terça-feira, 26 de setembro de 2017

PORQUE 23 DE SETEMBRO FOI UM DIA QUE PASSOU...

Acabamos de assistir a mais um grande pandemônio escatológico: centenas de textos e vídeos propagaram à exaustão o fim dos tempos neste último sábado, dia 23 de setembro, com base numa conjunção raríssima de corpos celestes, pretensiosamente induzida por passagens bíblicas do Apocalipse. Teve de tudo proposto para acontecer neste dia, no vômito comum do misticismo de gueto: passagem do planeta X, estrelas em delírio, constelações alinhadas, liberação de uma grande energia cósmica indutora da Nova Era, mudanças no eixo da Terra, visita de extraterrestres, arrebatamento dos eleitos, delírios de toda ordem, insensatez, insensatez e loucura. 

Leigos falando de eventos astronômicos é insensatez. Pastores analfabetos interpretando passagens bíblicas é loucura. E dezenas, centenas de pessoas ouvindo e dando crédito a uns e outros apenas mostra a imensa capacidade do ser humano se se comprazer da ignorância explícita. E, infelizmente, nesta cepa de alienados, muitos, muitos católicos. Mas, como em tudo, há que se separar o joio do trigo. E é por isso que seria bom falar na verdadeira astronomia e nas verdadeiras profecias apocalípticas.

Antes de mais nada, porém, como católicos, temos ou não temos por premissa os próprios ensinamentos de Jesus? E o Senhor é claríssimo ao pontuar sobre uma possível data dos fins dos tempos: 'Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem mesmo os anjos do céu, mas somente o Pai' (Mt 24, 36). Até a sacerdotisa meia-boca de Gaia ou o pastor de esquina sabiam que isso seria no dia 23 de setembro? Jesus nos atentou a ficar alertas aos sinais dos tempos (e realmente eles são muitíssimos hoje), a nos prepararmos para os grandes eventos escatológicos, mas nunca perdermos tempo com os que vendem datas como pedras de escândalo.  

É óbvio que os eventos escatológicos estarão associados a fenômenos astronômicos, mesmo porque se inserem num contexto cosmológico. A astronomia é a ciência que estuda os corpos celestes e a interação entre eles no cosmos. Assim, é óbvio que podem ocorrer alinhamentos de planetas, explosões de supernovas, detecção de radiações eletromagnéticas e matéria escura, existência de estrelas anãs e de buracos negros e de outras centenas de fenômenos extraordinários do universo conhecido (conformando algo como umas 200 bilhões de galáxias). Mas a astronomia, como ciência, não faz analogias espúrias ou simbolismos esotéricos! Esse é o campo para uma farsa chamada astrologia...que não possui nada de sagrado, muito pelo contrário!

Ilustremos com um exemplo direto destas libertinagens astrológicas da semana passada: o texto inicial do Apocalipse 12. Com efeito, o texto bíblico é este: 'Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava de dores, sentindo as angústias de dar à luz' (Ap 12, 1-2). Na interpretação livre dos profetas dos tempos finais, a Mulher seria simbolicamente a constelação de Virgem, com sol, lua, planeta e estrelas conspirando a favor do texto bíblico. E a gravidez seria expressa pela saída do planeta Júpiter da região que representaria o ventre da tal constelação exatamente no dia 23 de setembro...

Isso não é nem astronomia, nem interpretação bíblica definida e estabelecida pela tradição bimilenar da Santa Igreja Católica. É misticismo vulgar, crendice de crentes de arrebatamentos e beijos de luz. É a mais renomada astrologia, esoterismo de baixo nível capaz de associar as figuras bíblicas de Nossa Senhora e Jesus com a constelação de Virgem e o planeta Júpiter, respectivamente. É blasfêmia pura e simples tais simbolismos esotéricos, jamais promovidos pelos Padres da Igreja, pela Tradição e pela sã doutrina da Igreja de Cristo. Céu, lua, estrelas, planetas... são astros celestes, movidos por leis físicas específicas; não são meros artefatos que rodopiam pelo firmamento e que conspiram para justificar crendices humanas. Essa estultice nasce no mesmo esgoto diabólico que considera os Reis Magos como sábios de eventos astrológicos e conjunções planetárias que os teriam permitido atentar para a Estrela de Belém como um artefato cósmico que os levariam até à humilde manjedoura de Jesus. Santos não se moldam em alfarrábios e mapas astrológicos...

A crendice é o postulado de crentes; o esoterismo é a ferramenta do ocultismo; a adivinhação é a prática comum de feiticeiros. Nós, os católicos, não temos o livre arbítrio de prantear crendices, adivinhações ou ocultismo. O Magistério da Igreja fala por nós. O Espírito Santo fala por nós, por meio do Magistério da Igreja. Mais do que isso, é se alinhavar com constelações e pseudociências. A astronomia e a Bíblia não se confrontam nos planos do sagrado. Mas podem ser usados (e como!) pelo Pai da Mentira para fazer os seus filhos, já embrutecidos de orgulho e de ignorância, azedarem ainda mais o caldo diabólico de suas entranhas. 

E, mais que isso, propagar entre o 'pequeno resto' o descrédito das verdades bíblicas incontestáveis. Os sinais destas verdades estão claros e cada vez mais insistentes. Assim, aos que cremos, basta a confiança de que estaremos sempre nas mãos de Deus para cumprir, como Filhos da Luz, a sua Santa Vontade hoje, amanhã, nos dias da grande tribulação ou nos tempos do fim. Sem quaisquer apegos ou afagos a astrólogos de sótão ou a crentes de porão.