(A morte de um desconhecido me
encontrando numa tarde qualquer de trabalho de campo)
No meio de meus afazeres
profissionais, em algum lugar perdido da civilização, paro diante da
necessidade imperiosa de me alimentar junto a um pequeno restaurante de uma rua
qualquer e me deparo de repente com a incerteza da fragilidade humana: a casa
simples, um grupo de pessoas, as vozes baixas, o sol causticante, o velório, a
poeira, o morto, a morte e a vida no agreste chão. Eis o homem de corpo só, enfim
tornado igual a todos os homens mortos, quer fossem reis ou escravos,
imperadores ou soldados, magnatas ou miseráveis andarilhos, criaturas humanas
com histórias próprias, almas criadas pela graça de Deus. Não me é possível
saber coisa alguma deste homem, atravessando sem vida a minha vida em um breve
momento, mas ficou a minha oração: ‘que Deus te conceda a graça da salvação
eterna e que teus olhos gloriosos brilhem para sempre na luz infinita da Plena
Visão!’ E que eu, Pai, que fico aqui mais algum tempo encontre, entre afazeres
e almoços tardios, a graça de sempre viver de acordo com a Vossa Santa Vontade!