91. O que se entende e como foi escrito o chamado Terceiro Segredo de Fátima?
O chamado Terceiro Segredo é de fato a terceira e última parte do segredo profético que foi revelado por Nossa Senhora, de forma conjunta e sequencial, às três crianças videntes na aparição de 13 de julho de 1917. As duas primeiras partes do Segredo - a perda eterna das almas / visão do inferno e a previsão de castigos universais / difusão mundial da doutrina comunista pela Rússia foram reveladas publicamente pelos textos da Terceira Memória e, pouco depois, pela Quarta Memória da Irmã Lúcia, ambos publicados em 1941. A única parte explicitamente não revelada nestas Memórias trata exatamente da terceira parte do Segredo*.
* Na Quarta Memória, de 8 de Dezembro de 1941, a Irmã Lúcia escreveu: '... Excetuando a parte do segredo que por agora
não me é permitido revelar, direi tudo; advertidamente não deixarei nada.
Suponho que poderão esquecer-me apenas alguns pequenos detalhes de mínima importância'.
Em setembro de 1943, a Irmã Lúcia (então com 36 anos) encontrava-se muito doente no Convento de Tuy e o Bispo de Leiria, Dom José Alves Correia da Silva, temendo pela sua morte, deu-lhe recomendações para escrever o Terceiro Segredo, que foram ratificadas a seguir por uma ordem formal. Ainda que obediente a esta disposição, a Irmã Lúcia não conseguiu passar para o papel a revelação do Terceiro Segredo, mesmo até o final do ano. Ela só o conseguiria fazer quando isso lhe foi confiado pela própria Virgem Maria, em nova aparição, ocorrida em 3 de janeiro de 1944. Em 9 de janeiro de 1944, a vidente escreveu ao bispo comunicando-lhe que finalmente atendera o pedido feito e que agora o Terceiro Segredo estava revelado por escrito.
(Irmã Lúcia com o Bispo de Leiria, Dom José Alves Correia da Silva)
Lúcia escreveu o Terceiro Segredo em uma única página de papel, num texto com cerca de 25 linhas e margens de 7,5 milímetros de cada lado, que foi inserida sem dobras num envelope posteriormente lacrado*, o qual foi enviado a Dom José Alves Correia da Silva somente em 17 de junho de 1944 por meio de portador autorizado (Dom Manuel Maria Ferreira da Silva, então bispo de Gurza). Quando Dom José Alves recusou-se a abrir a carta, Lúcia insistiu com ele pela promessa de que a carta seria efetivamente aberta e divulgada publicamente após a morte da vidente ou em 1960, na hipótese dos dois fatos que ocorresse primeiro**. O envelope permaneceu guardado na Diocese de Leiria durante vários anos. Em 1 de março de 1957, foi encaminhado à Nunciatura de Portugal e, em 16 de abril de 1957, foi finalmente transferido para o Vaticano e guardado em um cofre, nos próprios aposentos do papa.
* depoimento dado por Dom João Pereira Venâncio, à época Bispo Auxiliar de Leiria, ao direcionar o envelope lacrado contra a luz de uma lâmpada, pouco antes de enviar o documento à Nunciatura de Portugal: 'remeti a carta à Nunciatura às 12
horas de 1 de Março de 1957. A carta
maior corresponde à medida do envelope
exterior, com a data de 8-12-1945 (14,5 x 22 cm). A segunda carta
corresponde ao que foi visto no interior
em contraluz (12 x 18 cm). A carta
– que podia ser vista também em
transparência – é de formato um pouco
menor, a 7,5 mm da parte superior
e o lado direito. Nos outros lados,
adapta-se à medida do envelope exterior [logo o formato da carta é 11,25
cm x 17,25 cm].
O envelope exterior tinha detrás
o sinete de Mons. José em lacre vermelho.
À transparência não se via nada
do seu interior, mas sentia-se que
estava lacrado nos quatro ângulos'.
** depoimento dado pelo Cônego Galamba, amigo e conselheiro do Bispo de Leiria, Dom José Alves Correia da Silva.
92. Por que o Terceiro Segredo deveria ser revelado publicamente apenas em 1960?
Esta pergunta foi feita à Irmã Lúcia por diferentes pessoas e a sua resposta foi sempre a mesma: 'porque então o Segredo tornar-se-ia mais claro para todos'. Ou seja, antes desta data, os termos do Segredo não seriam suficientemente claros e plenamente compreendidos ou, de outra forma, a partir de 1960, pela intervenção especial de alguma circunstância, evento ou acontecimento característico, a interpretação do texto profético tenderia a se tornar de muito mais fácil percepção e projeção. Assim, uma das mais intrigantes questões relativas ao Terceiro Segredo de Fátima é exatamente esta: antes de 1960, a sua revelação seria pouco efetiva para o bem da Igreja e do mundo, porque lhe faltaria uma conexão singular com alguma coisa que só seria de conhecimento público generalizado em 1960.
Pelo caráter interativo e indissociável do Segredo de Fátima como uma única e completa revelação extraordinária dos Céus, interligada por três partes distintas, há muito já se podia inferir a natureza da terceira parte do Segredo num contexto de uma profunda crise de fé e de difusão de uma apostasia universal, capazes de comprometer gravemente os fundamentos da cristandade e da própria civilização cristã (Questão 35).
Mas existe uma comprovação muito mais efetiva neste sentido, oriunda das próprias revelações conhecidas e constante do texto da Quarta Memória escrita pela Irmã Lúcia. Com efeito, na sequência imediata dos textos relativos às revelações do Primeiro e Segundo Segredo, a Irmã Lúcia acrescentou uma única frase: 'Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc'. É de consenso geral que esta frase solta introduz a terceira parte do Segredo e que o termo etc engloba as palavras restantes que compõem o Terceiro Segredo. Ora a frase é uma promessa contundente de que a verdadeira fé seria conservada em Portugal e, neste contexto, é uma clara admoestação de que isto certamente não iria ocorrer em outros lugares e países que viveram o triunfo da cristandade no mundo (A Europa Católica? As Américas? Mais provavelmente, o mundo inteiro).
Assim, 1960 representa uma data referencial para esta crise de fé universal, tão crítica e tão tremenda que é capaz de abalar os fundamentos da Igreja; caso contrário, não implicaria os eventos de Fátima e tão decisiva intervenção da Providência Divina na história da humanidade. Nos termos propostos pela Virgem, a mensagem profética deveria ser objeto de revelação pública em 1960 e não a partir de 1960. Tal fato pressupõe que o seu conhecimento nesta data era de fundamental importância para o bem da Igreja e do mundo no sentido de uma plena compreensão (e consequente tomada de posição) contra fatos, circunstâncias ou eventos que tenderiam a ser particularmente graves e deletérios para a Santa Igreja e para toda a humanidade.
Que fato, circunstância ou evento, ocorrido logo após 1960, mas que já seria de conhecimento prévio nesta data, atuou ou contribuiu de forma decisiva para fomentar a perda da fé cristã, uma apostasia universal e uma crise sem precedentes da Igreja? A resposta parece bastante óbvia em recair sobre o Concílio Vaticano II, concílio ecumênico convocado pelo Papa João XXIII em 25 de dezembro de 1961, inaugurado em 11 de outubro de 1962 e concluído pelo seu sucessor, o Papa Paulo VI, em 8 de dezembro de 1965. O concílio que introduziu a Missa Nova na Igreja. No discurso na abertura solene do CV II, ao fazer alusão sobre a origem de sua proposição, assim se expressou o Papa João XXIII:
Assim, 1960 representa uma data referencial para esta crise de fé universal, tão crítica e tão tremenda que é capaz de abalar os fundamentos da Igreja; caso contrário, não implicaria os eventos de Fátima e tão decisiva intervenção da Providência Divina na história da humanidade. Nos termos propostos pela Virgem, a mensagem profética deveria ser objeto de revelação pública em 1960 e não a partir de 1960. Tal fato pressupõe que o seu conhecimento nesta data era de fundamental importância para o bem da Igreja e do mundo no sentido de uma plena compreensão (e consequente tomada de posição) contra fatos, circunstâncias ou eventos que tenderiam a ser particularmente graves e deletérios para a Santa Igreja e para toda a humanidade.
Que fato, circunstância ou evento, ocorrido logo após 1960, mas que já seria de conhecimento prévio nesta data, atuou ou contribuiu de forma decisiva para fomentar a perda da fé cristã, uma apostasia universal e uma crise sem precedentes da Igreja? A resposta parece bastante óbvia em recair sobre o Concílio Vaticano II, concílio ecumênico convocado pelo Papa João XXIII em 25 de dezembro de 1961, inaugurado em 11 de outubro de 1962 e concluído pelo seu sucessor, o Papa Paulo VI, em 8 de dezembro de 1965. O concílio que introduziu a Missa Nova na Igreja. No discurso na abertura solene do CV II, ao fazer alusão sobre a origem de sua proposição, assim se expressou o Papa João XXIII:
'No que diz respeito à iniciativa do grande acontecimento que agora se realiza, baste, a simples título de documentação histórica, reafirmar o nosso testemunho humilde e pessoal do primeiro e imprevisto florescer no nosso coração e nos nossos lábios da simples palavra 'Concílio Ecumênico'. Palavra pronunciada diante do Sacro Colégio dos Cardeais naquele faustíssimo dia 25 de janeiro de 1959, festa da Conversão de São Paulo, na sua Basílica. Foi algo de inesperado: uma irradiação de luz sobrenatural, uma grande suavidade nos olhos e no coração. E, ao mesmo tempo, um fervor, um grande fervor que se despertou, de repente, em todo o mundo, na expectativa da celebração do Concílio'.
(Missa de Abertura do Concílio Vaticano II rezada pelo Papa João XXIII)
O Papa João XXIII proclamava neste evento que tivera uma singular inspiração especial para anunciar subitamente um novo concílio ecumênico em 25 de janeiro de 1959, diante do Sacro Colégio de Cardeais, a mais alta hierarquia da Igreja. Uma proposta que demandou a partir de então mais de 1000 dias ou quase três longos anos de preparação antes da sua convocação formal (ou 3 anos e 8 meses até a sua solene inauguração). Um período que teve 1960 no meio do tempo, mas que não teve a mensagem de Fátima no meio do caminho. Um pequeno detalhe complementar: foi exatamente em um dia 25 de janeiro (25/01/1938) que uma luz desconhecida iluminou os céus da Europa, pouco antes da Segunda Guerra Mundial, tal como predita por Nossa Senhora de Fátima como um sinal de que Deus iria punir o mundo com os eventos que haviam sido revelados na segunda parte do segredo, uma vez que os homens continuavam obstinados no pecado. Seria tal fato uma mera coincidência dos Céus?
93. Como e qual foi o texto do Terceiro Segredo revelado publicamente pelo Vaticano no ano 2000?
Em 13 de maio de 2000, o Papa João
Paulo II, em visita a Fátima para a beatificação
dos dois videntes Francisco
e Jacinta Marto, anunciou então a
iminente publicação do Terceiro
Segredo de Fátima pelo Vaticano.
Em 26 de junho de 2000, o Vaticano
publicou o texto do Terceiro Segredo, constante de uma folha dobrada ao meio e escrita nos seus quatro lados [cerca de 62 linhas], junto a uma série de outros documentos anexos: um texto de apresentação escrito pelo Monsemhor (depois Cardeal) Tarcisio
Bertone, então secretário da Congregação
para a Doutrina da Fé, uma carta
do Papa João Paulo II dirigida à Irmã Lúcia, a
transcrição de uma conversa mantida entre a Irmã Lúcia e o Cardeal Bertone
em 27 de abril de 2000, o discurso
pronunciado em Fátima pelo
Cardeal Ângelo Sodano (então secretário de estado do Papa João Paulo II) e um comentário
teológico do texto do Terceiro Segredo, pelo Cardeal
Ratzinger, então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
O texto revelado nesta oportunidade foi o seguinte:
[J.M.J.
A terceira parte do segredo revelado a 13 de Julho de 1917 na Cova da Iria-Fátima.
'Escrevo em acto de obediência a Vós Deus meu, que mo mandais por meio de sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e da Vossa e minha Santíssima Mãe.
Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fôgo em a mão esquerda; ao centilar, despedia chamas que parecia iam encendiar o mundo; mas apagavam-se com o contacto do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos n'uma luz emensa que é Deus: “algo semelhante a como se vêem as pessoas n'um espelho quando lhe passam por diante” um Bispo vestido de Branco “tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre”. Varios outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subir uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fôra de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trémulo com andar vacilante, acabrunhado de dôr e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de juelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam varios tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns trás outros os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e varias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de varias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em a mão, n'êles recolhiam o sangue dos Martires e com êle regavam as almas que se aproximavam de Deus'.
Tuy-3-1-1944]
Folha com o texto do Terceiro Segredo, nas mãos do Monsenhor (depois Cardeal) Bertone
94. O texto revelado do Terceiro Segredo pelo Vaticano em 2000 é autêntico?
As controvérsias em relação ao texto revelado do Terceiro Segredo pelo Vaticano em 2000 são enormes. O próprio processo da sua publicação é estranho e algo desconexo, sendo o texto profético, tão ansiosamente aguardado, anexado em meio a um calhamaço de 34 páginas de documentos de todo tipo. Há questões de incongruência e contestações de toda ordem: em relação à natureza dos envelopes que guardavam a carta de Lúcia, sobre o formato da própria carta (uma folha de papel agora com 62 linhas), a projeção forçada da figura do 'Bispo vestido de branco' e as referências desconexas do seu martírio com o atentado praticado contra o Papa João Paulo II em 13 de maio de 1981, as afirmações repetidas e reiteradas dos cardeais Bertone e Sodano de que o Terceiro Segredo nada tinha a ver com a
apostasia ligada ao Concílio II, nem com a Missa Nova ou com os papas
conciliares e que o mesmo constituiria basicamente um registro de acontecimentos do passado, sem projeções para a história futura a qualquer tempo, etc.
Entretanto, as maiores digressões entre a versão autêntica e a versão oficial do Terceiro Segredo estão evidentemente expostas pelo próprio texto publicado, independentemente de quaisquer outras análises e considerações, pelas seguintes razões principais:
(i) não há no texto oficial do Terceiro Segredo, nada que justifique ou corrobore a proposição incisiva de Nossa Senhora para a sua publicação somente em 1960 (nada!);
(ii) a frase da Irmã Lúcia: 'Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc', que o consenso estabelece não como sendo apenas uma frase solta mas a frase inicial da transcrição da terceira parte do Segredo simplesmente inexiste no texto apresentado;
(ii) a frase da Irmã Lúcia: 'Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé etc', que o consenso estabelece não como sendo apenas uma frase solta mas a frase inicial da transcrição da terceira parte do Segredo simplesmente inexiste no texto apresentado;
(iii) A 'didática' adotada por Nossa Senhora nas revelações do Segredo de Fátima desaparece na exposição da terceira parte do Segredo; nas outras duas partes, os textos são claramente expostos e há sempre uma primeira fase que compreende uma visão ou aviso de um sinal (o 'mar de fogo'; 'a noite alumiada por uma luz desconhecida') e uma segunda fase que incorpora a interpretação da visão ou do sinal (a descrição do inferno e o advento de grandes castigos para a humanidade); no texto publicado, o texto é algo obscuro e a visão em si passa a assumir o contexto geral e abrangente de toda a mensagem.
(iv) nas revelações do Primeiro e do Segundo Segredo, a intervenção final de Nossa Senhora é sempre no sentido de que existe uma saída, um remédio, uma graça dos Céus para a superação do mal e para um tempo de conversão e de paz ('a devoção ao Meu Imaculado Coração' ...'e terão paz no Primeiro Segredo; 'a consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração e a Comunhão Reparadora dos Primeiros Sábados' ... 'e terão paz', novamente no Segundo Segredo); no texto publicado, não há menção sequer às palavras de Nossa Senhora.
(v) a mensagem faz uma clara alusão a um período especialmente crítico para a Igreja (a subida da 'montanha escabrosa' e a imagem dos dois anjos recolhendo o sangue dos mártires são bastante enfáticas neste sentido), mas não incorpora quaisquer conjecturas sobre as origens da profunda crise de fé e da apostasia universal, que seriam capazes de comprometer gravemente os fundamentos da cristandade e da própria civilização cristã.
Há uma outra variante bastante realista a considerar: a hipótese de que o texto publicado pelo Vaticano em 2000 tenha sido apenas parcial, e conteria, então, apenas a parte relativa à visão do Terceiro Segredo, sendo, portanto, incompleto, pois faltaria a segunda parte da mensagem incluindo a interpretação da visão, as palavras de Nossa Senhora e sua intervenção final. Mas tudo isso abrigaria também mais uma enorme interrogação: por que motivo uma tal manipulação?
95. Por que é razoável interpretar o segredo de Fátima em termos muito mais tormentosos e críticos do que o texto revelado em 2000?
É um princípio divino que a intervenção direta de Deus na história humana é precedida por numerosos sinais, variados e de amplitude universal. Neste contexto, pode-se afirmar que, quanto mais importante for a intervenção, maiores e mais abundantes deverão ser os sinais premonitórios e, principalmente, maior a expressão em Deus daquele pelo qual se faz o anúncio prévio desta intervenção. A vinda do Messias exigiu uma longa e cuidadosa preparação, permeando séculos de anunciação pelos profetas do Antigo Testamento. Em outros períodos críticos da história humana, gigantes como Santo Agostinho, São Vicente Ferrer ou São Luís Maria Grignion de Montfort foram arautos privilegiados das mensagens de Deus aos homens.
É um princípio divino que a intervenção direta de Deus na história humana é precedida por numerosos sinais, variados e de amplitude universal. Neste contexto, pode-se afirmar que, quanto mais importante for a intervenção, maiores e mais abundantes deverão ser os sinais premonitórios e, principalmente, maior a expressão em Deus daquele pelo qual se faz o anúncio prévio desta intervenção. A vinda do Messias exigiu uma longa e cuidadosa preparação, permeando séculos de anunciação pelos profetas do Antigo Testamento. Em outros períodos críticos da história humana, gigantes como Santo Agostinho, São Vicente Ferrer ou São Luís Maria Grignion de Montfort foram arautos privilegiados das mensagens de Deus aos homens.
Em Fátima, o arauto de Deus não foi um grande profeta, nem um santo e nem mesmo um anjo, mas a própria Mãe de Deus. Este fato, Nossa Senhora como Profetiza da intervenção do Pai na história contemporânea, constitui o drama e a bem-aventurança dos tempos que vivemos: drama porque sendo a Mãe de Deus a prenunciadora da ação divina, é de se esperar fatos e intervenções de uma gravidade sem paralelo na história da humanidade; bem-aventurança porque Ela não somente revela que o seu Imaculado Coração Triunfará como nos dá todos os meios para a nossa salvação e co-participação no triunfo do seu Imaculado Coração.
Esta concentração extremada de manifestações de Nossa Senhora e o caráter angustiado e aflito das suas mensagens são uma reafirmação cabal e impressionante de que estamos vivendo um período ímpar e crucial da humanidade e passível de uma intervenção divina sem precedentes na história humana. No contexto destas aparições e manifestações diversas, a mensagem é essencialmente a mesma, dirigida a todos os homens e pode ser resumida nos seguintes pontos:
- a perseverança inabalável nas verdades e na atualidade do Evangelho de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador e ao firme compromisso aos sacramentos da Igreja, em contraposição à perda generalizada da fé e a uma era de apostasia universal. Para isso, Ela se nos apresenta como o modelo a ser seguido – Maria, a Virgem fiel – conclamando-nos, em um apelo preocupante e aflito, à consagração ao seu Imaculado Coração;
- a necessidade de conversão plena e imediata pelos caminhos da oração (particularmente o Rosário), o jejum e a penitência, fazendo uso da confissão frequente, intensa vida eucarística, fuga do pecado a qualquer preço e vida íntima na graça de Deus, em contraposição a uma civilização ateia e materialista, forjada na adoração às falsas divindades do poder, do dinheiro e do prazer;
- a conscientização da gravidade dos tempos atuais, do reinado do pecado e da apostasia generalizada, em contraponto à perda da fé e ao desmoronamento da civilização cristã;
- o preço terrível que a Igreja e toda a humanidade haverão de pagar por forjarem, por covardia, malícia ou indiferentismo, um mundo incendido por novas eras, novas ciências, novas seitas e novas ideologias, que visam corromper o homem como criatura divina e prescrevem civilizações e sociedades alicerçadas por uma completa rejeição a Deus.
Assim, a terceira parte do Segredo constitui potencialmente a revelação de uma profunda crise de fé e crise da Igreja, com a perda substancial da Verdade revelada, substituída por um sem número de doutrinas heréticas no campo dogmático e da moral e implementação de falsas liturgias, com profundo impacto nos valores do cristianismo autêntico e concessões crescentes ao permissivismo moral, ao agnosticismo e ao ateísmo. E o preço que a Igreja e o mundo pagarão por isso.