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segunda-feira, 9 de junho de 2025

ÓDIO AO PECADO E AMOR AO PECADOR

O que há então aqui? É o amor? É o ódio? Nem uma coisa e nem outra? Sim, há aqui, ao mesmo tempo, ódio e amor. Ódio contra o que vem de você e amor por você. O que quer dizer: ódio contra o que vem de você e amor por você? Isto quer dizer que há ódio contra as suas obras e amor pela obra de Deus.

O que são suas obras, se não são seus pecados? Qual é a obra de Deus, se não é você mesmo, formado por ele à imagem dele e à semelhança dele? Infelizmente, você despreza a obra de Deus e tem afeto pelas suas! Você ama, fora de você, o que você fez e negligencia, em você, a obra de Deus. Assim, você merece se desgarrar, cair, correr para longe de você mesmo e ouvir ser chamado de um sopro que vai e não volta (Sl 77,39).

Volte seu olhar para Aquele que chama você e que grita para você: 'Voltai a mim e eu voltarei a vós' (Zc 1,3). Deus não se afasta quando é olhado. Ele fica e é imutável, tanto para repreender quanto para corrigir. Se ele está longe de você foi porque você se afastou dele. Foi você que se separou; não foi Ele que se escondeu. Desta forma então, preste atenção à sua voz: 'Voltai a mim e eu voltarei a vós'. Em outros termos: 'Quando eu volto a você, é você que volta a mim'. 

O Senhor, efetivamente, busca os fugitivos e se eles retornam para ele, eles se veem iluminados. Para onde fugirá você, infeliz, ao fugir para longe de Deus? Para onde fugirá você, ao se afastar daquele que não está restrito a nenhum lugar e que não se ausenta de nenhum lugar? Ao se unir a ele encontra-se a liberdade e ao se afastar dele encontra-se o castigo. Para quem se afasta ele é um juiz e, para quem retorna, ele é um pai.

(Santo Agostinho, Sermão 42)

quarta-feira, 28 de maio de 2025

ORAÇÃO A JESUS NO TABERNÁCULO


Ó Jesus, como eu seria feliz se tivesse sido muito fiel, mas, infelizmente, muitas vezes fico triste à noite porque sinto que poderia ter respondido melhor às vossas graças. Se eu fosse mais unida a Vós, mais caridosa com as minhas irmãs, mais humilde e mais mortificada, teria menos dificuldade em falar convoso na oração. Mas, ó meu Deus, longe de desanimar à vista das minhas misérias, dirijo-me a Vós com confiança, lembrando-me que 'não são os que estão bem de saúde que precisam de médico, mas sim os doentes'. 

Por isso, peço-vos que me cureis, que me perdoeis, e lembrar-me-ei, Senhor, que a alma a quem destes mais deve também amar-vos mais do que as outras! Ofereço-vos cada batida do meu coração como atos de amor e reparação e uno-os aos vossos méritos infinitos. Peço-vos, ó meu Divino Esposo, que sejais Vós mesmo o Reparador da minha alma, agindo dentro de mim sem levar em conta a minha resistência, pois não quero ter outra vontade que não a vossa e, amanhã, com a ajuda da vossa graça, poder começar uma vida nova em que cada momento será um ato de amor e de renúncia.

Depois de vir todas as noites aos pés do vosso altar, chegarei finalmente à última noite da minha vida e começarei então o dia eterno em que repousarei no vosso Divino Coração depois das lutas do exílio! Assim seja.

(Santa Teresa de Lisieux)

terça-feira, 27 de maio de 2025

SOBRE A MANSIDÃO E A SIMPLICIDADE DE CORAÇÃO

Antes do sol sai a luz da manhã e à humildade precede a mansidão, como nos declarou a mesma luz, que é o Senhor, quando disse: 'Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração'. Justo é, pois, e conforme a ordem natural, gozar da luz antes do sol, pois a este ninguém pode ver, se primeiro não vê esta luz.

Mansidão é conservar a alma em um mesmo estado sem perturbação alguma, quer nas honras, quer nos desgostos. Mansidão é, nas perturbações e aflições do próximo, fazer oração por ele com suma compaixão. Mansidão é firmeza da paciência, porta da caridade, ministra do perdão, confiança na oração, argumento de discrição. Porque o Senhor, como diz o profeta, ensinará aos mansos os seus caminhos.

Mansidão é aposento do Espírito Santo, segundo aquilo que está escrito: 'Sobre quem repousará meu espírito senão sobre o humilde e manso e que trema sob minhas palavras?' Mansidão é auxiliadora da obediência, guia dos irmãos, freio dos furiosos, vínculo dos irados, ministra de gozo, imitação de Jesus Cristo, condição de anjos, prisão de demônios e escudo contra as amarguras do coração.

O Senhor repousa nos corações dos mansos, mas a alma do furioso é aposento do inimigo. Os mansos herdarão a terra, ou melhor dizendo, serão senhores dela. Mas os homens loucos e furiosos serão destruídos e desprezados dela. A alma mansa é filha da simplicidade, mas a alma irada é casa e aposento de malícias. A alma do manso receberá as palavras da sabedoria, porque o Senhor guiará no juízo os mansos, ou melhor dizendo, na virtude da discrição. A causa disto é que a alma quieta e tranquila está muito disposta e aparelhada para ser dirigida e iluminada pelo Espírito Santo. A alma reta é familiar companheira e esposa da humildade.

Mas a má é filha moça e louca da soberba. As almas dos mansos serão cheias de sabedoria mas, nas almas dos irados, moram as trevas e a ignorância. O irado e o dissimulado se encontram e não se acha palavra reta entre eles. Se abrires o coração do primeiro, acharás loucura. Se abrires o do segundo, acharás maldade.

A simplicidade é um hábito e disposição da alma, que carece de variedade e não sabe que coisa é perversa intenção, nem é movido com algum mau pensamento. Malícia é astúcia, ou melhor dizendo, maldade e mentira de demônios, porque pecar por malícia é pecar não por fraqueza ou ignorância, mas por opção e vontade deliberada, como pecam os demônios, que toda a sua astúcia empregam em buscar como fazer maior mal.

Hipocrisia é estado contrário à disposição do corpo e da alma, cheio de suspeitas e más intenções, porque o hipócrita em tudo se contrafaz, querendo parecer outro, suspeitando que os outros sejam como ele. Inocência é disposição e estado da alma, alegre e seguro e livre de toda a suspeita e astúcia porque o verdadeiro inocente, assim como não faz mal a ninguém, assim também não suspeita mal de ninguém.

Fujamos, pois, do despenhadeiro do fingimento e do lago da malícia e astúcia, ouvindo a sentença daquele que disse: 'os que maliciosamente vivem serão destruídos'. Estes, como a verdura das ervas, desfalecerão logo, e serão pasto dos demônios. Assim como Deus é caridade, assim é retidão e igualdade. E por isso, disse o sábio, nos Cânticos, falando com ele: 'os retos são os que te amam'. E o pai deste mesmo sábio disse em um salmo: 'Bom e reto é o Senhor'. E assim diz Aquele que salva aos retos de coração. 

(Excertos da obra 'A Escada do Céu'. de São João Clímaco)

terça-feira, 20 de maio de 2025

'COMO EU VOS AMEI'

O Senhor Jesus manifesta um novo mandamento aos seus discípulos, que se amem mutuamente: 'Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros' (Jo 13,34). Mas este mandamento já não estava escrito na antiga lei de Deus, onde se lê: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo' (Lv 19,18)? Por que então o Senhor chama novo o que é evidentemente tão antigo? Será um novo mandamento pelo fato de nos revestir do homem novo, depois de nos ter despojado do velho? Na verdade, ele renova o homem que o ouve, ou melhor, aquele que lhe obedece; não se trata, porém, de um amor puramente humano, mas daquele que o Senhor quis distinguir,acrescentando: 'Como eu vos amei' (Jo 13,34).

É este amor que nos renova, transformando-nos em homens novos, herdeiros da nova Aliança, cantores do canto novo. Foi este amor, caríssimos irmãos, que renovou outrora os antigos justos, os patriarcas e os profetas e, posteriormente, os santos apóstolos. Ainda hoje é ele que renova as nações e reúne todo o gênero humano espalhado pelo mundo inteiro, formando um só povo novo, o corpo da nova esposa do Filho Unigênito de Deus. É dela que se diz no Cântico dos Cânticos: 'Quem é esta que sobe vestida de branco?' (cf Ct 8,5). Vestida de branco, sim, porque renovada; e renovada de que modo, senão pelo mandamento novo?

Por isso os membros desta esposa sentem uma solicitude mútua. Se um membro sofre, todos sofrem com ele; se um membro é honrado, todos os outros se alegram com ele. Pois ouvem e praticam a palavra do Senhor: 'Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros'. Não como se amam aqueles que vivem na corrupção da carne; nem como se amam os seres humanos apenas como seres humanos; mas como se amam aqueles que são filhos do Altíssimo. Deste modo, tornam-se irmãos do Filho unigênito de Deus, amando-se uns aos outros com aquele mesmo amor com que ele os amou, e por ele serão conduzidos à plenitude final, onde os seus desejos serão completamente saciados de bens. Então nada faltará à sua felicidade, quando Deus for tudo em todos.

Quem nos dá este amor é o mesmo que diz: 'Amai-vos uns aos outros como eu vos amei'. Foi para isto que ele nos amou, para que nos amássemos mutuamente. E com o seu amor, deu-nos a graça, para que, vivendo unidos em recíproco amor, como membros ligados por tão suave vínculo, formemos o Corpo de tão sublime Cabeça.

(Santo Agostinho, em 'Dos Tratados sobre o Evangelho de São João')

sábado, 17 de maio de 2025

100 ANOS DA CANONIZAÇÃO DE SANTA TERESA DE LISIEUX

Há 100 anos, no dia 17 de maio de 1925, o Papa Pio XI celebrou a Canonização Solene de Teresa de Lisieux, como 'Santa Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face'.


'... Damos graças a Deus por hoje nos ser permitido, como Vigário do Seu Filho Unigênito, repetir e inculcar em todos vós, a partir desta Sede da Verdade e durante este rito solene, uma recordação muito salutar dos ensinamentos do Divino Mestre. Depois de os discípulos o terem interrogado sobre quem era o maior no Reino dos Céus, Ele, chamando uma criança, colocou-a no meio deles e pronunciou estas memoráveis palavras: 'Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no Reino dos Céus' (Mt 18,2).

Teresa, a nova santa, tendo absorvido vivamente esta doutrina evangélica, traduziu-a na prática da vida cotidiana; de fato, com a palavra e com o exemplo, ensinou às noviças do seu mosteiro este caminho da Infância Espiritual, e a todos através dos seus escritos, escritos que se espalharam pelo mundo e que, depois de lidos, continuam a ser lidos uma e outra vez pelo máximo benefício e alegria que dão à alma. De fato, esta jovem que desabrochou na clausura do Carmelo, e que juntou ao seu nome o do Menino Jesus, fez sobre si a sua imagem; então deve dizer-se que quem venera Teresa, venera e louva o exemplo divino que ela copiou em si mesma.

Hoje, portanto, esperamos que nas mentes dos fiéis surja o desejo de praticar esta Infância Espiritual, que consiste nisto: que tudo o que a criança pensa e faz por natureza, nós o façamos no exercício da virtude. As criancinhas não são perturbadas pelos pecados e cegas pelas paixões e gozam de paz na posse da sua inocência (e sem meios de engano ou hipocrisia exprimem sinceramente os seus pensamentos e ações, de modo que se mostram como realmente são), de modo que Teresa mostrou uma natureza mais angélica do que humana, e conquistou a simplicidade da criança, segundo a Lei da Verdade e da Justiça.

A Menina de Lisieux guardou sempre na memória o convite e as promessas do seu Divino Esposo: 'Quem for pequeno (Pv 9,4) venha a Mim. Será acolhido no meu regaço e, carregados no colo, como uma criança que a mãe consola, sereis consolados' (Is 66,12-13), de modo que Teresa, consciente da sua fraqueza, se confiava à Divina Providência para que, contando unicamente com a sua ajuda, pudesse alcançar a perfeita santidade de vida, mesmo quando passava por dificuldades, e de uma absoluta, mas alegre, abdicação da própria vontade...'

(Excertos do Sermão de Canonização de Santa Teresa de Lisieux, pelo Papa Pio XI, em 17 de maio de 1925) 

quarta-feira, 14 de maio de 2025

ORAÇÃO DE SÚPLICA A JESUS EUCARÍSTICO

PREPARAÇÃO E PROPÓSITOS DA ORAÇÃO

O' minha alma, o que fazes?
Se há um momento precioso, um momento que não deves perder nenhum segundo de distração é este, no qual podes obter quantas graças pedires.
Não sabes que o Pai eterno te olha com amor, vendo em ti o seu Filho muito amado, o objeto mais caro à sua ternura?

Expulsa, pois, os outros pensamentos, reaviva a tua fé, dilata o teu coração pela confiança, e pede tudo o que desejas. 
Não ouves que o próprio Jesus te diz: 'Alma querida, fala: que quereis de mim?' (Mc 10,51). 
Ele vem para enriquecer-te com os seus dons e tornar-te feliz; pede com confiança e alcançarás tudo. 

ORAÇÃO DE SÚPLICA APÓS A COMUNHÃO

Ó meu dulcíssimo Salvador, que a mim viestes para enriquecer-me com favores, e desejais que eu os peça a Vós; não solicito nenhum dos bens terrenos, nem riquezas, nem honras, nem prazeres: concedei-me, é o que suplico, verdadeira dor dos desgostos que vos causei; fazei-me conhecer claramente a vaidade deste mundo e os direitos que tendes ao nosso amor. 

Dai-me um coração novo, isento de toda a afeição terrena, conformado inteiramente à vossa santa vontade, um coração que não busque coisa alguma além do que vos dá prazer e que aspire somente ao vosso santo amor: 'Criai em mim um coração puro, ó meu Deus' (Sl 50,12). 

De modo algum mereço estes favores, mas Vós, ó meu Jesus, os mereceis no meu lugar, pois que viestes residir na minha alma; eu vo-los peço pelos vossos méritos e pelos de vossa Mãe Santíssima e em nome do vosso amor ao vosso Pai eterno. 

[Rogai agora a Jesus alguma graça particular para vós e o vosso próximo; não vos esqueçais de recomendar a salvação dos pecadores, bem como pelas almas do Purgatório]. 

Pai eterno, Jesus Cristo, o vosso divino Filho, nos fez esta bela promessa: 'Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo dará' (]o 16, 23). Em nome e pelo amor deste Jesus, o vosso Filho único, que atualmente repousa no meu peito, atendei-me e dai-me as graças que vos peço. O' Jesus e Maria, doces objetos da minha ternura, que eu sofra e morra por vós; que eu seja todo vosso e de modo algum de mim mesmo.

('As Mais Belas Orações de Santo Afonso', Pe. Saint-Omer, 1961)

segunda-feira, 12 de maio de 2025

OS DOIS AMORES E AS TRÊS FACULDADES DA ALMA

Volto a falar dos degraus gerais que deveis percorrer a fim de sair do rio do pecado, atingir a água viva e inserir-me na vossa caminhada.

Pela graça eu repouso em vossas almas. Querendo progredir, é necessário que tenhais sede. Somente os sedentos acolhem aquele convite: 'quem tem sede, venha a mim e beba' (Jo 7,37). Quem não está com sede desanima de caminhar, pára por cansaço ou em prazeres, vai de mãos vazias, sem se preocupar em levar consigo um recipiente para coletar a água. Mas sozinho ninguém progride. Ao apresentar-se o ferrão das contradições, olha-o como a um inimigo e retrocede. O homem solitário teme o encontro do inimigo; quem vai acompanhado, não sente medo. Pois bem, o cristão que ainda não percorreu os três degraus gerais, caminha solitário.

Ocorre, pois, ter sede e reunir dois, três ou mais, na maneira explicada. Por que eu disse 'dois e três'? Porque não existe dois sem três e três sem dois. O homem que está só não possibilita minha presença 'no meio' por falta de companheiro que me permita estar 'entre' eles. O solitário é um vazio, bem como aquele que só possui o egoísmo e vive sem amor pela minha graça e pelo próximo. Um nada, eis o que é a pessoa em quem estou ausente, por causa do pecado. Somente eu 'sou aquele que sou' (Ex 3,14). O egoísta, solitário, não conta diante de mim, não me agrada. Eis por que meu Filho diz: 'Se dois ou três estão reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles' (Mt 18,20). Afirmei antes que não existe dois sem três ou três sem dois. Explico-me.

Sabes que os mandamentos da lei se reduzem a dois; sem eles, nenhum outro é observado. São: amar-me sobre todas as coisas e amar ao próximo como a ti mesma. Eis o começo, o meio e o fim dos mandamentos da lei. Todavia esses 'dois' não se 'reúnem' em mim sem os 'três', isto é, sem a unificação das três faculdades da alma: a memória, a inteligência e a vontade. A memória há de recordar-se dos meus benefícios e da minha bondade; a inteligência pensará no amor inefável revelado em Cristo, pois ele se oferece como objeto de reflexão para manifestar a chama do meu amor; a vontade, unindo-se às duas faculdades anteriores, me amará e desejará como seu fim. Quando essas três faculdades estão assim reunidas, acho-me presente entre elas pela graça. E, como consequência, a pessoa vê-se repleta de amor por mim e pelo próximo, na companhia de verdadeiras e múltiplas virtudes.

Em primeiro lugar, a vontade se dispõe a ter sede. Sede das virtudes, sede da minha glória, sede das almas. As demais sedes se apagam e morrem. Tendo subido o primeiro degrau, da afeição, o homem caminha seguro de si, sem temor servil. Livre do egoísmo, a vontade põe-se acima de si mesma e acima dos bens passageiros. Se a pessoa quer possuir tais bens, ama-os e deles se serve em mim, com temor santo e verdadeiro, virtuosamente. Em seguida, passa-se ao segundo degrau, o da inteligência, no qual a pessoa, em cordial amor por mim, medita sobre Cristo crucificado, enquanto mediador. Por fim, a memória enche-se da minha caridade e alcança paz e a tranquilidade.

Um recipiente vazio, ao ser tocado, faz rumor; o recipiente cheio, nenhum som produz. Da mesma forma, quando a memória está tomada pela luz da inteligência e pelo amor, a pessoa já não se perturba diante das adversidades ou atrativos do mundo; está repleta da minha presença, como sumo bem; não sente falsas alegrias, nem impaciência. Quando o homem sobe os três degraus comuns, suas faculdades unificam-se, colocam-se sob domínio da razão e congregam-se em meu nome. Uma vez reunidos os dois amores – por Deus e pelo próximo – com as três faculdades – a memória para reter, a inteligência para refletir e a vontade para amar – encontra-se o homem na minha companhia, forte e seguro; está na companhia das virtudes; caminha seguro de si. Estou presente nele!

Parte, então, o cristão, inflamado de desejo santo, sequioso de ir pelo caminho da verdade, à procura da fonte da água viva. É o desejo da minha glória, da salvação pessoal e da santificação alheia que incentiva a caminhar, pois é o único meio que possibilita alcançar a meta final. Na saída, o coração está vazio de apegos terrenos. Mas enche-se logo! Nenhum recipiente permanece com vácuo; se não contiver objetos materiais, enche-se de ar. O mesmo acontece com o coração humano. Ao se retirar dele o apego dos bens materiais, enche-se com o ar celeste do amor divino e com a água da graça. Em posse deste dom, o caminhante entra pela porta de Cristo e bebe a água viva em mim, oceano de paz.

(Excertos da obra 'O Diálogo', de Santa Catarina de Sena)

quarta-feira, 30 de abril de 2025

ORAÇÃO EFICAZ AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS


I. Ó meu Jesus, que dissestes: 'Em verdade vos digo: Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto': eis que eu bato, procuro e vos peço a graça de...

Pai Nosso... Ave Maria... Glória ao Pai... 

Sagrado Coração de Jesus, eu deposito a minha confiança em Vós!

II. Ó meu Jesus, que dissestes: 'Em verdade vos digo que, se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, Ele vo-la concederá': eis que, em Vosso nome, peço ao Pai a graça de...

Pai Nosso... Ave Maria... Glória ao Pai... 

Sagrado Coração de Jesus, eu deposito a minha confiança em Vós!

III. Ó meu Jesus, que dissestes: 'Em verdade vos digo que o céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão': eis que, encorajado pelas vossas palavras infalíveis, peço-vos agora a graça de...

Pai Nosso... Ave Maria... Glória ao Pai... 

Sagrado Coração de Jesus, eu deposito a minha confiança em Vós!

Ó Sagrado Coração de Jesus, para quem é impossível não ter compaixão dos aflitos, tende piedade de nós, pobres pecadores, e concedei-nos a graça que vos pedimos, pelo Coração Doloroso e Imaculado de Maria, vossa terna Mãe e nossa.

Salve Rainha... 

São José, pai adotivo de Jesus, rogai por nós!

(Oração recitada pelo Santo Padre Pio todos os dias, por intercessão daqueles que lhe pediam suas orações)

terça-feira, 29 de abril de 2025

O PRIMEIRO MILAGRE DE SANTA TERESA DE LISIEUX

(Reine Fauquet)

Em 26 de maio de 1908, Reine Fauquet, uma menina de quatro anos, dada como irreversivelmente cega pela medicina, visitou com sua família o primeiro túmulo de Teresa, no Cemitério de Lisieux. Ao retornar da peregrinação, a menina inesperadamente recuperou a visão. Marie, sua irmã mais velha, perguntou-lhe quando ela havia recuperado a visão e a menina revelou então em detalhes a visita celestial de Teresa.

Marie lembrou-se então de ter visto Reine, na manhã de 26 de maio, acalmar-se de repente após um forte ataque de dor e permanecer sorrindo e olhando fixamente numa dada direção, antes de adormecer pacificamente. O testemunho de Reine, apesar da sua tenra idade, nunca mudou, declarando perante as Carmelitas de Lisieux: 'Eu vi Teresa muito perto da minha cama, ela pegou na minha mão, ela riu comigo e era linda, tinha um véu e tudo estava iluminado ao redor da sua cabeça'. Uma das freiras lhe perguntou: 'E como ela estava vestida? Ao que a menina respondeu: 'Como você está vestida'.

Os médicos que a tratavam da cegueira emitiram um certificado em 6 de julho de 1908, atestando a recuperação completa da visão de Reine Fauquet. Este foi o milagre que resultou na abertura do processo de reconhecimento da santidade de Teresa de Lisieux. No ano seguinte, já seria aberta uma investigação para reconhecer as virtudes heroicas da Venerável Serva de Deus. Teresa foi beatificada em 29 de abril de 1923 (102 anos atrás) e canonizada em 17 de maio de 1925 pelo Papa Pio XI, apenas 27 anos depois de sua morte.

quinta-feira, 24 de abril de 2025

A VONTADE DE DEUS É A NOSSA SANTIFICAÇÃO!

Peço ao Senhor que, durante a nossa permanência neste chão que pisamos, não nos afastemos nunca do Caminhante Divino. Para tanto, aumentemos também a nossa amizade com os Santos Anjos da Guarda. Todos necessitamos de muita companhia; companhia do Céu e da terra. Sejamos devotos dos Santos Anjos! É muito humana a amizade, mas é também muito divina; tal como a nossa vida, que é divina e humana. Lembramo-nos do que diz o Senhor? 'Já não vos chamo servos, mas amigos' (Jo 15,15). Ensina-nos a ter confiança com os amigos de Deus, que já moram no Céu, e com as criaturas que convivem conosco, incluídas as que parecem afastadas do Senhor, para as atrairmos ao bom caminho. 

E vou terminar, repetindo com São Paulo aos Colossenses: 'Não cessamos de orar por vós e de pedir a Deus que alcanceis pleno conhecimento da sua vontade, com toda a sabedoria e inteligência espiritual' (Cl 1,9). Sabedoria que nos proporcionam a oração, a contemplação, a efusão do Paráclito na alma, a fim de que tenhais uma conduta digna de Deus, agradando-o em tudo, produzindo frutos de toda a espécie de obras boas e progredindo na ciência de Deus; corroborados em toda a sorte de fortaleza pelo poder da sua graça, para terdes sempre uma perfeita paciência e longanimidade acompanhada de alegria; dando graças a Deus-Pai, que nos fez dignos de participar na sorte dos santos, iluminando-nos com a sua luz; que nos arrebatou ao poder das trevas e nos transferiu para o reino de seu Filho muito amado (Cl 1,10-13).

Que a Mãe de Deus e Mãe nossa nos proteja,  de que cada um de nós possa servir a Igreja na plenitude da fé, com os dons do Espírito Santo e com a vida contemplativa. Realizando cada um os deveres que lhe são próprios, cada um no seu ofício e profissão, e no cumprimento das obrigações do seu estado, honre gozosamente o Senhor. Amai a Igreja, servi-a com a alegria consciente de quem soube decidir-se a esse serviço por Amor. E se virmos que alguns andam sem esperança, como os dois de Emaús, aproximemo-nos deles com fé - não em nome próprio, mas em nome de Cristo - para lhes garantir que a promessa de Jesus não pode falhar, que Ele vela por sua Esposa sempre; que não a abandona; que passarão as trevas, porque somos filhos da luz (cf Ef 5,8) e fomos chamados a uma vida eterna.

E Deus lhes enxugará todas as lágrimas dos olhos, já não haverá morte, nem pranto nem clamor; não mais haverá dor, porque as coisas de antes passaram. E disse Aquele que estava sentado no trono: 'Eis que renovo todas as coisas. E ordenou-me: Escreve, porque todas estas palavras são digníssimas de fé e verdadeiras. E acrescentou: É um fato. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. Ao sedento, eu darei de beber gratuitamente da fonte da água da vida. Aquele que vencer possuirá todas estas coisas, e eu serei o seu Deus e ele será meu filho' (Ap 21,4-7).

(São Josemaria Escrivá)

quarta-feira, 9 de abril de 2025

ORAÇÃO DE SÚPLICA AO DIVINO ESPÍRITO SANTO


Espírito Santo, divino paráclito, pai dos pobres, consolador dos aflitos, santificador das almas, eis-me aqui prostrado na vossa presença; adoro-vos com a mais profunda submissão, a repetir mil vezes com os Serafins que estão diante do vosso trono: 'Santo! Santo! Santo!' Creio firmemente que sois eterno, da mesma substância do Pai e do Filho. Espero que, pela vossa bondade, santificareis e salvareis a minha alma. 

Amo-vos, ó Deus de amor; amo-vos mais do que todas as coisas, que todos os meus afetos, porque sois a bondade infinita, única digna de todo o meu amor. Insensível às vossas santas inspirações, quantas vêzes, tive a ingratidão de vos ofender: peço-vos mil vezes perdão e pesa-me sumamente vos ter desagrado, ó Bem Supremo! Ofereço-vos o meu coração, frio como é, e vos suplico façais nele entrar um raio da vossa luz, uma centelha do vosso amor, para derreter o gelo duro das minhas iniquidades.

Vós, que enchestes de imensas graças a alma de Maria, e abrasastes com santo zelo os corações dos apóstolos, dignai-vos também de abrasar no vosso amor o meu coração. Vós sois um Espírito divino, fortificai-me contra os maus espíritos; sois fogo, acendei em mim o fogo do vosso amor; sois Luz, esclarecei-me fazendo que eu conheça as coisas eternas; sois uma Pomba, dai-me costumes puros; sois Sopro cheio de doçura, dissipai as tempestades que as paixões levantam em mim; sois uma Língua, ensinai-me a maneira de vos louvar sem cessar; sois uma Nuvem, cobri-me com a sombra da vossa proteção. 

Enfim, sois o Autor de todos os dons celestes. Eu vos conjuro, vivificai-me pela vossa graça; santificai-me pela vossa caridade, governai-me pela vossa sabedoria, adotai-me como filho pela vossa bondade e salvai-me pela vossa infinita misericórdia, para que não cesse jamais de vos bendizer, louvar e amar, primeiro na terra durante a minha vida, e depois no céu por toda a eternidade. Amém.

Oração Jaculatória: Vinde, ó Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo sagrado do vosso amor.

(Excertos da obra 'As Mais Belas Orações de Santo Afonso')

terça-feira, 8 de abril de 2025

SOBRE O AMOR AOS POBRES


Pensas que a caridade é facultativa? Que não se trata de uma lei, mas de um simples conselho? Bem gostaria que fosse assim. Mas assusta-me o lado esquerdo de Deus, esse lado para onde Ele mandou os cabritos, aos quais não censurou o fato de terem roubado, pilhado, cometido adultérios ou perpetrado outros delitos deste tipo, mas o fato de não terem honrado a Cristo na pessoa dos seus pobres.

Por isso, se me julgais dignos de alguma atenção, servos de Cristo, seus irmãos e co-herdeiros, visitemos a Cristo, alimentemos a Cristo, tratemos as feridas de Cristo, honremos a Cristo, não só sentando-o à nossa mesa como Simão, não só ungindo-o com perfumes como Maria, não só dando-lhe sepulcro como José de Arimateia, não só provendo o necessário para a sua sepultura como Nicodemos, não só, finalmente, oferecendo-lhe ouro, incenso e mirra como os magos.

Mas, uma vez que o Senhor do universo prefere a misericórdia ao sacrifício (cf Mt 9,13), uma vez que a compaixão tem muitos mais valor que a gordura de milhares de cordeiros, ofereçamos a misericórdia e a compaixão na pessoa dos pobres que hoje na terra são humilhados, de modo que, ao sairmos deste mundo, sejamos recebidos nas moradas eternas (cf Lc 16,9) pelo mesmo Cristo, Nosso Senhor, a quem seja dada glória pelos séculos dos séculos.

(São Gregório de Nazianzo - Sermão 14)

sábado, 29 de março de 2025

QUE MINHA ALMA LOUVE AS MISERICÓRDIAS DE DEUS!

Que minha alma te bendiga, Senhor Deus, meu criador, e do mais íntimo do meu ser, sejam louvadas as tuas misericórdias com que gratuitamente me envolveu tua imensa piedade! Dou graças, onde e sempre que posso, à tua infinita misericórdia. Com ela louvo e glorifico a tua generosa paciência com que encobriste todos os anos de minha infância e meninice, adolescência e juventude, até perto dos vinte e cinco anos. Anos vividos com tão cega insensatez que, por pensamentos, atos e palavras, fazia sem remorsos, assim me parece agora, tudo o que queria, onde quer que podia. Se não me previnisses pelo inato horror ao mal e gosto pelo bem, pela exortação exterior das pessoas circunstantes, teria vivido como pagã entre os pagãos. Nunca teria, então, entendido que tu, meu Deus, recompensas o bem e castiga o mal. No entanto, desde a infância, isto é, os cinco anos, tu me tinhas escolhido para me admitir entre os mais fiéis dos teus amigos na prática da santa religião.

Por isto, Pai amantíssimo, como reparação, eu te ofereço a paixão do teu dileto Filho, desde a hora em que deu o primeiro vagido, deitado nas palhas da manjedoura e, em seguida, suportou as fraquezas da infância, os limites da meninice, as adversidades da adolescência e os sofrimentos juvenis, até a hora em que, inclinando a cabeça na cruz, entregou o espírito com um forte grito. Da mesma forma, em satisfação de todas as negligências, ofereço-te, Pai amantíssimo, a mais santa das vidas, perfeitíssima em todos os pensamentos, palavras e atos, a vida de teu Unigênito, desde o instante em que, enviado das alturas do teu trono, entrou em nosso mundo, até depois daquela hora em que apresentou a teus paternos olhos a glória da carne vencedora.

Em ação de graças, mergulhando no profundo abismo da humildade, cubro de louvores tua mais que excelente misericórdia. Ao mesmo tempo adoro a suavíssima benignidade com que tu, Pai das misericórdias, pensaste pensamentos de paz e não de aflição sobre mim que vivia tão desorientada, e com que me exaltarias com a multidão e grandeza de teus benefícios. Acrescentaste ainda para mim o dom da familiaridade inestimável da amizade. De diversos modos me abriste a nobilíssima arca da divindade, quero dizer, teu coração divinizado, para a satisfação de todos os meus desejos.

Além de tudo isto, atraíste minha alma com as promessas tão firmes de benefícios com que queres me cumular na morte e depois da morte. Com toda razão, se não recebesse de ti nenhum outro dom, só por elas o meu coração com viva esperança ansiaria sem cessar por ti.

(Excertos da obra 'Dos livros das Revelações do Amor Divino', de Santa Gertrudes de Hefta)

quarta-feira, 26 de março de 2025

O PERDÃO NOSSO DE CADA DIA

Cristo acrescentou claramente uma lei que nos obriga a determinada condição: que peçamos a remissão das dívidas, se nós mesmos perdoarmos aos nossos devedores, sabendo que não podemos alcançar o perdão pedido a não ser que façamos o mesmo em relação aos que nos ofendem. Por esta razão, diz em outro lugar: Com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos. E aquele servo que, perdoado de toda a dívida por seu senhor, mas não quis perdoar o companheiro, foi lançado ao cárcere. Por não ter querido ser indulgente com o companheiro, perdeu a indulgência com que fora tratado por seu senhor.

Cristo propõe o perdão com preceito mais forte e censura ainda mais vigorosa: quando fordes orar, perdoai se tendes algo contra outro, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe os pecados. Se, porém, não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, não vos perdoará os pecados. Não te restará a menor desculpa no dia do juízo, quando serás julgado de acordo com tua própria sentença e o que tiveres feito, o mesmo sofrerás.

Deus ordenou que sejamos pacíficos, concordes e unânimes em sua casa. Mandou que sejamos tais como nos tornou pelo segundo nascimento; assim também ele nos quer renascidos e perseverantes. Deste modo nós, filhos de Deus, permaneçamos na paz de Deus e os que possuem um só Espírito tenham uma só alma e um só coração.

Deus não aceita o sacrifício do que vive em discórdia e ordena deixar o altar e ir primeiro reconciliar-se com o irmão, para que, com preces pacíficas, possa Deus ser aplacado. Maior serviço para Deus é a nossa paz e concórdia fraterna e o povo que foi feito uno pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Nos sacrifícios que Abel e Caim foram os primeiros a oferecer, Deus não olhava os dons, mas os corações, de forma que lhe agradava pelo dom aquele que lhe agradava pelo coração. Abel, pacífico e justo, sacrificando com inocência a Deus, ensinou os outros a depositar seus dons no altar com temor de Deus, simplicidade de coração, empenho de justiça e de concórdia. Aquele que assim procedeu no sacrifício de Deus tornou-se merecidamente sacrifício para Deus. Sendo o primeiro a dar a conhecer o martírio, iniciou pela glória de seu sangue a paixão do Senhor, por ter mantido a justiça e a paz do Senhor. Esses serão, no fim, coroados pelo Senhor; esses, no dia do juízo, triunfarão com o Senhor.

Quanto aos discordantes, aos dissidentes, aos que não mantêm a paz com os irmãos, mesmo que sejam mortos pelo nome de Cristo, não poderão, conforme o testemunho do santo Apóstolo e da Sagrada Escritura, escapar do crime de desunião fraterna, pois está escrito: Quem odeia seu irmão é homicida. Não chega ao reino dos céus nem vive com Deus um homicida. Não pode estar com Cristo quem preferiu a imitação de Judas à de Cristo.

(Excertos da obra 'Tratado sobre a Oração do Senhor', de São Cipriano)

terça-feira, 25 de março de 2025

ORAÇÃO PARA ANTES DA COMUNHÃO


Deus eterno e todo-poderoso, eis que me aproximo do sacramento do vosso Filho único, Nosso Senhor Jesus Cristo. Impuro, venho à fonte da misericórdia; cego, à luz da eterna claridade; pobre e indigente, ao Senhor do céu e da terra. Imploro, pois, a abundância da vossa liberalidade, para que vos digneis curar a minha fraqueza, lavar as minhas manchas, iluminar a minha cegueira, enriquecer a minha pobreza, vestir a minha nudez.

Que eu receba o Pão dos Anjos, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, com o respeito e a humildade, a contrição e a devoção, a pureza e a fé, o propósito e a intenção que convêm à salvação da minha alma.

Dai-me que receba não só o sacramento do Corpo e do Sangue do Senhor, mas também o seu efeito e a sua força. Ó Deus de mansidão, fazei-me acolher com tais disposições o Corpo que o vosso Filho único, Nosso Senhor Jesus Cristo, recebeu da Virgem Maria, que seja incorporado ao seu Corpo Místico e contado entre os seus membros. 

Ó Pai cheio de amor, fazei que, recebendo agora o vosso Filho sob o véu do sacramento, possa na eternidade contemplá-la face a face. Vós, que viveis e reinais na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. Amém.

(São Tomás de Aquino)

terça-feira, 18 de março de 2025

OS GRANDES DOCUMENTOS DA IGREJA (XXIV)

Decreto da Sagrada Congregação dos Ritos
QUEMADMODUM DEUS [08 de dezembro de 1870]

Papa Pio IX (1846 - 1878)

proclamação de São José como Patrono da Igreja


Da mesma maneira que Deus havia constituído José, gerado do patriarca Jacó, superintendente de toda a terra do Egito para guardar o trigo para o povo, assim, chegando a plenitude dos tempos, estando para enviar à terra o seu Filho Unigênito Salvador do mundo, escolheu um outro José, do qual o primeiro era figura, o fez Senhor e Príncipe de sua casa e propriedade e o elegeu guarda dos seus tesouros mais preciosos.

De fato, ele teve como sua esposa a Imaculada Virgem Maria, da qual nasceu pelo Espírito Santo, Nosso Senhor Jesus Cristo, que perante os homens dignou-se ter sido considerado filho de José, e lhe foi submisso. E Aquele que tantos reis e profetas desejaram ver, José não só viu, mas com Ele conviveu e com paterno afeto abraçou e beijou; e além disso, nutriu cuidadosamente Aquele que o povo fiel comeria como pão descido dos céus para conseguir a vida eterna. Por esta sublime dignidade, que Deus conferiu a este fidelíssimo servo seu, a Igreja teve sempre em alta honra e glória o Beatíssimo José, depois da Virgem Mãe de Deus, sua esposa, implorando a sua intercessão em momentos difíceis.

E agora, nestes tempos tristíssimos em que a Igreja, atacada de todos os lados pelos inimigos, é de tal maneira oprimida pelos mais graves males, a tal ponto que homens ímpios pensam ter finalmente as portas do Inferno prevalecido sobre ela, é que os Veneráveis e Excelentíssimos Bispos de todo o mundo católico dirigiram ao Sumo Pontífice as suas súplicas e as dos fiéis por eles guiados, solicitando que se dignasse constituir São José como Patrono da Igreja Católica. Tendo depois no Sacro Concílio Ecumênico do Vaticano insistentemente renovado as suas solicitações e desejos, o Santíssimo Senhor Nosso Papa Pio IX, consternado pela recentíssima e funesta situação das coisas, para confiar a si mesmo e os fiéis ao potentíssimo patrocínio do Santo Patriarca José, quis satisfazer os desejos dos Excelentíssimos Bispos e solenemente declarou-o Patrono da Igreja Católica, ordenando que a sua festa, marcada em 19 de março, seja de agora em diante celebrada com rito duplo de primeira classe, porém sem oitava, por causa da Quaresma.

Além disso, ele mesmo dispôs que tal declaração, por meio do presente Decreto da Sagrada Congregação dos Ritos, fosse tornada pública neste santo dia da Imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus e Esposa do castíssimo José. Rejeite-se qualquer coisa em contrário.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

ORAÇÃO DA SABEDORIA ETERNA


Deus dos nossos Pais, Deus de misericórdia, Vós criastes todas as coisas pela vossa palavra e pela vossa sabedoria. Vós formastes o homem para que ele pudesse ter domínio sobre todas as criaturas que fizestes; para que ele pudesse governar o mundo com justiça e equidade e pronunciar julgamento com um coração reto. Dai-me esta Sabedoria Eterna que se senta convosco em vosso trono.

Não me removeis do número dos vossos filhos, pois sou vosso escravo e filho da vossa escrava [Nossa Senhora], um homem fraco e de vida curta, com pouca compreensão do julgamento e das leis. Pois, mesmo quando uma pessoa é considerada perfeita entre os filhos dos homens, ela é, no entanto, inútil se a vossa Sabedoria não habita nela. É a vossa Sabedoria que tem conhecimento das vossas obras, que estava convosco quando fizestes o mundo e que sabe o que é agradável aos vossos olhos e mostra o que é certo de acordo com os vossos mandamentos.

Enviao o vosso Espírito, então, do vosso Santuário no Céu e do trono da vossa majestade, para que esta Sabedoria esteja comigo e trabalhe comigo para que eu possa saber o que é agradável a Vós. Pois a Sabedoria possui o conhecimento e a compreensão de todas as coisas. Ela me guiará em todas as minhas obras com percepção verdadeira, e seu poder me guardará. Minhas ações, então, serão agradáveis ​​a Vós e eu guiarei o vosso povo com justiça e serei digno do trono de meu Pai. Pois que homem pode conhecer os desígnios de Deus ou descobrir qual é a sua Vontade?

Os pensamentos dos homens são incertos e seus planos são incertos, pois um corpo perecível pesa muito sobre sua alma, e a habitação terrena deprime e perturba o espírito por muitos cuidados. Entendemos apenas com dificuldade o que está acontecendo na terra, e achamos difícil discernir até mesmo o que está diante de nossos olhos.

Como podemos saber o que está acontecendo no Céu, e como podemos conhecer os  vossos pensamentos, a menos que nos concedeis a vossa Sabedoria e nos envieis do Céu o vosso Espírito Santo para que Ele possa endireitar os caminhos dos que vivem na Terra e nos ensinar o que é agradável a Vós. Senhor, é por meio da vossa Sabedoria que todos aqueles que têm sido agradáveis ​​a Vós, desde o início dos tempos, foram salvos. Dai-nos, pois, agora e sempre, a vossa Divina Sabedoria. 

(São Luís de Montfort)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (III)

A imagem da Sagrada Família, composta pela presença da Virgem Maria, São José e o menino Jesus é bastante conhecida e venerada pelos cristãos.

Embora esta imagem tenha sido pintada por grandes mestres tanto do Ocidente quanto na iconografia ortodoxa e bizantina, este ícone é ainda motivo de polêmica e questionamento. Tal polêmica busca confrontar a representatividade desta imagem familiar, no sentido de que a iconologia ortodoxa não entende São José como o chefe de uma 'Sagrada Família' (o que, nessa interpretação equivocada,  implicaria diretamente em uma percepção enfraquecida da virgindade de Maria), mas apenas como o guardião providencial da Mãe de Deus e do seu Divino Filho. Neste contexto, o apequenamento de São José seria essencial para se compreender a dimensão maior da hierarquia divina da Sagrada Família. Tal visão distorcida confronta-se com a própria natureza e significado da iconografia cristã.


Com efeito, os ícones repreesentam imagens de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Nossa Senhora e Mãe de Deus, dos Santos Anjos e dos Homens Santos e Veneráveis. Por meio desta representação por imagens, somos incitados a contemplá-los, a lembrarmo-nos deles como modelos, como objetos de nosso amor e louvor e veneração, e não a verdadeira adoração que, segundo a nossa fé, convém apenas à natureza divina, porque a honra dada à imagem vai direta ao seu modelo e aquele que venera um ícone venera a pessoa que se encontra nele representada. Nestes termos, tem-se como óbvio que tal polêmica, mais do que infantil e distorcida, é absurdamente ímpia no sentido de se buscar impor, como premissa, o apequenamento de São José (a ponto de não se aceitar a sua inserção na representação na família de Nazaré) para a elevação (mais do que conhecida) do papel da Mãe de Deus e do seu Divino Filho no plano da salvação e redenção da humanidade.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

TESTAMENTO ESPIRITUAL DE SÃO JOÃO BOSCO


Antes de partir para a minha eternidade, devo cumprir alguns deveres para convosco e assim satisfazer o grande desejo do meu coração. Antes de mais nada agradeço-vos com o mais vivo afeto do coração a obediência que me prestastes e todo trabalho que tivestes para sustentar e propagar a nossa Congregação.

Eu vos deixo aqui na terra, mas apenas por pouco tempo. Espero da infinita misericórdia de Deus que um dia nos possamos encontrar todos na feliz eternidade. Lá vos espero. Recomendo-vos que não choreis a minha morte. É uma dívida que todos havemos de pagar, mas depois será copiosamente recompensado todo trabalho sofrido pelo amor de nosso Mestre, o nosso Bom Jesus.

Em vez de chorar, fazei firmes e eficazes resoluções de permanecerdes fiéis à vocação até a morte. Ficai atentos e cuidai a fim de que o amor do mundo, a afeição dos parentes, tampouco o desejo de uma vida mais cômoda não vos levem ao grande despropósito de profanar os santos votos e assim transredir a profissão religiosa, com que nos consagramos ao Senhor. Nenhum de nós tome de novo o que já demos a Deus.

Se me amastes no passado, continuais a amar-me no futuro com a exata observância das nossas Constituições. Morreu o vosso primeiro Reitor. Mas o nosso verdadeiro Superior, Jesus Cristo, não morrerá. Será ele sempre o nosso Mestre, nosso Guia, nosso Modelo. Não vos esqueçais, porém, de que a seu tempo será o nosso Juiz e Remunerador da fidelidade em seu serviço.

O vosso Reitor já não vive, mas será eleito outro que cuidará de vós e da vossa eterna salvação. Ouvi-o, amai-o, obedecei-lhe, rezai por ele, como fizestes para comigo. Adeus, queridos filhos, adeus. No céu vos espero. Lá falaremos de Deus, de Maria, Mãe e sustentadora da nossa Congregação; lá bendiremos por todo o sempre esta nossa Congregação, cujas regras por nós observadas contribuíram poderosa e eficazmente para a nossa salvação. Bendito seja o nome do Senhor de agora até o século futuro (Sl 113, 2). Em ti, Senhor, esperei, e não serei confundido na eternidade (Sl 71,1).

(São João Bosco)

São João Bosco, rogai por nós!

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (II)

João Batista é o Precursor de Cristo e, por isso, na iconografia cristã, é comumente representado com asas, simbolizando a condição ímpar de João Batista como um arauto divino. Tal representação é absolutamente ímpar porque João é o grande Precursor do Redentor e, com a sua prisão e morte, tem fim a Era dos Profetas. 'Profeta do Altíssimo', João supera todos os profetas, dos quais é o últimoE sobre ele, foram manifestadas as palavras de glória eterna pelo próprio Cristo: 'entre os nascidos de mulher, não há ninguém maior do que João' (Mt 11,11).

Nas inscrições dos ícones, João é descrito como sendo o 'Anjo do Deserto', por duas razões: primeiro, pela condição de mensageiro da chegada iminente de Jesus Cristo, nosso Salvador; segundo, pela vida austera de castidade, abstinência e oração no deserto, no encontro com Deus e no afastamento completo e desapego às coisas mundanas (João Batista é o padroeiro dos monges, eremitas e ascetas). Por ambas as razões, o seu ícone incorpora as duplas asas de uma pomba. Os cabelos longos, a barba espessa mal cuidada e as vestes rudes remetem à vida de austeridade no deserto. No ícone, João prenuncia Cristo, indicando o seu nascimento com a mão direita e segurando um pergaminho na mão esquerda, que contém o texto bíblico referente a essa anunciação.

João Batista é mártir pela fé e pelo sangue. No primeiro caso, como testemunha e guerreiro da fé (ícones desta natureza são representados por uma vestimenta de cor verde, sendo identificados como 'mártires verdes') e, no segundo caso, pelo derramamento de sangue (João Batista foi decapitado por ordem de Herodes). Símbolos deste martírio estão também comumente presentes em ícones do santo como a túnica verde, a cruz e a bandeja contendo a cabeça de João Batista (Mt 14,11).