terça-feira, 13 de setembro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (170/172)

 

170. ZOMBAVAM DE NOÉ

Eram tantos os pecados do mundo que um dia Deus se arrependeu de ter criado o homem. Chamou a Noé, que era justo, e ordenou-lhe que construísse um grande navio: a arca. Cento e vinte anos foram gastos na sua construção. 

São João Crisóstomo descreve as zombarias que os homens corrompidos dirigiam a Noé. Diziam: 'Caduco! ó velho caduco! ó falso profeta! Não vês, como o céu está limpo e sereno, enquanto tu ameaças com o dilúvio?' Noé, porém, continuava, martelando sem descanso. E aqueles homens diziam: 'Todos anseiam pelo ar livre e o céu espaçoso e este está a fazer uma casa de madeira para meter-se vivo nela com sua família, com seus bens e com os animais!'

Noé termina a arca e entra, com aquela gente má ao redor rindo e escarnecendo. Mas, depois de sete dias, as cataratas do céu abriram-se com estrondo, todos os rios transbordaram e as ondas do mar inundaram a terra. Todos pereceram no dilúvio universal; mas a arca flutuava sobre as águas e Noé louvava a Deus. 

Nossa vida na terra é como a arca de Noé. Toda boa obra, que praticamos, é motivo de zombaria e de perseguições por parte dos inimigos de Deus. Não recuemos, não nos envergonhemos do Evangelho, não nos deixemos vencer pelo respeito humano.

171. FASCINADO PELO DINHEIRO

Num domingo, em Nova York, um excêntrico milionário chamou um de seus empregados e lhe disse: 'Sobre esta mesa há um milhão de notas de um dólar. Tudo será teu, se conseguires contá-las até meia-noite e, olha, ainda são seis horas da manhã'. O empregado ficou por uns instantes atordoado diante daquela mesa coberta de notas. Em seguida, com mãos febris, começou a contar: um, dois, dez, cem... um pacote, dois pacotes... e quase que nem respirava. 

Ficou ali com a cabeça reclinada, o olhar fixo, o corpo imóvel, somente as mãos se agitando, indo e vindo tão rapidamente como a regularidade de uma máquina. Os sinos tocam para a santa missa, chamando o povo. Ele, debruçado sobre o dinheiro, não ouve nada. Passam as horas... é meio-dia. Deve sentir fome, mas nem pensa em comer. Conta e conta... Põe-se o sol. Onde estarão os seus filhos? Terão o que comer? Chega a noite... e as ruas estão desertas e o prédio está coberto pelo silêncio e pelas sombras. 

Um serviçal acende a luz e leva-lhe um copo de vinho. O contador nem o percebe. Os olhos já estão pesados, os nervos retraem-se, os músculos das mãos entorpecem. Está próxima a meia-noite. Ele conta e conta sempre. Diante dele, o milionário o contempla com frieza e, de repente, toma-lhe as mãos e grita: 'Basta! É meia-noite'. O infeliz não tinha chegado nem à metade de sua meta. Dilata horrivelmente os olhos sem luz e um ataque cardíaco o acomete e o faz cair morto.

Pobre louco que se deixara alucinar e seduzir pelo ouro! Em lugar do que esperava, só encontrou desenganos e a morte. Destes loucos há por aí inúmeros. Para a igreja, para a missa, para a alma, não têm tempo: devem ganhar dinheiro! Até que um dia vem o demônio e lhe diz: 'Basta!'

172. A VOZ DO SANGUE CRISTÃO

O sangue dos mártires dá testemunho da verdade católica. Não foram raros os episódios como o seguinte. Nas catacumbas, no dia de Páscoa, muitíssimos cristãos estavam reunidos e assistiam à missa do Pontífice Caio. Durante a elevação da hóstia, enquanto o povo a adorava, ouviram-se gritos: 'Morte aos Cristãos!' Eram os gritos dos beleguins de Diocleciano que ali penetraram por traição. 

Sem saírem do lugar, a multidão continuava adorando a Cristo na Eucaristia. Os soldados com suas espadas iam ferindo à direita e à esquerda. 'Filhos caríssimos' - exclamou o Pontífice Caio - 'Cristo morreu e ressuscitou por nós. Coragem! Ele quer nos coroar com Ele'. E todos a uma voz gritaram: 'Somos cristãos'. A matança continuou, mas ninguém vacilou. As mães, segurando junto ao peito os seus filhinhos, diziam: 'Vamos para o céu; o Senhor Jesus vem nos buscar'.

O Papa Caio disse por sua vez: 'Sou cristão' e, ao ser decapitado, sua cabeça rolou pelos degraus do altar. Morreram os cristãos, morreu o papa... mas a Igreja não morre! O tempo dos mártires não terminou. Em nossos dias, temos outros mártires gloriosos, cujo sangue faz brilhar a nossa fé, fortalece a nossa confiança e entusiasma o nosso ardor e só faz crescer o nosso amor à Igreja.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)