'Sobretudo os sacerdotes, que Deus chama de 'ungidos', devem ser anjos, não homens! E realmente o são, quando não recusam a iluminação divina. O sacerdote desempenha o ofício dos anjos! (…) Assim, os sacerdotes na hierarquia dão-nos o corpo e o sangue de Cristo crucificado, Deus e homem pela união da natureza divina com a humana; em Jesus a alma estava unida ao corpo; a alma e o corpo estavam unidos à divindade, em natureza igual à de Deus Pai. Mas o sangue e o corpo de Jesus devem ser ministrados por pessoas retamente iluminadas por Deus na ardente chama da caridade, para suas almas não serem devoradas pelo lobo infernal. Sacerdotes assim alimentam-se de virtudes, que depois são dadas às almas para a vida na graça, como frutos de uma caridade perfeita e verdadeira.
Como dissemos antes, agem diversamente os que cultivam na alma a árvore do egoísmo. Toda sua vida é corrompida, uma vez que corrompida está a raiz principal, a afeição da alma. (…) Tratando-se de religiosos ou sacerdotes, suas vidas não imitam a vida dos anjos, nem a dos homens, mas a dos animais, que rolam na lama. Às vezes são piores que leigos! De que ruína e castigo são dignos! A linguagem humana é incapaz de os descrever. No dia do juízo, o que a alma experimentará! Tais pessoas desempenham o papel dos demônios, que procuram afastar as almas de Deus para levá-las consigo ao falso descanso. Também eles abandonaram a vida reta e santa, perderam a iluminação divina, vivem na maldade'.
Catarina, Carta II ao Pe. Vitroni
'É preciso entender na fé que Deus é bondade suprema e eterna, que somente quer o nosso bem. O desejo de Deus é que nos santifiquemos. Tudo o que Ele nos manda ou permite tem esta finalidade. Se duvidarmos disto, erramos. Basta pensar no sangue do humilde e imaculado cordeiro, trespassado pela lança, sofredor, atormentado. Entenderemos que o Pai eterno nos ama. Por causa do pecado tínhamo-nos tornado inimigos de Deus. Amorosamente, o Pai deu-nos o Verbo, o seu filho Unigênito. Este último entregou por nós a sua vida, correndo para uma vergonhosa morte na cruz. Por que razão? Por amor à nossa salvação. Como vedes o sangue de Jesus dissipa toda a dúvida em nós, de que o Pai queira outra coisa além da nossa santificação. Aliás, como poderia Deus querer algo fora do bem? Impossível!
Como poderia o supremo Bem descuidar-se de nós? Ele que nos amou antes de existirmos, Ele que por amor nos criou à sua imagem e semelhança, não poderia deixar de nos amar e de prover às necessidades da nossa alma e do nosso corpo. O criador sempre nos ama como criaturas suas. Somente o pecado Deus detesta em nós. Durante esta vida, na medida das nossas necessidades, Ele permite dificuldades quanto aos bens materiais. Como sábio médico, ministra-nos o remédio de que precisa a nossa enfermidade. Deus age assim para eliminar os nossos defeitos aqui na terra de maneira que tenhamos que sofrer menos na vida futura; ou para pôr à prova a nossa paciência'.
Catarina, Carta XIII
'Bem vedes, reverendo pai! Jesus, que é amor, morre de sede e fome pela nossa salvação. Por amor a Cristo crucificado, peço que mediteis sobre tal sede do Cordeiro. Minha alma gostaria de vos ver morrendo de desejo santo, ou seja, tudo fazendo com amor pela glória de Deus e pela salvação das almas, pela exaltação da Santa Igreja. Gostaria de vos ver crescendo em tal sede e por causa dela morrendo, como fez Jesus. Que morressem a vontade pessoal e o amor sensível. Que morrêsseis às honras, satisfações sociais e todo tipo de grandeza humana.
Tenho certeza de que, se olhardes para o vosso íntimo, compreendereis que nada sois; entendereis que tudo vos foi dado por Deus numa grande chama de amor; vosso coração não oporia resistência ao ímpeto da caridade, mas eliminaria, todo amor próprio, não procuraria o que é útil à própria pessoa. Vós amaríeis a Deus por ele mesmo e também amaríeis o próximo, não por interesses pessoais, mas a fim de promover sua salvação eterna e a glória divina. Deus ama demais a humanidade. Também os servos de Deus devem amá-la, imitando o Criador. É condição da amizade que eu ame tudo aquilo que meu amigo ama. E os servos querem bem a Deus, não por interesse pessoal, mas porque Deus, bondade infinita, merece ser amado'.
Catarina, Carta XVI
'Ouvi‐me, Deus, doce amor! Erguei, Papa, presto o estandarte da santíssima cruz, e vereis os lobos tornarem‐se cordeiros. Paz, paz, paz! ... Ouvi‐me, Pai, eu morro de dor, e não posso morrer. Vinde, vinde e não façais mais resistência à vontade de Deus que vos chama; e às famintas ovelhas vos esperam, que vindes tomar e possuir o lugar do vosso antecessor e campeão, apóstolo Pedro. Porquanto vós, como vigário de Cristo, deveis repousar no lugar que vos é próprio. Vinde, então, vinde, e não mais tardeis; e confortai‐vos, e não temais de nenhuma coisa que possa acontecer, porque Deus será convosco'.
Catarina, Carta XXII a Gregório XI, 1376
'Ouvi‐me, desventurada minha alma, causa de todos estes males! Entendi que os demônios encarnados elegeram, não Cristo na Terra, mas fizeram nascer o Anticristo contra vós, Cristo na Terra; o qual confesso, e não o nego, que sois vigário de Cristo, que tendes as chaves do celeiro da Santa Igreja, onde está o sangue do imaculado Cordeiro; e que vós sois o administrador, mau grado de quem quer dizer o contrário, e apesar da confusão da mentira, a qual Deus confundirá com a sua doce verdade; e nela vos libertou e à vossa doce esposa… Escondei‐vos no peito de Cristo crucificado, que é uma gruta (...); banhai‐vos no seu dulcíssimo sangue.
E eu, como escrava remida com o sangue de Cristo, e todos aqueles que estão prontos a dar a vida pela verdade, os quais Deus me deu para amar com singular amor, e cuidar da sua salvação, estamos prontos todos a ser obedientes à V. S. e sustentar até à morte; ajudando‐vos com as armas da santa oração, e com o semear e anunciar a verdade em qualquer lugar que for da doce vontade de Deus e de V. S. Nada mais digo sobre esta matéria. Rodeai‐vos de bons e virtuosos pastores; e ao vosso lado decidi ter os servos de Deus. A vossa esperança e a vossa fé não sejam postas na ajuda humana, que pouco vale; mas só no adjutório divino, o qual não mais será retirado de nós; entretanto, esperemos esse adjutório; assim seremos tão providos de Deus, quanto dele esperamos. Então, nele, esperamos com todo o coração, com todo o afeto, com todas as nossas forças. Permanecei na santa e doce predileção de Deus!'
Catarina, Carta a Urbano VI, 1378