quarta-feira, 27 de setembro de 2017

VIRTUDES DE SALVAÇÃO

Eu tive três virtudes em minha morte. Primeiro, a fé, quando dobrei meus joelhos e rezei, sabendo que o Pai podia livrar-me de meus sofrimentos. Segundo, esperança, quando perseverei resolutamente dizendo: ‘Não se faça a minha vontade’. Terceiro, caridade, quando disse: ‘Faça-se tua vontade!’ Também padeci agonia física devido ao temor natural de sofrer e um suor de sangue emanou do meu corpo. Por isso, para que meus amigos não temam ser abandonados quando lhes chegar o momento da prova, Eu lhes demonstrei em mim que a débil carne sempre trata de escapar da dor. 

Poderias perguntar, talvez, como foi que meu corpo segregou um suor de sangue. Bem, da mesma forma em que o sangue de uma pessoa enferma se resseca e se consome em suas veias, meu sangue se consumiu pela angústia natural da morte. Querendo mostrar a maneira em que o Céu se abriria e como as pessoas poderiam entrar nele depois de seu exílio, o Pai amorosamente entregou-me à minha Paixão para que meu corpo fosse glorificado, uma vez que a paixão se tinha consumado. Porque minha natureza humana não podia simplesmente entrar em sua glória sem sofrer, apesar de que Eu fui capaz de fazê-lo mediante o poder de minha natureza divina. 

Por que, então, as pessoas com pouca fé, vãs esperanças e sem amor, mereceriam entrar em minha glória? Se tivessem fé no gozo eterno e no terrível castigo, não desejariam nada mais que a mim. Se elas realmente cressem que Eu vejo todas as coisas e tenho poder sobre todas as coisas e que exijo um juízo para cada uma, o mundo lhes resultaria repugnante e não ousariam pecar na minha presença por temor a mim e não pela opinião humana. Se tivessem uma firme esperança, todo seu pensamento e entendimento se dirigiriam até mim. Se tivessem amor divino, suas mentes pensariam, ao menos, sobre o que fiz por eles, os esforços que fiz ao ensinar, a dor que padeci em minha Paixão, o grande amor que tive ao morrer, tanto que preferi morrer antes que perdê-los. 

Mas sua fé é débil e vacilante, apontando a uma queda fulminante, porque estão dispostos a crer quando estão ausentes dos impulsos da tentação, mas perdem confiança quando se veem de frente com a adversidade. Sua esperança é vã, porque esperam que seu pecado seja perdoado sem um juízo e sem uma correta sentença. Confiam que podem conseguir o Reino dos Céus gratuitamente. Desejam receber minha misericórdia sem a atuação da justiça. 

Seu amor para comigo é frio, pois nunca se põem a buscar-me ardentemente a menos que se sintam forçados pela tribulação. Como vou compadecer-me das pessoas que nem sustentam uma fé reta nem uma firme esperança nem uma fervente caridade por mim? Por isso, quando me implorarem e disserem: ‘Senhor, tem piedade de mim!’, não merecerão ser ouvidas nem entrar na minha glória. Se não querem acompanhar o seu Senhor no sofrimento, não o acompanharão na glória. Nenhum soldado pode agradar ao seu senhor e ser bem recebido de novo, depois de um deslize, a menos que primeiro se humilhe para reparar a sua ofensa.

(Das Revelações de Santa Brígida)