V - COMUNHÃO NA MÃO?
Não há dúvida de que as práticas mais abusivas e lesivas à dignidade do santo
sacramento da eucaristia ocorrem no ato da comunhão propriamente dita, durante
a distribuição das hóstias. Estas práticas, embora frequentes, tendem a ser profundamente
transgressoras à vontade divina, como atestado por diferentes alocuções papais
e um sem número de angustiantes lamentações de Jesus e de Maria em aparições e
manifestações diversas aos homens dos tempos atuais.
Neste contexto, a deposição das
hóstias consagradas na mão dos fiéis constitui uma concessão perigosíssima e
totalmente estranha às mais autênticas tradições da Igreja. É um ato direto
contra a sacralização devida para com o Divino e Imaculado Corpo de Cristo.
Desde a Igreja primitiva, os diáconos lavavam suas mãos após dispor as
oferendas do vinho e do pão sobre a mesa eucarística, antes mesmo da
consagração, origem do ato do lavabo que o sacerdote faz no rito da Missa atual. O sacerdote, mesmo tendo as suas mãos consagradas, tem que lavá-las previamente ao contato com as
sagradas espécies. Que razões poderiam sustentar o relaxamento moral que
permite que as mãos não consagradas e não lavadas dos fiéis possam tocar no
Corpo Santo de Deus?
Estas razões, infelizmente, são apenas humanas, baseadas em questões de
higiene e de uma insensata e equivocada ideia de uma busca de maior intimidade com Deus.
Esse segundo argumento tange o absurdo: a disposição interior, com os cuidados
exteriores mencionados previamente, é uma certeza da existência dessa intimidade e
despojamento entre a criatura e o seu Criador. A manjedoura que acolhe o nosso renascimento espiritual em Cristo na eucaristia deve ser provida pelo estado de graça da nossa
alma ávida de Deus e não pelas palmas de mãos pecadoras e não consagradas.
E que preocupação
desmedida com a higiene e o conforto dos fiéis (o sacerdote pode, por exemplo,
tocar inadvertidamente com os dedos nos lábios ou na língua dos
penitentes) pode sublimar por completo qualquer objeção a tocar as sagradas espécies com mãos impuras? Ou será que, durante a
missa, os sentidos humanos de repente desaparecem e não são incorporados a atos tão banais quanto coçar a cabeça ou os ouvidos, usar um lenço, apertar os cadarços do sapato,
apoiar-se simplesmente nos bancos da igreja e até mesmo no apertar das mãos dos vizinhos
durante o cumprimento da paz?
Outros argumentam ainda que, como o próprio Jesus deu a comunhão nas
mãos dos apóstolos durante a Última Ceia, a comunhão na mão deveria ser a praxe
geral. Não há dúvida disso, esta praxe é geral para aqueles que são semelhantes
aos apóstolos, ou seja, para os sacerdotes de Cristo, consagrados para perdoar
pecados e realizar o extraordinário milagre da transubstanciação a cada Missa.
Nós, os fiéis, não somos herdeiros dos apóstolos, somos as sucessivas gerações
do povo de Deus. Para nós, a comunhão na mão está, pois,
claramente em contradição com o verdadeiro espírito de amor, respeito e devoção
que devemos para com Nosso Senhor e Nosso Deus. E existe ainda o gravíssimo perigo decorrente
das partículas consagradas que se desprendem das hóstias e das mãos e que,
caindo ao chão, são pisoteadas e profanadas.
Mas os problemas advindos da comunhão na mão podem assumir gravidade
muito maior, propiciando sacrilégios de toda natureza. Em quantas missas, sob
um afluxo intenso e descontrolado dos fiéis, o sacerdote atua meramente como um
repassador autômato das hóstias consagradas, em flagrante desrespeito e
vulgarização à cerimônia eucarística, como se tivesse distribuindo
aleatoriamente fichas ou prendas a um punhado de mãos estendidas. Em quantas missas, o sacerdote não tem o controle do
destino das hóstias colocadas em mãos não consagradas? Hóstias consagradas já
foram encontradas em bancos de igreja, dentro de missais, em sacristias e em
estacionamentos, em álbuns de fotografias... em que lugares terríveis não
poderiam ser colocadas... ou mesmo usadas em atos sacrílegos como as chamadas ‘missas
negras’? Seria difícil perceber as muitíssimas possibilidades de profanações
das sagradas espécies em mãos não consagradas no caso das missas campais, com
grande afluência de pessoas, envolvendo, em certos casos, verdadeiras multidões?
Nesta senda de insensatez, obscurantismo e omissão impressionantes, some-se
a concessão medonha que permite ao próprio fiel tomar diretamente a hóstia do
cibório. Nesta toada, para que sacerdotes? Ou bastará que o presidente da
assembleia disponha uma bandeja de pães e uma jarra de vinho sobre o altar, a
fim de que os próprios fiéis possam servir-se à vontade, transformando-se a eucaristia em ágape, mero símbolo de uma filantropia universal?
Eucaristia I: Primeira Parte (Primeiro Domingo de Agosto)
Eucaristia II: Segunda Parte (Segundo Domingo de Agosto)
Eucaristia III: Terceira Parte (Terceiro Domingo de Agosto)
Eucaristia IV: Quarta Parte (Quarto Domingo de Agosto)
Eucaristia V: Quinta Parte (Primeiro Domingo de Setembro)