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quarta-feira, 9 de abril de 2025

ORAÇÃO DE SÚPLICA AO DIVINO ESPÍRITO SANTO


Espírito Santo, divino paráclito, pai dos pobres, consolador dos aflitos, santificador das almas, eis-me aqui prostrado na vossa presença; adoro-vos com a mais profunda submissão, a repetir mil vezes com os Serafins que estão diante do vosso trono: 'Santo! Santo! Santo!' Creio firmemente que sois eterno, da mesma substância do Pai e do Filho. Espero que, pela vossa bondade, santificareis e salvareis a minha alma. 

Amo-vos, ó Deus de amor; amo-vos mais do que todas as coisas, que todos os meus afetos, porque sois a bondade infinita, única digna de todo o meu amor. Insensível às vossas santas inspirações, quantas vêzes, tive a ingratidão de vos ofender: peço-vos mil vezes perdão e pesa-me sumamente vos ter desagrado, ó Bem Supremo! Ofereço-vos o meu coração, frio como é, e vos suplico façais nele entrar um raio da vossa luz, uma centelha do vosso amor, para derreter o gelo duro das minhas iniquidades.

Vós, que enchestes de imensas graças a alma de Maria, e abrasastes com santo zelo os corações dos apóstolos, dignai-vos também de abrasar no vosso amor o meu coração. Vós sois um Espírito divino, fortificai-me contra os maus espíritos; sois fogo, acendei em mim o fogo do vosso amor; sois Luz, esclarecei-me fazendo que eu conheça as coisas eternas; sois uma Pomba, dai-me costumes puros; sois Sopro cheio de doçura, dissipai as tempestades que as paixões levantam em mim; sois uma Língua, ensinai-me a maneira de vos louvar sem cessar; sois uma Nuvem, cobri-me com a sombra da vossa proteção. 

Enfim, sois o Autor de todos os dons celestes. Eu vos conjuro, vivificai-me pela vossa graça; santificai-me pela vossa caridade, governai-me pela vossa sabedoria, adotai-me como filho pela vossa bondade e salvai-me pela vossa infinita misericórdia, para que não cesse jamais de vos bendizer, louvar e amar, primeiro na terra durante a minha vida, e depois no céu por toda a eternidade. Amém.

Oração Jaculatória: Vinde, ó Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo sagrado do vosso amor.

(Excertos da obra 'As Mais Belas Orações de Santo Afonso')

sexta-feira, 10 de maio de 2024

QUANDO O ESPÍRITO SANTO NÃO VEM...


Como é possível que muitas pessoas, depois de terem vivido quarenta ou cinquenta anos em estado de graça e recebido com frequência a Santa Comunhão, quase não dêem sinal da presença dos dons do Espírito Santo na sua conduta e nos seus atos, que se irritam por tudo e por nada e levam uma vida completamente longe do sobrenatural?

Tudo isto provém dos pecados veniais que com frequência cometem sem nenhuma preocupação; estas faltas e as inclinações que daí derivam tornam estas almas inclinadas à terra e mantêm como que atados os dons do Espírito Santo, como asas que não se podem abrir.

Tais almas não guardam nenhum recolhimento; nem estão atentas às inspirações do Espírito Santo, que passam inadvertidas; por isso permanecem na escuridão, não das coisas sobrenaturais e da vida íntima de Deus, mas na escuridão inferior que se enraíza na matéria, nas paixões desordenadas, no pecado e no erro; aí está a explicação de sua inércia espiritual.

A estas almas se dirigem as palavras do salmista: Hodie si vocem eius audieritis, nolite obdurare corda vestra - 'Hoje se ouvirdes a sua voz, não fecheis os vossos corações' (Sl 94,7-8).

(Excertos da obra 'Las Tres Idades de La Vida Interior', do Pe. Reginald Garrigou-Lagrange)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

O DOM DA SABEDORIA

O segundo favor que o divino Espírito destinou à alma que lhe é fiel na ação é o dom de sabedoria, ainda superior ao da inteligência. No entanto, está ligado a este último no sentido de que o objeto mostrado na inteligência é saboreado e possuído no dom de sabedoria. O salmista, convidando o homem a se aproximar de Deus, recomenda-lhe o sabor do soberano Bem: 'Provai e experimentai que o Senhor é cheio de doçura'. 

A santa Igreja, no próprio dia de Pentecostes, pede a Deus para nós o favor de provar o bem, recta sapere, porque a união da alma com Deus é antes uma experiência do gosto do que uma visão, a qual seria incompatível com nosso estado presente. A luz dada pelo dom da inteligência não é imediata, ela alegra vivamente a alma e dirige seu sentido para a verdade; mas tende a se completar pelo dom de sabedoria que é como se fosse seu fim. 

A inteligência é então iluminação e a sabedoria é união. Ora, a união com o soberano Bem se realiza pela vontade, quer dizer, pelo amor que reside na vontade. Notamos essa progressão nas hierarquias angélicas. O querubim refulge de inteligência, mas acima dele ainda está o serafim abrasado. O Amor é ardente no querubim, assim como a inteligência esclarece com sua luz viva o serafim; mas um é diferenciado do outro pela qualidade predominante e o mais elevado é aquele que atinge mais intimamente a divindade pelo amor, aquele que saboreia mais o soberano Bem.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom P. Gueranger)

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

O DOM DA INTELIGÊNCIA

O sexto dom do Espírito Santo faz a alma entrar em uma via superior a que ela se encontrava até aqui. Os cinco primeiros dons tendem todos para a ação. O Temor de Deus remete o homem ao seu lugar humilhando-o, a Piedade abre seu coração às afeições divinas, a Ciência ensina-o a discernir entre a via da salvação e a via da perdição, a Fortaleza o arma para o combate e o Conselho dirige o homem em seus pensamentos e em suas obras; agora, então, ele pode agir e seguir pela estrada, com a esperança de chegar ao termo. 

Mas a bondade do Espírito divino lhe reserva ainda outros favores, fazendo-lhe desfrutar desde este mundo, de um antegozo da felicidade que lhe reserva na outra vida. Este será o meio de fortalecer sua marcha, de animar sua coragem e de recompensar seus esforços. A via da contemplação lhe será, de agora em diante, aberta e o Espírito divino nela o introduzirá por meio da inteligência. Muitas pessoas, talvez, se inquietem com a palavra contemplação, persuadidas erradamente de que as condições para isso só poderão ser encontradas na rara condição de uma vida passada no recolhimento e longe do contato dos homens. É um grave e perigoso erro que, muitas vezes, freia o impulso das almas. 

A contemplação é o estado para o qual é chamado, em certa medida, toda alma que procura a Deus. Não consiste nos fenômenos pelos quais o Espírito Santo gosta de manifestar em algumas pessoas privilegiadas e que são destinados a provar a realidade da vida sobrenatural. Ela é, simplesmente, uma relação mais íntima que se estabelece entre Deus e a alma que lhe é fiel na ação; se esta alma não põe obstáculos, são-lhe reservados dois favores, entre os quais, o primeiro é o dom de inteligência, que consiste na iluminação do espírito esclarecido desde então por uma luz superior. Esta luz não retira a fé, mas clareia os olhos da alma, fortificando-os e dando-lhes uma visão mais extensa sobre as coisas divinas. Muitas nuvens provenientes da fraqueza e da grosseria da alma ainda não iniciada, se desvanecem. 

A beleza cheia de encantos dos mistérios, a qual era vagamente sentida, se revela; inefáveis harmonias que nem eram suspeitadas, aparecem. Não é a visão face a face, reservada para o dia eterno; mas já não é mais aquela fraca luminosidade que dirigia seus passos. Um conjunto de analogias e de concordâncias mostram-se sucessivamente aos olhos do espírito, trazendo uma certeza cheia de doçura. A alma se dilata com essas claridades que enriquecem a Fé, aumentam a Esperança e desdobram o Amor. Tudo parece novo; e quando a alma olha para trás, compara e vê claramente que a verdade, sempre a mesma, agora é alcançada por ela de maneira incomparavelmente mais completa. A leitura dos Evangelhos a impressiona mais; encontra um sabor nas palavras do Salvador desconhecido para ela até então. Compreende melhor o fim a que Ele se propôs instituindo os sacramentos. A santa Liturgia a emociona por suas fórmulas tão augustas e seus ritos tão profundos. A leitura da vida dos santos a atrai, nada a espanta nos seus sentimentos e nos seus atos; aprecia seus escritos mais do que quaisquer outros e sente um aumento de bem estar espiritual, tratando com esses amigos de Deus. 

Rodeada de deveres de toda natureza, a chama divina guia essa alma para satisfazer a cada um deles. As diversas virtudes que deve praticar conciliam-se em sua conduta; uma nunca é sacrificada pela outra, porque vê a harmonia que deve reinar entre elas. Está longe do escrúpulo como do relaxamento e sempre atenta para logo reparar os danos que pôde cometer. Algumas vezes, o próprio Espírito a instrui por uma palavra interior que, quando ouvida, ilumina sua situação com uma nova luz. De agora em diante, o mundo e seus vãos equívocos, são tomados por aquilo que são e a alma se purifica do resto de vínculos e complacências que ainda poderia conservar por eles. Aquilo que só tem grandeza e beleza segundo a natureza parece insignificante e miserável para esses olhos que o Espírito Santo abriu para as grandezas e belezas divinas e eternas. Só uma coisa redime a seus olhos esse mundo exterior que ilude o homem carnal: é que a criatura visível, que possui a marca da beleza de Deus, é susceptível de servir à glória de seu Autor. A alma aprende a fazer uso dela com ação de graças, tornando-a sobrenatural, glorificando Àquele que imprimiu as marcas de sua beleza nessa multidão de seres, que muitas vezes servem apenas para a perdição do homem, mas que são dadas para se tornarem degraus que o conduzem a Deus. 

O dom da inteligência derrama também na alma o conhecimento de sua própria via. Faz com que ela compreenda o quanto são sábios e misericordiosos os desígnios do alto que, muitas vezes, a quebra e a transporta para onde não contava ir. Vê que se ela fosse senhora de si mesma, para dispor de sua existência, teria perdido o seu fim e que Deus nele a fez chegar, escondendo primeiramente os desígnios de sua paternal sabedoria. Agora ela está feliz, pois goza da paz e seu coração não cabe de ações de graças para agradecer a Deus que a conduziu ao termo sem consultá-la. Se acontecer de ser chamada para dar conselhos, para exercer uma direção por dever ou por motivo de caridade, pode-se confiar nela; o dom de inteligência a esclarece para os outros como para ela própria. 

No entanto não se intromete, dando lições àqueles que não lhe pedem; mas se é interrogada, responde e suas respostas são luminosas como a chama que a ilumina. Este é o dom de inteligência, verdadeira luz da alma cristã e que se faz sentir nela em proporção à sua fidelidade aos outros dons. Este dom se conserva pela humildade, moderação dos desejos e recolhimento interior. Uma conduta dissipada detém o seu desenvolvimento e pode mesmo abafá-lo. Essa alma fiel pode se conservar recolhida mesmo em uma vida ocupada e cheia de deveres, e até no meio de distrações obrigadas às quais a alma se presta sem se prender. Que ela seja simples a seus próprios olhos e o que Deus esconde aos soberbos e revela aos pequenos lhe será manifestado e nela permanecerá. 

Não há dúvida de que tal dom seja um imenso socorro para a salvação e a santificação da alma. Devemos implorá-lo ao divino Espírito com todo ardor de nossos desejos, convencidos de que o atingiremos mais seguramente pelo impulso do nosso coração do que pelo esforço de nosso espírito. Na verdade é na inteligência que se derrama a luz divina, objeto desse dom; mas sua efusão provém, sobretudo, da vontade aquecida pelo fogo da caridade, segundo a palavra de Isaías: 'Crede, e tereis a inteligência'. Vamos nos dirigir ao Espírito Santo nos servindo das palavras de Davi, dizendo: 'Abri nossos olhos e contemplaremos as maravilhas dos vossos preceitos; dai-nos a inteligência e teremos a vida'. Instruídos pelo Apóstolo, manifestaremos nosso pedido de maneira ainda mais insistente, nos apropriando da oração que ele dirige ao Pai celeste em favor dos fiéis de Éfeso, quando implora 'o espírito da sabedoria e da revelação pelo qual se conhece a Deus, os olhos iluminados do coração que descobrem o objeto de nossa esperança e as riquezas da gloriosa herança que Deus preparou para seus santos'.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom P. Gueranger)

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

O DOM DO CONSELHO

O dom da fortaleza que reconhecemos ser necessário para a obra da santificação do cristão não seria suficiente para assegurar esse grande resultado, se o Divino Espírito não tomasse o cuidado de uni-lo a um outro dom que o complementa e nos afasta de todo perigo. Este novo benefício consiste no dom de conselho. A fortaleza não podia ser deixada sozinha: precisava de um elemento que a dirigisse. O dom de ciência não poderia ser este elemento porque, se ele esclarece a alma quanto ao seu fim e as regras gerais de conduta que ela deve seguir, não incorpora, no entanto, a luz suficiente quanto às aplicações especiais da lei de Deus e o governo da vida. 

Nas diversas situações em que podemos nos encontrar, nas resoluções que devemos tomar, é necessário que ouçamos a voz do Espírito Santo e é pelo dom do conselho que esta voz divina chega até nós. É ela quem nos diz, se quisermos escutá-la, o que devemos fazer e o que devemos evitar, o que devemos dizer e o que devemos calar, o que podemos conservar e o que devemos renunciar. Pelo dom de conselho, o Espírito Santo age em nossa inteligência, assim como o dom da fortaleza age em nossa vontade. 

Este dom precioso aplica-se à vida inteira porque precisamos, sem cessar, nos decidir por uma opção ou por outra, e é um grande motivo de reconhecimento para com o Espírito divino, pensar que Ele nunca nos deixa sozinhos conosco mesmos, desde que estejamos dispostos a seguir a direção que Ele nos imprime. Quantas armadilhas pode nos fazer evitar! Quantas ilusões pode destruir em nós! Quantas realidades nos mostra! Mas, para não perder suas inspirações, precisamos nos guardar do encadeamento natural das coisas, com que tantas vezes nos deixamos determinar; da temeridade que nos arrebata ao gosto da paixão; da precipitação que nos induz a julgar e a agir, mesmo quando só vemos um lado das coisas; da negligência que nos faz decidir ao azar, no temor de nos cansarmos com a procura daquilo que seria melhor. 

O Espírito Santo, pelo dom do conselho, arranca o homem de todas essas inconveniências. Reforma a natureza, tantas vezes excessiva quando não apática. Mantém a alma atenta àquilo que é verdadeiro, ao que é bom, ao que é verdadeiramente vantajoso. Insinua a virtude que é o complemento e como se fosse o tempero de todas as outras, ou seja, a discrição, da qual Ele tem o segredo e pela qual as virtudes se conservam, se harmonizam e não degeneram em defeitos. Sob a direção do dom de conselho, o cristão nada tem a temer. O Espírito Santo toma a responsabilidade de tudo para ele. 

Que importa que o mundo reclame ou critique, que se espante ou se escandalize? O mundo se crê sábio; mas não tem o dom do conselho. É daí que vêm, muitas vezes, as resoluções tomadas sob uma inspiração e que acabam em um fim diferente do que foi proposto. E tem que ser assim; porque foi ao mundo que o Senhor disse: 'Meus pensamentos não são os vossos pensamentos e meus caminhos não são os vossos caminhos'. Clamemos, então, com todo ardor de nossos desejos, pelo dom divino que nos preservará do perigo de nos governarmos a nós mesmos; mas compreendamos que este dom só habita naqueles que o estimam bastante para renunciarem-se sob a sua presença. Se o Espírito Santo nos encontra desligados das idéias humanas, convencidos de nossa fragilidade, dignar-se-á ser nosso conselho; mas se somos sábios aos nossos próprios olhos, Ele retirará sua luz e nos abandonará a nós mesmos. 

Não queremos que isso aconteça conosco, ó Divino Espírito! Estamos fartos de saber que correr atrás da prudência humana não nos traz vantagem e, diante de Vós, abdicamos sinceramente das pretensões de nosso espírito, tão pronto a se deslumbrar e a se iludir. Conservai em nós e dignai-vos desenvolver com toda liberdade esse dom inefável que nos concedestes no batismo: sede para sempre nosso conselho. 'Mostrai-nos vossos caminhos e ensinai-nos vossas veredas. Dirigi-nos na verdade e instruí-nos; porque é de Vós que virá a salvação e é por isso que nos prendemos à vossa direção'. Sabemos que seremos julgados por todas as nossas obras e por todos os nossos desígnios; mas sabemos também que não teremos nada a temer se formos fiéis à vossa direção. Estaremos, pois, atentos 'para ouvir o que nos diz o Senhor nosso Deus', o Espírito de Conselho, seja nos falando diretamente, seja nos enviando ao mediador que quis escolher para nós. Bendito seja Jesus que nos enviou seu Espírito para ser nosso condutor e bendito seja este Divino Espírito que se digna nos assistir sempre e que mesmo as nossas resistências passadas não afastou de nós!

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom P. Gueranger)

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

ORAÇÃO À SANTÍSSIMA TRINDADE


Ó meu Deus, Trindade que adoro, fazei com que eu me esqueça totalmente de mim, para me fixar em Vós, imóvel e pacífica, como se a minha alma já estivesse na eternidade. Que nada perturbe a minha paz, nem me leve a abandonar-vos, ó Imutável Deus, mas que, em cada momento, possa penetrar cada vez mais na profundidade do vosso mistério. Pacificai a minha alma, fazei dela o vosso céu, a vossa morada e o lugar de vosso repouso. Fazei que nunca vos deixe só, que esteja totalmente atenta a Vós, sustentada pela minha fé e em adoração perfeita, totalmente entregue à vossa ação criadora.

Ó meu amado Jesus, crucificado por amor, como eu gostaria de ser a esposa do vosso Coração! Encher-vos de glória e amar-vos até morrer de amor! Diante a minha incapacidade, vos peço que me 'revistais de Vós mesmo', para identificar a minha alma com todos os movimentos da vossa, para mergulhar, preencher e transformar-me em Vós, a fim de que a minha vida não seja senão uma irradiação da vossa vida. Vinde a mim como Adorador, Reparador e Salvador.

Ó Verbo eterno, Palavra do meu Deus, quero passar a minha vida a vos ouvir. Quero ser totalmente dócil aos vossos ensinamentos, a fim de aprender tudo de Vós. E no meio da noite, do nada, da incapacidade, quero sempre fixar-me em Vós e permanecer sob a vossa luz admirável. Ó sol amado, fascinai-me para que nunca mais me separe da vossa luz. 

Ó Fogo consumidor, Espírito de amor, vinde a mim, para que se faça na minha alma como que uma encarnação do Verbo: que eu seja para Ele uma humanidade na qual renove todo o seu Mistério. E Vós, ó Pai, inclinai-vos para esta vossa pobre e pequena criatura e revesti-me com a vossa sombra, e não vejais nela senão o Bem Amado no qual pusestes todas as vossas complacências.

Ó Trindade Santa, meu tudo, minha beatitude, projeção infinita, imensidade que me domina, entrego-me a Vós como único refúgio. Consumai-vos em mim para que eu me consuma totalmente em Vós, na esperança de um dia contemplar na vossa luz a imensidão das vossas grandezas.

(Santa Isabel da Trindade)

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

O DOM DA FORTALEZA

O dom de ciência nos ensina o que devemos fazer e o que devemos evitar para estar de acordo com as intenções de Jesus Cristo, nosso divino Chefe. É preciso agora que o Espírito Santo estabeleça em nós um princípio, do qual possamos tomar a energia que deverá nos sustentar no caminho que Ele acaba de nos mostrar. Devemos, com efeito, contar com obstáculos e o grande número daqueles que sucumbem basta para nos convencer da necessidade de sermos ajudados. O socorro que o divino Espírito nos comunica é o dom da fortaleza pelo qual, se somos fiéis ao empregá-lo, será possível e mesmo fácil para que possamos triunfar sobre tudo o que possa deter nossa marcha. Nas dificuldades e nas provações da vida, o homem é tanto levado à fraqueza e ao abatimento, quanto empurrado por um ardor natural, que tem sua fonte no temperamento ou na vaidade. Esta dupla disposição pouco ajudará na vitória dos combates pelos quais a alma deve passar para sua salvação. 

O Espírito Santo nos dá então um novo elemento como força sobrenatural, que lhe é tão próprio, que o Salvador, ao instituir seus sacramentos, estabeleceu dentre estes um que tem por objeto especial nos dar esse Espírito divino como princípio de energia. Está fora de dúvida que tendo de lutar durante esta vida contra o demônio, o mundo e nós mesmos, precisamos de outra coisa para resistir além da pusilanimidade ou da audácia. Temos necessidade de um dom que modere em nós o medo e que, ao mesmo tempo, tempere a confiança que seríamos levados a ter em nós mesmos. O homem assim modificado pelo Espírito Santo certamente vencerá, pois a graça substituirá nele a fraqueza da natureza ao mesmo tempo em que corrigirá a impetuosidade. Duas necessidades encontram-se na vida do cristão: a de saber resistir e a de saber suportar. Quem poderia se opor às tentações de satanás se a Fortaleza do divino Espírito não viesse cobri-lo de uma armadura celeste e fortalecer o seu braço? O mundo não é também um adversário terrível, se considerarmos o número de vítimas que caem todos os dias pela tirania de suas máximas e de suas pretensões? Qual não deve ser a assistência do divino Espírito, quando se trata de tornar o cristão invulnerável aos golpes assassinos que fazem tantos estragos à sua volta? As paixões do coração do homem não são um obstáculo menor à sua salvação e à sua santificação: obstáculo tanto mais temível por que mais íntimo.

É preciso que o Espírito Santo transforme o coração, que o leve mesmo a renunciar-se, quando a luz celeste indique um outro caminho para o qual nos empurra o amor e a busca de nós mesmos. Que força divina não é preciso para 'odiar até a sua própria vida', quando Jesus Cristo o exige, quando se trata de escolher entre dois mestres cujos serviços são incompatíveis? O Espírito Santo, todos os dias, realiza esses prodígios, por meio do dom que derrama em nós, desde que não o desprezamos, desde que não o abafamos com nossa covardia ou com nossa imprudência. Ele ensina ao cristão a dominar suas paixões, a não se deixar conduzir por guias cegos, a não ceder a seus instintos, a não ser o que não seria conforme à ordem que Deus estabeleceu. Algumas vezes esse divino Espírito não pede somente que o cristão resista interiormente aos inimigos de sua alma, mas exige também que proteste abertamente contra o erro e o mal, se o dever de estado ou a posição o reclamam. É aí, então, que é preciso afrontar uma espécie de impopularidade que se associa às vezes ao cristão, e que não deve surpreendê-lo ao lembrar-se das palavras do Apóstolo: 'Se eu fosse agradável aos homens, não seria servidor de Cristo'. Mas o Espírito Santo não falta nunca e quando encontra uma alma resolvida a fazer uso da força divina da qual Ele é a fonte, não somente lhe assegura o triunfo, mas a estabelece numa paz cheia de doçura e de coragem que a leva à vitória sobre as paixões. Tal é a maneira pela qual o Espírito Santo aplica o dom de Fortaleza ao cristão, quando este deve exercer resistência. 

Dissemos que este precioso dom traz ainda a energia necessária para suportar as provações cujo prêmio é a salvação. Há temores que gelam a coragem e podem levar o homem à sua perda. O dom de fortaleza os dissipa, substituindo-os por uma calma e uma segurança que desconcerta a natureza. Vejam os mártires! E não só um São Mauricio, chefe da legião tebana, acostumado às lutas do campo de batalha, mas tantos outros, como Santa Felicidade, mãe de sete filhos, como Santa Perpétua, nobre senhora de Cartago para quem o mundo só tinha favores; como Santa Inês, criança de treze anos, bem como milhares de outras; digam se o dom da Fortaleza pode ser estéril em sacrifícios. O que foi feito do medo da morte, desta morte cujo único pensamento nos acabrunha tantas vezes? E as generosas ofertas de toda uma vida imolada na renúncia e nas privações, a fim de encontrar Jesus sem reservas e de seguir os seus passos de mais perto? E tantas existências veladas aos olhares distraídos e superficiais dos homens, existências cujo elemento é o sacrifício, onde a serenidade nunca é vencida pela provação, onde a cruz está sempre reinante e é sempre aceita! Que troféus para o Espírito de Fortaleza! Que dedicação ao dever ele pode e sabe produzir! 

Se o homem sozinho é pouca coisa, o quanto é engrandecido sob a ação do Espírito Santo! É Ele que ajuda ao cristão a enfrentar a triste tentação do respeito humano, elevando-o acima das considerações mundanas que ditariam uma outra conduta. É Ele que empurra o homem a preferir às honras vãs do mundo, a alegria de não ter violado o mandamento de Deus. É esse espírito de fortaleza que nos faz aceitar as desgraças da fortuna assim como tantos desígnios misericordiosos do céu, que sustentam o cristão na perda dolorosa dos entes queridos, nos sofrimentos físicos que tornariam a vida um fardo, se não soubesse que são desígnios do Senhor. É Ele, enfim, como lemos na vida dos santos, que se serve das próprias repugnâncias da natureza, para provocar atos heroicos, onde a criatura humana parece atravessar os limites de seu ser para elevar-se à ordem dos espíritos impassíveis e glorificados. Espírito de fortaleza, permanecei cada vez mais em nós e salvai-nos da indolência desse século. Em época nenhuma a energia das almas esteve mais enfraquecida, o espírito mundano e diabólico mais triunfante, o sensualismo mais insolente, o orgulho e a independência mais pronunciados. Saber ser forte contra si mesmo é uma raridade que excita o espanto daqueles que o testemunham: como as verdades do Evangelho perderam terreno! 

Detei-nos sobre esse declive que nos levaria ao abismo como a tantos outros, ó Divino Espírito! Deixai que peçamos como São Paulo aos cristãos de Éfeso e que ousemos reclamar de Vossa liberalidade 'a armadura divina que nos colocará em condições de resistir no dia mau e de permanecermos perfeitos em todas as coisas. Cingi nossos rins com a verdade, cobri-nos com a couraça da justiça, dai aos nossos pés, como calçados indestrutíveis, o Evangelho da paz; muni-nos com o escudo da fé, contra o qual possamos nos proteger contra as flechas inflamadas de nosso cruel inimigo. Colocai em nossa cabeça o elmo que é a esperança da salvação e, em nossas mãos, a espada espiritual que é a própria palavra de Deus' e com a ajuda da qual possamos enfrentar, como o Senhor no deserto, todos os nossos adversários. Espírito de Fortaleza, fazei que em nós assim seja.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom P. Gueranger)

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

O DOM DA CIÊNCIA

A alma, estando desligada do mal pelo temor de Deus e aberta às nobres afeições pelo dom de piedade, experimenta a necessidade de saber como evitará aquilo que é objeto de seu temor e como encontrará o que deve amar. O Espírito Santo vem em seu socorro e lhe trás o que deseja, derramando nela o dom da ciência. Por este dom precioso a verdade lhe aparece, ela sabe o que Deus pede e o que reprova, o que deve procurar e do que deve fugir. 

Sem a ciência divina, nossa vista corre o risco de perder-se por causa das trevas que muitas vezes obscurecem totalmente, ou em parte, a inteligência do homem. Essas trevas são provenientes, primeiramente, do íntimo de nós mesmos, que carrega os traços bem reais da decadência do pecado original. São ainda causadas pelos preconceitos e máximas do mundo que enganam diariamente os espíritos que se creem os mais retos. Enfim, a ação de satanás, que é o príncipe das trevas, exerce-se em grande parte com o fim de envolver nossa alma na obscuridade ou perdê-la com a ajuda de luzes falsas.

A fé que nos foi infundida no batismo é a luz da nossa alma. Pelo dom da ciência, o Espírito Santo produz, na virtude da fé, raios tão vivos que dissipam todas as trevas. As dúvidas, então, se esclarecem, o erro se desvanece e a verdade aparece com todo seu fulgor. Vemos cada coisa na sua verdadeira claridade que é a claridade da fé. Descobrem-se os deploráveis erros que estão em curso no mundo e que seduzem tão grande número de almas, dos quais, talvez tenhamos sido, nós mesmos, durante muito tempo, vítimas. O dom de ciência nos revela o fim que Deus se propôs na criação, aquele fim fora do qual os seres não poderiam encontrar nem o bem nem o repouso. Ensina o uso que devemos fazer das criaturas, que nos são dadas não para tropeço, mas para nos ajudar em nossa marcha para Deus. 

Sendo-nos, assim, manifestado o segredo da vida, nossa estrada torna-se segura, não hesitamos mais e nos sentimos dispostos a nos retirar de todo caminho que não nos conduza àquele fim. É esta ciência, dom do Espírito Santo, que o Apóstolo tem em vista quando, falando aos cristãos lhes diz: 'Antes éreis trevas; agora sois luz no Senhor: andeis agora como filhos da luz'. Daí vem a firmeza e a segurança da conduta cristã. A experiência pode faltar algumas vezes e o mundo nos perturba com o pensamento de dar algum temível passo em falso; mas o mundo não conta com o dom de ciência. 'O Senhor conduz o justo por vias retas e para assegurar seus passos lhe deu a ciência dos santos'. Todos os dias esta lição nos é dada. O cristão, por meio da luz sobrenatural, escapa a todos os perigos e, se não tem experiência própria, tem a experiência de Deus. 

Seja bendito, Divino Espírito, por essa luz que derramais e mantendes em nós com tão amável perseverança. Não permitais que nunca procuremos uma outra. Somente ela nos baste; fora dela só existem trevas. Guardai-nos das tristes inconsequências em que muitos se deixam levar imprudentemente, aceitando um dia vossa conduta e depois se entregando às opiniões do mundo; levando uma vida que não satisfaz nem ao mundo nem a Vós. Precisamos, pois, amar esta ciência que nos destes para que sejamos salvos; o inimigo de nossas almas inveja em nós essa ciência salutar e quer substituí-la por suas sombras. Não permitais, Divino Espírito, que ele consiga o seu pérfido desígnio e ajudai-nos sempre a discernir o que é verdadeiro do que é falso, o que é justo do que é injusto. Que segundo a palavra de Jesus, nosso olhar seja simples, a fim de que nosso corpo, quer dizer o conjunto dos nossos atos, dos nossos desejos e dos nossos pensamentos, esteja na luz; salvai-nos daquele olho que Jesus chama de mau e que torna tenebroso o nosso corpo inteiro.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom P. Gueranger)

terça-feira, 14 de novembro de 2023

O DOM DA PIEDADE

O dom do temor de Deus destina-se a curar em nós a chaga do orgulho; o dom da piedade é derramado em nossas almas pelo Espírito Santo para combater o egoísmo, que é uma das paixões más do homem decaído por causa do pecado original, e o segundo obstáculo à sua união com Deus. O coração do cristão não deve ser nem frio nem indiferente; é preciso que seja terno e devotado; do contrário não poderá se elevar à via para a qual Deus, que é amor, dignou-se chamá-lo. 

Assim o Espírito Santo produz no homem o dom da piedade, inspirando-lhe um retorno filial para seu Criador. 'Vós recebestes o Espírito de adoção' - nos diz o Apóstolo - 'e é por este Espírito que gritamos para Deus: Pai! Pai!'. Essa disposição torna a alma sensível a tudo o que toca a honra de Deus. Faz o homem alimentar em si mesmo a compunção dos seus pecados, tendo em vista a infinita Bondade que se dignou suportá-lo e perdoá-lo e o pensamento dos sofrimentos e da morte do Redentor. A alma iniciada no dom de piedade deseja constantemente a glória de Deus e quer por todos os homens aos seus pés; e os ultrajes que Ele recebe lhe são particularmente sensíveis. 

Sua alegria é ver o progresso das almas no amor e as devoções que este amor lhes inspira por Aquele que é o soberano Bem. Cheia de submissão filial para com o Pai universal que está nos céus, essa alma está pronta para todas as suas vontades. Resigna-se de coração com todas as disposições da Providência. Sua fé é simples e viva. Mantém-se amorosamente submissa à Igreja, sempre pronta a renunciar às suas próprias ideias e àquelas mais caras, se estas afastam-se de alguma forma de seu ensinamento ou de sua prática, tendo um horror instintivo da novidade e da independência. Essa devoção para com Deus que o dom de piedade inspira, unindo a alma a seu Criador pela afeição filial, a une, também, com uma afeição fraternal, a todas as criaturas, já que estas são obra do poder de Deus.

Em primeiro lugar, nas afeições do cristão animado pelo dom de piedade, estão as criaturas glorificadas, das quais, Deus goza eternamente e as quais se deleitam dEle para sempre. Ama ternamente a Santíssima Virgem Maria e é zeloso de sua honra; venera com amor os santos e os atos heroicos de virtude realizados pelos amigos de Deus; delicia-se com seus milagres, honra religiosamente suas relíquias sagradas. Mas sua afeição não é apenas pelas criaturas coroadas no céu; aquelas que ainda estão aqui embaixo ocupam um lugar importante em seu coração. O dom de piedade faz com que ele encontre nelas o próprio Jesus. Sua boa vontade para com seus irmãos é universal. Seu coração está inclinado ao perdão das injúrias, a suportar as imperfeições do outro, a desculpar as imperfeições do próximo. É compassivo para com o pobre, solícito aos pés do doente. Uma doçura afetuosa revela o fundo do seu coração e em suas relações com os irmãos da terra, o vemos sempre disposto a chorar com os que choram, a se alegrar com os que se alegram. 

Tal é, ó Divino Espírito, a disposição daqueles que cultivam o dom de piedade que derramais em suas almas. Por esse inefável benefício, neutralizais o triste egoísmo que afloraria em seus corações, livrando-os de uma frieza odiosa que torna o homem indiferente aos seus irmãos e fechais suas almas à inveja e ao ódio. Para isso, só foi preciso esta piedade filial para com o Criador; que enterneceu seus corações, fundindo-os com uma viva afeição por tudo o que sai das mãos de Deus. Fazei frutificar em nós este dom tão precioso, ó Divino Espírito! Não permitais que ele seja abafado pelo amor de nós mesmos. Jesus nos encorajou dizendo-nos que seu Pai Celeste 'faz o sol nascer sobre os bons e os maus'; não permitais, Divino Paráclito, que uma tão paternal indulgência seja um exemplo perdido para nós e dignai-vos desenvolver em nossas almas o germe de devoção, da benevolência e da compaixão que vos dignastes infundir no momento em que de nós tomastes possessão pelo santo batismo.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom P. Gueranger)

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

O SANTO TEMOR DE DEUS

O nosso obstáculo ao bem é o orgulho. O orgulho nos leva a resistir a Deus, a por o nosso fim em nós mesmos, em uma palavra, a nos perder. Só a humildade pode nos salvar de tão grande perigo. Quem nos dará a humildade? O Espírito Santo, derramando em nós o dom do Temor de Deus. Esse sentimento repousa na ideia da majestade de Deus que a fé nos dá, em presença da qual nada somos; na ideia da sua santidade infinita, diante da qual não passamos de indignidade e escória; do julgamento soberanamente equitativo que ele deve exercer sobre nós ao sairmos desta vida e do perigo de uma queda sempre possível, se faltarmos à graça, que nunca nos falta, mas à qual podemos resistir. 

A salvação do homem se opera, pois, 'com temor e tremor', como ensina o Apóstolo; mas este temor que é um dom do Espírito Santo, não é um sentimento grosseiro que se limitaria a nos lançar no horror da consideração dos castigos eternos. Ele nos mantém com a compunção do coração, mesmo quando nossos pecados já foram há muito tempo perdoados; ele nos impede de esquecer que somos pecadores, que devemos tudo à misericórdia divina e que só estamos salvos na esperança. 

O Temor de Deus não é um temor servil; ao contrário, torna-se a fonte de sentimentos mais delicados. Pode-se aliar ao amor, não sendo mais do que um sentimento filial que abomina o pecado por causa do ultraje que este comete a Deus. Inspirado pelo respeito à majestade divina, pelo sentimento da santidade infinita, põe a criatura em seu verdadeiro lugar. São Paulo nos ensina que o temor, assim purificado, contribui para 'o aperfeiçoamento da santificação'. Escutemos também esse grande Apóstolo, que foi arrebatado até o terceiro céu, confessar que é rigoroso consigo mesmo 'a fim de não ser reprovado'. 

O espírito de independência e de falsa liberdade que reina hoje em dia contribui para tornar mais raro o Temor de Deus e aí está uma das chagas do nosso tempo. A familiaridade com Deus toma, na maior parte das vezes, o lugar dessa disposição fundamental da vida cristã e, desde então, cessa todo progresso, a ilusão se introduz na alma e os divinos sacramentos, que no momento de uma volta para Deus tinham operado com tanto poder, tornam-se quase estéreis. É que o dom do Temor foi abafado pela vã complacência da alma consigo mesma. 

A humildade se extinguiu; um orgulho secreto e universal veio paralisar os movimentos desta alma. Ela chega, sem perceber, a não mais conhecer a Deus, pelo próprio fato de não tremer mais diante dele. Conservai em nós, ó Divino Espírito, o dom do Temor de Deus que nos foi derramado no nosso batismo. Este temor salutar assegurará a nossa perseverança no bem, detendo os progressos do espírito de orgulho. Que ele seja como uma trave que atravessa nossa alma de lado a lado e que fique sempre fixada como nossa salvaguarda. Que abaixe nossa altivez, que nos arranque da indolência, nos revelando sem cessar a grandeza e a santidade dAquele que nos criou e que nos deve julgar. 

Sabemos, ó Divino Espírito, que esse feliz Temor não abafa o amor; longe disso, afasta os obstáculos que o deteriam em seu desenvolvimento. As potestades celestes veem e amam com ardor o soberano Bem, elas são inebriadas pela eternidade; no entanto tremem diante da terrível majestade - tremunt potestates. E nós, cobertos das cicatrizes do pecado, cheios de imperfeições, expostos a mil armadilhas, obrigados a lutar contra tantos inimigos, não sentimos que é preciso estimular por um temor forte e ao mesmo tempo filial, nossa vontade que adormece tão facilmente, nosso espírito tomado por tantas trevas! Velai por Vossa obra, ó divino Espírito! Preservai em nós o dom precioso que vos dignastes dar-nos; ensinai-nos a conciliar a paz e a alegria do coração com o Temor de Deus, segundo a advertência do salmista: 'Serve o Senhor com temor e exulta de felicidade tremendo diante dele'.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom P. Gueranger)

quinta-feira, 13 de julho de 2023

ORAÇÃO AO ESPÍRITO SANTO


Espírito Santo, divino paráclito, pai dos pobres, consolador dos aflitos, santificador das almas, eis-me aqui prostrado na Vossa presença; adoro-vos com a mais profunda submissão, e repito mil vezes com os serafins que estão diante do Vosso trono: 'Santo! Santo! Santo!' Creio firmemente que sois eterno, da mesma substância do Pai e do Filho. Espero que, pela Vossa bondade, santificareis e salvareis a minha alma. Amo-vos, ó Deus de amor; amo-vos mais do que todas as coisas, com todos os meus afetos, porque sois a bondade infinita, única digna de todo o meu amor. Insensível às vossas santas inspirações, quantas vezes, tive a ingratidão de vos ofender: peço-vos mil vezes perdão e pesa-me sumamente vos ter desagrado, ó Bem supremo! 

Ofereço-vos o meu coração, frio como é, e vos suplico façais nele entrar um raio da vossa luz, uma centelha do vosso amor, para derreter o gelo tão duro das minhas iniquidades. Vós, que enchestes de imensas graças a alma de Maria, e abrasastes com zelo santo os corações dos apóstolos, dignai-vos também de abrasar no vosso amor o meu coração. Vós sois um Espírito divino, fortificai-me contra os maus espíritos; sois Fogo, acendei em mim o fogo do vosso amor; sois Luz, esclarecei-me fazendo que eu conheça as coisas eternas; sois uma Pomba, dai-me costumes puros; sois Sopro cheio de doçura, dissipai as tempestades que as paixões levantam em mim; sois uma Língua, ensinai-me a maneira de vos louvar sem cessar; sois uma Nuvem, cobri-me com a sombra da vossa proteção. 

Enfim, sois o Autor de todos os dons celestes: eu vos conjuro, vivificai-me pela vossa graça; santificai-me pela vossa caridade, governai-me pela vossa sabedoria, adotai-me como filho pela vossa bondade e salvai-me pela vossa infinita misericórdia, para que não cesse jamais de vos bendizer, louvar e amar, primeiro na terra durante a minha vida e depois no céu por toda a eternidade. Assim seja.

 Vinde, ó Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
e acendei neles o fogo sagrado do vosso amor!

(Excertos da obra 'As Mais Belas Orações de Santo Afonso', do Pe. Saint-Omer)

sábado, 19 de dezembro de 2020

ORAÇÃO: VENI CREATOR SPIRITUS

Veni, Creator Spiritus, um dos mais belos hinos da Igreja, tem autoria atribuída a Rabanus Maurus (776-856), e é cantado especialmente na Festa de Pentecostes, bem como outras festividades solenes como Confirmação, ordenações sacerdotais, dedicação de uma Igreja ou na profissão de fé de Ordens Sagradas. Uma indulgência parcial é sempre concedida aos fieis que a recitam. A indulgência plenária é concedida ao fiel se o hino for recitado com devoção e publicamente no dia 1º de janeiro ou na festa de Pentecostes.


VENI CREATOR SPIRITUS

Veni, Creator Spiritus,
mentes tuorum visita,
imple superna gratia,
quae tu creasti pectora.

Vinde, Espírito Criador,
tomai posse das almas vossas
infundi de graça celestial,
os corações que criastes.

Qui diceris Paraclitus,
altissimi donum Dei,
fons vivus, ignis, caritas,
et spiritalis unctio.

Vós que sois chamado Paráclito
o dom do Deus Altíssimo,
fonte viva, fogo, caridade,
e unção espiritual.

Tu septiformis munere,
digitus paternae dexterae,
tu rite promissum Patris,
sermone ditans guttura.

Vós, presente dos sete dons,
o dedo da mão direita de Deus,
promessa solene do Pai,
para inspirar nossas palavras. 

Accende lumen sensibus;
infunde amorem cordibus,
infirma nostri corporis
virtute firmans perpeti.

Acendei a luz dos sentidos;
derramai o amor nos corações,
a fragilidade do nosso corpo
fortalecei com virtude perene.

Hostem repellas longius,
pacemque dones protinus;
ductore sic te praevio
vitemus omne noxium.

Repeli para longe o inimigo,
dai-nos a paz sem demoras;
que, assim guiados por Vós,
possamos evitar todo o mal.

Per te sciamus da Patrem,
noscamus atque Filium;
teque utriusque Spiritum
credamus omni tempore. Amen.

Por Vós, conhecendo o Pai,
nos é revelado o Filho;
e por ambos, e no mesmo espírito,
dai-nos acreditar sempre em Vós. Amém.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

OS 12 FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO


1. A Caridade é o amor a Deus acima de todas as coisas e aos outros por causa de Deus. E é o maior dos dons porque não desaparece, existe para além da morte. O Céu vive no amor: 'A fé e a esperança hão-de desaparecer, mas o amor jamais desaparecerá' (1 Cor 13,8).

2. A Alegria é caracterizada por aquelas emoções interiores, aquele gozo interior e satisfação espiritual profunda que o Espírito Santo derrama no coração e na alma. Não há palavras que possam descrever o gozo que provém do Espírito Santo.

3. A Paz de que falamos não tem nada a ver com os motivos ou sensações externas, mas é uma paz e suavidade interior, tal como Jesus disse aos Seus apóstolos: 'Deixo-vos a paz, dou-vos a Minha paz, não como o mundo a dá mas como Eu a dou' (Jo 14, 27). Jesus é a paz e a suavidade da alma.

4. A Paciência suporta as adversidades, as doenças, as contrariedades e perseguições. A paciência é o fruto essencial para que o cristão persevere na Fé. O cristão paciente dificilmente é demovido porque suporta tudo com paciência. A alma paciente é mansa e humilde, não se revolta contra o seu Deus, mas tudo aceita sem se turbar porque sabe que até do mal pode vir o bem.

5. A Bondade é fazer o bem, desinteressadamente, às pessoas. A pessoa que o faz tem um bom coração, amando verdadeiramente. A resposta de alguém que ama a sério é: 'Eu amo porque amo'.

6. A Benignidade parte da bondade, enquanto querer, mas relaciona-se mais com o fazer. A benignidade é a execução do bem que vai para além do que deveria, por justiça, ser feito.

7. A Longanimidade esta relacionada com grandeza da alma e com a generosidade. É um fruto sobrenatural que dispõe a alma a esperar, sem se queixar nem se deixar amargurar, mesmo nos momentos mais difíceis. É o perseverar nos caminhos de Deus, mesmo nas adversidades e dificuldades.

8. A Mansidão está sempre associada à humildade e à paciência. Jesus disse: 'Vinde a Mim que sou manso e humilde de coração que Eu vos aliviarei. Vinde a Mim que o meu jugo é suave e a minha carga é leve. Vinde a Mim todos vós que estais sobrecarregados porque Eu vos aliviarei' (Mt 11, 28-30). A mansidão impele contra a ira e contra o ódio. Assim, devemos procurar ser mansos, imitando o Divino Mestre.

9. A , para além de ser o fruto do Espírito Santo, é uma das virtudes teologais. A Fé é um dom muito importante, sem ela desesperamos e desanimamos ao longo da nossa caminhada, feita de altos e baixos, com muitas dificuldades. A Fé leva o cristão a manter-se firme na sua caminhada, mas esta Fé tem que ser conservada e protegida. A oração aumenta e protege a Fé. 

10. A Modéstia relaciona-se com o ser discreto. A modéstia é contra a ostentação e a exibição. A modéstia é o pudor que deve acompanhar todo o cristão pois nele habita Deus. Como tal, devemos respeitar o nosso próprio corpo, não o expondo como um mostruário. Podemos usar roupas bonitas e arranjadas com o devido pudor e respeito pelo corpo.

11. A Continência permite que o homem seja equilibrado, dominando a sua sexualidade, sabendo se guardar e se proteger. A continência é uma grande virtude. A continência é o domínio de si mesmo em relação aos instintos sexuais.

12. A Castidade é um fruto que leva o homem ou a mulher a manter a pureza do corpo e, consequentemente, a pureza da alma, não se deixando manchar, nem ser levado a pecar contra o sexto e o nono mandamentos.

(Do Catecismo Romano)

domingo, 15 de janeiro de 2017

JESUS CRISTO É O CORDEIRO DE DEUS

Páginas do Evangelho - Segundo Domingo do Tempo Comum


Neste segundo domingo do tempo comum, a mensagem profética que ressoa pelos tempos vem da boca de João Batista: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo' (Jo 1, 29). E complementa: 'Dele é que eu disse: Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim' (Jo 1, 30). Eis o primado de João, o Precursor do Messias: Jesus veio ao mundo para resgatar e levar à salvação toda a humanidade e fazer novas todas as coisas.

Diante de Jesus, que viera pela segunda vez até ele às margens do Jordão, assim como foi Maria que visitou a sua prima Santa Isabel, João Batista reconhece no Senhor a glória e a eternidade de Deus 'porque existia antes de mim' (Jo 1, 30). Nas margens do Jordão, uma vez mais, no mistério da Encarnação, os desígnios de Deus são revelados aos homens por meio de João Batista.

Em seguida, reafirma a manifestação da Santíssima Trindade na pomba que desceu do céu, símbolo exposto em dimensão humana para o mistério insondável do Filho na intimidade com o Pai: 'Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele' (Jo 1, 32). O maior profeta de Deus, enviado para batizar com água, declara, então, de forma clara e incisiva, Jesus como Filho de Deus Vivo: 'Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!' (Jo 1, 34).

Eis aí a figura singular do Batista, de quem o próprio Cristo revelou: 'Na verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não veio ao mundo outro maior que João Batista' (Mt 11, 11). A grandeza do Precursor é enfatizada por Jesus naquele que recebeu privilégios tão extraordinários para ser o profeta da revelação de tão grandes mistérios de Deus à toda a humanidade: Jesus Cristo é o Unigênito do Pai, o Filho de Deus Vivo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

terça-feira, 26 de maio de 2015

SANTINHOS (V)

'Santinhos' são pequenos cartões impressos que retratam santos, cenas ou pinturas religiosas, produzidos desde época remota e comumente em grandes quantidades, para disseminação da cultura religiosa entre os católicos. São especialmente confeccionados e distribuídos nas festas de devoção de um santo, como pagamento de promessas ou como lembrança da realização de datas festivas e/ou eventos religiosos públicos ou particulares (batismo, primeira comunhão, crisma, etc). As fotos abaixo apresentam alguns exemplos destes 'santinhos' dedicados ao Espírito Santo e à Festa de Pentecostes.










domingo, 24 de maio de 2015

ORAÇÃO E DONS DO ESPÍRITO SANTO

ORAÇÃO: 'VINDE, ESPÍRITO SANTO'
(clique na imagem)

(artigo publicado originalmente no blog em 10/11/2012)

OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
(clique na imagem)





quarta-feira, 12 de março de 2014

O DOM DA SABEDORIA

O segundo favor que o Divino Espírito destinou à alma que lhe é fiel na ação é o dom de Sabedoria, ainda superior ao da Inteligência. No entanto, está ligado a este último no sentido de que o objeto mostrado na inteligência é saboreado e possuído no dom da Sabedoria. O salmista, convidando o homem a se aproximar de Deus, recomenda-lhe o sabor do soberano Bem. 'Provai, diz ele, e experimentai que o Senhor é cheio de doçura'. A santa Igreja, no próprio dia de Pentecostes, pede a Deus para nós o favor de provar o Bem, recta sapere, porque a união da alma com Deus é antes uma experiência do gosto do que uma visão, a qual seria incompatível com nosso estado presente. 

A luz dada pelo dom da Inteligência não é imediata, ela alegra vivamente a alma e dirige seu sentido para a verdade; mas tende a se completar pelo dom de Sabedoria que é como se fosse seu fim. A Inteligência é então iluminação e a Sabedoria é união.

Ora, a união com o soberano Bem se realiza pela vontade, quer dizer, pelo amor que reside na vontade. Notamos essa progressão nas hierarquias angélicas. O querubim refulge de inteligência, mas acima dele ainda está o serafim abrasado. O Amor é ardente no querubim, assim como a inteligência esclarece com sua luz viva o serafim; mas um é diferenciado do outro pela qualidade predominante e o mais elevado é aquele que atinge mais intimamente a divindade pelo amor, aquele que saboreia o soberano Bem.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom Prosper Gueranger, Ed. Permanência, 2007)

sexta-feira, 7 de março de 2014

O DOM DA INTELIGÊNCIA

O sexto dom do Espírito Santo faz a alma entrar em uma via superior a que ela se encontrava até aqui. Os cinco primeiros dons tendem todos para a ação. O Temor de Deus remete o homem ao seu lugar humilhando-o, a Piedade abre seu coração às afeições divinas, a Ciência ensina-o a discernir entre a via da salvação e a via da perdição, a Força o arma para o combate e o Conselho dirige o homem em seus pensamentos e em suas obras; agora, então, ele pode agir e seguir pela estrada, com a esperança de chegar ao termo. Mas a bondade do Espírito Divino lhe reserva ainda outros favores, fazendo-lhe desfrutar desde este mundo, de um antegozo da felicidade que lhe reserva na outra vida. Este será o meio de fortalecer sua marcha, de animar sua coragem e de recompensar seus esforços. A via da contemplação lhe será, de agora em diante, aberta e o Espírito Divino nela o introduzirá por meio da Inteligência.

Muitas pessoas, talvez, se inquietem com a palavra contemplação, persuadidas erradamente de que as condições para isso só poderão ser encontradas na rara condição de uma vida passada no recolhimento e longe do comércio dos homens. É um grave e perigoso erro que, muitas vezes, freia o impulso das almas. A contemplação é o estado para o qual é chamado, em certa medida, toda alma que procura a Deus. Não consiste nos fenômenos pelos quais o Espírito Santo gosta de manifestar em algumas pessoas privilegiadas e que são destinados a provar a realidade da vida sobrenatural. Ela é, simplesmente, uma relação mais íntima que se estabelece entre Deus e a alma que lhe é fiel na ação; se esta alma não põe obstáculos, são-lhe reservados dois favores, entre os quais, o primeiro é o dom de Inteligência, que consiste na iluminação do espírito esclarecido desde então por uma luz superior.

Esta luz não retira a fé, mas clareia os olhos da alma, fortificando-os e dando-lhes uma visão mais extensa sobre as coisas divinas. Muitas nuvens provenientes da fraqueza e da grosseria da alma ainda não iniciada, se desvanecem. A beleza cheia de encantos dos mistérios, a qual era vagamente sentida, se revela; inefáveis harmonias que nem eram suspeitadas, aparecem. Não é a visão face a face, reservada para o dia eterno; mas já não é mais aquela fraca luminosidade que dirigia seus passos. Um conjunto de analogias e de concordâncias mostram-se sucessivamente aos olhos do espírito, trazendo uma certeza cheia de doçura. A alma se dilata com essas claridades que enriquecem a Fé, aumentam a Esperança e desdobram o Amor.

Tudo parece novo; e quando a alma olha para trás, compara e vê claramente que a verdade, sempre a mesma, agora é alcançada por ela de maneira incomparavelmente mais completa. A leitura dos Evangelhos a impressiona mais; encontra um sabor nas palavras do Salvador desconhecido para ela até então. Compreende melhor o fim a que Ele se propôs instituindo os Sacramentos. A santa Liturgia a emociona por suas fórmulas tão augustas e seus ritos tão profundos. A leitura da vida dos santos a atrai, nada a espanta nos seus sentimentos e nos seus atos; aprecia seus escritos mais do que quaisquer outros e sente um aumento de bem estar espiritual, tratando com esses amigos de Deus.

Rodeada de deveres de toda natureza, a chama divina guia essa alma para satisfazer a cada um deles. As diversas virtudes que deve praticar conciliam-se em sua conduta; uma nunca é sacrificada pela outra, porque vê a harmonia que deve reinar entre elas. Está longe do escrúpulo como do relaxamento e sempre atenta para logo reparar os danos que pôde cometer. Algumas vezes, o próprio Espírito a instrui por uma palavra interior que, quando ouvida, ilumina sua situação com uma nova luz.

De agora em diante, o mundo e seus vãos equívocos, são tomados por aquilo que são e a alma se purifica do resto de vínculos e complacências que ainda poderia conservar por eles. Aquilo que só tem grandeza e beleza segundo a natureza parece insignificante e miserável para esses olhos que o Espírito Santo abriu para as grandezas e belezas divinas e eternas. Só uma coisa redime a seus olhos esse mundo exterior que ilude o homem carnal: é que a criatura visível, que traz a marca da beleza de Deus, é susceptível de servir à glória de seu Autor. A alma aprende a fazer uso dela com ação de graças, tornando-a sobrenatural, glorificando com o Rei Profeta Àquele que imprimiu as marcas de sua beleza nessa multidão de seres que servem tantas vezes para a perda do homem, mas que são chamados a se tornarem degraus que o conduziriam a Deus.

O dom de Inteligência derrama também na alma o conhecimento de sua própria via. Faz com que ela compreenda o quanto são sábios e misericordiosos os desígnios do alto que, muitas vezes, a quebra e a transporta para onde não contava ir. Vê que, se ela fosse senhora de si mesma, para dispor de sua existência, teria perdido o seu fim e que Deus nele a fez chegar, escondendo primeiramente os desígnios de sua paternal Sabedoria. Agora ela está feliz, pois goza da paz e seu coração não cabe de ações de graças para agradecer a Deus que a conduziu ao termo sem consultá-la. Se acontecer de ser chamada para dar conselhos, para exercer uma direção por dever ou por motivo de caridade, pode-se confiar nela; o dom de Inteligência a esclarece para os outros como para ela própria. No entanto não se intromete, dando lições àqueles que não lha pedem; mas se é interrogada, responde e suas respostas são luminosas como a chama que a ilumina.

Este é o dom de Inteligência, verdadeira luz da alma cristã e que se faz sentir nela em proporção à sua fidelidade aos outros dons. Este dom se conserva pela humildade, moderação dos desejos e recolhimento interior. Uma conduta dissipada detém o seu desenvolvimento e pode mesmo abafá-lo. Essa alma fiel pode se conservar recolhida mesmo em uma vida ocupada e cheia de deveres, e até no meio de distrações obrigadas às quais a alma se presta sem se prender. Que ela seja simples a seus próprios olhos e o que Deus esconde aos soberbos e revela aos pequenos lhe será manifestado e nela permanecerá.

Não há duvida de que tal dom seja um imenso socorro para a salvação e a santificação da alma. Devemos implorá-lo ao Divino Espírito com todo ardor de nossos desejos, convencidos de que o atingiremos mais seguramente pelo impulso do nosso coração do que pelo esforço de nosso espírito. Na verdade é na Inteligência, que se derrama a luz divina, objeto desse dom; mas sua efusão provém, sobretudo, da vontade aquecida pelo fogo da Caridade, segundo a palavra de Isaías: 'Crede, e tereis a inteligência'. 

Vamos nos dirigir ao Espírito Santo nos servindo das palavras de Davi, dizendo: 'Abri nossos olhos e contemplaremos as maravilhas dos Vossos preceitos; dai-nos a inteligência e teremos a vida'. Instruídos pelo Apóstolo, manifestaremos nosso pedido de maneira ainda mais insistente, nos apropriando da oração que ele dirige ao Pai celeste em favor dos fiéis de Éfeso, quando implora por eles 'o Espírito de Sabedoria e de revelação, pelo qual se conhece a Deus; os olhos iluminados do coração que descobrem o objeto de nossa esperança e as riquezas da gloriosa herança que Deus preparou para seus santos'.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom Prosper Gueranger, Ed. Permanência, 2007)