quinta-feira, 15 de julho de 2021

A MEDIDA DO RIGOR DA JUSTIÇA DIVINA


Inocêncio III foi o papa da Igreja no período de 1198 até 1216, quando faleceu repentinamente. Eleito pontífice aos 37 anos, desenvolveu um dos mais longos pontificados (18 anos) e, entre as suas muitas e decisivas contribuições à Igreja, destacam-se a iniciativa de convocação do IV Concílio de Latrão, no qual foi definida dogmaticamente a doutrina da transubstanciação e o firme combate às heresias e às tentativas de invasão das hordas muçulmanas na Europa. São Francisco de Assis recebeu diretamente deste papa a permissão para fundar a sua Ordem dos Frades Menores.

Logo após a sua morte, este papa apresentou-se diante de Santa Lutgarda de Aywieres, uma das grandes místicas do século XIII, reconhecida pelas suas visões, profecias e diversos milagres, que incluíram até a levitação. A ela, o papa Inocêncio III revelou estar no Purgatório, ao qual descreveu como 'terrível', para a purgação de três pecados específicos cometidos em sua vida. Revelou ainda que que tal aparição consistia em um favor especial de Nossa Senhora, que o permitiu pedir, à mística belga, orações em sua intenção para a abreviação da sua pena e dos seus sofrimentos que, segundo ele, poderiam demandar um tempo 'equivalente a séculos'.

Assim, um papa, renomado e aclamado como um dos grandes pontífices da Igreja, revelou ser refém do Purgatório após a sua morte e que poderia padecer daqueles tormentos terríveis por um tempo da ordem de séculos, para expiação de três faltas específicas cometidas em vida. Desse fato - e quantos não o corroboram da mesma forma - resultam duas grandes lições:

(i) as almas do Purgatório não possuem méritos próprios para abreviar ou livrar-se das penas da purificação e, assim, dependem, em escala absoluta, da nossa intercessão neste mundo, para oferecer orações e penitências em suas intenções. 

(ii) os tempos de purgação são regulados pela justiça divina e não pelas interpretações humanas; quem morre, mesmo que seja uma pessoa reconhecidamente de grande bem e notória santidade, precisa de muitas orações e penitências de nossa parte. Não sabemos se qualquer pessoa falecida já está em Deus ou 'foi descansar' depois de um longo sofrimento nesta vida: em quaisquer circunstâncias, as almas dos falecidos precisam de nossas orações, orações e orações, não apenas nos dias seguintes à sua morte, mas todos os dias, ao longo de semanas, anos e mais anos, porque, definitivamente, não conhecemos com exatidão a magnitude da justiça divina.

A medida do rigor da justiça divina pode ser apreendida ao se relembrar um fato específico e quase casual das mensagens de Nossa Senhora em Fátima. Este fato ocorreu já na primeira aparição e a sua revelação deveu-se a uma resposta de Nossa Senhora a uma pergunta de Lúcia. Recapitulemos o diálogo entre a Mãe de Deus e a pastorinha de Fátima:

  - A Maria das Neves já está no céu?

   - Sim, está.

   - E a Amélia?

   - Estará no Purgatório até o fim do mundo.