Dai-me, Senhor, a Vossa angústia no Monte
das Oliveiras, para que eu me surpreenda com o Vosso horror ao pecado;
Dai-me, Senhor, o Vosso suor de sangue para
que eu possa apagar o fogo das minhas inquietudes;
Dai-me, Senhor, as marcas dos Vossos
flagelos, para que eu possa curar-me das feridas da vaidade;
Dai-me, Senhor, a dor lancinante dos espinhos
que perfuraram a Vossa fronte para que possa aliviar os Vossos filhos que
sofrem;
Dai-me, Senhor, a Vossa agonia na subida
do Calvário para que eu seja capaz de abrir caminhos nas marcas de Vossas
sandálias;
Dai-me, Senhor, o desfalecimento das
Vossas quedas para que eu possa erguer da terra com mais perseverança;
Dai-me, senhor, o peso do madeiro que
vergaste Vossos braços no Calvário, para que eu me desfaleça diante da minha
miséria;
Dai-me, Senhor, a rigidez dos pregos
cortando Vossos membros, para que eu tenha a ternura dos que constroem a paz;
Dai-me, Senhor, o assombro de Vossos espasmos
para que a sombra do orgulho não acompanhe os meus passos;
Dai-me, Senhor, a Vossa sede atroz para que
eu possa saciar a muitos com o refrigério da esperança;
Dai-me, Senhor, a Vossa compaixão diante
dos Vossos algozes, para que eu saiba amar sem medida alguma;
Dai-me, Senhor, o Vosso peito aberto à
lança que mata, para que eu defenda a vida ainda que no ventre;
Dai-me, Senhor, a água que brota do Vosso
coração dilacerado para que eu possa lavar todas as minhas faltas;
Dai-me, Senhor, a Vossa Cruz bendita para
que um dia, diante de Vós, eu não chegue de mãos vazias...
(Arcos de Pilares)