Entrevista originalmente publicada na revista Tradition
Catolica, n. 141 (novembro/1998).
Padre, o Sr. ama o Sacrifício da
Missa?
Sim, porque Ela regenera o mundo.
Que glória dá a Deus a Missa?
Uma glória
infinita.
Que devemos fazer durante a Missa?
Compadecer-nos e amar.
Padre, como devemos assistir à Santa
Missa?
Como assistiram a Santíssima Virgem e
as piedosas mulheres. Como assistiu S. João Evangelista ao Sacrifício
Eucarístico e ao Sacrifício cruento da Cruz.
Padre, que benefícios recebemos ao
assistir à Santa Missa?
Não se podem contar. Vê-lo-ás no céu.
Quando assistires à Santa Missa, renova a tua fé e medita na Vítima que se
imola por ti à Divina Justiça. Não te afastes do altar sem derramar lágrimas de
dor e de amor a Jesus, Crucificado por tua salvação. A Virgem Dolorosa te
acompanhará e será tua doce inspiração.
Padre, que é sua Missa?
Uma união sagrada com a Paixão de
Jesus. Minha responsabilidade é única no mundo. (Dizia-o chorando.)
Que devo descobrir na sua Santa
Missa?
Todo o Calvário.
Padre, diga-me tudo o que o senhor
sofre durante a Santa Missa.
Sofro tudo o que Jesus sofreu na sua
Paixão, embora sem proporção, só enquanto pode fazê-lo uma criatura humana. E
isto, apesar de cada uma de minhas faltas e só por sua bondade.
Padre, durante o Sacrifício divino o
senhor carrega os nossos pecados?
Não posso deixar de fazê-lo, já que é
uma parte do Santo Sacrifício.
O senhor considera a si mesmo um
pecador?
Não o sei, mas temo que assim seja.
Eu já vi o senhor tremer ao subir aos
degraus do altar. Por quê? Pelo que tem de sofrer?
Não pelo que tenho de sofrer, mas
pelo que tenho de oferecer.
Em que momento da Missa o senhor
sofre mais?
Na Consagração e na Comunhão.
Padre, esta manhã na Missa, ao ler a
história de Esaú, que vendeu os direitos de sua primogenitura, seus olhos se encheram
de lágrimas.
Parece-te pouco desprezar o dom de
Deus!?
Por que, ao ler o Evangelho, o senhor
chorou quando leu estas palavras: “Quem come a minha carne e bebe o meu
sangue...”
Chora comigo de ternura!
Padre, por que o senhor chora quase
sempre que lê o Evangelho na Missa?
A nós nos parece que não tem
importância que um Deus fale às suas criaturas e elas O contradigam e
continuamente O ofendam com sua ingratidão e incredulidade.
Sua Missa, Padre, é um sacrifício
cruento?
Herege!
Perdão, Padre, quis dizer que na
Missa o Sacrifício de Jesus não é cruento, mas a sua participação em toda a
Paixão o é. Engano-me?
Não, nisso não te enganas. Creio que
tens toda a razão.
Quem lhe limpa o sangue durante a
Missa?
Ninguém.
Padre, por que o senhor chora no
Ofertório?
Queres saber o segredo? Pois bem:
porque é o momento em que a alma se separa das coisas profanas.
Durante sua Missa, Padre, o povo faz
um pouco de barulho...
Se estivesses no Calvário, não
ouvirias gritos, blasfêmias, ruídos, e ameaças? Havia um alvoroço enorme.
Não o distraem os ruídos?
Em nada.
Padre, por que sofre tanto na
Consagração?
Não sejas maldoso... (Não quero que
me perguntes isso...)
Padre, diga-me: por que sofre tanto
na Consagração?
Porque nesse momento se produz
realmente uma nova e admirável destruição e criação.
Padre, por que chora no altar, e que
significam as palavras que pronuncia na Elevação? Pergunto por curiosidade, mas
também porque quero repeti-las com o senhor.
Os segredos do Rei Supremo não podem
revelar-se nem profanar-se. Pergunta-mes por que choro, mas eu não queria
derramar essas pobres lagrimazinhas, mas torrentes de lágrimas. Não meditas
neste grandioso mistério?
Padre, o senhor sofre, durante a
Missa, a amargura do fel?
Sim, muito freqüentemente...
Padre, como pode estar-se de pé no
Altar?
Como estava Jesus na Cruz.
No altar, o senhor está pregado na
Cruz, como Jesus no Calvário?
E ainda me perguntas?
Como se acha o senhor?
Como Jesus no Calvário.
Padre, os carrascos deitaram a Cruz
no chão para pregar os cravos em Jesus?
Evidentemente.
Ao senhor também lhos pregam?
E de que maneira!
Também deitam a Cruz para o senhor?
Sim, mas não devemos ter medo.
Padre, durante a Missa o senhor
pronuncia as Sete Palavras que Jesus disse na Cruz?
Sim, indignamente, mas também as
pronuncio.
E a quem diz: “Mulher, eis aí teu
filho”?
Digo para Ela: “Eis aqui os filhos de
Teu Filho”.
O senhor sofre a sede e o abandono de
Jesus?
Sim.
Em que momento?
Depois da Consagração.
Até que momento?
Costuma ser até a Comunhão.
O senhor diz que tem vergonha de
dizer: “Procurei quem me consolasse e não achei”. Por quê?
Porque nossos sofrimentos de
verdadeiros culpados não são nada em comparação com os de Jesus.
Diante de quem sente vergonha?
Diante de Deus e da minha
consciência.
Os Anjos do Senhor o reconfortam no
Altar em que o senhor se imola?
Pois... não o sinto.
Se não lhe vem o consolo até à alma
durante o Santo Sacrifício, e o senhor sofre, como Jesus, o abandono total,
nossa presença não serve para nada.
A utilidade é para vós. Por acaso foi
inútil a presença da Virgem Dolorosa, de São João e das piedosas mulheres aos
pés de Jesus agonizante?
Que é a Sagrada Comunhão?
É toda uma misericórdia interior e
exterior, todo um abraço. Pede a Jesus que se deixe sentir sensivelmente.
Quando Jesus vem, visita somente a
alma?
O ser inteiro.
Que faz Jesus na Comunhão?
Deleita-se na sua criatura.
Quando se une a Jesus na Santa
Comunhão, que quer peçamos a Deus pelo senhor?
Que eu seja outro Jesus, todo Jesus e
sempre Jesus.
O senhor sofre também na Comunhão?
É o ponto culminante.
Depois da Comunhão, continuam seus
sofrimentos?
Sim, mas não sofrimentos de amor.
A quem se dirigiu o último olhar de
Jesus agonizante?
À sua Mãe.
E o senhor para quem olha?
Para meus irmãos de exílio.
O senhor morre na Santa Missa?
Misticamente, na Sagrada Comunhão.
É por excesso de amor ou de dor?
Por ambas as coisas, porém mais por
amor.
Se o senhor morre na Comunhão,
continua a ficar no Altar? Por quê?
Jesus morto permanecia pendente da
Cruz no Calvário.
Padre, o senhor disse que a vítima
morre na Comunhão. Colocam o senhor nos braços de Nossa Senhora?
Nos de São Francisco.
Padre, Jesus desprega os braços da
Cruz para descansar no Senhor?
Sou eu quem descansa n’Ele!
Quanto ama a Jesus?
Meu desejo é infinito, mas a verdade
é que, infelizmente, tenho de dizer nada e me causa pena.
Padre, por que o senhor chora ao
pronunciar a última palavra do Evangelho de São João: “E vimos sua glória como
do Unigênito Pai, cheio de graça e de verdade”?
Parece-te pouco? Se os Apóstolos, com
seus olhos de carne, viram essa glória, como será a que veremos no Filho de
Deus, em Jesus, quando se manifestar no céu?
Que união teremos então com Jesus?
A Eucaristia nos dá uma idéia.
A Santíssima Virgem assiste à sua
Missa?
Julgas que a Mãe não se interessa por
seu Filho?
E os Anjos?
Em multidões.
Padre, quem está mais perto do Altar?
Todo o Paraíso.
O senhor gostaria de celebrar mais de
uma Missa por dia?
Se eu pudesse, não quereria descer do
Altar.
Disseram-me que traz com o senhor o
seu próprio Altar...
Sim, porque se realizam estas
palavras do Apóstolo: “Eu trago no meu corpo os estigmas de Jesus”. “Estou
cravado com Cristo na Cruz.” “Castigo o meu corpo, e o reduzo à escravidão...”
Nesse caso, não me engano quando digo
que estou vendo Jesus Crucificado!
(Nenhuma resposta)
Padre, o senhor se lembra de mim na
Santa Missa?
Durante toda a Missa, desde o
princípio até o fim, lembro-me de ti.
A Missa do Padre Pio, em seus
primeiros anos, durava mais de duas horas. Sempre foi um êxtase de amor e de
dor. Seu rosto estava inteiramente concentrado em Deus e cheio de lágrimas. Um
dia, ao confessar-me, perguntei-lhe sobre este grande mistério:
Padre, quero fazer-lhe uma pergunta.
Dize-me, filho.
Padre, queria perguntar-lhe que é a
Missa?
Por que me perguntas isto?
Para ouvi-la melhor, Padre.
Filho, posso dizer-te que é a minha
Missa.
Pois é isso o que quero saber, Padre.