quinta-feira, 29 de julho de 2021

... E TRÊS PRÁTICAS PARA UMA VIDA CRISTÃ PERFEITA


Primeiro ...

... Exerce-te numa perfeita modéstia para que, segundo a doutrina do Apóstolo, 'a tua modéstia seja conhecida por todos os homens' (Fl 4, 5). Depois, exerce-te na modéstia da disciplina, com moderação no silêncio e no falar, na tristeza e na alegria, na clemência e no rigor, conforme as circunstâncias o exigem e a sã razão o prescreve. Finalmente, exerce-te na modéstia da civilidade, regulando, ordenando e compondo as ações, os movimentos, os gestos, as vestes, os membros e os sentidos, conforme o requer a educação moral e o costume na ordem, para que merecidamente pertenças ao número daqueles aos quais o Apóstolo diz: 'Faça-se tudo com dignidade e ordem' (I Cor 14, 40).

Segundo ...

... Exerce-te também na justiça para que te sejam aplicáveis as palavras do Profeta: 'Reina por meio da mansidão e da justiça' (Sl  44, 5). Na justiça, afirmo, íntegra pelo zelo da honra divina, pela observância da lei de Deus e pelo desejo da salvação do próximo. Na justiça regulada pela obediência aos superiores, pela sociabilidade aos iguais, pela punição das faltas dos inferiores. Na justiça perfeita, de forma que aproves toda a verdade, favoreças a bondade, resistas à maldade tanto no Espírito, como nas palavras e obras, não fazendo a ninguém o que não queres que te façam, não negando a ninguém o que dos outros desejas, para que imites com perfeição aqueles a quem foi dito: 'Se a vossa justiça não for maior do que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus' (Mt 5, 20).

Terceiro ...

... Finalmente, exerce-te na piedade, porque, como diz o Apóstolo, 'a piedade é útil para tudo, porque tem a promessa da vida presente e futura' (I Tm 4, 8). Exerce-te na piedade do culto divino, recitando as horas canônicas atenta, devota e reverentemente, acusando e chorando as faltas cotidianas, recebendo a seu tempo o Santíssimo Sacramento e ouvindo todos os dias a Santa Missa. Na piedade, por meio da salvação das almas, auxiliando ora por frequentes orações, ora por instrutivas palavras, ora pelo estímulo do exemplo, para que quem ouve diga: Vem! (Ap 22, 17). Isto, porém, cumpre fazer com tanta prudência, que a própria alma não sofra prejuízo. Na piedade, por meio do alívio das necessidades corporais, suportando com paciência, consolando amigavelmente, ajudando com humildade, alegria e misericórdia, para desta forma cumprires o mandamento divino enunciado pelo Apóstolo: 'Carregai os fardos uns dos outros, e desta maneira cumprireis a lei de Cristo' (Gl 6, 2). Para praticares tudo isto, o meio melhor, eu o creio, é a lembrança do Crucificado, a fim de que o teu Dileto, como um ramalhete de mirra (Ct 1, 12), descanse sempre junto ao teu coração. Isto te queira prestar Aquele que é bendito por todos os séculos dos séculos. Amém.

(Excertos da obra 'A Direção da Alma e a Vida Perfeita', de São Boaventura)