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segunda-feira, 6 de junho de 2022

A TRANSVERBERAÇÃO DE SANTA VERÔNICA GIULIANI

Santa Verônica Giuliani talvez tenha sido, depois de Nossa Senhora, o ser humano que compartilhou com maior rigor e realismo a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo no Calvário. Suas experiências sobrenaturais neste contexto foram tremendas e quase impossíveis de descrever em seus domínios, tarefa que se reveste realmente impossível na compreensão humana de seus flagelos, dores e sofrimentos interiores e exteriores. Ela experimentou por completo a coroação de espinhos, o peso da cruz, a flagelação, a crucificação, a sua própria morte e a de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os seus jejuns, penitências e sofrimentos foram quase sobre-humanos.

Dentre este conjunto tremendo de interações praticamente cotidianas com o Céu, a experiência da transverberação foi de todo impressionante, muito além da descrição da experiência em si e das enormes consequências e efeitos do fenômeno sobrenatural, os quais foram detalhadamente expostos nas quase 22.000 páginas dos seus diários. Isto porque a transverberação de Santa Verônica Giuliani pôde ser contemplada, analisada e confirmada por vestígios e sinais físicos extraordinariamente visíveis.

Com efeito, a Irmã Florinda Cevoli da sua congregação esboçou uma imagem de um coração, sob a orientação da santa italiana e por determinação do confessor da mesma, contendo o arranjo geral das diferentes marcas e sinais que eram impressos sucessivamente no coração físico de Verônica, que era então informada por Jesus sobre cada nova impressão. 


O esboço final contempla um total de 25 marcas ou sinais, constituídos por 16 figuras e 9 letras, de acordo com o seguinte padrão: 

- uma cruz central contendo quatro letras: a letra C - Carità (Caridade) no topo, a letra F - Fede e Fedeltà (Fé e Fidelidade) ao centro, a letra U - Umiltà (humildade) na extremidade direita e a letra O - Obbedienza (Obediência) na esquerda

- um estandarte interceptando obliquamente a cruz e símbolo da vitória de Cristo, comportando uma bandeira branca inferior incorporando a letra m - Maria e uma bandeira acima, como uma projeção direta e superior à primeira, contendo a letra I - Iesus (Jesus)

- figuras à direita da cruz: uma chama de amor a Deus; duas chagas entrelaçadas; uma túnica; um cálice; a coluna de flagelação; um chicote e três cravos;

- figuras à esquerda da cruz: uma coroa de espinhos; uma chama de amor ao próximo; um martelo, uma lança; uma vara com uma esponja; um alicate (para remoção dos cravos)

- em ambos os lados da base da cruz, duas letras P: à esquerda P - Patire (Sofrer, Padecer) e, à direita P - Pazienza (Paciência)

- sob a cruz: sete espadas alinhadas segundo um padrão radial e convergente nas pontas, simbolizando as sete dores de Nossa senhora;

- na extremidade inferior do coração, abaixo do ponto de convergência das sete espadas, a letra V - Volontà di Dio (Vontade de Deus).

No dia seguinte à morte de Santa Verônica Giuliani, por ordem do bispo local, foi realizada uma autópsia parcial no corpo da santa pelos médicos Francesco Gentili e Gian Francesco Bordigia, com a presença de diferentes testemunhas e que envolveu a abertura da caixa torácica e a remoção do coração. Não foram encontradas evidências de derrame ou de inflamação na cavidade torácica. Nas partes expostas do coração, foram encontrados formações e contornos perfeitamente visíveis da parte da cruz com a letra C, da coroa de espinhos, das duas chamas, das sete espadas dispostas em arranjo radial , das letras V e P, da lança, da vara com a esponja e do estandarte com as bandeiras com as letras I e M e ainda de um cravo com ponta afiada. Nesta altura, a veracidade dos sinais foi considerada plenamente ratificada e a autópsia foi dada por concluída, sem a necessidade de reconhecimento físico das prováveis outras incisões mencionadas pela santa. 

sábado, 4 de junho de 2022

OS GRANDES MÍSTICOS DA IGREJA (VI)

VERÔNICA GIULIANI

Verônica Giuliani nasceu no povoado de Mercatello, na Itália, em 27 de dezembro de 1660, com o nome de batismo de Úrsula Giuliani e tornou-se uma das mais extraordinárias místicas da Igreja Católica, num patamar de supremacia digno de uma Santa Teresa de Ávila. Viveu experiências sobrenaturais desde a mais tenra idade, conviveu cotidianamente com visões e aparições de Jesus e de Nossa Senhora, foi privilegiada com incursões ao Purgatório e ao Inferno, recebeu os estigmas de Cristo e muitas outras manifestações dos mistérios da graça divina que incluíram sinais permanentes no seu corpo e o extraordinário fenômeno da transverberação do próprio coração.

Tendo perdido a mãe com a idade de 7 anos e impondo-se à época contra a vontade paterna, ingressou na vida religiosa aos 17 anos, no convento das monjas Capuchinhas de Città di Castello, na Úmbria, adotando o nome de Verônica de Jesus e de Maria. Ali iria viver toda a sua vida, até morrer em 9 de julho de 1727. Por determinação direta de Jesus e de sua Santíssima Mãe, registrou em mais de 22 mil páginas do seu diário espiritual, a história de sua vida e o seu legado portentoso de expiação: Jesus viveu a sua Paixão e Morte de Cruz pela nossa salvação e o mistério da redenção implica a coparticipação dos seus filhos por meio dos nossos próprios sofrimentos.

Nestes registros, encontra-se a raiz de sua santificação ao entrar para vida religiosa: 'Pedi a Jesus a graça de amá-lo e ele pareceu comunicar-me então o seu amor... e pedi a Ele mais três favores: viver de acordo com o estado de vida que havia assumido, nunca me separar da sua santa vontade e estar sempre ligada a Ele na sua Paixão e Cruz'. Jesus a tomou para si de tal modo que é quase impossível descrever toda a dimensão mística desse encontro e da projeção de uma alma num abismo de graças.

Na Sexta-feira Santa de 1681, foi contemplada com uma coroa de espinhos: 'pareceu-me que senti os espinhos entrarem na minha boca, meus ouvidos, minha cabeça, meus olhos, minhas têmporas e meu cérebro. Foi um tal sofrimento que caí no chão como se estivesse morta'. Ela padeceria destas dores de forma recorrente pelo resto da vida. Em 05 de abril de 1697, Sexta-feira Santa, recebeu aos 36 anos os estigmas de Cristo: 'vi cinco raios brilhantes saindo de suas feridas e vindo em minha direção. Eu vi como eles se transformaram em pequenas chamas. Quatro deles continham os cravos e o quinto continha a lança, dourada e toda em chamas, que perfurou o meu coração. Os cravos perfuraram minhas mãos e os meus pés'. Um pouco antes, neste mesmo ano, recebeu a ferida no coração, conhecida como transverberação, a exemplo de Santa Teresa de Ávila. A santa registrou em seu diário que os instrumentos da paixão de Cristo estavam fisicamente impressos em seu coração.


Em 6 de junho de 1727, ela sofreu um derrame e padeceu misticamente no Purgatório por 33 dias, sob grandes sofrimentos e tentações. Após receber a permissão para morrer do seu confessor, faleceu em 9 de julho de 1727, aos 66 anos de idade. Suas últimas palavras refletem a síntese de sua vida espiritual: 'Encontrei o Amor; o Amor deixou-se contemplar!' Na autópsia, o seu coração foi isolado e seccionado, revelando incríveis e misteriosas incisões na forma dos contornos de instrumentos da Paixão, das sete espadas representativas das dores de Nossa Senhora e de várias letras, indicativas de virtudes e dos votos que tinham sido feitos por ela. Seu corpo incorrupto encontra-se no Santuário do Mosteiro de Santa Verônica Giuliani, em Città di Castello, Itália. Foi beatificada em 1804 pelo Papa Pio VII e canonizada em 1839 pelo Papa Gregório XVI.

sábado, 28 de maio de 2022

NO LIMIAR DO SOBRENATURAL (XII)

O Cumbre Vieja é vulcão mais ativo das Ilhas Canárias/Espanha, com erupções registradas em 1585, 1646, 1677, 1712, 1949 e 1971. Mas foi em 2021 que o vulcão manifestou a sua erupção mais intensa, que se prolongou por 85 dias e oito horas, entre 19 de setembro e 13 de dezembro de 2021. Esta intensa e continuada atividade vulcânica resultou na destruição de 1.676 edifícios, dos quais 1.345 eram de uso residencial, sendo que as lavas liberadas cobriram cerca de 1.241 hectares de terreno, dos quais 370 hectares correspondiam a áreas cultivadas.


Após a erupção, cientistas do Instituto Vulcanológico das Ilhas Canárias encontraram pequenas manchas vermelhas de enxofre líquido, que designaram como 'sangue das artérias do vulcão', além de zonas de áreas amareladas, características do enxofre no estado sólido. Além disso, também foram encontrados cristais vulcânicos de enxofre, que se formam quando diferentes gases, como o dióxido de enxofre (SO₂) e o sulfeto de hidrogênio (H₂S), reagem entre si, depositando cristais de enxofre nativo puro em locais de emissão concentrada destes gases.



Muito menos divulgado, entretanto, foi o fato de que a enorme devastação provocada pela erupção, particularmente na área limítrofe à cratera, passou completamente ao largo de um monumento e uma imagem da Virgem de Fátima erigida no local, a apenas  500 metros da cratera do vulcão. Nos dias 13 de maio e 13 de outubro de cada ano, são rezadas missas e o Rosário em honra de Nossa Senhora de Fátima diante o pequeno altar de granito ao pé do monumento. A imagem foi abençoada em 1954 em Portugal e percorreu toda a ilha antes de ser instalada nas vertentes do vulcão. As lavas da erupção de 2021 foram contidas a oitenta metros do cemitério local e a cerca de 500 metros da igreja de São Nicolás. 

sábado, 12 de junho de 2021

OS GRANDES MÍSTICOS DA IGREJA (V)

ELENA AIELLO

Elena Emília Aiello nasceu em Montalto Uffugo, província de Cosenza e região da Calábria, na Itália, no dia 10 de abril de 1895, e faleceu em Roma no dia 19 de junho de 1961. Privilegiada por inúmeros dons sobrenaturais, foi declarada venerável no dia 22 de janeiro de 1991 e beatificada em 14 de setembro de 2011. 

Após a morte da mãe, ocorrida em 1905, Elena passou a ajudar o pai na alfaiataria da família. Em agosto de 1920, ingressou no instituto das Irmãs da Caridade do Preciosíssimo Sangue em Salerno, mas graves problemas de saúde fizeram com que fosse excluída da congregação. A partir de uma revelação de Jesus de que seria curada destes males e que passaria a sofrer os estigmas da Paixão de Cristo nas Sextas-Feiras Santas de cada ano, passou a experimentar diferentes fenômenos místicos, que incluíram visões de Cristo e de Nossa Senhora, que lhe pediam para participar do mistério da Paixão para o bem da humanidade como alma vítima escolhida pela Providência para a conversão dos pecadores e para aplacar a Justiça divina.

Em 1928, ela e uma amiga, Luigia Mazza, fundaram o Instituto das Irmãs Mínimas da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, adotando como modelo de vida religiosa a própria Paixão de Jesus e o primado da caridade testemunhada por São Francisco de Paula, escolhido como padroeiro da congregação. A sua obra conta atualmente com mais de 100 religiosas e está presente na Itália, com numerosas casas na Suíça, Canadá, Colômbia e Brasil.


Desde a sua morte em Roma em 1961, inúmeros milagres e conversões têm sido atribuídos à Irmã Elena Aiello. Os seus restos mortais repousam na capela da Casa Mãe do seu instituto em Cosenza. Sua festa é comemorada no dia 19 de junho. As revelações e aparições à Beata Elena Aiello foram aprovadas pela Igreja e encontram-se relatadas no livro 'Suor Elena Aiello - La monaca santa', de Mons. Francisco Spadafora, que foi o seu diretor espiritual, que as definiu como sendo uma atualização do segredo de Fátima. Eis algumas destas revelações:


'Os homens ofendem demasiado a Deus. O mundo está totalmente devastado, porque se tornou pior do que nos tempos de dilúvio universal... todas as nações serão punidas porque são muitos os pecados que, como uma maré de lodo, a tudo cobrem. Muito sangue será derramado e a Igreja sofrerá muito. A Itália será humilhada, purificada no sangue e deverá sofrer muito porque são muitos os pecados desta nação. Não podeis imaginar o que sucederá! As ruas estarão encharcadas de sangue. O Papa sofrerá muito. Mas não tardará o castigo dos ímpios. Aquele dia será terrível'.

'Minha filha, o castigo está próximo. Fala-se muito de paz, mas o mundo inteiro caminha para a guerra, e as ruas ficarão cobertas de sangue! Não se vê um raio de luz no mundo, porque os homens vivem nas trevas do pecado, e o enorme peso desses pecados clama pela Justiça de Deus. Todas as nações serão castigadas, porque o pecado espalhou-se por todo o mundo! Os castigos serão tremendos, porque o homem tornou-se numa afronta insuportável contra o seu Deus e Pai, e já exasperou a Sua Infinita Bondade!... O Meu Coração de Mãe e Mediadora dos homens, próxima da Misericórdia de Deus, convida, com muitas manifestações e muitos sinais, os homens à penitência e ao perdão. Mas eles respondem com uma tormenta de ódio, blasfêmias e profanações sacrílegas, cegos pela ira infernal. Peço oração e penitência, para que possa obter de novo a misericórdia e a salvação para muitas almas; pois de outro modo irão se perder'.

'O pecado manchará até mesmo as almas das crianças... falsos profetas circundam a Cristo na terra e o demônio desencadeou a mais terrível batalha contra Deus e a Igreja... o pecado de impureza, convertido em arte sedutora e diabólica, atingiu o cume: a maioria dos homens vive na lama... Não há esperança para uma era de paz: o mundo inteiro estará em guerra'... Olhai: os anjos, tendo em suas mãos recipientes cheios de fogo, estão prestes a despejá-los sobre o mundo. Este terrível flagelo virá nas primeiras horas da manhã. O céu se tingirá de vermelho, a tempestade será de fogo, várias nações deverão desaparecer'.

(vídeo contendo algumas revelações à Beata Elena Aiello)

quarta-feira, 9 de junho de 2021

O MILAGRE DE JERUSALÉM


No dia 7 de maio de 351, um evento extraordinário ocorreu na cidade de Jerusalém: uma cruz luminosa apareceu no céu, sobre o Monte Calvário, à vista de todos. O então bispo de Jerusalém, São Cirilo, assim descreveu o portentoso milagre em carta enviada ao Imperador Constâncio [Constâncio II, governador do Império Romano do Oriente, entre 337 e 361]:

'No dia de Pentecostes (7 de maio), por volta das nove horas da manhã, apareceu no céu uma cruz luminosa que se estendia do Monte Calvário ao Monte Olivete (cerca de quatro quilômetros). Não foi visto apenas por uma ou duas pessoas, mas por toda a cidade. Não era, como se poderia acreditar, um daqueles fenômenos fugazes que se dissipam instantaneamente, mas brilhava por muitas horas diante dos espectadores e com tal brilho que os raios do sol não podiam diminuí-lo; isto é, brilhava mais que o sol, pois sua luz não o dissipava.

Todos os habitantes de Jerusalém, permeados por um santo temor e alegria espiritual, correram em massa para a igreja. Jovens e velhos, homens e mulheres, e até as virgens longe do mundo, cidadãos e estrangeiros, cristãos e infiéis, porque aqui há pessoas de todas as nações e crenças, a uma só voz publicaram os louvores a Nosso Senhor Jesus Cristo, o único Filho de Deus, verdadeiro autor de milagres; e reconheceram que a fé dos cristãos não se baseia em discursos persuasivos da sabedoria humana, mas em evidências claras da intervenção divina; e confessaram que não são apenas os homens que propagam essa fé, mas também o testemunho de Deus que a confirma com tais milagres.

Nós, que vivemos em Jerusalém e vimos o milagre com os nossos próprios olhos, dirigimos a Deus, Soberano Senhor do universo, as nossas homenagens de adoração e agradecimento, e continuaremos a prestar homenagem ao seu Filho Unigênito, ao mesmo tempo a partir destes lugares santos nós dirigimos nossos votos a você e os dirigiremos sempre, para a prosperidade de seu reinado feliz. Acreditamos que não nos era lícito guardar silêncio sobre um milagre tão óbvio; por isso, desde o dia em que se manifestou, resolvemos comunicar a maravilhosa notícia a um príncipe de tão excelente piedade para que, alicerçado na sólida fundação da sua fé, a notícia deste divino prodígio confirme e lhe dê maior confiança em Nosso Senhor Jesus Cristo'.

(Excertos da obra 'Apología del Gran Monarca', do Pe. José Domingo Corbató, 1904)

quinta-feira, 15 de abril de 2021

O ÊXTASE DE SANTA TERESA DE ÁVILA

Deus é Amor Infinito que busca almas para incendiá-las com o seu Amor Divino... 'que pretensão a nossa a de querer impor limites Àquele que dá ilimitadamente os seus dons quando quer' (Livro da Vida, v.5, p.39). 

Gianlorenzo Bernini - O Êxtase de Santa Teresa de Ávila (1647-52)
Mármore, Cappella Cornaro, Santa Maria della Vittoria, Roma 

'Nosso Senhor ficou satisfeito por eu ter, por vezes, uma visão desse tipo: vi um anjo perto de mim, do meu lado esquerdo, em forma corpórea. Isso eu não estou acostumada a ver, a menos que muito raramente. Embora eu tenha visões de anjos com frequência, ainda os vejo apenas por uma visão intelectual, como eu já falei antes.

Foi vontade de nosso Senhor que nessa visão eu visse o anjo desta maneira. Ele não era grande, mas de pequena estatura e muito bonito – seu rosto queimava, como se ele fosse um dos anjos mais elevados, que parecem ser todos de fogo: devem ser aqueles a quem chamamos de querubins. Seus nomes eles nunca me dizem, mas vejo muito bem que existe no céu uma diferença tão grande entre um anjo e outro, e entre estes e os outros, que não consigo explicar.

Vi em sua mão uma longa lança de ouro e, na ponta do ferro, parecia haver um pequeno fogo. Ele me pareceu estar empurrando-o às vezes em meu coração e perfurando minhas próprias entranhas; quando ele puxou para fora, ele parecia atraí-los também, e me deixar toda em chamas com um grande amor de Deus. A dor era tão grande que me fez gemer; e, no entanto, tão extraordinária era a doçura dessa dor excessiva, que eu não podia querer me livrar dela.

A alma está satisfeita agora com nada menos que Deus. A dor não é corporal, mas espiritual; embora o corpo tenha sua parte nele. É uma carícia de amor tão doce que agora acontece entre a alma e Deus, que eu oro a Deus por Sua bondade para fazê-lo experimentar aquilo que pode pensar que estou mentindo. Durante os dias em que isso durou, era como se Ele estivesse ao meu lado. Eu não queria ver ou falar com ninguém, apenas acalentar minha dor, que era para mim uma felicidade maior do que todas as coisas criadas'.

(Excertos da obra 'Livro da Vida', v.5, Santa Teresa de Ávila)

sábado, 20 de março de 2021

OS SINAIS EXTERNOS DAS APARIÇÕES DE FÁTIMA


No contexto das aparições de Nossa Senhora em Fátima, são pouco conhecidos um grande número de fenômenos físicos que foram compartilhados por numerosas testemunhas destes eventos. Assim, não apenas os videntes, mas muitas outras pessoas, presentes ou mesmo algo distantes dos locais das aparições, puderam perceber ou sentir os sinais extraordinários da manifestação singular da presença sobrenatural da Mãe de Deus em Fátima. E estas testemunhas foram muitas: cerca de 50 na segunda aparição, entre 3000 e 4000 na terceira, umas 20.000 na quarta, 25000 a 30.000 na quinta e cerca de 70.000 na última aparição, quando ocorreu o sinal visível mais portentoso e extraordinário de todos, conhecido como o milagre do sol.

Estes sinais exteriores foram muitos, dentre eles os seguintes:

(i) relâmpagos e trovões, mesmo com céu limpo: os relâmpagos antecediam as aparições; os trovões ocorriam no momento preciso da aparição ou no seu termo, e pareciam provir da azinheira;

(ii) curvatura dos galhos da azinheira, como afetado por um peso e um manto  que a cobria, de forma a empurrar e inclinar todas as folhas numa mesma direção (segunda aparição);

(iii) exalação de um perfume novo e desconhecido, com origem no arbusto da azinheira, sentido pela senhora Maria Rosa e demais presentes próximos, durante a quarta aparição;

(iv) aparição de um globo luminoso e iridiscente no céu, deslocando-se ordenadamente no sentido de leste para oeste e depois projetando-se em descida suave, até tocar a azinheira (quinta aparição);

(v) presença de uma nuvem branca, às vezes matizada, de aspecto singular, envolvendo a azinheira e os videntes como uma névoa e fluindo em sentido ascendente até cerca de cinco ou seis metros de altura até desvanecer, repetindo-se o processo por três vezes bem distintas (quinta aparição);

(vi) chuva evanescente de pétalas de rosas brancas, aparecendo e desaparecendo em sequência contínua, deslizando suavemente no ar e que tendiam a ficar cada vez menores à medida que se aproximavam do chão, quando se desvaneciam por completo (quinta aparição); 

(vii) diminuição visível e significativa da luz solar (em pleno meio dia, com céu limpo e sem eclipses), tornando também visíveis a lua e as estrelas (segunda até a quinta aparições);

(vii) milagre do sol, que, segundo os testemunhos, constou de três fases bem distintas: primeiro, o sol tornou-se opaco e em tons rosados, passível de visualização direta e continuada sem quaisquer dificuldades; em seguida, passou a cintilar com irradiações de cores diversas, com movimentos de rotação intensa e emitindo feixes irisados e irradiados pelo céu, como explosões de fogos-de-artifício; por último, apresentou um movimento vertiginoso do disco solar, em grau crescente e simulando precipitar-se contra a terra, apresentando, a seguir, movimentos de translação lineares ou irregulares por todo o espaço celeste.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

O MILAGRE DA EVACUAÇÃO DE DUNQUERQUE

A Evacuação de Dunquerque constitui um dos grandes eventos épicos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial. A França foi ocupada numa operação blitzkrieg [guerra-relâmpago] das divisões alemãs no início de maio de 1940, através da fronteira com a Bélgica. Na invasão, os alemães imprimiram derrotas avassaladoras sobre as tropas aliadas em batalhas sucessivas, que permitiram um avanço muito rápido do exército alemão pelo norte da França e que culminou na conquista de todos os portos ao longo do Canal da Mancha. Acuados e empurrados pelo exército alemão, as tropas aliadas se entrincheiraram no porto de Dunquerque, ao longo de uma estreita faixa de mar separando o continente e a Inglaterra, como único e último refúgio disponível contra a morte ou captura pelo inimigo.


Em pouco tempo, um contingente gigantesco de tropas aliadas (formado basicamente por soldados britânicos e franceses) ficou encurralado na praia de Dunquerque e a operação de resgate e evacuação desse exército ficou conhecida como 'Operação Dínamo', que mobilizou inicialmente grandes navios e contratorpedeiros que, em função do grande porte, não tinham como acessar a praia para efetuar o resgate dos soldados e tiveram, então, que permanecer em compasso de espera em alto mar. Centenas de embarcações menores (essencialmente barcos civis) foram mobilizadas em tempo recorde para a transferência dos soldados da praia até os navios ancorados em alto mar. No período entre 26 de maio e 04 de junho de 1940, cerca de 340.000 soldados (de um total estimado de 400.000 homens) atravessaram o canal e chegaram em segurança à Inglaterra.


A questão clássica colocada pelos registros históricos do evento, muitas vezes abordada pelo contexto de um 'milagre', é como tal travessia de magnitude tão extremada foi possível. Os soldados amontoados na praia, as pequenas embarcações e os grandes navios ancorados em alto mar constituíam alvos frágeis e completamente desprotegidos contra os ataques da Luftwaffe, a força aérea de Hitler. Por que essa operação de fuga não redundou então num massacre completo?


A resposta dos registros históricos é absolutamente simplista: 'porque Hitler evitou isso mandando abortar a ofensiva aérea e o avanço dos panzers [tanques de guerra alemães], mesmo contra a opinião de muitos dos seus oficiais'. Dez de dez descrições atuais sobre o tema limitam-se a explicar o imponderável com essa justificativa insossa. A obra 'Dunkirk - A História Real por trás do Filme' (2017), de autoria de Joshua Levine, que aborda o evento à luz das filmagens de 'Dunkirk' (2017), filme dirigido por Cristopher Nolan, desmistifica esse cenário e joga por terra a teoria insossa de uma 'ponte dourada' para garantir a evacuação em massa dos soldados aliados:

'Ao longo dos anos, tem-se argumentado que a principal motivação de Hitler para deter os panzers era fornecer à BEF [Força Expedicionária Britânica] uma 'ponte dourada' para retornar em segurança para a Inglaterra. Que, em outras palavras, ele estava interessado em deixar a BEF escapar. Ninguém discutiu isso com mais insistência do que o próprio Hitler, depois que a maioria dos britânicos já tinha escapado. O chefe de gabinete de Rundstedt também fez essa afirmação depois da guerra. Ambos tiveram suas razões; Hitler para justificar seu erro de julgamento, o assessor de Rundstedt para isentar a si e a seu chefe. Não havia ponte dourada. A teoria é falsa e é um insulto aos soldados que escaparam e àqueles que os trouxeram para casa... dos cerca de novecentos navios e embarcações envolvidos na evacuação final, mais de um terço foram afundados ou danificados por bombas, minas, torpedos ou projéteis. Além disso, cerca de 3.500 soldados britânicos, marinheiros e civis foram mortos no mar ou nas praias entre 26 de maio e 4 de junho. Muitos mais foram mortos no perímetro de Dunkirk [transcrição do nome do porto para o inglês] pelas tropas de Hitler, que atacaram ferozmente. Afinal, que maneira melhor para forçar a mesa de negociações do que destruir um exército? Nenhum desses fatores sugere a existência de uma ponte dourada... Um relato sobre um navio-hospital sendo metralhado enquanto ajudava um aviador abatido é suficiente para dissipar qualquer suspeita de que Hitler estava permitindo que os britânicos escapassem. Histórias como essa deixam pouca evidência de pontes douradas sendo construídas em maio e junho de 1940'.

Se a explicação para um evento tão singular e extraordinário não é essa abordagem simplista e insossa, quais fatos realmente induziram a epopeia da evacuação de Dunquerque? A mesma obra dá pistas interessantes sobre fatos pouco conhecidos da Operação Dínamo, e sistematicamente não contemplados pelos registros históricos oficiais, pelas transcrições seguintes: 

'Estive no canal da Mancha, e é um braço de mar difícil. Para mim, o primeiro milagre de Dunkirk foi o clima. O que tornou tudo possível foi essa ridícula aparência de mar calmo, como o Canal nunca é. Não foi tão absurdo Hitler acreditar que a evacuação não teria como ser bem-sucedida: quem poderia esperar que alguém fosse conseguir atravessar o canal em um barco a remo?' [Joshua Levine, autor do livro].

Durante a filmagem, uma tempestade danificou o molhe reconstruído [especialmente para o filme] e arrancou a passarela de madeira no topo. 'O mar é poderoso'', contou Nathan [Nathan Crowley, produtor de design do filme], 'foi o que descobrimos. Foi uma grande preocupação'. Nosso engenheiro da Warner Brothers disse: 'É uma estrutura incrível, mais forte do que a maioria dos cais permanentes em que já estive'. Mas, como era uma estrutura aberta, as ondas bateram embaixo e arrebentaram as tábuas'...Chris [Cristopher Nolan, diretor do filme] e sua equipe não tiveram o bom tempo milagroso da evacuação, mas, se não ficaram satisfeitos historicamente, conseguiram satisfação artística: 'Tempo ruim fica muito melhor no filme', explicou Nathan, 'ter o sol no cinema não é bom, embora fosse mais historicamente verdadeiro'. 

A Luftwaffe, que foi impedida pelas condições climáticas naquele 28 de maio, também saiu prejudicada na manhã seguinte, cheia de nuvens baixas. Goering [Hermann Göring, comandante da Luftwaffe] ficou furioso mas, apesar de todo o seu poder, não conseguia fazer retroceder as nuvens. Entretanto, uma melhora no clima, ao meio-dia, permitiu que os alemães lançassem ataques maciços consecutivos, dois dos quais não encontraram resistência. Foi o dia em que o Crested Eagle afundou, bem como muitos outros navios, e o molhe foi erroneamente abandonado durante várias horas...


Por outro lado, 'na maior parte do tempo, nuvens baixas e chuvas tempestuosas ocasionais davam aos Aliados cobertura contra ataques aéreos alemães. Dos nove dias de evacuação, a Luftwaffe teve apenas dois dias e meio de condições claras de voo. O clima também desempenhou um papel importante nas operações marítimas, com ventos fracos que proporcionaram mar calmo ao longo do Canal, crucial para os pequenos barcos em particular'*. 

* (Weather eye: Low cloud and light winds aided Dunkirk evacuation, The Times, 26/05/2020)

O fato singular e extraordinário da evacuação de Dunquerque foi o clima - o bom tempo milagroso - que permitiu o mar calmo, o tráfego controlado e ordenado de centenas de pequenas, médias e grandes embarcações apinhadas de homens e na direção segura de uma mesma rota, enquanto, ao mesmo tempo, uma barreira de nuvens espessas e baixas impediu a ofensiva alemã em grande parte do tempo em que ocorreu o resgate por mar de milhares de homens. O Milagre de Dunquerque não foi obra da vontade de um genocida mas a intervenção direta da Providência Divina para fazer nascer ali o farol que iluminaria a Inglaterra e a resistência aliada para, mais tarde, derrotar definitivamente Hitler e o odioso regime nazista.

domingo, 31 de maio de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo. Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos... fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito' (1 Cor 12, 3b-7. 13)

quarta-feira, 15 de maio de 2019

OS GRANDES MÍSTICOS DA IGREJA (III)

ANGELA DE FOLIGNO

Poucas almas experimentaram, de forma tão extremada, os ditames da conversão como Angela de Foligno (nascida em Foligno, pronuncia-se 'folinho', pequena cidade situada próxima a Assis, na região da Úmbria na Itália, em 1248). Mulher de beleza incomum, contraiu núpcias ainda muito nova e foi mãe de prole numerosa (7 filhos); entre limites pouco sensíveis ao ambiente familiar, trajes pouco modestos e apelos de uma vida ávida de festas e divertimentos, dedicou-se por inteiro a uma vida mundana, frívola e, muitas vezes, profundamente pecaminosa. 


Mas Deus tinha outros planos para ela. Aos 37 anos de idade, aquela vida imersa em caos e desordem começou a trilhar os duros caminhos da penitência e da conversão. E Angela sentiu medo; um medo terrível de perder a sua alma, quando experimentou vivamente, em sua consciência, o conhecimento dos seus pecados e de sua vida pecaminosa. Chorou profusamente de arrependimento, mas não se entregou a uma conversão imediata por uma santa confissão, por vergonha de revelar a um sacerdote os seus pecados. Sua fonte de inspiração, que seria modelo então de toda a sua vida, foi São Francisco de Assis, que lhe apareceu em sonho e lhe aconselhou a buscar um bom confessor de imediato. Este mediador da graça de Deus foi o Pe. Arnold, sacerdote franciscano, primo e capelão do bispo local que, por meio dessa primeira e tantas outras confissões e diálogos, tornar-se-ia mais tarde o diretor espiritual e o divulgador das experiências sobrenaturais da mística de Foligno. 

Nesta jornada mística, a fase inicial foi caracterizada por um preço amargo e doloroso - uma estação de purificação através do sofrimento: quem havia perdido Cristo e encontrado o mundo, agora, para viver em Cristo, perdia o mundo inteiro. Com efeito, numa sucessão de tragédias sem fim, Angela perdeu a mãe, o marido e todos os seus sete filhos (provavelmente devido a um surto continuado de alguma grave epidemia). O passo seguinte foi distribuir todos os seus bens aos necessitados e, então, tornar-se uma religiosa franciscana reclusa (provavelmente em 1291). Privada de toda e qualquer referência de natureza humana, ela vai experimentar agora uma jornada mística que a levará a cumes inimagináveis.

Nesta jornada, a transição da conversão para a experiência mística inexprimível ocorreu pela Paixão de Cristo, na busca cada vez maior de uma perfeita 'semelhança' com o Crucificado. Neste propósito, Angela entregou-se de corpo e alma, nunca se poupando da penitência e do sofrimento, no sentido de morrer completamente para as coisas do mundo e se transformar no Homem-Deus Crucificado. Todo o seu progresso espiritual está descrito na obra Memoriale (escrito em latim pelo Pe. Arnold a partir da exposição oral da própria mística em dialeto da região da Úmbria) e nos 36 textos que constituem o conjunto ordenado de suas chamadas instruções aos religiosos e religiosas franciscanas (compilados no Livro de Visões e Instruções de Ângela  de Foligno).


A diretriz desse caminho é marcada e delineada pela oração constante, como ela própria afirma: 'Quanto mais rezais, tanto mais sereis iluminado; quanto mais fordes iluminados, tanto mais profundamente e intensamente vereis o Sumo Bem, o Ser sumamente bom; quanto mais profundamente e intensamente o verdes, tanto mais o amareis; quanto mais o amardes, tanto mais vos deliciareis; e quanto mais vos deliciardes, tanto mais o compreendereis e tornareis capazes de compreendê-lo. Sucessivamente, chegareis à plenitude da luz, porque compreendereis não poder compreender'.

Embora já presente nos seus fundamentos na obra Memoriale, a teologia mística e algo complexa de Angela de Foligno, que a fez conhecida como 'Mestra dos Teólogos', é mais estruturada e detalhada nas Instruções, mediante um processo de tripla transformação da alma: a primeira acontece quando o homem busca viver o caminho da vida e da paixão de Cristo (união pela semelhança com Cristo); a segunda ocorre quando a alma é transformada em Deus (a união com Deus pode ser expressa por pensamentos e palavras) e a terceira é formada por uma imersão completa da alma em Deus e de Deus na alma (união tão perfeita que não é passível de expressão por pensamentos ou palavras).

Estas transformações da alma não constituem estados permanentes e a alma, depois de experimentá-las, deve retornar à sua condição natural, para seu grande desgosto e sofrimento. Neste processo de transformação, Angela vivenciou a incorporação dos estigmas e experimentou uma grande gama de êxtases e aniquilamentos interiores. Os êxtases e visões da Paixão de Cristo foram de tal magnitude que ela padecia terrivelmente do flagelo combinado destes eventos, sentindo os efeitos do sofrimento extremo em todos os ossos e juntas do corpo. Após ter recebido, certa vez, a comunhão dada por um anjo, passou vários anos de sua vida recebendo apenas a Santa Comunhão como único alimento.


No Natal de 1308, revelou às suas companheiras que a sua morte ocorreria em breve, o que aconteceu durante o sono na madrugada de 04 de janeiro de 1309. Seus restos mortais, após processo de conservação, repousam atualmente na Igreja de São Francisco em Foligno. Foi beatificada em 1701 pelo Papa Clemente XI e, recentemente, em outubro de 2013, foi canonizada pelo Papa Francisco por meio do processo de 'canonização equivalente', relativamente raro na Igreja, em que, por meio de uma decisão papal, pode-se declarar o culto litúrgico a uma bem aventurada pela Igreja universal, em detrimento da elaboração e do desenvolvimento de um longo processo de canonização formal.


(relicário de Angela de Foligno, Igreja de São Francisco)

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

VIDA DO PADRE PIO EM FATOS E FOTOS (V)

ESTIGMAS

Eu pedi a Jesus para me livrar dos sinais que me causavam tanto sofrimento. E Ele me respondeu: 'Você vai suportá-los por cinquenta anos'






 


segunda-feira, 10 de setembro de 2018

VIDA DO PADRE PIO EM FATOS E FOTOS (IV)


A IMPOSIÇÃO DOS ESTIGMAS

'Em 20 de setembro de 1918, depois da celebração da Missa, ao entreter-me para fazer a ação de graças no Coro, em um momento fui assaltado por um grande tremor, depois me acalmei e vi Nosso Senhor com a postura de quem está na cruz.

Não teria me impressionado se não estivesse na Cruz, lamentando a falta de correspondência dos homens, especialmente dos consagrados a Ele e, por isso, mais favorecidos.

Assim manifestava que sofria e que desejava associar as almas à sua Paixão. Convidava-me a compenetrar-me com suas dores e a meditá-las: ao mesmo tempo, a ocupar-me da saúde dos irmãos. 

Imediatamente me senti cheio de compaixão pelas dores do Senhor e lhe perguntava o que podia fazer. Ouvi então esta voz: 'Eu te associo à minha Paixão'. E logo depois, desaparecida a visão, voltei a mim, recobrei a razão e vi estes sinais aqui [os estigmas], dos quais pingava sangue. Antes não tinha nada'.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

NO LIMIAR DO SOBRENATURAL (XI)

Valle de Spulga, região de Valchiavenna, perto da fronteira com a Suiça. Chuvas torrenciais assolam a região em maio/junho deste ano. No dia 29 de maio, cerca de 7.500 metros cúbicos de rocha se deslocam montanha abaixo em direção ao povoado de San Giacomo Filippo, situado junto ao penhasco (ver vídeo abaixo). A avalanche produz uma nuvem enorme de poeira que engole o povoado, mas pára a poucos metros do santuário, sem causar maiores danos ou vítimas fatais. O santuário, com 420 anos de história, foi construído no local onde duas jovens afirmaram ter visto a Virgem Maria em 1492.

A igreja atual é a terceira a ser construída. Após a aparição da Virgem, ocorrida em 10 de outubro de 1492, uma capela de madeira foi construída no local e substituída, cerca de 20 anos depois, por outra em alvenaria. O atual Santuário de Galivaggio foi construído entre 1598 e 1603 e foi consagrado em 1915. A torre do sino, adjacente ao Santuário da Madonna de Gallivaggio, possui 52m de altura e data de 1731. Maria Santíssima é venerada ali como a Mãe da Misericórdia e, durante o Jubileu de 2000, ela foi declarada Patrona da região da Valchiavenna.




sábado, 14 de abril de 2018

NOSSA SENHORA DE ZEITOUN


Há cinquenta anos, na noite de 2 de abril de 1968, um grupo de muçulmanos que trabalhava do outro lado da rua da Igreja Copta da Virgem Maria em Zeitoun, no Egito, viu a silhueta de uma mulher na cúpula da igreja. Mais e mais pessoas se acercaram do local e logo uma multidão tornou-se testemunha da estranha aparição, que desvaneceu-se após alguns minutos. 


Uma semana depois, em 9 de abril de 1968, o fenômeno voltou a ocorrer, durando novamente apenas alguns minutos. Em seguida, as aparições tornaram-se frequentes, às vezes duas ou três vezes por semana e durante vários anos, até 1971. Essas aparições foram testemunhadas por milhares de pessoas, em diferentes ocasiões, incluindo o próprio presidente Gamal Abdel Nasser, fotografadas centenas de vezes e filmadas pela televisão egípcia. A aparição nunca pronunciou quaisquer palavras, mas comunicava-se com as pessoas presentes com acenos da cabeça ou das mãos. A imagem movia-se sobre as cúpulas misteriosamente iluminadas da igreja, às vezes acompanhadas por corpos luminosos de diferentes formas.


Segundo a tradição, Zeitoun estava na rota direta da fuga da Sagrada Família para o Egito, durante a perseguição do rei Herodes. Por outro lado, os muçulmanos consideram Nossa Senhora muito importante, a verdadeira Sayyida ou Senhora, embora considerem que Jesus seja apenas um profeta do Islã. As autoridades egípcias, após anos de investigação, declararam as aparições como sendo manifestações autênticas da Virgem Maria ao povo muçulmano e aos cristãos de maneira geral.

sábado, 17 de março de 2018

NO LIMIAR DO SOBRENATURAL (X)

A região central da Itália é uma área especialmente crítica a sismos violentos pela colisão local das placas tectônicas africana e euroasiática e pela presença de inúmeras falhas geológicas superficiais, que tendem a induzir terremotos devastadores porque estes tendem a ocorrer muito próximos à superfície da crosta. Em 1908, estima-se que ao menos 70 mil pessoas morreram quando um tremor de magnitude 7,2 atingiu a cidade siciliana de Messina; em 1915, outro sismo violento em Avezzano deixou uma cidade arrasada e pelo menos 30 mil mortos. Os eventos sísmicos mais recentes na região ocorreram em 2016 (terremotos em agosto e outubro) e 2017 e deixaram um legado de destruição e de morte. 

No terremoto de magnitude 6.6 de outubro de 2016, a igreja de Santa Maria Assunta, na cidade de Arquata, desapareceu sob um cenário de escombros, poeira e entulho. Um ano e meio depois, em meio aos trabalhos de remoção dos escombros, o tabernáculo do altar, peça do século XVI, foi resgatado em boas condições (foto abaixo) e devolvido à diocese local. 


Aberto o tabernáculo, encontraram a píxide tombada no seu interior, mas perfeitamente fechada. E, fato extraordinário, 40 hóstias encontravam-se perfeitamente conservadas na píxide, sem nenhum sinal de mofo ou umidade, sem qualquer odor ou outro sinal de deterioração de qualquer natureza. As 40 hóstias, materialmente uma mistura simples de farinha e água, pareciam ter sido colocadas ali no dia anterior, tendo permanecidas isentas dos efeitos do tempo, dos destroços e do sismo e estavam, inexplicavelmente, absolutamente íntegras para uma próxima e imediata santa eucaristia. 

terça-feira, 6 de março de 2018

OS GRANDES MÍSTICOS DA IGREJA (II)

HILDEGARDE VON BINGEN

Hildegarde Von Bingen, mística medieval famosa pelas suas profecias, nasceu em 1098 em Bermersheim, na Renânia (atual Alemanha) e morreu em 1179, aos 81 anos de idade, apesar de uma permanente fragilidade da saúde. A etimologia do seu nome significa 'aquela que é audaz na batalha', uma primeira profecia que se realizaria plenamente. Foi religiosa beneditina, fundadora de mosteiros femininos, pintora, compositora musical, teóloga, poetisa, dramaturga, naturalista e filósofa e esta impressionante versatilidade de atuação levou-a a ser nomeada Doutora da Igreja.


Hildegard pertencia a uma família nobre e numerosa e, desde muito cedo, recebeu uma devotada formação cristã, particularmente sob os cuidados da religiosa Jutta von Spanheim, que vivia em clausura no mosteiro beneditino de São Disibodo, de acordo com a Regra de São Bento. Nesta época, já experimentava visões místicas extraordinárias, que relatava ao seu conselheiro espiritual, o monge Volmar, e também a uma irmã da comunidade à qual nutria uma grande estima, chamada Richardis von Strade.

(ruínas do mosteiro de São Disibodo)

Em 1136, com a morte da Madre Jutta, tornou-se a sua sucessora como Superiora da comunidade. Com o crescente número de novas aspirantes, Hildegard fundou uma outra comunidade em Bingen, dedicada a São Ruperto, onde permaneceu pelo resto de sua vida. O seu espírito profético inspirou-lhe uma grande fé, um grande amor por Cristo e pela sua Igreja, que ela queria pura e irrepreensível. E, neste contexto, escreveu inúmeras obras e desenvolveu uma ativa e constante correspondência com homens e mulheres de poder do seu tempo, incluindo reis, imperadores, papas e outros membros da Igreja, uma condição raríssima e excepcional para a condição feminina na Idade Média.

Mais tarde, buscou conselho de suas visões místicas a São Bernardo de Claraval e, mais tarde, ao papa Eugênio III, que lhes confiaram a autenticidade das visões e lhe deram orientações para que as revelassem por escrito, que foram então incluídas (escritas em latim) nas suas três principais obras: Scivias, abreviação de Scito Vias Domini - Conhecei os Caminhos do Senhor, Liber Vitae Meritorum ou Livro dos Méritos da Vida e Liber Divinorum Operum ou Livro das Obras Divinas. Estas revelações receberam grande divulgação e causaram enorme impacto nos seus contemporâneos, que lhe atribuíam os títulos de 'profetisa teutônica' e de 'Sibila do Reno'. Eis um exemplo de suas visões proféticas:

'No ano de 1170 depois do nascimento de Cristo, estive durante longo tempo doente na cama. Então, física e mentalmente acordada, vi uma mulher de uma beleza tal que a mente humana não é capaz de compreender. A sua figura erguia-se da terra até ao céu. O seu rosto brilhava com um esplendor sublime. O seu olhar estava voltado para o céu. Trajava um vestido luminoso e fulgurante de seda branca e uma manto guarnecido de pedras preciosas. Nos pés, calçava sapatos de ônix. Mas o seu rosto estava salpicado de pó, o seu vestido estava rasgado do lado direito. Também o manto perdera a sua beleza singular e os seus sapatos estavam sujos por cima. Com voz alta e pesarosa, a mulher gritou para o céu: 

‘Escuta, ó céu: o meu rosto está manchado! Aflige-te, ó terra: o meu vestido está rasgado! Treme, ó abismo: os meus sapatos estão sujos! Estava escondida no coração do Pai, até que o Filho do Homem, concebido e dado à luz na virgindade, derramou o seu sangue. Com este sangue por seu dote, tomou-me como sua esposa. Os estigmas do meu esposo mantêm-se em chaga fresca e aberta, enquanto se abrirem as feridas dos pecados dos homens. 

'Este fato de permanecerem abertas as feridas de Cristo é precisamente por culpa dos sacerdotes. Estes rasgam o meu vestido, porque são transgressores da Lei, do Evangelho e do seu dever sacerdotal. Tiram o esplendor ao meu manto, porque descuidam totalmente os preceitos que lhes são impostos. Sujam os meus sapatos, porque não caminham por estradas direitas, isto é, pelas estradas duras e severas da justiça, nem dão bom exemplo aos seus súditos. Em alguns deles, porém, encontro o esplendor da verdade'.

'E ouvi uma voz do céu que dizia: 'Esta imagem representa a Igreja. Por isso, ó ser humano que vês tudo isto e ouves as palavras de lamentação, anuncia-o aos sacerdotes que estão destinados à guia e à instrução do povo de Deus, tendo-lhes sido dito, como aos apóstolos: ‘Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura’ (Mc 16, 15).

Mas Hildergarde se aventurou em muitas outras atividades científicas, que não tiveram nenhum cunho profético. Ela escreveu, por exemplo, um texto sobre as ciências naturais chamado Physica, um extenso trabalho de nove volumes que trata principalmente do uso medicinal de plantas e também um tratado médico chamado Causae et Curae em cinco volumes, no qual descreve remédios naturais para diversas enfermidades ou para melhoria da saúde das pessoas. Nestes estudos, demonstra a sua visão do homem inserido no mundo e integrado com a natureza na busca de Deus,.


A monja alemã também é a padroeira dos estudiosos de esperanto, por ter sido a autora de uma das primeiras linguagens artificiais, a chamada 'língua ignota', um idioma secreto que ela utilizava para fins místicos e era composta por 23 letras. Foi ainda compositora de várias orações e hinos religiosos, incluindo 77 sinfonias em estilo similar ao gregoriano e com melodias muito elaboradas e que recebem crescente interesse de reprodução nos dias atuais.

(disponível em https://www.youtube.com/watch?time_continue=24&v=BS28jyW1bLY)

Logo após a sua morte, foram abertos os processos para elevá-la à honra dos altares e, apesar dos vários milagres que lhe foram atribuídos em vida e depois da sua morte, as tentativas de sua possível canonização foram sempre interrompidas, embora muitas dioceses alemãs tenham aprovado o seu culto desde o século XIII. Somente em 2012, Hildegarde Von Bingen foi finalmente canonizada pela Igreja, pelo papa Bento XVI, recebendo, neste mesmo ano, o título de Doutora da Igreja.