sexta-feira, 29 de maio de 2020

CATECISMO MAIOR DE PIO X (XIV/Final)

Advertências e orientações para o estudo da religião na História da Igreja

137. Aqui termina este nosso resumo, pois não é possível seguir passo a passo os vários eventos da Igreja, complicados com os acontecimentos políticos, sem dizer coisas que sejam facilmente compreendidas ao entendimento comum, e sem se desviar do fim e do objetivo destas páginas. O cristão de boa vontade provê a si mesmo um bom Compêndio de História da Igreja de autor católico, e para escolhê-lo vale-se do conselho de seu pároco ou de seu douto confessor. Leia com espírito de simplicidade e humildade cristã, e verá resplandecer em sua mãe, a Igreja, os caracteres com que Nosso Senhor Jesus Cristo tem distinguido a única verdadeira Igreja que Ele mesmo fundou, a saber: Una, Santa, Católica, Apostólica e Romana.

138 UNA – Verá resplandecer a unidade da Igreja em exercício ininterrupto de fé, de esperança e de caridade. Verá, em vinte séculos de vida, sempre jovem e florescente, contando com tantas gerações, tantas multidões de homens de natureza diversa, nacionalidades e línguas, unidas em uma sociedade governada sempre por uma mesma e perpétua hierarquia, professar as mesmas crenças, confortar-se com as mesmas esperanças, participar de orações comuns e dos mesmos sacramentos, sob a direção dos legítimos pastores. Verá a hierarquia eclesiástica, formada de milhares de bispos e sacerdotes, conservar-se estreitamente unida em comunhão e obediência ao Pontífice Romano, que é o chefe divinamente estabelecido, e receber dele os divinos ensinamentos para comunicá-los ao povo com perfeita unidade de doutrina. De onde vem tão maravilhosa união? Da presença e assistência de Jesus Cristo, que disse aos seus Apóstolos: 'Eis que estou convosco até a consumação dos séculos'.

139. O fiel que ler com retidão de coração a História da Igreja, verá resplandecer a santidade da Igreja, não apenas na santidade essencial de sua cabeça invisível Jesus Cristo, na santidade dos sacramentos, da doutrina, das Corporações religiosas, dos muitos de seus membros, mas também na abundância dos dons celestiais, dos sagrados carismas, das profecias e milagres com que o Senhor (negando-os às demais sociedades religiosas) faz resplandecer no rosto do mundo o dom da santidade, de que está exclusivamente adornada sua única Igreja.

Quem lê com ânimo desapaixonado a História da Igreja, sente-se atônito ao contemplar a ação visível da divina Providência, que comunicou à Igreja a santidade e a vida, e vela por sua conservação. Ela foi a única que, desde os primeiros séculos, suscitou os grandes homens, glória imortal do Cristianismo que, cheios de sabedoria e virtude sobre-humana, combateram vigorosamente as heresias e erros que foram aparecendo: Santos Padres e Doutores que brilharam como estrelas por perpétuas eternidades, na frase bíblica; de cujo unânime consentimento podemos deduzir e reconhecer a Tradição e o sentido das Sagradas Escrituras.

É impressionante ver providencialmente levantar-se, em tempo e lugar oportuno, aquelas Ordens regulares, aquelas famílias religiosas, aprovadas e abençoadas pela Igreja, nas quais, já no século IV, florescia a vida cristã e aspirava-se à perfeição evangélica, praticando os divinos conselhos pelos santos votos de castidade, pobreza e obediência. Veja-se pela história que essas famílias religiosas, no transcurso dos séculos, têm sempre surgido e ainda agora continuam sucedendo-se e renovando-se com um fim sempre santo, servindo-se dos meios acomodados às épocas; ora a oração, ora a educação, ora o exercício do ministério apostólico, ora ao cumprimento múltiplo e variado das obras de caridade. Como sua Santa Madre Igreja, estão sujeitas a grandes perseguições, que frequentemente e por algum tempo as oprimem. Mas, à medida que tais institutos pertencem à essência da Igreja, pela adequação dos conselhos evangélicos, por isso não podem perecer completamente. E é coisa comprovada pela experiência, que atribulação as purifica e rejuvenesce, e renascendo em toda parte, multiplicam-se e produzem copiosos frutos, permanecendo sempre como uma fonte inesgotável de santidade da Igreja.

140. CATÓLICA – Verá com amargura o fiel que, fartas vezes, no curso dos séculos, grande multidão de cristãos, mesmo nações inteiras, são miseravelmente separadas da unidade da Igreja, mas verá também que Deus enviava sucessivamente a outros povos e a outras nações a luz do Evangelho por meio de homens apostólicos, encarregados por Ele, como foram os Apóstolos, de guiar as almas à salvação eterna. E se consolará ao reconhecer que o Senhor se digna confiar em nosso século este apostolado a centenas e milhares de sacerdotes, de religiosos de todas as ordens, de virgens consagradas, os quais correm as terras e os mares do velho e do novo mundo, para expandir o reino de Jesus Cristo. De onde seria um erro dar crédito às bravatas dos incrédulos: que o Catolicismo está se extinguindo no mundo, como se os homens já não atendessem a outra coisa senão ao progresso das ciências e das artes. 

Pelo contrário, é evidente a partir das estatísticas que o número total de católicos nas cinco partes do mundo, apesar das perseguições e dificuldades de todos os tipos, cresce a cada ano, e espera-se que se tornando cada dia mais fáceis os meios de comunicação, e com o favor divino, não haverá então terra acessível onde em uma modesta igreja e ao redor de um pobre missionário não haja um grupo de cristãos unidos em pensamento e coração com seus irmãos de todo o mundo e, por meio dos Bispos e Vigários apostólicos legitimamente enviados pela Sé Romana, ligados à mesma em unidade de fé e comunhão. E é isto que é chamado de catolicidade da Igreja. Ela só pode ser chamada de católica universal, isto é, de todos os tempos e de todos os lugares.

141. APOSTÓLICA – Ao contemplar a História da Igreja, verá o fiel suceder-se, entre incríveis dificuldades, tantos Romanos Pontífices que, revestidos na pessoa de Pedro das mesmas prerrogativas que a ele concedeu Jesus Cristo, vão comunicando também a jurisdição aos sucessores dos outros Apóstolos, dos quais nenhum jamais se separou de Pedro, como ninguém poderá separar-se da Sé Romana sem deixar de pertencer à Igreja, que por isto se diz e realmente é Apostólica.

142. Na História da Igreja, o fiel aprenderá a conhecer e evitar os inimigos da Igreja e de sua fé. No transcurso dos séculos se encontrará associações ou sociedades tenebrosas e secretas que, com vários homens, foram se organizando, não para glorificar o Deus eterno, onipotente e bom, mas para derrubar seu culto e substituir (coisa incrível, mas verdadeira) pelo culto do demônio. Não se admirará de que os legítimos sucessores de São Pedro, sobre quem Jesus Cristo fundou sua Igreja, foram e ainda são atualmente objeto de ódio, escárnio e aversão por parte dos hereges incrédulos, devendo tornar-se mais semelhantes ao divino Mestre, que disse: 'Se perseguiram a Mim, também a vós perseguirão'. 

Mas a verdade a ser inferida a partir da história é esta, que os primeiros Papas por vários séculos foram justamente exaltados às honras dos altares, havendo muitos entre eles que derramaram o seu sangue pela fé, que quase todos os demais brilharam por seus egrégios dons de sabedoria e virtude, sempre atentos para ensinar, defender e santificar o povo cristão, sempre prontos, como seus predecessores, a perder a vida para dar testemunho da palavra de Deus. Que importa (desgraçadamente também entre os doze houve um Apóstolo do mal), que importa que entre tantos tenha havido muitos poucos menos dignos de ascender à Suprema Sé, onde todo pequeno defeito parece muito grave? Deus o permitiu para dar a conhecer seu poderio para sustentar a Igreja, conservando um homem infalível no ensino, embora falível em sua conduta pessoal.

(Do Catecismo Maior de Pio X)

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(do Catecismo Maior de Pio X)