Recomendações feitas por Santo Inácio de Loyola em carta escrita a São Francisco de Borja, a propósito de práticas de mortificação muito austeras que este então estava a fazer:
Primeiro de tudo ...
... quanto ao tempo dedicado aos exercícios exteriores, eu cortá-los-ia pela metade… Pelo que sei de vossa Senhoria, penso que seria melhor dedicar a outra metade ao estudo, ao governo das vossas terras e a conversas espirituais, sempre procurando manter a vossa alma calma, em paz, e disposta para o que quer que Nosso Senhor desejar trazer para ela. É, sem dúvida nenhuma, uma virtude e graça maior ser capaz de deleitar-se do Vosso Senhor em várias ocupações e lugares do que em apenas um.
Segundo ...
... no que se refere ao jejum e abstinência, aconselhar-lhe-ia, por amor de Deus, a cuidar e a fortificar o vosso estômago e os outros órgãos naturais, em vez de os enfraquecer. Quando um homem está de tal forma disposto que escolheria morrer do que cometer sequer a menor ofensa contra a Divina Majestade e quando, mais ainda, não está perturbado por nenhum ataque especial do demônio, do mundo ou da carne, como eu julgo ser o caso de vossa Senhoria, então, e este é um ponto que eu gostaria particularmente de lhe passar, visto que tanto o corpo e a alma pertencem ao seu Criador e Senhor, que vai exigir contas deles, não podeis deixar os vossos poderes naturais enfraquecerem-se. Se o corpo estiver doente, a alma não consegue funcionar como devia. Devemos amar e defender o corpo ao ponto dele ser obediente e cooperador da alma, porque, com tal obediência e ajuda, a alma consegue dispor-se melhor para servir e louvar o nosso Criador e Senhor.
Terceiro ...
... em relação ao castigo do corpo, eu evitaria de uma só vez qualquer forma de castigo que causasse o aparecimento de uma única gota de sangue. Em vez de procurar derramar o nosso sangue, é muito melhor procurar diretamente o Senhor de todos nós e os seus santos dons, tais como as lágrimas pelos nossos pecados, uma intensificação da nossa fé, esperança e caridade, a alegria em Deus e a paz espiritual, tudo com humildade e reverência à nossa santa Mãe, a Igreja, e aos seus líderes escolhidos. Cada um destes santos dons deveria ser muito preferido a todas as ações corporais, que são boas só quando tendem a obter esses dons para nós. Não estou a dizer que eles deveriam ser procurados pelo contentamento que nos trazem. Mas, visto que sabemos que sem eles todos os nossos pensamentos, palavras e obras são confusos, frios e incômodos, desejamo-los para que essas coisas se tornem ardentes, lúcidas e retas para o maior serviço de Deus.