A intimidade consciente da alma com Deus não se mantém constantemente no seu grau mais elevado. Com efeito, embora em certos momentos esteja muito viva, geralmente tende a ser bastante latente, oclusa, semiconsciente. Em uma palavra, ainda não é perfeita. Nestes longos momentos que poderiam ser chamados de 'tempos menores' da vida interior, a união ainda continua existindo. Deus ainda é o bem da alma e a alma ainda é o bem de Deus. Deus não duvida da alma, assim como a alma não duvida de Deus. Em ambos os lados existe ainda a fidelidade mais sensível.
E, no entanto, às vezes Deus parece se afastar. Se alguém perguntar ao interior da alma: 'Onde está o teu Deus? Ele não te abandonou?', ela responderia com toda a sinceridade do seu coração: 'É verdade que já não sinto mais tanto a sua presença comigo, mas ele não me abandonou. Na verdade, sei onde está e o que faz: pastoreia entre lírios'. Pois Jesus tem outras ovelhas que ama e que cuida. E eles constituem o seu rebanho.
Mas Deus continua a se ocultar e as horas vão passando. A esperança persiste viva em nossos corações. Uma vez que Deus se esconde, não há que se procurá-lo? E se Ele continua se escondendo, como é seu direito, não devemos buscá-lo sempre e continuamente como nosso dever? A alma interior deve então, mais do que tudo, proclamar muito alto e sinceramente, apesar disso lhe custar tanto, o direito de seu Deus dedicar-se a ela quando e como quiser.
Há bem pouco bastaria à alma recolher-se, e mirar-se no íntimo de si mesma, para aí encontrar o seu Deus e deleitar-se da paz e da alegria da sua presença e da sua posse. Mas eis que agora, não importa o quanto faça para retomar aquela intimidade interior que é como a fonte do repouso para estar com 'Aquele a quem o seu coração ama', ela não o possui e não o encontra, porque Deus assim o quer. Momentos dolorosos da vida interior, em que parece que as graças de outrora nada mais foram do que um raio que se desfez na noite e que nunca mais voltará a brilhar! Se a força divina não a sustentasse sem que ela soubesse e se a paz, uma paz profunda, não desse a certeza de que está tudo bem mesmo assim, a alma interior tenderia a abandonar a sua busca e prostraria desanimada. Mas não é isso que devemos fazer: devemos perseverar sempre!
A alma interior não pode resignar-se à ausência de Deus. Ela o procurou onde o encontraria, onde Ele se dignava a dar-se a ela, isto é, no íntimo de si mesma, mas foi em vão. O que fazer então? Ficar na inação estéril não é possível. O amor que não age não é verdadeiro. Se o Amado não vem à alma, a alma deve ir a Ele. Levantar-me-ei e andarei pela cidade, procurando o Amado da minha alma. Mas onde pode estar? Qual direção tomar para encontrá-lo? Ele não pode estar senão nesta cidade que é a sua, a cidade de Deus: 'Se percorrêssemos toda a cidade, se visitássemos todas as praças e todas as ruas da cidade, uma a uma, por acaso não o encontraríamos?'
E é assim que começa aquela busca incessante. A alma interior busca encontrar Aquele a quem ama no Céu, mais do que em qualquer outro lugar, pois é lá que Ele mora. E lá descortina tudo e lá percorre por todos os caminhos. Ela implora aos anjos e aos santos, e especialmente à Bem-aventurada Virgem Maria, que os façam encontrar o seu Deus. E todos a ouvem com gentileza e se solidarizam com ela. Eles a encorajam a perseverar. Mas, aparentemente, todos seguem uma ordem comum para se calarem. O silêncio deles é como um véu que envolve e recobre o Santo dos Santos. A alma compreende, então, que, apesar de seu forte desejo e insistência, esse véu não será desvelado. Vós sois um Deus oculto, ó meu Deus! Só Vós podeis iluminar as trevas e revelar-se à alma que o ama. Quando o fareis?
A alma então se volta para as almas do Purgatório. Talvez elas possam lhe dizer onde está o seu Deus e como fazer para encontrá-lo. Mas, infelizmente, também não tem melhor sorte com elas. 'O mal que padeces' - respondem estas almas - 'é o mesmo que sofremos. Não nos preocuparíamos com o fogo que nos atormenta se possuíssemos Aquele que também amamos. O que aumenta a nossa dor, tal como aumenta a sua, é que não sabemos quando esse Deus, tão justo e tão bom mesmo em seus rigores, se dignará a se mostrar finalmente a nós. Parece-nos que esse 'mal de amor' nunca vai ter fim. Pobre alma, que busca se acolher em quem lhe é ainda mais infeliz! Se o nosso Deus dignar-se a lhe devolver a alegria da sua doce presença, lembre-se de nós e suplique a Ele que venha nos encontrar também o mais rápido possível'.
É preciso, portanto, voltar à terra e bater à porta daquelas almas que sabemos estar mais perto de Deus. Normalmente elas também se escondem. Mais que tudo, elas escondem cuidadosamente o segredo de suas vidas, mas percebemos quem são. Meio que adivinhamos quem são. E, discretamente, com receio de que nos afastem, as interrogamos: 'Como descobrir onde Deus se esconde? Como atrair sobre nós a presença de um Deus tão bom? Como podemos manter a sua presença em nós? Como trazê-lo à nossa volta se está longe? Certamente há uma forma de acessá-lo e conquistá-lo. Quem poderia e gostaria de me ensinar isso? Queria tanto aprender e pagaria tudo para saber como! Quem se sensibilizaria por mim? Quem iluminaria o meu caminho, quem compartilharia esse segredo, quem me daria todas as respostas? Quem me permitiria, enfim, buscar e finalmente encontrar o meu Deus?' Todas essas perguntas permaneceriam sem resposta. Pois mesmo as almas mais santas seriam impotentes enquanto Deus não quiser fazer este encontro. E a alma desolada continuaria assim repetindo o grito doloroso do seu coração: 'Procurei por Deus e não o encontrei'.
Deus quer que a alma interior se submeta humildemente, como uma criança, àqueles que o representam legitimamente nesta terra. Ele permanece esperando por este último ato para recompensar todos os atos da alma de uma só vez. Por outro lado, a Deus agrada intervir quando toda a esperança parece perdida e, assim, manifestar a sua onipotência. Quer que tenhamos bem em conta que Ele é livre para dar quando e como quiser. A alma não ignora isso. E assim deixa ao seu Deus o cuidado e a hora de manifestar a sua recompensa. Enquanto isso, continua a sua caminhada e a sua busca incessante, até que o seu desejo seja enfim concedido. E, de repente, a alma encontra-se face a face diante de Deus. E, tal como outrora Maria Madalena, ouve também ser chamada pelo nome e, então, não é capaz de exclamar nada mais do que uma única frase: 'Meu Deus!'
Que alegria então, meu Deus, quando uma alma que Vos buscou por tanto tempo e com tanta dor, finalmente Vos encontrasse! Se fosse dada a pensar racionalmente, nem seria capaz de acreditar em tal coisa! Mas nem tem tempo para isso. A presença de Deus a imobiliza e, de certa forma, também o seu próprio pensamento. Deus aí está. O olhar da alma está posto em Deus, somente em Deus, fixado em Deus e por Deus cativado. Ó como é bom e suave contemplar-Vos, ó meu Deus, 'beleza sempre antiga e sempre eterna'! E, Vos contemplar, ainda que de forma imperfeita e velada no desterro dessa vida, já não é Vos possuir? É isso que experimenta a alma bem aventurada quando Deus se digna a aparecer a ela: parece que, verdadeiramente, contemplar-Vos já é possuir-Vos! E isso não é uma ilusão do seu coração.
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte II - A Ação de Deus; tradução do autor do blog)