sábado, 1 de setembro de 2012

DA VIDA ESPIRITUAL (24)

(A morte de um desconhecido me encontrando numa tarde qualquer de trabalho de campo)

No meio de meus afazeres profissionais, em algum lugar perdido da civilização, paro diante da necessidade imperiosa de me alimentar junto a um pequeno restaurante de uma rua qualquer e me deparo de repente com a incerteza da fragilidade humana: a casa simples, um grupo de pessoas, as vozes baixas, o sol causticante, o velório, a poeira, o morto, a morte e a vida no agreste chão. Eis o homem de corpo só, enfim tornado igual a todos os homens mortos, quer fossem reis ou escravos, imperadores ou soldados, magnatas ou miseráveis andarilhos, criaturas humanas com histórias próprias, almas criadas pela graça de Deus. Não me é possível saber coisa alguma deste homem, atravessando sem vida a minha vida em um breve momento, mas ficou a minha oração: ‘que Deus te conceda a graça da salvação eterna e que teus olhos gloriosos brilhem para sempre na luz infinita da Plena Visão!’ E que eu, Pai, que fico aqui mais algum tempo encontre, entre afazeres e almoços tardios, a graça de sempre viver de acordo com a Vossa Santa Vontade!