sábado, 10 de setembro de 2022

SOBRE EVITAR AS OCASIÕES DE PECADO

Um certo Tróquilo, discípulo do filósofo grego Platão (+ 347 a. C.), tendo visto um dia o mar calmo, disse: 'Darei um belo passeio no mar' e, subindo num barquinho, foi para o seu dia de prazer. Mas eis que de repente se levantou uma furiosa borrasca; por isso o barco ficou todo à deriva e o pobre filósofo esteve por um fio de afogar-se. Contudo, por um grande milagre, conseguiu salvar-se. Chegando em casa tomado de pavor, sabeis qual foi a primeira coisa que fez? Fez logo murar duas janelas de seu palácio, que davam para o mar. Mas por quê? Bem sabia ele o porquê. Era para não olhar mais além daquelas janelas: assim não lhe vinham as tentações de se meter mais no mar com o risco de ali morrer.

O que fez Tróquilo também vós deveis fazer, depois de escapar do naufrágio do pecado com a confissão: deveis, pois, fugir às ocasiões perigosas. Tróquilo disse: 'No mar nunca mais, pois corro o risco de perder a vida'. Ao recitardes o ato de dor, assim o terminais: 'Proponho fugir às ocasiões de pecado'. Portanto, deveis manter a promessa que fazeis a Deus.

Denomina-se ocasião de pecado qualquer coisa ou circunstância que induz facilmente o homem a pecar; ou então o incita, o puxa, e o coloca no perigo de cometer o mal. Quereis saber quais são as principais ocasiões? Ei-las:

● os maus companheiros – que têm conversas maldosas ou procuram induzir a ações ilícitas.
● Os livros e jornais – que falam mal da religião ou tratam de coisas desonestas
● as figuras inconvenientes – que também se veem nas vitrines de certos negócios
● os espetáculos, os jogos e divertimentos – que são poucos honestos
● o ócio – que é denominado o pai dos vícios e dos pecados
● a excessiva curiosidade – que facilmente leva os jovens a pensamentos, desejos e atos maldosos

E assim por diante... Tudo aquilo, em suma, que induz ao mal e se procura voluntariamente, se diz ocasião próxima do pecado. Há a obrigação de fugir às ocasiões? Certamente que há essa obrigação. O Espírito Santo adverte que é preciso fugir ao pecado como se foge diante de uma serpente: quasi a facie colubri fuge peccata (Eclo 21, 2). Ora, do mesmo modo que evitamos não só a picada das serpentes, como até procuramos não tocá-las, também devemos fugir não apenas ao pecado, mas até das ocasiões de pecado.

Jesus Cristo no Evangelho diz: 'Se tua mão, ou teu pé te servem de escândalo, corta-os fora e joga-os longe de ti' (Mt 18, 8). E depois ainda: 'Se teu olho te é ocasião de pecado, tira-o, e joga-o longe de ti' (ibid. 9). E por quê? Porque, responde Jesus, é melhor com um só olho, uma única mão e um só pé ir ao Paraíso, do que com dois olhos, duas mãos e dois pés precipitar-se no inferno.

Que quer dizer Jesus Cristo com isso? Que devemos mesmo arrancar os olhos, cortar as mãos e os pés? Não! Mas nos quer fazer compreender que devemos afastar-nos, separar-nos, subtrair-nos das coisas, dos lugares, das pessoas que nos sejam grave perigo para a alma e próxima ocasião de pecar. E é preciso fugir a tais coisas mesmo que nos sejam queridas como os olhos e necessárias como os pés e as mãos. Por isso insiste ainda o Senhor, dizendo: 'Quem está longe dos laços (quer dizer, das ocasiões e dos perigos de pecar), andará salvo estará seguro' - qui cavet laqueos, securus erit (Pv 11,15). Entretanto, 'quem ama o perigo (isto é, quem o procura voluntariamente), nele perecerá' - qui amat periculum, in illo peribit' (Eclo 3,27).

(Excertos da obra 'A Palavra de Deus em Exemplos', de G. Montarino)