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quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

POR QUE REZAR O TERÇO TODOS OS DIAS?

Por que Nossa Senhora nos mandou rezar o Terço todos os dias e não nos mandou ir todos os dias assistir e tomar parte na Santa Missa?

Irmã Lúcia respondeu assim:

'Trata-se de uma pergunta que me tem sido feita muitas vezes e à qual gostaria de dar resposta agora. Certeza absoluta do porquê não a tenho, porque Nossa Senhora não me explicou e a mim também não me ocorreu de perguntar. Digo, por isso, simplesmente o que me parece e me é dado compreender a este respeito. Na verdade, a interpretação do sentido da mensagem deixo-a inteiramente livre à Santa Igreja, porque é a ela que pertence e compete; por isso, humildemente e de boa vontade me submeto a tudo o que ela disser e quiser corrigir, emendar ou declarar.

A respeito da pergunta feita, penso que Deus é Pai; e, como Pai, acomoda-se às necessidades e possibilidades dos seus filhos. Ora, se Deus, por meio de Nossa Senhora, nos tivesse pedido para irmos todos os dias participar e comungar na Santa Missa, por certo haveria muitos a dizerem, com justo motivo, que isso não lhes era possível. Uns, por causa da distância que os separa da igreja mais próxima onde se celebra a Eucaristia; outros, porque não lhe permitem as suas ocupações, os seus deveres de estado, o emprego, o seu estado de saúde, etc. Ao contrário, a oração do terço é acessível a todos, pobres e ricos, sábios e ignorantes, grandes e pequenos.

Todas as pessoas de boa vontade podem e devem, diariamente, rezar o seu terço. E para quê? Para nos colocarmos em contato com Deus, agradecer os seus benefícios e pedir-lhe as graças de que temos necessidade. É a oração que nos leva ao encontro familiar com Deus, como o filho que vai ter com o seu pai para lhe agradecer os benefícios recebidos, tratar com ele os seus assuntos particulares, receber a sua orientação, a sua ajuda, o seu apoio e a sua bênção.

Dado que todos temos necessidade de orar, Deus pede-nos, digamos como medida diária, uma oração que está ao nosso alcance: a oração do terço, que tanto se pode fazer em comum como em particular, tanto na igreja diante do Santíssimo como no lar em família ou a sós, tanto pelo caminho quando de viagem, como num tranquilo passeio pelos campos. A mãe de família pode rezar enquanto embala o berço do filho pequenino ou trata do arranjo de casa. O nosso dia tem vinte e quatro horas; não será muito se reservarmos um quarto de hora para a vida espiritual, para o nosso trato íntimo e familiar com Deus!

Por outro lado, eu creio que, depois da oração litúrgica do Santo Sacrifício da Missa, a oração do santo Rosário ou Terço, pela origem e sublimidade das orações que o compõem e pelos mistérios da redenção que recordamos e meditamos em cada dezena, é a oração mais agradável que podemos oferecer a Deus e de maior proveito para as nossas almas. Se assim não fosse, Nossa Senhora não o teria recomendado com tanta insistência.

Ao dizer o Rosário ou o Terço, não quero significar que Deus necessite que contemos as vezes que lhe dirigimos as nossas súplicas, os nossos louvores ou agradecimentos. Certamente Deus não precisa que os contemos: nEle tudo está presente! Mas nós precisamos de os contar, para termos a consciência viva e certa dos nossos atos e sabermos com clareza se temos ou não cumprido o que nos propusemos oferecer a Deus a cada dia, para preservarmos e aumentar o nosso trato de direta convivência com Deus, e, por esse meio, conservarmos e aumentarmos em nós a fé, a esperança e a caridade.

Direi ainda que, mesmo aquelas pessoas que têm possibilidade de tomar parte diariamente na Santa Missa, não devem, por isso, descuidar-se de rezar diariamente o seu terço. Bem entendido que o tempo apropriado para a oração do terço não é aquele em que toma parte na Santa Missa. Para estas pessoas, a oração do terço pode considerar-se uma preparação para melhor participarem da Eucaristia, ou então como uma ação de graças pelo dia afora.

Não sei bem, mas do pouco conhecimento que tenho do trato direto com as pessoas em geral, vejo que é muito limitado o número das almas verdadeiramente contemplativas que mantêm e conservam um trato de íntima familiaridade com Deus que as prepare dignamente para a recepção de Cristo, na Eucaristia. Assim, também para estas, torna-se necessária a oração vocal, o mais possível meditada, ponderada e refletida, como deve ser o terço.

Há muitas e belas orações que bem podem servir de preparação para receber Cristo na Eucaristia e para manter o nosso trato familiar de íntima união com Deus. Mas não me parece que encontremos alguma mais que se possa indicar e que melhor sirva para todos em geral, como a oração do Terço ou Rosário. Por exemplo, a oração da Liturgia das Horas é maravilhosa, mas não creio que possa ser acessível a todos, nem que alguns dos salmos recitados possam ser bem compreendidos por todos em geral. É que requer uma certa instrução e preparação que a muitos não se pode pedir. Talvez por todos estes motivos e outros que nós não conhecemos, Deus, que é Pai e compreende melhor do que nós as necessidades dos seus filhos, quis pedir a reza diária do Terço condescendendo até ao nível simples e comum de todos nós para nos facilitar o caminho do acesso a Ele.

Enfim, tendo presente o que nos tem dito, sobre a oração do Rosário ou Terço, o Magistério da Igreja ao longo dos anos - alguma coisa vos recordarei mais adiante - e o que Deus, por meio da sua mensagem, tanto nos recomenda, podemos pensar que aquela é a fórmula de oração vocal que a todos, em geral, mais nos convém, e da qual devemos ter sumo apreço e na qual devemos por o melhor empenho para nunca a deixar. Porque melhor do que ninguém, sabem Deus e Nossa Senhora aquilo que mais nos convém e de que temos mais necessidade. E será um meio poderoso para nos ajudar a conservar a fé, a esperança e a caridade.

Mesmo para as pessoas que não sabem ou não são capazes de recolher o espírito a meditar, o simples ato de tomar as contas na mão para rezar é já um lembrar-se de Deus, e o mencionar em cada dezena um mistério da vida de Cristo é já recordá-los, e esta recordação deixará acesa nas almas a terna luz da fé que sustenta a mecha que ainda fumega, não permitindo assim que se extinga de todo.

Pelo contrário, os que abandonam a oração do terço e não tomam diariamente parte no Santo Sacrifício da Missa, nada têm que os sustente, acabando por se perderem no materialismo da vida terrena. Assim, o Rosário ou Terço é a oração que Deus, por meio da sua Igreja e de Nossa Senhora, nos tem recomendado com maior insistência para todos em geral, como caminho e porta de salvação: Rezem o Terço todos os dias' (Nossa Senhora, em 13 de Maio de 1917).

(Excertos da obra 'Irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado', em 'Apelos da Mensagem de Fátima', 2000)

sexta-feira, 19 de junho de 2020

UM ANJO CHAMADO ANNE-GABRIELLE CARON


A vida de Anne-Gabrielle Caron durou 8 anos (2002 - 2010). E, como poucas, foi um testemunho extraordinário de fé e de santificação cotidiana. Desde tenra idade, já manifestava especial predileção pelos sofrimentos alheios. E esta predileção haveria de se tornar o ideal de toda a sua curtíssima vida. Aos seis anos, com fortes dores em uma das pernas, foi diagnosticada com câncer ósseo, extremamente agressivo e que evoluiu rapidamente por todo o seu corpo.

Diante dos sofrimentos crescentes e das intermináveis sessões de quimioterapia, aceitou convictamente todas as provações por amor a Jesus ('Embora eu não goste de estar doente, tenho sorte porque posso ajudar o bom Deus a trazer as pessoas de volta a Ele. Quero ajudar aqueles que sofrem') e no foco de seguir Santa Teresa de Lisieux, sua santa de predileção ('quero ser santa como ela'). 


Em março de 2009, expressou vivamente o desejo de fazer a Primeira Comunhão: 'Gostaria de fazer minha primeira comunhão para poder fazer ainda mais sacrifícios'. E se preparou para isto: 'Quero receber Jesus. Você percebe que Ele vai entrar no seu coração.' Sua primeira comunhão estava marcada para um domingo, dia 07 de junho de 2009, em Toulon, mas mesmo nisso ela foi submetida a uma grande provação.

Dois dias antes, sua condição de saúde piorou consideravelmente e ela teve que ser internada às pressas num hospital de Marselha (cerca de 50 km de Toulon). Ela pediu então a intercessão de Nossa Senhora para lhe permitir participar da primeira comunhão. E foi atendida. Recuperando uma condição estável, recebeu alta do hospital no domingo pela manhã. Vestiu sua roupa branca da comunhão e seu pai fez o trajeto Marselha-Toulon o mais rápido que pôde, e rezaram à Virgem pelo caminho para chegar a tempo. Não contavam, porém, com o tráfego intenso que encontraram na entrada da cidade. Superando todos estes imprevistos, chegaram à igreja quando a missa havia terminado e as crianças se preparavam para sair em procissão final. Em prantos, a menina entrou correndo na igreja, momento em que o coro interrompeu o canto e o sacerdote fez parar o cortejo. Naquele momento, Anne recebeu a sua primeira comunhão e ficou recolhida com o seu Jesus, diante de uma igreja lotada e em absoluto silêncio.

(Anne-Gabrielle em sua primeira comunhão)

A partir daí, sua saúde se deteriorou rapidamente e a menina passou a receber a eucaristia em casa. Nas suas últimas semanas, ela viveu sua própria paixão e, por fim, após 30 horas de agonia, morreu em 23 de julho de 2010. No seu funeral, o padre Dubrule disse: 'Ver Anne-Gabrielle era como estar vendo o próprio Deus'. Sua mãe, Marie-Dauphine Caron, deu o seguinte testemunho: 'a perda de um filho é terrível, ver o sofrimento de um filho também é terrível porque você se sente impotente', mas 'a minha filha me mostrou o caminho para o céu'.

Seu testemunho de vida saiu de Toulon e viajou pelo mundo: seu exemplo tem ajudado muitas famílias a superar as provações impostas por doenças e sofrimentos que afligem crianças e pessoas muito jovens. Muitas outras famílias se esmeraram muito mais na oferta e preparação dos seus filhos para a recepção da primeira comunhão e para a sagrada eucaristia. No próximo dia 12 de setembro, a diocese de Fréjus-Toulon dará início à abertura oficial do processo de beatificação de Anne-Gabrielle Caron.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

O PENSAMENTO VIVO DE MONSENHOR FULTON SHEEN

O ateu moderno não descrê por causa do seu intelecto, mas por causa da sua vontade. Não é o conhecimento que o torna um ateu, mas a perversidade. A negação de Deus brota de um desejo do homem de não ter um Deus – da sua vontade de que não haja justiça por trás do universo, de modo que as suas injustiças não receiem retribuição; do seu desejo de que não haja lei, de modo que não possa ser julgado por ela; do seu querer que não haja bondade absoluta, para que ele possa continuar a pecar com impunidade. É por isso que o ateu moderno se mostra sempre encolerizado quando ouve dizer alguma coisa a respeito de Deus e da Religião... O ateu pós-cristão sabe que Deus existe, mas deseja que Ele não existisse.

O mundo gosta do que é medíocre e assim é que tanto odeia o que é extremamente bom como o que é demasiadamente mau. O que é muito bom, constitui vergonha para o medíocre, e o que é muito mau afigura-se-lhe aborrecimento e até perigo.

Se as almas não forem salvas, nada se salvará. Não poderá haver paz no mundo, se não houver paz de alma. As guerras mundiais não passam de projeções dos conflitos travados dentro das almas dos homens modernos, pois nada acontece no mundo exterior que não haja primeiro acontecido dentro de uma alma. 

É uma ilusão supor que a guerra é sempre um erro e que o mundo se poderá ver livre dela. Isto é falso. A guerra deve existir sempre; mas não a guerra exterior: a interna. Quando travamos guerra, contra o mal em nós, diminuem ao mesmo tempo as guerras exteriores. A razão por que vivemos num século de guerras exteriores é a de nos descurarmos no travar da batalha interior contra as forças que destroem a mente e a alma. Aquele que não descobrir o inimigo dentro de si, encontrá-lo-á, sem dúvida alguma, fora...Se a mente estiver no erro, então o mundo será uma loucura.

O homem mau fará coisas erradas, tais como enganar, roubar, difamar, matar, violar; mas ainda assim, admitirá a existência da lei... O homem perverso pode não fazer nenhuma destas coisas más... mas o seu desejo é o de destruir completamente a bondade, a religião e a moralidade, com um fanatismo louco... Procura fazer uma transmutação de valores em que a noite pareça dia e o dia pareça noite; o bem pareça o mal e o mal pareça o bem.

sábado, 13 de julho de 2019

'DEUS ME DISSE: NÃO...'


Eu pedi a Deus para tirar a dor que me aflige tantas vezes.
Deus me disse: NÃO; se eu a tirar de você, você vai Me perder...

Eu pedi a Deus que me desse a chance de retomar a vida que eu tinha.
Deus me disse: NÃO; eu lhe dei uma vida não para acalentar seus anos, mas para guiar você até à eternidade junto de Mim...

Eu pedi a Deus que me desse algum tempo livre de qualquer sofrimento.
Deus me disse: NÃO; o que Eu preciso e quero livre de amarras é o seu amor ao mundo e aos tempos dos homens...

Eu pedi a Deus para que tanto sofrimento fosse breve pelo menos.
Deus me disse: NÃO;  para chegar a Mim, é preciso percorrer um caminho e não pequenos atalhos... 

Eu pedi a Deus que me desse a santidade da paciência então.
Deus me disse: NÃO; se Eu lhe desse a paciência sem que você a buscasse, você não se santificaria...

Eu pedi a Deus finalmente a graça de aceitar então e sempre, por toda a minha vida, a Sua Santa Vontade.
Deus me disse: NÃO BUSQUEI EM VÃO A MINHA OVELHA PERDIDA.

(Arcos de Pilares)

sábado, 8 de abril de 2017

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA (V)

MEDITAÇÃO PARA A QUINTA SEMANA DA QUARESMA

O AMOR AO PRÓXIMO DEVE TER A MEDIDA DO NOSSO AMOR A CRISTO


Primeiro Ponto - A Cruz nos ensina a olhar com vivo interesse tudo o que envolve o nosso próximo

De fato, a Cruz nos mostra: (i) o nosso próximo, qualquer que seja ele, é um homem que é tão amado por Jesus Cristo que, para salvá-lo, desceu do céu à terra, se fez homem, deu seu sangue, sua honra, sua liberdade e sua vida e se identificou com cada filho de Adão ao dizer: 'tudo o que fizerdes ao menor dos teus irmãos é a Mim que o fazeis e tudo que recusardes a ele, é a Mim que o recusais'. Segue-se, pois, ser evidente, sob pena de ofender a Nosso Senhor Jesus Cristo, que é nosso dever olhar com vivo interesse tudo o que envolve o nosso próximo: sua saúde, sua reputação, sua honra, suas alegrias, suas tristezas, suas conquistas e revezes de fortuna. Ser indiferente aos interesses de uma pessoa tão querida por Nosso Senhor; ofendê-la, humilhá-la, prejudicá-la ou escandalizá-la é ofender a Jesus Cristo no mais íntimo do ser. Todos os interesses do nosso próximo nos devem ser tão caros como os de Jesus Cristo. Devemos nos sentir felizes e honrados por tudo que pudermos fazer para servi-los, aproveitando com amor todas as ocasiões propícias para isso.

(ii) a Cruz nos ensina até onde devemos levar o nosso zelo para a salvação dos outros porque, se Jesus Cristo, na véspera de sua morte, nos mandou amar uns aos outros como Ele mesmo nos amou, a cruz é como o sinal deste preceito, que nos ensina como devemos estar prontos para todos os sacrifícios em favor do bem do próximo; a sofrer tudo dos outros sem fazer ninguém sofrer: a suportar todas as dificuldades e temperamentos e, de acordo com as circunstâncias, a nos imolar por inteiro para a felicidade dos nossos irmãos, pois até a este extremo Jesus Crucificado nos amou. Pensemos agora sobre nós mesmos. Quantas ações temos recusado ao nosso próximo e que podíamos ter feito? Quantas vezes, as suas angústias, que poderiam ter sido desfeitas com um bom conselho, um empréstimo ou outra ação qualquer, que nos teriam custado muito pouco, foram ignoradas por nós por puro egoísmo e sem nenhuma preocupação de nossa parte? Quão distantes estamos de amarmos os nossos irmãos como Cristo nos ama!

Segundo Ponto - a Cruz nos ensina a nos despojar de todo espírito de egoísmo

Até a vinda de Jesus Cristo ao mundo, não se sabia viver a não ser para si mesmo. Adquirir prazeres, riquezas e glória e alijar se si a pobreza, as dores e as humilhações, era o propósito de todo o gênero humano. Jesus Cristo se mostrou ao mundo, propondo do alto da cruz um novo modelo para os homens: 'Aprendei de Mim a esquecer-vos do vós mesmos; a despojar-vos do pérfido egoísmo que vos tornam indiferentes à desgraça alheia, contanto que possais estar bem; que vos persuadem a ter sempre mais, acumulando os falsos bens da terra, muitas vezes em detrimento dos outros e menosprezando a vida dos que padecem anonimamente e rejeitando as suas privações. Vede: Eu sou o Filho amado de Deus e, mesmo assim, estou pobre e vergado sob dores e humilhações. Por acaso, se a riqueza e a abundância, o prazer e a glória fossem bens verdadeiros, Deus, meu Pai, não os teriam dado a Mim? Se a pobreza, a humilhação e os sofrimentos fossem maus, Ele teria feito deles a minha herança? Aprendei de mim que tudo que é passageiro não vale nada; que tudo é vaidade, menos servir e amar a Deus'. 

Estas verdades sublimes, nascidas no Calvário há vinte séculos, mudaram a face do mundo e inspiraram milhares de almas aos sentimentos mais nobres, aos sacrifícios mais generosos para o bem da religião e da sociedade e a se desapegarem de tudo por amor a Cruz; a abraçarem uma vida austera para se entregarem mais plenamente a Deus; a suportarem as perseguições com alegria e a rejubilarem-se por terem sido consideradas dignas de sofrer por Jesus Cristo. Assim, a Cruz libertou o mundo do egoísmo, substituindo-o pela caridade, com seus heroicos sacrifícios. Quem não compreender estas verdades não tem senão uma falsa virtude, uma aparência de devoção, com um arraigado amor a si mesmo, condescendência por seus gostos e prazeres, uma dissipação e amor ao mundo e às suas vaidades: estado este pior do que os grandes vícios que, pelo menos, evocam arrependimento, enquanto que esta falsa devoção entorpece a alma com uma firmeza que a conduz à morte. Será que não estamos no número daqueles que não compreendem esta grande lição da Cruz: 'Morte ao egoísmo'?

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II, tradução do autor do blog).

quarta-feira, 29 de março de 2017

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA (IV)

MEDITAÇÃO PARA A QUARTA SEMANA DA QUARESMA

A SATISFAÇÃO EXIGIDA PELOS NOSSOS PECADOS


PRIMEIRO PONTO - A IMPORTÂNCIA DA SATISFAÇÃO PELO PECADO COMETIDO, MESMO DEPOIS DE PERDOADO
     
Toda falta merece uma punição e cada injúria exige uma reparação. Nossa falta, se for grave, merece punição eterna; Deus, por meio do sacramento da Penitência, nos perdoa o castigo eterno, mas continua a nos exigir uma punição temporal. 'Vós perdoais, Senhor' diz Santo Agostinho 'o pecador que confessa a sua culpa, mas com a condição de que seja punido'. E existe coisa mais justa? É justo que inocente, o Deus-homem tenha sofrido por nossos pecados a mais cruel de todas as mortes e que o culpado se beneficie do preço pago sem tomar parte na expiação? Paulo não pensava de outra forma, quando dizia: 'Eu completo em minha carne o que falta aos sofrimentos de Jesus Cristo; nós não seremos glorificados em Jesus Cristo, se não padecermos junto com Ele'. 

A Igreja também confirma esta crença, quando define a penitência como um batismo laborioso, que somente justifica a alma ao custo de muitas lágrimas e penas. Assim, por sua bondade, Deus nos perdoa; mas, por sua justiça, exige satisfação do pecado. Uma satisfação que o homem é incapaz por mérito próprio satisfazer à sua justiça; mas que, por sua bondade, aceita o homem tirar proveito dos méritos infinitos do Salvador, associando-os às suas obras e usufruindo com isso de uma união de valor infinito. Desta forma, a justiça e bondade divina são plenamente satisfeitas. Admiremos e bendigamos estas primícias maravilhosas de sabedoria divina.

SEGUNDO PONTO - MEDIDA DA SATISFAÇÃO PELO PECADO PERDOADO
       
Se a penitência imposta pelo confessor é geralmente muito leve, é apenas pelo temor de desencorajar o penitente exigindo mais. Mas, na realidade, uma satisfação em grau muito diferente é devida. 'Se deve a Deus', diz Tertuliano, 'uma penitência que seja uma compensação ou uma abreviação das penas eternas'. E o Concílio de Trento acrescenta que toda a vida cristã deve ser uma perpétua penitência. Se Deus perdoou a Adão e a Davi, foi apenas com a condição de que eles seriam punidos com terríveis castigos: um em si mesmo e em toda a sua posteridade; o outro em sua pessoa e em seu povo. Os santos, mesmo depois de terem recebido o perdão, consagram-se por toda a vida a pesadas penitências e, por fim, os justos no Purgatório, ainda que Deus lhes tenha perdoado as culpas, sempre têm que padecer penas que tornam, por comparação, todos os sofrimentos desta vida como sendo muito leves. Ó justiça de Deus, quão severa sois, e como nós nos tornamos inimigos de nós mesmos fazendo pouca penitência neste mundo!

TERCEIRO PONTO - MODOS DE PRESTAR SATISFAÇÃO A DEUS PELOS PECADOS COMETIDOS
       
1. É preciso cumprir rigorosamente a penitência imposta pelo confessor. Esta ação traz consigo algumas graças especiais, que fazem parte integrante do sacramento; e, faltar ao seu cumprimento, seria mutilar o sacramento e, consequentemente, ofender a Nosso Senhor Jesus Cristo. Retardá-la seria retardar o mérito, que nos ajuda a viver melhor; seria diminuir a graça contra os pecados veniais que iríamos cometer neste intervalo; seria ainda perdê-la integralmente se, neste período, viéssemos a cair em pecado mortal. Ainda mais, esta ação nos preserva contra recaídas e nos propicia os meios necessários para viver devotamente certos dias santos. 

2. É preciso receber esta penitência com respeito e submissão, como imposta pelo próprio Jesus Cristo na pessoa do seu ministro, tomando-a como sendo infinitamente menor do que a exigida pelos nossos pecados e cumpri-la devotamente, aspirando a uma vida melhor e com vívidos sentimentos de pesar pelos pecados cometidos. 

3. A penitência sacramental deve ser acompanhada por uma plena aceitação de todos os problemas associados à nossa posição ou estado, incluindo todas as nossas enfermidades, o rigor das estações, as diversas contradições da vida, os desgastes causados pelos defeitos dos outros, aceitando todas essas cruzes com espírito de penitência e dizendo-nos muitas vezes: 'o que é isso comparado ao inferno, onde eu merecia estar para sempre?'

4. Enfim, é preciso, com o mesmo espírito de penitência, renunciar ao prazer e à sensualidade, aos entretenimentos perigosos, inúteis ou demasiado longos, para a satisfação da curiosidade, da vontade própria, da auto-estima e do caráter e colocar todo o nosso prazer na linha do dever, privando-nos do usufruir, dizendo como aquele santo penitente a quem se propôs prazeres, banquetes e jogos: 'Deixo tudo isso para as almas justas; mas eu pequei e estou em perigo de pecar ainda e, assim, não tenho outra opção que não seja gemer e fazer penitência'. Podemos colocar em prática estes diversos modos de satisfazer a justiça divina?

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II, tradução do autor do blog).

sexta-feira, 24 de março de 2017

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA (III)

MEDITAÇÃO PARA A TERCEIRA SEMANA DA QUARESMA

A DEVOÇÃO DAS CINCO CHAGAS


PRIMEIRO PONTO - NADA MAIS JUSTO DO QUE A DEVOÇÃO DAS CINCO CHAGAS

Não seria encarado como um homem, mas como um monstro sem coração, um filho que fosse capaz de contemplar com indiferença e sem qualquer emoção de compaixão, gratidão e amor, as feridas recebidas pelo seu próprio pai para salvá-lo de grande desgraça e, ao mesmo tempo, assegurar-lhe as maiores bênçãos. 

Tal seria, e pior ainda, o cristão que ficasse indiferente às chagas do Salvador, porque Jesus Cristo recebeu estas chagas sagradas para nos salvar do inferno e abrir-nos o Céu, para nos oferecer nestas chagas outras tantas fontes de salvação, de onde podemos haurir graça, força e consolação. 'Ó alma cristã', exclama São Boaventura, 'como a lembrança destas chagas pode moderar os teus ímpetos de amor?

O nosso Jesus abriu grandes feridas nos pés e nas mãos para te acolher nelas e tu não te apressas a refugiar ali? Ele abriu o seu lado a fim de dar-te o coração, e tu não corres a unir com ele coração com coração? E quanto a mim' - continua o santo doutor - 'é aí que me deleita habitar, é aí que eu vou fazer três moradas: a primeira nos pés de Jesus; a segunda, em suas mãos; a terceira, em seu sagrado lado. É daí que eu quero tirar o meu descanso, daí velar, ler e conversar'.

'Ó chagas amabilíssimas! Os olhos do meu coração estarão sempre fixos em vós: durante o dia, desde o nascer do sol até o seu ocaso, e à noite, tantas vezes quantas o sono não dominar as minhas pálpebras. Vou me manter sobretudo na chaga do sagrado lado, para falar daí com o coração do meu Mestre e obter tudo o que desejo'. 'Ó Jesus' - diz no mesmo contexto São Bernardo - 'vosso lado foi aberto para dar entrada ao vosso coração; para nos revelar, por meio dessa ferida visível, a chaga invisível do vosso amor. Vou deitar nela os meus lábios e beber o mel do amor e da unção das dádivas divinas'. Seremos os herdeiros dos santos se, depois de tais exemplos, não tivermos uma terna devoção para com estas cinco chagas?

SEGUNDO PONTO - GRAÇAS PRÓPRIAS DA DEVOÇÃO DAS CINCO CHAGAS

A alma encontra nestas chagas tudo o que é necessário e útil para a salvação. 'Em nenhum outro lugar' diz Santo Agostinho, 'encontrei remédio tão eficaz para todos os males da alma'. 'Quaisquer que sejam nossos males espirituais', acrescenta São Bernardo, 'uma meditação assídua sobre as chagas do Salvador irá curá-los'. 'Olhem para a minhas chagas e se converterão', diz o próprio Jesus Cristo pelo seu profeta [Zacarias]. 'O coração de Jesus é um oceano e suas chagas são os canais por onde fluem as águas da graça e da misericórdia', diz ainda São Bernardo.

Com efeito, são nestas chagas que se forma uma fé viva; é daí que se agiganta a confiança em Deus; é daí, sobretudo, que a caridade se sacia de sua mais verdadeira fonte. Ao se dar conta do zelo de tanto amor que abriu essas feridas para nós, criaturas vis e miseráveis ​​pecadores, o coração todo se inflama e não pode mais viver a não ser por amor. 

Por isso Santo Agostinho chama estas chagas 'seu refúgio nos problemas, seu abrigo nas tribulações, seu remédio para as enfermidades da alma!'; foi daí que São Tomás de Aquino adquiriu toda a sua ciência; daí, que São Francisco de Assis, a fortaleza da meditação, chegando a ser, por meio dos ardores seráficos de sua caridade, um milagre de semelhança com Jesus Crucificado; daí São Boaventura hauriu em plenitude o espírito de piedade que conforma todos os seus escritos; este digno discípulo de São Francisco degastou os pés do seu crucifixo de tanto beijá-los e não cansou de exortar a todos os seus fieis a desfrutar das delícias inefáveis ​​da unção de graças e de piedade associada à devoção das sagradas chagas.

'Se não podeis', diz a Imitação de Cristo, 'elevar-vos às mais sublimes contemplações, permanecei humildemente nas chagas do Salvador e aí encontrareis força e consolação'. Serão estas realmente as nossas disposições?

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).

terça-feira, 9 de agosto de 2016

CARTA DO ASSASSINO DE SANTA MARIA GORETTI


Tenho agora quase 80 anos. Estou perto do fim dos meus dias. Olhando para o meu passado, reconheço que na minha juventude eu segui um mau caminho, um caminho que levou à minha ruína.

Através das revistas, dos espetáculos imorais e dos maus exemplos na imprensa, eu vi a maioria dos jovens da minha idade seguir o caminho do mal sem pensar duas vezes. Despreocupado, eu fiz a mesma coisa. Havia fiéis e cristãos verdadeiramente praticantes à minha volta, mas eu não lhes dava importância. Eu estava cego por um impulso bruto que me empurrava para uma forma errada de vida.

Com a idade de 20 anos, eu cometi um crime passional, cuja memória ainda hoje me horroriza. Maria Goretti, hoje uma santa, foi o bom anjo que Deus colocou no meu caminho para me salvar. As palavras dela, tanto de repreensão como de perdão, ainda hoje estão impressas no meu coração. Ela rezou por mim, intercedeu pelo seu assassino. Quase 30 anos de prisão se seguiram. Se eu não fosse menor de idade, pela lei italiana, eu teria sido condenado à prisão perpétua. No entanto, eu aceitei a pena como algo que eu merecia.

Resignado, eu expiei pelo meu pecado. A pequena Maria foi verdadeiramente a minha luz, a minha proteção. Com a ajuda dela, eu cumpri bem esses 27 anos na prisão. Quando a sociedade me aceitou de volta entre os seus membros, eu procurei viver de forma honesta. Com caridade angélica, os filhos de São Francisco, os frades capuchinhos menores, receberam-me entre eles, não como servo, mas como irmão. Tenho vivido com eles há 24 anos. Agora eu olho serenamente para o dia em que serei admitido à visão de Deus, para abraçar os meus entes queridos mais uma vez, e para ficar próximo do meu anjo da guarda, Maria Goretti, e a sua querida mãe, Assunta.

Que todos os que vierem a ler esta carta desejem seguir o santo ensinamento de fazer o bem e evitar o mal. Que todos possam acreditar, com a fé dos pequeninos, que a religião e os seus preceitos, não são algo que se possa prescindir. Pelo contrário, é o verdadeiro conforto e a única via segura em todas as circunstâncias da vida, mesmo nas mais dolorosas.

Paz e bem.


Alessandro Serenelli
Macerata, Itália - 5 de Maio de 1961

sábado, 26 de dezembro de 2015

ATÉ A CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS

O Divino Salvador está conosco, não já como uma sombra fugaz da fama e do nome que fica sobre o túmulo e sobre os monumentos dos grandes homens que passam, mas como Deus presente em sua divindade e humanidade. Deus escondido na sombra dos pães multiplicados, sombra que Nos parece divisar nas trevas do Lago de Tiberíades, naquela noite em que Cristo caminhava sobre as ondas, e aos discípulos que estavam remando com fadiga, pareceu um fantasma. Não, não é um fantasma o Deus dos tabernáculos, que adoramos. É o mesmo que então disse aos pávidos discípulos: 'Tende confiança; sou eu, não temais'. É aquele mesmo que disse: 'Eis-me convosco todos os dias até a consumação dos tempos'. É o mesmo que caminha sobre as ondas dos séculos, senhor dos ventos e das procelas humanas. Ele caminha sobre ondas tempestuosas ao lado e diante da Igreja; responde aos seus ministros que o chamam com voz sagrada, a eles por Ele concedida, e aos seus altares convida e reúne desde vinte séculos as nações e as gentes, os povos e os que reinam, os mártires e as virgens, os pontífices e os sacerdotes, prostrados a adorá-lo presente, e a amá-lo escondido, a invocá-lo companheiro na alegria e na dor, na vida e na morte.

O Deus dos altares está no meio de nós, invisível mas testemunho fiel primogênito entre os mortos, príncipe dos reis da terra, que nos amou e nos lavou de nossos pecados, com o próprio sangue e nos fez reino e sacerdotes a Deus Pai; o primeiro e o último, o vivente que esteve morto e está vivo nos séculos dos séculos. Mas é ao mesmo tempo em nosso meio, o Deus do arcano. É o mistério da fé, centro do incruento divino sacrifício, cioso segredo da Esposa de Cristo, a qual nos primeiros séculos de sua imutável juventude amou esconder sob o véu do arcano também seus tenros filhos; arcano feito mistério de um mistério, escondido desde séculos eternos em Deus. Diante deste mistério se inclinaram no pó os apóstolos e os mártires; nas basílicas, os pontífices; nos desertos e nos cenóbios, os monges e os anacoretas; nos claustros, as virgens, nos campos de luta, os esquadrões; nas catedrais, os doutores, nas estradas, os povos; Cristo estava em meio a eles; mas quem o viu? quem o divisou? Bem-aventurados aqueles que não o viram e acreditaram: Beati qui non viderunt et crediderunt.

A fé passa além de todo véu, penetra todo arcano; e quanto mais vivo prossegue, tanto mais luz adquire, reinflama-se e exalta-se em si mesma, faz do próprio mistério o farol e o fogo de sua vida e de sua obra. Cristo, porém, não está presente apenas em meio ao mundo, mas também se avizinha do homem, está com ele, com seus apóstolos, com seus fiéis, com todas as gentes, conquista de seu sangue. Dúplice é sua presença. Há uma presença divina, com a qual sustém o universo por Ele criado, segue os passos dos homens pelos caminhos do bem e do mal e é dele testemunha e juiz que inclina ao bem e pune pelo mal. Há outra presença humana e ao mesmo tempo divina, pela qual eleva os seus estandartes nas catacumbas, entre as densas casas do povo, pelos campos, pelas selvas, em meio ao gelo perpétuo, onde quer que um sacerdote com a onipotente palavra, eleve bem alto um pão e um cálice, repetindo o que foi feito em memória de Cristo. Lá está Ele com seu ministro, com ele caminha, torna-se alimento, viático dos moribundos e dos infelizes, irmão e esposo, pai, médico, conforto e vida das almas, pão dos anjos, penhor de alegria imortal.

Até quando sobre algum campo de nosso globo despontar uma espiga de trigo e pender um cacho de uvas, e um sacerdote subir compenetrado ao sacrifício do altar, o Hóspede divino estará conosco; e o crente curvará na fé a mente e o joelho diante de uma hóstia consagrada, como na última ceia os apóstolos no pão e no vinho consagrados que o Salvador lhes dava dizendo: 'Isto é o meu corpo; Isto é o meu sangue', adoraram Cristo, o Mestre Divino, com aquela pura e alta fé que crê nos portentos de sua palavra, e da qual se deduz a interna adoração, fé sem a qual é vão o sinal de dobrar um joelho. Daquela hora do cenáculo começaram os séculos do Deus da Eucaristia; o giro do sol iluminou os passos com suas auroras e os seus ocasos; as vísceras da terra escavadas, acorreram salmodiando; nos ermos, nos cenóbios, nas basílicas, sob os aéreos pináculos inclinaram-se a Ele, Pastor e povos, príncipes e exércitos. Em suas conquistas avançava com seus arautos e sacerdotes além dos mares e dos oceanos e do Oriente ao Ocidente, de um a outro polo; o Redentor já planta, todos os dias, seus tabernáculos, perseverando contra a ingratidão dos homens, em encontrar as delícias próprias, em estar com eles, só procurando difundir a salvação, os tesouros de suas graças e de suas magnificências.

(Papa Pio XII, Discursos, 1939)

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

AS PROFECIAS DE MARIE JULIE JAHENNY


Marie Julie Jahenny, considerada uma das grandes místicas da Igreja, viveu toda uma vida de absoluto sofrimento e expiação dos pecados dos homens em uma pequena cabana situada na aldeia de La Faudrais, na região da Bretanha, oeste da França. Nasceu em 12 de fevereiro de 1850 e recebeu, a partir dos 23 anos e até a sua morte, ocorrida em 4 de março de 1941, os estigmas de Cristo em escala inimaginável na história humana: as cinco chagas nas mãos, pés e lado; as feridas da coroa de espinhos, as lacerações e feridas nos ombros pelo peso da cruz e as marcas da flagelação. 

Foi privilegiada com inúmeros e extraordinários dons sobrenaturais. Com grande precisão, previu as duas guerras mundiais, a eleição do Papa São Pio X, as perseguições à Igreja e os castigos advindos à humanidade por sua apostasia. Era dotada de faculdades sobrenaturais que incluíam a levitação, premonições, percepção dos pecados alheios e compreensão de cânticos sagrados e orações feitas em qualquer idioma. Por um longo período de cinco anos, a partir de 28 de dezembro de 1875, sobreviveu tendo como único alimento a Santa Eucaristia. 

(casa onde viveu a estigmatizada francesa)

Suas inúmeras profecias são resultado de visões sobrenaturais (ela teve, por exemplo, visões de um diálogo entre o demônio e Nosso Senhor) e de mensagens manifestadas por Jesus e Nossa Senhora, das quais se destacam as seguintes:

'O primeiro período [da história da Igreja] é o do Meu Sacerdócio, existente desde Mim. O segundo é o da perseguição, quando os inimigos da Fé e da Santa Religião vão impor suas fórmulas no livro da segunda celebração. Muitos dos meus santos sacerdotes rejeitarão este livro, selado com as palavras do abismo mas, infelizmente, muitos outros o aceitarão'.

'Os discípulos que não pertencem ao meu Evangelho estão trabalhando duro para refazê-lo segundo as suas próprias ideias e sob a influência do inimigo das almas segundo uma nova Missa que conterá palavras que me são odiosas Quando chegar a hora fatídica, quando a fé dos meus sacerdotes for posta à prova, serão estes os textos [da Missa] que serão celebrados neste segundo período'.

'Um terrível castigo está preparado para aqueles que erguem todas as manhãs a pedra do Santo Sacrifício [os sacerdotes]. Eu não vim para estes altares para ser torturado. Sofro mil vezes mais por esses corações do que por qualquer outro. Eu vos absolvo dos vossos muitos pecados, meus filhos, mas não posso conceder perdão algum a estes sacerdotes [que traem a Igreja]'.

'Satanás ditará tudo por um tempo e reinará absoluto sobre tudo; toda bondade, fé e religião serão enterrados no túmulo... ele e seus eleitos triunfarão com alegria... não restará vestígio do Santo Sacrifício, nem traço aparente de fé, mas apenas uma grande confusão em toda parte... mas, depois deste triunfo do mal, o Senhor reunirá de novo o seu povo e reinará triunfante, resgatando do túmulo a Igreja enterrada e a Cruz prostrada' [palavras de São Miguel]


'Atacarei a Igreja. Esmagarei a Cruz, dizimarei a religiosidade dos homens, depositarei uma grande fraqueza da fé em seus corações. Haverá então um grande repúdio à religião. Por um tempo, serei o dono de tudo e tudo estará sob o meu controle, até mesmo o teu templo santo e todo o teu povo'. [palavras de Satanás, em diálogo com Nosso Senhor].

'Todas as obras aprovadas pela Igreja infalível cessarão por um tempo. Nesta triste aniquilação, sinais brilhantes se manifestarão na terra. Se, por causa da maldade dos homens, a Santa Igreja mergulhará na escuridão, o Senhor também haverá de enviar a escuridão [a chamada profecia dos três dias de trevas] para impedir os maus em sua busca do mal'.

'A terra será coberta pela escuridão e o inferno será libertado na terra... Durante três dias de escuridão aterradora, nenhuma janela deverá ser aberta, porque ninguém será capaz de ver a terra e as trevas desses terríveis dias de castigo sem morrer no ato... O céu estará ardendo, a terra tremerá como no juízo e o terror será enorme. Durante esta escuridão, os demônios e os ímpios tomarão formas horríveis... A terra será sacudida desde seus alicerces e o mar há de lançar as suas ondas furiosas sobre os continentes... a terra se converterá em um grande cemitério e os corpos dos ímpios e dos justos cobrirão o solo' [palavras de Nossa Senhora].

(Excertos da obra 'Marie Julie Jahenny - La stigmatisée bretonne', de Marquis de la Franquerie)

quinta-feira, 27 de março de 2014

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA (III)

MEDITAÇÃO PARA A TERCEIRA SEMANA DA QUARESMA

A DEVOÇÃO DAS CINCO CHAGAS


PRIMEIRO PONTO - NADA MAIS JUSTO DO QUE A DEVOÇÃO DAS CINCO CHAGAS

Não seria encarado como um homem, mas como um monstro sem coração, um filho que fosse capaz de contemplar com indiferença e sem qualquer emoção de compaixão, gratidão e amor, as feridas recebidas pelo seu próprio pai para salvá-lo de grande desgraça e, ao mesmo tempo, assegurar-lhe as maiores bênçãos. 

Tal seria, e pior ainda, o cristão que ficasse indiferente às chagas do Salvador, porque Jesus Cristo recebeu estas chagas sagradas para nos salvar do inferno e abrir-nos o Céu, para nos oferecer nestas chagas outras tantas fontes de salvação, de onde podemos haurir graça, força e consolação. 'Ó alma cristã', exclama São Boaventura, 'como a lembrança destas chagas pode moderar os teus ímpetos de amor?

O nosso Jesus abriu grandes feridas nos pés e nas mãos para te acolher nelas e tu não te apressas a refugiar ali? Ele abriu o seu lado a fim de dar-te o coração, e tu não corres a unir com ele coração com coração? E quanto a mim', continua o santo doutor, 'é aí que me deleita habitar, é aí que eu vou fazer três moradas: a primeira nos pés de Jesus; a segunda, em suas mãos; a terceira, em seu sagrado lado. É daí que eu quero tirar o meu descanso, daí velar, ler e conversar'.

'Ó chagas amabilíssimas! Os olhos do meu coração estarão sempre fixos em vós: durante o dia, desde o nascer do sol até o seu ocaso, e à noite, tantas vezes quantas o sono não dominar as minhas pálpebras. Vou me manter sobretudo na chaga do sagrado lado, para falar daí com o coração do meu Mestre e obter tudo o que desejo'. 'Ó Jesus, diz no mesmo contexto São Bernardo, 'vosso lado foi aberto para dar entrada ao vosso coração; para nos revelar, por meio dessa ferida visível, a chaga invisível do vosso amor. Vou deitar nela os meus lábios e beber o mel do amor e da unção das dádivas divinas'. Seremos os herdeiros dos santos se, depois de tais exemplos, não tivermos uma terna devoção para com estas cinco chagas?

SEGUNDO PONTO - GRAÇAS PRÓPRIAS DA DEVOÇÃO DAS CINCO CHAGAS

A alma encontra nestas chagas tudo o que é necessário e útil para a salvação. 'Em nenhum outro lugar' diz Santo Agostinho, 'encontrei remédio tão eficaz para todos os males da alma'. 'Quaisquer que sejam nossos males espirituais', acrescenta São Bernardo, 'uma meditação assídua sobre as chagas do Salvador irá curá-los'. 'Olhem para a minhas chagas e se converterão', diz o próprio Jesus Cristo pelo seu profeta [Zacarias]. 'O coração de Jesus é um oceano e suas chagas são os canais por onde fluem as águas da graça e da misericórdia', diz ainda São Bernardo.

Com efeito, são nestas chagas que se forma uma fé viva; é daí que se agiganta a confiança em Deus; é daí, sobretudo, que a caridade se sacia de sua mais verdadeira fonte. Ao se dar conta do zelo de tanto amor que abriu essas feridas para nós, criaturas vis e miseráveis ​​pecadores, o coração todo se inflama e não pode mais viver a não ser por amor. 

Por isso Santo Agostinho chama estas chagas 'seu refúgio nos problemas, seu abrigo nas tribulações, seu remédio para as enfermidades da alma!'; foi daí que São Tomás de Aquino adquiriu toda a sua ciência; daí, que São Francisco de Assis, a fortaleza da meditação, chegando a ser, por meio dos ardores seráficos de sua caridade, um milagre de semelhança com Jesus Crucificado; daí São Boaventura hauriu em plenitude o espírito de piedade que conforma todos os seus escritos; este digno discípulo de São Francisco degastou os pés do seu crucifixo de tanto beijá-los e não cansou de exortar a todos os seus fieis a desfrutar das delícias inefáveis ​​da unção de graças e de piedade associada à devoção das sagradas chagas.

'Se não podeis', diz a Imitação de Cristo, 'elevar-vos às mais sublimes contemplações, permanecei humildemente nas chagas do Salvador e aí encontrareis força e consolação'. Serão estas realmente as nossas disposições?

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).

sexta-feira, 21 de março de 2014

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA (II)

MEDITAÇÃO PARA A SEGUNDA SEMANA DA QUARESMA

DA TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR


PRIMEIRO PONTO - POR QUE NOSSO SENHOR ESCOLHEU, PARA TRANSFIGURAR-SE, UM LUGAR AFASTADO DO MUNDO?

Nessa escolha, Nosso Senhor quer nos ensinar que não é no meio do mundo e das obrigações mundanas que Deus se manifesta à alma e a faz passar das misérias do homem velho ao esplendor e às virtudes do homem novo. Para se ver a Deus, para ouvi-lO, e ser transformado pela Sua Graça, a primeira condição que se exige é o recolhimento interior, ou seja, a serenidade da alma protegida do tumulto das criaturas e aberta somente à Deus e às Suas divinas inspirações, a paz do despojamento sob o olhar de Deus.

À medida que nos deixamos levar pela dissipação do espírito, das divagações da imaginação, das preocupações mundanas, dos apegos do coração, do tumulto dos pensamentos inúteis; quando, enfim, não vivemos retirados somente no recolhimento do nosso coração, Deus não Se mostrará a nós e nos será tão somente o 'deus desconhecido' de Atenas. 

Sua bondade e perfeições infinitas não nos enternecerão; não vamos amá-lO e nem teremos desejo algum de amá-lO. Estranhos para Deus, não seremos menos estranhos para nós mesmos; não nos conhecemos e não encontraremos nada para sermos corrigidos, nada para se alterar, nenhuma razão para humilharmos, mortificarmos ou renunciarmos; e toda a nossa vida se passará no esquecimento de Deus e na ignorância sobre nós mesmos. Ó dissipação, quanto mal fazes à alma! Ó santo recolhimento, quão necessário és! Conduzi-me , Senhor, ao recolhimento, tal como a vossos apóstolos, e tende ali sempre encerrados o meu espírito e o meu coração.

SEGUNDO PONTO - POR QUE NOSSO SENHOR ESCOLHEU, PARA TRANSFIGURAR-SE, UM ALTO MONTE?
     
Este lugar elevado, de onde os apóstolos podiam dominar os lugares nos quais viviam, significa que, para desfrutar de Deus, para merecer a graça e santificar-se, é necessário ter um coração elevado acima de todas as coisas sensíveis, um coração maior e mais elevado que o mundo; é preciso recalcar tudo o que antes nos atraía. Enquanto possamos ter aqui algum apego, enquanto houver na terra um objeto de nossa predileção, vamos apenas nos arrastar miseravelmente pelos mesmos caminhos e vagar no labirinto de nossas misérias, em vez de avançar nos caminhos da virtude; definhando em vez de viver e nos fortificar.

Mesmo que a nossa alma tivesse as asas de uma pomba que anseia voar ao encontro de Deus, enquanto se mantiver apegada ao mundo, ainda que seja por um fio, não vai fazer mais do que lutar e se revolver penosamente em torno do que a detém, sem nunca alçar voo. Por outro lado, se esta alma conseguir, enfim, se libertar de suas amarras e se deixar conduzir por Nosso Senhor até o cume da montanha e, ali, recalcar sob os pés todos os apegos vãos que amava, de pronto ela há de progredir na perfeição. Em um único dia e, com menos trabalho, há de avançar nessa caminhada mais do que teria feito durante todo o tempo que arrastava consigo os pesos que a sujeitavam.

Nisso, nada há que possa retardar a sua caminhada, nada há que possa turbar ou distrair a sua marcha; mas ela há de avançar livremente, como diz a Imitação de Cristo: 'Quem é mais livre do que aquele que nada deseja sobre a terra?' Se não quisermos buscar tudo o que lisonjeia a vaidade, tudo que mantém a debilidade, tudo que incita a curiosidade, as inutilidades que divertem e os modismos que distraem os homens tíbios, é preciso renunciar à paixão do prazer e do gozo e não se apegar demasiado às comodidades da vida; é preciso satisfazer as necessidades mundanas com discernimento, não dar valor às coisas mais do que o necessário e não usá-las, por assim dizer, mais que ligeiramente e de pronto, tal como o fazia os soldados de Gideão ou como Jônatas, que tomou o mel por meio da ponta de sua lança, sem se submeter.

Acima de tudo, é preciso nos desprendermos de nós mesmos, de nossos gostos, de nossa honra, de nossa própria vontade e de suas fantasias, de nosso amor próprio e de sua ambição, que busca participar de tudo o que se diz e encontrar tudo o que se faz: é preciso romper com os cuidados excessivos com a saúde, que nos torna sensíveis e difíceis de agradar, sobretudo no que contraria e mortifica os sentidos; enfim, impõe-se elevar-se acima de nós mesmos e, sob pena de nos perdermos, esvaziar o coração de tudo o que não é de Deus. Como nos encontramos neste desprendimento universal? Isto é muito mais grave do que se pensa. Pensemos nisso seriamente e trabalhemos a cada dia para torná-lo cada vez mais realidade.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).

quinta-feira, 13 de março de 2014

MEDITAÇÕES PARA A QUARESMA (I)

MEDITAÇÃO PARA A PRIMEIRA SEMANA DA QUARESMA

DAS TENTAÇÕES


PRIMEIRO PONTO - A TENTAÇÃO, LONGE DE SER UM MAL, PODE NOS TRAZER UMA GRANDE VANTAGEM

Nenhum mal moral é possível sem que a vontade não o queira: ainda que a porta da vontade esteja cerrada, o demônio e a imaginação podem fazer alarido em torno do coração, mas não podem alterar a sua pureza. Eis aí porque Jesus Cristo e todos os santos suportaram a prova da tentação, sem que a provação causasse o menor ferimento a suas almas. Vede como toda desolação nas tentações se dá sem razão. O ato de se desolar é um desafio do amor-próprio, descontente em se ver miserável, ou uma desconfiança da bondade de Deus, que jamais falta aos que O invocam, ou a pusilanimidade de uma alma, que se vê só na sua fragilidade, e longe dos socorros de Deus. 

Longe de ser um mal, a tentação pode, pelo contrário, trazer-nos uma grande vantagem. Pois: (i) ela nos dá a oportunidade de glorificar a Deus, porque, ao resistirmos generosamente, provamos a nossa fidelidade, derrotamos os seus inimigos e triunfamos; (ii)  leva-nos à humildade, ensinando-nos o lado ruim que existe em nós; ao espírito de oração, fazendo-nos ver a necessidade de recorrer a Deus; à vigilância, advertindo-nos a desconfiar de nossa força e evitarmos a ocasião do mal; ao amor divino, fazendo ressaltar a bondade de Deus. 

Além disso, evita o desânimo, desperta o fervor, dá a virtude de um caráter mais firme e mais rígido; ensina-nos a nos conhecer; e dá mais graça à alma nesta vida e mais glória na outra, na proporção dos méritos que a adornam e a faz mais digna de Deus, como está escrito dos santos: 'Deus os tem provado e os encontrado dignos de Si'.  Eis porque Deus disse ao povo de Israel: 'Eu não queria destruir os cananeus para que tenhais inimigos para combater' e o Papa Leão disse da mesma forma: 'É bom para a alma o temor de cair e de ter constantemente uma luta para sustentar'. 

A alma fiel retira da tentação ao mal o mesmo fruto que da inspiração pelo bem. É esta a oportunidade para ela alcançar a perfeição da virtude com toda a boa vontade de que é capaz. Na tentação dos sentidos, [a alma] elevada à infinita grandeza de Deus se levanta. Elevada tão alto, mantém-se acima dos olhares baixos e sensuais; na tentação do espírito, mergulha até o nada; nas tentações do prazer, ama e abraça a cruz. É assim que temos tirado proveito de nossas tentações?

SEGUNDO PONTO - EM QUE CONDIÇÕES A TENTAÇÃO TORNA-SE UM BEM?

Existem certas condições que são necessárias antes, durante e depois da tentação: (i) Antes da tentação, é necessário evitar tudo que conduza ou incline para o mal, por exemplo: lidar com pessoas perigosas, olhares imodestos, modismos e leituras livres, os prazeres de uma vida fútil e e sensual: 'Quem ama o perigo nele perecerá e o que conta com as suas próprias forças será confundido'. A desconfiança é a mãe da segurança e expor-se voluntariamente ao perigo é tentar a Deus, é se fazer indigno do Seu auxílio. Além disso, é necessário não temer a tentação; temê-la a faz nascer; o melhor é não pensar nela e se concentrar apenas no que se tem a fazer. 

(ii) Durante a tentação, é necessário não se envolver por ela, com o pretexto de que será ligeira; de outra forma, ela se apoderaria de nós; antes deve-se descartá-la de pronto, firme e tranquilamente, rechaçando-a com desprezo, sem sequer se dignar a entreolhá-la; e, caso produza algumas impressões, basta desaprová-las suavemente e dedicarmos integralmente à ação presente. Aqueles que a enfrentam, correm o risco de manchar-se e os que a rejeitam com esforço excessivo perderiam a paz do coração, o recolhimento do espírito e a unção da piedade. Se não for possível  ter sucesso assim, é necessário se recorrer humildemente a Deus e dizer: 'Ó Senhor, quão profunda é a minha miséria! Quanto mal ainda tenho com o meu amor próprio! Quão bom sois Vós em amar um pecador como eu! Ó Jesus! Ó Maria! Ó todos os Santos e Anjos de Deus, bendizei ao Senhor, que quer se humilhar no Seu amor até a minha baixeza'. 

(iii) Depois, é necessário esquecer a tentação; a reflexão a faria reviver. É melhor tomar dela o valor de forma pacífica e reparar o mal passado, se este é conhecido, fazendo perfeitamente a ação presente; dirigir o olhar para Deus e envolver-se nos Seus braços com confiança e amor, dizendo como o filho pródigo: 'Pai, pequei contra o Céu e contra Vós', ou como o publicano: 'Meu Deus, tende misericórdia de mim, que sou pecador'. Examinemos, pois, se temos observado estas regras durante e depois das tentações.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os dias do ano para uso do clero e dos fieis', de Pe. Andrés Hamon, Tomo II).

quinta-feira, 25 de julho de 2013

VISITA DO PAPA FRANCISCO AO BRASIL - JMJ (2)


HOMILIA DA MISSA CELEBRADA PELO PAPA FRANCISCO NO SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA APARECIDA

24/07/2013

Eminentíssimo Senhor Cardeal, Venerados irmãos no episcopado e no sacerdócio, Queridos irmãos e irmãs!

Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério. Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano.

Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os Bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de Igreja. E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.

Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um País e de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Para tal, gostaria de chamar à atenção para três simples posturas, três simples posturas: Conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.

1. Conservar a esperança. A segunda leitura da Missa apresenta uma cena dramática: uma mulher – figura de Maria e da Igreja – sendo perseguida por um Dragão – o diabo - que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo (cfr. Ap12,13a.15-16a). Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O 'dragão', o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! 

É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo. Neste Santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.

2. A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.

3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria. O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est 5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui neste Santuário: 'O discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro' (Discurso inaugural da Conferência de Aparecida [13 de maio de 2007]: Insegnamenti III/1 [2007], 861).

Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ela nos pede: 'Fazei o que Ele vos disser' (Jo 2,5). Sim, Mãe, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja.