sábado, 13 de maio de 2017

FÁTIMA EM FATOS E FOTOS (V)

21. Como se deu a primeira aparição de Nossa Senhora?

No dia 13 de maio de 1917, pouco depois do meio-dia de um domingo de sol luminoso, Lúcia, Jacinta e Francisco estavam brincando de 'casinha' no alto da Cova da Iria, fazendo uma paredinha de pedras no entorno de uma moita, enquanto as ovelhas pastavam mais além. De repente, pareceu-lhes envolver um lampejo na forma de um relâmpago muito próximo. Assustados, e sem se darem conta da falta de sentido de se vislumbrar um relâmpago em dia tão ensolarado, correram precipitadamente encosta abaixo, até se abrigarem sob uma grande azinheira. Mal chegaram ali, foram surpreendidos por um segundo relâmpago, que os fizeram imediatamente afastarem-se da árvore em direção ao campo aberto à frente. E foram, então, que viram Nossa Senhora pela primeira vez.

Bem diante deles, sobre a copa de uma pequena azinheira, de cerca de um metro de altura, envolvida por uma esfera de luz, estava uma 'senhora vestida toda de branco, mais brilhante que o sol, espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente' [Lúcia dos Santos, Quarta Memória]. A luz que cobria o rosto da senhora era tão intensa que cegava a visão direta das crianças que se encontravam, então, mudas e deslumbradas, dentro do círculo de luz que emanava da aparição, a menos de dois metros de distância. 

('azinheira grande' da primeira aparição)

22. Como foi o diálogo de Lúcia com Nossa Senhora nesta primeira aparição?

Nossa Senhora se dirigiu inicialmente às crianças, com voz suave e tranquilizadora:

- Não tenhais medo. Eu não vos faço mal.

As três crianças viam Nossa Senhora, mas Francisco, embora percebendo que ela conversava com Lúcia, não a ouvia; Jacinta a via e ouvia, mas não lhe falava, enquanto Lúcia via, ouvia e falava com a Santíssima Virgem. Lúcia perguntou então:

- De onde é Vossemecê?
- Sou do Céu.
- E que é que Vossemecê quer?
- Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois vos direi quem sou e o que quero. Depois, voltarei ainda aqui uma sétima vez.

Lúcia continuou as suas perguntas:

- E eu vou para o Céu?
- Sim, vais.
- E a Jacinta?
- Também.
- E o Francisco?
- Também; mas tem que rezar muitos terços. 

Lúcia lembrou-se então de perguntar à Virgem por duas moças suas amigas que haviam falecido pouco tempo antes:

- A Maria das Neves já está no Céu?
- Sim, está.
- E a Amélia?
- Estará no Purgatório até o fim do mundo.

Neste momento, Nossa Senhora assumiu o controle do diálogo e fez um convite explícito aos pastorinhos:

- Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores?
- Sim, queremos.
- Ide, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.

Ao dizer estas palavras, abriu as mãos e delas saiu uma luz tão intensa que penetrou no mais íntimo das almas das crianças, 'fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, mais claramente do que nos vemos no melhor dos espelhos' [Lúcia dos Santos, Quarta Memória]. Por um impulso irresistível, as crianças prostraram-se de joelhos e começaram a rezar intimamente: 'Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento'. Quando terminaram, Nossa Senhora lhes disse:

- Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra. 

Em seguida, começou a se elevar serenamente nos ares em direção ao nascente, até desaparecer na imensidão da distância.


23. Quais foram as reações das crianças e suas famílias diante esta primeira aparição de Nossa Senhora?

Jacinta foi tomada de tal ansiedade e contentamento que manifestou a aparição à sua mãe, assim que chegou em casa. Francisco mostrou-se muito mais reservado neste aspecto e Lúcia nada revelou em casa. Uma vez revelada, a primeira aparição de Nossa Senhora, inicialmente restrita ao domínio das duas famílias, passou a ser de conhecimento mais ou menos amplo de toda a aldeia de Aljustrel, o que levou especialmente Lúcia a ser confrontada e contestada tanto publicamente como em casa, principalmente pela mãe e pelas suas irmãs.

Lúcia começava a aprender, de forma quase imediata, as palavras de Nossa Senhora: 'ides ter muito que sofrer'. A busca da via da santificação pessoal, a mortificação e a conversão dos pecadores haviam de lhes impor um elevado custo de retaliações, sofrimentos e tribulações. Lúcia iria experimentar este caminho por toda uma vida. Francisco e Jacinta iriam doar precocemente as suas vidas como vítimas escolhidas por Deus.



24. Qual é a 'mensagem esquecida de Fátima'?

Certamente é o trecho desta primeira aparição que faz referência ao destino eterno de Amélia, amiga de Lúcia, então recém-falecida. Maria das Neves e Amélia eram duas amigas de Lúcia que frequentavam a sua casa 'para aprender a tecer com sua irmã mais velha' e teriam falecido pouco antes das aparições (Maria das Neves faleceu em 26/02/1917 e Amélia faleceu a 28/03/1917, ambas com 20 anos de idade). A resposta de Nossa Senhora quanto ao destino eterno de Amélia é categórico: 'Estará no Purgatório até o fim do mundo'.

São palavras duras e preocupantes quando revelam a justiça de Deus aplicada a uma jovem portuguesa que vivera apenas 20 anos, no início do século XX, em um lugar isolado e deserto, perdido nos contrafortes da Serra do Aire, descendente de um povo bom e ordeiro, católicos praticantes e devotos do terço diário. Fátima, em 1917, representava provavelmente um ambiente de extrema religiosidade e de prática corrente da moral cristã. Que pecados terríveis teriam sido cometidos por esta moça de modo a ter que pagar as penas e danos devido a eles no Purgatório até o fim do mundo? 

25. Quais são as relações entre o pecado e a justiça divina implícitas na 'mensagem esquecida de Fátima'?

A primeira questão que surge desta revelação deveria ser a de uma reflexão profunda sobre o pecado e a justiça divina. É evidente que morar em Fátima em 1917 não constituiu garantia de salvação a ninguém e que é possível que alguma alma tenha, inclusive, sido condenada eternamente. Mas isto é uma absoluta elucubração; o destino de Amélia, ao contrário, é fato, é uma revelação direta de Nossa Senhora aos homens. Qual seria a nossa reflexão sobre a justiça divina transferindo a realidade do destino eterno de Amélia à realidade dos homens e mulheres, jovens e crianças das nossas grandes e pequenas cidades, às Amélias (almas) do nosso tempo? Não deveríamos nós reavaliarmos profundamente os conceitos de misericórdia e justiça de Deus e começarmos a praticar, na vida diária de cada um, o preceito lógico de São Domingos Sávio: 'antes morrer do que pecar?'

Uma segunda questão que se apresenta refere-se ao próprio destino final de Amélia. A alma no Purgatório nada pode fazer para diminuir ou abreviar os seus sofrimentos, mas as orações daqueles que ainda vivemos na terra podem intervir profundamente nesta condição, por graça e obra da misericórdia divina. Esta interação de bens espirituais dos filhos de Deus constitui a comunhão dos santos e o tesouro da Igreja, obtido através dos méritos infinitamente satisfatórios da redenção de Cristo. 

Assim, pois, deve-se entender que Amélia estará no Purgatório até o fim do mundo se não houver quem reze por ela ou mande celebrar missas em sua intenção. E novamente, a mensagem de Fátima mostra a sua unidade perfeita ao relacionar o exemplo de Amélia com o apelo fervoroso de Nossa Senhora em outra aparição: 'Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas'. Reconheçamos definitivamente o valor imponderável das orações, penitências e sofrimentos no plano salvífico de Deus. 

Todas as grandes obras de Deus, e em particular àquelas relacionadas à conversão e salvação das almas, são feitas com a dor e o sacrifício de algumas almas privilegiadas. Em Fátima, estas foram as missões específicas desempenhadas por Jacinta e Francisco Marto – as duas crianças morreram em circunstâncias extremamente sofridas e dolorosas - almas escolhidas por Deus como vítimas da expiação e reparação dos pecados de Amélia e de todos nós.