Em 24 de fevereiro de 303, o imperador Diocleciano publicou um decreto proibindo aos cristãos, sob pena de morte, ter posse das Escrituras, reunir-se aos domingos para celebrar a Eucaristia e construir templos para os cultos da sua religião. Em Abitene, pequena localidade da África romana (na atual Tunísia), o bispo local (chamado Fundano) sucumbiu covardemente ao edito e entregou os Textos Sagrados às autoridades romanas.
Alguns cristãos, porém, se recusaram a abdicar da fé cristã e continuaram professando a devoção corrente aos sacramentos. Num certo domingo, rezando a missa clandestinamente, 49 cidadãos de Abitene foram denunciados, presos e levados à presença das autoridades romanas em Cartago. Um a um, foram interrogados sobre a ilegalidade destes encontros e um a um, mesmo sob tortura, ratificaram os seus atos e a sua participação no santo sacramento da eucaristia por vontade e consciência próprias.
O presbítero Saturnino, que havia presidido o culto, morreu sob tortura sem abdicar da sua fé cristã, sendo o seu ato seguido igualmente pelos seus quatro filhos: Saturnino, Felix, Maria e Hilarião, o mais novo. Quando perguntaram a Emérito porque participara do culto, ele respondeu: Sine Dominico non possumus! [Sem o domingo, não podemos (viver)!]. Isto é, sem o domingo, sem o sacramento da missa e da eucaristia, não podemos ser realmente católicos, não podemos viver sem celebrar o Dia do Senhor! Todos os demais proclamaram esse mesmo princípio e, por ele, foram todos assassinados como mártires da eucaristia.
Segundo a Tradição, eis os nomes dos 49 mártires de Abitene: Saturnino (pai), Saturnino (filho), Felix, Maria, Hilarião, Emérito, Dativo, Ampélio, Felix (outro), Rogaciano, Quinto, Maximiano ou Máximo, Tecla ou Tazelita, Rogaciano (outro), Rogado, Januário, Cassiano, Vitoriano, Vicente, Prima, Ceciliano, Restituta, Eva, Rogaciano (terceiro com o mesmo nome), Givalio, Rogado (outro), Pompônia, Secunda, Januária, Saturnina, Martino, Clautus, Felix (terceiro com o mesmo nome), Margarida, Maggiora, Honorata, Regiola, Vitorino, Pelúsio, Fausto, Deciano, Matrona, Cecília, Vitória, Herculina, Secunda (outra), Matrona (outra), Januária (outra) e Benigno, filho recém-nascido de Ampélio.
Acabamos de viver uma Páscoa sem sacramentos - um cenário indescritível nos 2000 anos da Igreja. Fundano é exemplo para quem? Pelo sangue destes mártires, a Igreja primitiva nos faz recordar que é melhor um cristão morrer do que abdicar da eucaristia e dos santos sacramentos... Quantos homens de Deus, nestes tristes tempos, seriam capazes de seguir até o fim o exemplo extremado dos 49 mártires de Abitene: sem o Domingo, o dia do Senhor, nós já não podemos viver?