Moisés escreveu na lei: Deus fez o homem à sua imagem e semelhança. Considerai, peço-vos, a transcendência desta afirmação. O Deus onipotente, invisível, incompreensível, inefável, incomparável, criou o homem do pó da terra e enobreceu-o com a dignidade da sua imagem. Que é o homem comparado a Deus? Que é a terra comparada ao espírito? Porque Deus é espírito. Grande mercê que Deus tenha dado ao homem a imagem da sua eternidade e a semelhança da sua vida! A grande dignidade do homem está nesta semelhança com Deus, se se conserva.
Se ele praticar retamente as virtudes infundidas na sua alma, será de fato semelhante a Deus. Devemos dar conta a Deus de todas as virtudes que em nós semeou no nosso estado original. É o que nos ensina com os seus preceitos. Este é o primeiro: Amar o Senhor com todo o nosso coração, porque Ele nos amou primeiro, desde o princípio e antes de existirmos. O amor de Deus é a renovação da sua imagem em nós. Ama a Deus quem guarda os seus mandamentos, como Ele diz: 'Se Me amais, guardai os meus mandamentos'. E o seu mandamento é o amor mútuo, conforme aquela palavra: 'Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei'.
Mas o verdadeiro amor não se exprime apenas com palavras, mas com obras e em verdade. Devemos, portanto, restituir a Deus nosso Pai a sua imagem, não deformada mas perfeitamente conservada na santidade de vida, porque Ele é Santo; como está escrito: 'Sede santos, porque Eu sou santo'. Devemos restituí-la na caridade, porque Ele é caridade, como afirmou São João: 'Deus é caridade'. Devemos restituí-la na bondade e felicidade, porque Ele é bom e fiel. Não pintemos em nós imagens estranhas. Desenha imagens de um tirano quem é duro, iracundo e soberbo.
Por conseguinte, a fim de não introduzirmos em nós imagens tirânicas, o próprio Cristo grava em nós a sua imagem, dizendo: 'Dou-vos a minha paz, deixo-vos a minha paz'. Mas, de que aproveita sabermos que a paz é boa, se não a conservamos bem? Com efeito, tudo o que é belo costuma ser muito frágil e as coisas mais preciosas requerem maior cautela e mais atenta vigilância. É muito frágil esta paz que se pode perder com uma palavra leviana e se destrói com a mais pequena ofensa feita a um irmão. De fato, nada é mais agradável aos homens do que falar e ocupar-se de coisas alheias, manter continuamente conversas ociosas e difamar os ausentes. Por isso, os que não podem dizer: 'O Senhor deu-me uma língua eloquente para que saiba dizer ao desanimado uma palavra de conforto', esses devem calar-se; e se quiserem falar, digam palavras de paz.
(Das Instruções de São Columbano Abade, século VII)