'Desde a hora sexta até a nona, cobriu-se toda a terra de trevas' (Mt 27,45)
O Ofício de Trevas é um rito litúrgico cristão com origem no século XIII e relacionado à Paixão de Cristo, integralmente celebrado em latim, comumente no período da tarde/noite da Quarta-Feira Santa. No início do rito, um candelabro com formato triangular contendo quinze velas - chamado tenebrário - é instalado junto do altar-mor com todas as suas velas acesas. A partir de então, são entoados séries de quinze salmos (sendo nove constantes das Matinas e cinco das Laudes) sendo que, ao final de cada um deles, as velas vão sendo progressivamente apagadas, começando pelo ângulo inferior direito do candelabro e depois pela sequência do lado esquerdo, conservando-se sempre acesa a vela central e mais elevada do conjunto, símbolo perene da luz de Cristo.
Na medida em que se apagam as velas, também se apagam, em estágios sucessivos, as luzes do templo, dos fundos e em direção ao altar, fazendo avançar progressivamente sobre todos e o templo completa escuridão. As velas que se apagam são as luzes inconstantes da nossa fé de discípulos e seguidores de Jesus, que pouco a pouco se afastam do Senhor durante a sua Paixão e Morte de Cruz. A crescente escuridão simboliza o triunfo crescente da iniquidade no drama do Calvário.
Com a conclusão do último salmo, o sacerdote recolhe a vela branca no ponto mais alto do candelabro e a conduz para trás do altar, mantendo-a assim longe de todos durante a recitação do Miserere e da oração de conclusão do ofício, evento que simboliza os três dias que Jesus permaneceu sepultado, ficando a igreja às escuras e em silêncio por alguns instantes.
Na sequência, os presentes começam a bater os pés no chão do templo, símbolo da perturbação que irrompeu sobre os inimigos de Jesus e do terremoto que abalou o Calvário por ocasião da morte de Cristo. A vela branca que permaneceu acesa durante todo o rito é então novamente trazida às vistas de todos e recolocada no ponto mais alto do tenebrário anunciando, assim, o encerramento do Ofício das Trevas, com a luz de Cristo permanecendo viva e cintilante entre nós.