terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

OFÍCIO PARVO DE NOSSA SENHORA


Jesus nos intimou nos Evangelhos a uma vida de oração constante: 'Orai sem cessar' (1Ts 5,17). Ao longo dos séculos, a Igreja incentivou fielmente os seus filhos a praticarem uma vida de oração como instrumento de salvação pessoal e de nossos irmãos, na forma de súplicas e petições de diferentes naturezas à Divina Providência.

Os chamados Ofícios Divinos são práticas de oração comumente empregadas por religiosos e leigos associados a instituições religiosas específicas. A palavra 'ofício' tem origem no vocábulo opus que, em latim, significa 'obra'. Trata-se de um conjunto de orações cotidianas e diversas, que incluem súplicas, salmos, cânticos e leituras de textos bíblicos,  que devem ser rezadas em sequência própria e em diferentes momentos do dia. Os Ofícios podem incluir também versões mais simplificadas da sequência geral e estas versões mais abreviadas são chamadas de 'breves' ou 'parvas', do latim parvus, que significa 'pequeno'.

O modelo de perfeição de uma vida cristã de oração sempre foi e será Nossa Senhora. Assim, recorrer à Virgem Maria como modelo de oração e nossa intercessora, é certeza absoluta de fazer as nossas súplicas chegarem até o coração de Deus. E, por esta razão, o chamado 'Ofício Parvo de Nossa Senhora'  deveria ser oração frequente de todo cristão, religioso ou leigo, associado ou não a uma determinada ordem religiosa em especial. Grandes frutos obteremos por meio destas orações desde que as façamos com fé, piedade, atenção e confiança, pois estaremos sempre juntos com Jesus Cristo, Nossa Senhora e a Igreja de tantos séculos orando conosco e por nós.

A versão tradicional do 'Ofício Parvo de Nossa Senhora' é aquela que consta do Breviário Romano reformado pelo papa São Pio X, em 1911, com pequenas alterações do texto original proposto pelo papa São Pio V. Na verdade, a sequência completa das orações comporta três diferentes 'Ofícios':

(i) O Primeiro, que deve ser recitado a partir das Matinas do dia 3 de fevereiro até as Vésperas do sábado antes do 1° Domingo do Advento exclusive, com exceção da festa da Anunciação da Santíssima Virgem, na qual se reza o Ofício do Advento;

(ii) O Segundo, a ser recitado desde as Vésperas do sábado anterior ao 1° Domingo do Advento até as Vésperas do Natal, exclusivamente, e nas Vésperas da festa da Anunciação de Nossa Senhora;

(iii) O Terceiro, que se reza desde as Vésperas da Vigília do Natal até as Completas do dia 2 de fevereiro inclusive.

Em conformidade às palavras do Salmista: 'Cantei vossos louvores sete vezes ao dia' (Sl 118, 164), a Igreja dos primeiros séculos distribuiu as orações públicas em sete horas, que foram denominadas: Matinas e Laudes, que se recitavam à meia noite; Prima, após o levantar do sol; Terça, às nove horas da manhã; Sexta, ao meio dia; Noa, às três horas da tarde; Vésperas, às seis horas da tarde e Completas às 9 horas da noite, que se referem aos mais relevantes mistérios da vida de nosso Senhor Jesus Cristo. 

O Ofício das Matinas nos lembra o nascimento do Salvador e sua vida dolorosa no Getsêmani, sua oração e agonia. Com as Laudes, celebramos a ressurreição e a assunção de Maria, que, segundo piedosa crença, se teria operado durante a aurora. As orações da Prima nos lembram os ultrajes e os sofrimentos, padecidos por Jesus Cristo antes da Paixão. Com a Terça, lembramo-nos da flagelação, da coroação de espinhos e da sua condenação à morte. À Sexta, dedicamos à crucifixão de Jesus Cristo e às palavras pronunciadas por ele na santa cruz, dando-nos Maria por Mãe. Com a Noa, consideramos Jesus morrendo na cruz e a Igreja nascendo do lado aberto de seu divino peito. Com as Vésperas, a Igreja propôs honrar a descida da cruz, o corpo de Jesus Cristo colocado nos braços de sua santa Mãe e a instituição do adorável sacramento da Eucaristia. Completas vêm, como o nome indica, formar o complemento, a conclusão de todo o Ofício, e assim aqui se honra a sepultura de Jesus Cristo e a sua permanência no túmulo. 

A estruturação do 'Ofício Parvo de Nossa Senhora'*, na sua versão tradicional (rubrica de Pio XII), é composta basicamente pelas seguintes partes: Oração Inicial: Aperi Domine - 'Abri, Senhor' (antes da recitação do Ofício do Dia); Oração Final: Sacrosanctxe et individuae Trinitati - 'À santíssima e indivisível Trindade' (após a recitação do Ofício do Dia) e a sequência das orações do Ofício das Horas, subdivididas em:

Matinas:

Ave Maria (em voz submissa)
Responsório (com dois Versículos e Respostas), Glória ao Pai e Aleluia (ou Louvado sejais, rei da Eterna Glória);
Invitatório;
Salmo 94;
Hino;
Primeiro, Segundo ou Terceiro Noturno (de acordo com o dia da semana), composto por três salmos e suas respectivas antífonas;
Versículo e Resposta
Pai Nosso (em voz submissa);
Absolvição;
Lições I, II e III, cada uma precedida pela Benção e seguida pelo Responsório, com Versículo e Resposta. (O Te Deum pode seguir a terceira Lição, substituindo o Responsório; ele também pode seguir a segunda Lição, mas se diz após o Responsório dessa e, nesse caso, a ele acrescenta-se Responsório e Benção).
Hino de Santo Ambrósio e Santo Agostinho

Laudes:

Ave Maria (omitida quando as Laudes são rezadas imediatamente após as Matinas, conforme o preceito usual);
Responsório (com dois Versículos e Respostas), Glória ao Pai e Aleluia (ou Louvado sejais, rei da Eterna Glória);
Três salmos (com suas respectivas antífonas);
Cântico dos Três Mancebos (com antífona);
Salmo 148 (com antífona);
Capítula;
Hino (com Versículo e Resposta);
Cântico de Zacarias (com antífona);
Kyrie, (com Versículo e Resposta);
Oração, seguida pelos versículos conclusivos e suas respostas (entre a Oração e os versículos conclusivos, pode-se fazer a Comemoração dos Santos).

Prima, Terça, Sexta e Noa:

Ave Maria (em voz submissa)
Versículo e Resposta, Glória ao Pai (ou Louvado sejais, rei da Eterna Glória);
Hino;
Três salmos (com antífona);
Capítula (com Versículo e Resposta);
Kyrie (com Versículo e Resposta);
Oração, seguida por três versículos e três respostas.

Vésperas:

Ave Maria (em voz submissa)
Versículo e Resposta, Glória ao Pai (ou Louvado sejais, rei da Eterna Glória);
Cinco salmos (com antífonas);
Capítula
Hino (com Versículo e Resposta);
Magnificat (com antífona);
Kyrie (com Versículo e Resposta);
Oração, seguida pelos versículos conclusivos e respostas (entre a Oração e os versículos conclusivos, pode-se fazer a Comemoração dos Santos).

Completas:

Ave Maria (em voz submissa)
Convertei-nos, ó Deus... e resposta, Versículo e Resposta, Glória ao Pai (ou Louvado sejais, rei da Eterna Glória);
Três salmos (sem antífonas);
Hino;
Capítula (com Versículo e Resposta);
Cântico de Simeão (com antífona);
Kyrie (com Versículo e Resposta);
Oração (com dois versículos e duas respostas)
Bênção;
Antífonas finais da Santíssima Virgem (de acordo com o tempo litúrgico);
Pai Nosso, Ave Maria e Credo (em voz submissa).

Mas, lembre-se: não sendo possível rezar o 'Ofício'** como um todo, reze-o em parte, reze-o no que for possível. A graça de Deus tem por primeira medida a devoção e a reta intenção. A recitação fervorosa e perseverante do 'Ofício Parvo de Nossa Senhora' é objeto de muitas graças e bênçãos, incluindo a prescrição de diversas indulgências parciais e de indulgência plenária uma vez por mês. Especial indulgência, na forma do chamado Privilégio Sabatino, é concedido aos fieis que rezam o 'Ofício' e portam continuamente o escapulário marrom de Nossa Senhora do Carmo.

* observe que, nesta versão do rito tradicional, o 'Ofício' começa com as orações de Vésperas, ou seja, das seis horas da tarde;
** versão não exatamente tradicional e por dia da semana.