TESOURO DE EXEMPLOS I (PARTE II)

  

201. MORTO E CONDENADO

O conde Orloff e um general russo, ambos incrédulos, juraram por zombaria que o primeiro deles que morresse apareceria ao outro, para comunicar-lhes e há inferno. Poucos meses mais tarde, teve o general de seguir para a guerra, pois as tropas do imperador francês Napoleão haviam invadido a Rússia.

Eis que um dia, ao amanhecer, estando o conde Orloff em seu leito, mas bem acordado, abrem-se de par em par as cortinas do aposento e aparece o general, em pé, com o rosto muito pálido e as mãos sobre o peito. Espantou-se não pouco o conde; maior, porém, espanto, quando ouviu estas palavras:
➖ Existe o inferno e eu estou nele!" - e a visão desapareceu.
Poucos dias depois recebia o conde uma carta em que lhe era comunicada a morte do general. Precisamente o dia e hora, em que aparecera a o conde, recebera uma bala no peito e falecera.

O inferno existe. É uma verdade de fé. Foi Deus que o revelou. De Deus não se zomba impunemente.

202. VENCIDO PELA PACIÊNCIA DE DEUS

A vida do venerável Queriolet, contemporâneo de São Vicente de Paulo, é a mais bela prova da paciência de Deus com o pecador. Até aos trinta anos, esta alma impetuosa vivera numa contínua alternativa de confissões e pecados.

Depois, possuído de um ódio satânico contra Jesus Cristo, partiu para Constantinopla para se fazer maometano. Num bosque da Alemanha foi assaltado por assassinos que, depois de matarem seus dois companheiros, queriam acabar com ele também. Diante da morte iminente, Queriolet fez voto a Nossa Senhora de converter-se se ela o livrasse dos assassinos. 

Ela o livrou, mas ele não se converteu e, não tendo podido fazer-se maometano, fez-se huguenote ao regressar à França. Deus, porém, o seguia como o pastor procura a ovelha desgarrada. Numa tenebrosa noite de grande tempestade, acorda com a queda de um raio sobre a casa. Queriolet saltou do leito como uma fera, cerrou os punhos e blasfemou. 

Qualquer homem já teria cansado de suportá-lo; mas Deus não se cansa e o segue. Em Loudun, uma pobre mulher desconhecida o detém e lhe diz: 'Tu tens um voto a cumprir. Lembra-te de que, naquele bosque na Alemanha, te queriam assassinar?' Queriolet tremeu como naquele dia em que estivera nas mãos dos assassinos. Mas, como o sabia aquela mulher, se ele não comunicara isso a ninguém? Teria Deus suscitado aquela mulher para a sua conversão? Deus ainda tinha compaixão dele para o chamar daquela maneira? Este pensamento venceu-o finalmente, e depois de alguns anos, Queriolet ressuscitava à graça para nunca mais cair, tornando- se a admiração do mundo inteiro por suas virtudes.

Não obstante os nossos grandes pecados, não desesperemos; voltemos a Deus. Ele nos espera.

203. A CONFIANÇA NA PROVIDÊNCIA

Uma vez, estando Santa Catarina muito atribulada, apareceu-lhe Jesus e disse-lhe: 'Catarina, pensa em mim e eu pensarei em ti e em tuas necessidades'. Quando as cruzes, as desgraças e as perseguições nos afligirem, pensemos em Deus, pondo nele a nossa confiança.

Sem a confiança na Providência, como São CamiloSão Jerônimo EmilianiSão João BoscoSão José Cottolengo e tantos outros teriam podido asilar e manter milhares de pessoas, milhares de infelizes? Lede a história deles. Alguma vez chegou a faltar o dinheiro, a roupa, o pão... e o único que não faltou foi a confiança na Providência. E esta encarregava-se de provê-los de tudo.

204. PENSAI NO VOSSO FIM!

Quando Otão III, imperador da Alemanha, impelido pela extraordinária fama de santidade e dos milagres de São Nilo, foi visitá-lo e ofereceu-lhe magníficos presentes, o santo, agradecendo humildemente, assegurou-lhe que em sua pobreza era tão rico, que não carecia de coisa alguma.
➖ Se não quereis aceitar os meus presentes - replicou o imperador - ao menos pedi-me alguma graça para que se não diga que um monarca veio pedir-vos conselhos com as mãos vazias.
➖ Isto sim - respondeu o santo com o rosto iluminado - isto sim. Uma graça, uma só graça desejo muitíssimo, que é: 'Pensai no vosso fim!'

O imperador prometeu não se esquecer daquela recomendação. Feliz foi pois, tendo apenas 22 anos, quando ainda esperava grandes triunfos políticos e quando a sua noiva vinha da Grécia para a ltália, trazendo em dote grandes tesouros e terras, ele morreu em Paternó.

205. O MUNDO É ENGANADOR

Regressando Cristóvão Colombo da América, espalhou-se por toda a Europa a notícia desta região maravilhosa, onde os frutos eram tão grandes que quebravam os galhos das árvores e as montanhas escondiam ouro e prata e as crianças brincavam com pérolas. 

Acudiram então muitos aventureiros desejosos de riquezas e fortunas. Por meio de táticas de dissimulação, aproximaram-se dos índios e, enganando-os, trocavam espelhos, campainhas e outras bagatelas por barras de ouro e prata. E se alguns, percebendo o engano, não queriam dar a verdadeira riqueza em troca de ninharias, obrigavam-nos com violência e até os matavam.

A indignação que sentis ao pensar nessa ignóbil astúcia e crueldade ajudar-vos-á a compreender o que é mundo. O mundo é um mercado diabólico. Satanás sabe que, pelos méritos de Jesus Cristo, possuímos riquezas inestimáveis; conhece, também, a nossa ingenuidade; e por isso percorre as praças do mundo com suas mercadorias infernais (principalmente as más leituras) e muitos são os que se deixam iludir e enganar.

206. CUIDADO COM O MUNDO!

Santo Anselmo, arrebatado em êxtase, viu um grande rio cheio de imundícies e as águas coalhadas de cadáveres de homens, mulheres e crianças. Interrogando o céu sobre o significado daquela visão, foi-lhe revelado que o rio é o mundo e os náufragos são aqueles que o amam.

Essa visão seria, hoje em dia, muito mais espantosa. Por isso é preciso levantar a voz e clamar como Jeremias: 'Fugi dessa Babilônia, se quereis salvar a vossa alma'. Sim; é preciso fugir do mundo, de seus enganos, de suas loucuras, de suas obras. Não podeis servir a dois senhores!

207. NÃO ACREDITAVA NA ALMA

Herbois, amigo íntimo do famoso Robespierre, ambos homens sanguinários, atacava com fúria a existência de Deus e a imortalidade da alma. Foi desterrado em 1795. No desterro, foi acometido de uma febre violenta que o consumia. Com grandes gritos pedia a Deus (ele que dizia não existir Deus) que o socorresse. 

Um soldado, a quem pervertera com suas conversas ímpias, perguntou-lhe:
➖ Olhe; como é que há alguns meses o senhor zombava de Deus e da alma?
➖ Amigo, quem mentia pela boca não era a cabeça, mas o coração. 
E horrorizava aos que o ouviam, gritando:
➖Meu Deus! Meu Deus! Não posso esperar o perdão de minhas maldades? Envia-me quem me console...

Era tão horrível a agonia, que correram a chamar um padre para que o confessasse; mas, quando chegou o padre, o infeliz já estava morto. E o corpo daquele que vivera como animal, foi devorado pelos animais, para os quais não existe outra vida.

208. UMA CONTRARIEDADE QUE SALVA A VIDA

São Francisco de Sales embarcou um dia para Veneza. Naquele navio estava também uma dama distinta com o seu séquito. Ao ver a dama que o santo bispo viajaria no mesmo navio, irritada, insultou-o e exigiu com ameaças que ele ficasse em terra. 

Os companheiros do santo também se irritaram; ele, porém, cheio de mansidão e doçura, desceu da nau, dizendo: 'Neste mar são muito frequentes as tempestades. Quem sabe se não está alguma muito próxima!' A embarcação pôs-se então a caminho. Poucas horas depois, chegava ao santo a notícia de que o navio fôra engolido pelas águas.

209. DANDO A VIDA POR SUAS OVELHAS

Era em 1849. Os canhões retumbavam espantosamente pelas ruas de Paris; uma revolução do povo contra o exército enchia a cidade de ruínas e de ódios, e regava as ruas com sangue humano. Um homem de aspecto venerando, com o rosto transfigurado de dor, apareceu entre os mortos e feridos e exclamou com acento de caridade e aflição: 'Meus filhos, basta! Paz! Paz!'

Ao surgir aquela figura e ao ouvir aquela voz, cessou o fogo; os feridos perguntavam: 'Quem é este homem?' Naquele instante ouve-se uma descarga. Aquele homem caiu ferido e o seu sangue escorreu do seu peito. As suas últimas palavras foram: 
➖ Meu Deus, que o meu sangue seja o último que se derrame aqui.

E assim foi. Cessou a luta. Aquele homem era o arcebispo de Paris, Mons. Affre; era o Pastor que dava a vida pelas suas ovelhas.

210. UM TRABALHO DESTRUÍDO, OUTRO RECOMPENSADO

A natureza é mestra do homem. Há dois insetos muito laboriosos: a aranha e a abelha. A aranha trabalha de manhã e de noite, estende sua teia sutil e anda sem descanso de um fio a outro. Alarga, une, cruza os fios e forma polígonos concêntricos. A abelha, ao contrário, vai de flor em flor, liba o néctar, transformando-o, ao chegar à colmeia, em dulcíssimo mel. Passa o dono da casa e, com a vassoura, destrói furioso o trabalho da aranha; diante do favo de mel, fabricado pela abelha, porém, pára e sorri contente.

Assim é no mundo: todos trabalhamos, uns segundo a palavra de Deus e outros, segundo a palavra do demônio. Mas quando Nosso Senhor passar, destruirá a obra destes e recompensará a daqueles.

211. A ALMA OCIOSA NÃO ENTRARÁ NO CÉU

Como é triste ver um cadáver, frio, inerte, estendido numa cama! Aqueles olhos outrora brilhantes, agora não se movem mais, estão apagados para sempre. Os lábios, antes abertos aos sorrisos e às mais doces expressões do coração, agora estão cerrados e imóveis para sempre. Mais alguns dias e aquele corpo será reduzido a um punhado de pó que o vento poderá espalhar.

Ora, o apóstolo São Tiago diz que, se a nossa fé não estiver acompanhada de boas obras, também ela estará morta (Tg 2, 26). É um corpo que tem todos os meios para agir, para trabalhar, para mover-se... mas não faz nada. Mas, então, que aproveitam os olhos, se não veem? Para que servem os lábios, se não falam? Para que as mãos, se não apalpam?

Façamos o bem enquanto temos tempo, pois como o corpo acaba numa cova, como a planta infrutuosa é cortada e lançada no fogo, do mesmo modo a alma ociosa cairá no inferno. No reino do céu entra somente quem faz a vontade do Pai celeste.

212. QUEM SE HUMILHA...

Quando Santo Hilário chegou, o Concílio já havia começado e os demais bispos estavam reunidos em assembleia. O santo entrou. Todos ocupavam solenemente seus altos assentos e ninguém se moveu, ninguém se levantou para oferecer-lhe o lugar. Então o santo bispo, que se tinha por indigno de estar ao lado dos outros, assentou-se no chão, dizendo humildemente a palavra do profeta: Domini est terra - a terra é de Deus. 

No momento em que o corpo de Santo Hilário, ao assentar-se, tocou a terra, esta ergueu-se de tal modo que colocou o santo à mesma altura dos outros bispos; e todos, vendo o exemplo e o milagre, lembraram se das palavras de Cristo Senhor Nosso: Qui se himiliat exaltabitur - aquele que se humilha será exaltado.

Não nos queixemos se outros nos estimam pouco ou só nos deixam o último posto, ou nos negam aquele pouco mérito que poderíamos ter. Deus saberá exaltar-nos no paraíso.

213. O DOM DA FORTALEZA

Prenderam a virgem Santa Apolônia e, diante de uma fogueira, declararam-lhe que, se não renegasse a Jesus Cristo, seria lançada ao fogo. Vendo a enorme fogueira, ela não só não se espantou, mas mais ainda, movida interiormente pelo Espírito Santo, desembaraçou-se dos soldados, e ela mesma se arrojou às chamas. Foi o efeito do dom da fortaleza.

214. COMO SE CONVERTEU LUÍS VEUILLOT

Este grande escritor católico tinha um filho de muito mau gênio. A mãe dizia a miúdo ao pai: 'Tem paciência: verás como mudará de gênio quando fizer a primeira comunhão'. E assim foi. Tornou-se tão bom, que chegou a conseguir a conversão do pai, até então incrédulo e inimigo de nossa religião.

215. O TRABALHO INÚTIL

Apresentou-se na corte de Henrique IV um homem pedindo ao rei permissão para executar um jogo de muita habilidade, que nunca se vira em nenhuma festa. O rei consentiu e todos foram assistir à façanha. O homem fincou no meio da arena uma estaca de madeira e na ponta colocou uma agulha de coser. Nos olhos de todos notava-se grande curiosidade. 

Eis que o homem, montando em um cavalo arreado, e tendo na mão uma linha muito comprida, passa galopando ao lado da estaca e enfia a linha na agulha, tirando-a pelo lado oposto sem parar. Diante dos calorosos aplausos da multidão, apresenta-se ao rei para receber um prêmio ou um louvor.

➖ Quantos anos empregaste nesse trabalho? - indagou o rei.
➖ Doze anos. Ensaiei, e tornei a ensaiar, trabalhando durante doze anos - respondeu o homem.
➖ Pois bem - replicou o rei - ficarás encarcerado durante doze anos, por teres gasto tanto tempo sem honra para teu rei e sem utilidade para a tua pátria.

Ah! quantos cristãos não terão de ouvir no dia do Juízo: empregastes toda a vida num trabalho que não honrou a Deus nem aproveitou à vossa alma. E é por isso que permanecereis no cárcere do inferno por toda a eternidade.

216. PERDOAR AOS INIMIGOS

Sublime é o exemplo de Santa Joana d'Arc, a jovem singular vinda da Lorena para salvar a França. Depois de haver rompido o cerco de Orleans e de haver levado Carlos VII de triunfo em triunfo até a coroação do mesmo em Reims, foi desprezada, abandonada, atraiçoada. Deus queria indicar-lhe que sua missão terminara e só faltava o supremo sacrifício de sua vida.

Em Compiègne foi feita prisioneira e vendida aos ingleses que a condenaram à fogueira. Apareceu na Praça de Ruão, aos 18 anos de idade, condenada à morte, mas não mostrou nenhum temor. O rei banqueteava-se bem distante dali sem nenhum sentimento de compaixão para com aquela que viera da Lorena para salvar a França.

Quando as chamas envolveram aquele corpo inocente, como numa tormentosa auréola, Joana ergueu os olhos cheios de esperança e exclamou, em alta voz, que perdoava o rei, aos franceses e aos ingleses que a queimavam.

217. ESCOLHEI!

Depois que Moisés explicou ao povo a Lei de Deus, concluiu assim: 'Filhos de Israel, eis que eu ponho hoje diante dos vossos olhos a benção e a maldição; a benção, se observardes os mandamentos de Deus; a maldição, se não obedeceres aos mandamentos do Senhor vosso Deus'. Escolhei! (Dt 11, 26-).

218. A MALDIÇÃO DE UMA MÃE

Antes da aurora foi Agostinho, o santo bispo de Hipona, despertado por uns gemidos e profundos soluços que vinham da rua. Dois homens seminus, de barba e cabelos compridos, sujos, fracos e famintos, tremiam convulsivamente diante da residência do bispo.
➖ Como vos chamais? - perguntou Agostinho.
➖ Paulo e Paládio, responderam sem cessar de chorar.
➖ Tranquilizai-vos, nós vamos ajudá-los.
➖ É impossível tranquilizar-nos. 

Vimos de Cesareia da Capadócia; em nossa família éramos sete irmãos e três irmãs. Ofendemos a nossa mãe viúva e ela nos amaldiçoou e a maldição penetrou em nossa carne, em nosso sangue, em nossos ossos. Livrai-nos, Santo de Deus, da maldição de nossa mãe. E se não o podeis, fazei-nos ao menos morrer.

Santo Agostinho rogou a Deus por eles e os curou. Se tanto pôde, naqueles filhos, a maldição de uma mãe terrena, qual não será terrível, irrevogável e final a maldição de Deus Pai ofendido por nossos pecados: Ite, maledicti, in ignem aeternum?

219. OS MORTOS ESTAVAM DE PÉ...

Quando, na grande guerra europeia, os bolcheviques entraram em Sebastopol, mataram muitas pessoas sem processo prévio algum. Levavam aos escolhos os condenados, atavam-lhes aos pés grandes pedras e os precipitavam ao mar.

Assim foi executado também um almirante; mas quando o atiraram ao mar, desconfiaram que levara consigo documentos importantes. Ordenaram a um escafandrista que fôsse buscar o cadáver. Desceu o homem, mas antes de tocar o fundo do mar, fez sinal para que o erguessem à superfície.

Voltou louco de terror e pronunciava palavras sem sentido. Curado após alguns dias, contou que, ao aproximar-se do fundo do mar, encontrou-se no meio de uma espantosa assembleia: todos os mortos estavam ali de pé e pareciam ir ao seu encontro ameaçando-o com vinganças terríveis. Era um fenômeno natural que, naquele momento, o escafandrista não soube explicar. Os cadáveres que há alguns dias estavam nas águas, que mitigavam a decomposição, tendiam a subir à superfície; mas não podiam pelo peso das pedras que tinham atadas aos pés.

Se a vista de alguns cadáveres, cambaleantes pelo impulso das correntes, fez desmaiar e enlouquecer de susto um homem habituado ao perigo, pensai o que será, então, quando os maus se encontrarem diante do Filho de Deus vivo, agitado pela ira terrível de sua inexorável justiça. Pois então não será mais o Cordeiro que tira os pecados, mas o Leão prestes a destroçar todos os seus inimigos.

220. A RECOMPENSA DO MUNDO

A rainha Isabel da Inglaterra, de triste memória, tinha entre os nobres de sua corte um extraordinário bailarino, chamado Tomás Pando. Quando bailava, todos gritavam com delírio: 'Outra vez! Bis, bis!' E ele continuava bailando. Mas um dia estava tão cansado que suas pernas não lhe permitiam nenhum esforço a mais. 

Mas a fanática rainha gritou: 'Outra vez! Outra vez!'. E Tomás, para fazer-lhe a vontade, bailou, nas últimas voltas, porém, teve vertigem e caiu ao solo. Puseram-se todos a rir, e a rainha gritou: 'Levanta-te boi!' O pobre bailarino ouviu o insulto, mordeu os lábios e levantou-se. No dia seguinte desapareceu da corte. Fugiu para os montes e nunca mais foi visto bailar.

Assim são as recompensas do mundo. Aos aplausos, louvores e sorrisos sucedem quase sempre o abandono, o desprezo e o insulto amargo: 'Levanta-te, boi!'

221. A ORAÇÃO NAS TENTAÇÕES

Em Roma foi metida no cárcere Daria, a santa esposa de Crisanto, por ser cristã e haver convertido inúmeras mulheres da idolatria à verdadeira religião. Empregaram contra ela os mais dolorosos tormentos; puseram em prática todas as astúcias infernais para arrebatar-lhe a virtude, mas tudo em vão.

Levaram-na, finalmente, a um lugar infame; mas Daria, levantando as mãos e os olhos aos céus, pôs-se a orar. Nem bem começara a rezar e eis que aparece, ao lado dela, um majestoso leão disposto a despedaçar a quem quer que se atrevesse a molestá-la (Leonis tutela contumedia divinitus defenditur). Nossa alma está rodeada de terríveis inimigos, como estava a de Santa Daria. Qual será a nossa defesa? A oração. Sem ela não há salvação.

22. SÃO E SALVO NO MEIO DOS LEÕES

O rei Dario proibira severamente toda e qualquer oração. Ora, numa casa com a janela aberta, viu-se um homem orando de joelhos e com o rosto voltado para Jerusalém, a cidade santa. Quem orava era Daniel, o grande ministro do rei.

Espiaram-no muito os inimigos e viram que três vezes ao dia (de manhã, ao meio-dia e à noite), naquela humilde atitude, ele fazia a sua recolhida oração. Foi denunciado e condenado a morrer despedaçado pelos leões. Meteram-no na cova dessas feras e fecharam a abertura da mesma com uma grande pedra marcada com o selo real.

Ao amanhecer Dario, que não pregara os olhos, correu à cova e encontrou Daniel ileso e sorridente. O homem que ora em nome de Jesus será sempre vitorioso. Nem o mundo, nem o leão mais feroz (o demônio) poderão causar-lhe algum dano.

223. O TEMOR DO JUÍZO

Na manhã de 14 de setembro do ano de 258, no campo Sextio, ainda molhado pelo orvalho da noite, degolaram o bispo de Cartago. Prenderam-no os inimigos de Cristo e conduziram-no ao tribunal do procônsul Galério, que lhe fez esta pergunta: 'És tu Táscio Cipriano?'. Ao que Cipriano respondeu com firmeza: 'Sou'. Galério ordenou: 'Que Táscio Cipriano seja degolado'. E o mártir respondeu: 'Deo gratias'.

Mas, quando os soldados se dispunham a executar a sentença; quando, despidos os ornamentos episcopais, os fieis estendiam os seus lenços para recolher o sangue que ia jorrar, o santo tremeu e cobrindo as faces com as mãos exclamou: 'Vae mihi cum ad judicium venero' - ou seja - 'Ai de mim quando vier o Juízo! Foi só por um instante, pois logo inclinou a cabeça e ofereceu a Deus o sacrifício. Se a lembrança do Juízo fazia tremer os mártires, o que será de nós? O que iremos dizer ao divino Juiz?

224. A VITÓRIA SERÁ NOSSA!

Santa Joana d'Arc estava no sítio de Orleans. Combatera por sete horas, sempre calma e intrépida no meio dos soldados. Era chegado o momento de tomar ao inimigo a famosa fortaleza de Tourelles. De repente avançou e tomou a escada para subir impetuosamente até à torre. Feriu-a no peito uma flecha. Jorrou o sangue. Ela empalideceu e tremeu indecisa no meio da escada. Chorando de dor e de medo, desceu a escada e recolheu-se para se curar. Era a debilidade humana. Os ingleses animaram-se e os franceses atemorizados cederam o campo e iniciam a retirada. 

Mas ao primeiro toque de clarim, Joana levanta-se, recorda-se da visão que tivera, das vozes que ouvira e faz uma breve oração. Em seguida, de um golpe arranca a flecha e com o peito manchado de sangue gritou: 'Avante! Seremos os vencedores!' E venceu.

Cristãos, a vida é uma batalha pela conquista do reino de Deus. Se algum dia nos assaltarem o temor e a debilidade, recordemos nossa fé, avivemos nossas convicções e fortaleçamo-nos com a oração. Em seguida, como Santa Joana, sigamos avante, seguros de que a vitória será nossa.

225. ANIMA VESTRA IN MANIBUS VESTRIS

Pe. Segneri costumava contar o seguinte episódio. Havia na praça de Atenas um famoso adivinho, que a todos dava prognósticos, predizia o futuro e descobria o passado. Um dia, querendo zombar dele, apresentou-se um homem astuto que tinha um pequeno passarinho fechado na mão.
➖ Sabes dizer-me - perguntou ao adivinho - se este passarinho está vivo ou morto?
O astuto pensava assim: se ele disser que está morto, eu o deixarei voar mas, se disser que está vivo, eu o apertarei com o polegar e o matarei.

O adivinho, porém, foi mais esperto e respondeu: 'Cavalheiro, esse passarinho está como o senhor quiser: se o quiser vivo, está vivo; se morto, morto'. Todos os espectadores aplaudiram o adivinho.

Amigos, aquela sagaz resposta nós a podemos dirigir também a vós. Vossa alma será qual a quiserdes: se salva, salva; se condenada, condenada.
Anima vestra... in manibus vestris (a sua alma está em suas mãos).

226. CUIDADO COM A ALMA

Conta um poeta latino, Horácio, que um jovem, levado pela loucura de gastar o seu patrimônio, dissolveu em vinagre uma pérola preciosíssima e bebeu-a de um trago (Hor., Sat. II, 3). Um movimento de indignação se apodera do leitor ao recordar tamanha falta de juízo daquele jovem. Mas, que dirão os anjos, quando veem os homens destruir a formosura de sua alma por um amargo prazer?

Um quadro do célebre pintor Rafael ou uma estátua de Miguel Ângelo são avaliadas a preços fabulosos, porque saíram das mãos de artistas famosos. E a nossa alma não saiu das mãos do Artista Supremo? Notai ainda que ela foi criada à semelhança de Deus; leva, pois, em si algo de sua beleza, de sua grandiosidade e da sabedoria de Deus.

227. VIVIA NUMA COLUNA

Um santo ermitão mandou levantar no deserto uma coluna muito alta e no topo da mesma viveu muitos anos. Ali no alto, elevado sobre a terra má e olhando para o céu sereno, repetia com frequência: 'Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo'.

Se todas as vezes que temos rezado o Glória o tivéssemos feito com o respeito daquele anacoreta, quantos méritos não teríamos acumulado para o céu! Quantos méritos se tivéssemos começado e terminado cada uma de nossas orações em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!

228. POR QUE OS PADRES NÃO SE CASAM

Íamos passando diante de uma igreja e um companheiro nosso manifestou desejo de conhecê-la. Como havia na fachada uma grande cruz, julgamos que se tratava de uma Igreja Católica. A um menino que estava ali perto, perguntei:
➖ Sabes onde está o pároco?
➖ Sim; o pastor é o meu pai, eu vou chamá-lo.
➖ Não; não é preciso incomodá-lo. 
Eu tinha compreendido que se tratava de um templo protestante. Mas, por cortesia, tivemos de esperar, pois o menino foi correndo chamar o pai.

Passados alguns minutos, apareceu um certo homem que nos disse:
➖ Desculpai-nos, senhores; mas o pastor não pode vir. Tendo voltado há pouco para casa, encontrou a senhora dele adoentada. O menino, que foi chamá-lo para os senhores, saiu correndo em busca de um médico. Disse-me o pastor que despedisse, sem mais, todos os que desejassem falar-lhe. Pobre pastor! Que pena tenho dele! Uma filha está doente no hospital; um dos filhos está no manicômio e outro em um reformatório. O único filho que tem saúde é o menino que encontraste aqui.

Apenas saímos do templo, disse-me o meu companheiro, um advogado:
➖ Desculpai-me, senhor Padre, se vos digo sinceramente que as palavras desse sacristão me convenceram mais do que as vossas da conveniência do celibato do clero católico. Como  poderia cuidar seriamente de seus paroquianos quem se achasse nas condições de um tal pobre pastor? 

229. O ITALIANO BLASFEMADOR E O JUIZ*

Infelizmente na Itália muitos têm o detestável vício de blasfemar ou xingar a Deus. Numa cidade dos Estados Unidos, onde a blasfêmia é punida severamente, um italiano várias vezes admoestou um patrício que deixasse de blasfemar. Mas a resposta era sempre esta: 'Vai cuidar dos teus negócios!' 

Um dia, porém, um policial, que entendia italiano, ouviu-o blasfemar e sem demora prendeu-o e levou-o ao juiz. Este perguntou-lhe:
➖ Que respondeis à acusação deste policial?
➖ Que blasfemei, mas foi em italiano.
➖ Então pensais que Deus não entende o italiano?!
➖ Mas foi na Itália que me habituei a blasfemar.
➖ E eu, na América, me habituei a condenar os blasfemadores. Por esta vez, condeno-vos a pagar apenas a multa de dez dólares.
➖ Como! tanto dinheiro por uma só blasfêmia?!

E aqui o tal italiano perdeu o controle de si mesmo e soltou outra blasfêmia. E o juiz acrescentou logo:
➖ Por esta segunda blasfêmia pagareis vinte dólares.
➖ Mas isso é uma grave injustiça, senhor juiz. Não sabeis que na Itália... e solta a terceira blasfêmia.
➖ Por esta terceira blasfêmia pagareis trinta dólares; a não ser que prefirais ficar tantos dias na cadeia quanto são os dólares que deveis pagar.
O blasfemador calou-se e aprendeu a lição. Desde aquele dia não mais o ouviram blasfemar.

* no original: 'Dois italianos e o vício de blasfemar'

230. DEVE PREFERIR-SE A TUDO

São João de Gota, um dos mártires do Japão, foi condenado por um tirano. Contava apenas dezenove anos e pouco tempo fazia que entrara na Companhia de Jesus. Indo seu pai despedir-se dele, o jovem, no momento de ser crucificado, disse-lhe:
➖ Meu pai, a salvação deve preferir-se a tudo. O senhor, para assegurá-la, não se descuide de nada.
➖ Muito obrigado, meu filho! Quanto a você, também aguente firme. Sua mãe e eu estamos preparados para morrer pela mesma causa.
E o generoso pai, tendo beijado seu filho mártir, retirou-se molhado pelo sangue da generosa vítima.

231. SUPERSTICIOSO CRUEL

Luís XI, rei de França, condenara à morte um astrólogo por haver pressagiado coisas desagradáveis. Este, em tom profético, disse aos familiares do rei:
➖ Li nos astros que viverei até uma idade avançada e que morrerei três dias antes de sua majestade.
Bastou isso para que o rei revogasse a sentença e prodigalizasse ao astrólogo toda sorte de cuidados para prolongar-lhe a vida.

232. UMA REPRESENTAÇÃO SACRÍLEGA

O imperador Miguel II, de Constantinopla, que contribuíra para o Cisma da Igreja Grega, ordenara que no dia da Ascensão se representasse uma comédia para escarnecer os sacramentos. Na noite seguinte, um espantoso terremoto, acompanhado de furiosa tempestade no mar, devastou aquela cidade. Pouco depois, o imperador, enquanto dormia após uma de suas bebedeiras, foi assassinado pelo seu próprio filho.

233. CORTADOS OS LÁBIOS

A perseguição religiosa, ordenada pela rainha Isabel da Inglaterra, fez inúmeras vítimas. Entre os muitos confessores da nossa fé, achava-se o sacerdote Tiago Bell, que apostatara mas que, depois de haver refletido melhor, se arrependera e trabalhava com muito zelo pela salvação das almas. Preso e condenado à morte, pediu ao juiz que lhe fossem cortados os lábios e os dedos por ter pronunciado o juramento e ter assinado os artigos heréticos contrários à sua consciência e à verdade divina.

234. DE ONDE O SENHOR FUGIU?

Um pastor protestante, que sempre afirmava que os católicos adoram as estátuas e imagens, e que por isso são idólatras, vendo certo dia que uma boa velha rezava devotamente ajoelhada diante de um crucifixo, disse-lhe em tom de mofa:
➖ A senhora adora essa imagem?
A mulher fixou-o admirada e disse:
➖ O senhor está louco? De que manicômio o senhor fugiu? Ajoelho-me diante desta imagem que me representa Jesus Cristo, mas meu coração está com Deus.

235. UM TIRO SACRÍLEGO

Perto de Valença, na Espanha, celebrava-se uma festa em honra do Santo Cristo numa ermida. Muita gente desfilara durante o dia, rezando diante de uma imagem de Jesus. À tarde, quando todos se tinham retirado, voltava da fábrica um operário, o qual, parando no local, puxou do revólver e, com riso satânico, apontou para a imagem e atirou, esmagando-lhe o dedo do pé direito, e depois retirou-se.

À noite, indo a um baile, enquanto se divertia, deixou cair o revólver, que disparou e a bala esmagou-lhe um dedo do pé direito, tal como esmagara o do Cristo da ermida. Um médico o tratou, mas a ferida nunca se fechava. Foi necessário então amputar o dedo, depois o pé, mais tarde a perna, e a gangrena evoluía sempre, e ninguém compreendia porque aquela ferida não se fechava. Era um chaga produzida pela justiça de Deus, chaga que levou o operário a uma morte terrível.

236. QUERIA LIXO COMO FLORES* 

Em 1873 um homem de Wisembach, povoado dos Voges, amontoava imundícies num depósito. Aos que lhe perguntavam para que tudo aquilo iria servir, ele respondia: 
➖ Este lixo eu colocarei como flores nas ruas por onde há de passar a procissão de Corpo de Deus. 

Três dias depois foi atacado de apoplexia, morrendo sem recobrar os sentidos e sendo enterrado no próprio dia da procissão de Corpus Christi.

* no original: 'Queria pô-las como flores'

237. CAIU A PEDRA

No domingo, 22 de dezembro de 1861, em Volterra, alguns jovens se haviam reunido perto de uma muralha, sobre a qual sobressaía uma grande pedra. Um deles, que perdera no jogo, começou a dizer horríveis blasfêmias contra Nossa Senhora. Os companheiros procuraram acalmá-lo, mas ficou ainda pior. Chegada a hora da missa, convidaram-no a entrar com eles na igreja; respondeu-lhes, porém, com a mais horrível das blasfêmias. Apenas tinha fechado a boca, a grande pedra caiu sobre ele e o esmagou.

238. VEREIS COMO ISTO PARA!

Em agosto de 1891, uma aldeia foi açoitada por uma chuva de pedras, que devastou vinhedos e hortas. Vários camponeses reunidos numa taberna se queixavam, blasfemando, da tempestade que os arruinava. O taberneiro, furioso, blasfemava mais do que todos e, tomando uma espingarda, saiu à rua, dizendo: 'Atirarei contra Deus e vereis como isto para já!'

O blasfemo ergueu a espingarda contra o céu... mas, no momento preciso, caiu um raio, matando-o juntamente com um cigano que o acompanhava.

239. COMPADECIAM-SE DELE!

Na cidade de Gênova, em maio de 1902, enquanto os fiéis saíam da igreja de São Teodoro, após as funções sagradas, um indivíduo começou a insultar os que tinham ido à igreja e a blasfemar contra Deus e Nossa Senhora. Os fiéis que passavam, espantados, compadeciam-se dele. De repente, o homem calou-se, empalideceu e caiu como que fulminado por um raio. Toda tentativa para socorrê-lo foi inútil.

240. CEGO PELO RESTO DA VIDA

Um homem voltava da venda depois de ter ouvido ali toda sorte de impiedades. Ao ver o crucifixo à cabeceira da cama, pôs-se a blasfemar e xingar a sagrada imagem. Foi além: tomou uma faca e arrancou sacrilegamente os olhos do crucifixo. No dia seguinte começou a sentir uma dor agudíssima nos olhos. Levaram-no ao hospital, de onde saiu completamente cego, vendo-se obrigado a mendigar até o fim da vida.

241. NEGRO COMO CARVÃO

Um jovem universitário, inteligente mas incrédulo, achava-se em férias em casa de família amiga. Uma noite, à hora do jantar, proferiu horríveis blasfêmias contra a Imaculada Conceição; tais, como nunca se tinham ouvido naquela casa. Ficaram todos horrorizados e a dona esteve a ponto de mandá-lo embora. Retiraram-se aborrecidos e silenciosos, pedindo a Nossa Senhora que lhe perdoasse. Na manhã seguinte, quando o foram despertar, encontraram-no morto e negro como carvão.

242. EXPIAÇÃO

Um capelão francês visitava uma ambulância e aproximando-se de um soldado, disse-lhe:
➖ Amigo, disseram-me que você está gravemente ferido e que sofre muito.
➖ Por favor, levante o cobertor que me cobre.
Horrorizado viu o capelão um peito robusto sem braços.
➖ Não se assuste - disse o soldado - levante agora a coberta dos pés.
Faltavam as pernas até os joelhos.
➖ Pobrezinho! - exclamou o sacerdote.
➖ Não se compadeça de mim, padre; dê-me antes parabéns, porque antes da guerra eu reduzi ao mesmo estado uma imagem de Jesus Crucificado.

'Foi assim: ao chegarmos à encruzilhada do caminho, eu e meus companheiros encontramos um grande crucifixo e o enchemos de insultos e blasfêmias. Quis avantajar-me a eles em impiedade e, com o meu sabre, cortei os braços e as pernas da imagem. Quando começaram a sibilar as primeiras balas é que compreendi a enormidade do meu crime. Lembrei-me de minha igreja, de meu vigário, de minha defunta mãe, de meu catecismo.

Pedi a Deus que me castigasse nesta vida. E Deus me ouviu como o senhor está vendo. Como tratei ao crucifixo, assim fui tratado. Quanto maiores forem os meus sofrimentos, tanto maior será o meu consolo, pois assim estou seguro de que Deus me quer perdoar'.

243. JORGE WASHINGTON

Certa vez Jorge Washington estava sentado à mesa com alguns oficiais, quando um deles proferiu uma vil blasfêmia. Washington sentiu-se interiormente ferido e, deixando cair o talher com indignação e olhando com desdém para o infeliz que acabava de blasfemar, disse: 'Senhores; eu julguei que todos os que aqui nos encontramos éramos pessoas decentes'. Todos se calaram e o culpado corou e baixou os olhos envergonhado.

244. O HOMEM DO FUZIL

Em 1915, o capelão de um regimento foi transferido para outro corpo. Em seu lugar puseram um padre trapista que foi bem recebido por todos, menos por um sujeito anticlerical, que, furioso, dizia: 'Que necessidade temos de padres? Deus não existe. Se há Deus, vejamos se é capaz de quebrar o fuzil que tenho na mão'. E acompanhando as palavras com a ação, apontou o fuzil para o céu em atitude de desafio. No mesmo instante, porém, uma bala inimiga atingiu o fuzil, despedaçando-o em estilhaços que vararam o crânio do blasfemo, que caiu morto ali mesmo.

245. UM MENINO HERÓI

Não faz muito tempo, numa vila da Itália chegava em casa um menino de 12 anos, pálido e choramingando. Que acontecera? Alguns malvados, movidos de ódio contra ele porque fizera a primeira comunhão, disseram-lhe:
➖ Tens de repetir as blasfêmias que dissermos.
➖ Não - disse o menino com firmeza - eu não blasfemo.
➖ Tens de blasfemar, por bem ou por mal.
Dito e feito: atiraram-no ao chão e bateram-lhe brutalmente. Mas dos lábios do menino não saiu nenhuma blasfêmia e nem sequer uma palavra de queixa.

246. DECORAI ESTES CINCO PONTOS

O trabalho de domingo nunca enriquece.
A fortuna mal adquirida nunca se aproveita.
A esmola nunca empobrece.
O encomendar-se a Deus pela manhã e à noite nunca atrasa o trabalho.
Um filho rebelde e libertino jamais será feliz.

247. PRIMEIRO IREI À MISSA

Refere Santo Afonso que três negociantes estavam prontos para partir juntos da cidade de Gúbio. Era domingo, e um deles quis ouvir a missa; os outros, porém, não quiseram nem mesmo esperá-lo. Mas, quando atravessaram a ponte do rio Borfoune, cheio pelas últimas chuvas, caiu a ponte, perecendo afogados os dois negociantes.

248. POR UM PECADO A MENOS

Voltava da missa um domingo, em Londres, uma dama, irmã de um ministro do reino. Encontrou uma mulher a varrer a rua. Soube que era católica. Perguntou-lhe se tinha ido à missa.

Respondeu a varredoura que não tinha tempo, porque antes do meio-dia tinha de acabar a limpeza. A dama deu-lhe uma moeda e, mandando que fosse à missa, disse-lhe:
➖ Cumpra o seu dever de cristã, que eu farei seu trabalho.

E assim dizendo, pegou da vassoura e pôs-se a varrer. Interrogada por que se humilhava assim em lugar tão público, respondeu:
➖ Por um pecado a menos!

249. A ÁRVORE CRESCIA

O ermitão Nicolau, de Suíça, estando a ouvir a missa, teve uma visão. Viu uma arvorezinha que, brotando do piso da igreja, crescia rapidamente e, em poucos segundos, estava coberta de flores, resplandecentes como estrelas. Essas flores caíam sobre a cabeça dos fieis: em alguns murchavam e perdiam o brilho; em outros aumentavam de resplendor, adornando-lhes as frontes como uma cora de luz.

A árvore era figura da benção celeste e as flores simbolizavam a benção que caía sobre cada um, frutificando nos fervorosos e murchando nos distraídos e desatentos.

250. SEMPRE CHEGAVA TARDE

Um homem da Westfalia, durante muitos anos sempre chegava tarde à missa nos dias de preceito. Adoeceu para morrer e mandou chamar o padre com urgência. O vigário sem demora pôs-se a caminho, mas dizia consigo: 'Não será para estranhar que Jesus Cristo chegue tarde para ele, como castigo de sempre ter chegado tarde à missa'. E com efeito; quando o padre chegava à casa, o enfermo expirava sem os últimos sacramentos.

251. SAÍAM DA IGREJA

Santo Hilário, vendo que algumas pessoas, depois da leitura do Evangelho, saíam da igreja, interrompeu a prática exclamando: 'Podeis sair da igreja, mas do inferno não podereis sair!'

252. SANTA JULIANA

Era uma religiosa de clausura em Florença, Itália. Adoeceu tão gravemente, que, ao lhe serem administrados os últimos sacramentos, não foi possível dar-lhe a comunhão, porque não podia reter nada no estômago. Chorando rogava ao sacerdote que, já que não podia receber Jesus pela boca, pelo menos o colocasse alguns instantes sobre o seu peito, para que estivesse mais perto de seu coração.

Assim fez o sacerdote, desaparecendo a sagrada partícula, ao mesmo tempo que a santa morria em êxtase. Sobre o seu peito acharam gravada, à maneira de um selo, a imagem de Jesus.

253. TRÊS COMUNHÕES

Santa Catarina de Gênova achava-se muito doente, e os médicos desesperavam de sua vida e não encontravam remédio para aliviá-la. A santa recebeu uma luz do alto que lhe fez conhecer que, com três comunhões, recobraria a saúde. O confessor administrou-lhe então esse remédio divino e, depois da terceira comunhão, ela estava perfeitamente curada.

Uma noite sonhou que, no dia seguinte, não poderia comungar e sentiu uma dor tão viva que ao despertar encontrou o travesseiro banhado de lágrimas.

254. O QUE VALE UMA MISSA

Achava-se um missionário muito esgotado por seus trabalhos apostólicos. Seus companheiros, para induzi-lo ao descanso, diziam-lhe: 'Se o médico conhecesse o vosso estado de saúde, não vos permitiria a celebração da Missa'.

Mas o enfermo replicou: 'Pelo contrário, se o médico soubesse o que vale uma missa, ele me animaria a fazê-la diariamente'.

255. PAI TODO PODEROSO

Falava um pastor protestante com um menino que se preparava para a primeira comunhão e perguntou-lhe:
➖ Você crê que, na hóstia que vai receber, está Jesus em corpo e alma?
➖ Creio, sim, senhor.
➖ Você sabe o Pai Nosso?
➖ Sei, sim, há muito tempo.
➖ Então, reze-o.
➖ 'Pai nosso que estais no céu...'
➖ Está bem! Você compreende que Deus está no céu; logo, não pode estar na hóstia.

O menino pensou um instante e disse:
➖ O senhor é capaz de rezar o Credo?
➖ Claro que sim: 'Creio em Deus Pai todo-poderoso...'
➖ Basta! O senhor então não compreende que, sendo Deus todo poderoso, pode fazer o que quiser e, assim, pode estar no céu e ao mesmo tempo na hóstia consagrada?
O pastor, não sabendo mais o que responder e confundido, deu por terminado o diálogo.

256. MEU ÚNICO REMÉDIO

Carlos V perguntou a um servo de Deus, que vivia na corte, como fazia para conservar-se na graça de Deus no meio da licença de costumes dos cortesões e de tantas ocasiões de pecado.
➖ Majestade - ele respondeu - meu único remédio para não sucumbir é o temor de Deus e a comunhão diária.

257. ESTOU MELHOR

O general Droupt estivera gravemente enfermo. Vendo chegar o médico, disse-lhe:
➖ Doutor, estou melhor.
➖ De onde lhe vem esta melhora?
➖ Doutor, comunguei esta manhã - respondeu o general.

258. OS DOIS VASOS

Apareceu Jesus à serva de Deus Paula Maresca e mostrando-lhe dois vasos, um de ouro e outro de prata, e lhe disse:
'Neste vaso de ouro guardo as comunhões sacramentais e, neste de prata, guardo as comunhões espirituais'.

259. SERVIA-SE DOS MENINOS

São Francisco Xavier, não podendo no curso de suas missões cuidar dos enfermos e da instrução dos fiéis, servia-se dos menino que batizara, os quais, seguindo suas recomendações, rezavam muito. Por meio das orações deles, curavam-se os doentes, os demônios eram afugentados e os idólatras, convertidos.

260. UMA GRANDIOSA PROCISSÃO

Em 1450, a cidade de Paris foi testemunha de um grandioso espetáculo. Por ordem do bispo Guilherme, uma procissão de doze mil crianças de menos de catorze anos saiu da igreja dos Santos Inocentes, percorreu a cidade cantando e dirigiu-se até à igreja de Notre Dame.

A voz da infância atraiu os olhares de todos e abrandou os corações. Foi o meio mais eficaz para desarmar a cólera divina.

261. POUCAS PALAVRAS

Um dia foram duas pessoas perguntar a São Macário como deviam rezar. Respondeu-lhes o santo: 'Não são necessárias muitas palavras; dizei somente: Senhor, seja feita a vossa vontade!'

262. DIANTE DE UMA IMAGEM DE MARIA

Conta o bispo de Verdun que dois homens tiveram uma discussão muito forte e um deles, enfurecido, pôs-se a correr atrás do outro, com uma faca na mão. Quando estava para ser alcançado, o que fugia agarrou-se a uma estátua de Nossa Senhora, dizendo:
➖ Terás coragem de ferir-me em presença da Virgem, nossa Mãe?
A estas palavras, ao homem antes tão furioso deixou cair a faca da mão.

263. ESTUDE MEIA HORA MENOS

➖ Como vão os seus estudos? - perguntou um sacerdote a um seu antigo aluno.
➖ Muito mal! Estudo o mais que posso e sempre tiro notas baixas.
➖ Estude meia hora menos - disse-lhe o antigo mestre - e empregue essa meia hora para pedir a Nossa Senhora que o ajude.

O rapaz seguiu o conselho e, após algumas semanas, começou a progredir nos estudos, obtendo muitos bons resultados.

264. UMA BENÇÃO POR TELEGRAMA

Uma condessa dirigiu-se a Nice para pedir a Dom Bosco que fosse benzer a um seu netinho, que padecia dolorosa convulsões e parecia que se afogava. Não encontrando a Dom Bosco, enviou-lhe um telegrama a Cannes, onde ele se encontrava.

O santo, ao recebê-lo, enviou-lhe a bênção de Maria Auxiliadora também por telegrama e, na mesma hora, cessaram as convulsões e a criança sarou.

265. SAÍA SEM ESCOLTA

Os cortesãos censuravam o rei Henrique IV por sair, às vezes, sem escolta. Ele respondia: 'O medo não deve existir na alma de um rei. Encomendo-me a Deus quando me levanto e quando me deito e, durante o dia, lembro-me do Senhor. Estou sempre em suas mãos'.

266. OITO HORAS POR DIA

São Alfredo Magno, rei da Inglaterra, consagrava todos os dias oito horas à oração ou à leitura de livros piedosos. Outras oito horas aos negócios do Estado e oito horas ao descanso e às demais necessidades e ocupações. Levantava-se muito cedo e ia à capela, onde, prostrado por terra, fazia a sua oração.

267. UM PROTESTANTE

Um protestante teve a curiosidade de entrar numa igreja durante a missa em um domingo e pôs-se a observar os fiéis. Ao sair disse: 'Os católicos dizem que Jesus Cristo está presente na Eucaristia; mas muitos deles não creem nisso; do contrário, procederiam com mais respeito durante a missa'.

268. EM QUE TE OCUPAS?

Queixava-se um jovem ao seu confessor, dizendo-lhe que ouvia mal a missa.
➖ Que fazes durante a missa? Em que te ocupas?
➖ Não faço outra coisa senão chorar os meus pecados.
➖ Continue assim, meu amigo; desse modo ouves muito bem a missa.

269. AQUELE É MEU PAI

O imperador da Áustria, José II, ordenara que os presidiários fossem empregados em trabalhos públicos. Alguns deles varriam a praça de Santo Estevão, em Viena. Um ministro observou que um moço bem trajado se aproximava de um daqueles varredores e beijava-lhe a mão. Um dia mandou chamar o moço e disse-lhe que aquele modo de agir não lhe convinha.

'Senhor' - disse o jovem - 'esse condenado é meu pai'. Comovido, o ministro referiu o fato ao imperador, o qual pôs o preso em liberdade, dizendo: 'Quem sabe educar seus filhos desta maneira não pode ser um malfeitor'.

270. GUARDÁ-LO-EI COMO LEMBRANÇA

Um inglês visitava a cidade de Viena. Entrou em uma loja de cabeleireiro no momento em que uma jovem oferecia sua formosa cabeleira pelo preço de dez coroas. Já se dispunha o cabeleireiro a cortá-la, quando o visitante quis saber por que a jovem ia sacrificar seus cabelos.

➖ Senhor - disse a jovem - meu pai foi negociante opulento; mas as coisas foram mal; agora ele é velho e desamparado; minha mãe está enferma e, como não encontro outra solução melhor, vejo-me obrigada a vender a minha cabeleira.
➖ A senhora não venda seus cabelos tão barato. Eu o pagarei melhor. E, entregando-lhe cem libras esterlinas, tomou a tesoura e disse:
➖ Permita-me que lhe corte um só fio do seu cabelo que guardarei como lembrança do seu amor filial.
Aquelas cem libras serviram de base para eles, em pouco tempo, reconstituírem a fortuna perdida.

271. DEU-LHE A LIBERDADE

Serapião, o dionita, fez-se escravo de um pagão, para convertê-lo e o conseguiu de fato. Seu amo deu-lhe a liberdade e presenteou-o com vestes, uma túnica e um Livro dos Evangelhos. Serapião deu as vestes para o primeiro pobre que encontrou e, pouco depois, a túnica a outro e, depois, mostrando o Evangelho, dizia: 'Eis aqui o que me despojou de tudo'. E, oportunamente, vendeu também o livro para socorrer a uma viúva.

272. SÃO TOMÁS MORO

Este grande chanceler da corte da Inglaterra, sendo já casado e em idade avançada, nunca saía de casa sem pedir de joelhos a bênção ao seu velho pai, a quem demonstrava a maior veneração e respeito.

273. CASTIGO DE UM MAU FILHO

A 19 de outubro de 1914, próximo de Turim, um rapaz discutiu com sua mãe por questão de interesses menores, chegando a espancá-la brutalmente, quebrando-lhe o braço e causando-lhe ferimentos graves. A mãe teve de ser hospitalizada e o filho foi preso. Quando o levaram à estação para conduzi-lo ao tribunal de Turim, o rapaz tentou atirar-se debaixo do trem que se aproximava.

Caindo, porém, ao lado, o trem cortou-lhe somente as duas mãos com que maltratara a mãe e, assim, teve de apresentar-se no tribunal.

274. QUERO IR COM MINHA MÃE

Enquanto se torturava a mártir Santa Julieta, Ciro, seu filhinho de três anos, ao ver que sua mãe derramava sangue, começou a gritar de maneira enternecedora. O governador tomou-o nos braços para acalmá-lo, mas o menino o repeliu, gritando: 'Sou cristão e quero ir com minha mãe'. E para escapar-se, arranhou o rosto do governador. Furioso, o governador tomou-o pelo pé e partiu-lhe a cabeça contra as grades do tribunal. A mãe deu graças a Deus e, em seguida, a sua cabeça foi cortada.

275. SANTA MACRINA

Era irmã de São Gregório Nazianzeno. Esta santa mulher nunca perdeu de vista sua mãe. Concentrou nela todos os seus cuidados e afetos e jamais permitiu que os criados a servissem, reservando-se a honra de preparar-lhe a comida e de servi-la. Quando a mãe enviuvou, Macrina dedicou-se inteiramente a ajudá-la na educação dos quatro filhos e das cinco filhas que lhe restavam.

276. MINHA MÃE ERA POBRE

O papa Bento XI, filho de pais pobres, foi elevado ao pontificado em 1303. Estando o papa de passagem em Perussia, sua mãe mandou pedir para falar-lhe. O papa perguntou como ela estava vestida. Responderam-lhe que estava com vestido de seda. 'Então não é minha mãe' - disse o papa - 'minha mãe é pobre mulher do povo'. Levaram-lhe essa resposta do papa; ela então pôs os seus vestidos humildes e apresentou-se de novo. Desta vez o filho recebeu-a e abraçou-a com efusão.

277. GUIAVA-O

O célebre Cornélio Cipião, por gratidão e respeito a seu pai que ficara cego, guiava-o ele mesmo por toda a parte, tendo para com ele as maiores atenções.

278. QUANTO CUSTASTES A TEUS PAIS?

O arcebispo de SalzburgoDom Agostinho Gruber, ao visitar uma escola no Tirol, perguntou a uma menina se sabia quanto custara a seus pais. A menina, surpreendida, corou e não soube responder.
➖ Vamos ver - disse - quantos anos tens? Quanto lhes custas por dia, por mês e por ano?
A menina, auxiliada pelo arcebispo, conseguiu fazer as contas pedidas.

O arcebispo acrescentou:
➖ Como poderás pagar os cuidados da tua mãe e os suores do teu pai?
Como? Não com ouro ou prata, mas com amor, respeito e obediência. Esse cálculo impressionou de modo salutar todos os meninos da escola.

279. ESQUECERIA MEUS DEVERES*

O imperador Décio quis coroar imperador ao seu filho, mas este recusou a honra, dizendo: 'Eu creio que, sendo imperador, esqueceria meus deveres de filho. Prefiro não ser imperador, mas filho bom e obediente, a ser imperador e filho revoltoso. Que meu pai mande e a minha glória consistirá em obedecer-lhe com toda fidelidade'.

* no original: 'Esqueceram meus Deveres'

280. O RETRATO DO PAI

Boleslau, rei da Polônia, levava sempre ao pescoço o retrato do seu pai. Quando tinha algo importante, olhava para o retrato, beijava-o e dizia: 'Deus não permita faça eu alguma coisa que desonre a memória de meu querido pai'.

281. OS FILHOS DE TEODÓSIO

O imperador Teodósio entregara seus dois filhos a Arsênio para que os educasse. Um dia entrou o imperador para assistir à aula e encontrou os dois meninos sentados e o mestre de pé. 'Neste momento' - disse-lhes - 'sois discípulos e, portanto, deveis respeito a vosso mestre'.
E obrigou-os a assistir à aula de pé.

282. SENTENÇA SEVERA

Em Esparta, os juízes condenaram à morte um menino por ter arrancado os olhos de um animal. Aos que reclamaram que a sentença era muito severa, responderam: 'O ânimo cruel de um menino que assim procede com os animais, amanhã se voltará contra os homens'.

283. DEVORADOS PELOS URSOS

O profeta Eliseu, venerável ancião, subia à cidade de Betel. Um bando de meninos mal educados saíram-lhe ao encontro e insultaram-no dizendo: 'Sobe, calvo! Sobe, calvo!'
Naquele momento saíram do bosque vizinho dois ursos que mataram a quarenta e dois deles.

284. SALOMÃO HONRA A SUA MÃE

Durante uma audiência solene, estava Salomão sentado em magnífico trono. Ao ver entrar sua mãe, a rainha Betsabé, que ia pedir-lhe uma graça, pôs-se de pé, foi ao seu encontro, fez-lhe uma profunda reverência e mandou preparar-lhe um trono para que ela se sentasse à sua direita.

285. AMOR FILIAL

N. era pai de vários filhos e havia anos que estava de cama. A filha maior fazia o papel de enfermeira; ao vê-lo próximo da morte e sem sentimentos religiosos, chorava sem consolo. O doente indagou a razão de tanto choro.
➖ Papai, o que me faz chorar é o pensamento de que temos de separar-nos e não nos veremos mais.
➖ É preciso ter paciência - replicou o pai - a separação não será para sempre, pois no outro mundo nos tornaremos a ver.
➖ Oh! não - disse a menina - nunca mais nos veremos.
➖ Sim, filha, havemos de nos ver sim; por que não?
➖ Não, meu pai; porque, se o senhor morrer em pecado mortal, irá para o inferno e eu quero ir para o céu. E não quero vê-lo no inferno, mas no céu.
A estas palavras cheias de dor e de carinho da filha, o enfermo resolveu enfim confessar-se e morrer santamente.

286. CASTIGO SEM PRECEDENTE

Em Palma, Colômbia, deu-se um fato duplamente triste. Um velho de nome Ruben Miranda tinha um filho chamado Rogério, de péssimos antecedentes. Várias vêzes havia batido no pai.

Desta vez espancou-o brutalmente com um pau diante de muita gente. As pessoas que assistiram à cena quiseram castigar o mau filho, que, vendo-se em perigo, fugiu para um potreiro. Apenas ali chegado, abriu-se uma fenda aos pés do fugitivo. Produziram-se tremores e a terra começou a tragar o filho desnaturado. Foi tragado pouco a pouco. Nenhum dos presentes se atreveu a socorrê-lo, pois temiam afundar-se. Foi desaparecendo no meio de gritos espantosos, que cessaram quando a terra lhe fechou a boca. Os assistentes retiraram-se horrorizados.

287. FAÇO UM PRATO DE PAU

Um camponês estava ocupado a fazer um prato de pau. Seu filho, que o observava, perguntou-lhe o que fazia.
➖ Faço um prato de pau para o seu avô - respondeu o homem - porque ele sempre deixa cair e quebrar o prato de louça.
O menino replicou:
➖ Pai, faça-o resistente, para que eu o possa dar ao senhor quando for velho.
Estas palavras causaram-lhe tal impressão que imediatamente desistiu da obra e passou a tratar melhor o seu velho pai.

288. AONDES IDES?

Crates, filósofo pagão, indignava-se muito contra os pais que descuraram o dever da educação dos filhos, e costumava dizer: 'Se me fosse possível, subiria à parte mais alta da cidade e gritaria com todas as minhas forças: Aonde ides, homens, cuja única preocupação é amontoar riquezas, descuidando-vos de vossos filhos, aos quais as deixareis?'

289. COMPRA-O E ASSIM TERÁS DOIS

Um pai perguntou a Aristipo quanto lhe cobraria pela educação de seu filho:
➖ Mil dracmas - respondeu o educador.
➖ É muito - replicou o pai; por esse preço, eu posso comprar um escravo.
➖ Compra-o então e assim terás dois (o escravo e o teu filho) - acrescentou Aristipo.

290. SEI SER FIEL

Uma mulher espartana pediu emprego em uma casa. Quando lhe perguntaram o que sabia fazer, respondeu: 'Eu sei ser fiel'.

291. EU O SEREI, MAMÃE!

Uma boa mãe tinha quatro filhos, aos quais formava na piedade. Uma noite, depois de rezar com eles e lhes falar de Deus, disse-lhes com grande ternura: 'Quão feliz seria eu se um de vocês chegasse a ser santo!'
O menorzinho lançou-se nos braços da mãe, dizendo: 'Eu o serei, mamãe!' E cumpriu a palavra, tornando-se o papa São Pedro Celestino.

292. ACONTECIMENTO FUNESTO

Um jovem foi condenado a quinze anos de prisão. Ouvida a sentença, pediu lhe permitissem falar, e disse: 'Perdoo aos juízes pela sentença, que é justa; perdoo a quem me conduz ao cárcere, porque cumpre o seu dever; mas não posso perdoar ao meu pai, que ali está, porque se me tivesse dado bom exemplo, corrigido e castigado a tempo, eu não estaria aqui'. Ouvida esta acusação, o pai caiu morto ali mesmo.

293. QUEM É ESSE MORTAL?

A irmã do rei São Luís estava um dia a confeccionar uma bela vestimenta, quando o santo lhe disse:
➖ Minha irmã, logo me dareis como presente esse vestido, não é?
➖Meu irmão, eu o destino a um príncipe maior ainda que Vossa Majestade.
➖ E quem seria esse afortunado mortal?
➖ É um pobre de Jesus Cristo e, portanto, é o próprio Jesus Cristo a quem eu o prometi.

294. SERVIA-OS ELE MESMO

A caridade de São Luís, rei da França, era prodigiosa. Todas as quartas, sextas e sábados da Quaresma e do Advento dava de comer em seu palácio a treze pobres que ele mesmo servia.

Servia-lhes uma sopa e duas espécies de alimentos. Cortava e distribuía o pão. Colocava, além disso, dois pães a mais para cada um, para que levassem para casa. Se entre os pobres havia algum cego, colocava-os nas mãos deles e os guiava. Dava, também, a cada um deles, uma esmola em dinheiro, conforme as necessidades. Ainda mais, aos sábados fazia separar os três mais pobres deles e lhes lavava os pés.

295. OBEDIÊNCIA AO MARIDO

Santa Francisca Romana estava recitando o Ofício da Santísssima Virgem, quando seu marido a chamou. Deixou a oração e foi atendê-lo; depois continuou. Mas, enquanto rezava uma antífona, quatro vêzes o marido a chamou e, por quatro vezes, interrompeu a oração e foi atendê-lo, continuando depois de terminada a ocupação. Na quarta vez, viu com surpresa que a antífona estava escrita com letras de ouro e lhe foi revelado que Deus concedera aquela graça a ela para que soubesse quanto a Nossa Senhora agradava a sua obediência ao marido.

296. INFLUÊNCIA DA MÃE RELIGIOSA

O famoso pianista Chopin teve uma mãe muito boa. Ele, porém, frequentando o mundo corrompido, perdeu a fé. Em sua derradeira enfermidade, visitou-o um grande amigo seu, o sacerdote polonês Jelowieski, que lhe falou de Deus. Nada conseguiu. E vendo que os dias iam passando sem nada conseguir, tomou o Crucifixo e, colocando-o nas mãos de Chopin, lhe disse: 'Tu te recusarás a crer o que tua mãe te ensinou quando eras criança?'

Chopin pôs-se a chorar e pediu os santos sacramentos, que recebeu com grande fervor. Agradecido a tão bom amigo, ao despedir-se dele antes de morrer, disse: 'Adeus, Jelowieski; fôste para mim o amigo mais fiel'. A lembrança da sua mãe salvou Chopin.

297. DESTINO DE UMA ALMA

Um comerciante que se enriquecera muito cometendo toda a sorte de fraudes, à hora da morte, chamou um tabelião e ordenou-lhe que, ao seu testamento, acrescentasse o seguinte: 'Quero que, depois de morto, o meu corpo seja devolvido à terra de onde saiu, e minha alma ao demônio ao qual pertence'. 

As pessoas presentes ficaram aterrorizadas, e esforçaram-se por dissuadi-lo; mas ele insistiu com energia, dizendo: 'Não me retrato. Quero que minha alma seja entregue ao demônio, junto com a da minha esposa e dos meus filhos. A minha,  porque me enriqueci à custa de furtos e fraudes; a de minha esposa, porque ela me induziu a tais pecados com seu luxo desmedido; as de meus filhos porque, levado pelo amor que lhes tenho, nunca me decidi a restituir o que não é meu'. Ditas essas palavras, expirou o infeliz sem poder reparar o mal que fizera.

298. INTERESSANTE ELOGIO FÚNEBRE

Em 1887 morreu na cidade de N. uma velhinha que passava dos cem anos. Fôra sempre muito admirada, porque em sua longa existência nunca a ouviram falar mal do próximo nem murmurar. E como ao morrer ainda conservava todos os dentes, fez-lhe o pároco êste elogio original: 'Esta boa mulher conservou todos os dentes porque nunca mordeu a ninguém!'

299. ACHADO FUNESTO

Um pedreiro encontrou uma caixinha numa das paredes da casa em que trabalhava. Abriu-a e encontrou-a cheia de jóias e moedas de ouro e prata. A ninguém deu parte o achado e levou a caixinha para casa. Três dias depois, indo a uma joalheria para vender as jóias encontradas, o joalheiro chamou imediatamente a polícia para que o prendessem: o joalheiro reconheceu as jóias que há um ano apenas vendera a um senhor que fôra assassinado e roubado. O pedreiro não pôde justificar a posse das jóias e foi condenado a muitos anos de prisão.

300. A CAPA DE SÃO MARTINHO

Monsenhor Guibert, arcebispo de Tours, numa de suas visitas pastorais, advertiu que as meninas, que se apresentavam para receber o sacramento da crisma, vestiam com muita imodéstia. Não as  teria admitido ao sacramento, se o vigário não lhe houvesse apresentado tôda a sorte de escusas. Contudo, o santo prelado não se absteve de dizer em voz alta, para que o ouvissem: 'Seria oportuno que São Martinho desse a estas meninas a metade de sua capa'.

301. JUSTO REMORSO

O herege Berengário, mesmo depois de fazer penitência de seus pecados, à hora da morte experimentou grandes angústias, causadas pelos remorsos da consciência. E dizia ao sacerdote que o socorria e animava naquela hora tremenda: 'Não temo os meus pecados, mas os que cometeram as almas a quem dei escândalo'. E tudo isto, apesar de que, para reparar esses pecados de escândalo, dera muito bom exemplo e se dedicara em sua casa ao ensino do catecismo.

302. MAUS CONSELHEIROS

Os cortesãos do imperador Frederico III, tutor do rei Ladislau da Hungria, sugeriram-lhe o envenenamento do seu pupilo para se apoderar da coroa. Mas o nobre imperador replicou-lhes: 'É este o conselho que me dais, homens sem fé e sem honra? Fora daqui! Que meus olhos não vos tornem a ver'. E os cortesãos foram expulsos da côrte e desterrados em castigo de seu criminoso conselho.

303. O MELHOR CILÍCIO

Uma senhora piedosa - ou que o julgava ser - era muito inclinada à maledicência e encontrava defeitos em toda gente. Um dia pediu ao diretor espiritual licença para colocar o cilício. O sacerdote, homem de muita experiência, conhecia a fundo a sua penitente. Pôs os dedos sôbre os lábios e disse: 'Filha, para a senhora, o melhor cilício será deixar de prestar atenção a tudo o que se passa além dessa porta'.

304. FUNDAMENTO DO DEVER

O dogma é a base da moral. Quando Miguel Renaud, em 1871, foi eleito deputado, ao chegar a Versalhes, alugou um apartamento por 150 francos mensais. Pagou adiantado. O proprietário perguntou-lhe se queria que lhe passasse o recibo. O deputado respondeu:
➖ Para que passar recibo entre homens de bem? Deus nos vê.
➖ O senhor crê em Deus? - perguntou o dono da casa.
➖ Creio, naturalmente - respondeu Miguel.
➖ Pois eu não - replicou o outro.
➖ Nesse caso, passe-me logo o recibo - disse o deputado - porque quando não se tem fé, a moral carece de fundamento.

305. CARLOS MAGNO E OS MANDAMENTOS

Carlos Magno, um dos maiores soberanos, foi provado por Deus com a morte de quatro dos seus filhos. Restando-lhe somente o seu filho Luís, quis associá-lo ao império. Chegado o momento solene, quando todos os magnatas rodeavam o altar sobre o qual estava a coroa, Carlos Magno volveu-se para o filho e, cheio de emoção, disse: 'Filho querido de Deus e do povo; tu, a quem Deus conservou para meu consolo, vês que minha vida está declinando; que os meus anos passam e a morte se aproxima. Prometes-me temer a Deus, guardar os mandamentos e proteger a Igreja?' Luís prometeu chorando de comoção. Carlos Magno, pondo a coroa sobre a cabeça de seu filho, acrescentou: 'Recebe, pois, a coroa e jamais te esqueças de teu juramento!'

306. POR TER QUEBRADO UM VASO

Um grande nobre de Roma convidou à sua mesa o imperador Augusto. Durante o festim, um escravo quebrou um vaso de cristal, pelo que seu amo o condenou à morte. Indignado, Augusto quebrou toda a baixela, dizendo: 'Cruel! Ignoras que a vida de um homem é mais preciosa que todas estas baixelas?'

Deus, às vezes, faz o mesmo com algum pecador: tira-lhe todos os bens para que abra os olhos e veja o grande mal que fêz, porque se lhe deixa com estes males até ao fim, o castigo será mais terrível.

307. ÉS UMA GRANDE PECADORA

São Filipe Néri  foi visitar a Irmã Escolástica, da Congregação de Santa Marta, que se julgava condenada, e disse-lhe:
➖ O céu lhe pertence: ele é seu.
➖ É impossível, senhor padre - disse ela.
➖ Aí está a sua loucura - respondeu o santo ➖ Por quem morreu Jesus?
➖ Pelos pecadores.
➖ Pois bem, a senhora é uma grande pecadora e Jesus morreu para salvá-la; portanto, o céu é seu.

308. DEUS EXISTE

Tornou-se muito conhecido nos Estados Unidos o ateu Whitney. Encontrando-se, últimamente, num hotel de Baltimore em companhia de alguns amigos, começaram a falar de assuntos religiosos. Whitney negou impiamente a existência de Deus, e acrescentou: 'Vou provar-vos claramente que Deus não existe. Exijo que o assim chamado Todo-Poderoso me mate imediatamente; não o fará porque não existe'.

Apenas o ateu atinha pronunciado essa blasfêmia e já caiu por terra. Os amigos acudiram, mas em vão. O homem estava morto. A morte trágica desse ateu causou por toda a parte uma terrível impressão (N. Y. H., 1904).

309. NAPOLEÃO E LAPLACE

O imperador Napoleão I perguntou um dia ao ímpio astrônomo Laplace se admitia a existência de Deus. Laplace respondeu: 'Estudei e observei minuciosamente o firmamento e não encontrei Deus'. Napoleão acertadamente observou: 'Coisa estranha! Se encontro uma obra de arte, suponho um artista, e se contemplo o universo, essa obra tão maravilhosa em si e em todas as suas partes, digo a mim mesmo: Deve ser obra de um artista que é tanto mais superior que o universo, pois sobrepuja tôdas as obras-primas feitas pelos homens. Uma máquina pressupõe o engenheiro, uma casa um construtor, o relógio um relojoeiro... A simples razão nos diz isto, e não é preciso ser grande sábio para possuir um tal conhecimento'.

310. A GRATIDÃO PARA COM DEUS

A venerável Amélia de Vannes tinha o santo costume de elevar o seu espírito a Deus. Vendo um cão, por exemplo, ela fazia esta consideração: Este animal é amigo do homem; fiel e grato, acompanha-o sempre, faz-lhe festa, retribui com carícias o bom trato que se lhe dá. O homem, porém, que recebe de Deus benefícios sem conta, benefícios a cada instante - o homem, pela salvação do qual Deus deu seu Filho Unigênito, muitas vêzes se esquece de agradecer ao seu supremo benfeitor. Se toma um alimento, não se lembra de quem o deu; se se entrega ao repouso, nenhuma palavra de gratidão pelos benefícios que recebeu no decorrer do dia. O cão, o animal grato, envergonha o homem ingrato e mal agradecido.

311. AMABILIDADES ENTRE ESPOSOS

Ao falecer uma rainha da Espanha, dizia o rei: 'Com a sua morte, causou-me o primeiro desgosto após vinte e dois anos de casados'. Oxalá se pudesse dizer o mesmo de todas as esposas... e de todos os maridos!

312. PREFERIR UM ESPOSO RELIGIOSO

Aconselharam à jovem Joana Francisca de Chantal, hoje venerada sobre os altares, que se casasse com um moço muito nobre. A isso estava a santa muito inclinada quando, um dia, da janela de seu castelo, viu que aquele nobre senhor, no momento em que passou o sacerdote levando o santo Viático, não se ajoelhou. 'Não se ajoelhou' - exclamou ela indignada - 'nem sequer se descobriu. Não será jamais o meu marido'.

313. TRATO AFÁVEL ENTRE ESPOSOS

Ao grande Franklin chamou a atenção um trabalhador que sempre aparecia alegre e sorridente. Perguntou-lhe um dia: 'Por que estais sempre tão contente?' 'É porque em casa vivemos com muita paz; tenho uma esposa que vale mais do que pesa. Quando saio de casa, despede-me muito amável; quando volto, recebe-me muito alegre. Traz tudo em ordem: a casa limpa como uma taça de prata; a comida preparada, que é uma delícia. Minha mulher - eis o segredo da minha alegria'.

314. NÃO SE DEIXAR ENGANAR PELA FORMOSURA

Uma jovem, não obstante as advertências de seu pároco, obstinou-se em casar-se com um perdido. 'Senhor Vigário' - afirmava ela - 'depois de casados, eu o converterei... Êle é rico, e sobretudo é a figura mais elegante que conheço; no casamento é preciso haver também alguma coisa que entre pelos olhos'. Calou-se o vigário. Celebrou-se o casamento. Passados alguns meses, o vigário encontra-se com a recém-casada. Ela tem um dos olhos feridos e horrívelmente inchado. 'Veja, senhor vigário, o que me fez meu marido!' 'Filha' - respondeu o padre - 'não dizias que no casamento precisa haver alguma coisa que entre pelos olhos? Pois aí o tens; não te podes queixar'.

315. O QUE OS ESPÍRITAS DEVEM SABER

Em 1875, o Cardeal Bonnechése, arcebispo de Ruão (França), desejando informar-se pessoalmente acerca do espiritismo, assistiu a uma sessão espírita na residência do barão de Guldenstube. Ao iniciar-se a sessão, o cardeal colocou um crucifixo sôbre a mesa. A sagrada imagem foi imediatamente atirada ao chão, sem que se pudesse verificar por quem. 

Colocado novamente sobre a mesa, repetiu-se a mesma cena. Teve o cardeal uma prova de que os tais espíritos não são amigos nem sequer das imagens de Jesus Cristo. É isso. Nas sessões, em muitos casos atua o demônio e, em muitos outros, impera a fraude. Desculpam-se os espíritas, dizendo que são cristãos. 'É por isso mesmo que eu aborreço os invocadores de espíritos e os detesto, porque abusam do nome de Deus e o desonram; chamam-se cristãos, e fazem obras de pagãos'.

316. POR QUE ERA ATEU

Encontraram-se, certo dia, um pároco e um homem notoriamente ímpio e avarento. Na conversa com o padre, nao fêz segredo de sua impiedade e declarou abertamente que, embora respeitador das crenças alheias, nao acreditava em Deus. O vigário, tomando uma folha de papel, escreveu sobre ela a palavra 'Deus'. 
➖ O senhor está vendo esta palavra? - perguntou ao ateu.
➖ Perfeitamente - respondeu o outro. 
O pároco tirou do bolso uma moeda de dois mil réis (das antigas) e colocou-a exatamente sobre a palavra que escrevera e tornou a perguntar: 
➖Você ainda vê a palavra 'Deus'? 
➖ Agora nao a vejo, porque a moeda me impede. 
➖ Pois é isso mesmo, meu amigo, o que se está dando com a sua pessoa. Você vê só o dinheiro e por isso nao enxerga mais a Deus. O próprio Salvador disse: 'Os cuidados deste mundo e a ilusão das riquezas sufocam a palavra de Deus'.

317. OCULTARA OS PECADOS

Em Lima, capital do Peru, uma senhora tinha três criadas. Uma era cristã, convertida do paganismo. Deixou, porém, a prática da oração, tornando-se leviana e livre nos costumes. Tendo adoecido, recebeu os sacramentos com pouca devoção. Revelou, depois, às suas companheiras de serviço, que tivera o cuidado de ocultar ao sacerdote todos os pecados que cometera. 

Alarmadas, as companheiras levaram o fato ao conhecimento de sua patroa, a qual alcançou da enferma a promessa de fazer uma confissão sincera. Marta, assim se chamava ela, confessou-se de novo e morreu depois de algum tempo. Apenas exalou o último suspiro, começou o seu cadáver a espalhar um mau cheiro insuportável, de modo que tiveram de levá-lo para fora da casa. O cão, por natureza tranquilo, pôs-se a uivar lúgubremente. 

Uma das criadas, indo dormir no quarto onde Marta falecera, foi despertada por rumores espantosos; todos os móveis eram como que agitados por uma força invisível e atirados ao chão. Com a outra criada, deu-se a mesma cena espantosa. Resolveram, pois, passar juntas a noite. Ouviram, a certa altura, a voz clara e distinta de Marta, que se lhes apresentou em estado horrível e rodeada de chamas. Disse-lhes que, por ordem de Deus, vinha fazer-lhes conhecer em que estado se achava e que fôra condenada por seus pecados de impureza e por suas confissões mal feitas. E acrescentou: 'Contai a outros o que acabo de revelar-vos, para que não sejam vítimas da mesma desgraça'. A estas palavras, lançou um grito de desespero e desapareceu (Villard, V. III).

318. DUAS CLASSES DE PESSOAS

Um pároco convidou um seu paroquiano a fazer a Páscoa.
➖ Mas, senhor vigário, para que confessar-me se eu não tenho pecado?
Respondeu-lhe o padre: 
➖ Olhe, senhor; só há duas classes de pessoas que não têm pecados: os que ainda não chegaram ao uso da razão e os que já a perderam.

319. JÁ FEZ A PÁSCOA?

Um dia, indo Dom Bosco a Carignano, sentou-se ao lado do cocheiro e durante a conversa disse-lhe:
➖ Espero que o senhor já tenha feito a Páscoa.
➖ Ainda não - respondeu o bom homem; e, ademais, faz muito tempo que não me confesso. Eu gostaria de confessar-me com o padre com quem me confessei a última vez, se o encontrasse.
➖ E quem é esse padre?
➖ É Dom Bosco; não sei se o senhor o conhece; confessei-me com ele em Turim.
➖ Pois sou eu mesmo, respondeu o santo.
Fixando nele o olhar, o condutor reconheceu-o.
➖ Como farei para confessar-me agora mesmo?
➖ Dê-me as rédeas e ajoelhe-se.
E enquanto os cavalos caminhavm lentamente, o homem confessou-se com grande alegria da alma.

320. NÃO SABE CALAR-SE!

Sócrates falava muito pouco. Um indiscreto perguntou-lhe, certa ocasião, se guardava silêncio por ignorância, ao que Sócrates respondeu: 'Um ignorante não sabe calar-se!'

321. UMA SÓ BOCA

Zenão, estando em companhia de um jovem que falava demais, disse-lhe: 'Fica sabendo que temos dois ouvidos e uma só boca, para escutarmos duas vezes mais do que falamos'.

322. GUARDANDO SILÊNCIO

Alguém perguntou a Pitágoras como poderia chegar a ser seu discípulo. O filósofo respondeu: 'Guardando silêncio até que seja necessário falar; não dizendo senão o que sabeis bem; fazendo o maior bem possível e falando pouco, porque o silêncio é sinal de prudência e a tagarelice é sinal de tolice. Não vos apresseis a responder, e deixai que aquele que pergunta acabe de falar. Não faleis mal de ninguém'. Costumava condenar seus discípulos a cinco anos de silêncio.

323. ADULAÇÃO EXAGERADA

Alexandre Magno atravessava um grande rio numa barca em companhia de Aristóbulo. Este, durante a travessia, pôs-se a ler em alta voz a história do conquistador, mesclada com elogios de uma adulação exagerada. Alexandre tomou o livro e atirou-o ao rio, dizendo que o autor merecia a mesma sorte, por ser mais culpado que os seus escritos.

324. NÃO RESPONDEREI

Um dia estava Metelo a falar mal de Tácito, que, ouvindo-o, disse-lhe: 'Podes falar como te aprouver, porque eu não responderei. Se aprendeste a falar mal, eu aprendi a desprezar a maledicência'.

325. DIANTE DE UM QUIOSQUE

Regressava Dom Bosco ao oratório numa tarde de 1851. Ao passar diante de um quiosque, parou para olhar os livros. O vendedor então lhe disse:
➖ Esses livros não servem para o senhor porque são todos protestantes.
➖ Estou vendo - disse-lhe o santo - mas, na hora da morte, estará o senhor tranquilo, depois de haver vendido tais livros e haver propagado o erro?

Ditas estas palavras, saudou-o e retirou-se. O vendedor perguntou quem era aquele sacerdote e, ao saber que era Dom Bosco, tratou de conversar com ele. Em seguida, levou-lhe todos os livros para serem queimados e, dali em diante, seguiu sempre o bom caminho.

326. DOIS ANÉIS

Santo Edmundo de Cantuária, ao terminar seus estudos, consultou sobre a sua vocação a um doutor da Universidade de Oxford, célebre por sua ciência e piedade. Este, conhecedor da virtude de seu discípulo, aconselhou-o a consagrar-se a Deus com o voto de castidade perpétua. Edmundo mandou então confeccionar dois anéis, gravando nêles as palavras: 'Ave Maria'; em seguida, diante da imagem de Maria pronunciou o seu voto e, tomando os anéis, colocou um no dedo da estátua da Virgem e outro em seu dedo, manifestando que não queria outra esposa senão Maria Santíssima. Toda a sua vida conservou o anel como lembrança do seu juramento.

327. TERRÍVEL TESTAMENTO

Uma jovem, pouco antes de morrer, escreveu: 'Tenho 18 anos; sou a criatura mais desgraçada e, por isso, vou morrer. Aos 15 anos eu era inocente. Maldito o dia em que meu tio me abriu a biblioteca e me disse: 'Leia!' Melhor fôra que, dando-me um punhal, me dissesse: 'Mate-se!' Eu não teria percorrido o caminho da desgraça'.

328. TERRÍVEL CASTIGO

O imperador Leão IV retirou da catedral de Constantinopla uma coroa de ouro adornada com brilhantes que o imperador Heráclito dera àquela igreja. Apenas a pôs na cabeça, cobriu-se de pústulas e chagas repugnantes. Três dias depois morria no meio de atrozes sofrimentos, recebendo assim o castigo de seu roubo sacrílego.

329. UMA COROA DE OURO E DIAMANTES

Na igreja de Poli, próxima de Roma, venera-se uma imagem maravilhosa de Nossa Senhora. Possui muitas jóias e uma coroa de ouro e diamantes que custou 25 mil liras e que foi doada pelo papa Pio IX. Um ladrão entrou, na noite de 23 de dezembro de 1911, para roubar as jóias e as pedras preciosas. Para conseguir o seu intento sacrílego, subiu ao pedestal da imagem, o qual cedeu e caíram ambos pesadamente ao solo, ficando o ladrão sacrílego esmagado pela estátua. Encontraram-no morto na manhã seguinte.

330. ACHO-O ENCANTADOR

Duas damas num teatro assistiram à atuação de um afamado ator. Uma delas disse à outra:
➖ Não sei como podem aplaudir tanto esse homem repugnante. Não acho graça no seu modo de trajar.
➖ Eu, ao contrário, acho-o encantador - respondeu a outra.
➖ Será possível?
➖ Certamente, porque é meu marido.
A primeira corou de vergonha e não se atreveu a dizer nem uma palavra a mais.

331. COISAS PIORES

São Vicente de Paulo fôra caluniado e Ana de Áustria, rainha de França, lhe disse:
➖ Sabe, padre, que coisa dizem do senhor?
➖ Senhora - respondeu o santo - sou um pobre pecador.
➖ Mas é preciso que se defenda - replicou a rainha.
Mas Vicente, sem perder a calma, argumentou:
➖ Senhora, coisas piores disseram contra Nosso Senhor e Ele se calou!

332. CINCO FRANCOS

general Dasmene, ferido mortalmente em 1848 pela bala de um rebelde, antes de morrer entregou à Irmã de Caridade, que o tratava, cinco francos, dizendo-lhe: 
➖ Irmã, peço-lhe que mande celebrar duas missas, sendo uma por mim e outra por quem me assassinou.

333. PERDOAR

duque de Guise, grande defensor da religião católica, estava sendo espreitado por um protestante que o queria matar. Quando soube disso o duque chamou-o e lhe disse:
➖ Fiz alguma coisa contra você?
➖ Não senhor - respondeu o protestante.
➖ Quem o induziu então a atentar contra a minha vida?
➖ Ninguém; somente queria defender os direitos de minha seita, matando o seu maior inimigo.
➖ Se a tua religião - disse o duque - mandar matar aluém, a católica manda perdoar. Eu te perdoo. Julga portanto qual delas é a verdadeira.

334. NOVELAS SENSACIONAIS

O tribunal de Colônia condenou, em 1908, um rapaz de 16 anos a 12 anos de prisão, por ter matado um menino de 9 anos. O rapaz, leitor assíduo de novelas de bandidos, quis imitar os protagonistas; e, para isso, amarrou o menino a uma árvore e deu-lhe uma morte como havia lidos nos livros.

335. UMA FAMÍLIA DE HOMICIDAS

Certa vez, o senhor Barat do Alto Loire (França) exigira que os seus filhos não fossem à missa nem ao catecismo e que odiassem os padres. Dizia a eles:
➖ Deixo-vos livres e podeis fazer o que quiserdes; mas, se vos encontrar rezando, eu vos mato.
Os seis filhos aprenderam a lição. Cinco morreram guilhotinados; e o último, porque seus pais lhe negaram dois francos para seu vícios, matou-os cinicamente.

336. DEVO ESCOLHER AS ARMAS

padre Fidélis, franciscano, dirigia-se a uma igreja de Paris para celebrar a santa Missa. Passando em frente de um café, um oficial o insultou. O padre parou e disse:
➖ O senhor me insultou e eu exijo satisfação e, como ofendido, tenho direito de escolher as armas. Escolho a confissão e espero-o esta noite.
E retirou-se, deixando as senhas. O oficial, homem honrado, não faltou; confessou-se devotamente e comungou no dia seguinte.

337. OFÍCIO DO DIABO

Santo Ambrósio encontrou à porta da Igreja uma jovem vestida com vaidade e imodéstia. Perguntou-lhe aonde ia.
➖ À igreja, para rezar - respondeu ela.
➖ Vestida dessa maneira? Não vais rezar, mas escandalizar os fíéis, fazer o ofício do diabo, isso sim. Fora daqui, escandalosa! Retira-te para tua casa para chorar os teus pecados!

338. É DEMASIADO PARA UMA CRISTÃ

Santo Elói, vendo um dia a rainha Batilde, esposa de Clodomiro II, vestida com magnificência exagerada, fez-lhe alguma observação.
➖ Meu padre - disse a rainha - isto não é demais para uma rainha.
➖ Para uma rainha, não - replicou o santo - mas, para uma cristã, é demais.
Batilde aproveitou bem a lição e chegou a ser santa.

339. O CRUCIFIXO NUM ESPELHO

Uma jovem demorava-se com frequência a contemplar-se com vaidade num espelho. Em vésperas de casar-se, ataviada para a cerimônia, admirava-se vaidosamente no espelho. De repente, em lugar de sua figura, viu nele Jesus Crucificado, coberto de chagas, derramando sangue. Tal foi a sua impressão que caiu desfalecida. 

Voltando a si, pediu perdão a Deus, prometendo mudar de vida. Jesus, na visão, ordenou-lhe que fosse para Roma e ali fundasse uma Ordem destinada à adoração perpétua do Santíssimo Sacramento. Essa jovem foi, mais tarde, Santa Madalena da Encarnação.

340. CAÍRAM AS ARMAS

Ninguém ignora o nome e os feitos de Napoleão Bonaparte. Políticamente foi um grande inimigo da Igreja e do Papa, a quem perseguiu de diversos modos. Ameaçado com a pena de excomunhão, vangloriava-se de que 'as excomunhões do Papa não fariam cair as armas das mãos dos meus soldados'.

Pouco tempo depois, na campanha da Rússia, as armas caíam das mãos de seus soldados vencidos pelo frio; e na batalha de Waterloo, pelo pânico. Destronado e desterrado, o grande imperador terminou sua vida como triste prisioneiro em Santa Helena, pois quem luta contra Deus será vencido.

341. O SENHOR MESMO O VERÁ

Um capelão da Escola Militar de Saint Cyr acabava de pregar sobre o inferno, quando um capitão ironicamente o interrogou:
➖ Padre, no inferno seremos assados, fritos ou cozidos?
➖ Capitão, o senhor mesmo o verá quando lá estiver.
O capitão riu-se da resposta, mas aquelas palavras não lhe davam sossego. Lutou cinco anos contra a sua incredulidade, mas por fim converteu-se.

342. CASTIGO DA IRA

Após a grande guerra, emigrou para a América um homem de Neusadeuz, na Galícia. Passados alguns anos sua esposa, que o tinha dado por morto, recebeu uma carta do ausente. Aberto o envelope, encontrou apenas o retrato e a assinatura do marido. Desenganada por não encontrar o que esperava, atirou ao fogo a fotografia. No dia seguinte recebeu outra carta do marido, avisando que, no quadro da fotografia, ela encontraria escondidos seiscentos dólares, auxílio que lhe enviava. Foi tamanha a tristeza daquela mulher, vítima de seu mau gênio, que logo depois faleceu.

343. AMOR AOS INIMIGOS

O arcebispo de Paris, Mons. Darboy foi preso e injustamente condenado a ser fuzilado pelos revolucionários de 1870. Enquanto aqueles desumanos lhe apontavam contra o peito os fuzis, gritou: 'Meus filhos, esperai um momento, que pela última vez vou dar-vos a bênção pastoral'. Ainda estava dando a bênção, quando uma descarga prostrou por terra o bondoso arcebispo.

344. BATISMO DE SANGUE

Santa Emerenciana, ainda catecúmena (portanto, ainda não batizada), ia orar junto ao sepulcro de Santa Inês. Ali a encontraram os pagãos e a mataram a pedradas. Pelo batismo de sangue, voou para o céu e a Igreja a venera como mártir, isto é, como santa.

345. QUANDO MUDARÁS DE VIDA?

São Tomás Moro disse muitas vezes a um libertino: 'Muda de vida, que já é tempo!', ao que o outro respondia: 'Não temas, amigo, em caso de morte repentina, tenho esta jaculatória: Perdão, Senhor!'

Uma vez, ao passar a cavalo sobre a ponte do rio Tâmisa, o cavalo empacou e atirou o infeliz ao rio, onde, não sabendo nadar, pereceu afogado. Os amigos, que o acompanhavam, ouviram-lhe as últimas palavras, que, por certo, não eram uma jaculatória, mas uma blasfêmia. Dirigindo-se ao cavalo disse: 'Que o diabo te carregue a ti e a mim!'

Com Deus não se brinca impunemente, diz São Paulo. Por isso é temerário pretender receber na hora da morte aquela graça que agora repeles e desprezas.

346. A GLÓRIA VÃ DESTE MUNDO

Napoleão, para conquistar um reino, sofreu frio, cansaço, sono e expôs-se muitas vezes aos perigos da guerra. Seu reinado foi como um meteoro de um instante e ele morria derramando lágrimas de desengano, na ilha de Santa Helena, no meio do mar.

César, suspirando pelo império de Roma, combateu árduas batalhas nas Gálias e apenas alcançou o umbral do sonhado império, caiu apunhalado aos pés da estátua de Pompeu.

Alexandre combateu com uma força de vontade jamais vista na terra; e quando conseguiu o domínio do mundo, colheu-o a morte e, sem ele, esfacelou-se o seu império.

Ora, se os filhos do século sabem sofrer indizíveis tormentos, superar terríveis dificuldades para alcançar o reino de um dia; por que os filhos da luz não hão de saber suportar pequenos sofrimentos, combater as paixões e repelir a lisonja do mundo para conquistar um reino eterno de felicidade?

347. EIS AQUI OS MEUS TESOUROS

Quando levavam à morte o diácono São Lourenço, os soldados, sendo informados de que ele era o tesoureiro do bispo, começaram a maltratá-lo para que lhes contasse onde havia escondido os tesouros. O santo diácono mandou chamar os pobres, com os quais repartira todos os bens, e disse aos soldados: 'Eis aqui os meus tesouros'. Tinha razão, porque tudo o que se dá aos pobres, se converte em tesouros para a eternidade.

348. A VERDADEIRA CARIDADE

Qualquer amor não é caridade. Amor de caridade era aquele de Santa Joana de Chantal, que curava os enfermos, levava-os à sua casa e beijava-lhes as chagas. 'Mas o que fazes?' - perguntaram-lhe um dia. 'Beijo as chagas de Jesus'. Se alguém ama a uma pessoa, porque é rica e poderosa ou porque é capaz de socorrê-lo e protegê-lo, o seu amor não é caridade; é interesse. Caridade é amar ao próximo como a si mesmo por amor de Deus.

349. PEDIR A VOCAÇÃO PARA OS FILHOS

Os pais podem pedir a Deus a vocação para os seus filhos. Durante trinta anos rezava uma mãe de família para que Deus concedesse aos seus filhos a vocação religiosa, e Deus a ouviu. Teve cinco filhas freiras e seis filhos padres, dentre os quais dois arcebispos e um cardeal, o célebre Vaughan, falecido em 1903.

350. O PADRE NÃO SE CASA

Um rei da Escócia, antepassado da dinastia Stuart, tinha grande admiração por São Columbano, e chegou a oferecer-lhe sua própria filha em matrimônio.

Agradeceu-lhe o santo a distinção, porém não a aceitou. Admirou-se o rei de que fosse rejeitada a sua filha, famosa por sua formosura e distinção; mas o santo respondeu-lhe que preferia dedicar toda a vida como sacerdote de Cristo, e o sacerdote renuncia a formar família própria, para poder constituir uma grande família espiritual com todos os fiéis.

351. MÃES BOAS, FILHOS SANTOS

Vão aqui alguns exemplos mais conhecidos: Santo Agostinho, filho de Santa Mônica; São João Crisóstomo, filho de Santa Antusa; São Gregório Magno, filho de Santa Silvia; São Basílio, São Gregório Nisseno, São Pedro de Sebaste e Santa Macrina, filhos de Santa Emélia; São Bento, filho de Santa Nona; São Bernardo, filho de Santa Alata; São Domingos de Gusmão, filho de Santa Joana de Aza; Santa Catarina de Suécia, filha de Santa Brígida...

352. VIRTUDE DA ÁGUA BENTA

Evélia, nobre dama de Antioquia, recorreu a São João Crisóstomo, pedindo-lhe que rogasse por um filho seu enfermo, o último que lhe restava de quatro que tivera. Foi o santo à casa daquela senhora, deu uma benção ao enfermo e aspergiu-o com água benta. A graça da cura não se fez esperar.

353. AS VELAS NO DIA DE SÃO BRÁS

São Brás primeiro foi médico e depois bispo. Certo dia apresentou-se-lhe uma mulher com um menino que tinha uma espinha de peixe atravessada na garganta e que se achava em perigo de vida. O santo colocou sobre o pescoço do menino duas velas em forma de cruz e deu-lhe uma benção. Saltou fora a espinha e o menino salvou-se. Em memória desse fato benzem-se, na festa de São Brás, velas apropriadas para nos preservar da dor de garganta e do engasgo.

354. VIRTUDE DA MEDALHA MILAGROSA

Um rapaz de vida selvagem e escandalosa, em abril de 1904, entrou no hospital de Lérida ferido por duas punhaladas. Seu nome era Libório Menasil, mais conhecido pela alcunha de 'o demônio'. No hospital blasfemava continuamente, insultava as Irmãs e escandalizava a todos; quis mesmo agredir a Irmã porque esta lhe falou de Deus. Apesar de tudo, puseram-lhe dissimuladamente uma medalha milagrosa debaixo do travesseiro e começaram a orar por ele na capela. Pouco depois 'o demônio' pedia um sacerdote, confessava-se com grande arrependimento e pedia a todos perdão pelos escândalos dados.

355. POR QUE ME CONDENASTE?

Um santo teve uma visão, na qual viu como Satanás, de pé diante de Deus, dizia-lhe: 'Por que me condenaste por um só pecado que cometi, e ao contrário salvas a tantos que te ofenderam milhares de vezes?'
E Deus respondeu: 'Porque o homem me pede perdão e tu, nunca. O homem se confessa e tu, não'.

356. A CONFISSÃO DÁ-NOS A PAZ

A condessa Hahn-Hahn percorreu muitos países, visitando cidades, museus, teatros, para ver se encontrava a tranquilidade que desejava. Foi tudo inútil. Por fim, um dia entrou numa igreja e confessou-se, declarando o pecado que como enorme pedra lhe oprimia o coração. A confissão deu-lhe a paz e a tranquilidade que em vão buscara em suas viagens.

357. ELE ERA DESCENDENTE DE MACACO

A senhora Brossard, anciã rica e piedosa, tinha só um parente, o senhor Aumaitre, grande propagandista do darwinismo. Ao morrer aquela senhora, o senhor darwinista não faltou aos funerais da parenta rica, cuja fortuna esperava.

No dia seguinte apresentou-se em casa do tabelião, que leu para ele o testamento da defunta, redigido na seguinte forma: 'Deixo tudo ao Hospital. Acreditava ter um parente, Luis Aumaitre, a quem deixaria minha fortuna. Ele me fez saber, entretanto, que descende do macaco; ora eu sei que nem meus pais, nem meus avós e nenhum outro membro de minha família descendem de macacos; portanto, não podemos ser parentes'.

358. MODÉSTIA DE UM PRÍNCIPE

Um missionário convertera um príncipe de certo país do Oriente. Tendo, em seguida, de assistir a uma função na igreja, indicaram-lhe um genuflexório preparado especialmente para ele. O príncipe negou-se a ocupá-lo, dizendo: 'Fora da igreja poderei ser um príncipe real; mas aqui não sou mais que um pecador'. E foi colocar-se no meio dos simples fieis.

359. A MISSA OBTÉM GRAÇAS

João Sobieski, antes de dar combate aos turcos, mandou celebrar a santa missa com seu exército formado em ordem de batalha, e quis acompanhá-la ele mesmo com os braços em cruz. Preparado com a santa missa, atacou os turcos e ganhou a memorável batalha de Viena, que a História imortalizou.

360. OUVIA A MISSA DE JOELHOS

A imperatriz Eleonora, esposa de Leopoldo I, ouvia sempre a santa missa de joelhos. Dissseram-lhe que se assentasse ao menos durante a prática; mas ela respondeu: 'Se meus cortesãos não se atrevem a sentar-se em minha presença, apesar de ser eu uma pobre pecadora, hei de atrever-me a assentar-me diante de Deus?'

361. É PREFERÍVEL A MISSA

Henrique III, rei da Inglaterra, ouvia duas ou três missas por dia. Quando um cortesão lhe disse que, a seu juízo, era preferível ouvir sermões, replicou o rei: 'Ouvir sermões é muito bom; mas eu prefiro ver o amigo a ouvir falar dele, por muito que o louvem'.

362. O SEGREDO DA CONFISSÃO

Um sacerdote renegado, excomungado e apóstata, anunciou que, no Teatro Lírico de Santiago do Chile, revelaria os mais interessantes segredos de confissão dos tempos de seu sagrado ministério. Era 18 de maio de 1905. No momento exato em que o desgraçado ia abrir a boca para começar a falar, desabaram estrepitosamente as galerias do teatro, ficando sepultadas debaixo de suas ruínas 600 pessoas. Assim Deus o castigou, não permitindo que se violasse o segredo da Confissão.

363. SE NÃO BLASFEMARES, DOU-TE UMA MOEDA

Um soldado blasfemador dizia que não se corrigia por não poder. Disse-lhe um dia um cavalheiro: 'Se hoje não blasfemares, dou-te uma moeda de ouro'. O soldado, naquele dia, percorreu a caserna, falou, discutiu com os outros soldados, mas não deixou escapar nem uma só blasfêmia. Deu-lhe o cavalheiro a moeda, mas fez-lhe notar que se não se corrigia era porque não queria, mas porque não fazia propósito eficaz; pois, se podia abster-se de blasfemar por uma moeda, muito mais devia abster-se para ganhar o céu. E com esta lição emendou-se aquele soldado.

364. PEQUENOS EXEMPLOS

Em 1763, o general Marquês de Broc inspecionava o regimento do conde de Provença. Perguntou a um cabo do regimento: 'Camarada, como começas o seu dia? 'Meu general, começo rezando as minhas orações'. 'Basta, o próximo. Um soldado que começa o dia assim, seguramente cumprirá seu dever'.

A. Um certo bispo visitava um hospital militar. Aproximando-se de um soldado, recomendou-lhe que não deixasse de rezar pela manhã e à noite. Respondeu-lhe: 'Senhor, eu rezo todas as manhãs e todas as noites, mas à moda militar, brevemente'. 'E como rezas? 'Assim: de manhã, ao despertar, digo: Meu Deus, teu servo se levanta, tem compaixão dele. E ao deitar-me, digo: Meu Deus, teu servo se deita, tem compaixão dele'. 'Bravo! Magnífico!'

B. Nos terremotos de 1906 em São Francisco (Califórnia), enquanto todos corriam como loucos de um lugar para outro, as Irmãs do Sagrado Coração de Jesus, da rua Franklin, com sua superiora Madre Germana, refugiaram-se a orar na capela e rezavam a ladainha do Coração de Jesus, entre os gritos de espanto da multidão. Num instante um mar de fogo e fumo cercou todo o convento; mas, acalmado o incêndio, entre as ruínas dos arredores apareceu o convento intacto, sem sequer ter queimado uma persiana.

C. Um homem casado, mas muito desordeiro, que por conselho de sua esposa rezava sempre uma Ave-Maria, viu que o Menino Jesus estava coberto de chagas e lhe virava as costas. Compreendeu que eram seus pecados e pediu perdão, e rogou a Nossa Senhora que intercedesse por ele. Assim o fez Nossa Senhora, mas o Menino recusava-se a perdoar. Pareceu-lhe então que a Virgem pôs-se de joelhos diante do Filho. Este comoveu-se, perdoou, mas exigiu que o pecador lhe beijasse as chagas, e estas, à medida que eram beijadas, desapareciam. Aquele esposo mudou de vida e tornou-se um cristão fervoroso.

D. Era na Alemanha. Um capelão não conseguia converter um condenado que ia ser enforcado. Por fim, isse-lhe: Reze comigo ao menos uma Ave-Maria. Ele a rezou e, banhado em lágrimas, confessou-se e morreu bem.

E. 'A missa é tão longa!' - dizia alguém ao bispo de AmiensMons. de la Motte. 'Que vergonha!' - respondeu o prelado - 'um filho se cansa de estar com o seu pai; um homem se cansa de estar com o seu Deus!'

F. Carlos XII, rei da Suécia, embriagou-se e fez um insulto à sua mãe. Esta retirou-se e, no outro dia, não se apresentou ao filho. Carlos, ao saber da causa, tomou um copo de vinho e, apresentando-se à rainha, disse: 'Senhora, sei que ontem vos insultei; perdoai-me. Bebo este vinho à vossa saúde'. Em seguida, quebrou o copo e acrescentou: 'Este é o último copo de vinho que bebo em minha vida'. E cumpriu a palavra.

G. Henrique VIII, rei católico, para casar-se com Ana Bolena (posto que já era casado com outra), abjurou a religião católica e tornou-se um rei perseguidor e sanguinário. Imolou 2 cardeais, 13 abades, 18 bispos, 50 doutores, 200 padres, 360 senhores e mais de 72.000 vítimas. Ao morrer dizia: 'Desgraçado de mim! Não perdoei durante minha vida nem a um homem em minha cólera, nem a uma mulher em minha sensualidade, e morro execrado dos homens e amaldiçoado de Deus'.

H. São Medardo possuía uma novilha, que trazia ao pescoço um cincerro. Um dia um amigo do alheio roubou-lhe a novilha. O cincerro começou a soar; o ladrão encheu-o de palha, e soava; tirou-o do pescoço da vaca e meteu-o num balaio, e este continuava a tinir; enterrou-o, e mesmo assim continuava a tinir. Cheio de terror, devorado pelo remorso, aquele ladrão confessou a sua culpa, entregando a novilha ao seu legítimo dono.

I. Um rapaz foi condenado à morte. Estava preso e naquele dia seria executado. Sua mãe foi visitá-lo, mas ele a repeliu e não a quis receber, dizendo: 'A senhora tem a culpa. Se, quando eu fazia pequenos furtos, me tivesse castigado, eu não estaria aqui. A senhora, uma má mãe, aprovou aqueles furtos pelo que agora estou condenado'.

J.  Washington, um dos mais célebres presidentes dos Estados Unidos, era um menino travesso. Um dia, deu uma machadada numa cerejeira, que seu pai estimava muito e a arvorezinha secou. Perguntou o pai tal fato aos criados. O menino, a essa altura, apresentou-se ao pai e disse: 'Pai, eu não devo mentir: fui eu'. E o pai: 'Muito mais estimo a tua sinceridade que todas as cerejeiras do mundo. Perdoo-te, uma vez que disseste a verdade'.

K. O médico Hipócrates, que chegou à idade de 140 anos, dizia: 'Nunca comi até ficar farto'. São Francisco de Paula chegou aos 91 e Santo Afonso também; Santo Hilário chegou aos 104 e, como eles, muitos outros jejuadores chegaram a idades avançadas.

L. Um santo bispo mandou por em seu epitáfio estas palavras: 'Lembrai-vos de santificar o dia do Senhor'. O santo bispo de PoitiersMgr. Pie, dizia: 'Quisera que na sepultura de todos os nossos diocesanos se pudesse pôr êste epitáfio: Êste homem descansou todos os domingos, e os santificou'. O santo cura de Ars dizia: 'O domingo é dia de Deus... Conheço dois meios de empobrecer: trabalhar aos domingos e roubar'.

M. Alguém perguntou ao sábio Diógenes que deveria fazer para vingar-se de um inimigo. Diógenes respondeu: 'Seja mais virtuoso que ele'.

365. SAVONAROLA E O CARNAVAL

Conta-se que, em represália aos excessos do carnaval florentino, organizou Savonarola em 1496 uma procissão de 10.000 jovens, que desfilou pelas ruas principais da cidade cantando hinos religiosos de penitência. Chegando a uma praça, onde se erguera uma grande pirâmide de livros maus, recolhidos com antecedência, a um sinal dado, deitaram-lhes fogo. Ao mesmo tempo soaram as trombetas da Signoria, repicaram os sinos da Igreja de São Marcos e a multidão prorrompeu em aclamações. Encerrou-se a função com uma missa solene no meio da praça, onde fôra erguido um grande Crucifixo.

366. O MELHOR CARNAVAL

Um oficial espanhol viu um dia São Pedro Claver com um grande saco às costas.
➖ Padre, aonde vai com esse saco?
➖ Vou fazer carnaval; pois não é tempo de festança?
O oficial quis ver isso de perto e o acompanhou.
O santo entrou em um hospital. Os doentes alvoroçaram-se e lhe fizeram festa; muitos o rodearam, porque o santo, passando com eles uma hora alegre, repartiu presentes e regalos até que se esvaziasse completamente o saco.
➖ E agora? - perguntou o oficial.
➖ Agora venha comigo e vamos à igreja rezar por esses infelizes que, lá fora, julgam que têm o direito de ofender a Deus livremente por ser tempo de carnaval.

367. PROFANAÇÃO DAS FESTAS RELIGIOSAS

Diz uma lenda que certo dia os demônios se reuniram em congresso para estudar o melhor meio de cancelar do calendário os dias festivos. 'Os dias santos' - diziam eles - 'são um desastre para nós: nesses dias honra-se a Deus, celebra-se a missa pela remissão dos pecados e muitos dos que conquistamos durante a semana escapam de nossas mãos! E' preciso acabar com as festas religiosas!'

Mas, hoje em dia, creio que, se Deus mesmo quisesse abolir as festas, os demônios se reuniriam num segundo congresso para protestar contra essa medida e diriam: 'Não, não; deixai como está; os dias festivos são para nós os de maior negócio; preferimos que multipliqueis os dias festivos, porque assim lucraremos muito mais!'

Acautela-te, meu irmão; não entres na fila desses profanadores dos domingos e dias santos, que nada mais são do que sequazes do demônio!

368. EIS O LIVRO

São Boaventura recebeu um dia a visita de São Tomás de Aquino, o qual lhe manifestou o desejo de conhecer a biblioteca onde adquirira tantos e tão sublimes conhecimentos. São Boaventura, em lugar da biblioteca, mostrou-lhe o seu Crucifixo, gasto pelos ósculos e lágrimas com que o inundava. Aquele era o seu livro de meditações; dele haurira a ciência que possuía.

369. VAI E ENTERRA-O!

Dois mendigos, que com falsos remendos fingiam necessidade, sabendo que por ali ia passar o bispo São Epifânio, para conseguir dele uma gorda esmola, usaram do seguinte ardil. Um se fingiu de morto e o outro começou a lamentar-se pedindo dinheiro ao santo para a mortalha e o enterro. 

O santo parou, fez  uma oração e, tendo-lhe dado o que pedia, prosseguiu o seu caminho. 'Pregamos-lhe uma boa peça! Levanta-te'. Mas, que levantar que nada! O homem morrera deveras. Aflito, correu o outro atrás do santo e confessou-lhe o seu pecado, pedindo misericórdia. Mas o santo bispo, muito sério e grave, disse-lhe: 'Com Deus não se brinca. Essa é a recompensa dos mentirosos. Agora vai e enterra-o!'.

370. AONDE VAIS?

O venerável Padre José de Anchieta, fundador da cidade de São Paulo e grande missionário, viu um dia um homem, que saía precipitadamente para ir matar um inimigo seu.
➖ Aonde vais? - perguntou-lhe o servo de Deus.
➖ Vou dar um passeio, padre.
➖ Não, meu amigo; vais lançar-te no inferno, como bem o prova o punhal que levas aí escondido.
Vendo-se descoberto, o homem se arrependeu e desistiu imediatamente do seu mau intento.

371. ENORME PERDA

Nero, antes de ser imperador, numa noite de jogo perdeu um milhão de sestércios. Sua mãe mandou por sobre uma mesa uma quantia igual em moedas e disse-lhe: 'Vê o que perdeste, o que te custou uma só noite de jogo!' Ao ver aquilo, Nero concebeu grande horror àquela espécie de jogo.

372. A MÃO COM QUE JURARA

Rodolfo da Suécia jurara fidelidade ao imperador Henrique IV. Rebelou-se, violando o seu juramento, e na batalha de Merseburgo sofreu a amputação da mão direita por parte de Godofredo de Bouillon. Rodolfo, agonizando, contemplava a mão truncada e exclamou: 'E' a mão com que eu tinha jurado fidelidade ao meu imperador!'

373. MARTÍRIO DE SÃO CANUTO

São Canuto, rei da Dinamarca, ordenara que em seu reino se pagasse o dízimo à Igreja, como era de justiça. Um tal Blancon excitou o povo, o qual, indignado contra o soberano, deu-lhe morte cruel. Deus enviou sobre a Dinamarca uma terrível carestia, enquanto que nos povos vizinhos havia abundância de tudo. Êsse castigo não cessou enquanto o povo não reconheceu o seu crime e pediu perdão a Deus.

374. NÃO MURMURAR

Santo Agostinho não admitia que, em sua presença, se murmurasse ou ofendesse a honra do próximo. Razão por que mandou por sobre a sua mesa esta inscrição: 'A esta mesa não se assente quem fala mal do ausente'.

375. NÃO TINHA O NECESSÁRIO

Apresentou-se ao missionário um velho chinês, que lhe pediu que mandasse construir uma igreja em sua vila. Respondeu-lhe o missionário que não era possível por não dispor dos meios necessários.
➖ Eu vos ajudarei - disse o chinês.
➖ Sim; mas seriam necessários cerca de dois mil escudos - respondeu o missionário ao ver a aparência tão pobre de seu interlocutor.
➖Eu os tenho e estão à vossa disposição - disse o velho - porque há quarenta anos que penso na necessidade de uma igreja e, gastando apenas o necessário, para comer e vestir, consegui economizar essa soma. Um belíssimo exemplo de um pagão convertido.

376. COMO RECEBIA AS INJÚRIAS

Santa Joana de Orvieto suportava com indizível alegria todas as injúrias de que era alvo. Tinha o costume de rezar duzentas vezes a oração dominical por aqueles que lhe haviam feito mal. Suas amigas diziam: 'Se alguém deseja obter as orações de Joana, basta cobri-la de injúrias'.

377. ULTRAJE CASTIGADO

doutor Favas narrou a Luís Veuillot o seguinte: 'Um dia apresentou-se a mim um indivíduo com uma chaga na perna direita, causada por uma bala de fuzil. A ferida era de um caráter todo especial. Depois de deixar-se examinar, disse-me o paciente em tom resoluto e seguro:
➖ Senhor doutor, todo o remédio será inútil: esta chaga me acompanhará até à sepultura.
➖ Por que? - perguntei-lhe.
➖ Pela seguinte razão: 'Em 1793, o meu regimento recebeu ordem de participar da campanha da Espanha. Tendo transposto os Pirineus, encontramo-nos numa pequena aldeia. Eu estava em companhia de outros dois soldados, Francisco e Tomás; tínhamos as idéias daqueles tempos, isto é, éramos incrédulos, ou melhor, ímpios, como era a moda então. Tomás, vendo uma estátua de Nossa Senhora sobre a porta de uma casa, disse: 'Vejamos quem acerta primeiro aquele infame objeto de superstição'. Disparou então e a bala atingiu a estátua na fronte. Francisco, por sua vez, apontou o fuzil e atingiu a estátua no peito. Eu não queria seguir o exemplo dos companheiros: lembrava-me de minha mãe, que era muito religiosa; não pude, porém, resistir às zombarias dos companheiros: tremendo, encostei o fuzil ao ombro, fechei os olhos quase involuntariamente e atingi a estátua...
➖ Na perna? indaguei.
➖ Sim, exatamente onde recebi esta ferida. Uma senhora idosa que nos observava exclamou: 'Os senhores vão à guerra, e o que acabam de fazer não lhes trará felicidade!' E a profecia realizou-se. Tomás foi o primeiro ferido, e precisamente na testa, como ele ferira a estátua.
Reconhecemos logo que era uma lição do céu. No outro dia bem cedo, Francisco, prevendo o que ia acontecer, apertou-me a mão e disse-me: 'Hoje é a minha vez!' E não se enganou. Meu Deus! Não me esquecerei nunca do que vi. Uma bala atravessou-lhe o peito de um lado ao outro. Ele rolava no pó, chamando um padre que, naquele momento, era impossível encontrar. 
Eu não tinha mais dúvida, e esperava o que ia me acontecer. Realmente: fui ferido na perna; aí está o meu caso. Não sararei nunca, mas dou graças a Deus e a Nossa Senhora que me concederam tempo para reparar o mal que fiz.

378. O CASTIGO NÃO SE FEZ ESPERAR

Em 1931, na festa de Corpus Christi, o bispo de Nantes (França), por causa do mau tempo, suspendeu a procissão do Santíssimo Sacramento. No dia seguinte, os jornais socialistas e maçônicos de Nantes zombavam da decisão do prelado. 'O que faz o vosso Deus?' (escrevia um deles em tom de desprezo). 'Nós nos rimos dele. No próximo domingo, 7 de junho, organizamos uma excursão a Saint-Nazaire pelo vapor Saint Philibert. Vereis como tudo correrá bem, apesar de que todos os excursionistas perderão a missa para participar do cruzeiro'.

Chegou o domingo 7 de junho. Eram 600 os passageiros que bem cedo embarcaram no vapor. O Saint Phiiibert desceu bem o Loire, chegou a Saint-Nazaire e depois saiu do estuário e entrou no Atlântico para um breve giro ao largo. De repente formou-se um denso nevoeiro; não se via nem se ouvia nada a dez metros de distância. Não demorou muito a catástrofe: um choque tremendo com um poderoso transatlântico, que partiu ao meio o pequeno vapor francês. Após dois minutos de gritos de terror, um silêncio de morte. O Saint Philibert submergiu no oceano para sempre. 499 excursionistas desapareceram nas ondas; quatro enlouqueceram; os outros foram salvos com dificuldade por outro vapor; o capitão, desesperado, deixou-se afundar com seu navio. Assim respondia Deus à provocação dos míseros homenzinhos da seita.

379. HEROÍNA CHINESA

Maria Lute, presidente da Congregação Mariana das moças de Wu-hu, na China, apesar de recebida na religião há apenas dois anos, distinguia-se por sua modéstia e fervor. Todos os professores de certa escola católica bandearam-se para a igreja cismática, organizada pelos comunistas, exceto Maria. No dia 12 de maio, véspera de Pentecostes, enfrentou o tribunal popular, permanecendo firme na fé, sem que a pudessem de modo algum seduzir ou amedrontar. Até os professores, seus colegas, a injuriavam. Antes que lhe atassem as mãos, escreveu em um bilhetinho: 'Eu sou chinesa e, como tal, amo a minha pátria. Eu sou cristã e, assim sendo, amo a Deus, a lgreja, o Santo Padre e os missionários'. Enquanto o povo estendia o punho, exclamando: 'Matem-na! Matem-na!' - Maria olhava para todos com grande serenidade até que a arremessaram na  prisão.

380. RESPEITO HUMANO CASTIGADO

O respeito humano é uma vileza e uma escravidão. Eusébio, pai de Constantino Magno, passava em revista os seus soldados. Parado no meio do campo, exclamou:
➖ Os que forem cristãos venham para a minha direita.
Alguns tremeram, pois sabiam que Eusébio era idólatra. Eusébio por sua vez sabia que muitos dos seus soldados eram cristãos. Alguns valentes, com passo resoluto, puseram-se à sua direita, exclamando:
➖ Nós somos cristãos.
O imperador olhou para eles com firmeza e disse:
➖ Sois vós e mais ninguém?
Nenhum dos outros se moveu do lugar. Então dirigindo-se aos que estavam à sua direita, disse Eusébio:
➖ Vós formareis a minha legião de honra e todos os outros serão expulsos de minhas fileiras, porque da mesma maneira com que hoje se envergonharam de seu Deus diante do imperador, amanhã, terão vergonha do imperador diante do inimigo.

381. NA IGREJA ESTÁ A SALVAÇÃO

Terrível foi o dia em que Deus abandonou a terra às vinganças das águas do dilúvio. Toda a ordem do universo foi transtornada. Condensaram-se as nuvens umas sobre as outras com trovões espantosos e o mundo foi sacudido por grande convulsão. Os mares transbordaram; as cataratas do céu abriram-se e todos os seres viventes pereceram afogados. Incólume sobre a ruína universal, flutuava a arca de Noé.

Todos os que nela se haviam refugiado cantavam os louvores de Deus. Esta é a mais bela imagem da Igreja Católica, a Igreja de Jesus Cristo que, no meio do dilúvio universal dos erros e da fúria das perseguições, flutua incólume sobre os séculos, levando à eterna salvação os que nela se refugiam. Quem por sua culpa estiver fora da Igreja Católica não espere salvação como, fora da arca de Noé, ninguém se salvou, porque é a única verdadeira Igreja fundada por Jesus Cristo.

382. O GRANDE LIVRO

São Filipe Benício estava pregado em seu leito de morte e exclamava: 'Dai-me o meu livro, dai-me o meu livro!'

Os assistentes apresentaram um após outro todos os livros encontrados no quarto do enfermo, mas nenhum o satisfez. Finalmente, tendo alguém notado que o santo tinha os olhos voltados para o Crucifixo suspenso à parede, deram este a ele que, abraçando-o afetuosamente, exclamou: 'Este, sim, é o meu livro predileto, e será o meu testamento: eu o li e reli muitas vêzes e com ele quero acabar a minha vida'.

383. PENSAVA NA MORTE

Santa Adelaide, viúva de Lotário, rei da Itália, e depois do imperador Otão, o Grande, passou seus últimos anos de vida no mosteiro. Três dias antes de falecer terminou a confecção de sua veste mortuária e disse ao seu confessor: 'Eu a fiz toda com as minhas mãos, cada dia um pouco. Convinha que eu aparecesse em público com toda a magnificência imperial, com um longo manto de seda cintilante de ouro e prata; mas, regressando aos meus aposentos, trabalhava nesta veste para lembrar-me do meu fim último e não me deixar cegar pelo mundo. Vendo-a, tocando-a, dizia: 'Adelaide, pensa no caixão, na sepultura, nos vermes do cemitério!'

Pensa, também tu, meu irmão, na morte; pensa que os prazeres terminarão depressa, ao passo que as penas do inferno não terão fim.

384. OS SANTOS PERDOAM

Na vida de São Francisco de Sales lê-se o seguinte episódio. Um dia, quando o santo atravessava um pequeno bosque, acompanhado apenas de um sacerdote e um criado, um fanático que o odiava por causa de suas pregações contra a heresia, estando oculto atrás de uma moita, fez fogo contra ele para matá-lo. Felizmente errou o alvo e Francisco nada sofreu. As pessoas, que ouviram o tiro, acorreram e quiseram prender o assassino e entregá-lo à justiça. O santo, porém, manso e sorridente, procurou acalmar a gente, pedindo que deixassem em paz aquele pobre iludido e o assassino, vencido pela bondade do santo, converteu-se e abjurou da heresia.

385. RESPOSTA PREMIADA

Aos leitores de um jornal francês foi feita, há poucos anos, esta pergunta: 'Por que há na cadeia mais homens que mulheres?' O jornal recebeu as mais disparatadas respostas. No entanto, declarada digna de prêmio, foi a seguinte: 'Só Deus propriamente sabe o porquê; mas o que todos podem constatar é que nas ruas se veem mais rapazes do que moças e nas vendas mais homens que mulheres, mas nas igrejas muito mais senhoras do que cavalheiros'. Não confere?

386. O MARTIRZINHO DE UM BEIJO

Era um menino albanês de oito anos apenas. Residia em Ilbah, na Albânia. Perdidos os pais, foi acolhido por um tio turco. Cheio de ódio contra Jesus Cristo, quis esse inimigo da religião obrigar o menino a renegar a fé cristã que herdara de seus pais.

Empregou todo artifício, todo embuste, mas em vão: o menino não renegava a fé. Um dia, enfurecido, toma o turco um crucifixo e entregando-o ao menino, exclama com rosto carregado e olhos ameaçadores: 'Cospe nele!' O menino não se perturba; toma respeitosamente a querida imagem do Salvador e imprime-lhe na chaga do coração um quente e prolongado beijo. Foi a causa de seu martírio. Com dois tiros de revólver aquele tio desnaturado abateu o pequeno herói da fé.

387. REI DAS NOSSAS ALMAS

Jerônimo Savonarola pregava em Florença sobre Jesus Cristo no Domingo de Ramos de 1496. Suas palavras caíam como granizo sobre as almas de seu numerosíssimo auditório. No ardor do discurso, mostrando ao povo um crucifixo, exclamou:
➖ Florença! Eis o Rei do universo, que quisera ser também o teu rei. Tu o queres?
Uma imponentíssima aclamação foi a resposta. Quando o frade desceu do púlpito, a multidão, comovida até às lágrimas, acompanhou-o ao convento no meio de vivas a Jesus Rei. 

As autoridades de Florença mandaram gravar sôbre a entrada do palácio da Signoria estas palavras: Jesus Christus Rex Florentini Populi Senatusque Decreto Electus, isto é, Jesus Cristo eleito rei por decreto do senado e do povo de Florença. Gravemos também nós essas palavras em nossos corações: é uma exigência da gratidão, da necessidade que temos de Jesus e sobretudo do amor que lhe devemos.

388. O FATO FALA POR SI

Na vida de São Francisco de Sales, o grande Bispo de Genebra, lê-se o seguinte. Uma vez o santo, movido por espírito de zelo, fez uma visita ao famoso filósofo apóstata Teodoro Beza, esforçando-se por reconduzi-lo à Igreja Católica que abandonara ignominiosamente.

Na discussão, que teve com o filósofo, soube apertá-lo de tal modo com a sua argumentação, que o apóstata teve de confessar o seu erro, dizendo:
➖Sim, tendes razão.
➖ E agora, concluiu o santo, o que é que vos impede de abjurar à heresia e retornar à verdade católica?

Teodoro Beza, a esta resposta conclusiva, abre a um aposento contíguo e indicando-lhe uma criatura, o objeto de sua paixão, disse:
➖ Eis o que me impede de retornar a vós!
O santo compreendeu que se tratava de um caso perdido e retirou-se deplorando aquela pobre vítima da paixão sensual.

389. SACRILÉGIO DESCOBERTO

Do venerável Pe. Antônio Chevrier lê-se que, na noite de Natal de 1862, enquanto distribuia o Pão Eucarístico a numerosas meninas de um Instituto, de repente empalideceu e ficou indeciso: os rostos de duas meninas que estavam diante dele para receber a santa Comunhão pareciam negros como carvão. 

O servo de Deus compreendeu logo que elas não estavam em estado de graça. Após um instante de hesitação, para obedecer às lei da Igreja e não difamá-las diante do público, depositou com mão trêmula o Deus de toda santidade naqueles corações possuídos pelo demônio. Chamou-as, depois, à parte e deu-lhes a entender que conhecia o sacrilégio que tinham cometido. As duas meninas, surpreendidas, puseram-se a chorar. O Padre chorou também e, a seguir, ouviu-lhes a confissão e reconciliou-as com Deus, aquele Deus a quem tinham ofendido tão gravemente

390. TERRÍVEL REMORSO

Foi em agosto de 1860. Uma jovem senhora, vestida de luto, viajava entre Civittavechia e Marselha. Estava pálida e triste. Assentada numa preguiceira, olhava, ora para o céu estrelado, ora para as ondas do mar e grossas lágrimas deslizavam-lhe pelas faces. Um jovem senhor, Augusto Prenni, alma fervorosa e cândida, aproximou-se da angustiada senhora e, com suma delicadeza, procurou um lenitivo para aquele coração ferido. 

A jovem senhora, ouvindo aquelas meigas palavras, abriu-lhe o coração: 'Só vós sabereis o remorso secreto do meu coração. Tive uma irmã, chamada Adélia, inocente e piedosa, um verdadeiro anjo. Contava então 15 anos, quando eu, já corrompida pelas más leituras, um dia no papel de demônio tentador, arrastei-a ao pecado. Foi o primeiro e o último pecado de minha pobre Adélia, a qual no entanto continuava a ser o encanto da família: piedosa, simples, pura.

Aos l7 anos, acometida de terrível enfermidade, foi em breve reduzida às últimas. Depois de receber o Santo Viático e os últimos confortos da Religião, chamou-me:
➖ Ermelinda, venha cá.
Corri ao seu leito. Ela, com sua mão gelada, apertou a minha mão e, fitando-me com olhar moribundo, disse:
➖ Ermelinda, lembras-te daquele pecado?
➖ Lembro-me, sim, mas já te confessaste, já foste perdoada...
➖Não - respondeu ela - nunca o confessei; com aquêle pecado fiz tantas confissões sacrílegas e sacrilegamente comunguei, agora, neste leito de morte. Aquele pecado, meu primeiro e último pecado, está aqui no meu coração. Vou morrer e por causa dele me condeno; mas ai de ti... ai de ti!
Apertou-me com mais fôrça a mão e expirou.

Daquele instante para cá não tive mais sossego. Parece-me sempre ver a minha pobre Adélia no meio das chamas eternas; parece-me ouvir o seu derradeiro brado: 'Ai de ti!'

391. A SAUDAÇÃO CRISTÃ

O famoso poeta protestante Klopstock contava, numa carta ao poeta Michael Denis que, numa viagem pela Suíça, todos os homens, quando descia do carro, lhe dirigiam a bela saudação: 'Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo'. Êle nunca ouvira aquelas palavras e não sabia que fossem uma saudação e, por isso, não sabia responder. Mas elas calaram no seu coração e mais tarde admirou-se de não ter pensado numa resposta tão natural e tão simples,como: 'Para sempre seja louvado'. Quando dela ficou sabendo, aquela saudação pareceu-lhe tão bela e tão oportuna para os cristãos de todas as condições que desejaria ouvi-la em tôdas as circunstâncias e em todo o lugar'.
Como seria belo, realmente se todos os cristãos a adotassem! E' a saudação cristã por excelência.

392. UMA BOA LIÇÃO

Foi nos primeiros anos do governo de Napoleão. Na vigília de Natal, um general convidara para uma ceia alguns oficiais graduados e um marechal. Terminado o banquete, surgiu a questão como passariam alegremente mais algumas horas. Um deles disse levianamente: 
➖Vamos à missa da meia-noite.
➖ Ótimo! À missa da meia-noite!

Entraram na igreja de São Roque. Pode-se imaginar com que devoção entravam na igreja aqueles que haviam ceado lauta e alegremente; sem dúvida não procuravam outra coisa que satisfazer a curiosidade e passar o tempo.

Mas eis que, inesperadamente, um homem de baixa estatura, que se ocultara no seu capote, surgiu diante deles e lhes disse em voz alta e em tom seco e imperioso:
➖ Estais procedendo mal. Quando se vem à igreja, é preciso ter uma conduta conveniente ao lugar sagrado. Guardai respeito e permanecei em silêncio, senhores!
O homem oculto no capote era o Imperador em pessoa, Napoleão I, que fazia guarda na igreja de São Roque, em Paris.

393. UMA LUZ SAÍA DO TÚMULO

Numa ilha do Lago Maior, na Itália, um jovem e ardente diácono foi martirizado cruelmente. Seu nome era Arialdo. Os carrascos sepultaram o seu cadáver no mesmo sítio do martírio, julgando que tudo estava acabado. Mas eis que, à noite, uma luz vivíssima saía da tumba e todos os pescadores do lago, ao vê-la, acudiram ao local. 

Oliva, a mulher perversa que o mandara matar, cansada do que se falava, ordenou que levassem o cadáver para uma outra ilha. Ali também se renovou o prodígio e com mais luzes ainda. O cadáver foi então arrojado a um sótão do castelo de Travallio. Mais fachos de luzes, que traspassavam as paredes e as profundidades, indicavam aos homens onde se achava o corpo do santo. Resolveu-se por isso, lançá-lo ao lago atado com uma grande pedra, para que o corpo não voltasse nunca mais à superfície. Note-se que o que aqui se refere está nas memórias contemporâneas sobre as quais não há motivo de dúvida alguma.

Dez meses depois, reapareceu o corpo à flor da água e foi posto intacto sobre a margem do ValtravagliaOliva teve receio e procurou sufocar a notícia do maravilhoso caso. Mandou transportar o corpo ao penhasco de Arona, encarregando seus servos de o destruírem a ferro e fogo. Mas tudo em vão. O povo da cidade de Milão, logo que soube do sucesso, saiu com bandeiras e armas à conquista do santo corpo. 

Foi numa manhã luminosa: o corpo do mártir Arialdo, colocado numa nau, navegava ao largo do rio Ticino. O' maravilhoso triunfo da fé! Sobre as duas margens do rio, o povo estava apinhado, empunhando cruzes e velas. Repicavam os sinos. As crianças tocavam campainhas, toda árvore e todo lugar alto era ocupado pelos fieis desejosos de ver o corpo; os enfermos saravam, os pecadores choravam suas culpas e todos se sentiam trocados e mudados para uma vida melhor (cf. Meda Bassorilievi). Como o esplendor dos santos, assim é a força e a luz da verdade que emana da Igreja. Em vão se quer combater a fé, combater o papa. A Igreja triunfará com Cristo hoje, e sempre, e por todos os séculos.

CONTOS DE FANTASIA (LENDAS)

394. O PODER DE SÃO JOSÉ 

Havia um homem, devoto de São José, que não se preparou para a morte e, assim mesmo, quis entrar no céu. Mas São Pedro, vendo-o chegar manchado, fechou-lhe a porta e deixou-o sentado no corno da lua. Entretanto não faltou quem fosse contar o caso a São José, o qual se apresentou diante do trono de Deus para pedir graça para seu devoto. O Senhor negou-lhe a graça. São José disse que era um devoto seu. 'Devoto que acende uma vela a ti e duas ao demônio...?'

São José, porém, decidido a vencer, disse:
➖ Se meu devoto não entrar no céu, eu me vou embora.
➖ Pois então vai! - disse o Senhor.
São José, que não esperava essa resposta, de chapéu na mão, dirigia-se para a porta; mas, no meio do caminho, virou-se e disse:
➖ Se eu for, não irei só; deve ir comigo também a minha esposa.
➖ Pois que vá!
➖ Mas levando minha esposa, devo levar tudo que lhe pertence...
➖ Pois que leve tudo! - disse o Senhor.
➖ Tenho aqui uma lista completa - E São José, em pé no meio do paraíso, começou a ler: 'Rainha dos Anjos!' - e já todos os anjos voaram para a porta; Rainha dos Patriarcas! - e eles foram se enfileirando perto da porta; Rainha dos Mártires! - vão todos eles também para a porta. E quando São José ia clamar: Rainha de todos os Santos!...
➖ Olha, José; corre, vai dar um banho no teu devoto e, depois, faça que ele entre no céu; porque, se me empenho em não deixá-lo entrar, por justiça fico sozinho no céu!

395. A SOPINHA DE JESUS

A Sagrada Família estava no desterro do Egito. Ia caindo a tarde e São José não conseguira terminar seu trabalho para receber o pagamento. Suspirando olhava para sua castíssima esposa, a qual, adivinhando o que se passava no coração de José, disse-lhe:
➖ Não temas; tenho um pouco de leite e pão e farei uma sopinha para o nosso querido Menino; nós comeremos amanhã, se Deus quiser.

No mesmo instante em que se dispunha a dar a Jesus o humilde alimento, uma voz trêmula implorava uma esmola. O Menino olhou para sua Mãe e ela disse: 
➖ Não temos nada, meu Filho!
O Menino corre, toma a tigelinha de sopa e leva-a ao velhinho que pedia esmola. E José e Maria choraram em silêncio, vendo Jesus fazer aquele sacrifício, prelúdio do sacrifício da Cruz, que êle mesmo ofereceria ao Pai eterno.

396. AS POMBINHAS DO MENINO JESUS

O Menino Jesus estava brincando com outros meninos às margens do rio Nilo. Faziam passarinhos de areia. Jesus fazia-os tão lindos, que Nossa Senhora, ao contemplá-los, exclamou: 'Que pena que não tenham vida!'

Jesus para comprazer a sua mãe, deu vida às suas duas pombinhas e as fez voar. Recomendou-lhes que não fossem para muito longe e não se ajuntassem com as aves de rapina. Sobre a cúpula do templo de Menfis estavam as outras pombas e para lá se foram elas também. Eis que, ao chegar o gavião para persegui-las uma fugiu imediatamente e foi refugiar-se junto de Nossa Senhora; a outra demorou-se e, ao regressar à tarde, apresentava muitos ferimentos e poucas penas. Jesus tomou-a entre as mãos e curou-a. No dia seguinte repetiu-se a cena, e a pombinha ferida regressou quando a Sagrada Família já se havia recolhido em sua casinha. Assentou-se na janela e São José a recolheu e Jesus curou-a de novo e fez-lhe muitas advertências e deu-lhe muitos conselhos. Na manhã seguinte repetiram as pombas o seu passeio, mas a desobediente foi devorada pelo gavião.

O mesmo acontece com tantos cristãos que, por sua imprudência, caem nas garras do demônio, que os corrompe e mata!

397. A MÃO MAIS LINDA

Três meninos iam muito alegres à cidade, onde o que tivesse a mão mais linda ganharia um prêmio. Chegou um deles ao bosquezinho de nardos: uma a uma foi tocando as olorosas flores que, em sinal de gratidão, deixavam naquelas mãos brancas suas cores e seu aroma. Encontrou o outro um regato e, em suas cristalinas águas, perfumadas de flores de laranjeiras, banhou suas mãos, que saíram mais formosas. Tímido e modesto, o outro vacilava em pedir perfume às flôres e beleza ao regato. 

Passou um mendigo que pediu uma esmola por amor de Deus. Puxou o menino uma moeda e deu a ele. Ao recebê-la, o mendigo beijou aquela mão benfeitora,deixando cair uma lágrima de agradecimento. Aquela lágrima transformou-se em belíssima pérola que tomou mil cores do arco-íris e esmaltou a mão do angélico menino. Esta foi a mão que brilhou com encantadoras cintilações, porque foi purificada pela lágrima de um pobre.

398. AS ROSAS

Segundo uma lenda antiga,
Maria, com São José,
Fugindo à gente inimiga,
Transpôs caminhos a pé.

E à proporção que Maria
Deixava rastro no chão,
Todo o caminho floria
De rosas em profusão.

Pelos trilhos e barrancas
Das estradas, viu-se em breve
O estendal de rosas brancas
Tudo enfeitando de neve.

De um branco suave e doce
As rosas; nenhuma havia
Pela terra, que não fosse
Da cor dos pés de Maria.

Depois de tempos volvidos,
Ao peso de imensa cruz,
Pelos caminhos floridos
Um homem passa - Jesus.

E sobre o estendal de flores.
De seu corpo o sangue vai
Caindo, e Ele, entre mil dores,
Não geme, não solta um ai.

Passou e pelas barrancas,
Sob as asas das abelhas,
Dos tufos das rosas brancas
Brotavam rosas vermelhas.

Só duas cores havia
De rosas que aqui registro:
A cor dos pés de Maria
E a cor das chagas de Cristo.

                                                              (B. Braga)

399. O ORGULHOSO NÃO SE AJOELHA

Diz uma lenda que na cidade de Colônia vivia um padre santo. Não era sábio; não era eloquente; mas era um grande confessor. Dizem que todos os que se levantavam de seu confessionário levavam na fronte o ósculo da paz.

Foi na véspera de uma grande solenidade. Uma grande multidão de penitentes esperava ao redor do confessionário daquele santo sacerdote. Entre eles achava-se um homem, o único que se conservava de pé. Tinha um rosto triste. escuro, quase negro.... atitude que revelava imensa tristeza e desconcertante inquietação. Chegou a sua vez. Acercou-se do confessionário, mas não se ajoelhou.
➖ Irmão - disse brandamente o confessor - ajoelhe-se.
➖ Nunca! Eu nunca me ajoelho.
➖ Quem é o senhor?
➖ Isso não lhe importa.
➖ De onde vem?
➖ Também isso não lhe importa.
➖ O senhor tem razão - respondeu humildemente o confessor - nada disso me importa. Mas, então, o que deseja?
➖ Confessar-me, porque trago dentro do meu coração um inferno que me abrasa e busco a paz.
➖ Irmão - replicou o confessor com toda humildade de sua alma - se procura a paz, aqui a encontrará, mas deve ajoelhar-se.

O penitente, com um gesto de soberba, respondeu:
➖ Nunca! Já lhe disse que nunca me ajoelho.
➖ Irmão - disse então o confessor com grande mansidão - compadeço-me do senhor; faça de pé a sua confissão, pois quando tiver diante dos olhos a gravidade de seus pecados, certamente se ajoelhará.
➖ Nunca! - atalhou o penitente- Ajoelhar-me? Nunca! Mil vezes lhe direi que não me ajoelho nunca!
➖ Irmão, comece então!
E começou o penitente a contar os seus pecados. 

E eram tantos e tão horríveis, que o confessor, que até então conservara os olhos baixos, levantou-os, fixou o penitente e disse-lhe com extrema bondade:
➖ Irmão, o senhor está me enganando.
➖ Não o engano.
➖ Esses pecados o senhor não pôde cometê-los.
➖ Mas eu os cometi.
➖ Para ter cometido tantos pecados seria necessário que o senhor fosse muito mais velho do moço que ainda é.
➖ Moço? Já tenho muitos séculos!
➖ Muitos séculos?
➖ Sim... muitos séculos!
➖ Quem é o senhor, afinal?
➖ Não lhe importa.
➖ De onde vem?
➖ De uma região onde não há sol.
➖ Então já adivinho quem és. Irmão, ainda há perdão e misericórdia para o senhor, mas ajoelhe-se.
➖ Nunca! Nunca me ajoelharei!
➖ Então o senhor é...
➖ Sou Satanás! E desapareceu.
Sim; há perdão para todos os pecadores. Nosso Senhor exige apenas que o pecador, reconhecendo e detestando os seus pecados, humilde e sinceramente os acuse no tribunal da penitência.

400. A MORTE NIVELA TUDO

Morreu em 1916 Francisco José, imperador da Áustria, que por muitos anos soubera conservar, sob o poderio paternal de seu cetro, muitos povos que antes viviam em contínuas guerras. O féretro foi levado à cripta da igreja dos Padres Capuchinhos de Viena, onde jazem outros reis e imperadores.

O mestre de cerimônias bateu à porta.
➖ Quem é? - perguntou do lado de dentro, segundo o cerimonial, um padre capuchinho.
Os cortesãos responderam:
➖ Francisco José, imperador e rei.
De lá de dentro a mesma voz austera do frade respondeu:
➖ Não o conheço.

Fez-se um momento de silêncio dentro da cripta. Do lado de fora, à porta, deliberavam os senhores e políticos. Bateram outra vez. E outra vez insiste de dentro o guardião daquelas tumbas:
➖ Quem é?
➖ Francisco José de Habsburgo - responderam de fora os que sustentavam em seus ombros o régio féretro.
E de novo ouviu-se a voz do frade:
➖ Não o conheço.

Fez-se mais um momento de silêncio e mais um instante de deliberação. Urgia, porém, entregar à terra aqueles restos mortais que foram ontem de homem tão grande e que hoje ninguém os queria em parte alguma. Por isso, após um instante de imponente silêncio, outra vez a voz do Capuchinho interroga:
➖ Quem é?
E aquele que respondia em nome da política e da grandeza do império austríaco, respondeu agora:
➖ Um pobre morto.
A voz serena e imutável do guardião daqueles túmulos respondeu imediatamente:
➖ Entre!

E abriram-se as portas, dando entrada ao cadáver e ali, como um pobre morto, foi enterrado o célebre imperador: Francisco José, rei e imperador da Áustria. É certo que a morte nivela tudo. De toda a grandeza, como de toda a miséria, após a morte resta apenas um cadáver que dentro em pouco não será mais do que pó e cinza.

401. O REI MIDAS

Narra a mitologia que o rei Midas, o qual era muito avarento, por ter tratado bem a Sileno, seu prisioneiro, recebeu dos deuses a grande recompensa de converter em ouro tudo quanto a sua mão tocasse. Uma bela fortuna, não é verdade? Uma fortuna?!

Fora de si de contente, aquele rei tocou seu bastão, e o bastão se converteu em ouro cintilante; tocou a parede e a parede tornou-se toda de ouro; meteu a mão na algibeira, e toda a sua veste converteu-se num bloco de ouro preciosíssimo.. .
No palácio real, tudo agora era ouro. O rei assentou-se à mesa. A sopa, apenas lhe tocou os lábios, tornou-se ouro; o pão, a carne, tudo tornava-se ouro, de modo que o rei Midas não pôde tomar alimento algum e depois de alguns dias ia morrendo de fome rodeado de ouro. Assim diz a fábula.
Mas eu vos digo, em outro sentido, que também nós possuímos um meio de converter em ouro, isto é, em mérito preciosíssimo, todas as nossas obras. Esse meio consiste em conformar sempre e em tudo a nossa vontade com a santa vontade de Deus.

402. TOMA ESTE CÁLICE... ENCHE-O DE ÁGUA

Meninos, ouvi! Sabemos que era um jovem e que cometera pecados horríveis. Mas tinha fé e, às vezes, punha-se a pensar na hora da morte e na eternidade e então aquele jovem sentia que o desespero o arrastava à condenação eterna. De vez em quando sentia um desejo ardente de voltar ao bom caminho, de converter-se a Deus, de fazer penitência. Entretanto, do fundo da alma parecia que uma voz lhe gritava:
➖ Não há perdão para ti.

Ao passar um dia por uma igreja, não pôde vencer o desejo de entrar. Qualquer coisa o atraía. E se viu então diante do Cristo Crucificado. Rezou e com os olhos rasos de lágrimas, disse:
➖ Senhor, haverá ainda misericórdia para mim?
E ouviu uma voz que lhe dizia:
➖ Teus pecados serão perdoados, quando tiveres chorado muito.
➖ Senhor - replicou o jovem - chorarei toda vida; mas quisera ter certeza de que chorei bastante e de que me perdoaste.
Então o divino Crucificado, estendendo a mão, entregou-lhe um cálice e disse:
➖ Toma-o. Quando o encheres de água, será sinal de que teus pecados te foram perdoados.

Tremendo de comoção tomou o penitente o precioso cálice. Pouco distante dali havia uma grande pedra. Das entranhas daquela rocha brotava uma fonte.
➖ Na água dessa fonte encherei o meu cálice.
Subiu ao alto do morro. Acercou-se da rocha. Encostou o cálice à água, mas... a fonte secou.
➖ Secou-se a fonte - disse consigo o pecador - mas não secará a torrente que corre atrás daquelas montanhas.

E subiu aos montes e desceu aos vales e, por fim, chegou à suspirada torrente. Mas, quando quis encher o cálice... a torrente secou.
➖ Secou-se a fonte e secou-se a torrente - murmurou o jovem; certamente quer Deus que eu faça penitência e busque com trabalhos e suores a água do perdão. Detrás daqueles montes, do outro lado destas terras, está o mar. Secou-se a fonte secou-se a torrente, mas não secará o mar. Nas águas salgadas do mar encherei o meu cálice.

E pôs-se a caminho. Andou muito através de campos, montes e vales e, finalmente, do alto da gigantesca serra contemplou o mar distante. O' mar - exclamou - és a minha esperança; em tuas águas inesgotáveis encherei o meu cálice.
E desceu e correu ansiosamente. Já estavam muito perto as praias do mar. Dá um grito de alegria e avança com o cálice na mão para enchê-lo nas ondas que vinham beijar-lhe os pés. Mas, de repente, vê com horror que as ondas se afastam e fogem e o mar retroce diante dele... Cai de joelhos o pobre jovem e não se atreve a erguer os olhos ao céu; inclina a cabeça e rompe em copioso pranto de arrependimento. Chorou muito e sem parar. Quando voltou a si, quando quis enxugar a última lágrima dos seus olhos inflamados, viu que o cálice estava cheio de água, da água de suas lágrimas. Aí está: essa é a água que lava as nossas almas e nos obtém o perdão.

403. A CRUZ DO ROSÁRIO

Sobre São Pedro, o chaveiro do céu, há várias lendas, sendo a seguinte bastante interessante e instrutiva. Dizem que, um belo dia, São Pedro fechou a porta do céu por fora e veio dar umas voltas pelo mundo para ver como andavam as coisas por aqui. Parecia-lhe que estava chegando pouca gente ao céu e era preciso conhecer a causa dessa triste situação. Terminado o seu inquérito, e achando mais prudente não conceder entrevista aos jornais bisbilhoteiros, dirigiu seus apressados passos lá para cima. Aconteceu, porém, que, ao chegar à porta do paraíso, meteu a mão nos bolsos e - ai! - não encontrou mais a chave. Perdera-a e não sabia nem onde nem como. O que fazer em tamanha aflição?
➖ Descerei de novo à terra, disse, e procurarei um bom serralheiro que me faça uma nova chave.

De fato, não custou a encontrar um muito entendido e, disse-lhe:
➖ Olhe, eu preciso com urgência de uma chave para abrir a porta do céu. Você pode fazê-la?
➖Perfeitamente; mas custará mais, porque há de ser uma chave extraordinária.
➖ Que homens! - disse consigo S. Pedro - nem para o céu fazem uma chave de graça! Que seja! Não há dúvida; vamos lá para cima.

Subiu o serralheiro ao céu e, orgulhoso de sua arte, examinou o modelo, tirou as medidas e voltou à terra. Tomou dos instrumentos, talhou a chave, limou-a, poliu-a e, triunfante, apresentou-se à porta do céu. Mas - ai! - a chave entrava no buraco da fechadura, dava voltas, mas nada! Não abria a porta.
➖ Que venha outro serralheiro, mas depressa - disse São Pedro.
Chegou outro, mais presumido que o primeiro, fez as mesmas manobras e nada! A chave não abria.
Assim foram fracassando, uns após outros, todos os serralheiros.

Entretanto, as almas que vinham chegando, dos quatro cantos do mundo, começavam a impacientar-se, porque demorava muito a entrada no céu. São Pedro suava frio pois, por seu descuido, já ninguém podia entrar na glória. Por fim, uma humilde velhinha se ofereceu para abrir a porta.
➖ Bem. Experimente, vamos ver - disse São Pedro.
E a velhinha,que, na terra, fôra devotíssima de Nossa Senhora, meteu a cruz de seu rosário na fechadura, deu meia volta à chave improvisada e a porta se abriu.
➖ Bravo! Bravo! exclamaram todos, é o rosário de Nossa Senhora que nos abre a porta do Céu! E lá entraram cheios de alegria e contentamento

404. POBREZA FELIZ

Corre entre os russos a seguinte história. O czar (imperador) caiu gravemente enfermo. Não encontrando remédio, disse:
➖ Darei a metade de meu reino a quem me curar.
Reuniram-se então todos os sábios para uma consulta, cujo tema era: 'Como havemos de curar o imperador?' Depois de muito discutirem, disse um:
➖ Procurai um homem feliz, tirai-lhe a camisa e levai-a ao czar e, vestindo-a, ele vai se curar.
Mensagiros percorriam todo o império à procura do homem feliz, mas não o encontravam, porque um era rico, mas sempre doente; outro era são, mas pobre; este, são e rico, mas sem filhos; aquêle são, rico e com filhos, mas atribulado; todos, enfim, tinham do que lamentar-se.

Um dia, o filho do czar aproximou-se à noitinha de uma cabana, parou e ouviu que dentro um homem falava assim:
➖ Graças a Deus, trabalhei, comi e vou para a cama contente de ter cumprido o meu dever. Nada me falta, sou feliz. O filho do czar não cabia em si de contente, pois encontrara afinal o homem feliz e estava disposto a dar-lhe quanto dinheiro quisesse pela camisa, que levaria imediatamente ao czar, seu pai. Bateu à porta, entrou, pôs-se diante do homem feliz para comprar-lhe a cobiçada camisa, mas...o que ele viu? O homem feliz não possuía nem uma camisa! Bem-aventurados os pobres...

405. A LENDA DE FREI PACÔMIO

Em princípios do século décimo, vivia num convento de beneditinos um santo religioso, chamado Frei Pacômio, que não podia compreender como os bem-aventurados não se cansam de contemplar por toda a eternidade as mesmas belezas e gozar dos mesmos gozos. Um dia, o prior do convento mandou que ele fosse a um bosque vizinho para recolher alguma lenha. Foi com gosto, mas mesmo no trabalho não o largavam as dúvidas. De repente ouviu a voz de uma avezinha que cantava maravilhosamente entre os ramos. Ergueu-se e viu um animalzinho tão encantador como jamais vira em sua vida.

Saltava de um ramo para o outro, cantando, brincando e internando-se na selva. Seguiu-o Frei Pacômio, todo encantado, sem dar-se conta nem do tempo nem do lugar. A certa altura a avezinha atirou aos ares o último e mais doce gorjeio e desapareceu. Lembrando-se então de seu trabalho, procurou o machado para voltar ao convento, mas - coisa esquisita! - achou-o enferrujado. Quis pegar o feixe de renha, que ajuntara, mas não o encontrou.

Alguém o teria roubado? - pensou consigo. Pôs-se a andar, mas não encontrava o caminho. Chegou, afinal, à beira do bosque, mas não encontrou o mato de outrora; ali estava agora um campo de trigo, em que trabalhavam homens desconhecidos. Perguntou a um deles o caminho do mosteiro, pois decerto se havia extraviado. Todos o olharam com surpre, mas, em seguida, indicaram-lhe o caminho até o mosteiro. Quando lá chegou - grande Deus! - como estava mudado! Em lugar da casa modesta de sempre, viu um edifício magnífico ao lado de uma grandiosa capela. Intrigado, bateu à porta; um irmão desconhecido a abriu.
➖ Sois recém-chegado, disse-lhe Pacômio, eu venho do bosque onde me mandou esta manhã o prior D. Anselmo para buscar lenha.
Admirado o porteiro, deixando ali o hóspede, foi avisar o prior que na portaria estava um monge com hábito velho, barba e cabelos brancos como a neve, perguntando pelo prior Anselmo.

O caso era curioso. O prior, abrindo os registos do convento, descobriu na lista o nome do prior Anselmo, que ali vivera há quatrocentos anos. Continuou a ler e achou nos anais daquele tempo o seguinte:
➖ Esta manhã, Frei Pacômio foi mandado buscar lenha no bosque e desapareceu.
Chamaram o hóspede e fizeram-no entrar e contar a sua história. Frei Pacômio narrou o caso de suas dúvidas sobre a felicidade e o paraíso e o prior começou a compreender o mistério. Deus quis mostrar ao pio religioso que, se o canto de uma avezinha era capaz de encantar-lhe a alma por séculos inteiros, quanto mais a formosura de Deus não há de embevecer os bem aventurados por toda a eternidade sem que eles jamais se cansem.

406. O GIGANTE SÃO CRISTÓVÃO

A história deste gigante tem para as crianças um atrativo especial. Era São Cristóvão um gigante que ganhava a vida carregando em seus ombros os viajantes de uma margem para outra de um rio caudaloso sobre o qual não havia ponte. A correnteza não podia com ele. Dava alguns passos largos e já estava do outro lado. Largava ali o passageiro, recebia os cobres e ia carregar outro. Contam que um dia se apresentou à beira do rio um menino louro como um raio de sol e sorridente como uma rosa de primavera. Era pequeno, pesava pouco, mas era lindo como um anjo.

Logo que o viu, disse São Cristóvão com muito carinho:
➖ Menino, queres que te passe para o outro lado? Andas tão sozinho por estes caminhos.
O formoso menino respondeu:
➖ Ando pelo mundo à procura de um tesouro que perdi.
Quisera passar para a outra banda do rio para ver se, por esses campos e caminhos, o encontro; mas não poderás comigo.
Cristóvão soltou uma gargalhada:
➖ Não poderei contigo? Anjinho de Deus, não te levarei nos ombros, mas na ponta do dedo.

Dito isso, aquele vigoroso gigante tomou o menino e, como se fosse uma pena, colocou-o sobre os ombros e, saltando ao rio, caminhava para a margem oposta. Mas, quando estava no meio da torrente, o menino começou a pesar de tal forma que o gigante tremia. Vendo que a correnteza o arrastava, exclamou estupefato:
➖ Menino, pesas muito; tens que ser mais que um simples menino.
E o menino respondeu:
➖ Tens razão. Cristóvão; eu peso mais que todo o mundo, porque eu sou o menino Deus. Ando por estas terras à procura de um tesouro que são as almas. Agora venho buscar a tua alma. Se crês em mim e me amas, não só não te pesarei sobre os ombros, mas ainda te levarei no meu coração e te farei feliz neste mundo e no outro.
Chegando à margem oposta, Cristóvão pôs o menino sentadinho sobre a areia e, ajoelhando-se diante dele, disse:
➖ Menino, tu és Deus. Creio em ti e amo-te, e só a ti quero amar por toda a minha vida.
E cumpriu a sua palavra, porque desde aquele dia dedicou-se a servir e amar a Deus.

407. AS TRÊS LÁGRIMAS

Havia no céu um anjo curioso! Queria saber o que se passava pelo mundo; escapou-se do céu e baixou à terra. Que amarga foi a sua decepção! Não viu senão sangue; não pisou senão barro. Agitou suas asas brancas e rumou para o ceú. Estavam fechadas as portas. Ouviu uma voz que lá de dentro lhe dizia:
➖ Anjo, não poderás entrar de novo no céu se não trouxeres da terra, num cálice, uma lágrima que recolheres por um ato de caridade que fizeres.

Rápido baixou o anjo à terra. Ouviu um leve gemido, que saía de uma casa perdida no meio do campo e entrou. Era um menino que estava a morrer sozinho, abandonado de todos.O anjo olhou para ele e o pobrezinho sorriu-lhe e de seus olhos correu uma lágrlma... e morreu. O anjo recolheu em seu cálice de ouro aquela lágrima e, rico com aquele tesouro, cruzou os ares e atravessou as nuvens, chegando às portas do céu.
➖ Anjo, que trazes aí?
➖ Senhor, uma lágrima que recolhi dos olhos de um menino agonizante que não tinha ao seu lado nem os olhos carinhosos de sua mãe.
➖ Anjo, isso não basta.

E desceu novamente o anjo à terra. E outro ai lastimoso chegou-lhe aos ouvidos. Vinha de muito longe. Chegando ao fundo de um deserto, entrou em uma caverna. Um santo anacoreta entrava em agonia! Pôs o anjo a sua mão esquerda debaixo da cabeça do homem de Deus, à maneira de macio travesseiro macio e, com a mão direita, indicava-lhe os belos horizontes da eternidade. O anacoreta sorriu e morreu. Uma lágrima caía dos seus olhos abertos. O anjo recolheu aquela lágrima e, rico com aquele tesouro, cruzou os ares e atravessou as nuvens, chegando à porta do céu.
➖  Anjo, que trazes aí?
➖  Senhor, uma lágrima recolhida dos olhos de um anacoreta a quem consolei em sua última agonia.
➖ Isso ainda não basta!

E outra vez o anjo desceu à terra. Uma multidão imensa conduzia à forca uma jovem rainha, que já se achava no fatal banquinho dos condenados. O anjo aproximou-se dela, ouviu-a e viu que era inocente. Levantou-se, fez um discurso e provou àquela multidão revoltada que aquela jovem rainha era inocente. E a multidão entusiasmada proclamou-a de novo sua rainha e soberana. Do seu banquinho fatal,  levantou-se a rainha, caiu de joelhos diante do anjo e uma lágrima de gratidão rolou dos seus olhos. O anjo recolheu em seu cálice aquela preciosa lágrima e, rico com aquele tesouro, cruzou os ares e atravessou as nuvens, chegando às portas do céu.
➖  Anjo, que trazes aí?
➖  Senhor, uma lágrima colhida dos olhos de uma rainha vilmente caluniada e por mim livrada da morte.
➖ Isso ainda não basta não.

O anjo baixou de novo à terra, agora triste e acabrunhado. Assentou-se em uma pedra. Olhou para o céu e exclamou chorando: Adeus céu, adeus! Eu te perdi e não te tereis mais, porque não encontro na terra uma lágrima que mereça as tuas alegrias. Deixou cair a cabeça e o desespero começou a apoderar-se dele. De repente a terra tremeu, o mundo estremeceu, o sol ocultou sua face, as rochas partiram-se e as trevas cobriram o universo. O anjo levantou espantado a cabeça, olhou por toda a imensidade do escuro horizonte...

Lá, ao longe, descobriu um ponto de luz, uma colina, sobre a colina uma cruz, na cruz uma vítima e, aos pés da cruz, uma mulher que chorava. O anjo agitou impetuosamente as asas até lá. Ao chegar - Santo Deus! - o que viu? Esta vítima é Jesus, o meu Deus! Esta mulher é a minha rainha... é Maria! E o anjo recolheu em seu cálice de ouro uma lágrima de Jesus e outra lágrima de Maria. O anjo chorou também, e aquela sua lágrima caiu no mesmo cálice e fundiu-se com as outras duas. E o anjo, rico com aquele tesouro, cruzou os ares e atravessou as nuvens, chegando às portas do céu.
➖  Anjo, que trazes aí?
➖  Senhor, uma lágrima de Jesus, uma lágrima de Maria e outra lágrima que é minha....
➖ Entra! entra! 
E entrou de novo, no reino da felicidade, o anjo das três lágrimas.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)