíno de Flandres instala o império latino, também de curta duração.
1217-1221 - Cruzada das crianças: milhares de crianças e jovens morrem a caminho de Jerusalém. Quinta Cruzada, sob novo apelo de Inocêncio III: os cruzados tomam e depois perdem Damieta, no Egito.
1229 - Sexta Cruzada: o imperador alemão Frederico II consegue negociar com o sultão do Egito o livre acesso dos peregrinos às cidades de Jerusalém, Belém e Nazaré.
1248-1254 - Sétima Cruzada: Jerusalém cai em 1244, pela segunda vez, em mãos dos muçulmanos. São Luís IX empreende a conquista do Egito e conquista Damieta, que depois devolve, ao ser derrotado e tornado cativo.
1270 - Oitava Cruzada: São Luís IX morre diante de Túnis, no norte da África.
1291 - Nona e Última Cruzada: tentativa de suspender o cerco da Fortaleza de Acre, sem sucesso. Com o abandono das duas últimas fortalezas da Ordem dos Templários na Palestina e ao norte de Beirute, os Estados Latinos da Terra Santa foram extintos.