domingo, 20 de agosto de 2017

A ASSUNÇÃO DA VIRGEM MARIA

Páginas do Evangelho - Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

 'O Todo-Poderoso fez grandes coisas a meu favor'

As glórias de Maria podem ser resumidas na portentosa frase enunciada pelo anjo Gabriel: 'Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus' (Lc 1, 30). Ao receber a boa-nova do anjo, Maria prostrou-se como serva e disse 'sim', e por meio desse sim, como nos ensina São Luís Grignion de Montfort, 'Deus Se fez homem, uma Virgem de tornou Mãe de Deus, as almas dos justos foram livradas do limbo, as ruínas do céu foram reparadas e os tronos vazios foram preenchidos, o pecado foi perdoado, a graça nos foi dada, os doentes foram curados, os mortos ressuscitados, os exilados chamados de volta, a Santíssima Trindade foi aplacada, e os homens obtiveram a vida eterna'.

Esta efusão de graças segue Maria na Visitação, pois ela é reflexo da presença e das graças do Espírito Santo que são levadas à sua prima Isabel e à criança em seu ventre. No instante da purificação de São João Batista, o Precursor, Santa Isabel foi arrebatada por inteira pelo Espírito Santo: 'Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo' (Lc 1,41). Por meio de uma extraordinária revelação interior, Santa Isabel confirma em Maria o repositório infinito das graças de Deus: 'Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu' (Lc 1,43).

E é ainda nesta plenitude de comunhão com o Espírito Santo, que Maria vai proclamar o seu Magnificat: 'Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre' (Lc 1, 46-55).

Mãe da humildade, mãe da obediência, mãe da fé, mãe do amor. Mãe de todas as graças e de todos os privilégios, Maria foi contemplada com o dogma de fé divina e católica da assunção, em corpo e alma, à Glória Celeste. Dentre as tantas glórias e honras a Maria, a Igreja celebra neste domingo a Serva do Senhor como Nossa Senhora da Assunção. 

sábado, 19 de agosto de 2017

100 ANOS DE FÁTIMA

Fátima é o acontecimento sobrenatural mais extraordinário de Nossa Senhora e a mais profética das aparições modernas (que incluíram a visão do inferno, 'terceiro segredo', consagração aos Primeiros Cinco Sábados, orações ensinadas por Nossa Senhora às crianças, consagração da Rússiamilagre do sol e as aparições do Anjo de Portugal), constituindo a proclamação definitiva das mensagens prévias dadas pela Mãe de Deus em Lourdes e La Salette. Por Fátima, o mundo poderá chegar à plena restauração da fé e da vida em Deus, conformando o paraíso na terra. Por Fátima, a humanidade será redimida e salva, pelo triunfo do Coração Imaculado de Maria. Se os homens esquecerem as glórias de Maria em Fátima e os tesouros da graça, serão também esquecidos por Deus.

'por fim, o meu Imaculado Coração triunfará'


FÁTIMA EM FATOS E FOTOS (XI)

51. Como se deu a quarta aparição de Nossa Senhora?

Na manhã de 19 de agosto de 1917, um domingo, as crianças tinham ido à missa em Fátima e, depois da missa, seguido até à Cova da Iria, para rezarem o terço com outras pessoas. Retornando a Aljustrel, depois do almoço, Lúcia, Francisco e João (irmão mais velho de Francisco) foram levar o rebanho para pastar nas paragens dos Valinhos. Jacinta não tinha ido porque a mãe não o tinha permitido. Em torno das quatro horas da tarde, Lúcia percebeu claramente a mudança do ambiente e as sensações atípicas que antecediam as aparições de Nossa Senhora. Pediram, então, a João que fosse imediatamente chamar Jacinta, enquanto esperavam ansiosos pelos acontecimentos. Jacinta chegou pouco depois, ofegante da corrida inesperada e cheia de perguntas. Logo em seguida, as crianças perceberam o mesmo relâmpago e a mesma luz brilhante e então viram, mais uma vez, Nossa Senhora pousada sobre uma pequena azinheira situada ali perto, pouco maior que a da Cova da Iria, numa manifestação em tudo similar às aparições anteriores. 



52. Como foi o diálogo de Lúcia com Nossa Senhora nesta quarta aparição?

Como nas aparições precedentes, assim que viu Nossa Senhora, Lúcia iniciou o diálogo:

– Que é que Vossemecê me quer?
– Quero que continueis a ir à Cova da Iria no dia 13; que continueis a rezar o terço todos os dias. No último mês, farei o milagre para que todos acreditem.

– Que é que Vossemecê quer que se faça ao dinheiro que o povo deixa na Cova da Iria?
– Façam dois andores: um leva-o tu com a Jacinta e mais duas meninas, vestidas de branco; o outro que o leve o Francisco, com mais três meninos. O dinheiro dos andores é para a festa de Nossa Senhora do Rosário, e o que sobrar é para a ajuda de uma capela que hão de mandar fazer.
– Queria pedir-1he a cura de alguns doentes.
– Sim, curarei alguns durante o ano.

Então, fez uma pausa e, com uma expressão muito séria, recomendou enfaticamente às crianças:

– Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno, por não haver quem se sacrifique e peça por elas.


E como de costume, Nossa Senhora começou a elevar-se em direção ao nascente até desaparecer na imensa distância do firmamento [Lúcia, Quarta Memória].

53. O que aconteceu no local após a aparição de Nossa Senhora?

A quarta aparição foi a única que não ocorreu na Cova da Iria, mas em Valinhos, um sítio de propriedade de um dos tios de Lúcia e situada a cerca de 500 m de Aljustrel. As próprias crianças cortaram alguns ramos da azinheira sobre a qual Nossa Senhora lhes tinha aparecido e levaram-nos para casa. Os ramos exalavam um perfume sobrenatural e singularmente suave. A mãe de Lúcia, ao sentir este perfume tão particular, teve um lume de convencimento e, a partir de então, limitou bastante o seu ferrenho descrédito em relação às revelações da filha. 

A pequena azinheira foi protegida inicialmente por um círculo de pedras, mas em pouco tempo foi levada pelos fieis e desapareceu por completo. Em 1956, foi edificado no local um monumento evocativo à quarta aparição, de autoria de Maria Amélia Carvalheira da Silva.  


54. Nossa Senhora não fez nenhuma menção ao rapto das crianças e à não aparição do dia 13 de agosto?

Na transcrição formal do diálogo da quarta aparição feito por Lúcia, em sua Quarta Memória, não há nenhuma referência a estes fatos. Entretanto, durante o interrogatório da vidente sobre a correspondente aparição, feito ao pároco de Fátima, Pe. Manuel Marques Ferreira, em 21 de agosto de 1917, Lúcia assinala, sim, a manifestação de Nossa Senhora sobre a enorme gravidade destes acontecimentos. 

Após ratificar a previsão do milagre para a sua última aparição, como já revelara na aparição anterior, Nossa Senhora faz uma severa admoestação em termos da limitação deste mesmo milagre como consequência dos fatos ocorridos: 'se não tivessem abalado contigo para a Aldeia [Aldeia da Cruz, antigo nome de Vila Nova de Ourém, atualmente Nossa Senhora da Piedade], o milagre seria mais conhecido; havia de vir São José com o Menino Jesus para dar a paz ao mundo e havia de vir Nosso Senhor benzer o povo, vinha Nossa Senhora do Rosário com um anjo de cada lado e Nossa Senhora com um arco de flores à roda'.  

Assim, em função dos desdobramentos dos fatos ocorridos, o milagre prometido na última aparição seria mitigado e 'menos conhecido'. Tal admoestação constitui um claro indício da suma gravidade do pecado cometido naquele dia com os videntes de Fátima.


55. Quais foram as impressões sentidas pelas crianças após essa quarta aparição de Nossa Senhora?

A impressão mais marcante sentida pelas crianças nesta aparição foi o apelo final feito pela Virgem, com semblante compenetrado e sério: 'Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno, por não haver quem se sacrifique e peça por elas'. Isto produziu nas crianças um apego ainda maior às penitências e um ardor ainda mais intenso à prática de sacrifícios pela salvação das almas, certamente frutos da santificação delas e fonte de muitas graças dos Céus.

Um episódio desta época que retrata de forma bastante clara estes esforços é o achado de um pedaço de corda grossa e áspera pelas três crianças em uma das estreitas ruas de Aljustrel. Percebendo que a aspereza da corda lhes machucava as mãos, decidiram cortá-la em três pedaços menores e trazê-los amarrados à cintura, quais cilícios improvisados, mesmo durante o sono. Por muitos dias e noites usaram este artifício como instrumento de sacrifício pelas almas, até que Nossa Senhora as recomendou, quando da quinta aparição, que abrissem mão desta penitência, pelo menos durante a noite.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

ORAÇÃO DIANTE DO CRUCIFIXO (SÃO FRANCISCO DE ASSIS)


Summe, gloriose Deus,
illumina tenebras cordis mei
et da mihi fidem rectam, spem certam et caritatem perfectam, 
sensum et cognitionem, Domine,
ut faciam tuum sanctum et verax mandatum. Amen.

 Sumo, glorioso Deus, 
 Ilumina as trevas do meu coração 
 e dá-me uma fé correta, esperança certa e caridade perfeita, 
 bom senso e conhecimento, Senhor, 
 para que eu possa praticar o teu sagrado e verdadeiro mandamento. Amém.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

SOBRE O CONHECIMENTO DE SI MESMO

1. A alma de Cristo que deseja elevar-se até o cimo da perfeição, há de principiar por si mesma, isto é, esquecida de todas as coisas exteriores, deve penetrar no íntimo de sua consciência e ali discutir, examinar e ver, com diligente cuidado, todos os defeitos, todos os hábitos, todas as inclinações, todas as obras, todos os pecados passados e presentes. Se achar em si alguma coisa menos reta, chore-a sem demora na amargura de seu coração. E para melhor chegares a este conhecimento, saiba que todos os nossos pecados e males cometemo-los ou por negligência ou por malícia. Acerca destas três coisas, pois, deve versar o exame de todos os teus males; de outra forma jamais poderás chegar ao perfeito conhecimento de ti mesmo.

2. Portanto, se desejas conhecer-te a ti mesma e chorar os males cometidos, deves primeiro refletir se há ou houve em ti alguma negligência. Examina-te sobre a negligência com que vigias o teu coração, sobre a negligência com que passas o tempo, e examina-te também se em alguma obra não tens intenção pecaminosa. Estas três coisas cumpre observar com o maior cuidado: vigiar bem o coração, empregar utilmente o tempo e prefixar a toda obra um fim bom e conveniente.

Igualmente deves refletir sobre a negligência que tivestes na oração, na leitura e na execução da obra; porque nestas três coisas te deves exercer e aperfeiçoar com afinco, se queres produzir e dar bom fruto a seu tempo. Tão intimamente estas três coisas estão unidas, que de forma alguma é suficiente uma sem a outra. Outrossim, cumpre refletires sobre quanto és ou foste negligente em fazer penitência, em lutar e em progredir; porque é mister chorar, com suma diligência, os males cometidos, repelir as tentações diabólicas, e progredir de uma virtude para outra para que possas chegar à terra prometida. Desta forma, pois, o exame se ocupa com a negligência.

3. Se, porém, desejas conhecer-te melhor, deves, em segundo lugar, refletir se em ti dominou ou domina a concupiscência da voluptuosidade, da curiosidade ou da vaidade. Certamente então reina no homem religioso a concupiscência da voluptuosidade quando deseja coisas doces, isto é, manjares saborosos; quando deseja coisas frouxas; isto é, vestimentas pomposas; quando deseja coisas carnais, isto é, prazeres luxuriosos.

A concupiscência da curiosidade existe quando se deseja saber coisas secretas, quando se deseja ver coisas belas, quando se deseja possuir coisas raras. A concupiscência da vaidade, porém, impera quando deseja o favor dos homens, quando se busca o louvor humano, quando se almeja honra diante dos homens. Como veneno deve a alma fugir a tudo isso, porque tudo isso é a raiz de todo o mal.

4. Em terceiro lugar, se queres ter conhecimento certo de ti mesmo, deves diligentemente refletir se há ou houve em ti a malícia da ira, da inveja e da preguiça. Ouve, caríssima alma, o que te digo solicitamente. No homem religioso existe a ira quando no espírito, no coração, no afeto, nos sinais, no semblante, na palavra ou no clamor mostra a seu próximo indignação do coração, por mais leve que seja, ou rancor.

A inveja reina no homem quando se alegra com a desgraça do próximo e se entristece com a sua prosperidade, quando sente prazer com os males do próximo e se desfalece com a sua felicidade. A preguiça reina no religioso quando se é tíbio, sonolento, ocioso, lerdo, negligente, frouxo, dissoluto, indevoto, triste e tedioso. A tudo isto se deve detestar e fugir como a um veneno mortífero, porque nestas coisas consiste a perdição do corpo e da alma.

5. Se, portanto, ó caríssima alma, queres chegar ao perfeito conhecimento de ti mesma, 'torna a ti mesma, entra no teu coração, aprende a conhecer o teu espírito. Vê o que és, o que foste, o que devias ser, o que podias ser: o que foste pela natureza, o que agora és pela culpa, o que devias ser por teu trabalho, o que ainda podes ser pela graça'.

Ouve, ó caríssima alma, ouve o profeta Davi, como ele se faz o teu exemplo: 'Meditei', diz ele, 'de noite no meu coração, exercitei-me e espanei o meu espírito' (Sl 76,7) Meditava ele no seu coração; medita também tu no teu coração. Espanava ele o seu espírito; espana também tu o teu espírito. Trabalha nesse campo, presta atenção a ti mesmo. Se com insistência fazes este exercício, sem dúvida acharás um precioso tesouro escondido. Pois em virtude deste exercício cresce a plenitude do ouro, a ciência é multiplicada e aumentada a sabedoria.

Com este exercício, purificam-se os olhos do coração, aguça-se o engenho, dilata-se a inteligência. De nada adianta um reto juízo a quem não se conhece a si mesmo, quem não pensa na sua dignidade. Desconhece por completo que opinião deva fazer do espírito angélico e do divino quem não reflete antes sobre o seu próprio espírito. Se ainda não és capaz de entrar em ti mesmo, como serás capaz de elevares-te às coisas que estão acima de ti? Se ainda não és digna de entrar no primeiro tabernáculo, com que razão presumes entrar no segundo tabernáculo? (Ex 25, 28).

6. Se desejas elevar-te, como São Paulo, ao segundo e terceiro céu, hás de passar pelo primeiro, isto é, pelo teu coração. O modo como deves fazê-lo, ensinei-o acima. Mas também São Bernardo otimamente te informa quando diz: 'Se queres conhecer o estado de tua perfeição, examina, em discussão constante, a tua vida, e reflete diligentemente, quanto te adiantas e quanto te atrasas, quais são os teus costumes, quais as tuas inclinações, quão semelhante ou dessemelhante és a Deus, quão perto ou quão longe dEle estás'.

Ó como é grande o perigo do religioso que quer saber muitas coisas, mas não tem verdadeiro e sincero desejo de conhecer-se a si mesmo! Ó como está prestes a perder-se o religioso que é curioso em conhecer as coisas, solícito em julgar as consciências dos outros, mas ignora e desconhece a própria! Ó meu Deus, donde tanta cegueira num religioso? Eis, a causa é patente, ouve-a. Porque a mente do homem é distraída pelos cuidados, não volta a si pela memória; porque é obnubilada por fantasias e não volta a si pela inteligência; porque é arrastada por concupiscências ilícitas e não se restaura pelo desejo da suavidade intima e da alegria espiritual.

Por isto jaz totalmente submerso nessas coisas sensíveis, é incapaz de entrar em si mesmo e penetrar até à imagem de Deus no seu íntimo. Desta forma o espírito se lhe reduz à miséria; ignora e desconhece-se a si mesmo. Procura, pois, lembrares de ti e conheceres primeiro a ti mesmo, deixando de lado tudo o mais. Isto pedia também São Bernardo, dizendo: 'Deus me dê a graça de não saber outra coisa senão que me conheça a mim mesmo'.

(São Boaventura)

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (XVIII)

A 17ª objeção* é fenomenal e contradiz a própria doutrina e o próprio uso protestantes. Desta vez, o protestante protesta contra si mesmo, contra Lutero e contra inúmeras seitas protestantes. Protesta porque a Igreja Católica afirma que o pecado original existe e que é remido pelo batismo. Basta esta afirmação para o nosso amigo protestante exigir: um texto que prove que o batismo lava o pecado original, nos faz cristãos, filhos de Deus, herdeiros do reino de Deus. Vamos, de novo, satisfazer as exigências do nosso amigo crente.

I. Sacramento e Lei

O batismo é um sacramento do Novo Testamento, instituído por Jesus Cristo, para apagar o pecado original. Jesus disse: 'se alguém não for regenerado pela água e o Espírito Santo, não poderá entrar no reino de Deus' (Jo 3,5). Esta regeneração é o batismo. Conforme as palavras do salvador, a salvação é impossível sem o batismo.

Além de o batismo ser absolutamente necessário, há também uma lei que obriga a recebê-lo. As próprias palavras da promulgação o afirmam: 'ide, ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo' (Mt 28, 19). Até aqui o amigo protestante deve estar de acordo conosco. Tiremos disso uma conclusão lógica: Jesus Cristo nada fez de inútil, tudo o que fez e disse tem uma razão de ser. Se, pois, ele exige tão rigorosamente a recepção do batismo, é porque o batismo para qualquer coisa, produz um efeito que só ele pode produzir. E qual é este efeito?

II. Efeitos do Batismo

É a Sagrada Escritura que nos vai indicar claramente: 'aquele que crer e for batizado será salvo', diz o próprio Jesus Cristo (Mc 16, 16). Eis já o que é claro e positivo: a fé e o batismo são as chaves da nossa salvação. Ora, para ter precisão de salvação, é preciso estar perdido; são dois termos correlativos: um supõe o outro. O homem estava, pois, perdido. Como? Pelo pecado original transmitido por Adão e Eva a todos os seus descendentes.

Isto é provado claramente pelo testemunho do apóstolo: 'por um homem só entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte; assim também a morte passou a todos os homens, por isso todos pecam num só' (Rm 5, 12). Eis o que é bem claro. Antes do apóstolo, o santo rei Davi já tinha dito a mesma verdade: 'fui gerado na iniquidade, e minha mãe concebeu-me no pecado' (Sl 50, 7). Eis, pois, duas verdades bem provadas: o pecado original foi cometido pelos nossos primeiros pais. Este pecado é transmitido a todas as gerações humanas, sendo assim um pecado universal.

Procuremos agora um remédio para esta mal universal. É São Pedro quem no-lo ensina: 'fazei penitência e cada de um de vós se faça batizar em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos seus pecados' (At 2, 38). O batismo é pois um meio de remir os pecados. E quais são estes pecados? O batismo pode ser recebido em qualquer idade. A criança, não sabendo distinguir entre o bem e o mal, é incapaz de cometer pecado. Deve pois existir qualquer pecado que não seja cometido pessoalmente por nós, mas é transmitido pela geração. Tal pecado é o pecado original.

São Paulo dissipa as últimas dúvidas e, num rasgo sublime, projeta sobre o batismo uma luz toda divina. Escute estas passagens, caro protestante: 'Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como vivemos ainda nele? Ou não sabes que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? De modo que estamos sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. Porque, se fomos plantados juntamente com ele, na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição' (Rm 6, 1-6). Que sublime página de teologia sobre os efeitos do batismo! Se os amigos protestantes soubessem compreender um pouco a Bíblia, ficariam envergonhados das ineptas objeções que levantam.

São Paulo dá a resposta completa à objeção protestante e prova a exposição católica que afirma que o batismo: (i) Lava-nos do pecado original; (ii) Faz-nos filhos de Deus; (iii) faz-nos herdeiros do céu. Somos batizados na morte de Jesus Cristo, diz São Paulo. Ora, esta morte é a destruição do pecado. Não havendo pecado em nós, tornamo-nos filhos de Deus, ressuscitados da morte do pecado, como Cristo ressuscitou da morte do túmulo.

Semelhantes a Cristo pelo batismo, ressuscitados como ele, tornamo-nos participantes da glória do céu. Somos herdeiros de Deus e co-herdeiros de Jesus Cristo, diz São Paulo (Rm 8, 17). Ora, esta herança é graça na terra e a glória no céu. 'Justificados pela graça', diz o Apóstolo, 'seremos herdeiros segundo a herança da vida eterna' (Tt 3, 7).

III. Conclusão

Concluamos, mostrando aos pobres protestantes como eles são ilógicos, e como estão em contradição com a Bíblia e com os seus próprios costumes. Os protestantes administram o batismo para os seus próprios adeptos e, entretanto, não acreditam no próprio batismo. Fazem objeção contra o batismo e o conservam como obrigatório, para ser cristão, e até para ser protestante. De outro lado, sendo consequentes, não deveriam admitir o batismo. É um princípio por eles admitido que ninguém pode ser justificado sem um ato de fé em Jesus Cristo. Ora, as crianças não são capazes de fazer este ato. Logo, o batismo das crianças é inútil.

Outro argumento contra eles: é também um princípio protestante que nada se deve fazer que não seja autorizado por um exemplo tirado da Bíblia. Ora, não há nela nenhum exemplo de batismo de criança. Logo, os protestantes deveriam rejeitar o batismo de crianças, como contrário à Bíblia. Até a escritura pode ser interpretada como favorável ao batismo de pessoas adultas, antes que das crianças. 'Aquele que crer e for batizado será salvo' (Mc 16, 16).

A Igreja Católica manda batizar as crianças, não por indicação da Bíblia, mas pela interpretação do texto sagrado, pela tradição constante dos séculos, desde os apóstolos até hoje. Eis umas citações antiquíssimas a esse respeito: Dionísio Aeropagita, do século II, diz: 'É uma tradição que nos vem dos apóstolos, que as crianças devem ser batizadas' (Eccl. hier, cult.). Santo Irineu, também do século II, diz: 'todos aqueles que são regenerados em Jesus Cristo, isto é, crianças, jovens, velhos, serão salvos' (Sup. S. Luc.). Orígenes repete a mesma verdade. 'É na Igreja uma tradição, provinda dos apóstolos, dar o batismo às crianças' (Leb. 5, c. 6). São Cipriano, ainda no mesmo século, escreve: 'parece-me bom e a todo o concílio que as crianças sejam batizadas, mesmo antes dos oito dias' (Lev. 3, ep. ad Fidum). Eis testemunhos autênticos dos primeiros séculos, atestando sempre ter sido uso na Igreja batizar as crianças.

Eis como cai a objeção protestante e vira contra eles, mostrando como estão em contradição consigo mesmos: fazendo o que não acreditam e acreditando no que não fazem. No primeiro caso, não deviam batizar crianças como o fazem. No segundo, não podiam atacar o batismo, nem pedir textos para provar que o batismo apaga o pecado original e nos faz filhos de Deus. É a eterna mania de protestar... até contra eles mesmos!

* Estas 'objeções' foram propostas por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

terça-feira, 15 de agosto de 2017

GLÓRIAS DE MARIA: ASSUNÇÃO AO CÉU

A Assunção de Maria - Palma Vecchio (1512 - 1514)

"Pronunciamos, declaramos e de­finimos ser dogma de revelação divina que a Imaculada Mãe de Deus sempre Virgem Maria, cumprido o curso de sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à Glória celeste”.

                            (Papa Pio XII, na Constituição Dogmática  Munificentissimus Deus, de 1º de novembro de 1950)


A solenidade da Assunção da Virgem Maria existe desde os primórdios do catolicismo e, desde então, tem sido transmitida pela tradição oral e escrita da Igreja. Trata-se de um dos grandes e dos maiores mistérios de Deus, envolto por acontecimentos tão extraordinários que desafiam toda interpretação humana: 

1. Nossa Senhora NÃO PRECISAVA morrer, uma vez que era isenta do pecado original;

2. Nossa senhora QUIS MORRER para se assemelhar em tudo ao seu Filho, pela aceitação de sua condição humana mortal e para mostrar que a morte cristã é apenas uma passagem para a Vida Eterna;  

3. Nossa Senhora NÃO PODIA passar pela podridão natural da carne tendo sido o Sacrário Vivo do próprio Deus;

4. A morte de Nossa Senhora foi breve (é chamada de 'Dormição') e ela foi assunta ao Céu em corpo e alma;

5. Aquela que gerou em si a vida terrena do Filho de Deus foi recebida por Ele na glória eterna;

6. Nossa Senhora foi assunta ao Céu pelo poder de Deus; a ASSUNÇÃO difere assim da ASCENSÃO de Jesus, uma vez que Nosso Senhor subiu ao Céu pelo seu próprio poder.


Louvor a Ti, Filha de Deus Pai,
Louvor a Ti, Mãe do Filho de Deus,
Louvor a Ti, Esposa do Espírito Santo,
Louvor a Ti, Maria, Tabernáculo da Santíssima Trindade!