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terça-feira, 23 de dezembro de 2025

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

FREIOS E CONTRAPESOS (III)

 SÍMBOLO DO ABUSO DO PODER JUDICIÁRIO

Virgínio, um centurião romano, matou a sua própria filha Virgínia, para salvá-la de ser escravizada e desonrada por Ápio Cláudio, que então exercia o cargo de decênviro (magistrado com poder absoluto), mediante decisão de um processo judicial fraudulento, realizado no Fórum Romano, presidido pelo próprio Ápio Cláudio.

 'A Morte de Virgínia', obra do artista francês Guillaume Guillon-Lethière (1828)

Esse evento, ocorrido por volta de 449 a.C., tornou-se um exemplo clássico de abuso e de corrupção judicial, produzindo uma intensa reação do povo romano, o que levou à queda do governo tirânico dos decênviros e ao restabelecimento da República Romana.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

FREIOS E CONTRAPESOS (II)

SÍMBOLO DO ABUSO DO PODER EXECUTIVO

Nero foi o imperador romano (54-68 d.C.) que iniciou as primeiras perseguições aos cristãos, sobretudo após o Grande Incêndio de Roma em 64 d.C., culpando-os pelo incêndio e submetendo-os a punições cruéis, incluindo o suplício de serem queimados vivos (como tochas humanas). Entre outras crueldades, foi responsável pelo assassinato da própria mãe e da esposa grávida.

'As Tochas de Nero', obra do artista polonês Henryk Siemiradzki (1876)

Em meio a revoltas militares e declarado como inimigo público, Nero fugiu de Roma e, temendo uma execução pública humilhante, cometeu suicídio, com ajuda do seu secretário, que o apunhalou. Com a sua morte, desapareceu a dinastia júlio-claudiana e o império submergiu-se numa série de guerras civis.

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

FREIOS E CONTRAPESOS (I)

SÍMBOLO DO ABUSO DO PODER LEGISLATIVO

Eis o homem coberto de todas as honrarias - Caio Júlio César: líder militar, imperador, cônsul, sumo sacerdote da religião oficial romana, ditador vitalício, figura de deificação oficial. Assassinado em 15 de março de 44 a.C, no Teatro de Pompeu, em Roma, esfaqueado várias vezes por um grupo de senadores romanos, que pretendiam restaurar a República Romana.

'A Morte de Júlio César', obra do artista italiano Vincenzo Camuccini (1804/1805)

O assassinato de César e a subsequente ascensão de seu sobrinho-neto Otaviano como seu herdeiro e vingador levaram a guerras civis e à ascensão do Segundo Triunvirato. Otaviano tornou-se o Imperador César Augusto. A República Romana havia chegado ao fim.

CARTÕES DE NATAL (II)

 

Eis o tempo da Feliz Espera: 
oração, oração, oração!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (X)

Dentre os ícones marianos, no âmbito da tradição bizantina, destacam-se aqueles que representam suas grandes festas: a Natividade da Mãe de Deus (8 de setembro), sua Apresentação no Templo (21 de novembro), a Anunciação (25 de março) e a Dormição da Theotokos (15 de agosto). Maria também é comumente representada nos ícones das duas festas que ela compartilha diretamente com seu Filho: a Natividade de Cristo (25 de dezembro) e a Apresentação do Senhor no Templo (2 de fevereiro).


A Koimesis (ou Kemesis) é o ícone da Dormição, ou seja, do adormecer de Maria. O ícone representa Maria deitada num leito coberto com o mesmo tecido vermelho do presépio, rodeada pelos apóstolos. Logo atrás dela, Cristo segura uma criança vestida de branco, simbolizando a alma de Maria.

Na representação abaixo, podemos explicitar melhor a riqueza dos simbolismos. O ícone, com tons dourados predominantes, mostra Maria em seu leito de morte, rodeada por uma grande gama de personagens, que incluem anjos e santos, líderes da Igreja, bispos, evangelistas, amigos e vizinhos (simbolizados pelas mulheres na janelas) e os apóstolos que chegam em nuvens (símbolo das longas viagens das missões apostólicas) circundando a Nova Sião. Aos pés da Virgem, o discípulo amado inclina-se em direção a ela, num simbolismo bíblico com a frase de Jesus ao discípulo amado na Cruz: 'Eis aí tua Mãe' (Jo, 19,27). São Pedro, à direita, faz a incensação do corpo, com São Paulo na cabeceira do leito. As velas acesas em torno do leito representam a manifestação da luz divina em um mundo de trevas.


O ícone é uma imagem de eventos distintos, embora mostrados num mesmo plano, de forma sequencial. A criança vestida de branco nos braços de Jesus simboliza a alma de Maria sendo levada ao Céu. Na parte superior da imagem, é o próprio corpo físico de Maria, levado pelos anjos, que é conduzido em direção às portas abertas do Reino Celeste, encimado pelo Anjo apocalíptico de seis asas. Um elemento icônico bastante singular está representado duas vezes na parte central da figura: são as chamadas mandorlas, estruturas amendoadas que circundam figuras sagradas. A maior abrange o reino celestial (tomada pelos anjos) e a menor constitui a aura que envolve Jesus Cristo.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

ANO LITÚRGICO 2025 - 2026

Ano Litúrgico 2025-2026, de acordo com o rito católico romano, vai desde o primeiro domingo do Advento (30/11/2025) até a solenidade de Cristo Rei do Universo (22/11/2026), durante o qual a Igreja celebra todo o mistério de Cristo, desde o nascimento até a sua segunda vinda. O Ano Litúrgico 2025-2026 é o Ano A, no qual os exemplos e os ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras principais, retiradas do Evangelho de São Mateus, com exceção de ocasiões especiais (as chamadas Festas e Solenidades do rito litúrgico), quando são utilizadas leituras específicas do Evangelho de São João.

O ano litúrgico compreende dois tempos distintos: os chamados tempos fortes que incluem AdventoNatalQuaresma e Páscoa, durante os quais certos mistérios particulares da obra redentora e salvífica de Cristo são celebrados e o chamado Tempo Comum, no qual celebramos o Mistério de Cristo em sua totalidade, ou seja, encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão do Senhor. 

O Tempo Comum é subdividido em duas partes. A primeira parte começa no dia seguinte à festa do Batismo de Jesus (11/01/2026) e vai até a terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas (18/02/2026), quando tem início a Quaresma. A segunda parte do Tempo Comum recomeça na segunda-feira depois de Pentecostes (24/05/2026) e se estende até o sábado que antecede o primeiro domingo do Advento (29/11/2026), quando tem início um novo Ano Litúrgico, compreendendo sempre um período de 33 ou 34 semanas.

terça-feira, 25 de novembro de 2025

A CIÊNCIA DE DEUS (IX)

Blaise Pascal (1623-1662) foi um matemático, físico, filósofo e inventor católico, com contribuições relevantes na geometria, mecânica dos fluidos, acústica, teoria das probabilidades, filosofia, teologia e no desenvolvimento do método científico. Em honra a tantas e relevantes contribuições científicas, o nome Pascal foi dado à unidade de pressão no Sistema Internacional de Unidades, como lei física (princípio geral da hidrostática), ao triângulo de Pascal e à famosa Aposta de Pascal, argumento filosófico formulado na sua obra Pensées (Pensamentos) que, embora não tenta provar que Deus existe, mostra que crer em Deus seria a escolha mais racional, considerando risco e benefício (como uma tomada de decisão baseada no critério da incerteza).

sábado, 22 de novembro de 2025

SÃO JOÃO BOSCO E O RAMALHETE DE VIRTUDES

Na noite em que estive em Lanzo, chegada a hora de repousar, aconteceu-me que tive o seguinte sonho. É um sonho que não tem nenhuma relação com outros sonhos...

[No sonho, São João Bosco deparou-se, em um lugar esplêndido e de suma beleza, diante de uma imensa multidão de jovens, muitos conhecidos deles dos tempos do Oratório, que caminhava em sua direção, tendo à frente São Domingos Sávio, travando-se então um intenso diálogo entre eles, parcialmente transcrito abaixo].

Sávio me apresentou um magnífico ramalhete que tinha nas mãos. Nele havia rosas, violetas, girassóis, gencianas, lírios, sempre-vivas e, entre as flores, espigas de trigo. Oferecendo-as me disse:
➖ Observa!
➖ Vejo, mas nada entendo - respondi.
➖ Dá este ramalhete a teus filhos para que possam oferecê-lo ao Senhor quando chegar o momento; procura que todos o tenham; a ninguém lhe falte nem o deixe tirar. Podes estar certo de que com ele terão o suficiente para ser felizes.
➖ Mas, que significa esse ramalhete de flores?
➖ Consulta a Teologia; ela te dirá e te dará a explicação.
➖ A Teologia, estudei-a eu, mas não saberia como tirar dela o significado do que me apresentas.
➖ Pois tens estrita obrigação de saber tudo isso.
➖ Vamos, tira-me da minha ansiedade, explica-me tu!
➖ Vês estas flores? Representam as virtudes que mais agradam ao Senhor.
➖ Quais são?
➖A rosa é símbolo da caridade; a violeta, da humildade; o girassol, da obediência; a genciana, da penitência e da mortificação; as espigas, da comunhão freqüente; o lírio indica a bela virtude da qual está escrito: Erunt sicut Angeli Dei in caelo, a castidade. E a sempre-viva significa que todas essas virtudes devem durar sempre, ela simboliza a perseverança.

➖ Ora bem, meu caro Sávio: tu, que durante toda a tua vida praticaste todas essas virtudes, diz-me: o que foi que mais te consolou na hora da morte?
➖ Que te parece que possa ser? - respondeu Sávio.
➖ Foi talvez ter conservado a bela virtude da pureza?
➖ Não; não é só isso.
➖ Alegrou-te talvez teres a consciência tranquila?
➖ Isso é bom, porém não é o melhor.
➖ Por acaso teu consolo terá sido a esperança do Paraíso?
➖ Também não.
➖ Pois então! O haver entesourado muitas boas obras?
➖ Não, não!
➖ Então, qual foi teu consolo na última hora? - perguntei, entre confuso e suplicante, vendo que não conseguia adivinhar seu pensamento.
➖ O que mais me confortou no transe da morte foi a assistência da poderosa e amável Mãe do Salvador. Diz isto a teus filhos: que não se esqueçam de invocá-la emquanto estão em vida. 

Estendi então com ardor as mãos para segurar aquele santo filho; mas suas mãos pareciam aéreas e nada pude tocar.
➖ Que loucura! Que estás fazendo? - me disse Sávio sorrindo.
➖ Temo que te vás - exclamei. Mas, não estás aqui com teu corpo?
➖  Com o corpo, não. Recuperá-lo-ei no último dia.
➖ Mas, que são, então, esses traços que me fazem ver em ti a figura de Domingos Sávio?
➖Quando, por permissão divina, uma alma separada do corpo aparece diante de algum mortal, apresenta-se com a forma exterior do corpo que em vida animou, com todas as suas feições exteriores, embora muito embelezadas, e assim as conserva até que volte a unir-se a ele, no dia do Juízo Universal. Então o levará consigo para o Paraíso. É por isso que te parece que tenho mãos, pés e cabeça; mas tu não podes segurar-me porque sou puro espírito. Esta é só uma forma exterior pela qual me podes conhecer.

➖Compreendo - respondi - mas escuta. Ainda uma pergunta? Meus jovens estão todos no reto caminho da salvação? Diz-me alguma coisa para que possa bem dirigi-los.
➖ Os filhos que a Divina Providência te confiou podem ser divididos em três categorias. Vês estas três listas? Olha-as!

E me estendeu a primeira.

Olhei a primeira; encabeçava-a a palavra invuinerati [ilesos], que continha o nome daqueles aos quais o demônio não pôde ferir, e que não mancharam a inocência com culpa alguma. Eram em grande número e os vi todos. A muitos já conhecia, outros era a primeira vez que via, e certamente virão ao Oratório nos anos futuros. Caminhavam direitos por um caminho estreito, apesar de serem alvo de flechas, espadas e lanças que por todos os lados choviam sobre eles. Essas armas formavam como que uma sebe ao longo das duas bordas do caminho, e os combatiam e molestavam sem entretanto feri-los.

Então Sávio me deu a segunda lista, cujo título era vulnerati [feridos], ou seja, os que haviam estado na desgraça de Deus mas, uma vez postos em pé, haviam curado suas feridas arrependendo-se e confessando-se. Eram em maior número que os primeiros, e haviam sido feridos no sendeiro da vida pelos inimigos que os flanqueavam durante sua viagem. Li a lista e vi todos. Muitos iam curvados e desanimados.

Sávio tinha ainda na mão a terceira lista. Encabeçava-a a epígrafe: Lassati in via iniquitatis [caídos na via da iniquidade]. Nela estavam escritos os nomes dos que estavam na desgraça de Deus. Eu estava impaciente para conhecer o segredo, pelo que estendi a mão. Mas Sávio me disse com vivacidade:

➖ Não, espera um momento e ouve. Se abrires essa folha, dela sairá um tal mau cheiro que nem tu nem eu poderemos suportar. Os Anjos têm que se retirar com asco e horror, e o próprio Espírito Santo sente repugnância pela horrível hediondez do pecado.
➖ Mas como pode ser isso - observei - se Deus e os Anjos são impassíveis? Como podem sentir o mau cheiro da matéria?
➖ Quanto melhores e mais puras são as criaturas, tanto mais se acercam aos espíritos celestiais; pelo contrário, quanto pior, mais desonesto e torpe é alguém, tanto mais se afasta de Deus e dos Anjos, os quais, por sua vez, se afastam dele, que se converteu num objeto de náusea e repugnância.

Passou-me então a terceira lista.

Toma-a - disse - abre-a e aproveita-te dela para o bem de teus jovens; mas não te esqueças do ramalhete que te dei; que todos o tenham e conservem. Isto dito, e depois de entregar-me a lista, retirou-se apressadamente, em meio de seus companheiros, quase como se estivesse fugindo de algo.

Abri então a lista; não vi nenhum nome, mas no mesmo instante me foram apresentados de chofre todos os indivíduos nela escritos, como se na realidade eu visse suas pessoas. Com quanta tristeza os contemplei a todos! A maior parte eu conhecia e pertencem ao Oratório e aos outros colégios. Vi muitos que parecem bons, que parecem até os melhores dentre os companheiros, e sem embargo não o são!

Mas, no ato de abrir a folha, espalhou-se em redor um mau cheiro tão insuportável, que imediatamente me vi assaltado por terrível dor de cabeça e por tais ânsias de vômito que me parecia estar morrendo. Obscureceu-se entretanto o ar, e nisso desapareceu a visão, nada mais eu vendo do maravilhoso espetáculo. Ao mesmo tempo ziguezagueou um raio e ressoou um trovão no espaço, tão forte e terrível que acordei sobressaltado.

(Dos Sonhos de Dom Bosco)

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

CARTAS DO CLAUSTRO



Madre Maria José de Jesus nasceu em 1882, sob o nome de batismo de Honorina de Abreu, sendo a filha primogênita do historiador Capistrano de Abreu. Perdeu a mãe aos 9 anos. Em janeiro de 1911, aos 29 anos de idade, decidiu afastar-se da vida mundana para assumir a rigorosa vida monástica no Convento de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, onde viveu por 48 anos, até a sua morte, em 1959.

Madre Maria José de Jesus falava sete idiomas, entre eles o latim. Traduziu para o português as obras completas de Santa Teresa d'Ávila e a Imitação de Cristo de Tomás de Kempis. Foi priora do Carmelo de Santa Teresa por 27 anos, espaçados em 9 triênios, época em que liderou um importante processo de renovação dos costumes monásticos e fundação de novos conventos. Atualmente é considerada Serva de Deus pela Igreja Católica em vista dos trâmites que buscam sua beatificação.

A opção religiosa promoveu um sensível desgosto e desaprovação no pai, de formação racionalista e agnóstico, como ele mesmo confidenciou ao amigo Mário de Alencar, em carta datada de 18 de janeiro de 1911:

Acho porém o caso dela pior que a morte: a morte é fatal; chega a hora inadiável; em resoluções como a de agora há sempre a crença, certamente errônea, de que o desenlace podia ser outro, e é isto que dói. Só agora vejo como a queria. Passo os dias sem sair, pensando nela, joguete dos sentimentos mais contraditórios, desde a indignação até as lágrimas. Só com os filhos, à hora do jantar, converso sobre ela. O receio de que qualquer estranho se possa referir ao assunto dá-me arrepios... Mas basta de Honorina. Peço-lhe que nunca mais se refira a e te assunto, se eu em primeiro lugar não o abordar.

A correspondência constituía-se no único meio possível para uma comunicação entre pai e filha, pois Capistrano, contrário ao ingresso de Honorina na vida religiosa, mostrava-se irredutível em não mais retornar ao Convento de Santa Teresa. Nas cartas enviadas ao pai, Madre Maria José buscava confortá-lo pela dor sofrida com a separação imposta pelo claustro, assegurando-lhe ter alcançado a felicidade pessoal, como nesta carta de 10 de janeiro de 1925:

Ah, meu pai, o amor paterno é essencialmente desinteressado, por isso não lamente a dor que lhe causei, porque foi a minha felicidade neste mundo e espero que também no outro. Seu sacrifício foi bem recompensado ... Creia, meu bom pai, que me sinto tão feliz na vida religiosa que constantemente estou dizendo comigo mesma: se eu, em vez de ser uma, fosse mil, não deixaria um só dos meus eus no mundo, consagraria todos a Deus; e o mesmo digo se fosse milhões e milhões, quer de mulheres, quer de homens, e ainda que tivesse segura a salvação eterna, fosse qual fosse o estado que abraçasse. Veja, meu querido pai, que sua filha está contente, e fique também contente, pois a felicidade dos filhos é a felicidade dos pais.

Mas é a conversão do pai à fé católica que vai mover Honorina em orações, devoções e pedidos diretos feitos ao pai, por meio de cartas sucessivas e recorrentes ao tema em 1913, 1914, 1917, 1919, 1923, 1924, 1925 (foram 4 cartas abordando o assunto), 1926 e 1927 (mais duas cartas).

Meu Pai tenho duas coisas a pedir-lhe, ambas espirituais. A primeira é que se aliste na Confraria de Nossa Senhora das Vitórias, que há no Colégio dos Jesuítas. O Pe. Semadini disse-me que eu o convidasse. As obrigações são só dar o nome e rezar uma Ave-Maria todos os dias. Ora, eu tenho confiança que por essa Ave-Maria, V. se venha a converter, como a tantos outros tem acontecido (11 de agosto de 2013)

Não há [nada] como a devoção a Nossa Senhora. Eu, enquanto não amei a esta boa mãe, vivi uma vida péssima, e, se não perdi minha alma, foi porque Nosso Senhor, em sua misericórdia, me conservou a vida; logo que a ela recorro, tudo o que me parecia impossível se me tornou fácil e suave, e eu não só pude viver como boa cristã, mas logo aspirei à perfeição da vida religiosa. Desde então sempre tenho amado a minha Mãe do Céu o mais possível. A Ela recorro em tudo, e Ela me tem valido sempre. Experimente, meu querido Pai, e verá como Maria se mostrará Mãe de Deus pela sua onipotência, e Mãe nossa pelo seu amor.

Eu conheci alguma coisa do que o mundo em sua inexperiência da verdadeira felicidade chama prazer, goro, alegria, e louvo infinitos milhões de vezes a Misericórdia Divina que em sua predileção gratuita para comigo não me deixou conhecer mais; entretanto, eu digo, mil vezes mais feliz fui chorando meus pecados com tanta dor, que o coração quase se me partia, do que nos concertos, nos teatros, nos passeios, nessas diversas vaidades que enleiam o espírito mas não lhe dão verdadeira felicidade [...] Quantas vezes me tem acontecido dormir apenas poucas horas durante a noite e de madrugada, quando o corpo mais precisado estava de descanso, ser despertada pela matraca e pular da cama logo com grande alegria, feliz de começar o dia com sacrifício. Como é feliz nossa vida toda de sacrifício, de silêncio, de oração! Não me canso de louvar a Deus que tão misericordiosamente me escolheu para tanto bem, e peço à Sua Divina Majestade que algum dia toda a minha família partilhe a mesma felicidade de conhecer, amar e servir a Deus (23 de outubro de 1917)

Não fique aborrecido comigo e permita que lhe peça, meu bom Pai, que ao menos reze todos os dias, de manhã e de noite, uma Ave-Maria encomendando a Nossa Senhora a hora de sua morte (24 de fevereiro de 1925).

Capistrano de Abreu morreu em 13 de agosto de 1927, no Rio de Janeiro, sem ter-se convertido à fé católica, a despeito de todos os esforços e sacrifícios de Honorina em favor de sua conversão. Tamanhas divergências com o pai, deixaram Madre Maria José profundamente pesarosa, mas nem assim a religiosa arrefeceu em sua esperança. No mesmo dia em que o pai faleceu, Madre Maria José escreveu à sua irmã Matilde, indicando os fundamentos de seu consolo: 

Agora, vamos rezar muito por nosso Paizinho, não é, Matilde, na certeza de que Nosso Senhor não deixou de atender a tantos sacrifícios feitos por ele durante tantos anos e principalmente nestes últimos dias (13 de agosto de 1927). 

(com excertos do artigo 'Cartas do Claustro', de Virgínia Buarque, 2004)

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

A CIÊNCIA DE DEUS (VIII)

A razão ou proporção áurea é uma constante real algébrica irracional, obtida pela divisão do comprimento total de um segmento dividido em duas partes (a e b) pela parte maior. Esse resultado é sempre constante, designada pela letra grega φ (phi - lê-se 'fi"), com valor aproximado de 1,61803398875. O matemático italiano Leonardo de Pisa, conhecido como Fibonacci (1170 - 1250) ratificou no Ocidente conhecimentos prévios de que, numa sequência de números crescentes em que um dado número é a soma dos seus dois precedentes [0,1,1,2,3,5,8,13,21,34,55,89,144,233,377…], ao se dividir qualquer número pelo anterior, o resultado tende sempre para o número φ, com aproximação cada vez maior quanto maiores forem os números [por exemplo, a razão entre 5 e 3 é 1,666, mas a razão de 377 por 233 é de 1,618025]. 


A razão áurea é recorrente na geometria, na anatomia humana e na natureza de maneira geral, sendo, por isso, chamada de 'número de Deus'. O segmento ab, com suas partes a e b, constituindo partes integrantes de uma única coisa, representam a Santíssima Trindade; a razão áurea não admite um valor racional assim como Deus não pode ser definido com palavras humanas; não pode ser alterado de valor assim como Deus é imutável. Quando se aplicam os princípios da Razão Áurea e da sequência de Fibonacci para as dimensões de um retângulo, obtém-se a chamada 'Espiral Áurea', que corresponde à linha traçada seguindo a direção dos quadrados formados nos retângulos áureos.


O 'número de Deus' expressa a perfeição da beleza, da geometria, do arranjo, da anatomia humana (distâncias entre as diferentes partes do corpo regidas pela razão áurea), nas artes e no universo como um todo. Como φ não é um número racional, esssa perfeição nunca pode ser obtida em completude, mas sempre com níveis maiores ou menores de aproximação (como nas razões entre os números da sequência de Fibonacci).






sábado, 25 de outubro de 2025

BREVIÁRIO DIGITAL - ICONOLOGIA CRISTÃ (IX)

(Ícone de São Nicolau  - bispo grego do século IV)

No ícone de figuras bíblicas ou religiosas, consta sempre o nome impresso da pessoa retratada, não apenas para a sua identificação, mas também como um selo de santidade e bênção. Os santos são identificados por suas vestimentas, objetos em suas mãos e idade. Os Evangelistas usam túnicas e exibem seus livros. Bispos estão vestidos com paramentos litúrgicos, segurando um livro ou pergaminho, enquanto monges são retratados com seus hábitos religiosos em poses rígidas. Soldados podem estar em uma posição que expressa ação, portando armas ou vestidos com uniforme militar. Profetas, santos, bispos e monges são retratados sempre em idade bem avançada, enquanto soldados e mulheres são jovens. As mulheres, em geral, tendem a não ser identificadas de imediato, a não ser pelo nome escrito no ícone. 

Por outro lado, a cor, como expressão das nuances da luz, é muito simbólica na iconografia: 

➤ dourado: cor do sol do meio-dia, é a expressão da luz divina que permeia todo o mundo transfigurado, sendo a cor do próprio Cristo. É mais comumente usado como fundo de um ícone, representando um espaço que define o portador como estando além dos domínios deste mundo.

➤ branco: representa a luz, a pureza, a eternidade, Deus Pai e todos aqueles incensados pelas graças divinas.

➤ azul: é a cor que representa a fé, a humildade, a transcendência e os mistérios da vida divina. O azul e o branco são as cores da Virgem Maria, que está desapegada deste mundo e centrada no divino. 

➤ vermelho: é a cor com a maior variedade de significados e interpretações; é a cor do Espírito Santo, do sacrifício e do martírio, do amor e da beleza; pode também expressar o inferno, o ódio, as guerras e todo tipo de conflito e tribulação.

➤ verde: cor associada às manifestações espirituais e proféticas, sendo frequentemente usada para caracterizar João Batista e os profetas.

➤ amarelo: cor representativa da verdade (amarelo vivo) e também de eventos associados a atos de orgulho ou traição (comumente em tons mais claros).

➤ roxo: símbolo da natureza real e do sacerdócio.

➤ marrom: cor associada à terra, à pobreza e ao despojamento, ao recolhimento e hábitos dos monges.

➤ preto: negação da luz e das graças divinas; cor associada à morte, aos réprobros e aos demônios.

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

GALERIA DE ARTE SACRA (XLIII)

Na época medieval, era um procedimento bastante comum decorar as paredes internas das catedrais com tapeçarias preciosas, reproduzindo comumente eventos da vida de Jesus Cristo, Nossa Senhora ou de algum santo. A tapeçaria presente na Catedral de Reims, muito famosa pela quantidade de peças e qualidade da composição, exibe passagens diversas da vida de Nossa Senhora. As tapeçarias da vida de Nossa Senhora foram doadas à Catedral de Reims pelo Arcebispo Robert de Lenoncourt em 1530, contemplando um conjunto total de 17 painéis independentes.

I. Árvore de Jessé [árvore genealógica de Jesus Cristo]
II. Joaquim e Ana expulsos do Templo [por não ter filhos]
III. Encontro de Joaquim e Ana diante do Portão Dourado [a pedido do anjo que profetiza o nascimento da Virgem]
IV. Nascimento de Maria
V. Apresentação de Maria no Templo
VI. Perfeições de Maria [Imaculada Conceição. Modelo e Pefeição da Graça]
VII. José e os Pretendentes de Maria [escolha divina por José]
VIII. Casamento de Maria e José
IX. A Anunciação a Maria
X. A visitação de Maria a Santa Isabel
XI. A Natividade [nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo]
XII. A Adoração dos Reis Magos
XIII. A Apresentação de Jesus no Templo
XIV. A Fuga para o Egito
XV. Parentesco de Maria - As Três Marias [Maria, Maria de Jacobé, Maria de Salomé]
XVI. Dormição da Virgem
XVII. Assunção de Maria

Como exemplo ilustrativo, a figura abaixo apresenta a Tapeçaria VI - As Perfeições de Maria, um tributo à sua Imaculada Conceição, cuja devoção especial ganhou popularidade durante os séculos XV e XVI. 


A tapeçaria é dominada por Deus Pai, declarando Maria como critura toda pura e sem mancha de imperfeição - Tota pulchra es amica mea et macula non est in te (Ct 4,7). No centro da imagem, vemos Maria tecendo, ladeada por dois anjos que trazem pão e vinho. Ela está sentada num jardim, cujos umbrais são encimados por bandeiras que exibem o brasão das catedrais de Reims. Os dois unicórnios, à direita e à esquerda das colunas, simbolizam a virgindade de Maria. Entre Deus Pai e o Jardim, podemos ver os sete anjos da criação e, nos cantos inferiores direito e esquerdo, encontramos figuras de profetas anônimos proclamando a grandeza de Maria.

A riqueza dos detalhes e a magnitude do trabalho, cuja origem exata é desconhecida, são retratadas na figura abaixo, que apresenta uma peça da Tapeçaria XI do conjunto - A Natividade.  

segunda-feira, 7 de julho de 2025

CIVILIZAÇÃO CRISTÃ OU SOCIEDADES MORTAS

Os perniciosos erros que se espalham pelo mundo tendem à descristianização completa dos povos. Ora, isto começa no século XVI com a renovação do paganismo, ou seja, com a renovação da soberba e da sensualidade pagã entre cristãos. Este declínio avançou com o protestantismo, através da negação do Sacrifício da Missa, do valor da absolvição sacramental e, por consequência, da confissão; pela negação da infalibilidade da Igreja, da Tradição ou Magistério, e da necessidade de se observar os preceitos para a salvação.

Em seguida, a Revolução Francesa lutou manifestamente para a descristianização da sociedade, conforme os princípios do deísmo e do naturalismo. O espírito da revolução conduziu ao liberalismo que, por sua vez, queria permanecer numa meia altitude entre a doutrina da Igreja e os erros modernos. Ora, o liberalismo nada concluía; não afirmava, nem negava, sempre distinguia, e sempre prolongava as discussões, pois não podia resolver as questões que surgiam do abandono dos princípios do cristianismo. Assim, o liberalismo não era suficiente para agir, e depois veio o radicalismo mais oposto aos princípios da Igreja, sob a capa de anticlericalismo', para não dizer anticristianismo: a maçonaria.

O radicalismo, então, conduziu ao socialismo e o socialismo, ao comunismo materialista e ateu, como na Rússia, e quis invadir a Espanha e outras nações negando a religião, a propriedade privada, a família, a pátria, e reduzindo toda a vida humana à vida econômica como se só o corpo existisse; como se a religião, as ciências, as artes, o direito fossem invenções daqueles que querem oprimir os outros e possuir toda a propriedade privada.

Contra todas essas negações do comunismo materialista, só a Igreja, somente o verdadeiro Cristianismo ou Catolicismo pode resistir eficazmente, pois só ele contém a Verdade sem erro. Portanto, o nacionalismo não pode resistir eficazmente ao comunismo. Nem, no campo religioso, o protestantismo, como na Alemanha e na Inglaterra, pois contém graves erros, e o erro mata as sociedades que nele se fundam, assim como a doença grave destrói o organismo; o protestantismo é como a tuberculose ou como o cancro, é uma necrose por causa da sua negação da Missa, da confissão, da infalibilidade da Igreja, da necessidade de observar os preceitos.

O que, pois, se segue dos erros citados no que diz respeito à legislação dos povos? Esta legislação torna-se paulatinamente ateia. Não somente desconsidera a existência de Deus e a lei divina revelada, tanto positiva como natural, mas formula várias leis contrárias à lei divina revelada, por exemplo, a lei do divórcio e a lei da escola laica, que termina por tornar-se ateia. Por fim, vem a liberdade total de cultos ou religiões, e da própria impiedade ou irreligião.

As repercussões destas leis em toda sociedade são enormes. Por exemplo, a repercussão da lei do divórcio: qualquer que seja o ano, qualquer que seja a nação, milhares de famílias são destruídas pelo divórcio e deixam sem educação, sem orientação, crianças que acabam por se tornar ou incapazes, ou exaltadas, ou más e, por vezes, péssimas.

Do mesmo modo, saem da escola ateia, todos os anos, muitos homens ou cidadãos sem nenhum princípio religioso. E portanto, em lugar da fé, da esperança e da caridade cristã, têm eles a razão desordenada, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos, o desejo de riqueza e a soberba de vida. Todas essas coisas são erigidas num sistema especialmente materialista, sob o nome de ética laica ou independente, sem obrigação e sanção, na qual às vezes remanesce algum vestígio do decálogo, mas um vestígio sempre mutável. Portanto, qual é, segundo este princípio, o modo de discernir o falso do verdadeiro? O único modo é a livre discussão, no parlamento ou em algum outro lugar, e esta liberdade é, portanto, absoluta, nada pode ser subtraído à sua jurisdição, nem a questão do divórcio, nem a necessidade da propriedade individual, nem a da família ou da religião para os povos.

Neste caso, é para se concluir que estas sociedades, fundadas sobre princípios falsos ou sobre uma legislação ateia, tendem para a morte. Nelas, com o auxílio da graça, as pessoas individuais ainda se podem salvar. Mas estas sociedades, como tais, tendem para a morte, pois o erro, sobre o qual se fundam, mata, como a tuberculose ou o cancro que, progressiva e infalivelmente, destrói o nosso organismo. Só a fé cristã e católica pode resistir a estes erros, e tornar a cristianizar a sociedade, mas, para isso, requer-se uma condição: uma fé mais profunda, conforme as Escrituras: 'Este é o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé' (1Jo 5, 4).

(Pe. Reginald Garrigou-Lagrange)

quinta-feira, 29 de maio de 2025

A CIÊNCIA DE DEUS (I)


Nicolau Steno (1638-1686), forma latinizada do nome Niels Steensen, foi um cientista e sacerdote dinamarquês, pioneiro em contribuições científicas fundamentais para o estudo da anatomia, paleontologia, geologia (particularmente a estratigrafia) e cristalografia.

Em 1669, publicou o Prodomus ou De solido intra solidum naturaliter contento dissertationis prodromus - Discurso preliminar a uma dissertação sobre um corpo sólido naturalmente contido dentro de um sólido - no qual estabeleceu de forma pioneira e singular os princípios que regem a estruturação das sequências sedimentares, conhecidos atualmente como Princípios de Steno, definidos como:

* Princípio da Superposição: os sedimentos se depositam em camadas, sendo as camadas mais novas depositadas acima das camadas mais antigas;
* Princípio da Horizontalidade Original: os sedimentos tendem a se depositar em camadas horizontais;
* Princípio da Continuidade Lateral: as camadas de sedimentos tendem a ser contínuas, com espessuras reduzindo-se lateralmente nas margens da bacia de acumulação.


Steno praticamente abriu mão de uma carreira acadêmica brilhante após a sua conversão ao catolicismo romano em 1667, sendo ordenado sacerdote em 1675. Em 1677, tornou-se bispo titular e passou o resto de sua vida ministrando a fé católica às populações católicas romanas minoritárias no norte da Alemanha, Dinamarca e Noruega e vivendo uma vida pautada por completa modéstia, jejum e oração. Foi beatificado pelo papa São João Paulo II em 1988.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

PROFECIAS CATÓLICAS (VIII)

O próprio Cristo avisou-nos que 'ninguém sabe o dia nem a hora, nem mesmo os anjos do céu, mas unicamente o Pai' (Mt 24,36). É inútil, portanto, tentar determinar qualquer data para o fim do mundo. Ao mesmo tempo, porém, Cristo nos deu uma série de sinais a que devemos estar atentos, e acrescentou: 'Quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas' (Mt 24,33). E quais são esses sinais?
  • O Evangelho será pregado em todo o mundo.
  • Uma perda universal da Fé.
  • A vinda do Anticristo.
  • O regresso dos judeus à Terra Santa.
  • Perturbações generalizadas da natureza.
Santo Afonso de Ligório sistematiza estes sinais da seguinte forma:
  • O Evangelho será pregado livremente em todo o mundo.
  • Todas as nações da terra se afastarão da fé.
  • O Sacro Império Romano-Germânico será desfeito.
  • O Anticristo virá.
  • Enoch e Elias voltarão para pregar.
  • Os judeus voltarão à Terra Santa.
  • Os poderes do céu serão abalados.
  • As estrelas cairão do céu.
  • Haverá terremotos generalizados, além de maremotos, relâmpagos, guerras, fomes e epidemias.
A questão que se apresenta é a seguinte: 'Algum desses sinais já aconteceu?' A resposta não pode ser definitiva e clara. Pode-se afirmar que os dois primeiros sinais já estão aqui: de fato, o Evangelho tem sido pregado em todas as nações e há provas esmagadoras de um afastamento geral da Fé pelas nações. No entanto, tem sido, e pode ainda ser, defendido que a pregação do Evangelho deve ser absolutamente mundial e chegar a cada ser humano, e não apenas confinada a bolsas de atividade missionária em cada nação. Também se pode objetar que a atual falta de fé não é suficientemente geral para ser aplicada ao segundo sinal; na verdade, a Igreja continua muito ativa e influente. Alguns homens de Estado professam abertamente a fé católica. Alguns governos são totalmente ou quase totalmente católicos (por exemplo, Espanha, Portugal e Irlanda).

Na minha opinião, as duas interpretações são válidas, desde que sejam feitas as devidas adaptações. Isto porque há duas fases diferentes no período dos últimos dias: a primeira, que anuncia a fase final, é de menor intensidade; a fase final traz a consumação do mundo. A cada uma destas duas fases aplicar-se-ão os sinais próximos do Fim. Assim, estamos agora prestes a entrar na primeira etapa, a Grande Catástrofe que está iminente e que será seguida por um período de paz. Assim, já podemos ver os sinais da sua chegada: o Evangelho foi pregado em todas as nações (embora imperfeitamente), e a queda da Fé é mundial (mas incompleta). Então, as terras do antigo Império Romano estarão num estado de completo caos e anarquia. O comunismo (uma prefiguração do Anticristo) triunfará (mas a sua vitória será tão curta como a do Anticristo, cerca de trinta anos mais tarde). O futuro Grande Rei e o Santo Pontífice revelar-se-ão ao mundo e combaterão o comunismo, prefigurando assim Enoch e Elias. 

Do céu cairá granizo; terremotos e maremotos causarão estragos em todo o mundo; a fome e as epidemias serão generalizadas. Assim terminará a primeira fase, ou seja, 'a sexta-feira santa da cristandade'. A ressurreição será espetacular: o Grande Rei será o Imperador da Europa Ocidental, ungido pelo Santo Pontífice. Muitos judeus e todos os cristãos não católicos voltar-se-ão para a Verdadeira Fé. Os maometanos abraçarão o cristianismo, assim como os chineses. Em suma, quase todo o mundo será católico. Esta pregação universal do Evangelho constituirá, por sua vez, o primeiro sinal da segunda etapa. No final do reinado do Grande Rei, os povos voltarão a afastar-se da Fé (segundo sinal). Depois, o Sacro Império Romano-Germânico será desfeito (terceiro sinal). O Anticristo virá (quarto sinal). Enoch e Elias serão novamente enviados para combater o Anticristo (quinto sinal). Os judeus regressarão à Palestina (sexto sinal). Novas perturbações da natureza terão lugar (sétimo, oitavo e nono sinais).

Esta minha interpretação pessoal baseia-se no meu conhecimento de um grande número de profecias privadas e em extensas e meticulosas referências cruzadas e correlações efetuadas há muitos anos, quando estava em posição de dedicar muito tempo ao estudo destas profecias. Além disso, esta interpretação não é incompatível com as Escrituras. De fato, a Escritura apoia-a em muitos casos. Lemos no Evangelho, por exemplo, uma descrição de vários males seguida da advertência: 'Mas ainda não é o fim' (Mt 24,6) e, novamente, uma descrição de pestes, fomes e terremotos, com a conclusão: 'Mas estas coisas são o princípio das dores' (Mt 24,8), apenas a primeira fase. Em seguida, é-nos dito que 'o Evangelho deve ser pregado em todo o mundo' (Mt 24,14) antes que o Fim finalmente chegue. No versículo 15, outra descrição desses eventos é dada, mas é claro que os versículos 9 a 14 formam um todo indivisível, assim como os versículos 4 a 8. Então, no final dessa terceira passagem (versículos 15 a 22), somos informados novamente que esses dias serão abreviados por causa dos eleitos, caso contrário nenhuma criatura viva seria salva.

Pelas razões acima, considero certo que haverá duas fases diferentes. A primeira fase será apenas o início das dores, e será abreviada por causa dos eleitos, e o Evangelho será então pregado em todo o mundo. Este será o período de paz sob o Grande Monarca, o período de conversões e prosperidade geral de que nós e os nossos filhos poderemos desfrutar - em suma, o período de paz prometido por Nossa Senhora de Fátima.

(Excertos da obra 'Catholic Prophecy: The Coming Chastisement', de Yves Durant)

sábado, 28 de dezembro de 2024

SANTOS INOCENTES

Rachel plorans filios suos et noluit consolari

'Vendo, então, Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irritado e mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia indagado dos magos. Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias (Jr 31,15): Em Ramá se ouviu uma voz, choro e grandes lamentos: é Raquel a chorar seus filhos; não quer consolação, porque já não existem' (Mt 2,16-18)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

PROFECIAS CATÓLICAS (VII)

👉 Jeanne le Royer (Irmã da Natividade): 'Vi, à luz do Senhor, que a fé e a nossa santa religião tenderiam a se tornar mais fracas em quase todos os reinos cristãos. Deus permitiu que eles fossem castigados pelos ímpios, a fim de os despertar da sua apatia. E, depois que a justiça de Deus tiver sido satisfeita, Ele derramará uma abundância de graças sobre a sua Igreja, e Ele espalhará a Fé e restaurará a disciplina da Igreja naqueles países onde ela se tornou morna e frouxa. 'Vi em Deus que a nossa Mãe, a Santa Igreja, se espalhará por muitos países e produzirá os seus frutos em abundância para compensar os ultrajes que terá sofrido com a impiedade e as perseguições dos seus inimigos'.

'Vi que os pobres, cansados dos trabalhos árduos e das provações que Deus lhes enviou, serão então animados por uma alegria que Deus infundirá nos seus bons corações. A Igreja tornar-se-á, pela sua fé e pelo seu amor, mais fervorosa e mais florescente do que nunca. A nossa boa Mãe, a Igreja, assistirá a muitas coisas espantosas, mesmo da parte dos seus antigos perseguidores, pois eles apresentar-se-ão e lançar-se-ão aos seus pés, reconhecê-la-ão e implorarão o perdão de Deus e dela por todos os crimes e ultrajes que tinham perpetrado contra ela. Ela não mais os considerará como seus inimigos, mas os acolherá como seus próprios filhos'.

'Agora todos os verdadeiros penitentes acorrerão de toda parte à Igreja, que os acolherá de bom grado. Toda a comunidade dos fiéis derramará os seus corações em hinos de penitência e de ação de graças à glória do Senhor. Vejo em Deus um grande poder, conduzido pelo Espírito Santo, que restabelecerá a ordem através de uma segunda convulsão. Vejo em Deus uma grande assembleia de pastores que defenderão os direitos da Igreja e da sua Cabeça. Eles restaurarão as antigas disciplinas. Vejo, em particular, dois servos do Senhor que se distinguirão nesta luta gloriosa e que, pela graça do Espírito Santo, encherão de zelo ardente os corações desta ilustre assembleia.

'Todos os falsos cultos serão abolidos: todos os abusos da Revolução serão destruídos e os altares do verdadeiro Deus serão restaurados. As práticas anteriores serão postas em vigor novamente e nossa religião - pelo menos em alguns aspectos - florescerá mais do que nunca'.

Comentários: Esta 'grande assembleia de pastores' que restaurará as antigas disciplinas e as antigas práticas é, sem dúvida, o Concílio Ecumênico a que se referem muitas outras profecias. Este Concílio Ecumênico também 'destruirá os abusos da Revolução', que o Vaticano II libertou. Estes abusos não podem ser de natureza política, pois não é função de um concílio ecumênico tomar decisões políticas. Esses abusos, portanto, são litúrgicos. São os abusos que é suposto aceitarmos e saudarmos como uma 'renovação'. E são de fato 'da Revolução', porque é inegável que o espírito da Revolução entrou na Igreja. Além disso, a menção de que 'as práticas anteriores serão novamente postas em vigor' e de que 'os falsos cultos serão abolidos' parece confirmar essa visão. 

'Vejo em Deus que a Igreja gozará de uma paz profunda durante um período que me parece bastante longo. Esta pausa será a mais longa de todas as que ocorrerão entre as revoluções, desde agora até ao Juízo Geral. Quanto mais nos aproximarmos do Juízo Geral, tanto mais curto será o tempo. Quanto mais nos aproximarmos do Juízo Geral, mais curtas serão as revoluções contra a Igreja. O tipo de paz que se seguirá a cada revolução também será mais curto. Isso acontece porque estamos a aproximar-nos do Fim dos Tempos e pouco tempo restará para os eleitos fazerem o bem ou para os ímpios fazerem o mal.

'Um dia o Senhor me disse: 'Alguns anos antes da vinda do meu inimigo, Satanás levantará falsos profetas que anunciarão o Anticristo como o verdadeiro Messias, e eles tentarão destruir todas as nossas crenças cristãs. E fará com que as crianças e os velhos profetizem. Quanto mais nos aproximarmos do reinado do Anticristo, mais as trevas de Satanás se espalharão sobre a terra, e mais os seus satélites aumentarão os seus esforços para apanhar os fiéis nas suas redes'.

Comentários: Como eu disse anteriormente, a evidência extraída de tantas profecias é tal que é verdadeiramente impossível negar de boa fé - a não ser por ignorância dessas profecias - que entramos agora no período apocalítico. O quadro geral é bastante claro - tão claro que não requer interpretação. Relativamente à passagem acima, parece-me que os falsos profetas já estão entre nós. Estes falsos profetas infiltrar-se-ão cada vez mais na Igreja, de modo que os fiéis terão dificuldade em saber quais as novas tendências que devem rejeitar e quais as que devem aceitar. É um tempo de confusão, de tristeza e de angústia para muitos. 

'Quando se aproximar o reinado do Anticristo, aparecerá uma falsa religião que negará a unidade de Deus e se oporá à Igreja. Os erros causarão estragos como nunca antes. Um dia encontrei-me numa vasta planície sozinha com Deus. Jesus apareceu-me, e do alto de uma pequena colina, mostrando-me um belo sol no horizonte, Ele disse com tristeza: 'O mundo está a passar e o tempo da minha segunda vinda aproxima-se. Quando o sol está prestes a pôr-se, sabe-se que o dia está quase a terminar e que a noite vai cair em breve. Para mim, os séculos são como dias. Olha para este sol, vê o quanto ainda tem de viajar e calcula o tempo que resta ao mundo'.

'Olhei atentamente e pareceu-me que o Sol se ia pôr dentro de duas horas. Jesus disse: 'Não te esqueças que não são milénios, mas apenas séculos, e que são poucos'. Mas eu compreendi que Jesus reservava para si o conhecimento do número exato, e não quis perguntar-lhe mais. Bastou-me saber que a paz da Igreja e a restauração da disciplina iriam durar um tempo razoavelmente longo.

'Deus manifestou-me a malícia de Lúcifer e as intenções perversas e diabólicas dos seus sequazes contra a Santa Igreja de Jesus Cristo. Sob o comando do seu mestre, esses homens perversos cruzaram o mundo como fúrias para preparar o caminho e o lugar para o Anticristo, cujo reinado está a aproximar-se. Através do hálito corrompido de seu espírito orgulhoso, eles têm envenenado as mentes dos homens. Como pessoas infectadas com peste, comunicaram o mal uns aos outros, e o contágio tornou-se geral. A tempestade começou na França e a França será o primeiro teatro da sua devastação, depois de ter sido o seu berço. A Igreja no Conselho atacará um dia com anátemas, derrubará e destruirá os maus princípios dessa constituição criminosa. Que consolação! Que alegria para os verdadeiros fiéis!'

Comentários: O espírito orgulhoso que tem envenenado as mentes dos homens é, sem dúvida, o Racionalismo no seu sentido original. De fato, todos os outros erros modernos derivam dele. É impossível mostrar em poucas páginas como o Racionalismo se desenvolveu no Liberalismo e finalmente levou ao Marxismo. Há razões naturais e sobrenaturais para isso. Quando as pessoas compreenderem porque é que o mundo está doente, então poderão também descobrir como é que ele pode ser curado. É certo que a irreligião é a causa principal, mas o problema não é tão simples como isso porque muitos religiosos já aceitaram os erros dos agnósticos, mesmo que eles próprios não sejam agnósticos. Nunca antes os homens se vangloriaram tanto da sua 'maturidade' e da sua 'ciência', mas nunca antes estiveram tão confusos e perdidos como atualmente. A revolução a que a Irmã Joana se refere é a Revolução Francesa de 1789 mas, mais genericamente, pode ser considerada como a revolução universal de ideias chamada 'Iluminismo', que ainda continua nos nossos tempos. De fato, a revolução de 1789 não foi mais do que o resultado palpável do Iluminismo, mas contribuiu para espalhar os seus erros por todo o mundo. 

👉 Frade Franciscano (século 18). 'Todas as ordens religiosas serão suprimidas, exceto uma, cuja regra será tão rígida e severa quanto a dos monges do passado. Durante essas calamidades, o Papa morrerá. Como resultado, a mais dolorosa anarquia prevalecerá dentro da Igreja. Três Papas disputarão o trono pontifício: um alemão, um italiano e outro grego. Todos serão instalados pelo poder armado de três facções'.

👉 Beato Gaspar Del Bufalo (século 19); 'A morte dos perseguidores impenitentes da Igreja ocorrerá durante os três dias de escuridão. Aquele que sobreviver à escuridão e ao medo desses três dias pensará que está sozinho na terra, porque o mundo inteiro estará coberto de cadáveres'.

👉 Irmã Maria de Jesus Crucificado (século 19): 'Todas as nações serão abaladas por guerra e revolução. Durante os três dias de escuridão, os seguidores da causa do mal serão aniquilados, de modo que apenas um quarto da humanidade sobreviverá'.

👉  Nossa Senhora de Fátima (século 20): 'Se meus pedidos forem atendidos, a Rússia se converterá e haverá paz. Caso contrário, a Rússia espalhará seus erros por todos os países, promovendo guerras e perseguições contra a Igreja: muitos serão martirizados. O Santo Padre terá muito a sofrer, e muitas nações serão destruídas'.

Comentários: Esta mensagem foi dada pouco antes de o Comunismo tomar conta da Rússia. As revelações de Fátima foram confirmadas por Pio XII, João XXIII e Paulo VI. Nenhum católico digno desse nome pode ignorá-las. Muitas outras mensagens foram dadas ao mundo desde 1917: Beauraing, Banneux, Osnabruck, Girkalnis, Bonate, Caderosa, Heede, Pfaffenhofen, Montichiari, Espis, Gimigliano, Sisov, Sicília, Necedah, Garabandal, San Damiano, México, Quebec, New Norcia, e muitas outras.Algumas já foram aprovadas pela Igreja, algumas ainda estão sendo investigadas, outras foram objeto de julgamento negativo, e outras ainda foram condenadas. Algumas já foram aprovadas pela Igreja, algumas ainda estão sendo investigadas, outras foram objeto de julgamento negativo e outras ainda foram condenadas. Todas essas mensagens recentes, no entanto, confirmam o que as outras profecias dizem.

(Excertos da obra 'Catholic Prophecy: The Coming Chastisement', de Yves Durant)

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

ANO LITÚRGICO 2024 - 2025

Ano Litúrgico 2024-2025, de acordo com o rito católico romano, vai desde o primeiro domingo do Advento (01/12/2024) até a solenidade de Cristo Rei do Universo (23/11/2025), durante o qual a Igreja celebra todo o mistério de Cristo, desde o nascimento até a sua segunda vinda. O Ano Litúrgico 2024-2025 é o Ano C, no qual os exemplos e os ensinamentos de Jesus Cristo são proclamados a cada domingo pelas leituras principais, retiradas do Evangelho de São Lucas, com exceção de ocasiões especiais (as chamadas Festas e Solenidades do rito litúrgico), quando são utilizadas leituras específicas do Evangelho de São João.

O ano litúrgico compreende dois tempos distintos: os chamados tempos fortes que incluem AdventoNatalQuaresma e Páscoa, durante os quais certos mistérios particulares da obra redentora e salvífica de Cristo são celebrados e o chamado Tempo Comum, no qual celebramos o Mistério de Cristo em sua totalidade, ou seja, encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão do Senhor. 

O Tempo Comum é subdividido em duas partes. A primeira parte começa no dia seguinte à festa do Batismo de Jesus (12/01/2025) e vai até a terça-feira antes da Quarta-feira de Cinzas (05/03/2025), quando tem início a Quaresma. A segunda parte do Tempo Comum recomeça na segunda-feira depois de Pentecostes (08/06/2025) e se estende até o sábado que antecede o primeiro domingo do Advento (30/11/2025), quando tem início um novo Ano Litúrgico, compreendendo sempre um período de 33 ou 34 semanas.