Lectio Divina é um método de oração praticado desdeos primórdios da Igreja, particularmente nos mosteiros beneditinos. Guigo, prior da Grande Cartuxa, na sua famosa Scala Claustralium construiu uma escada de quatro degraus, a escada do claustro, a escada da busca completa de Deus.
Um dia, ocupado no trabalho manual, comecei a pensar no exercício espiritual do homem. E eis que, de repente, enquanto refletia, se apresentaram a meu espírito quatro degraus espirituais: a leitura, a meditação, a oração, a contemplação.
Esta é a escada dos monges, que os eleva da terra ao céu. Embora dividida em poucos degraus, ela é de imenso e incrível comprimento, com a ponta inferior apoiada na terra, enquanto a superior penetra as nuvens e perscruta os segredos do Céu (cf Gn 28,12). Estes degraus, assim como são diversos em nome e em número, também se distinguem pela ordem e o valor.
Se alguém examina diligentemente suas propriedades e funções, o que produz cada um deles para nós, e como diferem e se hierarquizam entre si, achará pequeno e fácil por sua utilidade e doçura todo o trabalho e esforço que lhes dedicar.
A leitura é o estudo assíduo das Escrituras, feito com aplicação do espírito.
A meditação é uma ação deliberada da mente a investigar, com a ajuda da própria razão, o conhecimento de uma verdade oculta.
A oração é uma religiosa aplicação do coração a Deus, para afastar os males ou obter o bem.
A contemplação é uma certa elevação da alma em Deus, suspensa acima dela mesma, e degustando as alegrias da eterna doçura.
A leitura, de certo modo, leva à boca o alimento sólido, a meditação o mastiga e tritura, a oração consegue o sabor, a contemplação é a própria doçura que regala e refaz. A leitura está na casca, a meditação na substância, a oração na petição do desejo, a contemplação no gozo da doçura obtida. Para que se possa ver isto de modo mais expressivo, suponhamos um exemplo entre muitos.
Como um primeiro fundamento, vem a leitura. Ela fornece a matéria, e nos leva à meditação. A meditação, por sua vez, perscruta com maior diligência o que se deve desejar, e, como que cavando, acha e mostra o tesouro. Mas, como não pode por si mesma obtê-lo, leva-nos à oração.
A oração, elevando-se a Deus com todas as suas forças, obtém o tesouro desejável, a suavidade da contemplação. Sobrevindo a contemplação, ela recompensa o trabalho dos três degraus referidos, embriagando a alma sedenta com o orvalho da doçura celeste.
A leitura é feita segundo um exercício mais exterior; a meditação, segundo uma inteligência mais interior; a oração, segundo o desejo; a contemplação passa acima de todo sentido.
O primeiro degrau é dos principiantes; o segundo, dos que progridem; o terceiro, dos fervorosos; o quarto, dos bem-aventurados.
(Excertos da obra 'Scala Claustralium', de Guigo, prior da Grande Cartuxa)
Nenhum comentário:
Postar um comentário