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sábado, 26 de outubro de 2024

A BÍBLIA EXPLICADA (XXIX) - AS PRAGAS DO EGITO


A Escritura, sem dúvida, apresenta repetidamente as 'Pragas do Egito' como fenômenos milagrosos*. O autor inspirado julga-as como tal e esse deve ser o juízo do exegeta. Por outro lado, quase todos os fatos descritos têm clara analogia com fenômenos naturais que de vez em quando ocorriam no Egito (rās, mosquitos, pústulas, granizos, gafanhotos). Pode deduzir-se daí que o caráter milagroso das 'pragas' algumas vezes não reside na substância, porém no modo. As 'pragas', com efeito, ocorrem como consequência da ordem de Moisés, de maneira mais trágica que o usual, não muito tempo após a outra, poupando de seus efeitos mortíferos os israelitas. 

* Milagre é um fato experimental, que não decorre do jogo usual das forças da natureza, porém, de uma intervenção direta do poder de Deus. Esta intervenção direta de Deus pode manifestar-se de três modos: ou o efeito é totalmente estranho às forças naturais e às leis da natureza e, neste caso, os teólogos falam de milagre quoad substantiam, a saber naquilo que se refere à substância, à própria natureza íntima do fato (p. ex: a glorificação dos corpos ressuscitados); ou o efeito é movido por forças naturais, porém não se aplica a todos os seres (milagres quoad subiectum: p. ex.: a natureza é capaz de fornecer a capacidade visual, porém não a um cego que tenha o órgão da vista irreparàvelmente comprometido, bem como a vida, mas não para um morto); ou trata-se de um efeito possível para a natureza, porém não de um modo corrente ou usual (um tempo prolongado de carência, uma tempestade ou um terremoto ou outro fenômeno natural que ocorra exatamente quando intimado por um profeta); trata-se então de um milagre quoad modum.

O gênero literário desta narrativa apresenta a particularidade estilística das fórmulas fixas, como no primeiro capítulo do Gênesis e a de partes simétricas bipartidas entre comando e execução como na narrativa do Dilúvio. Um exemplo foi citado quando se tratava dos cânones artísticos. Aqui também se trata então de uma narrativa artisticamente esquematizada. Isto não invalida a historicidade dos acontecimentos e da própria narrativa, mas sugere a hipótese de que se possam encontrar disseminados aí modos de dizer 'hiperbólicos' ou 'correlatos', tais como encontramos nas descrições das mesmas 'pragas', no capítulo 17 do Livro da Sabedoria, que se apresentam claramente como ampliações poéticas com finalidade didática; didático e poético realmente é o gênero literário do livro em que se encontram.

Tem-se, ao contrário, uma narrativa esquemática dos mesmos fatos nos Salmos 77 [78] e 104 [105]. Muitos intérpretes colocam entre os milagres quoad substantiam, ou seja quoad subiectum, a água transformada em sangue (ou melhor em aparência de sangue, não sendo necessário incorporar nela glóbulos vermelhos e os outros elementos do sangue vivo), as trevas e a morte dos primogênitos. Pode-se, entretanto, considerar provável a identificação parcial das duas primeiras calamidades com dois fenômenos bem conhecidos no Egito; a saber: a cor vermelho-escura que o Nilo adquire pela presença de inúmeros infusórios no início de julho e a obscuridade que frequentemente ocorre no Egito, nos fins de março, causada pela areia levantada pelo vento do deserto.

Notemos, além disso, como a ordem em que as pragas se sucedem exibe uma coincidência notável com a ordem e a época de aparições de fenômenos naturais correspondentes: primeira: o avermelhamento do Nilo (em julho, a época da inundação); segunda, terceira e quarta: rās e mosquitos, cuja multiplicação coincide com a cheia do Nilo (no verão e outono); quinta e sexta: peste e pústulas, enfermidades do período invernal; sétima: granizos: fenômeno bastante raro, que se verifica quase que exclusivaente em janeiro e fevereiro; oitava: os gafanhotos, bastante raros também (início da primavera); nona: as nuvens de areia (final de março, exatamente à época da Páscoa, em que se dá a partida dos hebreus do Egito); décima: as trevas e a morte dos primogênitos (sem correlação com eventos naturais).

Porém, não obstante estas analogias, fica sempre claro que todas as dez 'pragas' outra coisa não são que milagres, como já dissemos, porque têm início e término por ordem de Moisés com proporções e efeitos preternaturais. As citadas coincidências com os flagelos tipicamente maturais destinam-se apenas para eliminar no leitor a impressão eventual de extravagância dos prodígios e a tornar ainda mais plausível o caráter histórico dos mesmos. 

Quanto aos mágicos egípcios, que no primeiro milagre (Ex 7,9-12) e nas duas primeiras pragas parecem imitar os prodígios de Moisés, tem-se o direito de supor que se trate de alguma ilusão ou de algum hábil artifício, à maneira das técnicas ilusionistas dos atuais faquires. Sua intervenção é assinalada para por em evidência a origem divina dos prodígios de Moisés. Há realmente um clímax e uma sequência crescente: a princípio os mágicos se dão bem, depois não mais são bem sucedidos, depois são obrigados a confessar a presença do 'dedo de Deus' (Ex 8, 15) e, por fim, eles próprios tornam-se vítimas do flagelo das pústulas (Ex 9, 11).

(Excertos adaptados da obra 'Páginas Difíceis da Bíblia - Antigo Testamento', de E. Galbiati e A. Piazza)

terça-feira, 8 de outubro de 2024

A BÍBLIA EXPLICADA (XXVIII) - O DILÚVIO FOI UNIVERSAL?


O autor inspirado apresenta repetidamente o dilúvio como universal: ele leva de roldão a humanidade (Gn 6,7), todos os viventes (Gn 6, 13) e tudo que há sôbre a terra (Gn 6,17), todos os seres (Gn7,4), tudo que respira hálito vital (Gn 7,22), e as águas cobriram todos os montes altos que estão abaixo de todo céu (Gn 7,19).

Estas expressões não são realmente tão categóricas assim, como podem parecer à primeira vista. Há exemplos na linguagem bíblica, em que a palavra 'todo' refere-se a uma parte que o autor considera no seu conjunto. Referindo-se ao próximo ingresso dos hebreus na Palestina, Deus promete ao seu povo: 'hoje principio a esparramar o terror e o medo de ti entre os povos debaixo de todo o céu' (Dt 2,25). Aqui se trata evidentemente apenas dos povos das várias regiões da Palestina. A escassez, ao tempo de José, 'era grande em toda a terra e de todos os países vinham para comprar trigo' (Gn 41,57). Aqui o horizonte é mais amplo que no exemplo anterior, mas não muito mais. A luta entre os fiéis a Davi e os partidários de Absalão alastrou-se 'pela face da terra' (2Sm 18,8). Aqui o horizonte é muitíssimo restrito: trata-se de uma parte da Palestina. Não faltam outros exemplos; e uma tal elasticidade de linguagem aparece também no Novo Testamento, no episódio do Pentecostes, do qual participavam pessoas pertencentes de 'todas as nações que existem sob o céu' (At 2,5), evidentemente no âmbito do Império Romano, como decorre da enumeração que segue (At 9-11).

Afirmar que o autor sagrado, quando diz 'toda a terra' dá a êstes termos o sentido mais óbvio para nós, é abusar de suas palavras: em primeiro lugar porque apreende-se, como se viu, a elasticidade de tal expressão na linguagem bíblica; em segundo lugar porque as palavras 'toda a terra' têm para nós um significado concreto correspondente às nossas adiantadas noções geográficas, que o autor sagrado nem ao menos suspeitava nem podia por isso exprimir por suas palavras. Não há pois que pensar num dilúvio que cobrisse de água todo o globo até o Everest, desde o Alasca até a Nova Zelândia! O Gênesis não conhece nem o Everest nem a Nova Zelândia e nem mesmo o globo. Cabe por isso excluir a universalidade geográfica, não tanto pelos inúmeros e retumbantes milagres que seriam necessários, como porque, realmente, isto não corresponde à intenção do autor sagrado. Mas, qual é então o alcance das palavras bíblicas? Até onde se estende o horizonte dessa universalidade?

Há duas correntes entre os estudiosos católicos. Alguns afirmam: todos os homens (universalidade antropológica) e, portanto, toda a terra então habitada pelos homens e todos os animais que se encontravam naquela região. Realmente o autor apresenta o dilúvio como castigo por causa da conduta dos homens: os animais perecem por se encontrarem na mesma zona e sua ruína é repetidamente lembrada porque acrescenta algo de trágico à grandiosidade do castigo divino. Paralela a essa menção encontra-se, além disso, a dos animais salvos na arca, evidentemente para um rápido repovoamento daquelas terras.

Outros julgam que o autor não pretendia sequer falar da destruição de todos os homens, mas apenas daquela porção de que provém a família de Noé e, portanto, os antepassados do povo eleito (universalidade antropológica relativa), observando que: 

(i) o autor sagrado em todo Gênesis adota o sistema de restringir pouco a pouco o âmbito de sua conjectura. Isto é claro do dilúvio em diante. Depois de ter enumerado os povos descendentes de Jafé, Cam, Sem (Gn 10), abandonando todos os outros ao próprio destino, interessa-se apenas por uma linhagem, aquela que de Sem, através de Arfaxad, conduz a Tare ou Terá (Gn 11). Dos filhos de Tare considera Abraão, e abandona os outros totalmente depois de algumas indicações (Gn 11,27-32; 2,1-5). Abraão tem dois filhos, Ismael e Isaac. Depois de recordar apenas com uma genealogia (Gn 25,12-18) a posteridade de Ismael, o autor prossegue com Isaac (Gn 25,19); Isaac tem dois filhos, Esaú e Jacó; após referir alguns episódios interessantes relativos ao dois patriarcas, o autor apresenta uma longa descendência de Esaú (Gn 36), que assim sai do campo de seu interesse, para prosseguir depois com a história de Jacó e dos seus doze filhos. Assim o horizonte vai aos poucos restringindo-se até abranger somente o povo de Israel. Este plano é maravilhoso e não tem paralelo em nenhuma outra obra do antigo Oriente. Ele mostra que o autor inspirado, antes de se interessar por seu povo, tem em mira a humanidade toda, e que é o mesmo Deus de Israel - Aquele que dirige os destinos do Universo. 

Porém, tal processo eliminatório inicia-se apenas depois da narrativa do dilúvio, ou já antes? Segundo estes estudiosos católicos o autor sagrado, ao dar a descendência de Caim, já elimina um ramo da humanidade; pode-se imaginar que os cainitas não voltarão mais ao horizonte dele. Depois menciona-se Set e outros filhos e filhas de Adão (Gn 5,3-4). Os outros filhos e filhas são abandonados e é tomado em consideração apenas Set. Set gera Enós, e outros filhos e filhas; estes também são desprezados e prossegue-se com Enós. Assim vai até Lamec e Noé. Teremos então, por ocasião do dilúvio, uma humanidade já subdividida em ramos, dos quais o autor sagrado considera apenas a descendência de Set ou suas últimas ramificações em cujo meio vivem os 'filhos de Deus' (Gn 6,2).

(ii) um outro argumento seria oferecido pela listagem dos povos que se segue à narrativa do dilúvio (Gn 10). Aí, o autor sagrado enumera os povos da terra, colocando-os em relação aos três filhos de Noé! Dizemos colocando-os em relação, e não outra coisa, porque aqui, muito mais que em outro qualquer lugar nas genealogias, a palavra 'filho' tem significado muito vago. Realmente os descendentes de Sem, Cam e Jafé ora são indivíduos, mais frequentemente são povos e são, algumas vezes, até cidades. Em certos casos, tratar-se-á de pertinência racial; porém, em outros casos, a relação pode ser puramente extrínseca, como o assimilar da mesma civilização ou o continuar da mesma hegemonia (caso coletivo da descendência jurídica). De qualquer modo estes setenta nomes estranhos, muitos dos quais apenas recentemente foram trazidos à luz pelas escavações arqueológicas (basta pensar nos hititas, amorritas e cretenses), compreende apenas povos do Mediterrâneo, da Ásia Menor, Cáucaso, Mesopotâmia, Arábia e Egito. Todos povos de raça branca (Europóides). Os outros não se acham no horizonte do escritor sagrado* e, portanto, não estariam incluídos por ele no dilúvio. É realmente difícil aceitar que ignorasse a existência dos negros, frequentemente representados nos monumentos egípcios, onde eram também empregados como escravos.

Não é fácil decidir qual das duas hipóteses seja preferível, visto que o texto não fornece elementos suficientes para uma opinião correta. A idéia fundamental do autor sagrado manifesta-se entretanto preservada em ambas interpretações, se bem que, supondo a destruição total da humanidade, esteja-se mais em harmonia com a tonalidade universalística dos capítulos que precedem a história de Abraão.

* que os povos amarelos derivam de Sem, os negros de Cam e oa brancos de Jafé é uma suposição que não encontra qualquer apoio na Bíblia.

(Excertos adaptados da obra 'Páginas Difíceis da Bíblia - Antigo Testamento', de E. Galbiati e A. Piazza)

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

A BÍBLIA EXPLICADA (XXVII) - AS GENEALOGIAS BÍBLICAS


A pré-história do Gênesis narra pouquíssimos episódios anteriores a Abraão; destes, o dilúvio constitui o ponto central. Para preencher as duas lacunas existentes entre os primeiros homens e o dilúvio, e depois entre este evento e Abraão, o autor sagrado cita duas genealogias. A primeira, desde o primeiro homem (Adão) até o símbolo da humanidade renovada (Noé), conta dez nomes. A segunda, desde Sem, filho de Noé, até Abraão, tronco principal da comunidade hebraica, conta outros dez nomes (Gn 5,1-32; 11,10-32). Tudo isto tem, certamente algo de convencional e lançou os estudiosos à pesquisa de qual fosse o critério dos antigos ao tecer tais genealogias. Tais pesquisas permitem-nos chegar às seguintes conclusões:

1. A genealogia é um gênero literário que tem a finalidade de documentar a pertinência de um indivíduo a um determinado grupo familiar. Sua importância é máxima nas sociedades de estrutura patriarcal, porque é pela genealogia que o indivíduo recebe os seus direitos. Enquanto, nas sociedades mais complexas, como as atuais, o indivíduo tem determinados direitos por ser cidadão de um determinado estado, na patriarcal - como aquela dos pastores nômades — o indivíduo tem, pelo contrário, seus direitos certos enquanto filho ou descendente de um determinado trono. Daí a necessidade de um documento, oral ou escrito, que faça conhecer-lhe a genealogia.

2. Em tal documento genealógico podiam faltar elos intermediários para fins de brevidade e praticidade. Este fato é muito bem caracterizado. São Mateus (Mt 1,8), na genealogia de Jesus escreve: 'Jorão gerou Ozias'; ora, entre Jorão e Ozias acham-se omitidos os reis Ocozias, Joás e Amasias (cf Reis 9, 16; 11, 2-21; 14, 1). O tempo que os hebreus permaneceram no Egito, segundo o Êxodo (Ex 12, 40) foi de 430 anos; pois bem, na genealogia de Moisés, dada pelo mesmo livro (Ex 6,14-), entre Levi, entrado no Egito com seu pai Jacó, e Moisés, o condutor dos israelitas que saíam do Egito, há apenas dois elos intermediários: Levi, Cahat, Amram, Moisés. E assim poderiam ser citados muitos outros exemplos semelhantes a este.

3. A omissão de nomes podia provir do propósito de se obter números simbólicos - como as três séries de 14 nomes na genealogia de Jesus em Mateus (Mt 1,17) - ou números, de outro modo, capazes de se fixar de memória.

4. A palavra gerar, em genealogia, é de significado quase tão amplo quanto a palavra filho, que indica uma pertinência genealógica ainda que muito remota (como o Messias filho de Davi) e, algumas vezes, apenas de direito. Há realmente eqüivalência entre geração e transmissão de direitos. Assim, na genealogia de Jesus, São Mateus escreve: 'Salatiel gerou Zorobabel', concordando com o fato de ser Zorobabel chamado, em outro lugar da Bíblia (Ag 1,1), filho de Salatiel. Mas, na realidade, sabemos de 1 Crônicas (1 Cr 3,19) que Zorobabel é filho de Fadaías, irmão de Salatiel.

5. A genealogia pode ter sido usada para resumir um período histórico, como por exemplo, as genealogias apresentadas no início das 1 Crônicas e no Evangelho de São Mateus; mas não pode absolutamente servir para criar uma cronologia.

Considerando esclarecidos estes pontos, ao examinar as duas genealogias dos patriarcas, anterior e posterior ao dilúvio, devemos concluir que:

1. O autor evidentemente pretende demonstrar, pelas duas genealogias, que Noé é o herdeiro legítimo das promessas feitas a Adão e dos seus ditamess humanos e, pela mesma razão que Abraão, além de ser herdeiro das promessas precedentes, é herdeiro das bênçãos dadas a Sem.

Para este fim, segundo alguns intérpretes, não teria sido necessário nem conhecer as duas séries de nomes pela Revelação, nem entrar a fundo no valor objetivo de tais documentos, mas teria bastado ao autor sagrado introduzir, imutadas, as sequências genealógicas transmitidas pela tradição e, provavelmente já escritas (cf Gn 5,1: 'este é o livro das gerações de Adão...'). Isto é, tratar-se-ia de uma citação , não implícita mas, certamente, explicita, que citaria documentos então conhecidos de todos.

Que o autor não tenha pretendido assumir a responsabilidade dos números indicadores das idades dos Patriarcas ante e pós-diluvianos concluir-se-ia do fato que, enquanto nestas duas listas genealógicas considera comum o gerar em idade pluricentenária, logo depois, na história de Abraão, sublinha insistentemente (Gn 17,17; 18,1) o caráter milagroso do nascimento de Isaac de um pai centenário e de uma mãe nonagenária.

2. O número das gerações - 10 antes do dilúvio e 10 depois do dilúvio - faz pensar numa simplificação sistemática: 10 são os dedos da mão, e 10 é a base do sistema decimal: é muito conveniente pois para fixação da memória. Além disto, desde o inicio do segundo milênio, mesmo os súmeros registraram, pelo menos segundo alguns recenseamentos, os nomes de dez soberanos que precederam o dilúvio.

3. A introdução de números simbólicos em algumas genealogias faz-nos supor que mesmo os outros dados que indicam as idades dos Patriarcas das duas séries, correspondem a um cálculo não objetivo, porém artificioso ou simbólico. A idade de Enoque (365 anos como os dias de um ano solar) e de Lameque (777 anos) dão algum indicio a respeito. Assim, a soma dos anos de vida dos Patriarcas desde Sem a Lameque (Abraão está fora da série) dá 2996, o que, com a única diferença de uma unidade, é igual a (300 x 9) + (30 x 9) + (3 x 9) e que resulta 333 anos em média para cada um. Um processo como este para atingir a um total intencional encontra-se nas várias sequências babilônicas dos dez reis antidiluvianos que reinam cada um dez milhares de anos. 

Note-se, além disso, que entre os samaritanos, os números destas genealogias são diferentes dos retirados do texto hebraico comum e da versão latina de São Jerônimo e exibem sinais evidentes de uma adaptação artificiosa. Esta constatação confirma a hipótese de que, entre os hebreus, aqueles números não tivessem um valor exato mas, por outro lado, demonstra também que eles não foram fielmente transmitidos de maneira que, certamente, é impossível basear-nos sobre eles para descobrir o principio artístico ou simbólico que presidia a sua escolha Com isto não se pretende negar que aqueles antigos, em circunstâncias particularmente favoráveis, pudessem ter vida longa, porém apenas realçar que os números do texto bíblico satisfazem provavelmente a critérios que nos escapam e que, portanto, não nos é possível tirar conclusões exatas concernentes à longevidade dos Patriarcas. Pode além disso acontecer, como se disse acima, que o autor sagrado tenha incluído em seu relato as duas genealogias apenas como citações, sem se comprometer em um juízo sobre as minúcias, apenas com a intenção de preencher 1acunas no fio histórico de sua narrativa.

4. O fato de Set ter a uma determinada idade gerado Enos (Gn 5,6) pode significar simplesmente que Set, numa determinada idade, gerou um filho de quem, depois de uma linha genealógica mais ou menos longa, nasceu Enos. O mesmo se pode dizer dos outros nomes. Nesta hipótese, os 10 nomes seriam tão somente os 10 nomes mais relevantes de uam série muito longa e não necessàriamente linear.

5. Em conclusão, as duas sequências genealógicas resumem dois períodos pré-históricos, mas não nos podem servir para fixar a duração de tais períodos e tampouco, consequentemente, a antiguidade do gênero humano. Sobre a antiguidade do homem, a Bíblia não nos favorece nenhuma conclusão.

(Excertos adaptados da obra 'Páginas Difíceis da Bíblia - Antigo Testamento', de E. Galbiati e A. Piazza)

sábado, 10 de outubro de 2020

A BÍBLIA EXPLICADA (XXIII): A TRAVESSIA DO MAR VERMELHO

O Senhor disse a Moisés: 'Dize aos israelitas que mudem de direção e venham acampar diante de Piairot, entre Magdol e o mar, defronte de Baal Sefon: acampareis defronte desse lugar, perto do mar. O faraó vai pensar: os israelitas perderam-se no país, e o deserto fechou-lhes a passagem. Endurecerei o coração do faraó, e ele os perseguirá; mas eu triunfarei gloriosamente sobre o faraó e sobre todo o seu exército, e os egípcios saberão que eu sou o Senhor' (Ex 14, 1-4).


Na epopeia da saída e fuga do Egito, o povo de Israel foi personagem de um dos mais extraordinários eventos narrados nos textos bíblicos, a chamada 'travessia do Mar Vermelho', descrito e detalhado no Livro do Êxodo. A jornada inicial é bem conhecida: os israelitas, liderados por Moisés, deixam o Egito em direção ao Monte Sinai. Durante o dia, Deus provê uma coluna de nuvens para guiar o seu povo na direção correta. À noite, é uma coluna de fogo que os guiam, provendo luz e condições seguras para a continuidade da jornada mesmo após o pôr-do-sol.

Cerca de três dias após o Êxodo, o Faraó se arrepende amargamente de ter permitido a saída dos israelitas de seu país e decide partir ao encalço deles, de forma a capturá-los e fazê-los retornar à força como mão de obra escrava do Egito. Neste ímpeto de fúria, mobiliza-se de imediato um poderoso exército e o próprio Faraó assume a liderança das suas tropas na perseguição aos israelitas. Tem-se, assim, um anfiteatro de uma grande escapada, o grande Êxodo: de um lado, um poderoso exército egípcio sob  comando do próprio Faraó; de outro, um enorme contingente de israelitas irmanados numa jornada exaustiva de dia e de noite para fugir do Egito.


Um primeiro aspecto marcante a ser destacado é relativo ao arrependimento do Faraó após três dias da saída do povo israelita. Isso depois de uma sucessão de pragas terríveis impostas ao povo egípcio (as águas do Nilo transformadas em sangue, o tormento dos piolhos sobre as pessoas e das nuvens de gafanhotos devastando as plantações, chagas afligindo homens e animais, a morte dos primogênitos, etc). Como explicar tamanha arrogância do Faraó diante de tantas tragédias consumadas, que incluíram a perda do seu próprio filho (Ex 12, 29)? Este sentimento extremado de vingança foi permitido por Deus que 'endureceu o coração do Faraó', pois nem a morte dos primogênitos tinha sido suficiente para aplacar a ira santa de Deus contra o povo egípcio (a pena do pecado público aplicado a todo um povo) pelos crimes do Faraó, que havia ordenado que todos os meninos hebreus recém-nascidos fossem atirados e afogados nas águas do rio Nilo (Ex 1,22), suscitando dor e sofrimento indescritíveis às mães enlutadas. De tal horror e gravidade contra pequeninos inocentes, é que pela mesma medida e com igual morte, haveria de perecer todo o exército egípcio em perseguição aos israelitas.

Um segundo aspecto a ser realçado é a aparente contradição da ordem dada por Deus aos israelitas em fuga: em vez de avançarem na escapada, eles teriam não apenas que tomar uma ação de recuo, como também interromperem a jornada e acamparem 'defronte de Baal Sefon', perto do mar. A razão da ordem de Deus está explicitada no próprio texto bíblico: o recuo seria interpretado pelo Faraó como uma indicação de que os judeus estavam perdidos e confusos e que ficaram sem saída, aprisionados entre o deserto e o Mar de Juncos (ou Mar Vermelho). 


Com efeito, a ordem de Deus teria sido analisada pelos israelitas mais descrentes como constituindo uma absurda insensatez: nesse contexto, os israelitas ficariam definitivamente encurralados entre o mar e as montanhas em torno, uma vez que o único caminho de acesso até a região agora era o trajeto óbvio de um poderoso exército egípcio de perseguição. Foi exatamente por isso é que se produziu tanto alarde e que, diante a desconfiança de muitos judeus, Moisés repreendeu o temor deles e os suscitou a confiar plenamente em Deus: 'O Senhor combaterá por vós; quanto a vós, nada tereis a fazer' (Ex 14, 15). É neste cenário de apreensão e prostração do povo israelita que Deus vai demandar um portentoso milagre à frente deles, e por isso os induziu a montarem um acampamento 'perto do mar'.



O cenário do confronto se impõe, mas por uma noite inteira será contido. A coluna de nuvens se interpõe entre os dois contingentes e impede o avanço do exército egípcio que é, assim, obrigado a levantar acampamento à espera do dia seguinte. Os israelitas esperam e têm diante de si o Mar Vermelho como barreira inexpugnável. Mas não é por acaso que se encontram diante Piairot, entre Magdol e o mar, defronte de Baal Sefon: neste ponto específico, a passagem do Mar Vermelho, além de estreita, é particularmente rasa: uma muralha se ergue do fundo do mar e alcança quase a superfície oceânica. Mais ainda, constitui uma frente de exposição contínua à ação dos fortes ventos de leste tão comuns na região. 



Deus preparara com ciência divina e humana a trajetória final do percurso do seu povo escolhido e, assim, ordena a Moisés: 'levanta a tua vara, estende a mão sobre o mar e fere-o, para que os israelitas possam atravessá-lo a pé enxuto' (Ex 14, 16). A ciência humana trabalhou com a mobilização dos impetuosos ventos do leste que abriram uma passagem entre as águas e a ciência divina fez secar e endurecer de imediato o leito marinho, por onde passou o povo israelita sem dificuldades ou obstáculos, de forma controlada e protegida, por uma noite inteira. Os ventos não pararam de soprar fortemente e, assim, a travessia foi completa. 


Se Deus não tivesse utilizado um fenômeno físico, os egípcios nunca teriam continuado a perseguição aos judeus sob uma inexplicável cortina de águas. Acreditaram no que viam (e eventualmente até podiam conhecer): os ventos abriram uma passagem nas águas para os israelitas em fuga e também para os egípcios em perseguição. Por isso, muito cedo ainda, buscaram ir além do possível na perseguição desenfreada, avançando ao longo da passagem marinha formada diante deles. Os ventos continuavam a soprar fortemente e a passagem se mantinha, mas não havia mais leito seco e enrijecido: o avanço era lento, difícil e descontrolado: colunas se adiantavam, grupos ficam retidos mais atrás, os cavalos ficavam atolados, as bigas afundavam no terreno fofo e encharcado, conformando um caos no domínio estreito de um abismo prestes a sucumbir. 

E Deus disse a Moisés: 'Estende tua mão sobre o mar, e as águas se voltarão sobre os egípcios, seus carros e seus cavaleiros' (Ex 14, 26). Os ventos cessaram de pronto e a justiça divina se abateu sobre o Faraó e o exército egípcio, consumando-se o fim de uma dinastia de opressão e livrando para sempre o povo de Israel da escravidão. Expedições recentes neste local do Mar Vermelho comprovam à exaustão a veracidade destes eventos bíblicos: foram achados muitos objetos como rodas de bigas, ferraduras e ossos de homens e cavalos, muitos felizmente protegidos de maiores deteriorações pela cobertura de bancos de corais.


(vestígios de rodas e registro das bigas egípcias da época)

(fragmentos de ossos e de cascos de cavalos)

sábado, 16 de junho de 2018

UM PADRE CATÓLICO E A EXPANSÃO DO UNIVERSO

O reconhecimento de que o universo está expandindo é uma das maiores descobertas da cosmologia  e tem sido comumente descrito pela chamada Lei de Hubble [Edwin Hubble (1889 - 1953)]. Em 1929, analisando as velocidades radiais de algumas galáxias, localizadas a menos de 6 milhões de anos-luz, Hubble descobriu que a relação velocidade-distância das galáxias era aproximadamente linear. Em seguida, extrapolando os estudos a galáxias ainda mais distantes (até 100 milhões de anos-luz) descobriu, em parceria com Milton Humason (1891-1972), que a relação se mantinha relativamente linear. A lei de Hubble (que já foi chamada Lei de Hubble-Humason) é expressa nos seguintes termos: 'As galáxias se afastam umas das outras a uma velocidade proporcional à sua distância'. 


A taxa de expansão dessas galáxias entre si corresponde à chamada constante de Hubble. Assim, quando mais afastada de nós estiver uma galáxia, mais rapidamente ele tende a se afastar de nós.  Esse, entretanto, não é um verdadeiro movimento das galáxias, mas uma prova de que o universo se expande por inteiro, o que resulta em uma velocidade aparente entre as galáxias. Estas informações estão presentes quase como uma unanimidade em qualquer curso básico de astronomia. Mas a descoberta de que o nosso universo encontra-se em um processo de expansão permanente tem sido atribuída também a outros cientistas, como Friedman, Lemaître, de Sitter, Robertson, Tolman e Eddington. E, com cada vez mais assertividade, a um sacerdote católico, o cientista belga Georges Lemaître (1894 - 1966).


O Pe. Lemaître nasceu em Charleroi (Bélgica), em 1894 e, desde tenra idade, manifestou tanto a vocação do cientista como a sacerdotal. Enquanto estava no seminário, a física moderna vivia a sua fase de ouro, com as descobertas da Mecânica Quântica e da Teoria da Relatividade. Antes e depois da ordenação, Lemaître se especializou e se doutorou em Física, estudando e pesquisando em renomadas universidades como a Universidade de Cambridge na Inglaterra, e o MIT e o Observatório Astronômico de Harvard, nos Estados Unidos.

(Millikan, Pe. Lemaître e Einstein) 

Em 1927, portanto, dois anos antes que Hubble, por meio de um desdobramento das equações de Einstein que descreviam o universo em termos de escalas cosmológicas, Lemaître concluiu que o universo estava em processo de expansão. O artigo original infelizmente foi publicado em francês no pouco conhecido 'Anais da Sociedade Científica de Bruxelas', comprovando a linearidade da relação velocidade-distância das galáxias e fornecendo o valor da taxa de expansão dessas galáxias*. A tradução do artigo para o inglês, na renomada revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, não continha algumas equações originais e nem a referência a um universo em expansão no texto. O próprio Lemaître cuidara da tradução e teria feito essas alterações porque pretendia apresentar a proposição da expansão do universo separadamente, em um outro artigo mais detalhado. Neste meio tempo, Hubble publicou primeiro em inglês e as honras do pioneirismo da descoberta foram dadas a ele.

* o valor da taxa de expansão seria da ordem de 675 km/s/Mpc, ao passo que Hubble chegaria a um valor um pouco menor, da ordem de 500 km/s/Mpc. Com os dados atuais, o valor assumido para este parâmetro é da ordem de 68 km/s/Mpc (sendo 1Mpc = 3,26 anos-luz). Isso significa que uma esfera imaginária de raio igual a 1Mpc, expande seu volume a uma velocidade igual a 68km por segundo; outra com raio 10 Mpc, expandiria a uma taxa de 680km por segundo, etc.

sábado, 9 de maio de 2015

VÍDEO: O MILAGRE DA VIDA

(a concepção e o desenvolvimento do feto no ventre materno)


Em cada ejaculação, o homem libera cerca de 300 a 400 milhões de espermatozoides. Cada espermatozoide está programado para procurar o óvulo e fertilizá-lo. Mas a vagina é um meio hostil à sobrevivência dos espermatozoides devido às substâncias ácidas que segrega e que a protegem diariamente das bactérias. Esta acidez destrói milhões de espermatozoides mal entram na cavidade vaginal. Só os mais fortes seguem o seu caminho, nadando vigorosamente através do colo do útero até às Trompas de Falópio (canal que liga cada um dos ovários à cavidade uterina). 

Durante este percurso, alguns espermatozoides ficam presos na pregas do útero ou entram na Trompa de Falópio errada, onde não existe nenhum óvulo para fecundar. Os restantes espermatozoides continuam a sua viagem e iniciam a subida pela Trompa de Falópio na esperança de alcançar o óvulo solitário que os aguarda. Só os mais resistentes ultrapassam todos os obstáculos que encontram ao longo do caminho. Das poucas centenas de espermatozoides que conseguem alcançar as Trompas de Falópio e forçam a entrada no óvulo, normalmente, apenas um (o mais forte e apto) o consegue perfurar e fertilizar.

No momento em que um espermatozoide penetra a zona pelúcida (membrana que protege o óvulo), esta se fecha para impedir que outros espermatozoides entrem no óvulo. O óvulo fertilizado tem agora toda a informação genética necessária para gerar uma vida nova. No momento da concepção, o sexo, as caraterísticas físicas e eventuais problemas se saúde hereditários do bebé já foram determinados. 

Cerca de um dia após a fertilização, os núcleos do óvulo e do espermatozoide fundem-se. Cada progenitor contribui com 23 pares de cromossomas cujo núcleo guarda o código DNA de cada um dos pais. Os cromossomas juntam-se e dão origem a uma célula única (zigoto). Inicia-se agora a divisão celular, gênese de uma nova vida. Logo após a concepção, o corpo da mulher inicia uma série de alterações que o preparam para acolher e nutrir o feto em formação. Basicamente, o seu corpo torna-se no suporte de vida de um novo ser humano, relação que vai perdurar e fortalecer-se durante os próximos nove meses (texto publicado originalmente no site Mãe-me-quer)

QUANDO DEUS NOS INFUNDE A ALMA?

Em algum momento singular da concepção de uma nova vida humana, pela infusão da alma, Deus a toma como uma criação divina. Que momento seria esse? Nos primórdios da concepção humana ou após o processo inicial da vida intrauterina, quando efetivamente o embrião começa a apresentar uma 'forma' humana? Ou, algum tempo depois, quando aparentar respostas sensíveis a estímulos externos? Ou somente quando estiver plenamente manifestada no feto a capacidade, após algumas semanas, de ser interpretado como um novo ser humano, por critérios científicos, médicos ou filosóficos? Para muitos, esta resposta tem conformado e anestesiado a consciência em favor do terrível crime do aborto.

A resposta a estas questões tem sido dada, em caráter definitivo, pela própria ciência humana. Não há quaisquer dúvidas ou questionamentos científicos de que o óvulo fecundado (zigoto) já possui, por si e no todo, o código integral de uma nova vida, o DNA primordial de um ser humano completo e distinto dos seus pais. Ainda que não seja visível ou explicitado, no óvulo fecundado já estão programados todos os caracteres e princípios de um  novo ser humano, como sexo, cor, compleição, tipo e cor dos cabelos, dos olhos, formato da face, etc. Diante desta realidade singular, o corpo da mulher se molda e se apronta, de forma especial, para acolher o desenvolvimento do novo ser, de uma nova e singular pessoa humana. Destruir o óvulo fecundado é, portanto, a consumação da morte de um corpo e de uma alma, um crime hediondo contra Deus.

Não deveria isso ser nem um pouco surpreendente para os católicos. Desde os meados do século XIX, muito antes destas fantásticas descobertas científicas, a Santa Igreja, pela luz da fé, já se havia antecipado às luzes da ciência. Pelo dogma da Imaculada Conceição, proclamado pelo Papa Pio IX, em 8 de dezembro de 1854, a Santa Igreja manifestara que a Virgem Maria tinha sido adornada com uma alma espiritual, desde o primeiro instante de sua existência, desde o momento singular de sua concepção:

'Declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina de que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus Onipotente, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de culpa original; essa doutrina foi revelada por Deus, e deve ser, portanto, firme e constantemente crida por todos os fiéis'.

(Beato Papa Pio IX, na proclamação do dogma da Imaculada Conceição, em 08 de dezembro de 1854)

Desta forma, a Virgem Maria, para ser preservada de qualquer pecado desde a sua concepção e receber, naquele instante, o Espírito Santo de Deus, já deveria ser detentora de uma alma espiritual, capaz de receber a graça santificante ('imaculada conceição'). A Santa Virgem, por privilégios extraordinários, foi preservada do pecado original e, assim, Deus não permitiu que ela estivesse separada dele em nenhum segundo de sua existência. Desde a concepção, portanto, cada embrião é um ser humano completo, dotado de uma alma espiritual, conhecido por Deus por toda a eternidade.

Isto é exposto com uma claridade perturbadora nas palavras de Deus ao profeta Jeremias: 'Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações' (Jr 1, 5); e também ao profeta Isaías: 'O Senhor chamou-me desde meu nascimento; ainda no seio de minha mãe, ele pronunciou o meu nome' (Is 49, 1). Deus nos conhece desde toda a eternidade e nos reconhece como pessoa humana pelo nome e nos consagra com o atributo de uma alma de eternidade, desde o momento de nossa concepção, num óvulo fecundado, mesmo que ainda invisível às tecnologias mais avançadas de observação e de monitoramento da vida intrauterina. 

Estas extraordinárias revelações já estão presentes no Salmo 138, escrito cerca de 500 anos antes de Cristo: 'Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe. Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso. Pelas vossas obras tão extraordinárias, conheceis até o fundo a minha alma. Nada de minha substância vos é oculto, quando fui formado ocultamente, quando fui tecido nas entranhas subterrâneas. Cada uma de minhas ações vossos olhos viram, e todas elas foram escritas em vosso livro; cada dia de minha vida foi prefixado, desde antes que um só deles existisse' (Sl 138, 13 - 16).

O embrião não é um mero grumo de células e cromossomos, em um processo contínuo de divisão celular. É essencialmente uma pessoa humana, dotada de uma alma espiritual, nascida do amor humano e programada, desde a sua concepção, para constituir um novo ser, com todas as características genéticas pré-definidas. Esta 'programação' é fruto da infusão de uma alma espiritual ainda no óvulo fecundado, no instante primevo da sua concepção, que dará origem a um novo ser humano, consagrado desde a eternidade e 'tecido nas entranhas subterrâneas do ventre materno', como um ato do amor infinito e da criação personalíssima de Deus.

(Texto baseado no artigo 'Ti ho conosciuto fin dal grembo materno - Così la Bibbia rende sacra la vita dal concepimento', de Enrico Cattaneo, publicado originalmente em La Nuova Bussola Quotidiana)

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

VERSUS: CIÊNCIA DOS HOMENS X CIÊNCIA DE DEUS


Ao falar da ciência mundana, diz São Paulo: 'A ciência incha, a caridade porém edifica. O que julga saber muito, ainda ignora como deve saber. Quando a ciência mundana anda associada ao amor de Deus, é de grande vantagem para nós e para os outros; mas, quando se acha desacompanhada da caridade, causa-nos grande dano, tornando-nos orgulhosos e levando-nos a desprezar os outros; porque, tanto o Senhor é pródigo das suas graças com os humildes, como ávaro com os orgulhosos'.

Ditoso o homem a quem Deus dá a ciência dos santos, como a deu a Jacó: Dedit illi scientiam sanctorum (Sab 10, 10)! Deste dom, como do maior de todos, fala a Escritura. Ó quantos homens vivem cheios de si mesmos, pelos conhecimentos que têm das matemáticas, belas letras, línguas estrangeiras e antiguidades, que nada aproveitam ao bem da religião, nem aumenta as vantagens espirituais! De que serve possuir uma tal ciência, saber tão belas coisas, se não se sabe amar a Deus e praticar a virtude? Os sábios do mundo, que só procuram adquirir um grande nome, estão privados das luzes celestes, que o Senhor dispensa aos simples: Abscondisti haec a sapientibus et prudentibus (sábios e prudentes do século), et revelasti eo parvulis (Matth.11, 25). Os Parvuli são os espíritos simples, que põem todo o seu cuidado em agradar a Deus.

Santo Agostinho proclama bem-aventurado o que conhece a grandeza e bondade de Deus embora ignore tudo o mais: Beatus, qui te scit, etiamsi illa nesciat (Conf. 1. 5 c. 4). Quem não conhece a Deus, não pode amá-lo; ora, quem ama a Deus é mais sábio que todos os literatos, que não sabem amá-lo. Hão de levantar-se os ignorantes e arrebatar o Céu, exclama o mesmo santo doutor! Quantos rústicos, quantos pobres camponeses, subirão à santidade e conseguirão a vida eterna, da qual quereriam gozar antes um só instante, do que adquirir todos os bens da terra! Aos Coríntios escrevia o Apóstolo: Não fiz profissão entre vós de saber outra coisa senão a Jesus Cristo, e Jesus Cristo Crucificado. Como seríamos felizes se chegássemos a conhecer a Jesus Crucificado, a conhecer o amor que ele nos testemunhou e o amor que mereceu da nossa parte, sacrificando por nós a sua vida na cruz, e se, estudando um livro tal, chegássemos a amá-lo com um amor ardente!

Um grande servo de Deus, o Pe. Vicente Carafa, escrevendo a alguns jovens eclesiásticos, que estudavam para trabalharem na salvação das almas, dizia-lhes: 'Para operar grandes conversões nas almas, mais vale ser homem de muita oração, que de muita eloquência; porque as verdades eternas, que convertem as almas, melhor se pregam pelo coração que pelos lábios somente'. Devem pois os ministros do Evangelho ter uma vida que se mostre de acordo com o que ensinam; devem, numa palavra, apresentar-se como homens que, desprendidos do mundo e da carne, só procuram a glória de Deus, e fazê-lo amar de todos. Por isso o Pe. Carafa ajuntava: 'Ponde todo o vosso cuidado em vos dardes ao exercício do amor divino; desde que o amor de Deus toma posse do nosso coração, só por si o desapega de todo o amor desordenado, e o torna puro, despojando-o dos afetos terrenos'. 'Um coração puro', diz Santo Agostinho, 'é um coração vazio de toda a cobiça: Cor purum est cor vacuum ab omni cupiditate'. Com efeito, ajunta São Bernardo, 'quem ama a Deus só pensa em o amar e não deseja outra coisa: Qui amat, amat, et aliud novit nihil' (In Cant. s. 83).

Dizia São Tomás de Vilanova: 'Para converter os pecadores, e fazê-los sair do atoleiro das suas iniquidades, são necessárias flechas de fogo; mas como podem elas provir dum coração gelado, que o amor de Deus não aquece?' A experiência mostra que um padre de ciência medíocre, mas abrasado no amor de Jesus Cristo, atrai mais almas a Deus, que muitos oradores sábios e eloquentes, que deleitam os ouvintes. Aqueles que, por seus conhecimentos raros, belos pensamentos e engenhosas reflexões, despedem os seus ouvintes muito satisfeitos, deixam-nos afinal com o coração desprovido do amor de Deus, e talvez mais frio que antes. Mas o que aproveita isso para o bem comum? E que fruto colhe o pregador, senão agravar mais a sua responsabilidade diante de Deus? Em vez dos bons frutos que podia produzir com o seu sermão, somente granjeia vãos aplausos. Ao contrário, quem de um modo simples prega a Jesus crucificado, não para ser louvado, mas só para O fazer amar, desce da cadeira enriquecido de merecimentos pelo bem que fez, ou que pelo menos desejava fazer nos seus ouvintes.O que acima fica dito tem aplicação, não só aos pregadores, mas também aos professores e confessores. Quanto bem pode fazer um professor de ciências, ensinando a seus discípulos as máximas da verdadeira piedade!O mesmo se pode dizer dos confessores.

Notem-se também os abundantes frutos que se podem produzir nas conversas com os outros. Pode-se pregar sempre; mas que bem um padre instruído e santo pode fazer na conversação, falando a propósito da vaidade das grandezas humanas, da conformidade com a vontade de Deus e da necessidade que temos de nos recomendarmos sem cessar à proteção do Céu, no meio de tantas tribulações que nos afligem e de tantas tentações que nos assaltam! Digne-se o Senhor dar-nos as luzes e forças de que necessitamos para empregarmos os restantes dias da nossa vida em O amar e fazer a sua vontade, pois que só isso nos aproveita e tudo o mais é perdido!

(Excertos da obra 'A Selva', de Santo Afonso Maria de Ligório)

sábado, 3 de janeiro de 2015

ESTIGMAS


Os estigmas (do grego stigma: ferida na pele) representam os sinais ou a reprodução fiel no corpo de algumas pessoas (pés, mãos ou punhos, cabeça, ombros) das feridas sofridas por Jesus durante a crucificação. A Santa Igreja reconhece a autenticidade dos fenômenos como graça de Deus em alguns casos, mas não como dogma de fé e nem como garantia expressa de santidade, ou seja, a Igreja não canoniza ninguém apenas por ser estigmatizado, uma vez que a santidade não consiste num dom especial de Deus, mas um exercício de uma vida na prática constante e perseverante das virtudes em grau heroico. A santidade é fruto de uma vida inteira e não da posse de certos dons sobrenaturais, por mais extraordinários que estes possam ser.

Os estigmas constituem, portanto, um dom concedido por Deus e não fruto da petição mística de certas pessoas privilegiadas. Os estigmatizados tornam-se, assim, por especial desígnio da Providência, imagens vivas e profetas da graça que recordam, de tempos em tempos, à humanidade pecadora, o sacrifício de Jesus na Cruz, seus sofrimentos indizíveis para a expiação dos nossos pecados e redenção de todo o gênero humano. A nossa fé cristã somente subsiste aos pés da cruz, não apenas pela contemplação passiva da Paixão de Cristo, mas associando as nossas pequenas dores (e, nestes casos, os sofrimentos específicos dos estigmatizados) à dor excruciante do Crucificado, para a salvação das almas.

Entretanto, é possível a existência de estigmas que não possuem origem divina, mas natureza psíquica (por histeria ou por ação de neuroses complexas) e até mesmo diabólicas (não há nenhuma manifestação mística que não possa ser conspurcada pelo macaqueador de Deus). Como a Igreja, então, pode separar o joio do trigo, e estabelecer procedimentos para a caracterização de uma autêntica manifestação estigmática de natureza divina? A premissa básica é bastante simples: a observância estrita de uma vida de santidade, além dos próprios estigmas, livre de desvios ou perturbações de ordem psicológica. Ou seja: se os estigmas são uma prova de santidade, a Igreja busca na pessoa uma vida de santidade como prova da natureza divina dos estigmas.

Como elementos subsidiários (mas todos igualmente essenciais e relevantes), a Igreja utiliza os seguintes critérios para a aferição e comprovação da autenticidade dos estigmas de natureza divina:

1. os estigmas devem estar localizados nos locais exatos das cinco chagas de Cristo*; 
2. os estigmas devem aparecer todos ao mesmo tempo;
3. os estigmas devem aparecer espontaneamente no corpo da pessoa;
4. os estigmas não podem ser explicados por causas naturais;
5. os estigmas não evoluem para necroses;
6. os estigmas não exalam mal odor, mas o contrário;
7. os estigmas não apresentam estágios de supuração e/ou inflamação;
8. os estigmas sangram contínua e profusamente (hemorragias intensas);
9. os estigmas são imunes a quaisquer formas de tratamento médico;
10. os estigmas alteram substancialmente os tecidos da pele;
11. os estigmas não apresentam uma perfeita e instantânea cicatrização;
12. os estigmas produzem dores muito intensas, tanto físicas como morais, particularmente agudas em datas especiais do calendário litúrgico, como a Sexta-Feira Santa.

Neste escopo, não há como negar a origem sobrenatural destes fenômenos místicos em santos e santas da Igreja Católica, à luz de outros casos esporádicos e suspeitos de origens diversas. Neste contexto de absoluta vinculação da santidade à manifestação dos estigmas, eis aqui alguns exemplos de santos e santas estigmatizados (são cerca de 80 no total): Padre Pio de Pietrelcina (1887 - 1968), São Francisco de Assis (1181 - 1226); Santa Rita de Cássia (1381 - 1457), Santa Catarina de Sena (1347 - 1380); Santa Verônica Giuliana (1660 - 1727) e Santa Gemma Galgani (1878 - 1903).

* muitos santos estigmatizados apresentaram estigmas nas mãos e outros nos punhos (como seria razoável na morte por crucificação) mas, nestes casos, a Divina Providência manifestou a glória da Paixão de Cristo na pessoa, não de acordo com a aparente veracidade histórica dos fatos, mas em função da crença particular da própria pessoa em relação ao fato.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

AS IMAGENS DE DEUS

O que seria a sensação de voar através do universo? A partir de dados dos registros de galáxias conhecidas, os autores do vídeo abaixo fizeram uma incrível montagem, em que cada ponto simula uma galáxia contendo bilhões de estrelas. As dimensões inferidas do cosmo (em termos apenas da chamada matéria brilhante, sem referências à matéria escura do universo) são esboços das imagens de Deus (mostradas em algumas das fotografias espetaculares do espaço dadas em seguida).

(Uma Visão da Terra: do Espaço)
(A Grande Nebulosa de Órion)
(Três Galáxias e Um Cometa)
(Luzes de Mercúrio)
(Galáxia de Andrômeda)
(Miríades de estrelas)
(Uma Visão do Espaço: da Terra)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O ROSÁRIO DE HIROSHIMA

Em uma segunda-feira, 6 de agosto de 1945, às 2:45 h, o bombardeiro B-29 'Enola Gay' decolou da ilha de Tinian para lançar a primeira bomba atômica sobre o Japão. Às 08h15min, a bomba explodiu sobre a cidade de Hiroshima, capital da província de mesmo nome, dividida em ilhas pelos seis canais formados pelo rio Otagawa. A explosão matou instantaneamente cerca de 80 mil pessoas. Ao final do ano, os ferimentos causados pela mesma e os efeitos da radiação ceifaram entre 90 e 140 mil vítimas. Aproximadamente 69% das construções da cidade foram completamente destruídas e cerca de 7% foi severamente danificada.


A oito quarteirões do local do impacto (pouco mais de 1km), existia uma estrutura composta pela Igreja da Assunção de Nossa Senhora e a casa paroquial que abrigava oito sacerdotes alemães. A igreja foi devastada mas a casa permaneceu de pé, incólume à destruição completa de todos os arredores. Nas palavras do Pe. Schiffer, um dos oito sacerdotes sobreviventes:

'Eu tinha acabado de rezar a missa e me sentara à mesa do café. De repente, houve um flash brilhante de luz e me veio à mente a ideia de uma grande explosão no porto. Em seguida, uma terrível explosão encheu o ar como um trovão estourando e uma força invisível me levantou da cadeira, me jogou no ar, me apertou, me golpeou, me virou, me empurrou como uma folha em uma rajada. de vento de outono. Quando dei por mim e abri os olhos, estava deitado no chão e, olhando em volta, não via nada em qualquer direção; nem a estação ferroviária e todos os edifícios, em todas as direções, estavam arrasados à altura do chão. O único dano físico perceptível era a sensação de alguns estilhaços de vidro na parte de trás do pescoço'. Todos os sacerdotes sobreviveram (incluindo o Fr. Arupe que seria mais tarde, o superior geral da Ordem Jesuíta). O corpo do Pe. Schiffer, assim como os de todos os demais sacerdotes que viveram essa experiência tremenda, nunca foram afetados, ao longo de suas vidas, por bolhas, feridas ou quaisquer outras sequelas devido aos efeitos das doses brutais de radiação recebidas naquele dia.


Sob o ponto de vista natural, esse fato é assombroso e totalmente inexplicável e possível. Com efeito, a explosão de uma bomba atômica a uma altitude presumida entre 600 m e 1000 m para gerar o maior dano possível pela bola de fogo resultante, gera um efeito varredura de devastação completa que se estende a vários quilômetros da projeção do ponto de impacto (chamado epicentro). A casa paroquial estava pouco mais de 1km do epicentro da explosão que induziu, nesse local, temperaturas da ordem de 1100 ૦C e pressões maiores que 100 psi (ou 70.000 kg/m²)! Sob pressões muito menores, o crânio humano seria literalmente esmagado e os pulmões seriam queimados sob temperaturas muito mais baixas que estas. Tais condições de temperatura e pressão seriam extremamente impactantes mesmo para estruturas de concreto reforçadas e, portanto, seriam inadmissíveis para a sobrevivência humana.

Não existem leis físicas que explicam estes fatos extraordinários: um único edifício em pé no meio da devastação completa no domínio imediato do epicentro de um explosão nuclear. Do ponto de vista científico, não há nenhuma lógica na manutenção do prédio, na sobrevivência dos sacerdotes, na incólume condição deste grupo de homens no meio de uma população morta, mutilada, queimada horrivelmente, destruída fisicamente pela explosão ou pelos efeitos futuros da radioatividade mortal. 


O que aconteceu em Hiroshima foi algo muito além da dimensão humana. O céu falou no meio daquele inferno pelo Rosário. O Pe. Schiffer foi categórico ao justificar a sua sobrevivência e a de todos os demais sacerdotes à sua devoção à Santíssima Virgem e à reza diária do Rosário que se professava, então, naquela casa paroquial (interessante lembrar que também um convento franciscano, em que se rezava também o terço diariamente, escapou ileso do bombardeio de Nagasaki). Rezar o Rosário é devoção que torna possível a Deus fazer à humanidade pecadora o que seria impossível sequer ser concebido aos homens.

sábado, 25 de agosto de 2012

VERSUS: CIÊNCIA X CIÊNCIA

Duas notícias científicas recentes. Na primeira, afirma-se que 95% da energia do Universo é desconhecida. Na segunda, esse dado é irrelevante para se calcular, com precisão matemática que chega a meses e dias, a idade restante do mesmo Universo. Uma terceira notícia é mera referência à opinião de um 'jornalista científico', que sintetiza com enorme clareza o cenário do pensamento científico moderno: na ciência criada por Deus, não há espaço para o próprio Criador.

Notícia 1: "Somos confrontados com uma visão do Universo na qual 95% do conteúdo em energia é-nos desconhecido", afirmou o físico brasileiro Orfeu Bertolami, colaborador da NASA e da Agência Espacial Europeia, em palestra recente em Portugal, intitulada "A Visão Científica do Universo no Início do Século XXI", à respeito das mais novas descobertas sobre os mistérios do Universo. Segundo o pesquisador, "até há duas décadas acreditava-se que o Universo era constituído essencialmente pelas partículas elementares conhecidas. Contudo, há fortíssimas evidências de que a formação de estruturas, requer a existência de matéria que não se manifesta eletromagneticamente - a matéria escura. A natureza e as propriedades desta são enigmas fundamentais da cosmologia moderna", uma vez que se trata do "constituinte dominante do Universo".

                                                                                                                                                (Revista Ciência Hoje)

(Vídeo 'Científico': Sobrevoo Virtual de 2 bilhões de anos sobre o Universo Conhecido: cada ponto do vídeo representa uma galáxia com bilhões de estrelas, circundadas, em muito maior escala, por matéria e energia escuras)

Notícia 2: De acordo com a ciência, o universo tem 13,7 bilhões de anos; a Via Láctea tem 13 bilhões de anos e o Sol e a Terra têm 4,6 bilhões de anos. Agora cientistas chineses acabaram de calcular a idade para o fim do Universo: exatos 16,7 bilhões de anos, admitindo-se um nível de confiança de 95,4%. Antes, porém, da chamada Grande Ruptura, a data limite desse juízo final cósmico, os autores especularam sobre as datas de uma série de outros eventos:



  • a Via Láctea será dilacerada 32,9 milhões de anos antes da Grande Ruptura;
  • dois meses antes do fim do mundo, a Terra será arrancada do Sol;
  • cinco dias antes do dia do juízo final, a Lua será arrancada da Terra;
  • o Sol será destruído 28 min antes do fim do tempo;
  • 16 min antes do fim definitivo, a Terra vai explodir.

  • Dark energy and fate of the Universe
    Li XiaoDong, Wang Shuang, Huang QingGuo, Zhang Xin, Li Miao
    (Site Inovação Tecnológica)

    Notícia 3:  O universo não precisa de deus

    PETER MOON (repórter especial da revista Época)


     deus! É assim mesmo como se lê no título: em letras minúsculas. Por que eu deveria escrever o substantivo “deus” com um dê maiúsculo, se para mim tal entidade não existe? Por que diferenciar o “deus” único com a sagração de uma maiúscula se, para mim, ele em nada se diferencia dos deuses do panteão greco-romano, dos santos da umbanda e do candomblé, das divindades animistas adoradas pelos antigos egípcios ou por tribos amazônicas e africanas nossas contemporâneas?"

    Com todo o respeito, não nos bastaria prescindir dos tolos?