79. SANTA PAULA
Natural de Roma, nasceu em meados do século IV. Era da mais alta nobreza, pois em suas veias corria sangue dos Cipiões e dos mais antigos reis. Após as perseguições, que foram terríveis, os cristãos relaxaram-se um pouco. Paula, embora cristã e honesta, viva com excessivo luxo e tibieza. A Providência divina enviou-lhes amargos sofrimentos para desenganá-la do mundo. Perdeu o esposo, a quem amava-lhe entranhadamente, e ela mesma contraiu uma grave e prolongada enfermidade. Quando recobrou a sua saúde, despojou-se de suas galas e consagrou-se por completo à oração, às obras de caridade e à educação dos filhos.
Por motivo da celebração de um concílio, convocado pelo Papa São Dâmaso, veio a Roma São Jerônimo, grande amigo do pontífice e incomparável conhecedor da Sagrada Escritura. Paula tomou-o por diretor espiritual e, seguindo seus conselhos, estudou os Livros Sagrados, especialmente os Evangelhos, e concebeu o desejo de visitar e venerar a gruta de Belém.
Após a morte de São Dâmaso, seu amigo São Jerônimo abandonou Roma, para dedicar-se de novo aos seus estudos bíblicos. Queria ultimar a sua gigantesca tarefa de traduzir toda a Bíblia para o latim. Paula não tardou a segui-lo. Confiou a uma filha casada a educação da menorzinha, e junto com Eustóquia, outra de suas filhas, embarcou rumo à Terra Santa.
Com São Jerônimo e Eustóquia, percorreu a Palestina. Ao chegar a Belém, exclamou chorando: 'Eu te saúdo, ó Belém, cujo nome quer dizer Casa do Pão Celeste; eu te saúdo, antiga Efrata, cujo nome significa 'a Fértil', que tiveste por fruto e colheita o próprio Criador! É possível que eu, pecadora, beije o berço onde repousou o Menino Deus, ore na gruta, onde deu Jesus seus primeiros vagidos, onde a Virgem deu à luz o Salvador?'
Junto à gruta de Belém, ergueu um mosteiro para a comunidade de religiosas por ela fundada e dirigida; e nos arredores, outro para São Jerônimo e os seus monges. Construiu, além disso, um ótimo albergue para os peregrinos, e costumava dizer: 'Se Maria e José tivessem que retornar a Belém, para o recenseamento, já não lhes faltaria lugar numa estalagem'.
Passou o resto da sua vida meditando a Sagrada Escritura, orando e mortificando-se com severas penitências, animada pelo suave pensamento de que ali mesmo dera o Redentor admirável lição de todas as virtudes. Morreu aos 56 anos e foi sepultada numa gruta ao lado do Nascimento. Sobre a porta dessa gruta, mandou São Jerônimo gravar em versos estas palavras: 'Vês este humilde sepulcro nesta rocha cavado? Dentro está de Paula o corpo, e dos bens celestes gozando está a alma. Deixou pais e pátria e irmão e filhos e aqui repousa, junto à gruta de Belém, onde os reis Magos a Cristo adoraram como a Deus e homem'. Sua festa é celebrada em 28 de janeiro.
80. SANTA MARGARIDA DE CORTONA
Nasceu no povoado de Laviano, na Itália, em 1247. Seus pais eram lavradores e viviam pobremente. Aos sete anos teve Margarida a desgraça de perder a mãe. O pai casou-se de novo e a madrasta odiava a pobre orfãzinha. Um rico e poderoso senhor dos arredores seduziu-a e levou-a para o seu castelo, rodeado de bosques, com muito luxo e criadagem. Nove anos durou a triste vida de Margarida naquele castelo. A miúdo sentia remorsos e como que um desejo de fazer penitência, mas não sabia como livrar-se daquela mísera situação.
Certo dia, o lebrel favorito de seu senhor aproximou-se dela, ladrando choroso, e com os dentes puxava-lhe o vestido como se quisesse convidá-la a segui-lo. Penetraram pelo bosque adentro. Debaixo de um carvalho, junto a um monte de ramos, parou o cão e redobrou os seus latidos. Margarida afastou os ramos e encontrou, banhado em sangue, o cadáver do seu senhor. Haviam-no apunhalado. Surpreendera-o a justiça de Deus.
Aquele horrível espetáculo iluminou a alma de Margarida. Converteu-se. Resolveu começar vida nova e dirigir-se, em primeiro lugar, ao casebre de seu pai, para desagravá-lo e implorar-lhe perdão. Não o alcançou, porque sua madrasta se opôs. Deus, porém, foi mais generoso. A pecadora, compreendendo que precisava confessar-se para recuperar a graça divina, dirigiu-se ao convento franciscano da vizinha cidade de Cortona e, ali, aos pés do ministro de Cristo, reconciliou-se com Deus, a quem tanto ofendera.
Todas as penitências lhe pareciam leves. Cortou a sua longa e negra cabeleira. Disciplinava-se sem misericórdia. Jejuava a pão e água. Num domingo, entrou na igreja de sua vila natal, vestida de farrapos e levando, como os condenados, uma grossa corda ao pescoço, e pediu publicamente que lhe perdoassem os escândalos que dera. Temia não estar bem perdoada. Cria que sim, mas parecia-lhe impossível, tendo pecado tão gravemente. Até que um dia, em que estava chorando diante do Crucifixo, a imagem de Cristo abriu os lábios para dizer-lhe: 'Teus pecados foram perdoados'.
Margarida foi devotíssima da Paixão do Salvador. Numa sexta-feira Santa, quis Jesus Cristo que ela presenciasse tudo o que acontecera durante a Paixão. Passaram diante de seus olhos: o beijo de Judas, a negação de Pedro, a covardia de Pilatos, o ódio dos judeus, os insultos na rua da Amargura e ouviu as palavras de Cristo na Cruz; e às três da tarde, hora em que expirou nosso Salvador, inclinou também ela a cabeça e pereceu que expirava. As pessoas presentes não cessavam de soluçar.
O demônio a tentou de mil modos; mas, rezando, como costumava diante do Crucifixo, Jesus a consolou com as seguintes palavras: 'Minha filha, tem coragem e obedece ao teu confessor; desconfia de ti mesma, mas confia na minha graça'. Faleceu a 22 de fevereiro de 1297, contando cinquenta anos de idade. Durante os vinte últimos dias de sua vida, não provou nenhum alimento ou, melhor, o seu único alimento era a sagrada comunhão. Sua festa é celebrada em 22 de fevereiro.
81. VISÕES DE SANTA PERPÉTUA
Pouco se sabe da infância e juventude desta santa. Conservam-se, porém, as atas do seu martírio, escritas em parte por ela mesma e, em parte, por uma testemunha presencial. No ano de 202, o imperador Sétimo Severo publicou um edito, proibindo toda propaganda cristã que condenava à pena capital tanto os convertidos como os promotores ou cúmplices de sua conversão. O intento era extinguir o cristianismo.
Numa cidade vizinha de Cartago, foi detida a nobre matrona Perpétua e mais outros catecúmenos, entre os quais a escrava Felicidade. Colocaram-nos no cárcere, onde Perpétua teve várias visões. Numa delas manifestou-lhe Deus que o martírio a levaria ao céu, sem passar pelo purgatório. Viu uma altíssima escada de bronze, que terminava no céu. Era tão estreita que por ela só podia subir uma pessoa. Da escada pendiam diversos instrumentos de suplício. Um formidável dragão procurava impedir que se subisse por ela.
Perpétua, invocando o nome de Jesus Cristo, pisou sobre a cabeça do monstro e começou a subir, de suplício em suplício. Ao chegar em cima, surgiu ante os seus olhos um imenso jardim, no meio do qual estava um Pastor rodeado de uma grande multidão vestida de túnicas brancas. O Pastor, Jesus Cristo, fixou em Perpétua seus amáveis olhos e saudou-a com estas palavras: 'Sê benvinda, minha filha'. E toda a multidão exclamou: 'Assim seja'.
Em outra visão, Deus manifestou-lhe que podia satisfazer por seu irmãozinho Dinócrates, cuja alma se achava no purgatório. Viu Dinócrates saindo de um lugar tenebroso, onde havia muita gente. Estava pálido, como se a sede o abrasasse. Próximo dali encontrava-se um tanque cheio de água cristalina, cujas bordas eram demasiado altas para que o menino pudesse beber. E o pobrezinho sofria, pondo-se nas pontas dos pezinhos, sem poder alcançar a água. Perpétua ofereceu por Dinócrates suas orações e as penas que suportava no cárcere.
Um dia puseram-na várias horas no cepo, presos os pés com argolas de ferro. Ofereceu também esse sacrifício pela alma de seu irmãozinho, e teve outra visão. Dinócrates estava limpo, bem vestido, cheio de paz e alegria. As bordas da piscina eram mais baixas e o menino bebeu daquela água misteriosa num copo de ouro. 'Então' - diz a Santa - 'despertei e compreendi que meu irmãozinho deixara o lugar da pena'. Perpétua e Felicidade, as duas mártires, têm a sua festa litúrgica celebrada no dia 6 de março.
(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)