SOBRE O PODER E GLÓRIA DO SANTO NOME DE JESUS
'humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes' (Fp 2, 8-9)
Caríssimos no Senhor! Neste domingo, celebramos de modo especial a festa em honra do Santo Nome de Jesus, aquele nome que é, para cada cristão, o mais nobre e querido, o mais santo e o mais consolador. Ao honrar e amar o nome do nosso Salvador, mostramos o nosso respeito e amor por Aquele que tem este nome abençoado. Neste sentido, honramos e louvamos os nomes dos santos cuja memória nunca morrerá, mas será sempre honrada por Deus e pelos homens; pensamos com alegria nas suas excelsas e heroicas virtudes, na sua fé viva e inabalável, no seu amor abnegado ao próximo, no seu incansável zelo em ajudar os seus semelhantes a alcançar a verdadeira felicidade e a salvação que só provém de Deus - sim, verdadeiramente os nomes dos santos, e sobretudo o da Rainha dos Santos, e os nomes de todos os eleitos de Deus, nos são caros e os pronunciamos com reverência e amor pois, de fato, seria um pecado não o fazer.
Mas há um nome que está acima de todos os outros nomes, um nome que devemos sempre pronunciar com a maior reverência, com a maior alegria e o mais terno amor; e esse é o Nome de Jesus. E porque todos nós guardamos, nos nossos corações, um respeito tão profundo, um amor e uma devoção tão grandes por este Nome Santíssimo? Em primeiro lugar, por causa da sua glória e excelência e, em segundo lugar, por causa do seu maravilhoso poder e abundância de graça. Façamos disto o objeto da nossa meditação no nome de Jesus: 'Que se humilhou a si mesmo, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo o nome'.
I - Amado no Senhor! Ninguém é capaz de explicar o grande mistério revelado na terra por Cristo, o Filho de Deus encarnado. Segundo a expressão do Apóstolo São Paulo, na sua carta aos colossenses, este mistério, que o Apóstolo diz ser o próprio Cristo, está escondido desde toda a eternidade em Deus. Quando, na plenitude dos tempos, foi revelado, recebeu um nome que nos mostrou distintamente, à luz da fé, o grande e maravilhoso significado da Encarnação do Filho de Deus e da nossa redenção. Deus, o Pai Eterno, quis escolher Ele mesmo o nome que o seu Filho bem-amado deveria levar sobre a Terra e Ele anunciou esse nome ao mundo por um anjo do Céu.
Com efeito, outorgado e enviado por Deus, o arcanjo Gabriel trouxe a mensagem à Santíssima Virgem Maria: 'Eis que conceberás no teu ventre e darás à luz um filho, e o seu nome será Jesus'. E o anjo disse a José: 'José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados' (Mt 1, 20-21). E, novamente, como ouvimos na Festa da Circuncisão de Nosso Senhor: 'Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno' (Lc 2,21).
O nome de Jesus, portanto, não foi dado ao nosso Salvador por um homem ou um anjo, mas pelo próprio Deus. Este nome santíssimo estava desde toda a eternidade escondido sob o mistério da Encarnação no seio, no coração do Pai, foi revelado ao mesmo tempo com a realização deste mistério do Céu, para que nós, homens, pudéssemos exprimir de forma digna o nosso respeito e a nossa gratidão por aquilo que o Filho de Deus, na sua natureza humana, pelo seu incompreensível amor por nós, tinha feito e sofrido pela nossa salvação: 'a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados' (Mt 1,21); mas não somente o povo eleito, mas toda a humanidade, como diz o Apóstolo São João, de modo a reunir todos os filhos de Deus dispersos, para serem feitos um só aqui na terra e um só no Céu.
'Jesus Cristo' - diz este mesmo Apóstolo - é a propiciação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo' (I Jo 2,2). Como diz São Paulo, Cristo Jesus é o único mediador entre Deus e os homens. O nome de Jesus significa, portanto, Salvador, Redentor e Mediador, e lembra-nos tudo o que o Filho de Deus realizou aqui na terra para nos redimir e nos tornar eternamente felizes. Lembra-nos toda a sua vida terrena, desde o seu nascimento até à sua morte, todos os passos que deu, os milagres que fez, todos os doentes que curou, todos os mortos que ressuscitou, os pecadores que perdoou, os sacramentos que deixou na sua Igreja; em uma palavra, tudo o que o Filho de Deus encarnado fez, e continua a fazer, não só para nos tornar felizes aqui na terra, mas também para nos tornar felizes e nos abençoar por toda a eternidade. O nome de Jesus é, portanto, para nós, o nome mais querido e o mais glorioso.
Nosso Salvador mereceu esse nome para si mesmo. É o nome de honra, que pertence ao Filho de Deus, que morreu na cruz para salvar o mundo decaído. Esse nome é a recompensa, o preço da vitória, que Ele recebeu do seu Pai Celestial; o louvor e o renome que Ele receberá para sempre do mundo cristão agradecido. Isto nos é ensinado e proclamado pelo grande Apóstolo do povo, nas palavras mais emocionantes, quando ele diz de Cristo: 'Ele humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso também Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo o nome, para que em nome de Jesus se dobre todo o joelho daqueles que estão nos céus, na terra e debaixo da terra; e toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor' (Fl 2, 8-11).
E eis que, como foi dito, assim aconteceu. O nome de Jesus foi colocado sobre a cabeça do Salvador crucificado no Gólgota: Jesus Nazarenus, Rex Judoeorum - Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus, mas agora brilha sobre o céu e a terra, para glória de Deus Filho. Todos os anjos e santos do céu pronunciam este nome glorioso com um júbilo e um arrebatamento indescritíveis. Todos os fiéis na terra louvam o nome do seu maior benfeitor com a mais profunda reverência e intensa gratidão. As almas sofredoras do Purgatório suspiram com jubilosa esperança sempre que pensam neste Santo Nome, e o seu desejo é louvar e glorificar este Santo Nome com todos os eleitos do Céu. Quem de nós se atreveria a pronunciar este Santíssimo Nome com indiferença ou sem circunspeção? Não, ó Jesus, como poderíamos ser culpados de tal ofensa contra Vós? Com a mais profunda reverência e o mais ardente amor, conservaremos para sempre o vosso Nome Glorioso em nossos corações e o pronunciaremos com as nossas línguas; e também o invocaremos com a mais completa confiança.
II. Por esta razão, amados cristãos, escutai algumas palavras sobre o maravilhoso poder do nome de Jesus. Em primeiro lugar, é o próprio Salvador que nos assegura o maravilhoso poder do seu nome divino, pois diz dos que nele crêem: 'expulsarão os demônios em meu nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal; imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados' (Mc 16, 17-18). Sobre o poder do seu nome, Jesus diz, ainda que toda a oração feita em seu nome será ouvida. 'Em verdade, em verdade vos digo' - diz Ele aos seus discípulos - 'se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu Nome, Ele atenderá o vosso pedido' (Jo 14,13). Até agora não pedistes nada em meu nome, mas orai, para que possais receber, para que a vossa alegria seja perfeita.
A Sagrada Escritura e as tradições da nossa Santa Igreja ensinam-nos as inúmeras vezes que o Senhor cumpriu esta sua promessa, e quão poderoso e cheio de bênçãos é o seu Santo Nome. Pedro e João, nos primeiros tempos da Igreja, subiram ao Templo para rezar. Um homem coxo de nascença estava sentado à porta do Templo e pediu uma esmola aos Apóstolos. Pedro sentiu-se possuidor de tesouros que ultrapassavam todas as riquezas da terra e, fortalecido pela promessa do Salvador, dirigiu-se ao coxo: 'Olha para nós!' Este fez isso, na esperança de receber algo deles. Mas Pedro disse-lhe: 'Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho isso te darei: em Nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!' E o coxo levantou-se e entrou com eles no Templo para louvar a Deus.
São Paulo tinha chegado a Filipos, a capital da Macedônia. Percorreu as ruas da cidade em direção a uma casa de oração. No caminho, encontrou uma criada que estava possuída por um espírito mau. O Santo Apóstolo teve pena da infeliz rapariga e, confiando nas promessas do Senhor, disse ao espírito mau: 'Eu te ordeno, em nome de Jesus Cristo, que saias dela!'. E o demônio saiu imediatamente de dentro dela. Quando foi entregue ao Apóstolo São João uma taça cheia de veneno; ele pronunciou o nome de Jesus sobre ela, e o veneno não lhe fez mal algum.
Dotados do poder do Santo Nome, os Apóstolos saíram para converter o mundo. Não só fizeram inúmeros milagres, mas também aqueles que acreditaram nas suas palavras fizeram milagres em nome de Jesus. Ao som deste Nome Divino, os templos dos pagãos desmoronavam-se. Perante ele, os espíritos das trevas fugiam. Por meio deste nome vitorioso, os ensinamentos de Jesus foram difundidos sobre a face da terra. Neste nome, a Igreja desempenha a sua missão divina todos os dias até ao fim do mundo; por meio dele ensina, reza, abençoa e consagra. Mas, meus caros cristãos, cada um de nós pode experimentar em si mesmo o poder e os efeitos maravilhosos deste nome consolador. Sim, ó alma cristã, se invocares o nome de Jesus com devoção, obterás certamente todas as coisas necessárias para a tua salvação. Este Santíssimo Nome dar-te-á conselho nas dificuldades, coragem nos perigos, fortaleza e força nas tentações, perseverança no bem, consolação e alegria nas tribulações e nos sofrimentos. Quando os Apóstolos do Senhor foram flagelados em Jerusalém, alegraram-se por terem sido considerados dignos de sofrer a ignomínia pelo nome de Jesus.
Quanto mais devotamente reverenciarmos e invocarmos o nome de Jesus, tanto mais o nosso Salvador mostrará um amor terno e percetível para conosco. 'Meu Jesus' - exclamava Santo Agostinho - 'assim que começo a pronunciar o vosso nome, percebo uma doçura sobrenatural na minha boca e uma surpreendente mudança do coração'." 'O nome de Jesus' - diz São Bernardo - 'é como mel na boca, um som suave nos ouvidos e uma alegria para o coração'. Quão doce e consolador é o nome de Jesus, em todas as dores e sofrimentos desta vida mutável, mas é o mais doce de todos na hora da morte. Com o nome de Jesus nos lábios, os santos de Deus expiraram suas almas. Jesus foi a sua última oração, o seu último suspiro: 'Senhor Jesus, recebe a minha alma!' Foi assim que Santo Estêvão rezou quando o estavam a apedrejar até à morte, e assim morreu no Senhor. 'Jesus, meu amor!' - assim suspirava o santo mártir Inácio, bispo de Antioquia, quando o levaram à morte, para ser despedaçado pelas feras. Quando lhe ordenaram que negasse o nome de Jesus, respondeu, com calma e firmeza: 'Nunca deixarei de pronunciar o seu Nome. E se me pudésseis impedir de o pronunciar com a minha boca, não o poderíeis apagar do meu coração'. Confessando o Santíssimo Nome de Jesus, e pronunciando-o com todo o fervor, o santo bispo morreu a gloriosa morte de mártir.
Concedei-nos também a nós, ó Jesus, que o vosso nome seja sempre bendito para nós, enquanto vivermos, e especialmente na hora da nossa morte, a nossa consolação e a nossa esperança, e no céu a nossa eterna alegria e bem aventurança. Amém.